MOVIMENTOS SOCIAIS, GOVERNANÇA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL Ricardo Abramovay*, José Bengoa**, Julio A. Berdegué***, Javier Escobal+, Claudia Ranaboldo++, Helle Munk Ravnborg+++, Alexander Schejtman++++
1. Introdução Reunir expressões tão densas como “movimentos sociais, governança ambiental e desenvolvimento territorial” num Programa de Pesquisa envolve três ambições básicas. A primeira consiste em reconhecer que o desenvolvimento das áreas interioranas na América Latina com a finalidade de reduzir a pobreza e a exclusão social não depende exclusivamente do crescimento do setor agropecuário e que, portanto, exige uma abordagem que não seja setorial e sim territorial (1). Daí decorre a segunda ambição: o território pode ser definido como um conjunto de laços estabelecidos pela interação social num determinado espaço (Hasbaert, 2004, Schejtman e Berdegué, 2004), o que conduz à questão decisiva de saber quem são e o que fazem seus protagonistas fundamentais. Se esta dimensão subjetiva na construção de processos localizados de desenvolvimento é amplamente reconhecida na literatura sobre o tema (2), o estudo de um de seus atores básicos – os movimentos sociais – constitui uma lacuna para cujo preenchimento este Programa de Pesquisa e os estudos aqui reunidos pretendem contribuir. *
Economia FEA e PROCAM (USP) e Cátedra Sérgio Buarque de Holanda da EHESS/MSH (Paris) – www.econ.fea.usp.br/abramovay/ ** RIMISP- Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, Chile - jbengoa@rimisp.org *** RIMISP- Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, Chile - jberdegue@rimisp.org + GRADE, Peru - jescobal@grade.org.pe ++ Fundação PIEB, Bolívia – cranaboldo@rimisp.org +++ DIIS, Dinamarca - hmr@diis.dk ++++ RIMISP- Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, Chile – aschejtman@rimisp.org 1
A literatura acadêmica sobre este assunto já foi fortemente incorporada pelas grandes agências internacionais, embora sob abordagens variadas. A FAO (1998), por exemplo, insiste de maneira crescente na importância das atividades não agrícolas no meio rural. O IICA (2004) vem falando cada vez mais em desenvolvimento territorial. O Banco Mundial (World Bank, 2005) publica recentemente um grande estudo sobre o tema reconhecendo que a questão do desenvolvimento vai muito “além da cidade”. Os governos latino-americanos também são sensíveis a estas abordagens. O México organizou em abril de 2006 uma grande conferência internacional sobre o tema (Seminario Internacional sobre Desarrollo Rural y el Sector Agroalimentario –Estrategias de Futuro). No Brasil também, em março de 2006 a Secretaria de Desenvolvimento Territorial organizou uma grande conferência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Brasil, 2006). O Chile e a Argentina vêm também levando adiante importantes estudos que fundamentam políticas inovadoras neste tema. O abrangente documento de Schejtman e Berdegué (2004) é hoje uma referência importante sobre o assunto. José Graziano da Silva anima um importante projeto desde o final de 1990 que mostrou o peso econômico e social das atividades rurais não agrícolas no Brasil (Campanhola e Graziano da Silva, 2000). José Eli da Veiga (2002) publicou diversos trabalhos que, à luz das metodologias aplicadas pela OCDE, conduziram a uma verdadeira redefinição da própria geografia da ruralidade no Brasil. A recém defendida tese de doutoramento de Arilson Favaretto (2006) contém uma das melhores e mais abrangentes discussões recentes sobre a importância da abordagem territorial do desenvolvimento das áreas rurais. 2 E não só naquela que se volta ao desenvolvimento rural, como o mostram as análises contemporâneas de inspiração neo-marshalliana sobre os distritos industriais, cujos trabalhos pioneiros foram de Pyke et al. (1990) e Bagnasco e Trigilia (1988/1993).