ÍNDICE 2 a 28.....................Biografia do artista 29...........................Parado 30 a 52...................Anos 70 / Pinturas 53...........................Conto e poesia 64 a 79...................Ilustrações, jornal, livro, revista 80 a 87...................Anos 80 / Pinturas, ilustrações, 88 a 96...................Company 97...........................Penso. 98 a 104..................Gilberto Gil / Extra 105.........................Cartazes, Marcas e Folders 106 a 110.................Gilberto Gil / Raça Humana 111..........................Ilustrações 112 a 113.................Capas de Disco 114/115....................HStern 116..........................Chopper 117/118....................Impressos 119/120...................Ilustrações e impressos 121..........................Anos 90 122/123...................Capas de Disco 124/125...................Colagens 126/127...................Painéis e cenários 128 a 139.................Ilustrações 140 a 143.................Kromak e outros 144/145...................RBS 146 a 153.................Anos 2000 / ilustrações e painéis 154/155...................Quintana Braile / Lili inventa o mundo 156 a 159.................Retratos 160/161...................Ilustrações e Capas de Disco 162/163...................Clube dos 13 164/165...................Abstratti 166/167...................Ilustrações 168/169...................Six 170 a 175.................Anos 2010 / Ilustrações 176 a 178.................Poesia 179.........................Agradecimentos 180..........................Ficha Técnica e ISBN
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Nasci em Santana do Livramento, em 4 de julho de 1952, na Rua dos Andradas - a três quadras do Uruguai, em casa dos tios Hugolino e Lolô. O quarto em que nasci depois foi transformado em sala de jantar, por isto a música dos Mutantes tem tanto significado para mim: “Estas pessoas na sala de jantar são preocupadas em nascer... e morrer”. Meu pai, Odilo, e minha mãe, Susana, já tinham o Jorge. Alguns meses depois, nos mudamos para Porto Alegre, indo morar com a Vó Gomercinda, na Rua dos Andradas. Enquanto isto a casa era construída na rótula da Protásio Alves com a Carlos Gomes - lá na roça, como se dizia. Em maio de 53 nos mudamos para a casa nova: na frente podia se ver o Morro da Polícia e, à direita, o Guaíba. Aquele pôr do sol maravilhoso na nossa cara. Atrás, atravessando a Carlos Gomes, era só campo, com o Aeroporto Salgado Filho lá embaixo. Minha mãe dizia que a geladeira era uma caixa grande com gelo que meu pai tinha que trazer. Logo a casa do meu tio ficou pronta, e ele veio morar ao lado. Havia mais duas casas na rua, o resto era campo. O tio já tinha dois filhos, e logo as famílias foram crescendo. Ele teria nove, e o pai, sete - de 1950 a 1964. E assim fomos crescendo naquela que eu considero uma das melhores infâncias que uma criança poderia ter. Sem pressões, sem violência, com muita amizade entre os primos. Num lugar em franca expansão, mas devagar como a época mostrava. Íamos ao colégio público juntos, descendo a Iguaçu até a Montenegro, à igreja, no fim de semana. Meus pais eram católicos nem tão fervorosos, mas meus tios eram. Então, todo o domingo, missa! À tarde tinha as matinês do Ritz, e durante a semana muito futebol na rua, que era de paralelepípedo. Só a família já montava os dois times. Entre alguns momentos, lembro de 1961, quando a Yeda Maria Vargas, que era minha vizinha na Palmeiras, ganhou o Miss Universo, fizeram um palanque na Praça Bonita para ela receber as chaves da cidade. Lembro do chororô pela morte do Kennedy, em 63. Lembro de ter mandado uma carta pro Walt Disney e ter recebido um baita envelope cheio de fotos e um autógrafo do próprio. Lembro de estar em cima duma árvore que ficava no meio do quarteirão, um cipreste, e ver passando, na Carlos Gomes, os tanques em direção ao Aeroporto, isto em 64. Do meu pai em cima do telhado ajeitando a antena do rádio prá escutarmos a copa de 58. Das viagens de carro a Livramento, a Montevideo prá visitar a família da mãe e à serra, em Veranópolis, ver onde o pai havia nascido. Dos veraneios em Tramandaí, depois Atlântida. Às vezes com as duas famílias inteiras, mas sempre com uma coleção de amigos e amigas. Nossa casa sempre foi assim, aberta a todos os amigos. Quando a família aumentou, o pai aumentou a casa também e, no verão, ligava o ar condicionado no quarto dele, e ia todo mundo dormir lá: todo mundo queria dizer mais uns dez. Não lembro exatamente quando comecei a desenhar, mas deve ter sido nos cadernos do Colégio Anchieta, onde estudei o ginásio e o científico. Nos armários de casa, eu lembro, copiei os desenhos dos Beatles que ficavam no disco “Magical Mistery Tour”, feitos por Bob Gibson. Lembro de, a partir de 1968, copiar os autocontrastes de Jimi Hendrix e Robert Plant, meus heróis da época. Foi aí que comecei a melhorar meu desenho, mas ainda não criava. Não sabia. O melhor que tinha, em termos de aula de desenho, era com o Bittencourt, porque eu estava na turma da Arquitetura e teria que fazer o pré-vestibular de desenho com carvões, miolo de pão e folhas de desenho. Metade da turma era da Engenharia, a outra parte, da Medicina e, somente 3 alunos, em 3 turmas de 45, iam prá Belas Artes ou Arquitetura. Esferas, cubos e cones, eram o máximo que nós fazíamos.
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Susana Irigoyen Bolsoni 1949
Odilo Santo Bolsoni 1949
Nossa casa sendo construida 1952
Jorge, Odilo e eu 1953
Jorge, eu, Paulico, Martinha e Susana
Bolsonis em frente de casa
Pai e mãe com os cinco
Férias em Atlantida familia de 3 Bolsoni reunida
Paulico, eu e Jorge 1957
Biografia do artista
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Eu 1957
Eu 1958
Eu 1964 Colégio Anchieta
Foto de Braulio Brandelli
Eu 1967 Formatura do Ginásio Colégio Anchieta
1970 Daniel, Paulico, Jorge, Martinha, eu, Susana, Cako, Laurinha e Odilo Foto de Odilo Bolsoni
Lá estava o Alziro Azevedo, o único da Belas Artes, mas um grande incentivador do meu desenho, mais pela qualidade do seu desenho do que por amizade. Ney Rosauro e Sérgio Mazzali me ajudavam muito na troca de figurinhas que fazíamos, desenhando nos meus cadernos. Nesta época meu irmão, Jorge, estudava no Colégio de Aplicação, e um dia apareceu lá em casa o Edgar Vasques, seu colega. Como eu tinha duas lindas irmãs, Marta e Laura, ele já saiu rabiscando o retrato da Martinha, me deixando de queixo caído pela rapidez e perfeição do retrato. Sem querer, ele estava sendo um dos mentores do eu artista. Mas minha experiência na época limitava-se a copiar. Não havia descoberto a minha capacidade criativa no desenho. Esta veio em julho de 1970, numa viagem de férias à Vila Oliva, do Colégio Anchieta. Sem fazer apologia e, sem querer, fazendo, numa noite à beira da piscina, meu grande amigo até hoje, Nei Rosauro, me apresentou o não tanto popular à época, baseado, maconha. Minha vida de desenhista e criador mudou a partir dali. Após fumarmos, fomos para o dormitório no sótão da grande casa de Vila Oliva. Com um jogo de canetinhas Hidrocor e um monte de folhas, comecei a desenhar. Parecia que havia ligado um fio que estava solto há muito tempo, conectando minha mão ao cérebro. O que eu imaginava saía rápido e claro no papel. Pequenas pessoas, que pareciam desenhos do Keith Hering, bichos, casas... Havia descoberto onde estava minha imaginação, como usála, como crescer no desenho deixando a mão livre para exercitar o que me vinha à mente. Minha veia surrealista, alimentada pelos pintores que naquele começo de anos 70 faziam a minha cabeça, como Dali, Magritte e Max Ernst, aflorava e me dizia que caminho seguir. Meus planos de seguir a faculdade de Arquitetura, ali, foram por água abaixo. Lógico que a maconha ajudou. Eu, que nunca tirei menos do que 11º lugar numa turma de 45 em meus sete anos de Anchieta, passei a dar mais atenção ao rock, à pintura, aos amigos cabeludos, “os magrinhos”, à Tropicália, às gurias que não se encaixavam em modelos da sociedade atual. Passei a conviver com o pessoal da música em Porto Alegre, a ir a shows, a rodar pela cidade - um dos meus melhores esportes até hoje em dia. Aqui começo um relato duma fase que norteou minha vida durante pelo menos uns sete anos, que foi o convívio com as drogas. Eu vinha duma família muito bem estruturada, seis irmãos, Jorge, eu, Paulo, Marta, Laura, Carlos e Daniel, meus pais, Odilo e Susana, morávamos ao lado dos meus tios, Mario e Terezinha, e seus nove filhos, em Petrópolis desde 1953. Uma infância maravilhosa, com viagens ao Uruguai, Livramento - onde nasci; fazendas, acampamento de escoteiros, soltando aeromodelos, enfim, uma vida simples, porém cheia de brincadeiras, choradeiras, esfolados, muito futebol de rua, matinês de cinema, trocando revistas... Estudei em colégio público. Mas, quando cheguei ao ginásio, meu padrinho - na época capitão do Exército, Mareu Ferreira, depois que eu não consegui passar no Instituto de Aplicação, me garantiu os sete anos de estudo no Colégio Anchieta. Aí, nestes sete anos, em turmas de 45 alunos nunca fui menos que um decimo-primeiro, chegando a ser o quinto da minha turma. Era um CDF, gostava de estudar, gostava de ler. Quando me preparava para escolher uma carreira fiz um teste vocacional que deu Escola Superior de Física. E de repente começo a me encantar com o desenho. A música já era um fator novo e extremamente revigorante na minha vida.
1966 Eu, Daniel e Cako e Paulico e o Oldsmobile
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Brandelli Braulio de Foto Brandelli Braulio de Foto
e
Daniel
Brandelli Braulio de
Paulico
Foto
Laurinha,
Brandelli
Martinha,
Braulio
eu,
de
Jorge,
Foto
Vivíamos uma ditadura cruel e sanguinária, em casa meu pai sempre nos alertava para os cuidados que devíamos ter ao emitir nossas opiniões. Então a única saída era viver um momento espiritual diferente, que nos levasse para longe daquela paranoia existencial. Aí, quando alguém dizia que aquele comprimidinho fazia a gente sair daquela realidade, a gente mandava prá dentro: a pergunta era “Que barato que dá?”. A maconha era a principal, difícil de encontrar e jogando a gente num mundo bem marginal de esquinas duvidosas. Os comprimidos eram anfetaminas, xaropes contra a tosse... Qualquer coisa que deixasse a gente diferente funcionava. E assim andávamos pelas ruas, nós “os magrinhos” como éramos chamados. O que nos identificava eram os cabelos e as roupas cheias de penduricalhos, hippies da cidade. Mas mesmo os cabelos já começavam a ser usados compridos por boa parte da juventude. O diferencial eram os cuidados, os nossos eram sempre descabelados e encaracolados. Assim andávamos noite adentro... Uma época, o barato era subir e descer a Independência, dando uma quebradinha pelas ruas adjacentes prá fumar um. E ali nos encontrávamos e trocávamos ideias e informações, mostrávamos nossos últimos desenhos, conhecíamos gente diferente. Músicos, poetas, escritores, artistas, artesãos, muitos que depois se tornaram artistas conhecidos, perambularam pelas noites da Independência. E a volta prá casa no meio da noite eram os 5 km até minha casa no Alto Petrópolis, aliás, onde moro hoje. Assim começou também meu gosto por caminhar. Na época meus instrumentos de desenho eram as peninhas de nanquim e as hidrocores. Usava lápis de cor de vez em quando. Através do meu irmão, Jorge, passei a frequentar a faculdade de Arquitetura, na Oswaldo Aranha. Um dos primeiros que ele me apresentou foi o Mutuca, que ao ver alguns de meus desenhos me convidou prá fazer umas ilustrações pruma revista que eles imprimiam em serigrafia: a “Virabosta”. Tinha um caderno especial chamado “Sangria”, sobre rock e contracultura. Fiz a capa e alguma outra ilustração. Ali fui apresentado ao pessoal que mais sabia de desenho, afinal eram os representantes da nossa “contracultura” ou “underground”. Por ali circulavam e agitavam Mário Maciel, LP Gallina, Gérson Scherer, Evandro Schebela, Bety Wiener, Carminha e Zé Mauro, Beto Prado, Claudio Levitan, Mário Honhelt e Milton Kurtz. Era época do Pato Macho, um Pasquim gaudério sem ranço tradicionalista e de muito bom humor, se eu não me engano lá estavam o Ivan Pinheiro Machado, Claúdio Ferlauto, Cris Burger, e Nilo Paim Soares, era o pessoal do estudo. Das ruas vinham os melhores: Marco Pilar, Danilo “Jacaré”, Luiz Eduardo Fontoura, o “Peixe”, Júlio “Flash” Viega, todos muito ligados no que de melhor se fazia em desenho no mundo. A troca de informações era mais rápida e segura que a internet de hoje. Não se cultuava quem não valesse a pena, literalmente. Acho que foi por ali que conheci o Chaminé, que além de gostar de desenhar era um ótimo contrabaixista. A gente nunca sabia realmente o que eram profissionalmente as pessoas, pois todos sem exceção estavam experimentando o que viriam a ser. Havia os poetas, mas que trabalhavam em banco, os músicos que eram vendedores em loja. Comecei a pintar umas camisetas com os ídolos do rock e a tentar vender meus desenhos no único lugar possível, a Feira Hippie da Praça Dom Feliciano, na frente da Santa Casa. Cheguei a vender várias com Jimi Hendrix, Robert Plant, Janis... Aí veio o vestibular e, apesar de estar bem preparado, rodei. Alguns dias depois, com o dinheiro das camisas, parti para Viña del Mar, onde anunciavam no festival os shows de Santana e os Mutantes.
Jejo de Foto
No
Jardim
Botânico
no
Testore
Rio
Schmidt
de
Batista
Bruno
Eu
5
artista
Foto
Anunciavam vírgula, porque naquela época o rock ocupava no máximo umas páginas de fotos na revista Manchete. Sabia-se de tudo no boca a boca. Fomos uns oito, e pé na estrada, de carona. Íamos em dupla e marcávamos encontro na próxima capital, Montevideo, Buenos Ayres e assim por diante. A viagem de ida e volta levou um mês. Lembro dos amigos até hoje, o Peixe, o Bruno e a Sibele. Chegando lá, quem tocava no festival era Jair Rodrigues e os Originais do Samba. Entramos num cinema e fomos ver Woodstock com as legendas das letras das músicas todas em espanhol. Na volta, viemos eu e o Bruno, fomos obrigados a subir os Andes inteiros a pé, pois ninguém dava carona. Chegando ao topo, um quilômetro antes do túnel, um fusca de São Paulo, graças a Deus, nos levou ao outro lado. Em Buenos Ayres não gastávamos dinheiro, pois pedíamos comida e água. Eram “outros tempos”, apesar de sermos cabeludos, as pessoas eram, em geral, bondosas com a gente... A não ser uma velhinha, em Viña, que, tendo perguntado de onde vínhamos, e Bruno respondido: We came from London! respondeu: London nadie, ustedes son hippies, brasileños, mugrientos! Na subida dos Andes paramos um carro e pedimos comida, nos deram dois bifes à milanesa, que juntamos a um melão e àquela água maravilhosa que descia em corredeiras pelas montanhas. Ah! Era verão, de dia um calor intenso, de noite um frio imenso. Ao chegarmos a Buenos Ayres, de volta, fomos ao apartamento de Adriana, namorada de Bruno. Depois de uma noite em que saímos e curtimos uma noitada de blues e canções tocadas por dois ligadíssimos guitarristas, Luis Alberto Spinetta e Pappo, a situação iria mudar. Ao passearmos, e aí estávamos em cinco, fomos detidos pela polícia e levados à delegacia. Descobrimos, tardiamente, que no apartamento havia 2 kg de maconha. Até meus pais descobrirem e conseguirem nos livrar, foram 45 dias em Villa Devoto, a temida prisão argentina, palco de “O Beijo da Mulher Aranha”. Não tomei um banho sequer neste tempo, e o que livrou a nossa “cara”, para não dizer outra coisa, foi o fato do Peixe tocar todas as músicas do Roberto Carlos e dos Beatles e eu desenhar muitas mulheres nuas. Hoje falo com naturalidade do episódio, mas certamente não foi uma “aventura”. Assim começou 1971. Na minha rua tinha um amigo, Braulio Brandelli, três anos a menos que eu, que era fotógrafo. Ele sabia tudo de fotografia, fazia pôsteres, filmava casamentos em Super8 e 16 mm. Com ele fiz vários curtas de animação, filmamos casamentos, etc.. Se não o tivessem internado numa clínica, o cara, hoje, seria um baita profissional. Esse foi um ano de muita experiência, em todos os sentidos. A Arquitetura tinha ficado para trás, tudo o que envolvesse desenho me interessava. Os amigos ajudavam na coleta de informações, me apresentando pintores, desenhistas, músicos. Bruno Schmidt era um grande incentivador no meu aprendizado das artes. Costumava frequentar a casa na Quintino, onde passávamos tardes desenhando. Comecei a usar a aquarela, com a qual tive uma afinidade instantânea. Nas ruas, os amigos iam se somando, músicos, artistas plásticos, poetas, bailarinas, atores, formávamos um bando. À porta dos teatros, bares, livrarias e faculdades, íamos nos encontrando, trocando ideias, namorando e aprendendo. A Ditadura comia solta. Como, na maioria, éramos cabeludos e usávamos roupas coloridas e fora do normal, sermos parados pela polícia ou por gente que nos insultava de graça era uma constante. Nós não ligávamos muito para isso, mesmo nos sentindo incomodados com a pressão. A sensação de liberdade falava mais alto em nossos corações. Aquela “beleza” do que estávamos fazendo ou nos tornando valia mais que a mais dura crítica.
do
Cornelsen
Biografia
e
Bruno
Schmidt
São
Paulo
1973
Foto de Braulio Brandelli Foto de Evandro Schebela
As drogas eram o meio mais rápido e rasteiro de nos escondermos naquela espécie de concha artística, mas elas sempre foram um meio de botar para fora o que era considerado inútil e perda de tempo. Não havia onde aprender a criar, pois a própria criação era ensinada dentro de padrões estéticos atrelados a padrões históricos e morais para os quais não manifestávamos o mínimo interesse. Enquanto o mundo inteiro explodia em cores, sons e amores, nossa realidade era crua e amarga. Nesta época começaram as experiências com o LSD. Não foram tantas assim porque não era fácil de conseguir. O que posso dizer é que cinema em 3D é brinquedinho de criança perto do que a mente era capaz de produzir. Claro que houve as “good”e as “bad trips”. A “bad trip” era uma viagem para dentro de si, uma concha onde a gente se fechava por não estar se sentindo bem. Foram poucas, duas ou três, e nelas ficava difícil conversar, chegar nos amigos, era um clima tenso e sombrio. Mas, a boa viagem ficava marcada na nossa memória, o mundo explodindo em cores lá fora nunca mais seria o mesmo. Costumava-se viajar no mínimo durante dez horas seguidas e, às vezes, no outro dia a viagem voltava. A gente procurava lugares especiais para viajar e, neste ponto, Garopaba era um paraíso. Lembro de deitar na grama e de repente o barulho dum barco ecoar na minha cabeça, olhava pro mar e este explodia em cores. Uma vez olhando minha namorada Lycia, nas pedras lá embaixo, ela espantou com as mãos uma abelha, que veio em círculos em minha direção... A abelha foi ficando enorme e, quando chegou à minha frente, me senti entrando prá dentro do meu olho - que criou uma janela, na qual ela bateu e continuou seu voo - me deixando ali, maravilhado com a cena, encostado naquela vidraça. Este tipo de alucinação era comum durante uma “viagem” e, como seria muita “bandeira”, como se dizia na época, “viajar” em meio a pessoas que estavam normais, “excursionávamos” em grupos e em lugares afastados. Lembro uma vez, nas dunas de areia do Siriú... Estando no meio delas, o cenário parecia um Saara, e as areias pareciam chocolate esparramado por onde corríamos e dançávamos. Meu desenho era a soma de tudo isto. Pessoas perdidas num mundo de cor e imagens surrealistas. Comecei a observar que o que desenhava estava intimamente ligado às minhas descobertas de vida, que havia algo até mediúnico no meu desenhar. A aprender que podia desenhar melhor, mais real. Como havia descoberto sozinho a minha vocação, a necessidade de aprender sendo ensinado sumiu por completo do meu mundo. Tudo se resumia a experimentar: ‘Are you experienced?’ já dizia Hendrix, morto há um ano. Quando aprendia, tocava em frente. Ali comecei a gostar de tocar violão, o que faço até hoje, de uma forma só minha. Não consigo decorar nomes de notas e, principalmente, nem quero. Carona era a forma de viajar. Uma bolsa grande, um cobertor dobrado, às vezes o violão, e vamos embora. No final de 1971 fui pro Rio com meu irmão Jorge e Márcia, sua namorada. Andávamos dum lado ao outro de Copacabana, Ipanema e Leblon, pedindo dinheiro na rua para comer. Á noite, ou dormíamos na praia ou alguém oferecia pousada. Numa noite, fomos parar num apartamento, na Fonte da Saudade, acolhidos por um maluco beleza que depois soubemos ser maestro, professor de percussão na faculdade. De manhã cedo, a polícia irrompe no apartamento e leva os 13 prá 14ª no Leblon. O delegado era Nelson Duarte, paladino da luta contra as drogas. Ao chegar à delegacia, junto com síndico e moradores, o delegado diz que vai voltar ao apartamento para fazer uma revista geral.
Fagundes Varella 1972
Foto de Carteira de Trabalho
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Biografia do artista
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Fotos da matéria do jornal “O Dia” Rio de Janeiro 1971 Foto de Jorge Irigoyen Bolsoni
Encontram vários saquinhos de maconha, plantados pelos mesmos (se tivesse alguma coisa no apê, teríamos fumado, e ninguém tinha nada). À noite ele nos avisa que, no dia seguinte, seríamos entrevistados no programa Flávio Cavalcante, onde ele fazia um segmento de combate às drogas. Nos ameaçou, se não respondêssemos positivamente às perguntas, ‘o pau ia comer’. À noite, uma menina foi levada e estuprada pelos policiais. No outro dia, luzes e televisão: ninguém responde afirmativamente. Graças a meu pai, que foi avisado (e a um tio capitão na Aeronáutica), à noite dois milicos entram e chamam “os Bolsoni” e nos levam dali para a casa do meu tio. Márcia fica e, depois, como era menor, seu pai que morava no Rio a leva. Duas semanas depois, na casa do Peixe, ao passar na sala da televisão, sorte que ninguém estava prestando atenção, me enxergo dizendo não ao Nelson Duarte. Por alguns anos minhas aventuras policiais felizmente terminam. Passei praticamente o verão seguinte e o de 1972 em Garopaba, Santa Catarina, na época meu paraíso sobre a terra. Uma semana em Porto, conseguindo “algum” e pé na estrada, duas semanas em Garopaba. Na pasta 007, a coleção de Ecoline, pincéis, etc... Já havia tido uma breve experiência de estágio na MPM Propaganda, mas enchi meu saco de ficar colando Letraset vencida e em uma semana desisti. Mais uma experiência na Honório Lemos Propaganda, a qual foi bem mais proveitosa, trabalhando com Omar “Matico” Barros e Chamaco. O ano de 1973 viria a ser “mágico”. Influenciado pelo Bráulio Brandelli, já fotografava meus desenhos, quase sempre em slides, quando me convidaram prá fazer um visual dum show no Teatro de Câmara. Tocariam o Liverpool e várias outras bandas. Não havia muitas. A maioria eram bandas de baile, mas o Liverpool tinha um som diferente. Já os tinha visto, anos antes no Teatro Leopoldina: “Sounds and Sons” com a participação especialíssima do Claudio Vera Cruz. Neste show teve uma canja do Claudio, que tocava teclado e, no meio duma música, passou a bola pro Morongo... Ali estava começando uma banda que daria asas à minha imaginação. Convidado por Claudio e Morongo, começamos a criar “Eugeny, História de um sonho”, uma ópera-rock. The Who havia criado Tommy, Procol Harum e Frank Zappa também faziam as suas, e a Saudade Instantânea começou a dela. O nome da banda eu dei, baseado num desenho meu, saudade sempre foi um tema inspirador. Tínhamos seis datas agendadas em julho no Teatro São Pedro. Paulo Buffara escrevia, Morongo, Claudio, Gata e Neno ensaiavam as músicas, e eu criava a parte visual, ilustrando as canções e criando a forma como apareceriam no palco. Foram 4 a 5 meses de preparação. Usava dois projetores de slides, um semiautomático e o outro, tipo canhão, com o qual fazia efeitos de zoom em cima de slides pintados com cola e aquarela - tentando imitar os efeitos visuais psicodélicos dos acid test da Califórnia, da flower power. Conforme as músicas e os efeitos especiais pré-gravados rolavam, vários estilos de apresentação foram criados. Uma coleção de fotos em alto contraste do Roberto Renner pintadas com aquarela dava um clima urbano para uma passagem. Noutra parte, uma coleção de slides do Mario Maciel, com comunidades hippies, nudez e um clima Haigh Ashbury ilustravam uma atmosfera psicodélica. A bateria também tinha uma frente trabalhada com estrelas e plásticos coloridos. E o som tinha como principais influências o Yes e Pink Floyd. Os shows, todos lotados, foram um sucesso, guardadas todas as proporções que sucesso pudesse significar na nossa provinciana e alegre Porto Alegre.
Braulio Brandelli, eu, Lycia Cordeiro e Marcia Cordeiro Garopaba 1972
Saudade Instantânea Neno, eu, Morongo, Maira, Gata, Cláudio e Cristina Foto da matéria do jornal Zh
Foto de Burchardt Foto de Salomão Scliar
São Paulo 1973
Eu na Barros Cassal dos Scliar Foto de Arthur Franco
Com o dinheiro que ganhei pelo trabalho fui para São Paulo, onde fiz vários contatos, mas nada que rendesse algum retorno. O pessoal da Arquitetura estava por lá batalhando, e o Magro Nilo fazia alguns trabalhos na Band. Numa visita me pediram para gravar um sketch, no mínimo, curioso, me acharam parecido com o Jack Stewart, das corridas de Fórmula Um da época. Seu maior rival era Emerson Fittipaldi. Me botaram um boné de escocês, e eu atuando meio míope: Jack Stewart non estar com nada, Fittipaldi is good! Fiquei um mês por ali. Fui passar um fim de semana no Rio e conheci Jejo Cornelsen. Ficamos grandes amigos! Abri minha pasta cheia de aquarelas no seu apartamento da Fonte da Saudade e acho que me tornei uma boa influência pro trabalho do Jejo - sem contar com minha figura que na época era de um rock star: calças boca de sino, blusas coloridas... Andava sempre com um chapéu boliviano onde pendurava de tudo, desde canetinhas de nanquim, lapiseiras, colheres de plástico, canudos coloridos, enfim era uma tralha de cores. Jejo tinha acabado de passar uma época em Portugal, estudando Arquitetura junto do Lolô, seu pai, um arquiteto renomado. Passei uma semana ali e voltei para Porto Alegre. No final do ano voltei com a família toda de férias. Tinha uma namorada na época, Lycia, que trabalhava na TV Globo, e ela me conseguiu uma entrevista com Federico Padilha, chefe da cenografia da Globo. Ele olhou minhas aquarelas e disse: faz três semanas de estágio, sem grana, se eu gostar do teu trabalho te contrato. A família voltou e eu fiquei hospedado no belo apartamento com vista para a Lagoa, dos Cornelsen. Hospedado, pois lembro de passarmos a arroz com ovo, pois não tínhamos um tostão. Nesse tempo um dos meus trabalhos foi criar e desenhar os elementos cênicos dum programa que deveria estrear no ano seguinte, 1974: Fantástico, o Show da Vida. Terminado o estágio, Padilha me deu o emprego, a partir de março. Voltei de carona até São Paulo e lá minha tia Suzana me pagou a passagem de volta para Porto. Juntei minhas poucas coisas e me mudei pro Rio. Grande época: a ditadura comendo solta, o rock’n’roll na cabeça, aquelas praias lindas, aquela sensação de liberdade de estar fazendo a minha vida com aquilo que eu tinha de melhor: meu trabalho. Mas, nada era fácil, não tinha moleza. Jejo havia ido para Londres, e eu não tinha referência nenhuma na cidade, alguns parentes, mas, sempre parentes. Morei em pensão de nordestinos (estavam começando o Metrô no Rio), fui hóspede em apartamentos de amigos, estava sempre mudando. O trabalho era bom, simples, e me davam bastante liberdade para criar, o que fazia melhor. Meu ídolo era o Juarez Machado, com seus sketches para o Fantástico. Fazia Satyricon, Chico City, Planeta dos Homens - com Agildo Ribeiro; fiz dois Roberto Carlos Especial, enfim toda a linha de shows da Globo. Trabalhava no Teatro Fênix, na Lagoa, entre meus colegas Mauro Monteiro, Abel Gomes, Sorensen... Eu ia de chinelinho de dedo e com minha vasta cabeleira. Muita praia, Posto 9, dunas da Gal, Gabeira, Jorge Mautner. Costumava conversar com a Sandra Bréa, mas sempre fui muito tímido, então não me enturmava muito. Lembro dum grupo que o Jejo me apresentou, a Barca do Sol, eu ia nos ensaios deles e levava meu violão Di Giorgio Signoriña. Quando eles terminavam, tocávamos uns Rolling Stones e Chuck Berry: Nando Carneiro, Muri Costa, Jacques Morelembaun, Marcelo Costa e eu, roqueiro, ali com eles. Coisas da vida. Um dia o Sérgio Batista, dos Mutantes, veio conversar comigo prá eu desenhar um cenário para eles, mas eu não tinha ainda o espírito empreendedor que nesta profissão é essencial para o progresso.
Eu e o Neni Scliar na frente da Santa Casa
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Foto deIto Cornelsen
Quer dizer, ser criador é fundamental, mas se você não tiver o pique de empresário, de aglutinar pessoas que trabalhem com e para ti, de correr atrás de novos trabalhos, de novos clientes... E eu, com meus 21, 22 anos certamente não tinha. Mas, o fato de estar vivendo na capital cultural do país me fazia nem ligar para isto. Passei a morar em Ipanema, com a secretária do Padilha... “Vai prá casa Padilha!” Tinha ótimos amigos, como Ezequiel Neves, com quem mandava umas linhas de cocaína, e ficávamos ouvindo e comentando sobre as últimas dos Rolling Stones. Trocava umas notas musicais com Alceu Valença, na cobertura em frente ao meu apê, na Barão da Torre. E volta e meia aparecia algum amigo gaúcho - como o Bebeto Alves que, ao conseguir uma audição na Som Livre, ainda quis ensaiar umas músicas comigo. Ainda bem que eu desisti, minha qualidade musical não era prá tanto. Vez que outra ia prá frente do Bob’s, em Ipanema, e ficava tocando meu violão, desfiando uns rocks. Numa destas conheci uma menina que cantava muito, a Eliane, e passamos a fazer uma dupla. Um dia, estávamos na avenida na beira da praia e vem a melhor amiga dela Luiza Maria, que cantou aqui no Festival da Primavera no Araújo em 1975, acompanhada de ninguém menos que Jim Capaldi, baterista, cantor e compositor do Traffic. Pararam, conversamos, mostrei meus desenhos para eles, minha pasta debaixo do braço era marca registrada. Luiza me pediu para dar um desenho pro Jim, e eu não dei. C’est la vie! Tem dias que dava desenhos como quem dá uma bala, e eu não dei um pro Jim Capaldi. Meu trabalho continuava sem muitas mudanças, eu era uma peça na engrenagem criativa da Linha de Shows. Quando tinha o que fazer, era rápido e eficiente, mas nem sempre tinha trabalho. Aí o Padilha me dizia: vai prá praia Ricky! Vai a um cinema! Um namorico aqui, outro ali, os gays se atiravam em cima de mim, mas eu levava na boa, tinha uma ótima convivência com a tchurma. Frequentava o Teatro da Praia, onde atuavam os Dzi Croquettes. A Globo também era um paraíso de plumas. Conhecia o pessoal das gravadoras. Na Warner tinha o Paulo Pilla e a Neca Jahn. Com o Paulo cheguei a morar quase um mês quando tivemos que entregar o apartamento da Barão da Torre. Um gentleman que, apesar de jogar no outro time, sempre me tratou magnificamente. E estava ficando difícil ter meu canto nestes dois anos de Rio de Janeiro. De repente, numa roubada, contraí uma Hepatite B, e a única forma de curar era passar um mês de cama. Peguei uma licença de saúde e voltei prá Porto. Instalado em casa da mamãe e com uma namoradinha linda aos pés da cama, Lucinha, só não podia transar que a HepB era contagiosa, fui me recuperando e decidi não voltar pro Rio e ficar por aqui. Meus pais sempre foram nota mil, muito afetuosos e dando toda a força do mundo, o que não incluía dinheiro, mas também quem tem sete prá criar dá o que pode. Desde meus 18 anos que comecei a aprender a ganhar algum em pequenos trabalhos e bicos. Já curado, reatei as amizades, conheci novos amigos e principalmente corri atrás de trabalhos. Não queria trabalhar em agência de publicidade, pois achava que meu trabalho era muito mais amplo que só publicidade. Já tinha tido as experiências na Honório Lemos e na MPM. Na área de exposições a situação era complicada, meia dúzia de galerias, dois ou três comandavam as vendas. A música novamente era a saída prá mostrar minha arte.
Foto deIto Cornelsen
Biografia do artista
Jejo Cornelsen Hyde Park Londres 1975
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Eu e Jejo Cornelsen no apartamento da Resedá - Fonte da Saudade
Paulo Pilla e Bruno Schmidt
Foto de amigo da ZH
Fizemos os shows do Utopia, na Arquitetura. Tinha toda uma efervescência musical em Porto. Eu e meu amigo Neny Scliar varávamos os dias e as noites desenhando sem parar, além da parceria musical. Abrimos dois shows do Utopia no Clube de Cultura, eu no violão e voz e o Neny na harmônica, flauta e sax. Alguns blues, rock’n roll e umas baladas nossas era o repertório. Com minha experiência da Globo, pintaram vários convites prá cenário, mas era tudo um amadorismo só nessa área. Fizemos um cenário pro Vivendo a Vida de Lee, que caiu antes do começo do show, pois nos contrataram para pintar, não chamaram pessoal especializado em montagem de estruturas e, na hora, exigiram que montássemos uma estrutura prá levantar o cenário. Resultado: no money. Carlinhos Hartlieb nos convidou, e fizemos o pano de fundo de M’Boitatá. Eu corria atrás e sempre pintava um free, um logo, um folheto. Aí veio a exposição na Galeria Sete Povos, na frente do Instituto de Belas Artes. Foi uma linda exposição, mas não consegui vender nenhum quadro. Aí já estava fazendo experiências pictóricas, como os desenhos feitos a lápis, de papel vegetal e colados sobre um fundo em aquarela sobre papel Fabriano. Pareciam desenhos antigos ou, como disse Luiz Carlos da Cunha no convite: bem na linha dos “flangs” ingleses ou dos “doujourt” franceses. Eu já havia exposto na GFU, em 1972, naquela que foi minha primeira exposição, na Arquitetura, no Belas Artes, no Rio - no Jardim Botânico, na casa do Deco, pintor e ilustrador que fez as primeiras capas dos Mutantes pós Rita Lee. Aquela foi minha primeira exposição de verdade. Não foram tantas. Coquetel com champanhe e sorvete, na época eu não bebia quase, meu negócio era e sempre foi Coca-Cola. Na festa, depois, na casa do Salomão e Berta, consegui reunir alguns de meus melhores amigos como Neny, Jejo e o Ney Rosauro. Mutuca tava lá também. Éramos um bando, como dizia o Bebeto Alves, e como um bando fizemos algumas publicações que hoje em dia são consideradas “cult”. Desta época é o “Araruta“, uma espécie de zine alavancada pelo Danilo Jacaré, cujo apelido vinha pelo seu personagem principal, um jacaré. Participaram deste alguns dos melhores desenhistas da época: Danilo, Mario Maciel, Carlos Asp, Antonio Carlos “Bola” Harres, Neny Scliar, Bruno Schmidt, Mario Rohnelt, Milton Kurtz, Luis Eduardo “Peixe”, Julio “Flash” Viegas, Marco Pilar. No final, estávamos fugindo da Polícia Federal que queria saber quem era o responsável por aquela apologia às drogas, aquele festival de psicodelia. E olha que só a capa era colorida. Nesta época ainda costumava varar as noites ligado de anfetamina, desenhando sem parar dois dias seguidos. Não tomava anfetamina se não fosse para desenhar, tomar por tomar não me satisfazia, mas quando sabia que ia poder estar só ali com meu amor maior, então, arrumava a mesa, com as ecolines, lápis aquarela, potinhos, água, pincéis, principalmente os super fininhos Kolinsky. Ao lado do toca-discos, aquela coleção de Lps do melhor que tinha o rock e o blues e, já naquela época, dum jazz que me seduzia, o jazz fusion. Aprendi a escutar através do Salomão Scliar, fotógrafo, editor, cineasta e que em casa, na Barros Cassal, tinha uma aparelhagem quadrifônica. Ele servia um copo enorme de Campary, colocava um Weather Report, um Santana, um Miles Davis e dizia “só levanta a bunda daí depois de terminar o disco”.
Cenário Utopia DAFA Arquitetura 1975
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Foto de Salomão Scliar
Eu, Neni e Bertha no quintal da casa da Barros Cassal Foto de Luiz Avila
Juro que nunca me preocupei de querer sair dali. Era um louco genial. Tanto o pai como o filho, Neny ou Berta, a mãe. O James, o outro irmão, desenhava muito bem. Costumo dizer que foram meus segundos pais. E assim ficávamos, às vezes ali, em casa ou em casa de amigos. Tínhamos este costume, nós os desenhistas quando estávamos juntos e isto era bem frequente. Fazíamos desenhos a 5, 6 mãos em que cada um ficava um tempo com o desenho e depois passava para o outro. Quando digo que assim aprendi a desenhar e pintar não estou fazendo apologia às drogas, estou dizendo que para mim aquilo foi essencial na minha formação como artista. Nunca estudei desenho, pintura, ou o que fosse, na minha área. Aprendi tudo motivado por interesse e curiosidade. Vivia numa época de castração cultural, com tudo estourando no mundo, e no Brasil, a censura, a injustiça oficial comendo solta. Tinha começado com o pé esquerdo na minha formação acadêmica. Se não fosse eu a aprender tudo o que podia e queria, quem iria me ensinar? Ainda hoje é assim. Com certeza uma decisão superpessoal. Minhas aquarelas foram se tornando mais limpas e diretas, mas sempre com uns toques de non-sense, psicodelismo e surrealismo. Éramos todos agitadores culturais de primeira linha, tanto na área da música como do teatro e da literatura. Posso dizer que, guardadas as proporções, estava fazendo exatamente aquilo que me propunha como ilustrador. E aprendendo aonde aquilo tudo iria me levar. Nesta época começa o meu interesse pelo uso do aerógrafo ou airbrush. Já conhecia o trabalho de vários ilustradores estrangeiros como Alan Aldridge, que fez um livro sobre Beatles e trabalhos comerciais que via em revistas. Mas era um material muito difícil de encontrar e comprar. Um amigão, Antonio Carlos “Bola” Harres, que trabalhava na editoria de polícia da Zero Hora faz uma matéria sobre meu trabalho e me acenam com a possibilidade de um emprego, mas antes disso meu último confronto com a polícia ainda viria a acontecer. A Esquina Maldita, na frente da Arquitetura, era o ponto de encontro das cabeças pensantes, e muitas noites da semana para lá íamos. Numa noite, com minha enorme pasta de desenhos embaixo do braço, lá estava eu. Cheio de gente na rua e dentro dos bares, de repente, a Polícia Federal tranca tudo - com carros fechando as duas esquinas. Eu guardava uma baganinha de maconha dentro duma latinha, no bolso e não pude jogar fora. Resultado: me jogam no camburão e vamos prá PF, da Av. Paraná. Vários conhecidos estão juntos, mas a gente faz que nem se conhece. Pegam minha pasta e me deixam sentado num corredor, esperando. Enquanto isto, um amigo numa sala envidraçada ao lado é pelado e torturado enquanto eles passam dizendo: tu és o próximo. São seis policiais, que me enchem de pancada durante mais de duas horas: pontapés, telefone, socos na barriga e nas costas. Tenho que entregar alguém, é o que eles querem. Agora, o que um cara que guarda uma baganinha dentro duma caixinha tem prá eles? Esta era a ditadura e suas consequências, o bater por prazer, para mostrar quem é mais forte. Mas os disparates não param por aí. Moído de tanto apanhar, me levam prá cela para dormir e, de manhã cedo, volto à salinha. Estão olhando meus desenhos, vários foram roubados, e me dão lápis e papel e cada um daqueles que tinha me enchido de porrada é retratado por mim.
Foto de Salomão Scliar
Biografia do artista
Eu e Bebeto Alves na Redenção
Capa de Esquina Maldita de Paulo Cesar Teixeira, o livro é novo e conta como foi esta época.
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Eu tinha na carteira a foto duma amiga, um contato, menor que 3x4, e a pose dela sugeria que estava fumando. Me colocam num fusca, me levam à casa dela e, de lá, a levam para a PF. O disparate é que os agentes foram fumando um baseado na ida. A menina era menor e, quando chegamos na PF, um repórter da ZH vem me peitar dizendo que vai acabar com a minha vida por eu ser um corruptor de menores. Logo mais aparece meu pai, que na época era diretor da Carteira de Hipoteca e Habitação da CEF, o que lhe dá a chance de negociar minha saída. Aí eu já havia levado na manhã um murro dum agente, que havia aberto a minha boca. Questionado pelo meu pai, ele disse que eu havia “me exaltado”. À noitinha, me liberaram - não sem antes me oferecerem um emprego de retratista falado com um salário de 5000. Graças a Deus essa foi a última complicação que eu tive com a polícia na minha vida. Duas semanas após o ocorrido, por iniciativa do Armando Burd e do Juarez Fonseca, eu estava empregado na Zero Hora ganhando 2500 por mês. No meu primeiro dia fiz questão de cumprimentar o colega da Editoria de Polícia, aquele que “ia acabar com a minha vida”. Meus pais, que sempre me apoiaram em tudo na vida, principalmente em relação às decisões que eu tomava, me pediram para consultar com um psiquiatra. Fui umas três vezes - em que ele sempre batia na tecla que eu fumava maconha como uma forma de agressão aos meus pais. Ao saber o valor das consultas, convenci meus pais a acabar com aquela besteira. Naquela época eu estava até sem fumar, traumatizado pela violência da polícia. O trabalho no jornal era muito interessante, e eu estava gostando muito da nova experiência. Eles me usavam muito bem. Tinha dias, principalmente nos fins de semana, que numa edição chegava a ter vinte ilustrações minhas. Adorava chegar, aos domingos, na redação, para fazer a edição de segundafeira e ver o meu trabalho na edição dominical. Passei a fazer capas do Caderno de Sábado e da Revista de Domingo. Adorava sair da redação, na sexta após a meia noite e ir para a Esquina Maldita encontrar com os amigos. Graças à repercussão de minhas ilustrações, fora do meu horário, que ia das 17 às 22, pipocavam outros trabalhos. O Eduardo Azambuja era um apaixonado pela palavra escrita e pela música brasileira. Veio com a ideia de fazermos um livro que nós mesmos ilustraríamos e faríamos a impressão. Começou a juntar textos de todos os malditos da época, e lá estavam Caio Fernando Abreu, Luiz de Miranda, Dedé Ferlauto, Eduardo San Martin, Delmar Marques, Juarez Fonseca, mais os ilustradores, fotógrafos, etc. Depois de reunido todo o material, passamos uma semana montando, ilustrando, fazendo vinhetas. E imprimimos, nós mesmos, numa Multilith que tinha numa casa aqui em Petrópolis perto da minha. Chamou-se “Pedra Mágica”. Não ganhamos um tostão pela empreitada, mas essa não era a ideia. Consegui comprar um aerógrafo e um pequeno compressor e comecei meu aprendizado nesta técnica, que mais adiante viria a ser meu carro chefe. Naquela época o aerógrafo era usado principalmente para fazer o que chamavam de “retoque americano” em fotos. Para pintar exigia materiais que aqui não existiam ou eram muito caros. Pintava-se usando tinta acrílica, que nem era fabricada aqui. Continuava numa atividade frequente com a comunidade artística da cidade, fazendo cartazes para shows, cenários, convites. A publicidade em si não me atraía muito.
Eu na redação da ZH 1977
Eu na loja da Cléria Finocchiaro 1977
Eu na exposição de 1979 Eucatexpo
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Biografia do artista
Era um pessoal difícil de lidar, de difícil negociação (o que descobri que nunca iria mudar): ou eu negociava tudo na saída ou ali adiante a rasteira vinha. Mas, uma coisa ali eu também fiquei sabendo: que eles não fazem contrato. Hoje em dia quando me dizem “mas tu não fizeste um contrato”, eu respondo: minha experiência sempre me mostrou que bons clientes são aqueles que vêm atrás de ti e não tu atrás deles, bons clientes se revelam no primeiro trabalho. Os maus também, mas não passam dele. Saí de casa, indo morar com o Beto Portela, meu futuro e atual cunhado. Tínhamos uma turma muito boa de amigos e já aí a cerveja era uma bebida habitual. Até então eu só tomava Coca Cola. Numa ida a GFU, conheci minha futura esposa, Lorice Finocchiaro e, após um namoro de menos de um ano, casamos na Igreja São Sebastião, a mesma da minha infância, na frente do Ritz, em Petrópolis. Foi um casamento sui generis, 24 padrinhos e madrinhas, todos cabeludos. Lembro bem do Bill Harrington, americano, namorado da Lucinha que foi de pés descalços. A trilha sonora era “Greensleaves” tocada por Jeff Beck, só liberada pelo padre Alfredo depois do pedido do Pedro Simon, que era tio da Lory. O padre não queria deixar tocar, pois a música era da época do Henrique VIII, considerada profana pela igreja. Lory era música e uma artista de mão cheia. Costumávamos passar as noites com os amigos tocando muito rock’n’roll. Com o aerógrafo passamos a criar estampas de camisetas, vestidos, tendo aí uma nova fonte de renda. E eu como trabalhava mais à noite ainda tinha muito tempo prá me dedicar aos meus desenhos e pinturas. Comecei uma coleção de desenhos unindo o lápis ao aerógrafo. Era uma nova fase de vida que eu, como bom canceriano, estava apostando tudo. Ter minha casa (alugada, claro!), família... O trabalho no jornal me dava certa notoriedade no mercado. Assim que prá culminar aparece o Ricardo, meu filho, que na minha vida é um marco, uma mudança de atitudes, uma nova forma de ver e viver a vida. Não vou dizer que foi fácil, mas foi muito bom, foi muito positivo. E logo depois do seu nascimento fiz uma exposição que iria encerrar com minhas expectativas em relação a ter uma carreira como artista plástico. Meu trabalho a esta altura era muito falado e elogiado, mas vender, que seria bom, nada. O mercado era dominado por tubarões, aliás, acho que até hoje. Te chamavam a participar, te elogiavam nos jornais, mas ficavam com a maior fatia do bolo. Fiz essa exposição, na Galeria Eucatexpo - na Av. Independência, ao lado do Rosário. Foi uma bela mostra. Nas paredes, o melhor dos meus desenhos, tanto em aquarela, como em técnica mista. Numa mesa enorme ao centro, envidraçada, o melhor de minhas ilustrações para jornais e revistas. No showroom preparei um slideshow com o melhor da minha produção. Vendi um quadro para a mãe do Beto, Leonor Portela Nunes, que sempre me incentivou. E mais nada. Resumo: gastei um bom dinheiro para montar e não recuperei nada. Depois dali participei de mostras, ganhei um prêmio de melhor desenho no Salão de Pelotas em 1979; vários salões do Jovem Artista, pelo interior do RGS; Califórnia da Canção Nativa, enfim, sempre muito ativo, mas sem a menor expectativa de transformar aquilo em subsídio para a minha vida.
Eu e Lory
Eu e Lory no casamento de minha irmã Laura
Eu e Lory no Farol de Santa Marta 1977
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Hoje em dia quando me apresento é sempre como artista gráfico, pois acho a profissão de Artista Plástico uma piada. É necessária uma vida de puxação de saco, babação de ovo, bajulações, etc., prá criar uma carreira de artista plástico. Hoje em dia então... Graças à Prefeitura, através do FUMPROARTE, estou conseguindo colocar nestas páginas o melhor da minha produção. O trabalho no jornal ia “de vento em popa”, várias publicações me pediam colaboração de ilustrações - às quais eu correspondia, por serem meus amigos, entre elas o Paralelo, Tição; livros com participação de vários escritores e ilustradores, como Teia, Entre vinhos e adivinhos... Mudamos, eu, Lory e Ricardo, para uma casinha na Vila Conceição, onde Lory pode começar seu trabalho como música, ensaiando com sua banda. A vida conjugal não ia lá muito bem e, num determinado dia lá em 1981, decidimos nos separar. Saio de casa e vou trabalhar na Zero e, lá chegando, me chamam no Departamento Pessoal e comunicam minha demissão. Tudo no mesmo dia! Há um mês, Marco Aurélio, o chargista, tinha sido nomeado Editor de Arte, e o babaca aqui, quando o Marco vinha me dizer como eu devia fazer a capa da Revista de Domingo, com suas ideias ”geniais”, ficava reclamando lá com os guris da montagem do jornal as idiotices do cara. Resultado: não durei um mês mais no jornal. Foi bom, afinal tudo nesta vida tem um motivo, um por quê. Mudanças na minha área são essenciais para o crescimento profissional. Arrumei um emprego na Intelligentia Propaganda e toca a vida. Tudo ficou mais complicado porque tinha o Ricardo e um apartamento prá cuidar, mas dava para jogar meu futebolzinho, tocar meu violão e continuar desenhando. O trabalho na agência, como Diretor de Arte, era bom e sem sobressaltos, mas não era o que eu queria e também não durou muito. Em dezembro me demitiram, e eu resolvi que tava na hora de voltar pro Rio. Fui passar uma semana com meu amigo Jejo Cornelsen, lá na Fonte da Saudade. Numa tarde, no Arpoador, cruzo com um amigo da antiga Roberto Renner de Araújo, que me convida a trabalhar com ele no seu estúdio no Caxinguelê, no Jardim Botânico. Esta seria uma mudança crucial na minha vida, pois ali eu iria aprender como ganhar a vida sendo criativo e comercialmente produtivo com as lições que o Roberto me passaria. A Lory já sabia muito bem como lidar com o aerógrafo, então arrumo um trabalho com um sócio do Roberto que pintava biquínis e, juntos, nos mudamos. A mãe dela aluga um kitinete no Catete, e lá vamos nós tentar a vida no Rio. Ao lado do estúdio do Roberto tem uma creche muito boa, e matriculamos o Ricardo lá. O trabalho é intenso, variado, mas eu gosto. Começo a fazer coisas que não tinha a mínima ideia de que pudessem dar dinheiro. Trabalhávamos em três mais o Roberto que, tendo agora um desenhista criativo e autossuficiente, começa a usar mais o seu tempo correndo atrás de trabalhos. Fazíamos de tudo: desde criação de estampas para camisetas, biquínis para a sociedade que ele tinha num estúdio de pintura em airbrush (onde a Lory trabalhava), logotipos, programação visual de confecções, stands para feiras, vitrines de lojas, anúncios de revistas e jornais. Nossos clientes eram os melhores do Rio de Janeiro: Ziggy, Dijon, Fiorucci, Blue Man, Waymea, do surf à moda mais chic, o airbrush estava em alta, e nós éramos os melhores.
Jorge, Cako, Catita, Susana, Martinha, Beto, eu e Lory
Eu e Lory no apartamento da Luiz Só em 1979
Ricardo em 1979 na casa da Vila Conceição
Ricardo e Lorice
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Ricardo em Copacabana
Ricardo em Itacuruça
Foto de maquina automatica
Eu e Ricardo 1981 na casa do Salomão,Bertha e Neni
Foto de maquina automatica
Em poucos meses saí do apartamento e fui morar no Studio, queria ter a minha vida, difícil, mas minha. Fazíamos no Studio stands inteiros das feiras de moda que pipocavam no Rio. Tinha uma equipe de cupins (como os chamávamos) que trabalhavam a madeira, recortando, finalizando para que nós pintássemos com nossas artes. Usávamos muito tinta automotiva, que tinha uma variedade intensa de cores apesar de o nariz reclamar. Meu relacionamento com o Roberto era muito bom, apesar de ele usar o chicote às vezes como todo patrão, mas raríssimas vezes tivemos alguma rusga. Fizemos vários trabalhos de altíssimo nível como o novo logo da Globo para o Hans Donner. E vários outros para a mesma emissora. Trabalhávamos com imagens colocadas em displays de acrílico assoprado, com volume. Num fim de semana montamos três lojas no novo Barra Shopping. Era comum virarmos três noites trabalhando num dos grandes shoppings do Rio, montando lojas. Enfim, este período com o Renner foi meu mestrado em marketing no meu desenho. Mas nada é para sempre, então depois de um ano ele resolveu fechar o Studio. Continuamos trabalhando como freelancer. Tive que sair do Studio, mas consegui alugar uma kitinete na Rua Voluntários da Pátria, no Humaitá. A esta altura já saia com minha pastinha fazendo contatos por tudo quanto é canto do Rio, de Copa até a Barra, do Centro até a Tijuca e do Meyer até o Jacarezinho. Meu pai e minha mãe, ao me visitarem, me deram um compressor - ferramenta essencial para o meu trabalho. Guardava no banheiro... Tinha que fechar tudo e proteger o chão da vibração, pois o barulho era capaz de me arranjar confusão com os vizinhos. Parentes eu tinha poucos no Rio. Curtia mais minha prima Kuki, que me ajudava me apresentando a clientes dela. Ela era paisagista e, entre seus clientes, me apresentou a um que seria minha âncora nos próximos seis anos: Mauro Taubman, dono da Company. Comecei trabalhando devagar para ele. Ele viajava muito e, pelos cantos de New York, Paris, Londres, Bali etc., ele trazia pequenas artes que lhe interessavam (e este faro ele tinha aguçado), e eu copiava, modificava, acrescentava, conforme sua direção. Mauro não dava mole nos acertos de preço e pagamentos, mas era um cara correto e honesto e, principalmente, um cliente de mão cheia. Com o passar do tempo começou a me dar muitos trabalhos. Na hora de pagar diminuía sempre uns 30% no meu orçamento, mas a quantidade supria este corte. A Company investia muito em acessórios com marca. Aliás, foi quem lançou esta estratégia de marketing: uma confecção de surf e moda jovem vendendo agendas, cadernos, blocos, bottons, displays e uma variedade enorme de pequenas peças que se encarregavam de difundir a marca muito além das roupas. Uma de minhas artes, o C pintado com o espectro de todas as cores em dégradée, viraria um must como adesivo para carros e referência nas escolas de design. Fazia propagandas para o Jornal do Brasil, o Globo, Vogue, Interview... Criava a referência para a programação visual de coleções inteiras e, a partir daí, a aplicação disto em todas as peças e acessórios de divulgação. Neste meio tempo, saí da kitinete e fui morar com uns amigos na Sá Ferreira, em Copacabana, num apartamento grande - nossa república gauchesca. Ali permaneci por três anos, morando a maior parte do tempo com Luis Fiori, estudante de arquitetura e companheiro de atividades desenhísticas, e Paulo Casarin, músico e tecladista do Pepeu Gomes. Foi uma boa época, a qual comecei sozinho e terminei já com a guarda do Ricardo. Numa briga, aliás, a última com a Lory, ela voltou para Porto Alegre e levou o Ricardo com ela.
Foto de Salomão Scliar
Biografia do artista
Foto de Jejo Cornelsen Foto de Cristina
Eu no cenário de Canecão 1983
Eu e Jejo, pintura a quatro mãos. Foto de Jejo Cornelsen
Através do Bolinho, que era iluminador do Pepeu e da Baby e do Gilberto Gil, pintou para mim e para Jejo - sempre meu companheiro de futebol, de vida e de trabalhos - um painel de fachada do Canecão para o show Pepeu & Baby. Nesta época costumávamos jogar futebol na Lagoa, com um time que tinha Pepeu, Moraes, Casarin, o pessoal do Bixo da Seda, Vinicius Cantuária e no Caxinguelê. Através do Juarez Farinon, também iluminador, batíamos uma bola com o pessoal de Minas: Toninho Horta, o pessoal de novelas da Globo... Eu e Jejo fazíamos uma boa dupla de trabalho e, volta e meia, nos juntávamos em algum projeto: capas de disco, alguma vitrine de loja... Eu estava muito bem de trabalhos nesta época, além do telefone tocar e sempre pintar algum, eu tinha meu portfólio e mostrava o que fazia prá muita gente. Neste ponto o Rio de Janeiro é uma cidade extremamente acolhedora. Por ser uma cidade turística e ter um mercado de trabalho enorme, pessoas com vontade e capacidade são muito bem acolhidas. Lembro de ter ligado pro Hans Donner... Eu já havia trabalhado para ele com o Renner, mas ali eu não aparecia... Ele me recebeu, ficou meia hora olhando meu portfólio, elogiou alguns trabalhos. Então era assim, eu ia montando uma agenda de visitas a agências de propaganda, gravadoras, produtoras, confecções, gráficas. Enfim, entre um trabalho e outro ia plantando essas sementinhas que, volta e meia, rendiam algum trabalho. Neste período trabalhei com um ex-colega do Hans, Rudi Böhm, que fazia principalmente assinaturas de comerciais e aberturas de filmes. Daí pintou o convite do Gil prá eu e o Jejo criarmos o cenário do Extra. Nos reunimos com ele e o Bolinho num hotel em Ipanema, onde ele nos falou de suas ideias – aliás, eram só fragmentos que nós tratamos de colocar vida. Duas semanas depois apresentamos vários esboços: o disco iria se chamar FráGil e o mote seriam animais em fase de extinção, o que rapidamente transformamos numa colagem dentro duma paisagem de praia e vegetação. Um dos personagens, inclusive, serviu de inspiração para uma canção que ele criaria em Roma - para onde estava indo. Aprovado nosso projeto, passamos à execução e criação do cenário. Duas semanas fazendo a arte e, quando Gil viu, na mesma hora, quis que fosse o disco em capa dupla com nossa arte no centro. Ai vinha a logística do cenário, teria que ser facilmente desmontável e apto a ser carregado num caminhão daqueles enormes. Fiz os desenhos da estrutura no caminhão para facilitar o processo, e o Quincas e Bolinho se encarregaram da parte de marcenaria. Seriam vários painéis de madeira, com uma estrutura na parte superior para ajudar na colocação de parte da iluminação. Ainda, alguns painéis centrais, aonde iria escrito “Gilberto Gil”, teriam luz e cores para acender durante o show. A esta altura, o show já teria mudado para “Extra”, mas nossas ideias todas persistiram.Prontos os painéis, eu e Jejo passamos uns três dias em Jacarepaguá, no sitio do Gil (ele nos emprestara para fazer o trabalho). Ali projetamos os desenhos nos painéis pintados de branco. E pintamos todo o céu de fundo com o dégradée do sol se pondo ou nascendo. Esse trabalho me deu um problemão na coluna de tanto carregar, eram 11 painéis e tinham que ficar montados encostados à garagem, quatro por vez. Passei três dias sem poder me levantar da cama, mas um acupunturista japonês resolveu meu problema e, em poucos dias, eu estava novo em folha. Chamamos uma amiga do Jejo, a Cristina, prá trabalhar com a gente, e ainda tínhamos assessoria do Renatinho, que ajudava em todos os momentos. Arrumamos todo o cenário de pintura, cabiam dois painéis por vez dentro da garagem, o céu básico estava pintado.
Eu e Renatinho, nosso contra-régra
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Foto de Jejo Cornelsen
Cristina, Jejo Cornelsen e eu
Foto de Jejo Cornelsen
Pali Cornelsen, filho de Jejo e Luanda.
Foto de Jejo Cornelsen
As tintas, as latas de coca cola com as misturas, as reproduções do original prá servir de guia, e todo o aparato auxiliar de mascaras de papel poliestireno, pesos de metal, panos, água e o som... Bem, trabalhar sem música não dá! Tinha levado meu som e centenas de discos escolhidos a ouvido. O trabalho era constante, eu havia feito uma estimativa de tempo para cada seção, e seguimos o cronograma. Começávamos às 10 da manhã, lá pelas 13h o Jejo ou a Cristina atacavam na cozinha, e eles eram bons nisto, comida natural da melhor qualidade. E íamos até às 10 da noite, todos os dias. Em um mês folgamos num fim de semana, o resto era trabalho direto. Ao acordar eu fechava os baseados, e mete bronca que ninguém é de ferro. Muita música e pintura. Prá se ter uma ideia, tinha uma piscina maravilhosa na qual não tomamos banho um dia sequer tal a intensidade do trabalho. Volta e meia aparecia algum músico ou o próprio Gil prá apreciar o trabalho. O Rubão Sabino, baixista, que morava ali perto era figura frequente, antes de partir para os ensaios passava ali prá estourar um com a gente. Ás vezes, a Luanda, esposa do Jejo, vinha com o Pali prá nos visitar. Foi um mês e ficou pronto. A estreia seria no Palace, em São Paulo, um mês de shows e depois a excursão pelo Brasil, 80 shows. Fomos a Sampa, convidados pela produção: hotel, entrevistas para a rádio, televisão... Agora, a parte melhor: ao receber o pagamento final, num Bradesco da Av. Jardim Botânico (meu banco Itaú era do outro lado da rua), o caixa me aconselhou a receber um cheque administrativo. Perguntei quanto custaria... 1% disse ele. Mas, para! Aquilo pagava um mês do meu aluguel. Peguei o dinheiro, enfiei na calça, nos bolsos, dentro da camisa, aonde deu e atravessei a rua. A vida continua, com a Company sempre presente. Contatos e mais contatos. O primeiro show de Gil seria no dia 4 de julho em Porto Alegre. De lá, meus parentes me avisavam da necessidade de eu buscar o Ricardo para morar comigo, já que a mãe não conseguia segurar a barra. E aí veio uma mudança crucial na minha vida. Eu tinha espaço, os guris em casa me davam, eu tinha trabalho, eu tinha tempo, porque não? Voltei, participei de alguns programas, entrevistas e, com uma advogada, ganhei a guarda do Ricardo, sem brigas. O show foi sensacional, pulei muito lá no meio do povaréu, e voltei levando o Ricardo comigo. Coloquei meu filho na mesma creche em que ele havia estado, mas eram 45 minutos prá ir e 45 prá voltar, todos os dias, de segunda a sexta: três horas perdidas diariamente. Com o tempo consegui uma Kombi que pegava ele em casa, reduzindo esse tempo para hora e meia. E fomos levando a vida. Morávamos num dos quartos do nosso imenso apartamento, perto da praia de Ipanema, Posto 9, Arpoador. As namoradas vinham e iam, nenhuma ficava. Ser pai solteiro peca pela mesma razão de ser mãe solteira: todo mundo foge, acham uma gracinha - mas fogem. Mas, dava prá levar. Fim de semana era grudado direto no filho o tempo todo. Ricardo chegou com 4 anos e nunca mais voltaria prá mãe. Nesta época apareceu lá por casa o José Alfredo Correa, o Zé Alfredo. Tornar-se-ia uma espécie de assistente e principalmente um grande vendedor do nosso trabalho, tinha uma lábia que eu não tinha. Os trabalhos sucediam-se. Logo o Gil voltou da excursão e prá fazer o show no Canecão teríamos que executar o cenário novamente, pois o Canecão não tinha altura suficiente. Atacamos, eu o Jejo, e o Zé aparecia prá ajudar de vez em quando.
Foto de Ito Cornelsen
Biografia do artista
Bolinho na lida.
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Foto de Jejo Cornelsen
José Alfredo Correa, amigo e parceiro.
Foto de Jejo Cornelsen
Gilberto Gil em Raça Humana
Gilberto Gil em Raça Humana no Canecão 1984 Foto de Jejo Cornelsen
O tempo mudou, tínhamos duas semanas, mas tínhamos a prática, então suprimimos algumas imagens. Criamos algumas recortadas em madeira para dar um aspecto tridimensional no cenário, e fomos felizes novamente. Fim de ano, lembro de ter passado a noite de Natal na casa do Gil, com toda a sua família e amigos. Neste meio tempo eu e Jejo fizemos algumas capas de disco. Com o Zé, várias vitrines de lojas. Trabalho não faltava. Tenho até uma historinha engraçada em uma das lojas: tinha que passar a noite pintando estrelinhas num teto curvo de uma loja em Copacabana. Estavam colocando os tapetes, pois a loja abriria pela manhã. Vários obreiros, na maioria, nordestinos, faziam a colocação com aquela cola de borracha que deixava a gente levitando... Eu, em cima do andaime, dálhe a pintar estrelinhas com aerógrafo, algumas com stencil, outras só na mão mesmo. Os empregados passaram a noite me perguntando: “aí, gaúcho, quanto tu tá ganhando prá fazer isto?”, a noite toda. Quando estava quase no fim, cedi aos apelos deles e contei: com o aerógrafo... tshhhhh... uma cerveja... tshhhh... uma cerveja. Quase me bateram, afinal havia passado a noite pintando estrelinhas. Meu trabalho com aerógrafo era assim: um operário especializado muito bem pago. No ano seguinte, também fomos chamados a criar o novo cenário do show “Raça Humana”, a única e crucial diferença é que o Bolinho tomou conta da produção do cenário. Este seria totalmente diferente do “Extra”. A ideia era criar elementos cenográficos que fizessem climas para as músicas. Tinha uma música que falava de Risca de Giz, o grafitti que começava a tomar conta das ruas das cidades, havia a capa já pronta com ilustração do Roberto Renner - um olho dentro de um triângulo riscado a giz. Começamos, eu e o Jejo, a pesquisar e tivemos a ideia de grafitar o Canecão inteiro com citações que começavam na pré-história e chegavam aos tempos atuais. Muito pesquisei na Biblioteca Nacional, principalmente porque minha amiga Maia Sprandel trabalhava lá e me ajudava nas pesquisas. A seguir, passamos a elaborar os stencils para grafitar. Duas semanas desenhando, cortando e montando a infra para começar a grafitar. Enquanto isso, criávamos os elementos cênicos. Jejo desenhou, a partir dum desenho pré-histórico, uma “criação do mundo” que foi transformada em um imenso e caro neon - ocupando todo o fundo do Canecão. A partir dos olhos do Renner, mandamos construir quatro grandes slides aplicados a caixas de luz (que entravam no escuro, por meio de cabos de aço e, em determinado momento acendiam bem em cima do Gil), aqueles quatro grandes olhos luminosos. Atrás da bateria do Pedro Gil, outro olho psicodélico mudava de cores automaticamente. Ainda havia um céu de estrelas como outra opção de fundo. Passamos, eu e Jejo, quase duas semanas dentro do Canecão fazendo os grafitti. Quando terminamos, na hora da prestação de contas, o Bolinho veio nos dizer que estávamos devendo 500000 pelo cenário, disse que havia um valor fixo e nós havíamos excedido este valor. Claro que ele ainda faria uma excursão e mais o mês do Canecão recebendo pela iluminação, mas nós estávamos devendo.
Grafitti na parede do Canecão
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Grafitti na parede do Canecão Foto de Jejo Cornelsen Foto de Jejo Cornelsen
Grafitti na parede do Canecão
Olhos cenográficos no Canecão, arte de Roberto Renner
Foto de Jejo Cornelsen
Coisas da vida: ainda bem que não cobraram um quinto olho que não existia e escapamos desta, recebemos mesmo por pintar em cima da estrutura do “Extra” o neon da criação do mundo, e isto quer dizer que tapamos toda nossa pintura com azul. (o desenho da criação do mundo em forma de neon). Enfim, o trabalho foi muito elogiado, e toca prá frente que atrás vem gente. Isto foi em 84. Já em 85 aconteceu o Rock in Rio. Nesta época, junto com Luiz Fiori, fizemos uma discoteca chamada Metrópolis - no final de São Conrado. Foi a época das bandas de rock estourarem por todo o Brasil: Paralamas, Barão Vermelho, Blitz, etc., a moda era o high tech. O Luiz, que estudava arquitetura, fez o projeto e a criação da fachada baseada no filme. Mas, a situação era assim, às 17:30 eu tinha que sair correndo prá pegar o Ricardo na creche, não importava onde eu estivesse. Ganhei do Bolinho um passaporte para ir todos os dias ao Rock’n’Rio, e só pude ir num dia porque não tinha com quem deixar o Ricardo. Nosso apartamento era o Recanto dos Gaúchos, recebíamos todos com o maior prazer, principalmente as gurias. Na frente do Rock’n’Rio tinha um shopping ao ar livre onde, na semana que antecedeu o acontecimento, eu e o Luiz fizemos vários stands. Depois ainda faríamos um stand da Taurus na Feira do RS, no São Conrado Fashion Mall. Como todo casamento, não que fosse um, meu relacionamento com os guris estava já ficando desgastado, quando, de repente, meu amigo Bebeto Alves me acena com a possibilidade de dividir com ele sua casa em Santa Tereza. Me mudo com o Ricardo, malas e bagagens. Minha vida ali melhorou bastante. Bebeto tinha duas filhas, a Luna e a Mel, que de vez em quando ficavam com ele, então tinha outra visão de vida inclusive no convívio com filhos. A situação melhorou bastante. Santa Tereza era o subúrbio, aonde as crianças iam a pé para a escola, as janelas convidavam para o exterior, os morros e o bondinho. As crianças ficaram na mesma escola, ainda que não fossem lá prá casa todos os dias, pelo menos nos víamos diariamente, e o Ricardo, com 6 anos, podia até ter a chave de casa. Para a saúde física era uma beleza, pois para ir ao supermercado tinha que descer e subir uma ladeira grandiosa, cheia de curvas e paisagens que descortinavam. Para o meu trabalho, Santa Tereza ficava no meio entre Zona Norte e Zona Sul então era um ponto estratégico. Tinha ainda a proximidade do Centro, minha casa ficava ao lado da Lapa, e lá tinha um tesouro escondido que eram os sebos de discos. Era o ano do lançamento do CD, e eu recém havia comprado um discman Sony, mas os Lps ainda mandavam no mercado. Eu tinha uma mania, quando executava um bom trabalho pegava 10% da grana e descia no Centro prá gastar em discos. Passava uma tarde zanzando por aquelas ruelas, já sabia onde estavam as melhores lojas, sempre escondidas. O carioca é do samba, mas o carioca da grana também é do jazz e, com o advento do CD, eles estavam se desfazendo de suas coleções, e a minha, aumentando. Minha parceria com o Zé Alfredo ia “de vento em popa”, ele trazia muitos trabalhos, principalmente decoração de lojas. Morei ali em Santa durante cinco anos. Na primeira semana ainda usava o bondinho para subir até o Largo dos Guimarães, de onde descia a Ladeira do Castro, onde morava. Naquela semana fui assaltado duas vezes, dentro do bondinho, mas não me levaram nada porque estava com o Ricardo, e eles tiveram peninha de mim. Depois, nunca mais. Nessa casa tinha espaço para manter o equipamento de pintura funcionando, então tinha uma facilidade maior em fazer trabalhos de pintura de painéis e lonas. Também com a parceria do Bebeto, comecei a sair mais. Antes, nunca tinha com quem deixar o Ricardo, ali, volta e meia o Bebeto me dava um salvo conduto, e eu podia encontrar as gurias. Continuava trabalhando a mil na Company.
Foto de Jejo Cornelsen
Biografia do artista
Cenário em neon da criação do mundo no Canecão
Era até engraçado, o Mauro (quando ia encontrá-lo na loja de Ipanema, na Garcia D’Ávila) costumava me esconder numa salinha e dizia que era prá que os fornecedores não me descobrissem e me tirassem dele. Era comum eu me sentar ao lado da Monique Evans, Ligia Duran, enfim as musas da Company. Na época estava fazendo direto os anúncios do Jornal do Brasil, então, volta e meia era eu que levava o anúncio até o jornal e, nessa ai, consegui pegar uns freelas de ilustração para o jornal. Fazia também prá um jornal de música, o Via. Outra vantagem de trabalhar para a Company é que tinha desconto de 50% em todas as roupas, os amigos então se esbaldavam. Jejo, meu amigão, estava morando em Santa, havia se separado e morava ali perto, no caminho do Largo das Neves. Fizemos alguns trabalhos malucos naquela época, como um cenário prá um festival em Nova Iguaçu: pintamos um cenário em que subíamos nuns andaimes com mais de 10 metros de altura sem nenhum equipamento de segurança. Ficávamos lá em cima pintando com o aerógrafo, fazendo malabarismos a mais de 10 metros de altura. Tinha também a Manchete, com a novela Ana Raio e Zé Trovão, prá quem eu trabalhei. Uma época sem limites, na qual meu telefone não parava de tocar. Até o Bebeto veio trabalhar comigo, ele sempre teve afinidade com desenho. De repente, o Bebeto resolve se mandar pros Estados Unidos, e eu fico de dono da casa. Prá mim estava ótimo, pois àquela altura eu já tinha uma empregada (dia sim dia não) que, às vezes, ficava em casa cuidando do Ricardo. A vida não estava tão presa, pois o Ricardo ia dormir nos amigos, os amigos vinham dormir em casa, e eu estava começando a namorar a Adriana. Eu já era amigo da tchurma da Adriana há algum tempo, ela havia namorado o Luiz Fiori, e eu havia namorado a Solange, amiga dela. E tinha irmã, amigas e amigos tudo gente finíssima. Churrasco lá em casa e festinhas de fim de semana... Às vezes, íamos prá Itacuruçá, numa ilha onde nem energia elétrica tinha, mas era um paraíso. Lembro duma vez de levar o Julio Venturella, e era assim: eu e Adriana e suas oito amigas - uma mais linda que a outra. O Julio até hoje me agradece pelo presente. Outras vezes íamos prá Cachoeira de Macacu, onde a Vânia tinha uma propriedade cheia de pequenas cachoeiras e água descendo pelas pedras numa sinfonia da natureza. Bebeto volta dos Estados Unidos já namorando a Cristina Bins Ely, mas em poucos meses resolve voltar prá Porto Alegre e retomar a carreira que neste momento estava em grande fase de novas composições, mas precisando fazer shows e gravar. E aí eu fico de dono da casa mesmo. Depois de um ano de namoro, eu e Adriana resolvemos morar juntos e fazemos um casamento simbólico, pois eu não era divorciado. Mauro Taubman resolve me colocar de sócio numa gráfica que ele havia comprado, no Estácio, e que viria a se chamar “Caligraf”. Ficava perto de casa, então ali comecei a fazer a minha parte, que era cuidar das artes e fotolitagem dos impressos. Era uma gráfica antiga, com poucos equipamentos modernos de impressão. O forte dela era a impressão de embalagens de remédios, então a proposta do Mauro, que era imprimir os materiais de divulgação de marca, meio que ficou comprometida, pois não havia qualidade para isto. Fiquei na gráfica por seis meses e devolvi minha parte para o Mauro - para não perder o cliente, pois ali estava um retrocesso no que eu me propunha. Já trabalhava para diversas gráficas, fazendo cadernos, agendas, arquivos, agendas de telefones, estava conhecendo o começo da Zona Norte com a palma da minha mão. Da Lapa, ao Meyer, da Tijuca a São Cristovão, Engenho de Dentro, Jacarezinho, era tudo minha área.
No estudio da Ladeira do Castro
Eu e ao fundo á esquerda, minha casa na Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro
Eu e Ricardo em Santa Catarina
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Biografia do artista Época do sucesso do rock carioca: Blitz, Paralamas, Barão Vermelho, Cazuza, Kid Abelha. Circo Voador pegando fogo na Lapa todos os fins de semana. Tinha um amigo de Santa, o Ivo Setta, que conheci jogando futebol no Caxinguelê. Ele era gerente do Circo Voador, então a partir da quinta era meu telefone tocando, e as amigas da Adriana atrás de ingressos. Como os trabalhos estivessem começando a diminuir, resolvi arrumar um emprego. Me convidaram prá trabalhar na Fjord, que usava a grife Chopper. Comecei trabalhando em meio turno, mas no terceiro mês já me aumentaram carga horária pro dia todo, com direito a almoço com a diretoria. Ali fazia toda a programação visual, desde tags, marcas, bordados, anúncios, criava padrões de tecidos, estampas, vitrines... Lembro duma vez ter ido à Fenit, em Sampa - a Chopper tinha uma loja finíssima na Oscar Freire-, e pintar in loco o stand da Chopper. Fiquei hospedado no Maksoud Plaza, saí de lá de manhã, num alvíssimo macacão branco e, à noite, quando voltei estava uma sujeira só. Resolvi entrar pela garagem prá não dar bandeira, mas estava tão cansado que apontei o saguão e nem me preocupei com a pinta. Nestes tempos comprava muita roupa da fábrica a um preço inacreditável, tipo, um blazer que na loja custava 70 alguma coisa, eu pagava 2. Com um pingo do meu salário enchia duas malas de roupas da melhor qualidade. Adriana estudava Decoração de Interiores no Fundão, então como tinha uma grana guardada, comprei meu primeiro e único carro, uma Brasília branca, para que ela pudesse ir todos os dias para a faculdade. Em menos de um mês, roubaram o carro e nunca mais o recuperamos. Este emprego durou mais ou menos um ano e meio. Era uma época dura de inflação mensal de 30%, uma recessão da fábrica me custou o emprego. Também minha profissão é uma das que menos estabilidade dá no emprego. A necessidade de novas linguagens visuais faz com que a rotatividade nesta profissão seja grande. E as novidades na vida também vinham a galope: Carmel fora encomendada e já já a família aumentaria. Um cliente de peso apareceu neste ano: como minha pintura de airbrush se adaptava a vários modelos, uma encomenda da HStern me abriu a porta deste cliente. As vitrines da HStern eram e sempre foram muito sofisticadas, aliás, eram todas produzidas num prédio de 12 andares em São Cristovão e, dali, enviadas para todas as lojas do Brasil. Comecei fazendo pinturas em acrílico imitando vidro jateado - que era uma técnica caríssima para ser usada em vitrines. Durante quase dois anos sempre aparecia algum trabalho da HStern e era uma beleza, pagamento na hora em dinheiro. Fiz vitrines para lojas do Fashion Mall, várias lojas do Rio e de outras partes do país. Arrumei outro emprego, na Anonimato, uma cadeia de lojas grande, tinha umas vinte lojas e sua especialidade eram as t-shits. O dono era outro Mauro, um cara loucão que não tinha respeito por nada. Ali eu fazia as vitrines das lojas e comandava a equipe de estamparia. Era uma fábrica antiga em São Cristovão. Lembro que durante o ano que ali trabalhei fui chamado para fazer um cenário duma cena do filme “A grande arte” de Walter Salles Jr. Inventei uma doença e passei uma semana nos estúdios no Cais do Porto pintando dois painéis de 12X8 e 8X8, que retratavam o que se enxergava de dentro de um cortiço na subida de Santa Tereza, ao lado dos Arcos da Lapa. Jejo e Zé Alfredo lá estavam participando do trabalho comigo. Com a grana que ganhei ali poderia pagar o parto da Carmel na Casa de Saúde São José, onde ela nasceu. Graças a Deus não precisei gastar, pois quando entrei na Anonimato fizeram um plano de saúde empresarial, que cobriu o parto.
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Cristina Bins Ely, Bebeto Alves e eu Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro
Lauro, Therezinha, Adriana, eu, Susana e Odilo. Casamento na Adalberto Aranha Tijuca
Ricky e Adriana
A Anonimato logo dançou, e eu continuei correndo atrás, fazendo freelas por tudo quanto era lado. Um dia respondi a um anúncio de jornal da Marisol, de Santa Catarina, procurando um programador visual que residisse no Rio. Chamado a São Paulo para avaliação, ganhei o trabalho. Trabalhando junto com Sálvia, estilista que também morava no Rio, íamos uma vez por semana a São Paulo - onde ficava o Marketing da empresa. O trabalho era fazer toda a criação da Criativa, grife feminina da Marisol, passávamos a principio alguns dias em Sampa, visitando os Bureaus de moda onde montávamos apresentações de tendências para a próxima coleção A partir da aprovação deste começávamos a criar a coleção em si, não sem antes preparar um show que era apresentado em um hotel para vendedores de todo o Brasil. A partir dai começava a montagem da produção, com uma semana de trabalho na fábrica principal, eram 14, em Jaraguá do Sul. Ali começava a produção e escolha de cores para as peças, com bandeira de cores para impressão em uma variedade enorme de tecidos. Cada peça tinha pelo menos 15 cores diferentes, e as estampas mudavam de cor de acordo com a cor do tecido. Isto numa época sem computador, ou seja, eram tabelas e mais tabelas de cores. Trabalho difícil, pois éramos os únicos “estrangeiros” na fábrica, e os empecilhos eram criados a todo instante. A fábrica tinha acabado de adquirir um jogo de impressoras Schenkel de serigrafia que possibilitava a impressão em quadricromia nas peças. Quando tentamos criar estampas que usassem esta técnica, fomos veementemente podados. Mas mesmo assim, devido à qualidade do desenho, tanto na elaboração das peças que a Sálvia era expert quanto nos meus desenhos de estamparia e tags, deu tudo certo, e a primeira coleção passou com louvores. Nossas ideias para estamparia em quadricromia foram usadas na coleção da Marisol. Quando iniciamos a segunda coleção, fui convidado para fazer as artes da coleção infantil que estava iniciando, a “Lilica Ripilica”, junto com Cristiane Donini. Era um trabalho bastante prazeroso, tanto pela formatação das coleções como pela liberdade que eu tinha no ir e vir. Toda semana, uma reunião em Sampa: eu pegava um ônibus de manhã cedo e voltava à noite de avião, assim como as idas à fábrica em Jaraguá e às apresentações de coleção. Numa delas em Itapema, além de fazer a criação dos painéis com as peças, com as tendências daquela coleção, ainda colaborei com a projeção de slides e a trilha sonora do desfile. Rolava o ano de 1990, na política o “caçador de marajás” enganou todo mundo e de uma canetada ficou com o dinheiro do Brasil inteiro. Naquela época, com inflação de 30 a 40% ao mês, todo mundo era “obrigado” a deixar o dinheiro que tinha na poupança ou ele dançava. O ultimo mês do Sarney deu 82% de inflação, e ele ignorou isto, deu calote e depois ainda roubou a poupança do Brasil inteiro. Eu com dois filhos e mulher para sustentar, graças a Deus não tinha ninguém doente, passei do jeito que deu. Lembro de, depois de ter retirado acho que lá pelo terceiro mês a minha cota de 500000, fui ao banco Itaú e ao ver meu saldo tinha 50000 disponíveis, fui no caixa com o cheque e o cara foi verificar, voltou dizendo que como eu já havia retirado a minha cota não poderia retirar. Argumentei que estava ali disponível, e ele respondeu que se eu retirasse poderia ser acusado de crime. Eu disse prá ele “qual é seu fdp, tá me chamando de ladrão?
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Daniel, Paulo, Carlos, Marta, Laura, Ricky e Jorge 1987
13 de outubro Casa de Saúde São José Humaitá Rio de Janeiro Carmel Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro
Anonimato São Cristovão Rio 1989
No tempo da Marisol o cabelo tinha que estar sempre amarrado.
Biografia do artista
Chama o gerente que eu quero meu dinheiro agora”. Ele foi obrigado a me dar o dinheiro, e lá em casa a situação folgou um pouco, mas imagino os milhares de velhos, doentes, gente que tinha que pagar uma cirurgia, um remédio, pelo Brasil afora... Pessoas que não tiveram a mesma sorte e certamente faleceram pela falta de recursos. Depois com o impeachment do Collor numa canetada só ele se livrou de toda a culpa. Meu contrato com a Marisol durou menos de dois anos, com o fechamento da unidade de Marketing de São Paulo - que nos contratava, dançou este trabalho. Mas a “banda nunca parou de tocar” e, através de amigos, fui com a Adriana numa reunião no apartamento do Nelson Motta, em Ipanema. Ali fechamos um acerto de trabalho, e eu comecei a fazer todos os painéis do “Noites Cariocas”, no Morro da Urca. Foi quase um ano pintando em casa ou direto no local e também um ano de muitas idas ao Morro. Os amigos ligavam sempre atrás de ingressos, que eu conseguia com relativa facilidade graças ao Duda e ao Rutílio, da administração. Nesse meio tempo, com a Carmel novinha, resolvemos nos mudar de Santa para a Tijuca, aliás, em frente à casa dos meus sogros. Foi uma escolha errada, principalmente porque eu sabia que quando a gente sai de casa do papai e da mamãe a melhor escolha é manter certa distância. Meus sogros, Lauro e Terezinha eram nota mil, sempre nos ajudando no que fosse possível. Ai a situação foi piorando, os trabalhos minguando, não só para mim, em todo o Brasil. Meu sogro, com uma remuneração de anos de trabalho recebeu um dinheiro e resolveu abrir uma padaria no quarteirão onde morávamos, e nós abraçamos a situação, pois seria a melhor forma de lutar contra a recessão. Passei de artista gráfico a gerente de padaria, fazendo desde o trabalho de compras ao atendimento no caixa. Durante os sete meses que ali trabalhei, acordava às 5 da manhã todos os dias, abria a padaria e, no final da manhã, ainda ia ao centro fazer as compras de produtos no Saara. Nesta época, meu irmão Paulico estava morando conosco. Ele atacava na padaria à tarde até fechar, pois tinha um deck onde as pessoas iam tomar cerveja no final da tarde, e ele acabava fechando depois das dez. Neste meio tempo meu casamento foi pro espaço, normal né, enquanto a luta tá dando certo tudo funciona. Quando ela fica difícil todo o resto fica difícil. Conversando com meu pai, ele me deu a dica, manda o Ricardo prá cá nas férias e vai te preparando. Como eu não tinha outra saída, fiz o que podia, arrumei minhas malas e voltei prá casa do pai. Neste ponto eu sempre me dei muito bem com meus pais, fazia muito tempo que levava a vida sozinho, mas o apoio deles estava sempre no ar, presente. Juntei uma parte das minhas coisas, matériais de pintura, meus discos e livros o que deu prá botar no ônibus e dei adeus a mais uma tentativa de ter uma família. Meu irmão ainda ficou um ano por lá, trabalhando na padaria até quase ela fechar. E eu, treze anos depois, de volta a Porto Alegre... Casa, comida e roupa lavada e ainda com o Ricardo e seus 14 anos. O começo foi mais difícil. O primeiro inverno depois de 13 anos, consegui que o Ricardo ficasse na escola pública onde eu havia estudado quando criança. A qualidade da escola pública no RS, apesar dos pesares, dá de dez na do Rio. Mesmo que Leonel Brizola, nos dois mandatos, tenha investido em seu carro chefe - os CIEPS, a maioria das escolas públicas foi deixada de lado.
Eu & Carmel na Adalberto Aranha, Tijuca
Um aninho com 39 graus de febre
Na porta do edificio da Adalberto Aranha, Tijuca
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Os bandidos decidiam quando a escola abria ou não. Aqui a qualidade do ensino melhorou a capacidade de aprendizado do Ricardo, e já no segundo ano eu conseguia pagar uma escola particular para ele. Demorei um bom tempo até começar a trabalhar. O gaúcho não tem a vivência do carioca, acostumado como cidade turística a conviver com gente de todo o Brasil. Aqui pegava minha pasta e batia aqui e ali e só o que ouvia era passa daqui a um mês que agora estamos muito ocupados. Os diretores de criação e de arte morrem de medo de perder seus empregos, então, a maioria não te atende, numa troca que prá mim era uma importante forma de atualizar seu trabalho. No Rio, onde trabalhei sempre fiz questão de receber novos artistas e aprender com eles o que de novo se estava criando. Mil novecentos e noventa e três trouxe para mim a ferramenta que acabou com o valor que tinha meu trabalho anterior, a computação gráfica iria jogar todo mundo dentro de um mesmo saco, os geniais e os medíocres. E as agências souberam como aproveitar isso. Os salários na área tiveram uma desvalorização que chegou a mais de 500%. Mas, eu não podia ignorar e me atirei de cabeça na nova ferramenta. Meu irmão, Cako, tinha uma firma de sonorização, e eu ia lá pro escritório dele e passava horas aprendendo a mexer com o Corel e o Word, que eram os programas que mais se usava. Tentei nessa minha volta à cidade dar um up na minha carreira de pintor, fiz uma exposição na Cervejaria nº1 e, logo a seguir, na Casa de Cultura Mario Quintana – onde, atrelado à exposição, tentei dar um curso de aerógrafo. Mas, a divulgação feita pela CCMQ não me trouxe aluno nenhum, e o curso não saiu. Interessante foi, durante a exposição, receber as turmas de crianças de escolas e responder às suas perguntas sobre como que eu executava aqueles desenhos. Este tipo de recepção eu não estava acostumado a ouvir, então por esse lado foi muito interessante. A arte comercial é toda baseada em uma resposta rápida e rasteira: gostei e meu público gostou. Se não houver essa resposta, pode parar e procurar outra área. Você não vai ter trabalho! Na pintura, não como negócio, é claro, pois aí eu nunca tive uma resposta positiva, sempre tem a opinião de todo o tipo de público, desde os mais cultos aos totalmente incultos, e isto cria outro tipo de parceria - que parece que o dinheiro não está envolvido. Passei este pouco tempo após minha volta a Porto Alegre me dedicando a aprender a nova ferramenta: computador. Logo veio a morte da Lory, mãe do Ricardo, que era esperada, pois ela tinha Aids desde 89 e, infelizmente, naquela época não havia ainda o coquetel de drogas que mantem vivos os portadores. Nessa aí foram vários amigos, como Caio Fernando Abreu, Mauro Taubman e outros que por alguns anos teriam escapado com vida desta doença. A esta altura já havia aprendido a lidar com os programas de computação e aluguei um espaço na nova sede da Vento Norte, do meu irmão Cako, onde eu teria como lidar tanto com o computador como pintar grandes painéis. Fiz vários cenários para o Centro de Sports Gaúcho, do Ricardo Barroso. Calé criava uns cenários mirabolantes, que na maioria das vezes eram destruídos ou rasgados em cena. Dali, fui trabalhar na Kromak, de Marcus Luconi, onde desempenhava um papel triplo: era diretor de arte, atendimento ao cliente e construtor de cenários. Fazíamos catálogos de moda para quase todas as confecções da área de malharia, como Hering, Malwee, Marisol, Sul Fabril. A partir dum briefing eu criava os cenários, muitos construídos a partir de material de demolição que eu também buscava com a equipe de produção.
Carmel, Adriana e eu no primeiro aniversário
Finocchiaro Ferreira Bolsoni Ladeira do Castro Santa Tereza Rio de Janeiro
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Meu canto de pintura na Kromak
Ilha do Papagaio 1996
Foto de Claudio Cauduro
Construía e pintava os cenários. Aí tomava um banho e subia prá sala de computação, onde nos Mac criava e montava os catálogos, normalmente com alguém da fábrica nas minhas costas palpitando sobre tudo. Às vezes era mais interessante, pois viajamos com a equipe toda e ficávamos em algum resort ou hotel fotografando e criando o catalogo. Nessas viagens, como não havia cenários a montar, eu ajudava fazendo o still das peças e escolhendo ambientes para as fotos. Às vezes ainda trabalhava como Polaroid Man, quer dizer, como não havia como identificar as fotos, eu sentava durante as sessões e desenhava a situação toda para identificar os modelos. Foi uma boa época, tendo feito mais de 40 catálogos, além de cenários para fotos da Playboy. Paralelo à Kromak, continuava com meu estúdio junto à Vento Norte. Aqui já estamos pelo ano de 1996. Fiz mais alguns freelas para Marco Andras, outro fotógrafo, e continuava pintando telões com minha técnica de aerógrafo. Lá por 97 fiz uma pintura grande para o Felipe Helfer, que fazia os cenários da RBS, e esse me abriu uma porta de trabalho que me manteria mais alguns anos. Com uma grande mudança no cenário do Jornal do Almoço da RBS, peguei o trabalho de pintura do novo cenário. Foram vinte e poucos cenários pintados para todas as retransmissoras do JA que tinham material local no ar. Os cenários de Porto Alegre e Florianópolis foram pintados nos locais. Os outros, pintei no meu estúdio. A partir dali cheguei a ter 80% dos cenários da RBS pintados por mim. Foram os novos cenários da TVCOM, do Teledomingo, da nova redação na Zero Hora, cenários das Eleições. Em 1999 ainda fiz aí com minha criação o Bom Dia Rio Grande, foram 28 cenários pintados por mim com a ajuda de meu irmão Paulo e depois ainda, com uma equipe da RBS, montamos os 26 cenários por todo o RS e SC. Neste período perdi meu espaço na Vento Norte, que havia se mudado para outro depósito onde não poderia haver pintura, então passei a fazer minhas pinturas na minha casa mesmo. Ricardo agora havia começado a fazer Jornalismo na PUC. Continuávamos morando com o pai e com a mãe e com o Paulo que havia voltado do Rio em 94. Infelizmente, em casa a situação começou a ficar complicada, meu pai descobriu um câncer praticamente incurável prá quem a vida toda fumara de 2 a 3 carteiras de cigarros por dia. Descobriu-se o câncer em março e, em agosto, depois de idas e vindas ao hospital, ele veio a falecer. Isto foi em 2000. Eu continuava a fazer meus freelas, algumas capas de disco, cenários para o evento de entrega do Troféu Açorianos, capas de livro, etc. Em 2003 mais uma má noticia, minha mãe fora diagnosticada com Alzheimer, o que mostrava uma vida pela frente cheia de cuidados e atenções que ela antes, cheia de vida e de disposição, não precisava. Como eu e meu irmão morávamos ali, coube a nós esta tarefa. No mesmo ano ainda, ao fazer uns exames descobri que tinha Hepatite C, o que me fez na mesma hora parar de beber. Nunca fui um bebedor contumaz, mas gostava de tomar minhas cervejas, então a única decisão a tomar era parar definitivamente. Aliás, no momento que estou escrevendo, estou fazendo um tratamento no qual já zerei o vírus, mas tenho 10 meses de tratamento. Vou curar, mas serão ainda dez meses de um cansaço só causado pelos remédios. Tenho escrito de manhã e continuarei a montar este livro nesse horário, no qual me encontro em melhores condições, porque à tarde fica impraticável.
Foto de Paulo Jardim
Biografia do artista
Preparando um still para catálogo da Hering na ilha do Papagaio
Paulico, Xanda e eu na frente da casa do Olyntho Praia do Rosa 1999
Jornal do Almoço 1998 Florianópolis
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Nestes meus vinte anos, desde a volta do Rio de Janeiro, criei uma paixão pela bicicleta só interrompida pelo meu namoro com Rossana Sacco, pois os fim de semana passava todos com ela. Desde 1994, praticamente todos os fim de semana, e somente neles, saio de bicicleta a rodar pela cidade. Faço vários caminhos, desde sair da Zona Norte, ir até o Centro, dali - pelo Parque Marinha do Brasil até Assunção, de lá a Ipanema e voltando pela Cavalhada até a Salvador França. Em dias que não estou com tanta disposição, desço até a Redenção por vários caminhos, tanto pela esquerda - via Partenon ou pela direita - via Encol/Parcão/ Independência. De lá, pego a Usina/Marinha/BeiraRio e depois volto. São pedaladas de 3 a 4 horas por dia que, somadas às caminhadas que faço de vez em quando indo ao Centro e voltando, fazem de mim um semiatleta, me mantém em forma e com disposição. Sem falar da única briga feminina que eu disputo, que é com a minha barriga. Nesses vinte anos pedalando devo ter caído uma meia dúzia de vezes da bicicleta e, uma vez, descendo a milhão a Carlos Gomes, enquanto preparavam a Perimetral, eu, como tenho uma mania circense de andar sem as mãos me equilibrando na bike, fui tocado por uma van e me esborrachei no chão quebrando o punho. Aliás, minha única fratura numa vida toda. E o único acidente em 20 anos de pedal sem as mãos. Acho que estou no lucro. Em 2004 fui trabalhar uns meses em Uruguaiana, fazendo a campanha do prefeito local e sendo assessor do Bebeto Alves, que era secretário da Cultura. Era um vai prá lá vem prá cá danado no meio daquele frio que era Uruguaiana. Como resultado não valeu nada, pois roubaram meu violão Epiphone - o que me deixou com a pulga atrás da orelha, pois ninguém me ajudou em nada para conseguir meu violão de volta. Praticamente, troquei meu trabalho pelo roubo do violão. Lidar com animais políticos só pode dar nisto mesmo. Eu que sempre fui acostumado, ao fazer um trabalho, aos passos: criar, negociar, executar e receber, estava agora lidando com outras formas de trabalho. Enfim, mais uma experiência de vida.Em 2005 meu irmão Cako morre de ataque cardíaco aos 46 anos, uma perda terrível para a familia, assim de repente, apesar do destino mostrar mais uma vez a sua mão. Em 86 meu primo Foguinho morreu da mesma forma, durante um jogo de futebol e com a mesma idade. Aqui começo uma parceria com o Luiz Antonio Corazza e o Clube dos 13. Durante três anos fazemos o material gráfico e publicitário do clube. São kits promocionais para a venda do televisionamento dos jogos no Brasil para o mercado asiático e europeu. Revistas, folders, convites, sacolas, mimos com as marcas do Clube, tabelas de jogos. Meu trabalho com o airbrush ficou prá trás, vencido pelos plotters de impressão que baratearam muito o custo deste tipo de produto - sem falar que a qualidade agora era fotográfica. Lá por 2007, a Carmel vem morar comigo, agora prestes a fazer 18 anos. Foi muito bom, pois em um ano conseguiu vencer o atraso do colégio no Rio e, inclusive, seu primeiro vestibular fizemos juntos: Design de Produto na UFRGS: rodamos os dois. Eu tinha tentado, desde o tempo que namorava a Rossana, que aliás me deu muita força no sentido de procurar o que fazer agora que a época da aposentadoria se aproximava...
Everton Pires, Tuio Franco e eu
Eu, Rossana e Jakka no Rosa.2005
Meu mano Cako Bolsoni viajando mandou esta prá Carmel
Claudio Levitan, Flavio Chaminé e eu no Bar do Beto.
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Biografia do artista
Como eu não havia cursado faculdade, e para ser professor de alguma coisa não basta saber, tem que ter o canudo, então quando estava com ela fiz três vezes vestibular de Belas Artes, mas como não estudei nada tomei pau nos três, em Design de Produto não haveria de ser diferente. Hoje em dia não adianta ter 40 anos de profissão, ter trabalhado com os profissionais mais competentes do país, para as maiores empresas do país, sem o canudo você não pode ensinar ninguém e aí você passa por situações como uma que eu faço questão de contar aqui: convidado pelo meu amigo Kaplan, fui na Fischer, agência do Universitário para fazer um trabalho. Banco de uma hora... Sento à mesa com a atendimento e três guris de 20 a 25 anos. Eles olham meu trabalho, três posters imitando cartazes aquarelados de cinema dos anos 30. Ai me pergunta a atendimento se eu teria condições de fazê-lo, eu disse que sim. Eles foram embalar os layouts e levaram um cd com meu portfólio. Mais 30 minutos, voltam, e ela me diz que como não tinham visto nenhum trabalho similar se eu concordaria em fazer um teste. Não!, respondi na lata, eu poderia fazer um dos cartazes como teste, se aprovado faria os outros senão me pagariam 20% pelo meu trabalho. Disseram que me ligariam. Mentira, pois era sexta e o primeiro cartaz teria que ficar pronto na segunda. Então é isto, quatro guris que não sabem nem usar um lápis direito quanto menos pintar com aquarela, gouache ou seja lá o que for e que estão acostumados a montar layouts a partir de trabalhos de uma vida, escaneados, fotografados ou recolhidos da internet são teus juízes. A escala de valores virou de ponta a cabeça. E tudo com quatro anos de uma faculdade que pode ter sido feita, como se diz, nas coxas. Em universidades onde o que vale é o quanto tu paga por mês. Não é necessariamente uma indignação, pois eu tenho convivido com essa troca de valores com os anos. Uma faculdade você compra hoje, uma profissão você compra, um currículo você constrói escrevendo, um site você maquia como se sua empresa fosse a melhor. E mais de 40 anos de profissão, trabalhando com alguns dos clientes mais exigentes do mercado nacional num determinado momento não valem como aval de conhecimento e capacidade profissional porque você não cursou quatro anos de uma faculdade, que em muitos casos os professores são pessoas que nem tiveram uma experiência profissional completa. Às vezes, nunca tiveram um cliente que avaliasse suas criações. Aqui estou eu nestes últimos anos e tenho feito não o que eu poderia considerar um final de carreira, pois a qualquer hora aparecem novos trabalhos. De 2004 a 2011 minha vida ficou um tanto quanto dividida pela continuação do meu trabalho pelos cuidados que tivemos eu e, principalmente, meu irmão Paulico, em tomar conta de minha mãe - que o Alzheimer foi transformando de uma pessoa extremamente ativa e cheia de vida em alguém que não podia ser deixada sozinha pois algum acidente podia acontecer. Os dois últimos anos foram bem pesados, mas assim como meu pai, o que levou ela daqui foi um câncer do pulmão, como a gente diz aqui, graças a Deus. Do ponto de vista da minha mãe, principalmente, pois não chegou a sofrer tanto quanto meu pai, pois não tinha o conhecimento que estava sofrendo.
Eu e o meu Epiphone
Secretaria da Cultura Uruguaiana 2004
Ricardo & Carmel
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Aliás, detesto quando acham engraçado o esquecimento dos portadores de Alzheimer, chamávamos minha mãe do nome da pilha aquela que durava muito, Duracell, porque ela não parava quieta. Minha mãe tocava Mozart, Chopin, e quando o Alzheimer chegou, em três meses, ela só sabia tocar o bife. Então, porra, o que tem de engraçado nisso? Quando ela chegou ao grau 10 do Alzheimer, que começou a ficar prostrada na cama, em menos de um mês o câncer a levou. Permanecemos aqui em casa eu, Carmel e o Paulico. O Paulico logo se mudou para o Rosa e, enquanto não conseguimos vender a casa, eu, Carmel e Ricardo usufruímos os últimos tempos desta que sempre foi um símbolo de felicidade, gente cuidando de gente, portas abertas aos amigos, aos amigos dos amigos. Acho que conservamos o espírito de meu pai e minha mãe. Continuo trabalhando sempre dizendo que preferia trabalhar mais 70% e receber mais 100% do que consigo hoje em dia, mas é que também os tempos mudaram muito. As cobras estão cada vez mais soltas por ai, o momento político é todo o resultado da ditadura que se perpetua sem a tortura por motivos políticos, mas a pior, por motivos financeiros. Quem tem está garantindo não só o seu, mas duas ou três gerações familiares. Então dá prá notar o que vem pela frente. Minha criatividade está tão afiada quanto nos velhos tempos, e os novos recursos (que apesar de jogarem tudo num mesmo saco) tem as suas qualidades. Eu as tenho aproveitado, principalmente para fazer um reestudo da minha criação. Em vez de me aproveitar do trabalho dos outros, eu faço isto com o meu, recriando partes do meu mundo, afinal é isto que é 100% Ricky Bols.
Susana e eu em 2008
Rossana e eu nos meus 55 em 2007
Fenavéia 2012 no Portinho do Rosa Sul
No Rosa Norte em 2013
Meus pais Odilo e Susana a quem dedico este livro
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Parado
Então é isso. Vamos escrever. Qualquer coisa. Amores, horrores, o que passar pela cabeça. Tens dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Ou quer viver muito mais. Se atirar em alguém como se este alguém fosse uma tábua da salvação ou um galho onde se pudesse agarrar para não cair. Que falta que faz uma mulher na vida de um homem. Para admirar, para odiar, para amar E não uma coisa que se tenha, é alguém para respeitar e ser respeitado. Puta que o pariu como é dificil.. Acho que não é nada de idealismo. É só uma figura, para quem desenha como eu. Eu amo. Não quero mudar nada. Quero conviver. Quero empurrar. Quero ser empurrado. Não prum abismo, prá cima, prá baixo, pros lados , prá dentro, prá fora. Fora deste mundo. Me grudar feito superbonder. E ainda querer mais. Ficar feito noite escura de fogos de artificio tudo estourando. Ensurdecedor alívio. Não quero elogios. Troco por dinheiro. Não quero dinheiro, troco por beijos. Toda hora. Não troco por nada nadar. Nem que tenha que carregar. Sou forte. Magrinho e forte. Nunca dispensei de ajudar. Só um pensamento. Vontade de chorar. Como em qualquer imagem de pais e filhos, de amores perdidos. Bonecos frágeis que nós somos. Sólidos como rocha no orgulho de sermos homens frágeis como papel no ceder para não sonhar. Vai acreditar nos sonhos vai. Só nos acordados. Enquanto o tempo passa e nós vamos pensando em nós mesmos. Tem que ser egoista nesta terrinha pô. Mas será que tem que dar a mão, o braço, a perna, o pau, o desejo que não realizou , a pedra que não atirou, a musica que não cantou, o charme que não encantou. Será que tem que dar. Sou um, chato,bobo,quieto,que fala prá si. De si. E não sabe uma nota de música.Prá não se incomodar. E aí? Tem uma certeza nisso,tem coragem, tem desprezo? Não tem mais o que fazer. Quando é que vai dar.E entre todas as opções fico esperando que caia do céu quando já está aqui na minha cara a única, a que sempre esteve, como um beco sem saída, morno, sujo, verde e gosmento.
Parado. No ar. Sinto o chão sumir, com nuvens no céu duma ventania só. Tento acordar e só vento só vento. Sonho danado, diferente daqueles em que vôo como num planador silencioso e rasgante. Sonho bisexto como 31 de fevereiro. Como desaniversário. E de todos a melhor parte é o se atirar como se não soubesse o que iria acontecer. Tenho ganas. Sofro o risco. Peço bis e não desisto. O tempo é curto. O vôo é longo. O espaço é justo. Talvez um pouco. E dentre todas as minhas manias a pior é não esquecer. Ou guardar. Folhas e folhas. Rabiscos e riscos. Notas e recibos. Devo, nego e tenho certeza que já paguei. Com a vida. Com o esforço de ser só. Um Ritz Tardes de verão trocando revistinhas na frente do cinema Noites de inverno olhando através das escadas jogadores no cassino Manhã de primavera o sol batendo na cara pelo canto da janela Entardecer de outono, jogando bola até escurecer e sumir a bola. Circus dancing Onde canto danço Onde não tem ranço Onde não encanto Pedaço dum canto Palhaço durango Poema de merda Quem toca É que come É o que... nunca ... Dançou por dançar Estúpido cupido numa época de desamores cansei de esperar sentado joguei a pedra da sorte e nem esperei o resultado.
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Pompa e circunstância
Hidrocor
Dois perdidos numa gota sobre o oceano
Hidrocor e aquarela
That’s the Montagem com desenho de Bruno Schmidt, lápis de cor e lápis
Eles estão vindo Perdido na selva
Aquarela Supermelancolia
Lápis e lápis de cor
Hidrocor e aquarela Queda de nuvens
Visão crítica
Lápis,aquarela e lápis de cor
Butterflies
Desenho a lápis e hidrocor
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Sing this all together
Pena de nanquim
Construção
Hidrocor e aquarela
Desenho a lápis e pena de nanquim
Anos 70 / Pinturas
Doces
O intruso
PĂŠ de flor
Pena de nanquim e aquarela
Exterminador
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Sua mente deixou seu corpo
Ou pula ou bato
Indio
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e lĂĄpis de cor
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Voando
Montagem com foto e aquarela
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Yes
Pena de nanquim e aquarela
Solitário
Procurando
Aquarela e hidrocor
Soluções
Pena de nanquim e lápis de cor Remendo urbano
Pena de nanquim e lápis de cor
Pena de nanquim e lápis de cor
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Meliante na esquina
Dilema da higiene dental
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e lápis de cor e aquarela
Anos 70 / Pinturas
Por ali ou por aqui?
Feira do Som ou The seca is over
Pena de nanquim e aquarela Televisão ou?
Nanquim e lápis de cor
Show com apresentação de slides
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Sonho psicodélico
Pena de nanquim e acrilico
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Babydelycia no campo de criquet
Pena de nanquim e Aquarela
Down and down in high society
Pena de nanquim e Aquarela
Anos 70 / Pinturas
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Ei! Voce viu meu sorvete que estava aqui?
Boneco estoura cor
Viva!
Pena de nanquim e aquarela
Caneta de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
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Papagaio
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
Parabéns!
Pena de nanquim e aquarela Cowboys em descanso
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Sem direção de casa
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Vovรณ Lilia ao piano
Pena de nanquim e Aquarela
Sonho de uma tarde de verĂŁo
Pena de nanquim e Aquarela
Anos 70 / Pinturas
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A força do coração na mão
Escrita de desejo
Na bola 8
Aquarela Lado a lado
Aquarela O gênio da caneca
Aquarela Na piscina
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Aquarela
Aquarela
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
123
Aquarela
Saudade Instantânea Pulando o mundo
Aquarela e aerĂłgrafo
Por ali..
A familia real recebe visita de aliens
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
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Pena de Nanquim e Aquarela
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Da Amazônia à Patagônia
Aquarela
No parque de diversĂľes do tempo
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
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Prainha de Garopaba 1972
Aquarela sobre Fabriano
Aquarela sobre Schoeller
O leitor
O tempo nĂŁo espera por nĂłs
Aquarela sobre Fabriano
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Anos 70 / Pinturas
O homem
Passaro
Fagundes Varella
Aquarela sobre Fabriano
Aquarela sobre Fabriano
Aquarela sobre Fabriano
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Machine dance
Aquarela sobre VergĂŠ
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Ao Vento Norte tanto faz a fĂŠ quanto a sorte
Aquarela
Cio da terra
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
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Virgem
Espacial momento
Aquarela sobre Fabriano
Aquarela e colagem
O bom e o mau na balanรงa
Vinhetas para o Fantรกstico
Aquarela
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Vinheta para o Fantรกstico
Pena de nanquim e aquarela
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
Duplo olhar
Auto retrato
Aquarela e pena de nanquim
Art Nouveau
Aquarela
Caixa de surpresas
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Aquarela sobre VergĂŠ
Pena de nanquim e aquarela
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Lamento Africano
Aquarela
Psico
Aquarela
Anos 70 / Pinturas
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A bela no campo
Ludwig
Gente feliz
Aquarela e Photoshop
Aquarela
Fumando
Com o destino nas mรฃos
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Aquarela
Passeando no jardim
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Babydelycia e seu unicรณrnio
Pena de Nanquim e Aquarela
Aquarela
Conto e poesia Pulo por cima da varanda e caio num gramado verde bem verde cheio daquelas florzinhas que a gente só ve nos campos de Garopaba.Parecem flocos de neve caindo num céu azul de uma cidade suiça no verão com tiroleses passeando por pontes entre dois desfiladeiros que dividem um vale enorme cheio daquelas casinhas com telhados enormes e altos para não se carregarem de neve. E assim eu ia passeando com minha cabeça dando voltas e voltas ou era eu que virava? De repente (e tudo acontece assim por mais previsões que eu possa fazer , há sempre uma diferença no que vai acontecer, só que não cabe a mim decidir se ela foi prá mais ou prá menos) . Tão grande como a cara da Marilyn aparecia nas telas eu cresci até um limite muito maior do que a minha própria altura, que eu não acho que seja aquela que me medem quando faço um alistamento ou um exame médico, só que ninguém podia notar isto pois meus olhos não diziam absolutamente nada, a minha boca que costuma falar. Um gato que estava num canto,debaixo da mesa do espelho, porém, o notou. Eu vi quando seus olhos se arregalaram e seus bigodes subiram, tanto que, no momento seguinte ele correu da sala e sumiu da minha vista. Minha tia , surpresa com o susto do gato, perguntou-me se eu havia visto o que havia assustado o pobre animal, mas eu fiz que não a havia ouvido. O tempo passava agora cada vez mais devagar, eu notava o ponteiro dos segundos passando de marco a outro cada vez mais lento. Agora no tempo que eu levava prá cantar um rock n`roll eu cantaria uma ópera inteira mas os sentimentos não estava para uma ópera naquele instante nem os que se seguiram depois. O que eu queria nem eu mesmo sabia só podia mudar cada vez mais ou eram as coisas que mudavam ao meu redor? É acho que eram... Sentei então num sofá cheio de listras azuis e cor de rosa, era como sentar num plano que se perdia no horizonte com mil listras que se chocavam num ponto final. Entre uma destas listras havia um buraquinho por onde se enxergava um mar cor de vinho.Um mar daqueles que a gente vê ao entardecer, quando as cores começam a ficar mais escuras e vivas ao mesmo tempo. Eu, como gosto muito de tomar banho já sai muito alegre para um refrescante banho ao anoitecer. Qual não foi minha surpresa quando tudo sumiu assim como as nuvens ao enfrentar um vento forte e ali estava só um buraquinho num sofá cheio de listras. As coisas agora aconteciam como quando eu fechava os olhos, uma coisa bem aberta aos meus sentidos que como a escuridão sumia com tudo. Uma boca de chiclete de goma que estoura e some, uma explosão em que o tempo não importava e sim o momento, o instante só. Uma lágrima transparente corria pelas folhas cheias de orvalho da manhã, diferenciavase das outras pelo brilho azul que as outras não tinham. Uma espécie de estalo,uma cor a mais no verde daquela manhã como uma cortina psicodélica que desce sobre meus olhos, ela passou na minha frente e foi beber aquela gota pequena. Uma borboleta vinda de trás, só a senti quando um vento fraquinho como nada balançou a minha orelha e tocou um sino que havia dentro dela. O som ficou e continuou com o lindo desenho que eu estava vendo. Virei a folha, a seguinte estava em branco e a outra também até a numeração havia sumido da ultima folha. Nesta havia uma ampulhetinha. O pózinho caia tão devagar que podia ver grão por grão. Às vezes caiam reto, aos pouquinhos. Ficavam voando no ar ao sabor do tempo e depois aterrisavam num monte de eles até que ficassem um ele só. Os ponteiros dos segundos iam agora mais depressa.Opa! Não tanto, por favor. Giravam tão rápido que eu parei o relógio desligando da parede, mas aí tudo apagou e a sala ficou as escuras. Minha tia correu a buscar uma vela. Eu ouvi quando ela passou por mim, sua saia roçou meu pés. Algo pegou fogo no escuro e tudo começou a tremer.Quando a luz apareceu na porta minha tia parecia mais moça, acho que foi porque desliguei o relógio, pensei. As coisas relmente ficam mais jovens quando a preocupação do tempo some dos olhos. Tudo tremia como se estivesse sendo visto por um óculos de grau tão forte como o de Clark Kent. Puff! Escuridão novamente. A vela se apagara e não havia mais fósforos na casa . Agora nada se via e tudo era sentido na cara. Eu não conhecia a casa direito e em tudo tropeçava. Era como andar num trem fantasma numa noite com chuvas e trovões.Tudo parecia que andava e andava roçando no meu corpo. Às vezes era como se me sentisse num poço onde mil coisas flutuavam no ar. Outros brilhos enormes surgiam a minha frente como num espetáculo pirotécnico duma noite de São João sem contudo se revelar o que havia aquém dos brilhos. Uma luzinha pequenina baloiçava aumentando como se chegasse perto de mim. Estiquei a mão e como ela não sumiu, puxei e senti que havia pego algo. Era um vagalume. Sua luz apagava e acendia. Às vezes mais forte as vezes mais fraca. De repente sumiu. A escuridão voltou novamente e aí mais nada aconteceu até a hora em que o pano subiu e um aplauso contínuo revelou a presença de uma mulher na platéia.Ela sorriu pra mim e fechou os olhos.O pano do palco desceu e a escuridão tornou a mim.
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mini continho quarenta horas após seu despertar primeiro, o liquidificador parou. O silêncio fez cosquinhas na cabeça das pessoas e a calma desceu as escadas do sótão para parar em cima das cabeçinhas molhadas. o trem da uma e trinta partiu deixando quatro passageiros muito ocupados em colocar as sobras das roupas(mangas, cordões,lapelas) que haviam ficado para fora das malas. cinco crianças brincavam de pular corda lá no fim da estação quando o trem atrás fazia uma grande curva, por entre os milharais soltando uma fumaça branca e limpa como as nuvens daquela tarde. minha prima não parava de tocar piano quando chegaram as visitas. Cada um subiu rápido pela escada e logo o palco fechou como um olho que se fecha e diz boa noite.
um camaleão, apesar de mudar de cor, não deixa de ser o camaleão que ele é.Na procura de sua marilyn mosca ele vai mudar de cor milhares de vezes.Por entre quadros e quadros: retratos, sonhos desejos, papagaios. Ele sabe escolher os lugares onde parar de acordo com as cores em que ele pode se transformar.A pompa e a circunstância estão contidas em meus desenhos assim como a água.O que acontece quando eu começo a desenhar é que uma saudade instantânea faz com que eu desenhe algo que me motive e às vezes saudade motiva desejo, ou vontade, ou qualquer coisa.
Escrevendo seu nome numa pedra sem futuro perpetuando por um pouco mais nesta o tempo era uma brincadeira de namorados nas árvores, juras eternas de amores perfeitos E o dia em que a natureza novamente os reencontrassem aí sim, mente e corpo assinariam.
Em pedaços cada vez maiores penso em quantas vezes teria considerado o peso duma insolência ou será que isto nem existe mais. Foi numa tarde ensolarada de um mês sem sobresaltos que, depois de carregar toda aquela areia, seu caminhãozinho ficou atolado e não saia mais do lugar. Lugar tentador aquele, não era o paraiso e me prendia daquela maneira. Até gostava.Quando cheguei nem esperava ficar,quando saia sentia saudades quando voltava como se alí fosse meu lugar uno, alguém que nunca deveria ter deixado.Posso? Devo? Não, volto mais tarde Ensolarada
RAW Crú como só. Raw como rude. Esguicho de seiva em casca de árvore. Borracha de pele na relva molhada. Sacode e aquieta, enerva e excita. Grita que ama o que não pode. Recita teu nome...
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Muddy Waters
Aquarela
A Criação
Aquarela e aerógrafo
Anos 70 / Pinturas
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Rita Pavรฃo, Ricky Bols e Neny Scliar
A marca do sexo
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
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Esperando por ela
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
O mau e o bom
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
Anos 70 / Pinturas
Jimmy e Marilyn
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
Jeff Beck
Luz del Fuego
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
Lรกpis sobre papel manteiga e aquarela
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The boss
Aquarela e montagem
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Anos 70 / Pinturas
Sailor
Aquarela
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Ginasta (detalhe)
Pena de nanquim e aquarela
Our house
Pena de nanquim e aquarela
Pontes
Garoto (detalhe)
Ladies & Gentlemen
Estourou a represa! (detalhe)
Pena de nanquim e aquarela
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Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Anos 70 / Pinturas
Borboleta
Pena de nanquim e aquarela
Para onde vamos, de onde viemos?
Picolé de coração
Flor
Pena de nanquim e Photoshop
Aquarela
Pena de nanquim e aquarela
Apple & Norma Jean
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Aquarela
Na redoma
Aquarela
Sonâmbula
Pena de nanquim e aquarela
By the pool
Aquarela
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Anos 70 / Pinturas
Pine-Top Blues
Pena de nanquim, lรกpis,e aquarela Na praia
Lory F em seu mundo, sua vida
Pena de nanquim e pintura em Photoshop
Aquarela
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DelĂrios gauchescos
Caneta de nanquim e Photoshop
Ilustrações, jornal, livro, revista
Ilustrações para jornal, revista e livro
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Caneta de nanquim
Lápiis
Lápis
Zero Hora
Lápis
Zero Hora
Sopro do mundo
Ilustração para “As pulgas” de Rogério Ruschel
Ritchie
Caneta de nanquim
Caneta de nanquim
Caneta de nanquim Ilustrações para jornal, revista e livro
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Capa com Neny Scliar
Caneta de nanquim
Ilustrações, jornal, livro, revista
Jornal de Música
Caneta de nanquim
Zero Hora
Zero Hora
Zero Hora
Caneta de nanquim e lápis
Caneta de nanquim
Caneta de nanquim Ilustrações para jornal, revista e livro
Em Mãos
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Caneta de nanquim
Ilustraçþes para jZero Hora
Caneta de nanquim
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Ilustrações, jornal, livro, revista
Ilustrações para Zero Hora
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Caneta de nanquim
Ilustraçþes para Zero Hora
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Caneta de nanquim
Ilustrações, jornal, livro, revista
Ilustrações para
Zero Hora
Caneta de nanquim
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Capas para Revista de Domingo e Guia de Sรกbado em Zero Hora
Caneta de nanquim, lรกpis e montagem fotogrรกfica
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Ilustrações, jornal, livro, revista
Capas para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora
Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica
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Ilustrações para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora
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Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica
Ilustrações, jornal, livro, revista
Capas para Revista de Domingo e Guia de Sábado em Zero Hora
Caneta de nanquim, lápis e montagem fotográfica
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Retratos em Zero Hora
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Caneta de nanquim
Ilustraçþes, jornal, livro, revista
Retratos em Zero Hora
Caneta de nanquim
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Retratos em Zero Hora
Lรกpis
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Ilustrações, jornal, livro, revista
Retratos em Zero Hora
Lápis
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Paulo Lumumba
“Homenagem” ao governo Geisel
Garota e casas
Aerógrafo e lápis
Aerógrafo e lápis
Amor
Aerógrafo e lápis
Sob o sol
Aerógrafo e lápis
Espantalho
Aerógrafo e lápis
80
Aerógrafo , lápis e Photoshop
Anos 80 / Pinturas, ilustrações,
Força e pensamento
Aerógrafo e lápis
A mosca no prato
Aerógrafo e lápis
Violência na pintura
Aerógrafo e lápis
Tortura
Aerógrafo e lápis
Mulher e cidade
Aerógrafo e lápis Mina Fusão
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1º Prêmio Salão de Desenho de Pelotas 1979
Pena de nanquim
Camelo
Aerógrafo e lápis
Super Homem a Festa
Penhasco do Rosa Norte
Caneta de nanquim e aerógrafo
Pena de nanquim e Photoshop Bebeto Alves no Araújo Vianna
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Caneta de nanquim e foto
Anos 80 / Pinturas, ilustrações,
Malas
Ilustração para capa de Revista
Nadante
Gouache, acrilico e aerógrafo
Caneta de nanquim e Photoshop
Pena de nanquim e aquarela e Photoshop
Caneta de nanquim e Photoshop
Ilustração para capa do Guia de Sabado
Ricardo
Gouache, acrilico e aerógrafo
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Pepeu Gomes
Lápis,acrilico e aerógrafo
Jazz
Letras
Aerógrafo e lápis
Aerógrafo com acrílico
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Espirito índio sobre as Missões
Caneta de nanquim, aerógrafo e Photoshop
Anos 80 / Pinturas, ilustrações,
Arara e Tucano ao luar
Jagger
Aerógrafo com acrilico e gouache
Caneta de nanquim e Photoshop
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Paraquedista
Moça passeando com golfinho
Lápis
Lápis e aerógrafo
Aerógrafo sobre madeira
Stand da Cordoaria São Leopoldo
Vitrine em madeira recortada para Fiorucci
Arte para fábrica de modelos cabine dupla
Quarto de criança
Aerógrafo na parede
Aerógrafo sobre madeira
Pintado em madeira com 9 m / Logo em madeira com 16 m
Aerógrafo
Painéis em acrilico
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Aerógrafo
Anos 80 / Pinturas, ilustrações,
Cadeira vintage
Fachada de locadora
Pintura de deuses Hare Krishna
Decoração de loja
Pintura acrilica com aerógrafo
Pintura acrilica com aerógrafo
Decoração de stands
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Pincel e aerógrafo sobre madeira
Pincel e aerógrafo sobre madeira
Pincel e aerógrafo sobre madeira
Decoração de vitrine Pintura acrilica com aerógrafo sobre madeira recortada
Caderno de Notas
Natal85
Aquarela e Aerógrafo
ContraCapa Revista de Domingo JB
Criação,montagem e arte final Matéria Revista de Domingo JB
Capa de Caderno Anúncio em ““Interview”
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Aerógrafo e Acrilico
Company
Bolsa de papel
Capa de Caderno
Material promocional
Aerógrafo e Acrilico
Aerógrafo e Acrilico
Arte em aerógrafo, gouache e acrílico
Arte em aerógrafo, gouache e acrílico
Material promocional
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Anúncio em nanquim
ContraCapa Revista de Domingo JB
Capa de Caderno
Aquarela e Aer贸grafo
Aer贸grafo e Acrilico Capa de Caderno
Contracapa Revista de Domingo JB
Aer贸grafo e Acrilico
90
Aquarela e Aer贸grafo
Natal de 1986
Aquarela e Gouache
Company
Arte-Final
Adesivo
Arte-Final
Adesivo
Adesivo
Adesivo
Arte-Final em aerógrafo
Adesivo
Anúncio em Interview
Arte-Final
Acrilico e aerógrafo
Arte-Final
Página dupla em Interview
Caneta de nanquim e Montagem
91
Anúncio em Interview
Gouache, acrilico e aerógrafo
Arte para artigo promocional
Acrilico e aerógrafo
Arte para artigo promocional
Acrilico e aerógrafo
Anúncio em Revista de Domingo JB
Anuncio na Revista de Domingo
Aerógrafo e acrilico
Contracapa em Revista de Domingo JB
Aerógrafo e acrilico Contracapa em Interview
Aerógrafo e acrilico Anuncio em Revista de Domingo JB
92
Montagem e aerógrafo
Aerógrafo e acrilico
Company
Anúncio em Revista de Domingo JB
Anúncio em Interview
Anúncio em Revista de Domingo JB
Aerógrafo e acrilico
Anúncio em Interview
Aerógrafo e Acrilico
93
Xerox, Aerógrafo e Acrilico
Xerox, Aerógrafo e Acrilico
Contracapa Interview
Aerógrafo e acrilico
Matéria da Revista de Domingo do JB
Anúncio Interview
Aerógrafo e arte-final
Pintura em aerógrafo e arte-final
94
Company
ContracapaRevista de Domingo JB
Contracapa Interview
Sing this all together
Aerógrafo e acrilico
Contracapa em Interview
Aerógrafo e acrilico
Cartão Postal
Aerógrafo e acrilico
Aerógrafo e acrilico
Pena de nanquim
Régua promocional
95
Aerógrafo, gouache, acrilico e lápis de cor
Anúncio da Revista de Domingo
Anúncio em Interview
Montagem sobre obras de Barrão e pintura a lápis e gouache
Acrilico e aerógrafo
Anúncio da Revista de Domingo JB
Caneta de Nanquim, Acrilico e aerógrafo Anúncio da Revista de Domingo JB
96
Caneta de Nanquim, Acrilico e aerógrafo
Penso.
Penso agora no que poderia ter sido. E aconteceu! Claro... Lembro sempre como foi. Talvez um momento só. Mas foi bem mais que isso. Alguns anos. Voltar atrás poderia transformar alguma coisa? Talvez. Quando viajantes no tempo voltam costuma-se dizer que tirando Uma folha do seu lugar pode-se impedir que, no futuro, um presidente Seja eleito. E que diz que voltando no tempo aquilo que fiz poderia ser reparado. E como ficaria meu futuro? Não sei. Ë a diferença entre o orgulho e a confiança. Palavra difícil é autêntica. Original. Faca de dois gumes que separa o ordinário do talento. Eu e você ou tu e eu. Como é bom... nós. Não é a toa que também pode ser uma coisa amarrada. Algo preso.Algo necessário à uma solidez. Como um navio preso ao cais. Como um cavalo ao poste. Sempre duas visões, do bem e do mal. Fácil distingui-las. Nem sempre.Fácil é ver suas diferenças. Difícil é escolher uma delas. Nos nossos sonhos conseguimos ir por um ou por outro caminho sem traumas, A não ser o suor ao acordar. No dia a dia , até à noite, os resultados são mais imprevisíveis. Ah! Se eu pudesse voltar. Essa é boa. Ou colocar uma venda e vamos em frente.Seriam iguais? Impulsivos ou tímidos. Seriam os encontros iguais? Acho que os desencontros são iguais. A mágica está no encontro. Numa esquina dum ponto onde passa um bonde chamado desejo. Num beijo. Hoje seria um bom dia. Amanhã poderia ter sido. Depois blau blau. Ficar esperando. Sentado. Cair do céu. Só se for um anjo de asas quebradas. Difícil recuperá-las. Procura-se wanted. Recompensa de mil dólares a quem encontrar qualquer pista. Recompensa-se regiamente quem der.
97
Capa Interna Dupla do album “Extra” de Gilberto Gil / Jejo Cornelsen & Ricky Bols
98
Gilberto Gil / Extra
Gouache, Acrilico com Pincel e Aerรณgrafo
99
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil
Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira
100
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen
Gilberto Gil / Extra
Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira
Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil
101
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil
Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira
102
Fotos da execução e pintura do cenário “Extra” de Gilberto Gil
Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen
Pintura com pincel e aerógafo com acrilico sobre madeira
Gilberto Gil / Extra
103
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen
Gilberto Gil / Extra
Cenário
Jejo & Ricky Cenário do Canecão 1983
Cenário Cristina, Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Cenário
Pintura em madeira com aerógrafo
104
Cenário
Pintura em madeira com aerógrafo
Repolho no Canecão
Cartazes, Marcas e Folders
Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner
Arte Final
Arte Final
Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner
Arte Final
105
Arte em aerรณgrafo arte de Roberto Renner
Arte Final
Arte em nanquim arte de Roberto Renner
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Cenário
Criação e arte-final de néon
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Cenário
Criação e arte-final de néon
106
Cenário
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen
Gilberto Gil / Raça Humana
Cenário
Cenário
Criação e arte-final de caixas de luz com slide Arte-final de Roberto Renner
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Criação e arte-final de néon
107
Cenário
Criação e arte-final de néon
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen Gilberto Gil
Foto de Jejo Cornelsen
Grafitti
Grafitti
Grafitti
Grafitti
Spray e aerógrafo Grafitti
Spray e aerógrafo Grafitti
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Grafitti
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Grafitti
Gilberto Gil
Grafitti
Spray e aerógrafo
108
Spray e aerógrafo
Foto de Jejo Cornelsen
Fotos de Ricky Bols, Jejo Cornelsen e Ito Cornelsen
Gilberto Gil / Raça Humana
Gilberto Gil
Foto de Jejo Cornelsen
Grafitti
Spray e aerógrafo
Grafitti
Grafitti
Grafitti
Spray e aerógrafo
Grafitti
Grafitti
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Spray e aerógrafo Gilberto Gil
Spray e aerógrafo
109
Grafitti
Foto de Jejo Cornelsen
Spray e aerógrafo
Gilberto Gil / Raça Humana
Grafitti
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Grafitti
Spray e aerógrafo
Grafitti
Spray e aerógrafo
Grafitti
Spray e aerógrafo
Grafitti
Grafitti
110
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Spray e aerógrafo
Ilustrações
Chuteiras imortais
Montagem e pintura em Photoshop
Sex Trumpet
Flor na areia Caneta de Nanquim e pintura em Photoshop
Xerox e aerógrafo
Fellatio
Caneta de Nanquim e pintura em Photoshop Chuteiras imortais
Sem direção
Pena de nanquim e Photoshop
111
Xerox, caneta de Nanquim e Photoshop
Trabalhadores
Caneta de Nanquim e Photoshop
Capa de disco
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Capa de disco
Jejo Cornelsen & Ricky Bols
Pintura de ambiente com aerรณgrafo e Lettering
Pintura de ambiente
Capa de disco
Capa de disco
112
Desenho a lรกpis , foto e lettering
Pintura de ambiente
Capas de Disco
Capa de disco
Criação e Arte-final em aerógrafo
ContraCapa de disco
Capa de disco
Capa de disco
Montagem e pintura em aerógrafo
Criação e Arte-final em aerógrafo
Arte-final em aerógrafo
Capa de disco Jejo Cornelsen & Ricky Bols
113
Arte-final em aerógrafo
Capa de disco
Capa de disco
Retratos em nanquim
Arte-final em aerógrafo
Vitrine HStern
Vitrine HStern
Pintura em acrilico com aerรณgrafo
114
Vitrine HStern
Acrilico jateado em aerรณgrafo
Pintura em acrilico com aerรณgrafo
HStern
Vitrine HStern Parati
Vitrine HStern
Acrilico jateado em aerรณgrafo
Vitrine HStern
115
Chapas de Acrilicopintados em aerรณgrafo e pincel
Acrilico jateado em aerรณgrafo
Programação Visual Fjord
Tags, Cartões, Tecidos
116
Ilustrações e impressos
Agendas, Capas de Caderno , Capas de Pastas
Programação Visual Imprimo / Continental
117
Agendas, Capas de Caderno , Capas de Pastas
Programação Visual Imprimo / Continental
118
Foto de Ito Cornelsen
Ilustrações e impressos
Criação e pintura de onibus para catalogo Volvo / com Jejo Cornelsen
Cartaz de Teatro
Pintura em madeira
Arte para lançamento Shopping Iguatemi Metrópolis São Conrado criação de Luis Fiori
Pintura em acrilico com aerógrafo
Pintura de fachada em acrilico com aerógrafo
119
Arte em aerógrafo com Roberto Renner
Arte Final Painel Chopper
Criação e arte Hans Donner e Roberto Renner
Pintura em acrilico sobre madeira com aerógrafo
Aerógrafo e acrilico
Arte para Agenda
Painel Chopper
Pintura em acrilico sobre madeira com aerógrafo
Arte para Agenda
Aerógrafo e acrilico
Arte para Agenda
Criação e arte Roberto Renner
Arte Final
Aerógrafo e acrilico
Arte Final
120
Criação e arte Roberto Renner
Arte Final
Criação e arte Roberto Renner
Arte para Agenda
Aerógrafo e acrilico
Anos 90
LayOut para cartaz “As 7 Vampiras”
Sentado
Lápis e Photoshop
Caneta de Nanquim e Photoshop
Aerógrafo e acrilico
Pintura Casa Olyntho Praia do Rosa 1998
Caneta de Nanquim e Photoshop
Peruano
Ao som
Caneta de Nanquim e Photoshop
Montagem e pintura em Photoshop
Pôr do Sol em Santa Tereza
121
Encarte do disco montagem e pintura em Photoshop
Capa do disco montagem e pintura em Photoshop
Montagem de foto em Photoshop
Montagem de foto em Photoshop
Bolacha do disco montagem e pintura em Photoshop
Capa do disco desenho a lรกpis, foto e montagem
Capa do disco desenho a lรกpis, foto de Irene Santos e Ricky Bols e montagem Encarte do disco montagem e pintura em Photoshop
Montagem de foto em Photoshop
122
Capas de Disco
Capa Flávio Chaminé
Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw
Encarte Flávio Chaminé
Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw
Contra Capa Flávio Chaminé Montagem e arte em Photoshop e Corel Draw
CapaSergio Boré
Montagem e pintura em aerógrafo
Capa Bixo da Seda
Pintura em aerógrafo com participação de Marco Pilar
123
Jazz
Interior
Montagem de foto em Photoshop
Cavaleiros do tempo
Montagem de foto em Photoshop
124
Sax twins
Desenho a lรกpis, montagem de foto e pintura em Photoshop
Montagem de foto em Photoshop
Colagens
Sete de Setembro com Uruguay
Montagem de foto em Photoshop
Sex piano
Paracaidas en regalia
To In Rosa Sul
Montagem de foto em Photoshop
Gouache, lรกpis, montagem e pintura em Photoshop
Montagem de foto em Photoshop
125
Caranguejo das Arabias
Montagem de foto em Photoshop
Estação SP ( Estação Antiga de Bondinho) Noites Cariocas Morro da Urca Painéil em aerógrafo
Porto Seguro Noites Cariocas Morro da Urca
Painél em aerógrafo
Noites Cariocas Morro da Urca
Pizzaria Via Morano
Expo China
Expo China
Painéis Indicadores
Painéis Indicadores
Expo China
Expo China
Painél em aerógrafo
Painéis, mesas, bancos
Painéis Indicadores
Entrada
Expo China
126
Entrada
Expo China
Painéis Indicadores
Painéis e cenários
Sex on the Beach Praia da Ferrugem
Painél em aerógrafo
Cenário Centro Gaúcho de Esportes
Painél em aerógrafo
Via Morano Praia da Ferrugem
Painél em aerógrafo
Cenário Atlântida Festival
Painél em aerógrafo
Cenário Centro Gaúcho de Esportes
Cenário Garotos da Rua
Painél em tecido com aerógrafo
Sex on the Beach Praia da Ferrugem
127
Painél em aerógrafo
Painél em tecido com aerógrafo
Ariariara Pintura em acrilico sobre tela, montagem e pintura em Photoshop
Butterflywoman
Novo mundo
Aquarela
Fred Astaire
Aquarium gota
Desenho em nanquim
Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop
Desenho a lรกpis, montagem de foto e pintura em Photoshop Bols em bolas e cubos
128
Montage de fotos em Photoshop
Ilustrações
Asas sobre nuvens
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Aviso 21Fev99
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Carnaval
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Pintura em Photoshop Mamma’s Alien na Independência Desenho a lápis, montagem de foto e pintura em Photoshop
Aura
Totem
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
129
Cubo icone de site
Totem
Montagem em CorelDraw e pintura em Photoshop
Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop
Explode cor!
Mรกscara
Desenho a lรกpis e pintura em Photoshop
Dedo -duro
130
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilustrações
Búfalo Retrato de autor
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Montagem sobre foto, pintura em Photoshop
Cavalo
Palhaço
Bass player
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
131
Canto de casa
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim, aquarela, montagem e pintura em Photoshop
Touro
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Bússola
Pintura em Photoshop Audio Visual e Cartaz Homenagem á Chaminé
Splash!
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Entre Anjos & Grilos Programação visual sobre desenhos de Zorávia Bettiol
Duo
Deu Bols na linha
Cenário Prêmio Açorianos de Música 2002
Pintura de aerógrafo sobre tela
Aerógrafo
Logo mailing em Photoshop
Roller
Aerógrafo
Caneta de Nanquim
132
Águia
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilustrações
Pirulito
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Boss
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop Comemoração
Criança brincando em riscos
Garota sketch
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Alado
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
133
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Kiss the sky
Montagem em Photoshop sobre foto minha
Surfin Brasil
Montagem e pitura em Photoshop
Máscara sobre o mundo
Desenho a lápis, montagem e pintura em Photoshop
Child of the moon
Aquarela, montagem e pintura em Photoshop
Estabanada
Coeur
Atômicos humanos
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Aquarela e montagem em Photoshop
134
Educação sexual
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilustrações
Triste concha
Concha , medusa y el mar
Na paz o rapaiz
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Jóia
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Noel na estrada
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim, montagem de foto e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
135
Logo Pintura em Painter
Garota com flores
Maquiagem
Montagem em Photoshop sobre foto minha e de Bebeto Alves
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Duo do farol
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Entrevinhos ilustração Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Hippo
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop Títeres
136
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Mouse Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilustrações
Bússola Pintura em Photoshop
Os cinco sentidos
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Construção Desenho a nanquim e lápis sobre verge e pintuta em Photoshop
Desenho em lápis e pintura em Photoshop Lua triste
Olhar sobre as ondas
Lion Desenho em nanquim
Face out
Surfin’
Montagem em Photoshop Cavaleiro
137
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho em lápis e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Garota com flores
Aquarela e montagem em Photoshop
Gewoman
Gata em ferro e bronze
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
De paraquedas sobre campos de girassóis Montagem em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Gattopardo Convite
Jesus
Garota Atômica
Aquarela e pintura em Photoshop
138
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Montagem em Photoshop
Gaúcho
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Ilustrações
A praia, o seio e o parangolé Desenho a lápis e pintura em Photoshop Ilha do Papagaio
Ilha do Papagaio
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilha do Papagaio
Ilha do Papagaio
Ilha do Papagaio
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilha do Papagaio
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
139
Ilha do Papagaio
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Cenário para catálogo de moda
Cenário para catálogo de moda
Cenário para catalogo de moda
Cenário para catálogo de moda
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Criação, montagem e pintura
Criação, montagem e pintura
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura
Cenário para catálogo de moda
Criação, montagem e pintura Cenário para comercial
140
Criação, montagem e pintura
Kromak
Catálogo de moda Catálogo de moda
Catálogo de moda
Criação, ilustr ações e arte final
Criação, still e arte final
Catálogo de moda
Criação, ilustrações, still e arte final
Catálogo de moda
Criação, ilustrações e arte final
Criação, ilustações e arte final e criação e pintura de cenários
Catalogo de moda Criação e arte final e pintura de cenário
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final Catálogo de moda
Criação e arte final Catálogo de moda
141
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Catálogo de moda
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Criação e arte final
Catálogo de moda
Catálogo de moda
Criação e arte final
Criação e arte final
Criação e arte final
Criação e arte final
142
Catálogo de moda
Criação e arte final
Kromak / Marco Andras
Catálogo de moda
Catálogo de fábrica
Criaçáo, montagem e pintura de cenário
Criação e arte final do catalogo e criaçáo, montagem e pintura de cenário
Criaçáo e pintura de cenário
143
Pintura de cenário do Bom Dia Domingo
Pintura com aerógrafo
Pintura de cenário da TVCom
Pintura de cenário do Bom Dia Domingo
Pintura com aerógrafo
Pintura de cenário da TVCom Pintura de cenário do Bom Dia Rio Grande
Pintura de cenário do Bom Dia Rio Grande
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo Pintura de painel para Eleições TVCom
144
Pintura com aerógrafo sobre tela
RBS
Pintura com aerógrafo sobre tela
Pintura com aerógrafo sobre madeira Pintura de cenário do Jornal do Almoço
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo sobre madeira
Pintura de cenário do 24h
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo sobre tela Pintura com aerógrafo sobre tela
Pintura de cenário do 24h
Pintura com aerógrafo
Pintura de cenário do 24h
145
Pintura com aerógrafo
Pintura com aerógrafo sobre tela
Carlinhos Hartlieb abertura de Um risco no cĂŠu
Jungle beat
Aquarela e pintura em Photoshop
Aquarela e pintura em Photoshop
Luz del Fuego
146
Lupicinio Rodrigues
Caneta de Nanquim e Photoshop
Desenho a lĂĄpis, montagem e pintura sobre foto em Photoshop
Anos 2000 / ilustrações e painéis
Michelangelo no Japão
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Revolto
Landscape
Pampa
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Pintura acrilico sobre tela 2,40 X 1,40
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
147
Down
Desenho am Manga Studio e pintura em Photoshop
Mosaico
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Na calma o surfista
Nadadora
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Ouro, água e saúde
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Por alí
Paisagem sensorial
Paisagem
Aquarelas, foto, montagem e pintura em Photoshop
148
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Orchidae
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Anos 2000 / ilustrações e painéis
Montagem sobre fotos de Alfonso Abraham
Painel para o CEASA
Painel para o Memorial do Rio Grande do Sul
Tigre & Golfinhos
Desenhos a lápis e pintura em Photoshop
Little girl
Desenho a lápis e pintura em aerógrafo
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
149
Golfinhos
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Asas
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Pé na estrada
Tree
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis,montagem e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Independência
Vinheta
Sonhadora
Montagem e pintura em Photoshop
Sopro no tempo
Photoshop sobre foto
Estranho de asas
Desenho a lápis e pintura em Photoshop Relógio das palmeiras
150
Desenho em nanquim e pintura em Painter
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Anos 2000 / ilustrações e painéis
Pássaros & Liberdade
Pintando partes do velho
Terra, Lua & Olhos em campo de girassóis
Desenho a nanquim e pintura em Photoshop
Desenho a nanquim e pintura em Photoshop
Montagem e pintura em Photoshop
151
Suspiram blues
As horas
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Deco
A felicidade é uma arma quente
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis, montagem e pintura em Photoshop
Onda em círculo
Aquarela
Paisagem aérea
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Aquarelas e montagem em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho a lápis, montagem de foto e pintura em Photoshop
Praia do Rosa
152
Anos 2000 / ilustrações e painéis
Objeto na paisagem
Montagem e pintura em Photoshop
Aquarela e pintura em Photoshop
Só no pézinho
PoA Subs
Surpresas
Aquarelas, foto, subs de Ricardo Finocchiaro e pintura em Photoshop
Aquarelas, montagem e pintura em Photoshop
153
Tipos Bols
Aquarela, montagem e pintura em Photoshop
“As aquarelas” (*) de Ricky Bols foram encomendadas especialmente e ilustram o volume 3 “Lili inventa o mundo” do projeto “Coleção Mario Quintana para a infância” realizado e concebido em 2009 pela Aprata e patrocinado pelo Grupo CEEE, através da Lei de Incentivo à Cultura do RS-LIC/SIM. Mais informações: www.aprata.com.br/projetos/33 Aprata- Projetos / Coleção Mario Quintana para a Infância - volumes 1, 2 e 3 www.aprata.com.br
*Aquarela
*Aquarela
*Aquarela
*Aquarela
*Aquarela
* Aquarela
Ilustrações para o livro Lili reinventa o mundo Braille Quintana
154
*Aquarela
*Aquarela
*Aquarela
Quintana Braile / Lili inventa o mundo
*Aquarela *Aquarela
*Aquarela
*Aquarela *Aquarela
*Aquarela
* Aquarela
155
*Aquarela
Luiz Antonio Catafesto
Carmel Ferreira Bolsoni
Mutuca Weyrauch
Bruno Schmidt
Carlos Asp
Leo Ferlauto
Cristina AragĂŁo Portela Nunes Jaqueline Ferri
Cida Pimentel
156
Retratos
Jorge Irigoyen Bolsoni
Caio Fernando Abreu
Deborah Finocchiaro
Edgar Vasques
Kuki Band
Fraga
Renato Endres
157
Luczizz Dy Katransky
Cezar Pegoraro
Rossana Sastre Sacco
Nanche LasCasas
Maia Sprandel
Marco Pilar
Pablo Fabian
Sergio Mazzali
Ricky Bols
Claudio Siboney
158
DedĂŠ Ferlauto
Retratos
Luiz Talema
Ronaldo Morsch
Francine Aita
Jejo Cornelsen
Rossana Sastre Sacco
Maria Luiza Tisi
Santiago Ricky Bols
Neneca Parreira
159
Boneco d’água
Desenho em nanquim arte em Photoshop Onde está o boneco?
O bilhetinho
Michael
Desenho em nanquim arte em Photoshop Canoa à margem
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Boy
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Punta del Este
Pássaros Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
160
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
The Boss
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Ilustrações e Capas de Disco
Capa CD Vagalume de Claudio Vera Cruz
Elefantes & Golfinhos
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Coração de arvore
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Capa Caixa de 3 Cds
Bebeto Alves em 3D
Punta del Este
Mosteiro
Montagem e pintura em Photoshop
Redenção
Montagem de fotos em Photoshop
Jazz & The City
Floating face
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
161
Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para China
Cartão de visita
Calendário do Campeonato Brasileiro para 2007
Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Dubai
Calendário do Campeonato Brasileiro para 2008
Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Dubai
Kit de divulgação da transmissão do Campeonato Brasileiro para Asia
Folder do Campeonato Brasileiro para 2007
162
Clube dos 13
DVD comemorativo aos 20 do Clube dos 13
Sacola para divulgação do Campeonato Brasileiro de 2007
Telefones Úteis
Folders para divulgação do Campeonato Brasileiro de 2007
Revista para divulgação do Campeonato Brasileiro em Singapura
Medalha comemorativa aos 20 anos do Clube dos 13
Livro divulgando o Brasileirão e os Estádios da Copa
163
Cartaz Outdoor para show
Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz Lambe-Lambe para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz para show
Cartaz Lambe-Lambe para show Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz Lambe-Lambe para show
Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Arte em Photoshop e CorelDraw
Arte em Photoshop e CorelDraw Cartaz para show Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
164
Arte em Photoshop e CorelDraw
Abstratti
Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz Lambe-Lambe para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz para show
Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz Lambe-Lambe para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz para show
Painel pintado sobre tecido Cartaz para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Cartaz Lambe-Lambe para show
Arte em Photoshop e CorelDraw
Arte em Photoshop e CorelDraw
165
Arte em Photoshop e CorelDraw
Pintura em acrilico: pincel e aerรณgrafo
Paisagem
Paisagem com fugazes
Nanquim mais pintura em Photoshop
ViolĂŞncia infantil
Montagem com aquarelas e foto em Photoshop
A bahiana
Migalhas
Bota coberta de mariscos na praia
Montagem e pintura em Photoshop
Desenho a lĂĄpis
e pintura em Photoshop
Nanquim mais pintura em Photoshop
Foto mais pintura em Photoshop
Retalhos de areia & allucinations
166
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Ilustraçþes
PĂŠs
Montagem e pintura em Photoshop
Golfinhos
Pulando sobre cogumelos
Heart of Stone
Montagem em Photoshop
Ricky Bols e Maia Sprandel
Montagem em Photoshop
Ricardo Finocchiaro da Sindicatis Bando Pintura sobre foto de Danny Bittencourt Photoshop
Montagem com aquarela em Photoshop
Bela em aguas com medusa
Horse Power
Montagem sobre fotos em Photoshop
Montagem em Photoshop
167
Montagem com aquarelas e foto em Photoshop
Cartaz de Show
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Capela do Jazz Mural
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Logotipo CartĂŁo Postal Folder
Anilho de Charuto
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Six
Janelas do Jazz
Montagem em Photoshop
Painel do Rock
Montagem em Photoshop
Pintura de mesas em aerรณgrafo
Jimi Hendrix Pintura em Photoshop sobre foto
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Rio
Mulher
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
Aquarela e pintura em Photoshop
Rio
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
O Pequeno Príncipe
Rio de Janeiro
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Olhos diabólicos
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
Fenavéia 2012
Montagem e pintura em Corel Draw e Photoshop
Desenho, xerox e pintura em Photoshop
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Anos 2010 / Ilustrações
Pé no chão
Naked in the grass
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
Aquarelas e Montagem em Photoshop
Simpático
Desascelerando em paisagem
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
Mama ET
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
Aquarela, nanquim montagem e pintura em Photoshop
Arara Aportando em Imbituba
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Peixe
Pintura em Photoshop
Máscara facial
Montagem e pintura em Photoshop
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
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Na praia
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Garota tocando no deserto
Desenho a lapis e pintura em Photoshop
PiĂŁo rodando na areia
Garoto, pitanga, mĂssil, bota, escondido na selva Sketches on the sand
Tormenta em azul
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Pintura em acrilico sobre telae montagem de aquarela em Photoshop
Areia
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Desenho em Manga Studio mais pintura em Photoshop
Anos 2010 / Ilustrações
Woman
Garota em riscos
Pintura em Corel Painter
Desenho a lápis
Idéia
Desenho em lapis e pintura em Photoshop
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Visão de criação
Desenho em nanquim e pintura em Photoshop
Paisagem
Yang& Yin
Desenho a lápis e pintura em Photoshop In another land
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Na onda Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Montagem co aquarela e pintura em Photoshop Seios
Pensadora
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Semeador Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
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Caroneiro
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Guitar
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
Desenho a lápis e pintura em Photoshop
O giz e o mouse Desenho em Manga Studio e pintura em Photoshop
Anos 2010 / Ilustrações
Fingerprint percussion
Desenho nanquim e pintura em Photoshop
Capa Esquina Maldita de Paulo César TeixeiraEtra Sobre foto de Dulce Helfer e Design de Clô Barcellos
Fingerprinteyes Fingerprinteyes texture
Desenho nanquim e montagem em Photoshop
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Desenho nanquim e pintura em Photoshop
Em uma pequena casa, numa vila de pescadores, entre cães e gatos, a vista perdida prum mar desencontrado e barullhento. Chain lighting it feels so good. Compromisso não tinha. Se queria cumpria, senão passava ao largo e fazia de conta que entre conhecidos o que contava era o que se sabia um do outro. Mais que cúmplices, partners de nada, de mesma escada. Caminhava na areia, os dedões amassando, afundando, afastando no pesado as pegadas que ainda restavam. Sentou na rocha esverdeada de musgo e sal,olhou pro horizonte e foi aí que decidiu. Não que não estivesse pensando no assunto,aliás não lhe saia da cabeça. Já tava de saco cheio de pensar naquilo. O dia todo...já pensava em procurar sereias. Mordida? Não....Era mais fácil se arriscar com tubarões. O olhar se concentraria nos dentes afiados,seria mais fácil resistir. Desviar. Zunir. É..era isto. Pirelli é mais pneu. Saida pela esquerda. E rápido. As pegadas da areia indicavam o caminho. Futuro. Pesado. Incerto. Movediço. Com direito à paisagem. Menos mal. Subindo a estradinha no Sul ladeia-se o mar. Mais adiante a prainha. Parece uma cabeça deitada na grama espraiando-se ao sol. De cima o nariz até parece um escorregador, nem pensar em se mandar. A bunda na areia dura seria o mínímo.Também o que se pode fazer numa praia senão ficar com aquela linha ao fundo, água embaixo nuvens encima. E seja o que Deus quiser. É um dos poucos momentos pois ao dormir a cuca tá ali afiada, apontada e ali não...é tudo longe . Quase transpa. Pure feeling. Good vibrations. California dreamin’ dos meus sonhos. Golden slumbers. Fui. A ideia era aquela mesmo. O que importava não eram meus sonhos. Olhando pro dedão do pé o mar ao fundo vi o quanto um momento sutil esquenta uma paixão. Nem lenha nem papel. Acende com meu beijo.
Sucesso O que define a eletricidade que flui por cada poro Como um extase multiplicado em todas as facetas da pele Um mosaico de cores uma colcha de retalhos de sentimentos É pouca palavra Garantia do que previsão do que Sketch do que Layout do que Do que vamos fugir Não tem è só curtir e descer a ladeira Rebolando Roubando Do tempo a crença na sorte Guardado No bolsinho das moedas Como um talismâ de pitangas
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Poesias Ele é básico Vai do preto ao branco sujo. Suave como poucos, sutil feito fumaça. É precavido. Não menos arremete qual lança em direção ao papel, Deixando um borrão com um brilho incômodo sem concerto. Pra quem toca, é sempre um prazer deixá-lo deslizar o papel branco, Contornando as formas como um passeio por colinas um fim de tarde. Cria volumes onde forma não existia desde o começo da nossa vida. Poderia ser uma arma, mas raramente é visto como uma. Aqui é com esfuminho. É o que arrasta o grafite, o carvão pelo papel esfumaçando o branco. E me colocando no lugar. Vem, vem ver. Em desenho colocamos o risco como bailarino Joga uma perna prá lá mas até certo ponto e quando for... concentra nela meia alma. Não precisa nem saber porque mas..faça. É uma dança contida mas mesmo sem ter o mesmo esforço fisico, tem o mesmo gosto,reconhecido, relembrado. Pode ser um espelho ou só uma máscara de papiermaché Rindo ou fazendo um muchocho. Não tem nada prá achar...vê-se. Pode-se escrever um livro sobre cada curva ou só deslizar por entre elas. Às vezes parece um copo sendo cheio d’água na hora da sede noutras como se puxassemos uma vaca por uma corda colina acima. São só riscos,traços, linhas, pontos, resvalos dum tombo. Manotasso milimétrico a lápis. Possa com minha face aqui estampada ser rumo sem daqui sair ver-te toda sim olhando tudo em volta queimando em movimentos Arde na vista Fique esperto Por tudo que ouço sou rebelde do osso. Curto e aceso desde guri brinco Seco é o cuspe que tá preso na garganta O torto é o errado da vida que corre Onde não tem porto não tem cais Tem só correnteza na cabeça Molhar que é bom só no banho Este limpa e conforta Neste rio de gotas que guardam lágrimas O choro é uma máscara sem graça Um chato entre cabelos Que se agarra e não solta Flor que nasce nesta paisagem não teme o esplendor Não se esconde ou despetala Vira simbolo E marca
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Poesias
Sentado numa cadeira,tarde da noite , começo a escrever o que me vem à cabeça. Penso no dia de hoje, na correria atrás de trabalho, das pequenas coisas que ilustram e alegram a nossa vida. Um ônibus atrás do outro, até que os mesmos ônibus. Qualquer dia destes estou começando a cumprimentar os motoristas. Não demora muito. Naquele banco as ideias vem e vão rapidamente. Às vezes guardo, às vezes não. Até anoto noutras poucas. Grandes ideias. Outro dia acordei no meio da noite só prá escrever uma. Até agora não usei. Só podia ser uma coisa gráfica das letras irem mudando de cor à medida que o teor do texto também o fosse. Agora por exemplo seria laranja e a medida que o sono fosse chegando ficaria um azul bem vivo. Quando eu estivesse quase dormindo seria de um púrpura até pretear mesmo. E as luzes da máquina passariam a noite acesas como que esperando que o dia viesse a elas se juntar formando um flash espoucando nos meus olhos. Outro dia ,outros pensamentos, outro momento. Tempo de passar em revista os dias já vividos e colocar em pauta os que virão. Tento colocar um rumo nestes ponteiros sem deixar que para trás andem, sem deixar que caindo se quebrem. É um dia de andar. Caminhar,caminhar,caminhar... Prá onde até sei porque talvez no caminho descubra. Passo a passo, pé ante pé, uns atrás dos outros, como se o próximo fosse o ultimo e o anterior o primeiro. Que sensação! É como um bebe aprendendo a andar. Sem mãe. Sem pai. Um novo andarilho. Gosto desta imagem dum homem andando só no deserto. Ë uma imagem forte de dois outros fortes. Forte como um peso velho de um quilo todo enferrujado mas experimenta deixá-lo cair no dedão. Crisssssss.... Ufa. Certas coisas acontecem na vida da gente como que para testar-nos. Nada que fique guardado muito tempo na nossa memória. Só um momento. Importante. Crucial. Tipo segura esta. Já passei diversas vezes por isso. Experiencias fortes, emocionais,ternas e incertas. Vamos nos lembrar em instantes em que como se uma letra chave fosse pronunciada e disparasse um comando que obrigasse a recordação a se descobrir.
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Agradecimento
Gostaria de agradecer a voces: Odilo & Susana, Jorge e Rô, Paulico, Martinha e Beto. Laurinha e Ronaldo, Cako e Daniel, meus sobrinhos queridos, Tio Mario & Teresinha, Gio, Re, Tono, Neco, Marcio, Cris, Fonso, Tulio e Nanda, Tio Mareu, Hugo & Susana, Foguinho & Kuki, Maria Angélica & Alemão, Tia Dorita & Pedro, Diego & Iara, Maninho e Alejandro, Braulio, Milton, Sergio, Ney, Sylvio, Marcon, Fernando, Lúcifer, Brasa, tchurma da Bordini, Alziro, Bruno, Monica, Irene & Ruby, Dagui, Marquinho, Bocajão, Neca, Mutuca, Chaminé & Martha Helena, Lucrécia, Nega Lú, LP Gallina, Beti, Carminha & Zé Mauro, Magro Nilo, Vavau, Betinho, Uda, Edgar, Julio, Mario & Milton, Maciel, Danilo Nunes, Danilo Jacaré, Toninho, Ivan, Neca, Gerson, Sandra, Kátia, Ana, Lu, Harre, Morongo & Mayra, Roberto, Ricardo e Renato Renner, Chico Bomba, Gatinha, Claudio Vera Cruz, Mauricio, Sonia, Carlinhos, Zé Vicente, Magali, Deio, Felipe, Bebeco, Mitch, Alex, Frank, Lycia, Marcia & Liza, Sibelle, Zali, Nazaré, Peixe, Neny, Dedé, Tereza, Carlos Callage, Bebeto & Claudinha, Bebela, Zé Varella, Eduardo, Lucinha, Lidinha, Paulo, Buffara, Jejo, Ito, Bolinha,Consuelo, Lolo & Cleusinha, Salomão & Bertha, Verinha, Leda, Cirinho, Bere, Eliane, Barca do Sol, Lula, Duda Anisio, Paulo Pilla, Padilha, Helinho, Lorna, Alceu, Ivan Cardoso, Ezequiel, Sepe, Toco & Nizinha, Lontra, Blue, Juarez, Kiko, Keko e Brito, Sergio Bini, Alemão e Ana, Charuto, Zéio, Moita, Zézinho, Loma, Glórinha, Maia, Rogerio & Fernanda, Iris, Regina, Beleléu, Nora, Rosane, Rosana, Arlita, Silvio, Claudio, Joca e Sirui, Bill, Anelise, Ana, Toca, Rosane, Monica, Fabinho, Luisinho, Casarin, Jakka & Biba, Mimi, Marcão, Duda, Zé Alfredo, Edinho, Monica, Teresa, Cassia, Adriana, Lauro & Therezinha, Delfina, Beth & D, Maria, Guto, Shirlei, Katia, Vania, Chacrinha, Humberto, Martinha e Roberto, Grimaldi, Mauro, Ivan, Betinha, Samaya, Alice, Sarita, Maria Lucia, Mauro, Aline, Debi e Antonio, Daniela, Neneca,Fernando e Carmen, Karen e Katia, King Jim, Lena, Marcus e Nice, Jardim, Cauduro, Siboney, Ida, Corazza e Marcia, Felipe, Vicente, Calé, Cléria, Laura e Nino, Beth, Cris, Gabriel, Natasche e Marina, Nilo & Nenen, Sepeh, Zé Granja, Marcelo, Ivan, Homerinho e Kita, Henry e Karen, Marta, Olyntho, Fumaça, Papito, Thales, Melissa, Alcides, Lenita, Rossana, Pedro e Denise, Edgar e Dalila, Marcos e Ana, Claudio e Susana, Rogério e Lisia, Mariana, Paulinho e Ricardo, Plinio, Zed, Rosane e Zé, por terem participado da minha vida, em especial a meus filhos Ricardo e Carmel, por todos os momentos que convivemos e por terem sido inspiração prá eu tocar o bonde em frente.
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