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ENTREVISTA ALEIDA GUEVARA Entrevistadores: Fernando Evangelista, Ricardo Viel, Paulo Evangelista, Moema Paiva Pereira, Elis Motta e Gabriela Tlaija Fotos: Carlos Ruggi
Aleida Guevara, 44 anos, uma das filhas do Che Guevara, veio ao Brasil para participar de uma atividade do MST. Ela aqui conta como conviveu com o pai apenas na primeira infância, pois quando a menina tinha 4 anos e meio o Che saiu de Cuba na luta pela revolução em todo o mundo. E como o viu anos depois, sem saber quem era, e sentiu que aquele homem era “apaixonado” por ela. Aleida, seguindo o exemplo do pai, se considera uma revolucionária internacionalista que sacrifica a família em prol de uma família maior, a humanidade. Por isso trabalhou voluntariamente como médica na Nicarágua e em outros países. Acha que em Cuba o povo tem mais liberdade de expressão do que em qualquer outro lugar. E diz que a continuidade do regime, depois de Fidel Castro, está plenamente assegurada.
UMA FILHA QUE
SAIU AO PAI – O CHE
Fernando Evangelista - Quais são as lembranças mais vivas de sua infância?
Tenho muitas lembranças, ainda não sou tão velha... Há muitas imagens e recordações, mas acredito que as mais bonitas se relacionam com minha mãe, porque com meu pai vivi muito pouco tempo, só até os 4 anos e meio de idade. Minha mãe esteve ao nosso lado durante toda a vida. Ela conseguiu que sentíssemos a presença de meu pai, ainda que ele não estivesse presente. Somos quatro irmãos. Já ouviu dizer que quando há um chinês em perigo todos os demais saem a ajudá-lo? – éramos assim. E assim segue sendo. Da infância recordo os jogos, as travessuras, ir pela rua numa bicicleta com uma roda só, lembro-me de construir um brinquedo que é um pedaço de madeira com quatro rodas de patins e, sentada, dirigir ladeira abaixo. Nascemos depois da Revolução, todos. Sou a mais velha, tenho 44 anos, ou seja, nasci no final de 1960, quando já havia quase dois anos de revolução. Foi uma infância muito tranqüila, muito linda, mas com muitas carências econômicas. Por exemplo: meus irmãos, em um certo momento, não tinham roupas íntimas. Uma vez, minha mãe teve de fazer cuecas com suas blusas velhas. Era uma vida normal, como a de qualquer criança de Cuba daquela época. Com essas carências ma-
teriais, mas muito carinho, afeto, ternura. Evidentemente, tínhamos a saúde garantida, isso é muito importante para as crianças, e uma educação totalmente aberta e gratuita.
Fernando Evangelista - E lembranças do seu pai? Da última vez em que vocês se viram? Ele tinha passado um tempo na África, depois retorna a Cuba para organizar a guerrilha na Bolívia. Chega à Ilha disfarçado, com o nome de Ramón, não é isso?
Ricardo Viel - E como era na escola, sendo a filha do Che?
Sim, o velho Ramón. Não sabíamos que era meu pai. Mami nos disse que íamos ver um amigo dele. Fomos com ela a uma casa conhecer esse senhor. Era um homem velho, vestido de preto, com uma camisa branca – isso nunca vou esquecer –, com o cabelo... meio ruivo, quase careca, a parte de trás cobrindo um pouco as orelhas. Fomos apresentados e, na hora do jantar, ele se sentou na cabeceira da mesa. Desde que meu pai foi embora, eu tomei esse lugar. Quando fui sentar ali, o velho Ramón disse que não, que ali se sentavam os anfitriões. Primeiro, teve de me explicar o que era um anfitrião, porque eu não tinha idéia do que fosse. Ele explicou e permitiu que eu me sentasse na outra cabeceira. Sentei ali e disse que ele não parecia ser amigo do meu pai. Minha mãe já tinha dito a ele que eu, apesar da pouca idade, conhecia todos os gostos do meu pai. Assim, ele teria de ter muito cuidado na sua maneira de agir. Quando eu o vi servir o vinho tinto puro – meu pai tomava sempre com água –, dei um pulo: “Você não é amigo do meu pai, não, você está to-
Sempre fui uma estudante muito boa, mas não gostava da escola. Tentava matar aula ou pelo menos chegar atrasada. Minha mãe, com isso de sermos filhos do Che, sempre disse que não podíamos aceitar privilégios de nenhum tipo, nem que nos tratassem de forma diferente, para o bem, ou para o mal. Eu era mais uma dentro da classe e tentava me comportar da melhor forma possível. Minha irmã e eu sempre fomos dirigentes estudantis, vanguarda do grupo. Os meninos, não. Eram um desastre. Fomos criados pela mesma mulher, sob o mesmo teto, mas eles tinham outra maneira de ver o mundo. No final, acredito que minha mãe realizou seu sonho. Ela é de origem camponesa, sempre quis que seus filhos fossem universitários e, é claro, revolucionários. E nós quatro somos integrados ao processo revolucionário e somos profissionais graduados na universidade.
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