Roteiro | Curta-metragem: Anacrônico

ROTEIRO CURTA-METRAGEM "Anacrônico" Por: Alison Henrique

Equipe de criação: Alison Henrique Gabriel Petroski Rodrigo Antunes

Abril, 2015.

FACULDADES OPET Direção de Arte em Propaganda Prof. Cassiano Souza Pires PUBLICIDADE E PROPAGANDA

SEQ.01 - O DESPERTAR CENA 01 - QUARTO - INT - DIA No quarto de Rodrigo, o dia começa a mostrar seus primeiros raios de luz, raios que ultrapassam a janela, esta com vitrais violetas, deixando todo o ambiente da mesma cor. Sob as paredes, os quadros e pinturas permanecem imóveis, cada um com seu sentido e formas. A desorganização é visível: pelo chão se encontram revistas, papéis, cadernos, roupas, meias, livros, etc. Sob um manto branco, Rodrigo está deitado porém acordado, olhando as luzes que invadiam todo o ambiente. Ele levanta da cama e olha no espelho por um breve momento, com uma expressão neutra, e se dirige para o banheiro. Ao passar a porta do banheiro lava seu rosto calmamente, fecha os olhos e permanece parado por um momento, depois suspira e sai do banheiro.

CENA 02 - COZINHA - INT - DIA Rodrigo já vestido formalmente entra sobre passos rápidos na cozinha, prepara seu café solúvel mexendo em movimentos circulares com a colher, de repente avista o relógio na parede: Está atrasado. Toma apressadamente o café, pega sua blusa e as chaves do carro já se dirigindo à garagem.

SEQ. 2 - O TRANSE DA ROTINA CENA 01 - TRÂNSITO - EXT - DIA As rodas do carro giram freneticamente, sob extrema urgência por parte de Rodrigo. Mas eis que chegam trechos em que nada sai do lugar, os sinais se abrem mas nada se move, no ar tudo se resume a mentes impacientes, ao delírio da pressa sob pressão. Da sua janela Rodrigo via várias pessoas nas ruas indo e vindo (PANORÂMICA EM MOVIMENTOS RÁPIDOS DE PESSOA P/PESSOA), e se podia ver a ira em seus olhos, por estar aprisionado e sem saída - FADE OUT (close no rosto de Rodrigo) CENA 02 - TRABALHO - INT - DIA FADE IN (Carro de Rodrigo entrando na empresa) Longos minutos passados do suplício, Rodrigo finalmente chega em seu trabalho. Pelos corredores cumprimenta algumas pessoas e entra em sua sala.

Ao entrar em sua sala, primeiramente joga sua mochila sobre a mesa e se senta na cadeira e vê os inúmeros documentos (CONTINUED)

CONTINUED:

2.

espalhados na mesma, seu rosto demonstra indiferença em relação aquilo, então inicia mais um dia de trabalho.

Tudo se resume a números: Na celulose, no computador, em seu telefone, no teclado, em sua calculadora, enfim, ele se concentra para não se perder diante de tudo aquilo. O relógio incontrolável permanece ali na parede, no computador, no celular; imóvel e decisivo. Rodrigo meche o café na sua xícara em movimentos que aliviam sua tensão, e toma sem pensar, ja voltando para o trabalho. Horas passadas, Rodrigo se impressiona ao ver os ponteiros: Está atrasado. Coloca seus pertences na mochila e sai porta afora apressadamente.

CENA 03 - ESTACIONAMENTO - EXT - DIA Rodrigo chega ao estacionamento correndo, e após passar por vários carros chega ao seu veículo e entra sem pensar. Dá a partida e nada corresponde a seu ato. A revolta em seu rosto é evidente, e depois de 5 tentativas acaba pegando sua mochila, abre a porta do carro e saindo as pressas dali.

SEQ. 03 - O CAMINHO DA TENSÃO CENA 01 - RUAS/CENTRO DE CURITIBA - EXT - DIA Saindo da empresa, caminha pelas ruas em passos rápidos, sem perder tempo olhando para nada nem ninguém. Pega seu celular que estava no bolso de sua calça e num simples toque envia uma mensagem de voz a seu amigo.

RODRIGO: Cara, meu carro morreu, me espera no Centro que vou com você pra faculdade.

Continua caminhando, agora percebendo em sua volta inúmeras pessoas perdidas na rotina, trânsito caótico pelas ruas, os pontos de ônibus lotados e a noite caindo aos poucos sobre a cidade. Passa sobre várias ruas diferentes uma das outras, até dobrar a esquina e estar lá o carro de EDUARDO, seu amigo, que o espera dentro do veículo.

CENA 02 - CARRO DE EDUARDO - INT - NOITE Entrando no carro cumprimenta num gesto imediato o seu amigo.

EDUARDO: E aí meu Brother! Vamos nessa que estamos atrasados já!

(MORE) (CONTINUED)

CONTINUED:

3.

RODRIGO: Pisa fundo Eduardo, não posso me atrasar pra esse TCC, não vim até aqui pra nada muito menos pra desistir.

EDUARDO: Meu Deus! Pode deixar, vou fazer o possível.

E assim seguiram o caminho adentrando aquela turbulência de carros pelas ruas. A cada sinaleiro a angústia de Rodrigo aumentava, o tempo corria sem parar em seu relógio, mas o carro não saía do lugar. Rodrigo permanecia quieto, sem dizer uma palavra, só seu corpo ficava inquieto, e sua mente pensava em todas as possibilidades a ocorrer.

OFF Que idiota eu sou! Como sempre eu traço a rota errada e acabo nessa urgência desesperadora. Chego sempre atrasado e nunca sei que horas são, queria saber mesmo qual a hora certa, ou a errada. Até que horas os relógios irão funcionar? Não aguento mais. Preciso passar essa etapa hoje, preciso mudar tudo isso, ou tudo isso vai me matar.

Rodrigo olha o relógio: 18:53. Olha para todos os lados e através dos vidros só vê carros parados na rua. Cobre o rosto com as mãos as deslizando suavemente, mostrando uma expressão de angústia e medo. De repente grita.

RODRIGO: EU PRECISO DESCER! agradeço a ajuda, mas o tempo tá correndo demais, vou a pé daqui meu amigo.

CENA 02 - RUA NILO PEÇANHA - EXT - NOITE O carro estaciona com certa urgência no acostamento e Rodrigo pula para a calçada e começa a correr sem parar, não olha para trás, foca somente no caminho a sua frente. O suor toma conta de seu rosto, corre mais alguns metros e avista a faculdade em que estuda mais a frente, acelera ainda mais sua corrida, passa para o outro lado da rua já em direção a entrada.

SEQ. 04 - TUDO SE ESVAI CENA 01 - FACULDADE - INT - NOITE Rodrigo passa pelas portas e olha para o relógio em seu pulso: 19:12 Passa pela catraca e corre pelo corredor em direção a sua sala. Abre a porta e tudo está escuro, não encontra ninguém.

Ao dar meia volta encontra seu professor, e seu olhar de mistério e seriedade deixa Rodrigo apreensivo.

(CONTINUED)

CONTINUED:

4.

PROFESSOR: Parece-me que perdestes o tiro de partida, meu caro amigo? Quem diria que pensaríamos que justamente na hora certa, você chega na hora errada e perderia todos os ponteiros. Sinto imensamente por isso. Na próxima, sugiro-lhe ser mais cauteloso. Enfim, sempre aprendemos a lição - ou não. Ah, já ia me esquecendo: Estarei o esperando aqui, pacientemente, sua próxima chance, se é que haverá outra... Uma boa noite.

Rodrigo não diz nenhuma palavra, permanece ali, no corredor, com o rosto pálido, vendo aquele misterioso Lecionador em passos lentos, desaparecer no fim do corredor.

Depois de alguns segundos parado no mesmo lugar, Rodrigo sai andando em passos apressados por toda a faculdade, olhando assustado para todos os lados, as pessoas olham para o mesmo com expressões de espanto, Rodrigo sussurra várias coisas, para diante das pessoas mas não fala com nenhuma delas, só diz coisas pra si mesmo olhando para o chão; de repente vira as costas e sai correndo em direção a saída da faculdade.

SEQ. 05 - SEM DIREÇÃO CENA 01 - SAÍDA/FRENTE DA FACULDADE - EXT - NOITE Passando pelas portas da faculdade Rodrigo para e olha ao seu redor, depois segue andando em direção à rua.

Atravessando os portões, o mesmo esfrega os olhos por sua visão estar desfocada, e vê alguns carros passando, poucas pessoas na rua.

CENA 02 - CAMINHANDO/RUAS BOM RETIRO - EXT - NOITE Rodrigo começa a se distanciar da faculdade, para nas esquinas assustado com os carros, olha para o chão, para o céu, parece procurar algo naquela noite escura. A partir dali se põe a caminhar sem parar, e sua mente não parava de sussurrar filosofias, questões e sombrias afirmações. Noite adentro Rodrigo sumiu em caminhos escuros, lá longe se via o mesmo andando nas calçadas, catando pedras pelo caminho, parando nas esquinas para olhar outras pessoas passando e enfim, se perder na noite.

CENA 03 - QUARTO/CASA DE RODIRGO - INT - DIA Na janela do quarto de Rodrigo o sol refratava em raios ultravioletas sob a janela, iluminava pequenas partes daquele todo mesmo sem saber o que iria iluminar. O quarto estava vazio, assim como toda a casa, em silêncio total.

5.

SEQ. 06 - SURREAL CENA 01 - PRAÇA/PRAÇA TIRADENTES - EXT - DIA De pé, em Frente à Catedral estava Rodrigo, em suas vestes púrpuras em trapos velhos, os cabelos e barba - já grandes e espessos - grisalhos, os relógios em seus pulsos e braços eram muitos, em seu pescoço pendiam amuletos e cordões, carregava consigo uma ampulheta, que nunca cessava em sua areia temporal.

Era outono, Rodrigo olhava para o céu admirando as nuvens.

Olhava a si mesmo no centro daquele furacão urbano, centenas de pessoas passando em vários sentidos, calçadas cheias, bancos na praça esgotados, conversas paralelas ou virtuais por todos os lados. Sua mente latejava de pensamentos.

Começa a falar em tom baixo, para si mesmo e para mais ninguém, enquanto em sua mente surgia sem parar imagens de tudo o que seus olhos viram dali ou de qualquer lugar, ou o que sua mente imagina sem parar.

RODRIGO: Será mesmo que faço parte dessa rotina?

Os carros passam, eu imagino para onde vão As pessoas passam, eu imagino o que pensam O sangue corre nas veias, o ar me sufoca Insetos voam em busca do que mesmo? nunca sei A realidade virtual está por todos os lados, em mãos ocupadas inutilmente.

Mas quantas vidas estão por aí, sem propósitos nessa onda?

Navegar nesse universo é mais complicado do que parece...

O que faço eu no meio desses ponteiros do tempo espalhados pelo caminho?

Tantos massacrados, enterrados por erros e distrações, Ah essa ilusão, trouxe tantos até aqui...

Sob um labirinto de futuros, me perco nesse turbilhão de cenas rotineiras, cada uma em seu próprio tempo e espaço. Tantas vidas perdidas, judiadas pelo tempo, seres de almas velhas e torturadas, simples de coração e de alma e sem medo do fim e de nada, que nada (MORE) (CONTINUED)

CONTINUED:

6.

mais nada menos se transformam em estátuas: chegam a pó pelo tempo, pelo temporal da vida. chego enfim ao livro dos dias, à torturante conclusão, às asas de qualquer pássaro que deixa para trás tudo que acreditava: Esses tantos corpos, tantas almas, tantos seres vivos de poucas palavras; não merecem o tempo concedido às suas vidas.

Em movimentos lentos e cuidadosos, Rodrigo apanha em seu bolso um pedaço de papelão, e um pincel atômico que encontrou horas atrás em uma rua. Segurou-os um em cada mão, olhando para o horizonte com um olhar decido. Em seguida ajoelhou sobre chão de paralelepípedos, e se pôs a escrever sob o papel, tremendo um pouco, mas ainda sim controlando seus movimentos lentamente.

"VENDE-SE TEMPO" Em meio a milhares de avisos por todos os lados, Rodrigo permanecia ali, no centro daquela praça com a placa nas mãos. Todos os que por ali passavam avistavam tal cena com olhares de curiosidade, de interesse, e muitas vezes também de indiferença ou deboche. Vários destes paravam diante de Rodrigo aguardando começar o show, mesmo sem saber que nada iria acontecer, e após cansarem de tanto esperar seguiam seu caminho. A maioria tinha aonde ir, e não podiam esperar.

Rodrigo permanecia ali, parado, olhando para nada e para longe, com os olhos pairados no ar.

A ampulheta à sua frente se esvaía internamente sem cessar.

Seus olhos permaneciam estáticos, e sua mente indagava sobre seu eu eloquente.

OFF A razão estava aqui o tempo todo, mas só agora compreendi: No final, o tempo sempre vence a memória, a vida, a história.

Créditos Finais Música Fim do curta.