A rede, os nós, as teias – Tecnologias Alternativas na Agricultura

Page 1

1

A rede, os nós, as teias – Tecnologias Alternativas na Agricultura Revista de Administração Pública – n 6, 2000:159-177, novembro-dezembro Resumo: As mais importantes Organizações Não-Governamentais atuando no encontro entre desenvolvimento rural e meio ambiente no Brasil submeteram-se, voluntariamente, entre 1996 e 1998, a um processo de avaliação tanto de cada uma delas como de sua articulação em rede. Realizado no quadro desta avaliação, este trabalho pretende contribuir para a reflexão em torno do destino desta articulação. Ele constata que tanto cada uma das entidades como a própria Rede TA passam por um saudável processo de mudanças que se caracterizam pela ampliação de seu âmbito de contatos e intervenção. Ao mesmo tempo, a Rede mantém - e se empenha em manter - uma identidade própria cuja expressão maior é a agroecologia. O texto organiza-se em torno de três perguntas: a) trata-se de uma rede; b) esta rede pode ser considerada “alternativa ”; c) qual o alcance e quais os limites da tecnologia como eixo central de sua articulação ? Palavras-chave: Organizações Não-Governamentais; tecnologias alternativas; agricultura familiar; agroecologia

Ricardo Abramovay*

1. APRESENTAÇÃO As entidades (1) que formam a Rede-Tecnologias Alternativas (Rede T-A) integram um amplo movimento social (2) em que se cruzam duas vertentes principais. Por um lado, elas podem ser caracterizadas como "ambientalistas", já que procuram promover comportamentos coletivos que visam corrigir "formas destrutivas de relação entre a ação humana e o meio natural, em oposição à lógica organizacional e institucional prevalecente" (Castells, 1997/1998:112). Por outro lado, elas se distinguem das organizações que Castells chama de "ecológicas", exatamente por colocarem a ênfase não na preservação de uma "natureza intocada", mas em formas produtivas que tenham capacidade regenerativa sobre *

Professor Livre-Docente do Departamento de Economia da FEA e Presidente do Programa de PósGraduação em Ciência Ambiental da USP – abramov@usp.br 1 Entrevistei e discuti com muita gente para chegar a este texto. A observação de que sou por ele o único responsável não é feita só para respeitar a praxe, mas para sublinhar que este não pode ser considerado como o resultado da avallação da Rede TA, mas como a expressão de um ponto de vista a respeito das mudanças pelas quais ela vinha passando entre 1996 e 1998. Mas não poderia deixaqr de agradecer a colaboraçãqo estreita de Jean-Pierre Leroy e a leitura atenta e crítica de versões anteriores do trabalho feita por Silvio Golmes de Almeida, Pablo Siderski e Maria Emília Lisboa Pacheco. Agradeço também os responsáveis pela Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste de Santa Catarina (APACO) e ao Instituto Vianei de Educação Popular pela maneira tão aberta como me receberam e a meu colega de avaliação, Cláudio Miranda a quem estendo estes agradecimentos. 2 "O termo movimentos sociais diz respeito aos processos não institucionalizados e aos grupos que os desencadeiam, às lutas políticas, às organizações e discursos dos líderes e seguidores que se formaram com a finalidade de mudar, de modo freqüentemente radical, a distribuição vigente das recompensas e sanções sociais, as formas de interação individual e os grandes ideais culturais" (Alexander, 1998:5)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.