Análise do Mausoléu Castelo Branco - Teoria e Estética do Projeto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Rafael Fernando Giaretta

Teoria e Est茅tica do Projeto Prof. Rodrigo Almeira Bastos

Florian贸polis 2012


MAUSOLÉU CASTELO BRANCO O conjunto do Palácio da Abolição ocupa uma área considerável, de aproximadamente 4.000m², englobando quase três quadras, com frente para a Avenida Barão de Studart e para as ruas Silva Paulet, Deputado Moreira da Rocha e Tenente Benévolo. Compõe-se de quatro blocos distintos, separados um dos outros por grandes recuos, formados pelo Palácio de Despachos e a residência oficial do governador, o bloco anexo com serviço administrativos, o Mausoléu castelo Branco e a Capela. O projeto é do arquiteto carioca Sérgio Beenardes, com jardins concebido por Roberto Burle Marx. A construção ficou a cargo dos engenheiros José Alberto Cabral e Rui Filgueiras lima.

Figura 1 – Conjunto do Palácio da Abolição. Fortaleza, Ceará.

O Mausoléu Castelo Branco foi construído em Fortaleza logo após o falecimento do Marechal Castelo Branco, primeiro presidente da República durante a ditadura militar de 1964. O local escolhido pelo Governo do Estado do Ceará foi o mesmo do Palácio da Abolição, sede do governo. Inaugurado em 1972, ano do sesquicentenário da independência, em homenagem ao ex-presidente Humberto Castelo Branco. Trata-se de uma obra de arquitetura moderna, com uma grande estrutura em balanço que pousa sobre um espelho d’àgua. Abaixo, existe ainda uma praça onde o piso é composto por dormentes de trem.

Figura 2 – Mausoléu Castelo Branco. Fortaleza, Ceará.

A obra chama atenção pela sua enorme estrutura em balanço de quase 30 metros. Por isso, existe um controle do número de visitantes como será explicado mais adiante. Outras


características importantes são o concreto aparente e a integração interior/exterior proporcionada pelas enormes fachadas em vidro. Características que são encontradas em vários projetos do arquiteto responsável. SOBRE O ARQUITETO Nascido no Rio de Janeiro e formado em Arquitetura aos 18 anos pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, Sérgio Bernardes possui uma carreira com grandes projetos no mundo todo. Ainda um ano antes de sua graduação, um dos seus projetos, o Country Club de Petrópolis, foi publicado na revista francesa L’Architecture d’Aujourd em edição dedicada à nova arquitetura brasileira.

Figura 3 – Sérgio Bernardes

Irreverente e aventureiro destacou-se como o melhor arquiteto da segunda geração de modernistas cariocas. Adotou e desenvolveu seu estilo em uma linguagem absolutamente pessoal que misturava influências até então consideradas antagônicas. Projeta edificações relacionadas com a natureza e numa vontade explícita de explorar ao máximo a paisagem, tendo em vista a satisfação psicológica do morador. Sua arquitetura partia do interior para o exterior, privilegiava os detalhes e adotava uma postura minimalista em relação à distribuição espacial, imperando o ângulo reto em suas construções da fase inicial, que se inscreve muito bem na linha racionalista; o mesmo que se aplica às preocupações funcionais. Laboratório de Investigações Conceituais Sérgio Bernardes, também chamado de “Arquiteto da Utopia”, foi conhecido por desenvolver projetos que muitas vezes fugiam da realidade ou que exigiam a total característica dos materiais. Este arquiteto buscava formas arquitetônicas bastante ousadas, porém, todas eram possíveis uma vez que Bernardes comprovava sua possibilidade através de cálculos e várias outras demonstrações. Foi com o desejo de estimular essas discussões que, de certa forma, promoviam e buscaram patrocínio e possibilidades para esses projetos que Bernardes criou um grupo de discussões chamado de Laboratório de Investigações Conceituais (LIC). Voltado para as questões urbanísticas e territoriais, geopolíticas, ecológicas e até mesmo planetárias cujo objetivo era estimular a discussão sobre suas audaciosas proposições entre os colaboradores do próprio escritório, que, paralelamente, produzia também projetos convencionais.


Apresentados aos órgãos competentes, porém, quase sempre os projetos eram descartados como utópicos (sem muita atenção às idéias que na verdade eram, invariavelmente, muito interessantes). O ARROJO DA ESTRUTURA A concepção do projeto, como estudante de arquitetura e um ex-futuro-militar, leva me a crer que Sérgio Bernandes buscou incorporar a perspicácia de um dos militares com maior importância no nosso país (dentro da caserna). Além disso, a construção arrebata o observador com a lembrança de um dos comandantes da nação, ainda que em período da Ditadura. Vale lembrar que o Marechal Humberto Castelo Branco foi o primeiro presidente do regime militar que durou de 1965 à 1985. Esta obra constitui um “cartão postal” de Fortaleza e é sempre visitada por turistas, que se surpreendem com o arrojo da construção. O monumento é constituído por uma viga central de 4,20 m de altura e 9 módulos longitudinais de 4,20 m, em forma de duplo T com mesa superior variável de 1,10 m de altura até 12 cm, com duplo balanço de 4,11 m. Destes 9 módulos, 7 constituem a parte em balanço de 28,40 m.

Figura 4 – Fachadas Oeste e Leste

A estrutura foi concebida como um grande e esbelto balanço acima de um espelho d’água com uma parte traseira formada por um caixão retangular de concreto cheio de areia e pedra britada, pesando 567 toneladas, para servir de contrapeso. Dessa forma, a fundação sobre estacas é solicitada de modo centrado. A concepção estrural foi, portanto, a mais simples de todas as possibilidades: dois braços desiguais de uma balança. Para evitar grandes deformações, a estrutura foi executada em concreto protendido que poderia trabalhar sem tensões de tração e, portanto, sem fissurar. Estaticamente, a estrutura é uma grande viga de 4,20 m de altura com alma variável de 30 a 80 cm de espessura e flanges de 4,11 m para cada lado, no topo e na base. A solução para o balanço é simples e brilhante. O equilíbrio não depende de uma fundação robusta e sim de apenas um confronto de cargas. O pilar suporte da enorme viga em balanço possui seção quadrada de 1,10 x 1,10 m. O centro de gravidade do caixão do contrapeso dista do centro do pilar 10,95 m, resultando uma carga total centrada, no instante do equilíbrio, de 1250 tf. A ligação entre o caixão e o pilar principal foi feita através de uma viga alavanca de 1,10 m de largura e altura variável. Essa viga, representada em elevação na figura 5 possui uma enorme armação com barras de Aço CA-25 de diâmetro 1”, conforme se pode ver na figura 6.


Figura 5 – Caixão de contrapeso e viga alavanca

A protensão foi realizada, como era comum na época, com cabos e ancoragens Freyssinet com cabos de 12 Ø 7 mm de aço duro CP 125/145, e respectivas ancoragens Freyssinet para 30 toneladas. Toda a estrutura acima do nível 20,85 foi executada com concreto de resistência σR = 240kgf/cm² (24MPa). A viga principal foi protendida com 61 cabos embainhados pelas duas extremidades. A protensão foi feita em 7 etapas, à medida que o balanço ia sendo executado.

Figura 6 – Esquema de protensão dos cabos para suportar o balanço da estrutura.

Como era de se esperar, o número de visitantes que acessam a estrutura em balanço em um mesmo intervalo de tempo é controlado para o peso final ser sempre menor que o peso da caixa de balanço e assim evitar o colapso da estrutura. Porém, até por questões de circulação e mantimento da ordem em um Mausoléu, os grupos que acessam a estrutura são sempre em número reduzido de pessoas. O SENTIDO DA OBRA

Não há dúvidas que, ao produzir-se arquitetura, cria-se um sentido. A obra criada, tendo a intenção ou não do autor, exprime através da sua composição uma sensação aos olhos de quem vê. Avaliado sob a ótica dos três elementos principais da arquitetura de Kate Nesbitt, que derivam da tríade vitruviana: o tipo, a tectônica (estrutura) e a função, o Mausoléu Castelo Branco pode ser observado da seguinte forma. O tipo, no que se refere a uma obra arrojada, busca comunicar uma linguagem arquitetônica irônica. Sua intenção, particularmente, exprime o conceito de poder e robustês dignos de um Mausoléu para um Marechal. Isso ressalta a idéia arqueótipa formando a idéia inteligível consciente ou inconsciente para cada observador. Através da sua essência,


Bernardes transforma isso em uma elegante estrutura de 30 metros em balanço que intriga qualquer observador por mais entendido no assunto que seja.

Figura 7 – Mausoléu Castelo Branco e seu entorno.

O ideal modernista de que a forma segue a função é evidenciado pelo grande vão em balanço e já explicado anteriormente. Assim, a tectônico da obra se mostra impetuosamente a partir da intrigante estrutura em balanço. Ainda nesse contexto, o lado artístico da arquitetura se mostra na audaciosidade em construir um monumento que serve para homenagear uma importante figura do período em que militares dominaram o poder do país. Percebe-se então a fenomenologia como algo que agrega um significado e que provoca atenção. RELAÇÃO DA OBRA COM O PRESENTE O Mausoléu Castelo Branco faz parte do conjunto do Palácio da Abolição, centro administrativo do Governo do Ceará. Atualmente, a edificação se faz importante a partir da memória do Marechal Humberto Castelo Branco e a imponência que a grandiosa estrutura em balanço proporciona aos visitantes. Os restos mortais do Marechal e da sua esposa não se encontram mais ali por pedido da família que preferiu transferir as esquifes para o jazigo da família na residência particular. Porém, a lembrança de Castelo Branco está nas exposições de seus objetos pessoais e de figuras que ilustram sua trajetória na vida e no regime militar.

Figura 8 – Mausoléu Castelo Branco. Fortaleza, Ceará.


Como todo monumento público, sempre é palco de reivindicações e algumas vezes já foi ocupado por manifestantes. Entretanto, a sua importância e relação com a cultura do Estado do Ceará sempre é preservada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não existe muito material ou artigos disponíveis sobre esta obra de Sérgio Bernardes. Dessa forma, a análise foi feita com base em um livro sobre o concreto no Brasil e em um artigo online da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Assim, a análise possui poucos detalhes referentes às características da obra e infelizmente, contou com poucos textos para uma crítica concisa e uma avaliação mais detalhada. Portanto, pretende-se visitar a obra pessoalmente para ter contato com uma arquitetura de tamanha beleza, leveza e importante valor simbólico uma vez que a primeira impressão já causou uma interessante percepção apenas em imagens. Referências VASCONCELOS, Augusto Carlos. O concreto no Brasil. Studio Nobel. Volume 3. Artigo online sobre o Mausoléu Castelo Branco. Disponível em http://www.secult.ce.gov.br/equipamentos-culturais/mausoleu-castelobranco/arquitetura. Acesso em 19/06/2012. Publicação em site de conteúdos. Apresentação própria em forma de pranchas. http://issuu.com/rgiaretta/docs/s_rgio_bernardes. Acesso em 19/06/2012.

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