Para Onde Vão os Guarda-chuvas

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Manhães, Kate Para onde vão os guarda-chuvas / Kate Manhães. -1. ed. -- Campinas, SP : Ed. do Autor, 2015.

1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Título.

15-09677

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantojuvenil 2. Ficção : Literatura juvenil 028.5

028.5


KATE MANHÃES

1ª edição

Campinas Kate Kelly Manhães de Souza 2015


PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS Copyright © 2015 by Kate Kelly Manhães de Souza O conteúdo dessa obra é de responsabilidade da autora, proprietária do Direito Autoral. Proibida a venda e reprodução parcial ou total sem autorização.

Revisão: Michelli Silva Projeto gráfico, editoração e capa: Rhelga Westin Ilustração: Rhelga Westin Colorização: Kate Manhães


SUMÁRIO Prólogo Pág. 7 Capítulo 1 – Por que um amuleto? Pág. 9 Capítulo 2 – Para onde essa perseguição me levará? Pág. 12 Capítulo 3 – Que lugar é esse? Pág. 15 Capítulo 4 – Fica muito longe? Pág. 21 Capítulo 5 – É possível dialogar com a fome? Pág. 27 Capítulo 6 – É pra lá que vão os guarda-chuvas? Pág. 34 Capítulo 7 – Qual é a especialidade da casa? Pág. 40 Capítulo 8 - Alguém sabe quem é Sumé? Pág. 47


Capítulo 9 - Qual o tamanho de um monstro? Pág. 61 Capítulo 10 – Qual a força que ergue a luz? Pág. 78 Capítulo 11 – É aqui que fabricam labirintos? Pág. 90 Capítulo 12 – Será que a verdade está no tempo? Pág. 111


Prólogo Em meio ao barulho da cidade, não desejamos procurar nada sozinhos e queremos, por vezes, nos certificar que a busca não encontrará o limiar da loucura. “Você viu o meu óculos, o meu caderno, as minhas palavras, a minha carteira ou as minhas lembranças?”. Essas são perguntas que fazemos a quem quer que seja, pela necessidade de saber se já viram ou nos viram no tumultuado mundo dos achados e perdidos. Estes objetos e sentidos que são esquecidos diariamente, no trânsito ou em casa, parecem se afugentar na mais secreta dimensão que guarda os três tempos: passado, presente e futuro. Mas e se, por um impulso, nós nos esquecermos de nos certificar que aquilo que tínhamos em nossas mãos realmente existiu? E se quebrarmos o nosso hábito de esperar que alguém ou algo nos indique a direção daquilo que procuramos? “E se” é sempre uma forma incrível de começar uma história. Mas e se eu lhe dissesse que mesmo que ninguém a tenha visto vagar pela cidade atrás de algo que talvez só existisse para ela que, mesmo assim, a mais secreta dimensão que guarda os três tempos reverenciou o instante e prolongou a coragem daquela que não se saciou com o fim da rua ou com a porta fechada. E se...

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CAPÍTULO 1

Por que um amuleto?

Íris tem as mesmas preocupações do que qualquer criança da sua idade. Entre tirar boas notas na escola, brigar com o irmão mais novo e desejar não ter que usar aparelho dentário, ela tem outras tarefas importantíssimas: não mastigar com a boca aberta e manter seu guarda roupa em perfeita ordem são algumas dessas tarefas. Entretanto, Íris tem muita dificuldade em aplicar os dois afazeres: seu quarto está quase sempre bagunçado e dificilmente senta-se à mesa nas refeições. Come ali, próxima ao seu computador, que fica numa mesinha bem longe da janela do quarto. Já que tem medo de altura, dificilmente Íris olha pra baixo, estando ela no décimo andar. Acostumada aos barulhos da cidade grande, gosta muito de ouvir as mais diferentes buzinas dos carros que sempre desfilam nas avenidas próximas ao seu apartamento. E habituada a tudo isso, logo após acordar toma leite com chocolate, sempre gelado, distraidamente escova seus dentes e sai atrasada vestindo seu uniforme ainda no elevador. Sua mãe, Dona Ana, todas as manhãs, tenta educá-la sobre horários e sobre compartilhar o café da manhã com todos da casa, falando sempre da importância de ser organizada e que 11


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a pressa sempre nos prega peças. Mas Íris não gosta muito dos trocadilhos da mãe, que é sempre escandalosa ao se expressar. Por conta disso, ao sair de casa a caminho da escola, Íris coloca seus fones de ouvido, mas não para escutar música e sim disfarçar os sermões da Dona Ana, pois, como disse, ela gosta do barulho das buzinas. Íris sempre anda com a mochila abarrotada de coisas, põe tudo o que pode lá dentro: livros da escola, agasalho, cadernos e até chinelo; mas, em mãos, leva sempre o seu guarda-chuva. Para muitos, um guarda-chuva comum, apesar da sua cor vermelha se destacar dentre tantos pretos e cinzas pela cidade. A companhia do seu guarda-chuva fora sempre inevitável. Este, que seu pai Sr. Antônio, um inventivo engenheiro, lhe deu quando ainda era muito novinha e fora projetado a partir de um casco de tartarugas, como ele mesmo dizia. Hoje, no auge dos seus doze anos, Íris sabe que isso não é verdade, mas tem conhecimento de que tal presente fora tirado de outro protótipo: proteção. Íris irrita-se facilmente quando alguém, despercebidamente, chama seu guardachuva de sombrinha. Ela não sabe a diferença exata entre os dois, porém sempre acha ofensiva a troca de nomes pelo simples fato dela ser menina. Não gosta muito dessas imposições, mas ao mesmo tempo a pouca idade não lhe isenta de ser influenciada por tudo o que vê, seja na televisão ou nas inúmeras imagens que abarrotam a cidade. Ela acabou herdando os lindos cachos castanhos do pai e, na escola, a maioria das meninas exibem cabelos tão retos que as curvas dos cabelos de Íris a faz ser única. De certa forma, Íris acha 12


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singular carregar consigo tantos mapas, pois sua pele parda deixa bem claro que ela é o resultado da mistura de muitos territórios, línguas e culturas. No entanto, sabemos que ser único nesta idade pode causar um pouco de constrangimento. Dona Ana acha importantíssimo que a pequena Íris tenha, nas poucas memórias e trejeitos do pai, a construção da sua identidade. Contudo, sabe também que, aos doze anos, não nos agarramos tanto em nossas próprias histórias. As lembranças do seu pai sempre fora algo muito intenso na vida de Íris. Desde os seis anos, a figura paterna não fazia mais parte do seu dia-a-dia. Entretanto, sua rotina sempre pareceu desviá-la da saudade, seguindo continuamente os mesmos caminhos: escola – casa, casa – escola. Lembra-se de Sr. Antônio em algumas situações, principalmente, na hora das refeições, talvez por isso não goste muito de sentar-se à mesa. Agora, ao carregar seu guardachuva pra cima e pra baixo, não é a lembrança que a incentiva e, sim, a sensação de que ele está bem ali com ela. Amuleto ou não, a importância vai além do desconforto de sempre carregá-lo.

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