Paradoxo do cotidiano II - Gerson de Souza - PARTE 4

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Parte 4

Capítulo 6 - Assessoria

Renata Neiva

A narrativa em tempos de consciência histórica

ocê sabe que jornalista não pode dar entrevista não… nós estamos só no outro lado” (risos). É com essa frase de empatia que a jornalista Renata Maria de Oliveira Neiva anunciava já estar preparada para realizar a entrevista, sentada na carteira em uma das salas de aula da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Uberlândia. A entrevista se estendeu por uma hora e dez minutos em que é possível mergulhar em seus dilemas e posicionamentos sobre essa complexa produção de sentido de ser jornalista. Embora sua entrevista decorra na área de assessoria de imprensa, Renata Neiva deixa claro que se sente mais livre em seu trabalho no telejornalismo.

A trajetória profissional revela seus caminhos: Renata Neiva começou em rádio, como repórter de polícia. Depois atuou no jornal impresso, em Juiz de Fora. Trabalhou na televisão como repórter e depois nos Estados Unidos numa filiada da RTP, como repórter e como uma apresentadora de um bloco dirigido para comunidade de língua portuguesa. A RTP é uma TV a cabo. Retornando ao Brasil, mais precisamente em Uberlândia, atuou como editora adjunta do jornal Hoje em Dia, editora de texto. Trabalhou como editora da TV Paranaíba quando ela era Bandeirantes. Na área impressa, trabalhou como editora de política e de cultura do Jornal Correio de Uberlândia. Chegou a montar uma TV Educativa, em Governador Valadares, a TV Rio Doce, canal 15. Renata Neiva ficou responsável pelo Jornalismo e coube a Christiane Pitanga, montar a parte de design. Na TV Integração, afiliada da Rede Globo, trabalhou como editora-chefe e apresentadora do MGTV primeira edição por 11 anos. E, atualmente, passou no concurso de assessoria de imprensa na UFU.

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Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no período de 1984, Renata enfatiza que se formou em 1988. Como ela faz questão de frisar, estava na universidade no finalzinho da ditadura militar (1964-1985). O primeiro aspecto da entrevista é entender como foi a decisão e os dilemas na definição de fazer o curso de Jornalismo. Renata explica os impasses que a acompanharam na primeira decisão para efetivar a matrícula no curso de Jornalismo.

Eu acho que como todo jovem eu tive muitas dúvidas se eu queria fazer comunicação mesmo, fiquei em dúvida entre Medicina, Engenharia, Arquitetura, Comunicação... mas o que pesou foi o gosto pela leitura, pela escrita, gostar de gente, de conversar, curiosidades pelas pessoas... isso foi o que pesou pela escolha do curso, principalmente por gostar muito de escrever. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Assim como toda definição do percurso pelo qual o sujeito segue, o presente é sempre um período de reorganização da memória do passado. Trata-se do momento em que o passado é colocado em movimento, e, com isso, determinados acontecimentos, que até aquela data se perdia em meio ao universo de fatos ocorridos na vida, passa a ser elevado como fator de origem do que se é no presente. É com este mergulho que Renata Neiva passa a justificar o elo histórico para produzir o sentido de sua decisão no passado de ter definido o curso de Jornalismo para fazer a graduação.

... e uma brincadeira que eu tinha desde de criança quando eu ganhei um gravador grande, na época denominado ‘juruna’, por causa de um deputado indígena que tinha esse gravador no Congresso e eu tinha mania de gravar entrevistas com as pessoas, ainda na pré-adolescência. E aí eu acho que isso pesou também, porque eu tinha vontade de entrevistar as pessoas e de escrever sobre essas entrevistas. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Os conflitos que ora se voltam para articular cursos em áreas tão diferentes só podem ser explicados pelos interesses dos mesmos sujeitos que o percorrem em sua experiência vivida. O que para alguns soa como contradição, para o outro se apresenta como percurso em que percorre dois caminhos: o primeiro está na fase de reconhecer que essas áreas díspares perpassam de alguma forma o seu ser. O segundo, estabelece que em algum momento do passado, determinada cena, atitude ou reflexão é reconhecida como elo. E é neste refazer o caminho que o sujeito compreende que é possível e coerente materializar na concretude, o pensamento, alimentando a sua potencialidade que o conduzirá para o próprio reconhecimento como pessoa.

O segundo momento está em definir somente um desses caminhos: encontrar um elo comum no mergulho ao passado. E, nesse momento, vem a primeira problemática teórica. Qual a referência para definir o percurso da vida diante dos elementos dispares mas que o sujeito considera todos com coerência? É este o primeiro momento em que o sujeito precisa movimentar o passado em busca daquela concretude que justifica a decisão do presente. Para a entrevistada Renata Neiva, ganhar a bolsa de estudo no cursinho, o reconhecimento de ser estudiosa, somado a pressão externa para cursar Medicina, são fatores que a conduziram ao estado de conflito de seu ser até o último instante do primeiro ato:

Mas eu me lembro que na época não tinha internet e a inscrição era feita na pró-reitoria de graduação da UFJF e o campus da universidade é bem afastado da universidade. E nós ficávamos em uma fila para fazer inscrição. Eu fiquei muitas horas nessa fila com o papel de inscrição na mão. E eu deixei muita gente passar na frente e acabei optando por Comunicação. Assim: na hora pesou mesmo esse gosto pela leitura e pela escrita. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Há outro fator que precisa ser esclarecido aqui neste argumento para entender a definição do caminho de Renata Neiva para tomar a decisão de ser o Jornalismo, como o seu curso de graduação. E esse

fator está diretamente articulado ao que ela adicionou como expectativa do curso.

eu entrei no curso para trabalhar em impressos, eu queria trabalhar em jornal impresso e havia toda uma expectativa. Eu acho que a gente é muito influenciado assim por cinema, pelos filmes, aqueles papéis de jornalistas investigativo que vai de uma certa forma mudar o mundo... a gente é muito novo quando entra. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A expectativa é um elemento fundante quando se efetiva determinada decisão, principalmente quando se resolve dilemas, como revelado por Renata Neiva. Primeiro surgiu a dúvida sobre qual curso seguir: Medicina, Engenharia, Arquitetura, Comunicação. Ao definir por Jornalismo é preciso definir um horizonte de sentido que remeta a coerência para si mesmo do valor da decisão. Ao olhar para o passado, Renata então reconhece que tomou força a representação do jornalista investigativo, a partir da influência dos filmes no cinema. Uma profissão que permite investigar, decifrar a realidade, enfrentar seus dilemas e, dessa forma, contribuir com seu trabalho para mudar o mundo. E, ao mesmo tempo, ela revela, no sentido de pragmática, o desejo de trabalhar em um jornal impresso. É com esta configuração de identidade que Renata Neiva estrutura suas expectativas iniciais para produzir sentido sobre o porquê é importante fazer o curso de Jornalismo.

Mas as expectativas que se fundam ou perpassam pelo imaginário, como esse de filmes sobre jornalistas, em determinado momento é levada a confrontar com a realidade. E é nesse confronto que o próprio sujeito passa a reconhecer e enfrentar o grau de suficiência da justificativa apresentada a si mesmo como decisão. É assim que nesse processo Renata Neiva mergulha em seu segundo dilema de formação.

Eu cheguei no terceiro período e cheguei a trancar e fiz vestibular para Economia e passei, aí depois eu voltei. Cheguei a ter uma indecisão.

Eu não cheguei a fazer matrícula em economia, mas eu cheguei a trancar um período que foi antes de chegar as disciplinas de jornalismo. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

As horas na fila diante do estado de tensão para definir pelo caminho do jornalismo, diante da possibilidade da medicina, não a deixou na elaboração da perspectiva e dos primeiros anos de curso. Como é possível avaliar o currículo quando o sujeito manifesta que, do entusiasmo inicial passa para a inquietação, por não apresentar disciplinas de Jornalismo? Isso significa, como angústia para Renata Neiva, que a estrutura curricular aplicada na prática deixava obstáculo para que os discentes pudessem visualizar a profissão. Esse é o aspecto inscrito no dilema manifesto da jornalista.

Meu dilema era que estava demorando para acontecer. Mesmo assim, eu não via a profissão mesmo. Estava muito teórico, muita discussão na área de humanas, bons professores, mas assim, cadê? Eu queria fazer jornal, eu queria colocar a mão na massa, eu já entrei no curso para ir para o mercado e eu não via nada disso. A gente não via os laboratórios, a gente ficava afastado do outro lado do campus, o campus lá é único, é um campus só, enorme e a gente ficava do outro lado. Então, ia dando uma ansiedade muito grande até essa desistência depois eu resolvi voltar. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Nem é necessário estabelecer, por meio desse trecho, que o primeiro elemento de confronto está no envolto de sua expectativa: o trabalho do jornalista é para mudar o mundo. Mas ao estar na universidade, as disciplinas que a formariam para essa atitude social são distanciadas dos primeiros semestres de formação, conforme o currículo. Mas o que significa essa ansiedade de “colocar a mão na massa” se as questões que levariam ao investigativo do ser jornalista se prolonga pelo tempo? E em que o caminho definido como formativo passa a ser interrogado em seu valor substantivo? Quanto tempo é suficiente para que o jovem seja levado ao questionamento de sua própria decisão formativa? A resposta, ao fugir do horizonte mecânico, é considerar que está diretamente vinculada à intensidade dos dilemas vivenciados por

cada sujeito em cada tomada de decisão. O trancamento de um semestre, a proposta de ir fazer Economia, o retorno para Jornalismo.

Ao tratar de sua memória de formação teórica, Renata Neiva testemunha o contexto em que originou a sua primeira frustração como graduanda do curso de Jornalismo. Ao identificar, como experiência vivida, que as disciplinas específicas para o Jornalismo só começariam no quinto período ou traduzindo: depois de dois anos de curso.

Demorava muito. Primeiro a gente tinha toda uma preparação introdutória das disciplinas e só depois chegava. Isso causava uma ansiedade, tinha muitas pessoas que desistiam, tinha uma evasão, porque demorava a ver mesmo as matérias. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

O distanciamento das matérias específicas para o quinto período se somava ao próprio afastamento do prédio do Jornalismo.

Eu lembro que os dois primeiros anos, nós nem íamos para o curso de jornalismo, assim onde ficava o prédio. Nós íamos para um Instituto que se chamava ICHL, que era Instituto de Ciências Humanas e Letras, que era do outro lado do campus. Nós nem víamos os professores de jornalismo, nós nem os conhecíamos (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Eis o limite da frustração do curso: distante do prédio do curso, sem conhecer os professores específicos do Jornalismo e com o currículo que estabelece a introdução ao jornalismo no quinto período. Soma-se a isso, as outras desistências e evasão do curso. Esses fatores criam um cenário contextual em que se torna necessário confrontar sua decisão de escolha profissional. Mas é preciso desviar o olhar para o contraditório da frustração para se chegar a outro significado produzido pelo sujeito. E ressoa como primeiro aspecto esta faculdade de identificar que a consciência da crise permite entender a realidade de uma forma plural. E as

perguntas podem ser então encadeadas envolta nesta complexidade: qual o sentido dessas disciplinas para o meu processo de formação como jornalista? E de que forma as disciplinas práticas estão realmente contribuindo para que eu possa ter capacidade crítica para “mudar o mundo”?

A graduanda que decidiu optar pelo jornalismo com o objetivo de ir para o mercado, anos mais tarde, reconhece que as disciplinas teóricas contribuíram para qualificar seu trabalho prático. Primeiro, reconhece o sentido da formação cultural possibilitada pelas discussões e entendimentos conceituais. E segundo, a diferença que ultrapassa a técnica da entrevista, em que o mais importante do que como fazer as perguntas está sobre qual concepção a pergunta direcionada ao meu entrevistado, está vinculada. É o que ela denomina de ter consistência.

Mas e quando, no quinto período, vieram as disciplinas práticas: qual a avaliação que Renata Neiva faz hoje da importância desta formação na universidade? Essa é uma pergunta que tem duas variações: a primeira está no aprendizado como graduanda do curso; a segunda, refere-se ao momento em que ela vai para a redação e constata os limites dos seus aprendizados. São dois momentos diferentes que possuem, de certa forma, momentos singulares de tensão e conflito. É preciso também contextualizar a experiência vivida de Renata Neiva para entender como se estende aos dias atuais.

A decisão para permanecer no curso a leva hoje a identificar aspectos que deixaram de ser tratados na graduação, cuja falta se sente na redação do jornal. Mas os outros que marcaram-na como positivo, tem nome

Nós tínhamos uma professora Maria Lúcia Cardoso que era muito boa, que ensinou a fazer lide, sub-lide, e ela falou: o lide não é tão simples assim e a gente ficou seis meses fazendo aquilo. Ela falou que um bom profissional sabe fazer isso pois depois a pessoa se forma e não sabe fazer. E a gente ficou muito tempo fazendo e refazendo porque ela

falou que aqui esta matéria, ela mandava a gente refazer, fazer, refazer, fazer, refazer, refazer. E aquilo, às vezes, dava uma frustração, uma raiva, mas hoje eu entendo o porquê daquilo. Ela colocava no quadro os sinônimos dos verbos pra gente usar, sabe, era um exercício de refazer, fazer, refazer, fazer e era na máquina de escrever. Você embolava o papel, joga no lixo e tinha que fazer de novo. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A descrição da jornalista revela que o ensino aprendido em uma máquina de escrever, no procedimento metodológico do refazer e refazer, a levou, depois de um bom tempo, a identificar o quanto essa prática lhe ajudou no mercado de trabalho. É importante entender como a descrição, em que inclui o nome do professor, define o momento em que a graduanda passa a se encontrar com aquilo que almeja na profissão.

Se por alguma razão, o ato de refazer se ressignifica como distante da contingência de reforço behaviorista, em que o treinamento se assemelha ao técnico, é porque a teoria passou, na história de Renata Neiva, a ter um peso diferente para atuar na profissão. A iniciar pelo caminho de formação em mestrado no programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação da Faced/UFU e em seguida, como doutora em Educação, na linha de Historiografia da Educação (UFU). No campo profissional, Renata Neiva atua como jornalista e diretora do Departamento de Comunicação da UFU.

A ansiedade de ir para a rua, entrevistar as pessoas, escrever texto foram amenizadas também com a aula de rádio, com o Prof. Márcio.

Ele nos levava para a feira livre ensinando improviso em rádio. Era um exercício que era livre e ele falava que o feirante era um ótimo improviso e lá em Juiz de Fora tem alguns calçadões dentro da cidade. E ele fazia um exercício da gente descer com o gravador nesse calçadão e ele “falava não tenta fazer o autoengano da pausa, tenta descer com o gravador narrando tudo o que vocês estão vendo nesse exercício de rádio”. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A aula apaixonante de Rádio a levou, no oitavo período, a realizar trabalho em radiojornalismo. Não é por menos: a liberdade de improvisação somada a esse contato com a comunidade configura o retrato da narrativa de Renata Neiva em fazer a prática do jornalismo. Até porque trata-se da disciplina prática que tanto buscara como referência para produzir sentido sobre a definição de ser jornalista. A doutora defende que o presente lhe possibilita entender a importância da teoria acadêmica no trabalho jornalístico.

Por outro lado, Renata Neiva confessa que há outras coisas que só conseguiu mesmo aprender depois de ter deixado a universidade. Entre essas disciplinas está Assessoria de Imprensa.

A parte de assessoria de imprensa mesmo, eu tive uma disciplina só, que foi mais ligada a corporação, empresa. E a minha experiência é com instituição pública e foi com a área de saúde. E eu não tinha a menor ideia de como se tratava a questão de área de saúde: ela tem toda uma minúcia, como você trata um boletim médico, por exemplo, como que você divulga um estado de um paciente... eu tive que aprender aqui fora. Então a faculdade não me deu isso, não me deu essa ferramenta. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A ausência dessa ferramenta foi sentida em sua experiência no mercado de trabalho. Não é sem motivo que um dos desafios expostos da carreira foi implantar a assessoria de imprensa no Hospital de Clínicas da UFU. A discente que deixou de fazer Medicina para cursar Jornalismo, que teve somente uma disciplina de assessoria, passou a conviver com médico para poder entender todo o contexto de sua nova realidade profissional. É diante desse desafio profissional que o aprendizado prático passa a ser avaliado agora sob outro prisma. Sem referência, é preciso iniciar o trabalho na área problematizando a construção de conhecimento sobre a prática.

A experiência de assessoria trouxe outro elemento afirmativo: a imprevisibilidade e a responsabilidade do jornalismo. E, como constitutivo dessa discussão, a ética. A narrativa de Renata expõe

com clareza como a definição do sujeito de que trata a matéria leva a um grau de responsabilidade maior. E esse procedimento variável não se trata de ensinamento de universidade.

Então quando é o be-a-ba, quando você está cuidando de buraco de rua é uma coisa. Mas, por exemplo, quando você está em uma assessoria de um hospital público, que morre uma criança durante uma cirurgia e que você sabe que ela morreu porque o médico não estava na sala. E porque ele não obedeceu todos os critérios que ele tinha que ter obedecido. E aí a família chama a imprensa toda e que você tem que falar em nome do hospital. Faculdade nenhuma te ensina qual vai ser seu posicionamento ali em nome da instituição e naquele momento você tem um sofrimento muito grande: E agora? Você vai defender esse sujeito? Então, tem situações que ninguém te prepara para isso. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Os dilemas também percorrem outras questões prementes para a ética no Jornalismo: trata-se da ideologia da empresa. A experiência de Renata Neiva em assessoria no Hospital das Clínicas lhe dá sustento para realizar determinadas afirmativas no presente. Ela deixa explícito que:

Na assessoria o que prevalece é a ideologia da empresa, sempre. Por mais que você tente, é claro que sempre escapa: o discurso é neutro, mas chega a ser frustrante em determinados momentos, porque a palavra final é da direção. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

E como lidar com esse sentimento de frustração, principalmente quando se pretende fazer jornalismo tendo por base a ética e tendo como diagnóstico que o prevalece é o discurso ideológico da empresa em assessoria de imprensa? Como lidar com esse sentimento de frustração?

É muito difícil lidar com essa frustração. É muito frustrante porque nós jornalistas nós temos um compromisso com a notícia, com a informação, com o público. E quando você percebe que há um interesse nesse silenciamento ou então nessa substituição da notícia por um interesse político, nossa é muito frustrante! Principalmente para os

jornalistas sérios é um momento em que... no meu caso eu costumo até somatizar isso assim. Até com enxaquecas, eu fico muito frustrada, muito infeliz com isso. Mas eu vou na minha discussão até o fim, eu costumo comprar uma briga até o fim. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

O sentimento de frustração não se configura aqui como passivo, em que o sujeito se entrega diante da própria concepção ideológica empresarial. A definição de Renata Neiva sobre a assessoria de imprensa tem de ser entendida pelo estado de conflito instalado em sua construção profissional. Eis aqui a tradução do que como “comprar uma briga até o fim”. Entretanto, é preciso questionar: para quem escreve o jornalista? Se a ideologia da empresa sempre prevalece, isso significa que há um desvio da função? A resposta é saber distinguir de estado de conflito de interesse para a manipulação. O que é necessário identificar é que as divergências passam a prevalecer com intensidade.

Na assessoria essa questão de ‘silenciamento’ e substituição da notícia vai depender do gestor. Nem sempre é assim. Na teoria tem a transparência, sempre. Eu não defendo isso aí não, sempre prezo pela transparência. Eu vejo acontecer na assessoria, e como repórter também, quando eu chegava e era recebida por assessores você começa a perceber. Tem lugar que você não anda sozinha com seu entrevistado o assessor está sempre ali... não existe. Isso é lindo na teoria, mas aí a pessoa já chega com os dados prontos, com os personagens (escolhidos)... ‘não, nessa sala você não entra...’ por isso que a gente tem sempre que olhar além da pauta, um olhar mais perspicaz, desconfiado... (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Poderíamos pensar a partir das reflexões: o que é o jornalismo? Será que o jornalismo perdeu a referência para quem se escreve e por isso resulta em matérias semelhantes de emissoras diferentes que perdem a divergência? A jornalista faz a crítica desse discurso monótono do jornalismo apresentando duas citações contextuais. A primeira, é sobre a cobertura da imprensa no acidente da Barragem, em Mariana.

Nós tivemos um grande exemplo dessa tragédia em Minas com as barragens em Mariana. E você vê o público questionar os próprios jornalistas, porque até certo tempo atrás você não tinha a voz do público reclamando, agora você tem as pessoas reclamando tipo: poxa, mas foi isso que aconteceu? As pessoas percebem: olha, essa apuração não está boa...eu vi inclusive muitas pessoas dizendo: olha, está tendo uma cegueira na imprensa. Isso não passa mais despercebido, não dá mais para enganar as pessoas. Nunca deu na verdade, mas agora elas têm voz, têm onde publicar isso, externar essa indignação, então não dá mais para fazer de qualquer jeito e achar que está tudo bem. Você está enganando quem nisso? (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A segunda é uma mea-culpa, de quem identificou exatamente esse mal-estar no processo de produção jornalística na redação. Ela cita sobre a mudança que fez nas reuniões de pauta, no período em que atuava como editora.

É uma meia culpa, às vezes, nas nossas reuniões de pauta, eu como editora dizia: gente, percebe que a gente está fazendo um jornal para a gente mesmo? A gente cai nesse erro sabe, a gente faz muito isso. É uma rotina na redação e como são sempre os mesmos o olhar é de pretensão, aquele grupinho de pessoas que vão pensar um jornal para uma população de milhares de pessoas... é muita pretensão.

(Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

E como resolver esse dilema? Como avançar na proposta de jornalismo quando se identifica que o grupo em que se está não pode carregar essa pretensão de ser os iluminados que farão a leitura e a consciência social do cidadão? A saída é trazer para o cotidiano, a divergência de experiências vividas de outros cotidianos, para conseguir ampliar as possibilidades de leitura sobre a realidade social. Em vez de ser questionado pela comunidade sobre a monotonia ou a ausência de investigação que possibilite problematizar determinado tema, a jornalista passou ao movimento de antecipar a fase:

Eu lembro que chegou uma época que, pensando nisso, a gente começou a abrir a reunião de pauta. A gente chamava o porteiro, a

faxineira, todo mundo que estiver passando aqui perto para subir para a reunião, porque parecia um grupinho de iluminados, os produtores, que todo dia pensavam: o que que é isso? (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

O doutorado na linha de Historiografia da Educação (UFU) lhe possibilita narrar em outro tempo a consciência de ser sujeito sobre o sentido histórico do jornalismo. É um aspecto importante a leitura da entrevistada porque se insere na complexidade do próprio viver do sujeito. A resposta de Renata Neiva possibilita analisar, pelo método da Análise Cultural, que o movimento de sentido na intensidade do tempo é da consciência do próprio jornalista. Do tempo presente no qual é convidada na entrevista ao mergulho para questionar a si mesma no passado tem como componente esse entender a contradição interior.

Ao efetivar a primeira resposta, se o jornalismo faz história, ela sentencia: “faz demais”. E traduz o sentido da frase: “Faz história quando você pode dar voz à comunidade”. (Entrevista, Renata Neiva, Nov. 2015) Os exemplos surgem da realidade concreta em que atuou como jornalista. Um deles é a ajuda às mães do Bairro Esperança.

O bairro Esperança é um bairro com muitas carências aqui em Uberlândia. E elas tinham várias dificuldades. Entre elas a questão do abastecimento de água. E elas nos ligaram, que elas não tinham onde, se elas podiam falar dos problemas que elas tinham. Eu falei “opa, vamos fazer um jornalismo comunitário com vocês”, e elas reclamavam do DMAE que não conseguiam água e as contas chegavam e nada. Aí um dia elas falaram: “ó, alugamos uma van, nós vamos lavar a nossa roupa lá no DMAE”. Falei “nós vamos acompanhá-las” e fizemos tudo ao vivo e tal, e colocamos o pessoal e secretário e diretor de DMAE ao vivo. E elas colocaram uns pneus, umas coisas que, enfim.. eu sei que esse é um dos exemplos assim da época que a gente fazia muito jornalismo comunitário. Eu sei que em questão de dias assim a situação já estava resolvida. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

O exemplo de jornalismo comunitário está mergulhado na conquista do outro em sua produção de sentido do cotidiano. Não se trata aqui do factual que na duração do tempo se efetiva como histórico. Mas na produção da história a partir das conquistas produzidas na realidade concreta. Esse cotidiano explicita a cultura como política a partir de atos que permitem produzir o significado. A frase “vamos lavar roupa no DMAE” por si só rompe com a factualidade e movimenta o jornalista para produzir sua ação pelo tempo da comunidade. É a situação resolvida que substitui a completude técnica da matéria, como sentido preferencial da leitura. A coragem do jornalista em atuar no veículo de TV somado a coragem das mulheres da comunidade são os fatores que a entrevistada considera como primordial.

Essas conquistas, essas pequenas conquistas, então pra mim foi muito importante fazer um jornalismo local, regional e de ir mudando essas histórias, de ir mudando essas realidades, pequenas realidades, de conseguir uma escola não sei pra onde, a situação de uma velhice que não tava legal que a gente ia junto com o promotor fazer uns flagrantes. Eu gostava muito desse tipo de, de... a gente buscar soluções, a gente estipulava prazos, de ser um intermediário entre esses dois mundos, sabe? De tentar ligar esses dois mundos e buscar solução. Eu acho que eu era um pouco muito sonhadora e assim, a gente conseguiu muito resultado, sabe? (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Essa transformação da realidade da comunidade revela num primeiro momento que a produção de sentido do jornalista naquele período era consciente. Mas a pergunta agora se refere à rotina na qual o jornalista se vê mergulhado para produção de notícia. A questão que conduzia pelo testemunho a confirmar o estado de esclarecimento do repórter na produção de notícia toma outro fator inquietante. Neste quadro efetivo é feita a pergunta: Você considera que o profissional que trabalha na redação nessa rotina tem essa consciência de que ele está produzindo história?

A surpresa das respostas vem não pelo documento, pela plataforma como elemento central, mas pelo movimento do sujeito na crítica a si mesmo.

Eu acho que hoje eu tenho mais do que naquela época, porque você é envolvido... você não tem muito tempo pra pensar, você vai, sabe? Assim, acho que alguns sim, mas assim, você é tão envolvido no fazer... você quer buscar uma solução, mas você vai, você está envolvido naquele cotidiano. Hoje eu tenho mais consciência disso. [...] Naquele período acho que não, você tinha muito tempo presente. É jornal, né? É hoje! É tanto, temperatura tal, onze de tal, dia 12 de novembro e que dia que vai ficar pronto, você tá muito preocupado com o presente ali, sabe? Hoje eu acho que eu tenho mais esse olhar assim de “opa, valeu a pena”. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

A construção de si mesmo no decorrer da entrevista, em que o passado é desvelado em meio a análise do presente, se torna a base de sustentação para entender a consciência crítica. E, neste aspecto, em que a jornalista reconhece que a presentificação se figura como óbice para compreender a complexidade que torna esse “faz demais” história, é configurado como o cenário para empreender a nova problemática. Trata-se da mesma questão da sequência da entrevista anterior, mas vale a pena aqui descrever para contextualizar. Se o sujeito, a partir da rotina, não tem por vezes consciência de que ele está produzindo história, por que se torna história? E a resposta tem de ser pronunciada pelo enfrentamento, de si mesmo e da compreensão da realidade vivenciada com outros neste mesmo campo. O ponto importante da resposta de Renata Neiva está em que o questionamento de si no passado remete a problematizar a historiografia da comunicação, ou daquilo que se produz e se configura como histórico.

É... Não sei se tem, se não tem professor, porque naquela hora ali, é muito envolvente assim, dependendo do tema você está muito envolvido com o que que vai acontecer, com a informação, dela chegar primeiro... porque tem essa pressão também dela chegar primeiro, essa pressão ela existe, né? E (pausa) não sei se tem essa consciência. Hoje

eu tenho, assim, se eu voltasse hoje pra redação, eu acho que seria de outra maneira também. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

Se eu voltasse para a redação, a compreensão do que faço seria diferente. Os elementos finais da entrevista só resolveram esse dilema quando em uma das perguntas lembrei de uma professora do Ensino Médio, durante um curso de especialização em que ministrava uma disciplina de Metodologia da Pesquisa Cientifica, em Uberlândia. A então professora revelava a utilização do jornal como documento de “verdade” porque aquilo é história. Dessa maneira, a pergunta está ancorada agora na decodificação, a partir do conceito de Stuart Hall. Como entender a produção de sentido do jornal, quando se questiona a ausência de consciência de quem o produz como histórico, diante da decodificação da posição dominante hegemônica? Essa posição significa quando “o telespectador se apropria do sentido conotado de, digamos um telejornal ou um programa de atualidade, de forma direta e integral, e decodifica a mensagem nos termos do código referencial no qual ela foi codificada, podemos dizer que o telespectador está operando dentro do ‘código dominante’”. (HALL, 2003, p. 377)

É, ele tem valor como fonte, não é? Como documento, mas ele não é a verdade? Ele não é a verdade. A gente tá produzindo uma história... como que eu vou te colocar isso (pausa). Ele não é verdade, porque ali a gente está trabalhando com as versões dos fatos. Verdade não, mas a gente está produzindo... por exemplo, eu trabalho agora na pós com jornal e história. Então é um olhar historiográfico, de uma certa forma eu estou trabalhando com história das mulheres, história da imprensa e um documento que é o jornal, que é o meu objeto, então de uma certa forma você produz história, mas tem que ter esse cuidado que não é a verdade. (Entrevista, Renata NEIVA, Nov. 2015)

E percorrendo esse dilema há outra pergunta que se efetiva como significado para a pesquisa: é possível você ter um documento histórico do ponto de vista físico, sem que você tenha uma produção do sujeito histórico? Ou melhor: é possível separar o sujeito do meio para eu designá-lo como um fator histórico? Renata

Neiva explica da complexidade da pergunta, mas defende que é sim. Mas que história se narra? Talvez a resposta possa ser delineada em sua manifestação sobre o que é o Jornalismo.

Jornalismo é o compromisso com a notícia, aquilo que ainda não foi dito. E o papel do jornalista eu sempre vi como um mediador entre mundos, um contador de histórias, com seriedade, com responsabilidade, com apuração, com essa função social de levar a notícia com critério. Com aquela série de critérios, sempre com muito responsabilidade, porque uma notícia mal apurada, mal contada, você pode causar até mortes e fechar empresas e desempregos e as pessoas não tem muita consciência disso, sabe?

As pessoas precisam tomar consciência de que aquilo que escrevem e que apuram precisam ser com responsabilidade e contribui diretamente para efetivar uma discussão crítica na realidade social. A crítica de Renata Neiva sobre a monotonia do jornalismo se desvela na falta de apuração. O paradoxo está em entender que a crítica da falta de apuração está diretamente vinculada a ausência de conhecimento teórico. Não a teoria, naquela interpretação pragmática de ser algo distante da realidade, mas a teoria como produção de conhecimento que possibilita ao sujeito ter elementos para contextualizar a problemática social.

A complexidade de Renata Neiva segue então em sua construção de identidade a partir das tensões e conflitos. Do gravador da adolescência ao gravador da aula de radiojornalismo até o seu estágio atual na UFU, o jornalismo apresenta-se sempre como desafio metodológico: não se trata de sujeitos iluminados para conscientizar a sociedade, e sim de entender em que momento há um redirecionamento desta relação entre sujeitos. Para que o dito do jornalismo se efetive como força no social, é preciso que os sujeitos instaurem seus dilemas do cotidiano no procedimento essencial do trabalho jornalístico: a produção do sentido da pauta. E é no sentido efetivo dessas tensões do sujeito da comunidade no cotidiano do jornalista diante da ética e da ideologia da empresa que o contrata, que a identidade do jornalista se constrói como problema de experiência vivida.

Capítulo 7 - On Line

Igor Miranda

A tensão da teoria na prática bruta do jornalismo

Aexperiência vivida com um blog se tornou o ponto principal para que Igor Custódio Miranda fosse instigado a tomar a decisão em cursar o Jornalismo. Desde adolescente, o que mais chamava atenção era o curso de Direito. E ele identifica que essa relação com o Direito consiste na sua parte teórica, nos fundamentos da lei. Mas, aos poucos, a afinidade teórica idealizada com o Direito se confrontou com a prática bruta do princípio de Jornalismo. E é desta forma que a memória passa a ter a necessidade de encontrar e atribuir valores para que o sentido da vida no presente oriente o horizonte do futuro. Na narrativa sobre a sua história de vida, Igor Miranda edifica pontos desse sentido que justificam para si mesmo o significado social de ter concluído o curso de Jornalismo.

É preciso entender como o Jornalismo deixou de ser a segunda opção para se tornar o caminho viável de Igor Miranda, que se formou no período de 2011 a 2014 na Universidade Federal de Uberlândia. No entanto, a primeira tentativa de vestibular foi para o curso de Direito. Hoje, ele sente alívio por não ter passado naquele exame. O tempo de um ano, de um vestibular para outro, período em que as pessoas passam a pensar sobre si mesma, conduz aos dilemas que estabelecem novas perspectivas. E é justamente o ponto forte do Direito, a teoria, que passou a sofrer um primeiro impacto negativo para a resolução do conflito de tomada de decisão de Igor Miranda.

O importante é questionar aqui qual o sentido deste teórico em que Igor Miranda questiona. Se o que o atraiu era o conhecimento teórico do Direito, o sentido do termo teórico passou a ter valoração negativa ao correlacionar com o sentido de ser mais distante das relações sociais. E em vez do teórico ser tratado como sabedoria

que distingue com criticidades as denominações das leis, o entrevistado passou a atribuir o teórico como um conteúdo decorado, portanto sem sentido para o desenvolvimento intelectual do sujeito.

A questão prática que me fez arrepender um pouco de pensar no Direito em algum momento. É o Direito, ele é muito teórico. Tenho colegas que formaram em Direito que me falam que “olha as vezes eu tenho até um pouco de inveja de trabalhar com Jornalismo, de sair do escritório de sair da sala fechada de ir um pouco pra rua de descobrir as coisas, de ter uma relação com as pessoas que não seja tão fria, acho que das profissões o Jornalismo é uma das que tem a relação mais próxima com as pessoas, mais humana. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Sair do escritório, da sala fechada, implica em deixar de entender as pessoas por meio das leis de uma forma fria. É importante considerar que esse termo fria está quase num tom de crítica metodológica, em que se confronta um desalento sobre o estruturalismo. Pois, ao articular que as leis passam a ser decoradas e, ao mesmo tempo que rege a forma de relação do advogado de sua sala fechada, do escritório, Igor Miranda elabora aqui a sua posição crítica que lhe justifica o sentido da reprovação no primeiro vestibular e a mudança para o Jornalismo.

A complexidade da decisão de Igor Miranda é que, se por uma perspectiva precisa ratificar o negativo deste teórico do Direito, por outra necessita mostrar elementos que considerem o Jornalismo como nova referência para a experiência vivida. Assim, a memória coletiva passa a atuar de forma relevante neste contexto. A primeira característica que se torna primordial é a definição de que o Jornalismo edificava um grande potencial da sua maior habilidade: a capacidade de escrever. Quando necessita explicar o porquê de ter seguido o Jornalismo, Igor Miranda é enfático:

Porque dentro do jornalismo eu me encontrei especialmente porque a minha melhor habilidade, aptidão, sempre foi escrever, sempre gostei

muito de escrever. Na época assim sem muita técnica e aqui já com as técnicas com os conhecimentos específicos do Jornalismo. E aqui dentro fui descobrindo muita coisa, fui descobrindo muita afinidade em contar histórias, em descobrir histórias pra poder contar, basicamente é isso. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Para que se efetive a capacidade de escrever é imprescindível que se tenha sempre esse impulso de sair de si mesmo para descobrir histórias, para poder contar histórias. Se Igor Miranda está descrevendo esse sentido do contar histórias depois da graduação, torna-se importante considerar que essa justificativa não estava presente naquele tempo de um ano em que reprovou no vestibular de Direito e passou a enxergar o sentido do Jornalismo. Da mesma forma em que sua narrativa sobre por que optou pelo Jornalismo se segue.

Nesse sentido, assim, acho que fiz uma boa escolha porque eu não aguentaria ficar dentro de uma sala estudando leis. Tem aquela coisa muito decorada, apesar de ter também um lado humano no Direito é obvio né. No Jornalismo como é muito mais na prática, você vai pra rua vai fazer o seu esquema, volta e escreve passa pra edição então você recebe a informação faz lá o seu texto e tudo mais, eu me identifico bem mais com esse tipo de trabalho. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Você vai para a rua significa não ficar preso no escritório estudando leis. E fazer o seu esquema implica em considerar como justificativa plausível para Igor Miranda se tornar sujeito no processo comunicativo, sem considerar que já está algo constitutivo em que o fato será analisado. O problema que se concretiza é compreender quais foram os elementos da experiência vivida daquele momento dos quais se tornaram constitutivo para que o recém-graduado definisse pelo Jornalismo e passasse a produção de sentido deste exercício profissional para o sentido de sua própria vida. E assim, a experiência do blog se tornou essencial para que pudesse vincular o Jornalismo como espaço para potencializar a sua melhor habilidade.

Igor Miranda passou a escrever em um blog, desde 2007. E, com este projeto, as duas possibilidades de caminho profissional de adolescente passou a instar em um conflito.

Na época eu tinha um blog que, na época, tinha uma boa repercussão. A gente colocava os discos de bandas pra download acompanhado de uma resenha, de um textinho, tudo mais. Na época sem muita técnica, que era eu e mais um pessoal também. Não tinha nenhum jornalista na equipe do blog. É até legal que outros dois colegas desse blog viraram jornalistas também. Na época, a gente tinha uma boa repercussão, bons acessos, mais por conta dos discos do que por conta das resenhas, mas também tinha gente que chegava falando: “nossa que legal o texto, conheci coisas que não sabia da banda, do disco e tudo mais”.

(Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Embora reconheça que não se trata do texto o ponto importante do blog, já que constava de resenha, Igor Miranda finaliza o relato sobre a repercussão dos textos. E mais precisamente nas relações sociais constitutiva de seu trabalho no social. E assim o texto, ou melhor, a capacidade de escrita se torna relevante para que se estenda ao valor de ser sujeito do processo. A indefinição de seguir Direito ou Jornalismo percorreu então todo esse paradoxo de vida. Primeiro porque era necessário encontrar outra referência que pudesse demarcar o valor de Jornalismo para sua vida, antes de iniciar o próprio curso de Jornalismo.

Eu sempre ficava pensando, ficava dividido, porque por um lado tinha a afinidade teórica ali idealizada com o Direito, mas já tinha um pouco ali daquela pratica bruta, vamos dizer assim, do que viria a ser o jornalismo depois na minha vida. E sempre pensando “olha como eu me divertia na época daquele blog”. Sempre tive blog, não necessariamente aquele, depois fui tendo outros, sempre pensava “será que eu escolho Direito ou Jornalismo?” eu pensava, “hum, mas eu era feliz na época daqueles blogs, lá”. Aí eu tomei essa opção do Jornalismo depois que não deu certo Direito. Ao invés de prestar Direito de novo, eu prestei Jornalismo. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

A prática bruta do trabalho do Jornalismo somado ao divertimento e a felicidade em que a experiência vivida do blog proporcionou se tornaram o ponto edificante do caminho seguido por Igor Miranda. A justificativa, por mais temporal que seja, é a referência para que se projete perspectivas dentro do curso. E por mais paradoxal que também seja, a parte teórica, que se articulava então ao Direito na escolha profissional, retorna com mais força durante o período de formação em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo de Igor Miranda na UFU. Tanto que o próprio sentido do Jornalismo passa a ser realizado por um novo significado agora com valor positivo para a atribuição teórica em contraponto à sua prática. A questão é saber se esse sentimento de felicidade anunciado no trabalho do blog e agora na universidade se constitui como simulacro ou como ressignificação da experiência vivida.

Há de considerar, porém, que existe uma diferença significativa entre dois elementos. O primeiro, é a elaboração de justificativa que o sujeito estabelece para si, mesmo nesta decisão de porquê deverá seguir o Jornalismo. O segundo, é a conceituação teórica sobre o Jornalismo (e até mesmo sobre o Direito) na qual, no momento da decisão de se inscrever para o vestibular não há, é claro, profundidade conceitual para se chegar aos meandros da profissão. Esses dois pontos nem sempre podem ser orientados pela coerência. E, mais importante, nem sempre se coincidem. Logo, diante do estado de oposição, entre a perspectiva que se funda no primeiro, e a realidade teórica conceitual pela qual se aprofunda o segundo, o sujeito é remetido para novos estados de tensão e conflito.

Pois justamente no momento em que Igor Miranda define como principal característica do Jornalismo esse sair para rua, estar com as pessoas, é que ele descobre na universidade outros fundamentos do que se justifica como Jornalismo. Seria esse novo fator motivo suficiente para que desista do curso, seguindo a coerência que fez com o Direito? A experiência vivida do sujeito tem sua dinâmica na

interpretação da realidade com a qual ele responde com aquilo que lhe acontece. Em determinadas situações, o sujeito vai construindo o seu caminho, mesmo que para tal ele tenha de demolir determinadas certezas materializadas em perspectiva. E é assim que Igor Miranda passou a enfrentar o seu primeiro dilema profissional.

Eu acho que quando eu entrei em Jornalismo eu esperava ficar bem menos em sala de aula. Eu esperava que eu ia muito mais pra rua. Ainda bem que também eu me desapontei nesse sentido porque é dentro da sala de aula que você aprende a enxergar a comunicação como um todo, humanizar a comunicação, entender de uma forma que, só indo pra rua, só entrevistando o pessoal, não daria. Não é só a prática é a teoria também. Os autores, as teorias e tudo mais e nesse sentido que eu não esperava tanto isso. A expectativa nesse sentido foi quebrada e ainda bem né, porque depois que você vai passando pelos períodos você vai percebendo o quanto é importante isso e o quanto no mercado de trabalho, pegando Uberlândia, que é o mercado que eu estou inserido isso não existe tanto os outros profissionais não tem essa visão de pensar a comunicação antes de colocar ela em prática.

(Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

O Jornalismo que o atraiu pela prática bruta agora tem de ser ressignificado a partir do desapontamento com o caminho do curso. Só que ao contrário do Direito, Igor Miranda transporta do negativo para o positivo. O desapontamento demoliu a perspectiva, mas se confrontou com outro sentido do qual a realidade está mais próxima do conceitual teórico do curso. E é assim que a teoria passa por nova reavaliação em sua produção de sentido. Só que agora direciona a dois elementos importantes: o conceito de comunicação e a reavaliação do sentido da prática destituída de teoria.

A pergunta é importante e complexa: o que é comunicação?

Difícil para ser respondida enquanto se cursa o primeiro ano do curso, porém é um caminho imprescindível para compreender que a potencialidade de escrever, embora seja sua maior habilidade, é um dos, e não o único fator do que se denomina como comunicação. É

com esse aspecto que o sentido de humanizar passa a ganhar corpo no conceito do que é comunicação. Logo, não é o sair para a rua o elemento mais importante, mas quais são as condições em que você deve estar para que consiga ter de forma profunda uma relação com as pessoas no cotidiano. Igor Miranda se descobre que ir para a rua, entrevistar as pessoas, ainda não é um indicativo de ser sujeito no processo de comunicação. Pelo contrário: se essas duas atividades ficarem restritas a praticidade, corre-se o risco de ficar na superficialidade sem que se faça o mergulho teórico.

Toda vez que defrontamos com alguém que demole sua perspectiva, temos de considerar que houve determinado estado de enfrentamento em sua produção de identidade. A reelaboração deste argumento tem de ser desvelado de que quando escrevia o blog, pois Igor Miranda não tinha dimensão profunda sobre o significado do texto. Essa ausência de sentido poderíamos considerar que foi transposta para este estado de conflito. Qual o sentido de estar na universidade se a produção da escrita e o sair para a rua não apresenta fundamento conceitual? A perspectiva do curso, quando não está sedimentada na própria constituição do sujeito, é remetida então para o sentido do movimento do pensar e repensar a experiência vivida. E neste movimento chegamos ao segundo ponto da questão: a reavaliação da prática destituída de sentido.

A parte final da frase de Igor Miranda está direcionada para uma reavaliação do mercado de trabalho em Uberlândia. A memória coletiva o leva a apontar o sentido em que se edifica a sua nova compreensão profissional. Pois, ao argumentar que não há tantos profissionais qualificados conceitualmente para o trabalho cotidiano da profissão, o entrevistado está mergulhando no embate sobre o que é a produção jornalística. A falta de profissionais com esta proposta conceitual remete a novas indagações: que tipo de Jornalismo se está produzindo diante da marginalização teórica? E será que esse fator não remete a superficialidade do Jornalismo,

conduzindo de uma produção de sentido do cotidiano para a rotina profissional?

A resposta a essas indagações devem ser buscadas nas próprias inquietações reveladas por Igor Miranda em seu processo de formação. Ele revela que somente no quarto período do curso, quando produziu o Jornal Laboratório Senso InComum, que a ressignificação do teórico se processou de forma consciente. A questão indagada para Igor seguiu com este contexto: “É engraçado, você falou assim que quando entrou tinha uma expectativa e não se realizou, em que momento, você lembra, do curso, que você disse “eu acho que isso é melhor”?

Acho que a partir do quarto período que foi aquele momento de fazer o jornalismo experimental que foi o Senso InComum, que todas as disciplinas eram integradas pra elaborar aquele jornal, que aí trabalhava o jornalismo opinativo, o jornalismo impresso, as técnicas e tudo mais, e aproveitava conceitos de outros períodos, de fotojornalismo e tudo mais. E olhando como ficou o produto final eu fiquei pensando “eu ficava reclamando no começo que ficava tanto tempo na sala de aula, mas ainda bem que a gente ficou senão não teria saído tão legal como ficou de fato”. Foi mais ou menos no meio do curso mesmo, quarto período, é o meio, a ruptura, vamos dizer assim, até de um pré-conceito que eu tinha que foi se quebrando aos poucos e quebrou de vez ali. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

O que significa essa ruptura ao pré-conceito quanto à teoria? No processo de formação como jornalista, Igor Miranda foi construindo sua concepção e depois se materializou quando entrou no mercado de trabalho. Entretanto, a sua referência inicial sempre foi para as disciplinas práticas. Só que agora com outro fator agudizado pela memória: as disciplinas práticas que consegue produzir sentido à realidade vivenciada pelo jornalista no mercado de trabalho. É, desta forma, que ao relatar um exemplo de uma disciplina que lhe tenha produzido significado ele faz a narrativa das disciplinas de telejornalismo.

Mas a interpretação se caminhou por um processo de orientação posterior da sua experiência no mercado de trabalho.

um negócio marcante que eu ainda vejo que acontece no mercado de trabalho foi na disciplina de telejornalismo que a gente se dividiu pra fazer um telejornal experimental com assuntos culturais, eventos culturais que teria na cidade, entrevistando músicos, bandas, e falando sobre exposições artísticas e tudo mais. A gente fez até uma matéria falando sobre coletivos culturais. Na época tinha explodido aquela banca do cara que estava desviando dinheiro do fora do eixo, alguma coisa assim. Eu lembro que na hora de definir quem faria o que ficou “ah, você vai ser o produtor, você vai ser o editor, você vai ser o redator” mas aí todo mundo fez tudo. Acho que foi a diferença mais legal que eu tive porque sempre que isso vai acontecendo no mercado de trabalho eu vou lembrando que a universidade me antecipou isso. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

A importância relatada da universidade está nesta antecipação do que viria ocorrer no mercado de trabalho, ou se traduzirmos, o concreto pensado na universidade se materializa na prática profissional ao ponto de você identificar e considerar que a situação vivenciada posteriormente pertence ao quadro de experiência vivida. Ao considerar esse quadro, é preciso problematizar que isso se estende mais do que mero procedimento de distribuição de tarefas. A crítica aqui consiste em como a universidade considera a totalidade da produção jornalística diante do reducionismo da fragmentação, de procedimento fordista, na produção da notícia. O repórter tem sua responsabilidade pela matéria, mas não se pode deixar à margem de todo o processo. Se mantiver esse distanciamento, perde-se o sentido da própria comunicação. Há também aqui um pressuposto de que embora exista setores responsáveis no Jornalismo, a diferença do produto final leva a uma quebra de hierarquia.

Não existe isso de eu sou o editor e só vou fazer isso. Às vezes, o editor tem que ligar pra apurar também, tem que ir cutucando a fonte, às vezes o repórter não entregou um texto completo, às vezes o

repórter tem que entregar um texto mais palpável pra edição, tem que pensar também nos recursos pra edição, às vezes, o repórter tem que produzir, às vezes o produtor tem que fazer reportagem também. Tudo vai se misturando. É um pouco diferente do que você pensa às vezes, daquela hierarquia do mercado de trabalho, “ah, tem o chefe e tem o sub-chefe e tem o sub-sub-chefe”, cada um faz uma coisinha muito específica. Não, no jornalismo você vai misturando tudo na hora da produção na hora de produzir mesmo e cada um vai fazendo o que pode pra agregar e chegar naquele produto final e todo mundo ficar satisfeito com aquele resultado. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Diante da ruptura provocada pela base teórica, a pergunta que se efetiva, para entender a produção de identidade, é qual a análise que o entrevistado faz do ensino teórico na universidade? E como a memória coletiva vem se efetivando de forma contundente? Qual o significado da teoria para atuar no mercado de trabalho? A resposta de Igor Miranda vem em tom comparativo aos outros formados em Jornalismo que passou a conhecer no mercado de trabalho. Esse é o elemento principal para que ele conceitue o ensino de Jornalismo na UFU.

Aqui a teoria é trabalhada de uma forma que eu não sei dizer, eu vou repetir o “humanizado” porque aqui foi o que eu mais entendi de questão teórica, de entender a comunicação de forma humanizada, de sair daquela coisa da técnica e da teoria, de usar a teoria a seu favor, de não ficar usando frases decoradas de autores consagrados e tudo mais. Nesse sentido que eu penso que foi o que enriqueceu mais a parte teórica pra mim porque eu consegui aplicar isso de forma que eu consegui ir por caminhos legais e apurar de forma diferente. Não sei se foi bem isso que você queria de resposta. Eu não entendi muito bem a pergunta, nesse sentido. Mas acho que a forma de pensar o jornalismo, de interpretar a informação, de sempre enxergar os dois lados com o máximo de isenção possível, se colocar na pele dos dois lados ali de uma questão, de um dilema que gerou uma reportagem pra entender tanto a parte, às vezes, numa reportagem falando de um grupo de pessoas que foi lesada por outro grupo, entender os dois lados, tudo de uma forma balanceada a partir do entendimento teórico, a gente

consegue pesar melhor. Entendo um pouco da cultura de cada grupo de pessoas você consegue pesar cada coisa melhor pra ver o resultado final, o que sua reportagem tem que passar. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Ao indicar que a teoria é a parte do pensar a prática, o sentido que ela afirma a esse movimento da produção jornalística, é preciso reconhecer que o elemento comparativo da formação acadêmica se estende para o trabalho profissional. Pois, se falta conhecimento teórico para os graduandos, é coerente que também está em falta teoria para o trabalho profissional. E o posicionamento de Igor Miranda nessa ressignificação deixa claro a crítica contundente de que não basta somente entrevistar, e somente ir para a rua. Por isso, o problema a ser discutido torna-se inevitável: você considera que falta conhecimento teórico para os outros que estão no mercado? A resposta veio com a mesma contundência: Com certeza, com certeza. É, a gente vê muitos colegas eu vejo muitos colegas que se formaram em outras universidades inclusive federais de outras cidades e outros estados, que bitolam muito na parte técnica, na prática de só vale quando você vai pra rua, vai apurar e não é assim, né? Antes de ir pra rua você tem que se preparar bem, tem que ter um conhecimento teórico bom, você tem que ter uma capacidade de interpretação e de formação muito boa pra poder chegar na rua e não fazer feio né, nem na hora de chegar pra construir sua reportagem seja pra qual veículo for, também não fazer feio, pra ninguém ficar com dúvidas, não gerar uma má interpretação a partir da sua reportagem. A técnica ajuda, mas a teoria ajuda a formular e até a entender como você vai usar a técnica que você aprendeu. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

O termo “bitolam muito na parte técnica” se efetiva aqui com o sentido de crítica da destituição de sentido da prática sem teoria. E por que não dizer, da acusação ao tecnicismo da profissão que revela um problema conceitual. A rua é o momento de relação do repórter com o outro. Entretanto, para se pensar em processo de comunicação é preciso considerar que há outro momento em que o

exercício do pensamento, da elaboração teórica, tem fundamentação imprescindível para o jornalista. De onde vem então esta capacidade de interpretar? Para Igor Miranda está preciso agora que se trata da fundamentação teórica.

Essa base conceitual é importante para a entrevista, para a apuração e para a redação do texto. É preciso ter técnica, mas sem fundamento teórico a produção de sentido do jornalista se esvazia, recaindo na presentificação gratuita que resulta na demarcação da rotina. Sem consciência de sua apuração, sem essa interpretação, o jornalismo corre o risco de se tornar mero procedimento em que a escrita é levada a um automatismo mecânico.

A leitura atenta dessa frase nos remete a um elemento de dúvida: será que há espaços para essas discussões conceituais no mercado de trabalho? E a reposta de Igor Miranda percorre o tema de embate: a questão do tempo. A surpresa talvez esteja nas referências iniciais em que o entrevistado recorre para mostrar que no mercado de trabalho não há tempo para se pensar. Igor Miranda diz que o mercado de trabalho é “daquela forma mesmo que já se idealiza em filmes em desenhos animados em histórias”, ou seja: refere-se a ausência de tempo.

Você não tem muito tempo pra ficar pensando em muitas coisas. É claro que existem repórteres especiais, repórteres investigativos que, às vezes, tem prazo maior pra cumprir uma pauta, mas muitas vezes você tem que cumprir uma pauta no mesmo dia que ela é dada. Você não tem tempo pra pensar a melhor forma que você vai fazer aquela reportagem, você pensa na melhor forma de fazer aquela reportagem em 2, 3 horas, você não pensa assim “isso aqui é o meu melhor” não dá tempo. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Essa insuficiência de tempo se estende para todos os veículos: você precisa ter uma quantidade de matérias para serem produzidas e, com isso, preencher o tempo e o espaço da mídia para ser publicada no hoje ou no amanhã. Essa exigência pertence a natureza da profissão jornalista, porém há um embate aqui que se

estabelece para compreender o sentido da produção jornalística. Ao entender e comentar sobre a similaridade da idealização do jornalismo em desenho animado com a do mercado de trabalho, é preciso repensar, então, se esse jornalismo, tratado como representação, não se efetiva como real. E se o idealizado é o jornalismo em que o tempo e o espaço não concorrem com a capacidade do exercício crítico do pensar. O idealizado então seria a nova perspectiva de jornalismo criado por Igor Miranda a partir da experiência vivida na universidade. Uma coisa é argumentar, mesmo que de forma crítica, que o jornalismo está mergulhado em um reducionismo da prática, outra é considerar que a ausência de tempo e espaço para que o sujeito se constitua com consciência dos dilemas deste processo. A prática deixa de ser procedimento para se configurar como elemento teórico pragmático da própria concepção do que é o jornalismo. É isso que está premente no dilema do entrevistado de que com a pressão de velocidade e produção na redação, torna-se obstáculo para esse exercício crítico do jornalismo.

É importante retomar que a capacidade de pensar teórico, antes de ir para a rua, é o principal argumento desvelado por Igor Miranda. É, nesta base, que ele sustenta na narrativa o argumento da importância e do significado do Jornalismo na sociedade. Se poderia dizer que o entrevistado se defronta nesse momento com a segunda decepção? A explicação de Igor Miranda vem com uma distinção temporal que evita entrar neste sistema de colisão.

A pergunta é uma continuidade de sua lógica de pensamento. Quando o entrevistado atribui que muitos profissionais atuam no mercado sem conhecimento teórico, será que se pode dizer que estão despreparados para atuarem como jornalistas? O entrevistado recorre a temporalidade entre o jornalismo de antes e o de hoje, diferenciado pela internet. E assim vem a argumentação. “Não, eu não diria despreparados. O mercado do jornalismo ele foi mudando, foi se modificando”.

O que significa esse “foi mudando”? Igor Miranda então primeiro descreve o que é esse jornalismo do tempo anterior: o de antigamente se exigia preparo mais técnico, em procedimentos como o desenvolvimento da fala.

Antes pensava-se muito mais na técnica, de como você vai se portar, de como você vai falar, dos termos técnicos pra falar, pra se referir a uma matéria, um off, uma passagem. A gente ficava se preocupando muito nisso e há muitos jornalistas hoje no mercado de trabalho que não tem o diploma, muitos deles são os jornalistas das antigas, muitas histórias de jornalistas que começaram na operação do áudio, de uma rádio ou às vezes acompanhando um repórter de jornal impresso, começou até distribuindo jornal impresso e foi passando por outros níveis até chegar ao cargo de jornalista de uma empresa. Não precisava de uma formação teórica, ele precisava entender a técnica como ele faria na prática, e precisaria entregar o serviço da forma como era pedido, aquela coisa da demanda, especialmente no jornalismo diário tem muito isso. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

De qual antigamente o entrevistado está se manifestando ou recordando: da idealização dos filmes ou da experiência vivida? É em um determinado momento dessa temporalidade que Igor Miranda se coloca como sujeito que vive esse antigamente em que a preocupação é somente técnica, mas ao mesmo tempo ele se contrapõe ao citar o desenvolvimento técnico da fala. Essa identificação o leva a considerar os limites em que é sujeito na profissão. “Não tenho desenvoltura nenhuma na fala e atuo no mercado vamos dizer assim, tranquilamente, sabendo das minhas limitações mas consigo atuar”. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

De certa forma, a distinção de temporalidade de Igor Miranda está em considerar que o hegemônico do antigamente está estruturado no jornalismo informativo. E agora, o hoje, pela própria influência do jornalismo norte-americano, há uma solicitação do mercado para o interpretativo.

Hoje em dia isso está mudando, especialmente com internet, que a informação chega muito rápido e, hoje em dia, a demanda por jornalistas que pensem e interpretem aquela informação fora daquela parte isenta, daquela parte que, como se diz? Do neutro, que acaba não existindo, né? A demanda por isso é muito maior, você tem que pensar o jornalismo? E pensar a notícia e pensar o que que aquela informação vai impactar na sua vida e entrega essa informação pro leitor, pro telespectador, etc. A demanda por isso é maior eu imagino. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

O aumento da demanda da informação traz para o contexto do hoje um novo posicionamento do sujeito jornalista, mas há também uma demanda por jornalistas que pensem e interpretem a informação, em vez de serem meros reprodutores da notícia. O problema apresentado por Igor Miranda refere-se então a um movimento temporal em que havia uma estrutura hegemônica no passado da técnica e agora uma exigência para o pensar a informação.

Em qualquer uma dessas temporalidades, o que prevalece ainda é a velocidade com que o tempo exige, no passado, a produção da notícia, e no presente, o pensar a informação. Mas se a formação na universidade e o que se apresenta enquanto estrutura no mercado de trabalho é mais pela técnica, como o entrevistado revelou parágrafos anteriores, de onde vem essa demanda interpretativa? Seria do próprio dilema material da tecnologia da informação ou do conflito do jornalista em ser sujeito do processo comunicativo? A resposta a essas interrogações podem ser orientadas pelo posicionamento do entrevistado. A pergunta indaga se os sujeitos no mercado de trabalho conseguem cumprir na totalidade quando tem essa demanda do pensar.

Existem os que conseguem fazer isso, mas de uma forma muito limitada dentro da caixinha, porque não teve aquele, não sei se instrução é a palavra correta, mas um embasamento teórico correto é não correto também, né, não dá pra dizer o que é certo e o que é errado, mas não teve um embasamento teórico ideal, enfim, pra poder

desenvolver esse tipo de interpretação e entregar isso pro seu espectador, independente de qual veículo for. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

A falta de embasamento teórico dificulta a interpretação da notícia. E, com isso, perde-se o poder daquilo que Igor Miranda considera como essencial: a capacidade de compreender o fato, e levar essa interpretação ao outro. Sem essa base e atropelado pelo tempo, o cotidiano se transfigura em rotina. Não obstante, é possível algum movimento de contraponto a esse sistema hegemônico diante desse quadro? Será que podemos considerar que os jornalistas são sujeitos desse processo diante desse quadro contextual? Essas questões permitem entender o encadeamento das ideias do entrevistado quando levado a comentar sobre a sua experiência no trabalho no mercado.

Você tem que tentar um pouco também, entendendo um pouco como é que é o ritmo do veículo diário, pra poder questionar alguns pontos e poder tentar mudar algumas coisas. Existe a possibilidade, algumas pessoas são esmagadas pela rotina, outras ficam lá o tempo inteiro questionando os eternos ideais, há casos e casos. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Há possibilidade de o jornalista conseguir alterar sua rotina para cada vez mais buscar o sentido no cotidiano. Porém, Igor Miranda apresenta uma dificuldade premente: algumas pessoas são esmagadas pela rotina, já outras permanecem no estado de tensão e conflito dos eternos ideais. O dilema apresentado aqui nos coloca diante do quadro crítico para discutir sobre o significado da produção jornalística. Mais precisamente, como entender o sentido histórico do jornalismo diante deste quadro de tensão e conflito. Um estado de tensão em que o sujeito jornalista vive mais diante das condições que lhe são consideradas. Nessa entrevista, Igor Miranda considera que há possibilidades sim de se fazer jornalismo diferente. Para isso, é preciso escapar de ser esmagado pela rotina e materializar os ideais em embates na redação.

Sobre qualquer um desses dilemas pelo qual se atravessa, é preciso recorrer novamente a temporalidade para questionar: você considera que o trabalho do jornalista é histórico? Ele tem valor

histórico? A resposta a essa questão veio primeiramente em tom já como arquivo e, portanto, documento histórico. Igor Miranda afirma com veemência: “com certeza”. E, em seguida, explicita a sua experiência de estagiário no Jornal em que era responsável por publicar o quadro semanal do arquivo público de Uberlândia. E a maior representação do jornal como história é que o arquivo público constava de edições passadas do jornal.

Então uma das bases de pesquisa mais confiáveis que você tem são as edições passadas de veículos de comunicação, seja de TV, de rádio, de jornal impresso e afins. Porque ali você tá pegando a informação histórica até de como ela era interpretada naquela época, como ela era colocada pro público naquela época, então desde cedo eu tinha essa ideia porque eu já estava em contato ali com o arquivo público. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

A primeira frase para explicar o termo “com certeza” indicava que a historicidade do jornalismo estava mais como documento temporal do que do sentido da produção. Mas o entrevistado salta do documento antigo para a produção jornalística ao indagar sobre a forma em que a informação é interpretada em cada período. Mas no decorrer do processo as indagações percorrem muito mais fatos que se tornam relevantes, que poderia estar com ênfase no informativo, do que na interpretação dos fatos. E o dilema atravessa a continuidade da narrativa quando esses elementos parecem se mesclar na visibilidade conceitual.

O jornalismo é histórico. Isso o próprio jornalismo vai mudando, como é que eu era 50 anos atrás, está a mesma coisa? Não é pra estar a mesma coisa, porque eu posso mudar. Existe uma base histórica tanto pra quem quer entender como é o mundo naquela época, comparar com hoje em dia, como quem trabalha com isso quer entender “olha, como é que eu estou imprimindo informação agora, é muito diferente de antes? Posso mudar?” fazer uma comparação. Jornalismo é história, tanto de contar histórias quanto de colocar dentro da história um fato de importância, de relevância. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Jornalismo é história. A frase finalizada no primeiro questionamento precisa ser confrontada agora da idealização da história do jornalismo do sujeito que narra em contraponto à realidade da experiência vivida. Recorre-se neste momento o problema entre sujeito e estrutura, da prática da produção jornalística para o sentido da plataforma que, por ter conteúdo da década de 50, já se torna automática como história. Então, se faz outra pergunta ao entrevistado com esse problema teórico metodológico de análise cultural. Você considera que as pessoas quando estão fazendo um trabalho no dia a dia do jornalismo, elas tem compreensão de que o que elas estão fazendo é história?

Esse é o momento em que a memória coletiva exige da experiência vivida uma imersão ao ponto de definir o sentido do que irá ser narrado, pois ao exigir a saída da resposta da idealização do que é o jornalismo, o entrevistado necessita encontrar elementos coerentes que estejam compatíveis com o percurso que faz do seu próprio processo de produção da identidade. E é com esse impacto relevante que Igor Miranda retoma os elementos de debate da entrevista para se contrapor a sua própria afirmativa do valor jornalístico como história. E assim caminha a resposta:

Nem sempre, porque muitas vezes você vai ser um pouco esmagado pela rotina. Você não consegue pensar “ah, será que daqui 10 anos alguém vai lembrar dessa reportagem ou vai ler essa reportagem que deu tanto trabalho pra eu fazer”, ainda mais no jornal impresso. Se você pensar naquele tipo de papel que ele é mais descartável, que ele não dura muito se você deixar ele... eu deixei guardado os primeiros jornais mesmo que saíram matérias de 2013 já tá amarelado, sumindo algumas letras e tal, mas tem muita gente que guarda aquilo lá de uma forma específica, pra portfólio, guarda de uma forma específica pra não se perder aquela informação, dentro do jornal tem um arquivo específico também, então acho que não se pensa muito “olha, será que essa reportagem vai ser lembrada? Será que eu estou mudando alguma coisa na história fazendo isso aqui?” (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

A resposta tem um tom subjetivo e, ao mesmo tempo, coletivo. No campo subjetivo, o jornal se torna documento do próprio jornalista para ser apresentado como portfólio, como currículo do que produziu, mais pela assinatura que comprova ter produzido o documento do que o sentido do próprio documento. Na segunda abordagem da fala, Igor Miranda volta a indagar sobre o esmagamento da rotina e sobre essa ausência de pensar sobre a própria historicidade do jornalismo enquanto se está sendo produzido. O indicativo assim se pronuncia de forma forte: no momento que o sujeito jornalista está no cotidiano de sua produção de sentido e tem como elemento importante a interpretação da notícia, ele não tem tempo para indagar sobre a historicidade da matéria.

E, assim, a interrogação do entrevistado recai no dilema da própria pesquisa nesta busca de compreender a historicidade: se o jornalista é atropelado pela rotina, ele não tem uma dimensão de que quando ele produz ele está fazendo história. Por que esse jornal se transforma em história? E o tom da resposta do entrevistado segue e reforça o campo de conflito que se estabelece na concepção do que é Jornalismo.

Porque vamos dizer assim, é o que temos? É isso que é produzido, o mercado te exige a produção diária. Há jornalistas que são atropelados pela rotina e há jornalistas que ainda conseguem superar esse dilema. Até quando você me perguntou se todo jornalista tinha noção e se todo jornalista era atropelado pela rotina, existem os jornalistas que não são atropelados, existem jornalistas que mesmo tendo seis horas ali ele consegue pensar a pauta dele certinho, bonitinho, da forma que ele gostaria que fosse. Não é o cara que no dia seguinte fala “meu Deus, como é que saiu isso aqui, como é que eu fui escrever isso aqui”, não é o cara que realmente se arrepende, né? Existem jornalistas e jornalistas também. Claro que passados 50 anos não dá pra você falar: “olha, esse jornalista ele era atropelado pela rotina, esse aqui não”. Não tem nem como você saber disso. (Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Esse é o problema do sentido da historicidade ou da questão sempre enunciada sobre qual a história está sendo narrada pelo jornalista. Há uma enunciação histórica do entrevistado que nos remete a esse dilema: quando o leitor estiver efetivando a leitura de um jornal de décadas atrás, é certo que não terá a compreensão se o jornalista foi esmagado pela rotina ou se ele tinha consciência do que estava produzindo como notícia. Ou mesmo, não terá noção se o nome assinado na matéria, no dia seguinte foi levado ao estado de arrependimento ou mesmo atacado por uma surpresa de ler e não se reconhecer na matéria que indica ter produzido. Se levarmos mais profundo essa ausência de reconhecimento da sua própria autoria, podemos adicionar que há uma possibilidade real do próprio jornalista de se tornar oposição ao seu próprio texto no futuro.

Quem são os jornalistas que não se arrependem no dia seguinte de ter escrito o seu texto? Para que se chegue a esses sujeitos, é preciso ultrapassar a análise de conteúdo para mergulhar na experiência vivida do sujeito. Só que ao recorrer a esse movimento, é necessário considerar que há outros fatores que permitem o reconhecimento histórico. Mais do que os documentos, torna-se necessário estar preparado para a interpretação teórica.

Mas especialmente quem estuda comunicação consegue resgatar uma base histórica e olhar pra essa reportagem e falar que algumas informações aqui são incompatíveis com as informações que eu tenho e de outras fontes que não são o jornal. O jornal também não é a única fonte histórica, a única base da história que a gente tem. Coloca assim um confronto com outros tipos de informação histórica que você tem, ou seja, de livros, de depoimentos brutos que você tem que, às vezes, não se transformaram em reportagem, uma gravação bruta que não foi editada, nem nada, a concepção de pessoas que eram vivas naquela época, que vai contar aquela história, há outras formas né, claro que nem sempre o jornalista tem uma ideia de que isso aqui pode virar história, mas muitos desses, a partir do conhecimento que eu tenho daqui e que eu tenho lá do jornal, eles fazem o máximo pra não serem atropelados pela rotina, há muito idealismo ali, o jornalista pra ser idealista assim ele está se matando um pouco, porque você não pode se

deixar atropelar por uma rotina todo dia e ficar no piloto automático.

(Entrevista, Igor MIRANDA, Out. 2015)

Igor Miranda optou em cursar Jornalismo ao ser instigado pela prática bruta a partir da experiência vivida com o blog com os amigos. O Direito, que o atraía desde a adolescência pela parte teórica, aos poucos foi sendo levado ao confronto com a prática jornalística. A mudança de caminho o levou a criar, então, novas perspectivas: faria o curso de jornalismo na UFU com a proposta de ir para a rua, ter essas novas relações que a prática possibilita na profissão. Porém, a universidade o fez repensar sua perspectiva: a identidade de ser jornalista não está na prática, mas na compreensão teórica sobre o tema e os problemas que o levam para a rua. E por essa razão, o reducionismo da prática passou a ser elemento de crítica em sua concepção do que é ser jornalista.

Mas é no momento em que reconhece a importância do pensamento teórico que o entrevistado é levado a confrontar com outra indagação contraditória: há tempo suficiente para se pensar na produção jornalística? Acentua-se assim o esmagamento da rotina que impossibilita muitos a terem consciência do que se produz como matéria. Esse estado de conflito e tensão do Jornalismo tem de ser entendido pela determinação, e não pelo determinismo econômico. Isso remete a considerar que a luta se estabelece na redação. Há os esmagados pela rotina; há os que constroem sentido no cotidiano da profissão. E esses que lutam sabem que perdem hoje, ganham amanhã, e assim o resultado vai se refletindo na narrativa da história de cada edição.

Que história está sendo narrada pelo jornalismo: pelo relato de Igor Miranda, longe de tratar como maniqueísmo, há os esmagados pela rotina e os que produzem sentido no cotidiano. Tanto um quanto outro estão sentindo o peso dessa luta de ser sujeito histórico. O arquivo do jornal não revela esta dimensão de conflito. Para que se estabeleça valor histórico do Jornalismo é necessário reconsiderar as outras fontes de verdade para que se possa

reconhecer o fundamento histórico. O jornalista pode não ter consciência do que produz como sentido histórico. Mas a decepção, como as que Igor Miranda teve em seu percurso, provam que viver é sempre produzir sentido sobre a realidade. Mesmo que, para isso, seja necessário refazer o próprio percurso, saltando do valor negativo para o positivo.

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