SENSO INCOMUM - 53 - JUNHO 2023

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caneca para sala de aula: cerveja vira tema da ciência FOTO DE CAPA: KARYNNA LUZ
Da
P Peerrmmaannêênncciia a d de e q quueemm? ? Evasão de pretos e pardos expõe desigualdade na UFU Páginas 6 e 7

53 olhares fora do comum

“Comum”, segundo o dicionário, é tudo aquilo que é habitual, que não se destaca em meio a um todo. Então, como podemos chamar de “comum” o jornal que reúne em uma única edição conteúdos relacionados à ciência por trás da produção de cerveja, os bastidores de uma peça teatral, a utilização cada vez maior da inteligência artificial em nosso dia a dia, o impacto inovador das empresas juniores na comunidade e os 45 anos de federalização da nossa Universidade?

Quando paramos para pensar, esses são temas que normalmente não se uniriam em uma única edição de jornal. Entretanto, o Senso (in)Comum tem essa beleza particular de fazer conexões entre assuntos, a princípio, desconexos. Queremos construir um diálogo com a comunidade universitária e expandi-lo para além de seus muros, dando destaque a enfoques que não são tão facilmente pensados por aí. Gostamos de ser paradoxalmente complementares.

É assim que apresentamos a 53ª edição do Jornal Laboratorial do curso de Jornalismo da UFU. Nosso objetivo é unir nestas páginas diferentes histórias, com um olhar singular. Buscamos valorizar assuntos relevantes, que têm pouco espaço em outros veículos, pelo menos, dificilmente da forma como buscamos tratar aqui. Afinal, cada história contada sob um novo olhar é uma revolução de certa forma. Cada situação descrita de maneira distinta do usual enriquece a perspectiva de quem a lê.

A cada nova turma, essa tem sido a nossa motivação: construir edições diversas, que sejam ricas em experiências, contadas a partir de olhares fora do comum. Nós encaramos esse desafio com a esperança de que você seja, de algum modo, tocado (a) e modificado (a) por essas narrativas, como nós também fomos. Boa leitura! 

Não tenho que escolher entre me alimentar ou

estudar, eu tenho direito aos dois

Que a educação seja sobre transformação e não reafirmação

POR IZADORA FARIA, KARYNNA LUZ, LUIZ MARQUÊZ E THUANNE SANTOS

Querido leitor, é preciso deixar claro que discursos bonitos não enchem barriga. Muitos “intelectuais” dentro das universidades são como lobos fantasiados em pele de cordeiros: enchem a boca para falar sobre inclusão e acesso à educação, mas quando são confrontados com a realidade dos alunos parecem simplesmente “lavar as mãos”. Pedimos desculpas, mas não confiamos em belas palavras que vêm de cima para baixo. Não acreditamos na inclusão que exclui e ignora a realidade nua e crua.

É cansativo ter que lembrar a todos que a mesma régua não pode medir o esforço de um aluno que, para sobreviver, divide seu tempo em duas ou até três jornadas para conseguir trabalhar e estudar ao mesmo tempo, com outro que, aos 20 anos, nunca precisou sequer saber qual a cor de uma carteira de trabalho. É exaustivo lutar para ocupar um espaço que é nosso por direito, porém que, a todo momento, parece nos dizer que ali não é nosso lugar.

Como se já não bastasse ter que enfrentar, diariamente, o paradoxo de estudar sobre os males do capitalismo e, ao mesmo tempo, senti-los na pele, ainda é preciso lidar com a frustração iminente de depositar certa fé em figuras que se apresentam como precursoras de mudanças, mas, conscientemente, escolhem se abster das decisões mais importantes. Mais respeitável que usar a carta da consciência social para fortalecer o discurso de inclusão é, verdadeiramente, praticar aquilo que se prega. Então, desenvolva um plano pedagógico que integre e acolha o preto e o pobre e compreenda: jamais peça para um aluno

escolher entre estudar ou se alimentar ou pagar moradia ou, enfim, viver dignamente. Nada disso é questão de escolha!

Até quando as decisões serão tomadas pelo que a intelectualidade tem a dizer e não pelas reivindicações reais de quem vivencia essa rotina na pele? Quantos mais serão defendidos em teoria, mas quando a coisa aperta, e buscamos o diálogo, a resposta é um forte tapa na cara com palavras como “Não podemos ter tudo o que queremos. É preciso escolher entre sobreviver e sonhar.”

Não é culpa sua se sentir mal por não conseguir dedicar-se o quanto gostaria na universidade. Te entendemos, sabemos que passar mais de 12 horas longe de casa e ainda ter energia para desenvolver as atividades básicas é difícil. Porém, infelizmente, você é um guerreiro. Infelizmente! Dizemos isso, porque não deveria ser uma guerra, não deveríamos continuar lutando por algo que já conquistamos. Batalhar para sobreviver não é estar na vida adulta, é estar na labuta. 

Reitor: Valder Steffen Jr. - Diretora da Faced: Maria Simone Ferraz Pereira. - Coordenadora do Curso de Jornalismo: Christiane Pitanga.Professores: Gerson de Souza, João Damasio, Nicoli Tassis e Nuno Manna. - Jornalista Responsável: João Damasio (MTb 3727/GO) - EditorasChefes: Thuanne Santos e Vitória Marcelino. - Editores: Flávio Lombardi e Izadora Faria (Ciência e Tecnologia), Ingrid Gomes e Lucas Samuel Reis (Cultura), Mateus Batista e Samira Batalha (Esporte), e Pedro Krüger e Vitória Pereira (Política). - Opinativos: Carolina Rosa e Vinícius Rodrigues. - Foto e Arte: Camilla Pimentel, Gabriela Couto, Karynna Luz, Suianne Souza. - Redes e Site: Felipe Ponzio, Giovana Sallum, Julia Teresa Silva e Sankey Gabriel. - Checagem: Amanda Passeado, Ana Thommen, Arthur Martins, Danielle Barros e Luiz Henrique Costa.Revisão: Ana Carolina Silva, Ana Clara Souza, Blaranis Gomes, Danielle Barros, Thaís Nadai e Victória Monteiro. - Divulgação: Anna Franco, Arthur de Vitto, Leonardo Piau, Maria Eduarda Ferreira. - Diagramadores: Camila Grilli, Gabriela Amado e Marcus Purcino. Finalização: Danielle Buiatti e Ricardo Ferreira de Carvalho. www.sensoincomumufu.wixsite.com/jornal

IN 2 Senso nº 53 Junho / 2023 DA REDAÇÃO
EDITORIAL// OPINIÃO//
NAS PAREDES DA UFU, HÁ VESTÍGIOS DA LUTA DIÁRIA PELO ACESSO AO BANQUETE EDUCACIONAL. FOTO: LUIZ MARQUÊZ

Curadoria do MUnA investe em medidas de inovação para exposições

Mostras

“Deslocamentos da Memória” e “Autorrepresentações” chegam ao museu no mês de junho e pretendem dialogar com seu público

As exposições “Deslocamentos da Memória” e “Autorrepresentações” estão em exibição no Museu Universitário de Arte (MUnA/UFU) até o dia 31 de julho de 2023, na Sala Lucimar Bello. A mostra, que começou no dia 02 de junho, reúne trabalhos das artistas Alexandra Ungern e Heloisa Lodder, que buscam estabelecer diálogos entre duas pesquisas referentes a memórias de lugares e objetos. Conectando suas histórias pessoais e coletivas, em que deslocamentos obrigatórios e inesperados provocam mudanças nos indivíduos e no ambiente a sua volta, as artistas trazem um olhar poético e realista de como os sentimentos e consequências dessas transições podem afetar as pessoas e o ambiente ao seu redor.

De acordo com o coordenador do setor de acervo do museu, Alex Miyoshi, a entrada das novas mostras se dá por meio de processos seletivos anuais, realizados via edital. Alex explicou que existem diversas maneiras de selecionar obras para exposições: o processo pode incluir convites direcionados a eventos e personalidades influentes no meio artístico, visando abordar temáticas relevantes no momento da sua realização. Além disso, é possível montar exposições com itens já presentes no acervo, combinando-os de maneira criativa e diversificada.

“DESLOCAMENTOS DA MEMÓRIA” E O TRABALHO DE INOVAÇÃO DO MUSEU

A equipe do MUnA tem buscado fazer do museu um espaço cada vez mais interativo em relação a seu público frequentador. Em entrevista, o coordenador-geral do Sistema de Museus da UFU (SIMU), Rodrigo Freitas, relatou que a montagem da exposição “Afetos da Imagem”, ocorrida em maio, foi uma curadoria compartilhada, na qual toda a equipe participou e escolheu até três obras do acervo que queriam ver expostas.

Rodrigo ressaltou a importância de explorar abordagens inovadoras para promover diálogos horizontais. Ele enfatizou que, ao descentralizar a curadoria, é possível envolver pessoas diversas e permitir que contribuam de maneira significativa. Isso se revela como uma maneira interessante de tornar o museu mais aberto e receptivo a uma ampla gama de perspectivas e diálogos, enriquecendo, assim, a diversidade de olhares presentes no acervo.

Outra medida inovadora que visa essa comunicação são os papéis pendurados ao lado das obras expostas no MUnA. Nelas, qualquer

pessoa pode escrever o que pensa sobre as obras ou dar sugestões. Alex Miyoshi destacou que esse aspecto torna a experiência no museu mais interessante, “porque não é só a visita ao acervo e a apreciação das obras e da arte, mas também aos próprios comentários que estão ali”.

Através da exposição e das interações dos visitantes, é possível ter uma percepção do olhar de cada pessoa em relação às obras que a compõem. Um exemplo interessante consiste no relato da estudante do curso de Artes Visuais da UFU e bolsista no MUnA, Ana Luísa Guimarães: “Uma mulher estava no museu e encontrou um prego no chão. Então, ela o equilibrou em cima de um banco branco que estava no local e em um papel intitulou a obra simplesmente como ‘Prego’. O pessoal do museu achou a atitude dela criativa e manteve o objeto como ela deixou”.

A discente também comentou que um dos motivos para sua entrada no MUnA está em sua luta pela democratização da arte. “Não é

patrimônio cultural e a garantia do acesso à informação à comunidade externa.

Outro programa desenvolvido pela instituição consiste na manutenção do acervo, que contempla todo o processamento técnico e a gestão das obras expostas no museu, assim como a documentação de arquivos e bibliografias relacionados a elas. Inicialmente composto por doações vindas de docentes e artistas, ao longo dos anos, a instituição passou a investir na aquisição de obras de expressão nacional e contemporânea, a fim de complementá-lo.

Além do acervo físico, as obras estão disponíveis no site do museu, onde os internautas podem acessá-las digitalizadas e pesquisá-las por tipo e autoria. No acervo digital, o museu ainda conta com uma série de vídeos de depoimentos de professores de Artes Visuais da UFU sobre artistas e obras expostas, além de uma sessão educativa destinada a professores do ensino fundamental. Rodrigo Freitas ressalta que a plataforma, lançada em novembro de 2020, faz parte das práticas inovadoras e dialógicas realizadas pela equipe do MUnA, a fim de aproximar ainda mais a comunidade externa ao museu às obras abrigadas pela instituição.

MUNA E SEU ACERVO

O MUnA é um órgão ligado ao Instituto de Artes da UFU, que possui ações voltadas ao fomento e à divulgação da pesquisa em arte, assim como à manutenção de seu extenso

Mesmo com uma parcela da população não possuindo acesso integral à internet, a disponibilização das obras em formato digital pode ser uma forma de democratizar e ampliar o acesso às obras para o público geral. Isso pode beneficiar e facilitar o trabalho acadêmico, principalmente de estudantes e professores, caso precisem fazer alguma pesquisa, trabalho ou análise utilizando as obras, e que nem sempre terão recursos ou tempo hábil para ir presencialmente ao museu. 

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CULTURA
COM CURADORIA COMPARTILHADA, A MOSTRA “AFETOS DA IMAGEM” FOI EXPOSTA NA GALERIA CENTRAL DO MUNA DURANTE O MÊS DE MAIO. | FOTO: GIOVANA SALLUM COMO FORMA DE ENRIQUECER O DIÁLOGO, OS VISITANTES RESPONDEM UMA PESQUISA DE OPINIÃO SOBRE O MUNA E DEIXAM COMENTÁRIOS SOBRE SUA EXPERIÊNCIA. FOTO: VITÓRIA MARCELINO

Por trás das cortinas de um espetáculo

Peça pretende apresentar ao público uma nova visão de obra de Nelson Rodrigues

espetáculo. Solirian também diz que esta função é feita no teatro para criar a ambientação, criar o tom das coisas, para o público entender o contexto. “Isto ajuda a dar corpo para as ações do ator em cena e a potencializar todas as outras interferências da cena”, explica.

“Sem a pré, a pós-produção e o durante, a apresentação perderia sua singularidade e a magia que o teatro passa ao espectador”. É assim que o artista plástico e estudante de Teatro, Salvador Neto explica a importância dos trabalhos desenvolvidos nos bastidores das peças teatrais. Ele diz que essas produções seriam “pobres”, pois os profissionais que atuam por trás das cortinas são essenciais para que toda a equipe consiga apresentar um produto de qualidade para o público. Ele ainda pontua que “se fosse algo mais simples, o teatro nem existiria”.

"A peça de Nelson Rodrigues não é sobre a negritude. É sobre o preto; é uma apresentação do branco em cima do preto”. Esta é a percepção de João Marques, criador do espetáculo “Reticências… Quase um anjo negro”, que está sendo exibido ao longo do mês de junho na cidade de Uberlândia.

A apresentação é um metateatro que propõe a realização de uma releitura da obra “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues. A obra conta a história de Isaías, um médico preto, que se deita com Virgínia, uma mulher branca. No decorrer da história, ela engravida várias vezes de filhos pretos, porém todos morrem. Isaías, ao confrontá-la, descobre então a verdade por trás da morte de seus filhos. Na encenação feita por João, ele incorpora Isaías e narra toda a peça a partir da visão do personagem preto.

As exibições vão acontecer ao longo deste mês, às 19h, nos locais indicados na imagem de divulgação da peça.

O ator e graduando em Teatro, João Marques, reescreveu a dramaturgia a fim de atingir dois públicos ao mesmo tempo, as pessoas brancas e pretas, porém de formas diferentes. Ele conta que tal ideia surgiu a partir da sua vontade de falar da negritude e gritar “eu, João, sou ator, sou preto.”, a fim de denunciar a dificuldade que os atores pretos enfrentam para subir aos palcos. Além de Marques, a peça foi desenvolvida por outros estudantes e profissionais do curso de Teatro da UFU; como os discentes Pedro Solirian e Camila Tiago, que atuaram,

respectivamente, como sonoplasta e diretora de iluminação, e o docente Narciso Telles, co-criador da peça.

A ATUAÇÃO DA EQUIPE TÉCNICA

Uma cenografia não é concebida somente pelos atores: há pessoas por trás dos palcos, como figurinistas, maquiadores, roteiristas, diretores e produtores que trabalham para que as apresentações aconteçam. Esses técnicos fazem com que as exibições se tornem únicas para seus espectadores. Camila Tiago descreve seu trabalho como “a edição da cena, com a possibilidade de fechá-la e focá-la, guiando o que será visto pelo espectador”.

Além disso, ao retratar a iluminação como um ator imperceptível aos olhos do público, ela declara que “a luz possibilita ao público ver o espetáculo; só se enxerga porque tem luz. Além disso, a iluminação tem um papel fundamental na questão da estética do espetáculo e de como ele vai ser visto”.

A sonoplastia é outro fator essencial para as produções teatrais: ela trata da comunicação pelo som, com isso nos transmite as emoções das cenas. Pedro Solirian pontua que, nesta apresentação, o som é extremamente significativo. Ele conta que a construção desta exibição foi feita com colagens dos teatros moderno e contemporâneo, com músicas de tempos atuais e mais antigos para criar essa sonoridade para o

Os bastidores dos espetáculos dão vida às histórias, pois são seus profissionais que transformam as ideias em realidade. É a partir desse trabalho conjunto que os atores podem iniciar sua performance para o público: “você nunca sabe se vai funcionar até subir no palco”, diz o ator e professor do curso de Teatro, Narciso Telles. Ele enfatiza a necessidade dos trabalhos cênicos serem desenvolvidos como um todo, não de forma individual.

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POR GABRIELA DINIZ E LUIZ MARQUÊZ
PROGRAMAÇÃO DA PEÇA. ARTE: MARINA FRAPPA O ENSAIO COMO MEIO DE SE CONECTAR COM A PERSONAGEM E SUAS EXPERIÊNCIAS.. FOTO: LUIZ MARQUÊZ

"Para inovar, não precisa ser novo"

O Movimento Empresa Júnior (MEJ), empreendimento formado por alunos da graduação de universidades do mundo todo, tem como objetivo formar empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil. Além de fomentar o mercado da região por meio das metas de faturamento, inclusão e colaboratividade entre membros.

Anualmente na Reunião Regional das Empresas Juniores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, temas relacionados à gestão organizacional, vivência empresarial e planejamento estratégico são explicados e debatidos. Este ano, o evento ocorreu nos dias 27 e 28 de maio no Campus Santa Mônica (UFU) e contou com cerca de 300 congressistas, incluindo parceiros do mercado sênior, como Ambev, Algar, Sebrae e Stone.

Para explicar melhor sobre esse universo, o Senso (In)comum entrevistou Heitor Bravalieri, antigo membro da ConsultEQ (empresa júnior de Engenharia Química da UFU) e atual Diretor de Desenvolvimento da Rede na FEJEMG (Federação das Empresas Juniores de Minas Gerais).

Senso (In)comum: Qual o impacto do Movimento Empresa Júnior na sociedade?

Heitor Bravalieri: O MEJ é utilizado como uma ferramenta de empreendedorismo para os jovens, e como potencializador disso dentro das universidades. Ele é a busca por aprendizados e melhorias na totalidade dentro das instituições. Além de possibilitar que os alunos aprendam sobre seus cursos na prática, colocando em ação o que viram em sala de aula, e oferecendo um produto de qualidade abaixo do preço do mercado sênior, auxiliando pequenos e médios empreendedores.

Senso (in)comum: O que é o PlanejamentoEstratégicodarede?

Heitor Bravalieri: O Planejamento Estratégico da Rede (PE) é cíclico e focado em atingir os objetivos específicos de cada período. O primeiro foi feito no

começo da década de 2010, e a partir de então começou a guiar todo o caminho que o Movimento Empresa Júnior iria trilhar, se tornando muito importante. Iniciamos esse PE no ano passado (2022) e ele vai ser trabalhado até 2024. Da mesma forma que empresas seniores têm planejamentos trienais, que às vezes duram 10 anos, o MEJ também precisa de uma estratégia para alcançar suas metas ao fim de cada três anos.

Senso (in)comum: Por que os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estão dentro do MEJ?

Heitor Bravalieri: As ODS partiram da ONU objetivando até 2030 acabar com a inquietude, buscar igualdade de gênero, erradicação da pobreza, tentar evoluir negócios como infraestrutura, questões ambientais, como vida na água, vida terrestre e a busca pela paz. Para que uma solução seja inovadora, ela precisa atingir uma ou mais ODS. Assim, as EJs trazem isso como uma resposta para ajudar nessa luta internacional e como uma forma de gerar mais impacto em coisas que precisam ser melhoradas ou erradicadas na sociedade.

Senso (in)comum: O que caracteriza uma solução inovadora no Movimento?

Heitor Bravalieri: Esse termo foi desenvolvido juntamente com o último Planejamento Estratégico da Rede. Ela é uma forma de medir o impacto que determinado projeto está causando na sociedade como um todo, como a empresa júnior está conseguindo transformar aquela solução em um core business (“núcleo de negócio” em português, ou seja, a principal atividade da empresa) vendê-la e torná-la rentável.

Senso (in)comum: Quais são os indicadores que metrificam uma solução inovadora?

Heitor Bravalieri: O primeiro

Satisfaction Score ou “Pontuação de Satisfação do Cliente” em português) que mede a satisfação do cliente, sendo a solução inovadora quando atinge 70% de coleta. O segundo indicador é o Impacto nos ODS, que reforça o impacto positivo da solução na sociedade. Já o terceiro é o Índice de Adequação de Mercado, que é um cálculo feito para analisar a profundidade dessa solução. Por fim, o último indicador é a Representatividade da Meta, ou seja, se uma EJ tem uma meta de 10 mil reais, para atingir o indicador ela tem que vender uma só solução com esse preço. Quando esses quatro indicadores são contemplados, a EJ tem uma solução inovadora.

Senso (in)comum: Qual o impacto de uma solução inovadora na sociedade?

Heitor Bravalieri: O Triângulo Mineiro é uma das regiões mais ricas do estado, e o MEJ é fortalecido pelas duas cidades que são polos da região: Uberlândia e Uberaba, onde estão grande parte das empresas juniores. Somando o faturamento de todas as EJs federadas atualmente à Rede Triângulo, elas faturam mais de um milhão de reais. Esses projetos têm um impacto muito grande na sociedade porque estão entregando melhorias para as pessoas e contribuindo para a

IN 5 Senso nº 53 Junho / 2023
POLÍTICAS
HEITOR TAMBÉM FOI DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO NO NÚCLEO TRIÂNGULO. FOTO: SAMIRA BATALHA NO EVENTO, ACONTECERAM PALESTRAS VOLTADAS PARA TODAS AS ÁREAS DAS EMPRESAS JUNIORES. FOTO: MATEUS BATISTA

“Enquanto aluno e pesquisador, nunca fui alcançado por nenhuma política institucional específica para proteção às pessoas negras dentro da UFU”, admite o historiador, professor e mestre em História, Flávio Muniz, após quase 11 anos de vida acadêmica corrente na mesma instituição. Enquanto estudante, afirma que as bolsas de alimentação e transporte contribuíram significativamente para que pudesse permanecer na universidade e concluir o curso. Pesquisador das africanidades brasileiras e defensor de políticas que favorecem a abertura e permanência de estudantes negros nas universidades, Flávio atualmente é formando do curso de direito na UFU. Além disso, é fundador do projeto Escola Da Vida, iniciativa que promove ações de inclusão no ensino superior para jovens da periferia. Coordenador do Curso de Formação para as Relações Étnico-RaciaisERER, promovido pelo NEABI UFUPONTAL (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas), em todas as suas conquistas profissionais e acadêmicas, confessa que percebe ser uma exceção em seu grupo sociorracial.

O acesso de pessoas negras às universidades é prejudicado pela falta de políticas de permanência compatíveis com suas realidades. “O aluno não é visto como um ser integral. Apesar de a universidade pretensiosamente ter isso no nome, de ser universal, ele é visto apenas como um ser isolado, como estudante, não como uma pessoa.” Flávio aponta ter acompanhado diversos ca-

sos de pessoas que, sem tempo até mesmo de ir ao RU, precisam ir rapidamente da universidade para o trabalho. Situações como essa causam impacto na produtividade e qualidade da formação desses estudantes.

Desde que completou 34 anos de federalização, em 2012, a UFU iniciou a implementação de políticas de cotas no vestibular de graduação somente a partir das diretrizes da Lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas). Essa lei é uma conquista fundamental na promoção da representatividade e diminuição da desigualdade no acesso à universidade pública no Brasil. Uma ferramenta poderosa para combater injustiças históricas e ampliar oportunidades para grupos sub-representados, contribuiu significativamente para o aumento do número de alunos negros matriculados nas universidades do país, que foi de 41% em 2010, para 52% em 2020, segundo dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e do Inep.

Em sua primeira experiência como estudante da UFU, em 2013, Flávio fez parte das primeiras turmas contempladas pelo recém-criado sistema de cotas. No entanto, ao invés de ouvir comemorações pelo início do progresso contra anos de negligência pública, Flávio conta que as falas de alguns professores reduziam as cotas a um espaço de culpa:

“Ouvi professores falarem aqui, por exemplo, que depois que os alunos cotistas entraram na faculdade, o nível de ensino havia caído. Entendeu? Como se nós fossemos responsáveis pela queda do ensino. Eu terminei a graduação, terminei o mestrado e agora estou me formando em Direito na mesma universidade. Eu não sou uma exceção dentro da universidade. Mas infelizmente sou uma exceção dentro do meu grupo sociorracial".

O crescimento da inserção da população negra nas universidades evidencia mudanças no cenário social, porém, há ainda certa disparidade entre o número de estudantes ingressantes e a quantidade de formandos, o que levanta questionamentos a respeito dos mo-

tivos da evasão. Cenários como este expõem a urgência da necessidade de manutenção da Lei e dos cuidados no processo de revisão, além da implementação de políticas de apoio socioeconômico e cultural aos estudantes beneficiados. Dessa forma, com diretrizes atualizadas, espera-se ser possível diminuir as taxas de evasão e proporcionar a mais jovens negros a possibilidade de se formar.

Para fortalecer o debate sobre o tema, o Senso (In)comum conversou com Flávio Muniz a respeito de questões específicas das políticas de acessibilidade estudantil.

Senso (In)comum: Por que a revisão da Lei de Cotas - PL 5384/2020 é importante e de que forma esta pode afetar o acesso e permanência dos estudantes negros nas universidades públicas?

Flávio Muniz: A Lei de cotas já prevê uma revisão a cada dez anos. Assim, temos que analisá-la para entender se esta é eficaz e se continuará vigente. Concordando tanto com Nelson Mandela quanto com Paulo Freire, a educação é a ferramenta mais poderosa para transformar o mundo. Quando você nega à pessoa o direito ao acesso à educação, também nega o direito de mudar sua própria realidade. O nome já diz, é um processo seletivo. Algumas pessoas nascem dentro do estádio, na marca do pênalti, e outras nascem do lado de fora. A ideia da lei é colocar todos no estádio e pelo menos reduzir a desigualdade e aumentar a possibilidade de acesso à universidade pública Outro problema é: se a lei resolve o problema do acesso, não garante a permanência desses ingressantes. Não existe, no texto, nada em relação à permanência ou auxílios. Assim, falta entender por que permanecer na faculdade é importante e, para isso, é preciso ter infraestrutura. A revisão precisa incluir uma questão de justiça histórica, sobretudo porque a essa população foi negado o direito à educação durante mais de 100 anos. A lei de cotas só existe porque tivemos um

6 ESPECIAL
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PARA FLÁVIO, O USO DAS COTAS DESNORMATIZA LUGARES INFERIORIZADOS. “TENHO UMA AMIGA ADVOGADA QUE PRECISOU RETIRAR SUAS TRANÇAS POIS NÃO ERA CABELO DE ADVOGADA. ENTÃO, SIM: O RACISMO É REAL E A LEI DE COTAS PRECISA ATINGIR ATÉ EMPRESAS". FOTO: THUANNE SANTOS

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processo de exclusão social programática na história do Brasil.

Senso (In)comum: De que forma as ações afirmativas, no geral, têm contribuído para a permanência, qualidade e conclusãodaformaçãodosalunoscotistas?

Flávio Muniz: A lei que garante acesso não tem nada em seu texto que garanta a permanência. Agora, veja bem:os cotistas são as pessoas que mais têm que trabalhar durante a universidade e, assim, não podem dedicar-se integralmente aos estudos. Por isso, por fazerem parte desse recorte socioeconômico inferior da sociedade, sofrem mais pa- ra terminar o curso. Ela não é necessariamente uma lei que garante acesso apenas a pessoas negras, mas garante acesso a pessoas negras e pessoas dentro de um recorte social inferiori-

zado e marginalizado. E se o racismo e a discriminação socioeconômica são estruturais, épreciso atacar a estrutura através de políticas públicas e revisar a lei para garantirbolsasdepermanência.

Senso (In)comum: Enquanto estudante e pesquisador, você consegue identificar se as políticas de acessibilidade existentes para a população negra na UFU geram impactos significativos a essas pessoas?

Flávio Muniz: Acredito, sim, que são importantes os benefícios de suporte à permanência concedidos a pessoas negras ou que têm dificuldades socioeconômicas. Eu fui usuário tanto da bolsa de alimentação na minha graduação quanto da bolsa de transporte. Isso sim faz diferença, porque é um custo que representa impacto significativo do orçamento doméstico, e esse impacto é reduzido. No entanto, a universidade tem que pensar ainda na questão de livros e acesso a outros materiais, por exemplo. Ela tem que pensar nos estágios pro-

postos, porque muitas dessas pessoas trabalham para sustentar a vida ou para ajudar em casa, então precisa ser revisto, sim, porque a estrutura [das pessoas em questão] não é a mesma.

Senso (In)comum: A UFU acaba de completar 45 anos de federalização. Dessa forma, atualmente, existem políticas e assistências para permanência de estudantes pretos e pardos elaboradas pela própria universidade?

Flávio Muniz: Olha, vamos pensar nesses 45 anos e analisar os institutos e a instituição. Eu acredito que as políticas públicas promoveram grandes mudanças na UFU. Não tenho dúvida dos benefícios que vêm das bolsas de auxílio. Uma pergunta muito interessante é: por que na UERJ começa em 2001, na UNB começa em 2004 e a UFU vai pensar nisso só depois que houve a lei? Não existiam essas políticas específicas antes aqui? Não. Existe a estrutura da universidade que é racializada. A gente não pode celebrar o óbvio. Eu acho que falta à UFU ousadia para assumir que, historicamente, é uma instituição que segregou, separou, racializou, discriminou e agora quer estabelecer um novo rumo e uma nova forma de pensar a universidade.

Senso (In)comum: Enquanto estudioso do tema e beneficiário do sistema de cotas em seu primeiro ano de implementação, o que você acredita que a revisão deveria trazer como mudança ou novidades?

Flávio Muniz: Eu acho bom ter sido um beneficiário da primeira versão e sou grato. Mas essa primeira versão pensou em garantir acesso e não em garantir a permanência. A revisão tem que ser feita nesse sentido: pensar políticas que incluam no orçamento a pessoa negra, estudante universitária e com recorte financeiro específico. A segunda versão tem que oferecer garantia de permanência e pensar na geração de oportunidades para o aluno cotista graduando e formando. Então, apenas oferecer o ticket para alimento e transporte não é suficiente. Ah, mas o Estado tem que fazer tudo? Sim! Nós temos que pensar que o Estado precisa fazer isso agora, porque durante mais de um século ele se negou a fazê-lo. 

ESPECIAL 7
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“Para mim, esporte é vida”

deve ser questionada. Existem tantos programas de inclusão, e vão tirar quem tem mais idade? Pelo menos, para mim, foi assim que eu mesenti,sofrendocomoetarismo.

Senso (In)comum: Quando você entrou para o time da UFU e para a Atlética da Medicina, como você foi recebida pelas equipes? Você sentiu alguma diferença no tratamento?

Entre os dias 5 e 9 de abril, ocorreu na cidade de Uberaba a disputa pelos Jogos Universitários Mineiros (JUMs). O evento reuniu estudantes de todo o estado para competir em 12 modalidades esportivas. Nos esportes coletivos, a parceria UFU/Praia faturou duas medalhas de ouro, no Basquete e no Voleibol Feminino. Quem jogou no vôlei e vibrou com a vitória foi a jogadora Andréa Maiolino, 54 anos, que competiu pela primeira vez no torneio.

Andréa é psicóloga e mestranda em Ciências da Saúde. Atualmente, joga pela Atlética Medicina e pelas Equipes de Treinamento UFU. Ela conta que os anos de experiência lhe trouxeram maturidade para ocupar uma posição "coringa" nos times. Mas, em competições como o JUMs, a experiência pode ser vista como uma limitação. Não é só o talento que conta: a idade também é um dos critérios para ser selecionada.

Senso (In)comum: Como foi o iníciodasuatrajetórianoesporte?

Andréa Maiolino: Eu era uma criança muito pobre, meu pai era caminhoneiro. Um dia, estava no UTC [Uberaba Tênis Clube] e o presidente do clube me viu. Como eu era muito alta, ele me chamou para jogar e me interessei, só que eu não tinha tênis, não tinha nada. Ele foi na minha casa, conversou com o meu pai e falou que me daria o tênis e a joelheira para que eu pudesse começar a treinar. Com isso, passei a frequentar os treinos

e em três meses já estava jogando no time adulto, mesmo tendo apenas13anos.

Senso (In)comum: Você tem uma graduação e agora está fazendo mestrado. Como foi entrar para otimedevôleidaUFU?

Andréa Maiolino: Um dia recebi um e-mail da UFU me convidando para treinar pela Universidade. Então, fui para a seletiva, participei de todo o processo e fiquei entre as escolhidas. Quando veio a competição do JUMs, falaram que 12 meninas iriam participar. Na primeira seletiva, escolheram 15 e eu estava entre elas. E depois de já ter me preparado, me disseram que só poderiam entrar duas atletas acima dos 25. Ou seja, primeiro eu iria competir por uma das 12 vagas e depois por uma das duas, a disputa seria mais difícil. Aí eu questionei: como assim vou ser discriminada por ter 54 anos, sendo que passei portodasasfases?

Senso (In)comum: O que você sentiu quando descobriu que sua idade poderia ser um empecilho paravocêcompetirnoJUMs?

Andréa Maiolino: Na hora me senti discriminada, não pelas atletas ou pela técnica, mas pela regra. Acredito que não seja uma regra justa, porque muitas pessoas fazem faculdade mais tarde, cada um tem um momento na vida e a idade não pode ser um motivo de exclusão. Se querem fazer algum tipo de seleção, precisa haver outros critérios que não a idade. Eu imagino que essa regra seja nacional, mas ela

Andréa Maiolino: Como eu comecei a treinar no pós-pandemia, ainda não tinha um time formado, então começaram a chamar todo mundo e montar as equipes. Quando eu cheguei, comecei a treinar com quem já estava aqui e fui muito bem recebida com todo o carinho domundo. Amaioria das atletas daqui já me conheciam de algum lugar ou já cruzaram comigo em alguma quadra,porque eu tambémjogo pelo Master do Praia há 18 anos. Aqui, como estava todo mundo sendo chamado naquele momento, não tinha nenhuma “panelinha”. Eu não vejoesseclima,achoqueas pessoas recebem muito bem qualquer um que chega. Inclusive, o critério de idade para competir foi uma surpresageralparaotime.

Senso (In)comum: Hoje, você sente que tem uma segurança maior em quadra do que quando estavanacasados20anos?

Andréa Maiolino: Tenho muito orgulho da história que eu cons-

melhor de dentro de mim. Agora, eu consigo me adaptar em qualquer posição em quadra: central (atacante de meio), atacar na saída, ponteira (atacante de ponta). Isso, com certeza, vem com a maturidade. Eu podia ter mais força e mais potência naquela época, mas hoje eu tenho mais sabedoria e mais inteligência emocional para lidar com o jogo. Se eu tiver um time para jogar, vou jogar até morrer, até dentro das minhas limitações, porque o esporte me traz vida, amizade, equipe. Para mim,esporte é vida.

Senso (In)comum: Vocês ganharam o JUMs e estão classificadas para a próxima fase. Como está sendo a sua preparação para os JogosUniversitáriosBrasileiros?

Andréa Maiolino: Ganhamos o JUMs sem perder nenhuma partida, todos os jogos foram de 3 sets a 0. Isso para nós foi um marco, porque entre altos e baixos, nós conseguimos nos recuperar e ainda fechar o set. Já a minha preparação se mantém a mesma: cinco vezes por semana eu treino à noite, faço academia e pilates duas vezes por semana e, quando consigo, nado. Também tem toda uma preparação emocional, porque, para manter um corpo master, funcionando bem, é importante a gente cuidar de todos os aspectos, do relaxamento à alimentação. Então, uso

IN 8 Senso nº 53 Junho / 2023 ESPORTES
Andréa Maiolino, atleta da UFU, conta sua relação com o esporte após 41 anos de prática
POR ANDRÉA DESTACA QUE AS RELAÇÕES DE AMIZADE E A CONVIVÊNCIA EM EQUIPE SÃO ADICIONAIS À PRÁTICA ESPORTIVA. FOTO: ANA CAROLINA SILVA ENTRE AS CINCO MENINAS QUE DISPUTARAM AS DUAS VAGAS 25+, ANDRÉA E BRUNA FORAM AS SELECIONADAS. FOTO: ANA CAROLINA SILVA

COLUNA INFORMATIVA//

É possível praticar esportes na UFU?

Condições dos centros esportivos dificultam atividades físicas

POR ARTHUR DE VITTO E FLÁVIO LOMBARDI

Obras sem continuidade. O Centro Esportivo do Campus Santa Mônica foi interditado em 13 de março para reforma da academia e da quadra e melhorias no campo society. A previsão para a volta do uso do espaço era setembro de 2023, contudo, a obra não teve continuidade. Segundo a Divisão de esporte e lazer universitário (DIESU), ela foi abandonada pela empresa responsável sob alegação de não ter condições de concluir o serviço. O centro esportivo possui academia, que está fechada desde 2019, quadra poliesportiva, campo society e sala de lutas. Para o coordenador da DIESU, Adilson Henrique de Souza, os principais problemas que o centro enfrenta são estruturais. No campo, há marcações ruins no chão e o gramado está sem manutenção. Já na academia, o motivo para reforma é o fechamento das laterais, para proteger os aparelhos de ações climáticas. Após a solicitação do órgão, a contratação da empresa para reforma é feita pela Prefeitura Universitária dos Campi de Uberlândia (Santa Mônica, Umuarama e Educação Física).

de duas quadras de peteca. Para a DIESU, as principais questões notadas no campus são referentes à manutenção. Adilson explica que um dos fatores de melhoria seria modernizar a estrutura já presente no campus, como o campo de futebol, que não possui sistema adequado de drenagem. "Em dia de chuva, a gente não consegue disponibilizá-lo, porque a água fica no campo" cita Adilson. O campus Umuarama tem situação oposta ao da Educação Física. O centro possui uma quadra sem cobertura para futsal e vôlei, mas não basquete. A Diretoria de Projetos e Orçamentos da Prefeitura Universitária abriu um edital para planos de reforma em dezembro de 2022. A Proae solicitou a cobertura da quadra, no entanto, ainda não há nenhum projeto em andamento, já que esses são executados com ordem de prioridade.

via, segundo Janderson Cristian, assessor da Prefeitura Universitária do campus, a Asufub encontra-se desativada e não há nenhum projeto para construção de um centro esportivo nos próximos anos.

ACADEMIA DO SANTA MÔNICA COM OBRAS ABANDONADAS. FOTO: ARTHUR DE

Problemas contratuais. Em consulta ao contrato, disponível no site de Licitações, Compras e Contratos da UFU, as informações do processo são de que a obra teria início em outubro de 2022 e encerramento em abril do ano seguinte. No processo, foi observado que a Eli Construções, Terraplanagem e Transportes LTDA receberia um valor estimado de R$ 552.274,34. Segundo termo aditivo do contrato, foi solicitado pela empresa a ampliação do prazo, e a obra teria finalização prevista para agosto de 2023. Além disso, também foi solicitado acréscimo no serviço de R$ 12.570,48. De acordo com Maiko edrosa, fiscal da Divisão de Fisca-

lização, subordinada à Diretoria de Obras da Prefeitura Universitária do Campus, a prorrogação do contrato era de maior benefício para a UFU, mas a empresa não arcou com os prazos. Com isso, ela foi multada por atraso e rescisão de contrato sem justa causa. Maiko conta que a empresa alegou problemas financeiros devido a outras obras, lentidão e não cumprimento do cronograma.

Condições Opostas. O Campus Educação Física é o que mais possui instalações esportivas: seis ginásios, um campo de futebol, duas piscinas, uma pista de atletismo, dois campos society, além

Buscando espaços. Em Patos de Minas, o centro possui uma quadra poliesportiva sem cobertura no campus do Pavonianos. Joaquim Ferreira, diretor de esportes da atlética de Patos, conta que as demandas de melhorias já foram repassadas em fóruns estudantis, sendo elas a cobertura da quadra, reforma do piso de concreto e uma rede de proteção. Joaquim relata ainda que, no fim do ano, ocorrerá uma mudança para um novo campus em Patos. Essa transferência fará com que a quadra não esteja mais disponível para os alunos. Em conversa com Matheus Gomes, assessor da Prefeitura da UFU em Patos, ele afirma que ainda não há verba disponível para que seja construído um centro esportivo, mas ressalta a vontade do campus em ter um espaço voltado para a prática. Já no Glória, em Uberlândia, ainda não há projeções para a instalação de centros esportivos na unidade, afirma a DIESU. Adilson cita o complexo da Asufub, que poderia ser o mais próximo de um centro para o campus. Toda-

À espera de novas alternativas. Com o encerramento da parceria com o Sesi para realização das atividades esportivas, o campus Monte Carmelo atualmente não possui nenhum centro para prática esportiva. Devido a isso, os alunos do local precisam procurar serviços de fora da faculdade para realização de treinos ou atividades. Entre esses serviços, uma alternativa é buscar parcerias com a prefeitura da cidade. A DIESU afirma que há um projeto para criação de um centro esportivo no campus, com quadra e campo de futebol que aguarda a contratação de uma empresa. No entanto, Clésio Eustáquio da Silva, um dos servidores responsáveis pelos processos de licitação, afirma que não há nenhuma licitação a respeito do centro esportivo. Por outro lado, o campus Pontal sofre devido ao abandono de obras. Elas chegaram a ser iniciadas, mas não foram concluídas, de acordo com a DIESU. O campus conta, atualmente, apenas com a academia, que não está sendo utilizada por não ter instrutor disponível. Segundo Biliane Conceição, coordenadora da Prefeitura Universitária da cidade, uma nova licitação será aberta para o retorno das obras, porém sem data definida.

IN 9 Senso nº 53 Junho / 2023
ESPORTES
VITTO COORDENADOR DA DIESU EXPLICA IMPOSSIBILIDADE DO ÓRGÃO DE CONTROLAR AS REFORMAS DOS CENTROS ESPORTIVOS. FOTO: ARTHUR DE VITTO

UTILIZAÇÃO

Estudantes e professores da UFU integram a tecnologia no dia a dia acadêmico

nos passaram a ter experiências de estudo personalizadas com o uso de programas que contribuem em vários sentidos, como fazer cálculos complexos ou redigir textos automaticamente.

Acerca dessa nova experiência no cotidiano dos estudantes, Claudiney Ramos Tinoco, professor da Faculdade de Computação da UFU e Doutorando em Computação com ênfase em Inteligência Artificial, ressalta que é preciso se acostumar com o uso dessas tecnologias em sala de aula. “Não tem como eu falar ‘vamos parar a inteligência artificial, ninguém mais vai utilizar isso’. A gente tem que se adaptar”, o professor enfatiza.

cia artificial (IA) estão cada vez mais presentes no cotidiano do povo brasileiro por serem capazes de auxiliar em diferentes áreas como saúde, comunicação, plataformas de streaming e até educação. Segundo a pesquisa "Inteligência Artificial”, realizada no Brasil, em março deste ano, pela empresa Hibou Monitoramento de Mercado e Consumo, 87% das 1.765 pessoas entrevistadas relataram que já ouviram falar sobre inteligências artificiais. Além disso, 54% delas afirmou acreditar que a IA já está modificando seu cotidiano.

Outros dados coletados pela mesma pesquisa indicam quais utilidades as pessoas acreditam que a inteligência artificial pode ter. Das diversas opções listadas, 29% do público acredita que ela pode ser usada como ferramenta de busca, 27% para traduzir textos de forma contextual e 25% para criar imagens ilustradas ou computadorizadas. A popularização de ferramentas como o “Chat GPT”, por exemplo, mostra como a IA vem deixando o nicho de pesquisadores da área de tecnologia e tomando espaço também na sociedade, principalmente no meio universitário, onde os alu-

Embora a inteligência artificial tenha permitido avanços tecnológicos e facilitado diversos processos, sua utilização também apresenta riscos para os usuários e para a população como um todo. Sobre os problemas que elas oferecem para o ambiente acadêmico, Claudiney afirma que o papel do professor é mostrar o lado bom e o lado ruim de diversas fontes de conhecimento. Ele explica que, em suas aulas, após o ensino teórico, os alunos são direcionados para a prática, utilizando, por exemplo, o Chat GPT para fazer experimentos. Sobre a dinâmica, ele comenta: “eles vão olhar aquela resposta não como fonte de informação, mas com um olhar crítico”.

Para além da sala de aula, Claudiney também realiza pesquisas sobre Inteligências Artificiais com o objetivo de otimizar algumas atividades do cotidiano. Segundo ele, "o uso da IA é para facilitar a vida humana e a execução de tarefas no dia a dia das pessoas, principalmente tarefas repetitivas, não para substituílas”. As pesquisas realizadas pelo professor são apenas algumas das várias que estão sendo desenvolvidas na UFU, principalmente dentro do Departamento de Inteligência Artificial.

ESTUDOS REALIZADOS NA UFU

POSSIBILITAM APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL EM ÁREAS COMO SAÚDE E EDUCAÇÃO

Contribuições no ensino remoto. A partir de estudo coordenado pela pesquisadora Márcia Aparecida Fernandes, da Faculdade de Computação (FACOM), é possível perceber que a aprendizagem virtual melhorada tem se tornado possível no cenário da UFU. Isso graças a criação de IAs que cruzam dados e criam perfis que permitem conhecer profundamente o aluno que utiliza essas plataformas virtuais. Com essas informações, é possível otimizar a aprendizagem, apontando, por exemplo, a melhor combinação potencial de alunos em grupos de estudo. Além disso, também foram criados chatbots, agentes conversacionais inteligentes, que permitem maior integração do aluno com o ambiente no qual está inserido, garantindo a aprendizagem colaborativa no ensino online. Dessa forma, os estudantes participam e interagem ativamente entre si, impulsionando o aprendizado individual.

Diagnósticos médicos facilitados. Garantir um diagnóstico de qualidade em instantes é um dos objetivos de pesquisa no departamento de IA da UFU. Para isso, pesquisadores da universidade, liderados pelo professor Anderson Rodrigues dos Santos, criaram um software capaz de interpretar amostras biológicas em até dois minutos. Para que essa análise seja possível, as amostras biológicas dos pacientes passam por uma "digitalização". Dentro da máquina digitalizadora, ocorre a incidência de laser no material, e logo após as características refletidas são alinhadas e transformadas em

um gráfico. Ao final de todo esse processamento, a inteligência artificial criada pelos pesquisadores interpreta o mapeamento e dá o diagnóstico para a doença testada. Atualmente, a pesquisa contempla apenas doenças crônicas.

Melhoria no fornecimento de serviços. A área da comunicação também foi beneficiada pelas pesquisas. Os setores responsáveis pelo atendimento e experiência de clientes em empresas, por exemplo, podem ser otimizados com o uso de ferramentas de inteligência artificial capazes de melhorar o serviço fornecido. Em uma pesquisa guiada pela professora, pesquisadora e especialista em mineração de dados Elaine Ribeiro de Faria Paiva, também da FACOM, foi desenvolvido o protótipo de um programa cujo objetivo é minerar os dados dos bancos de informações da empresa parceira e agrupá-los de modo que a empresa fornecedora identifique pontos de alerta, como falhas no fornecimento de serviços de banda

“É UM MUNDO INTERCONECTADO, EM QUE PODEMOS MAPEAR UMA PESSOA”, EXPLICA ELAINE SOBRE MINERAÇÃO DE DADOS. FOTO: ANNA FRANCO

IN 10 Senso nº 53 Junho / 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
“O uso da IA é para facilitar a vida humana, não substituí-la"
POR ANNA FRANCO, CAMILA GRILLI, MARCUS PURCINO E VITÓRIA PEREIRA
FREQUENTE DE FERRAMENTAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL REVISAM DISCUSSÕES ÉTICAS.
FOTO: CAMILA GRILLI

Ao chegar no bar Captain Brew, em Uberlândia, você vai até a bancada e pede uma bebida. O atendente te serve uma “caneca suando” e diz: “Trouxe a mais gelada da casa pra você”. Foi isso que aconteceu, nos dias 23 e 24 de maio, durante o evento Pint Of Science, em que temas científicos e a relação entre cerveja e ciência se tornaram assuntosnamesadobar.

A cerveja, uma das bebidas mais conhecidas no Brasil, é parte da rotina dos brasileiros, que consomem em média 14 bilhões de litros por ano, segundo uma pesquisa realizada pela Euromonitor International, em 2021. Dentro de um bar ou de grandes centros de pesquisas, ela é consideradaumagrandeinvenção.

Para o professor Eduardo Almeida, doutor em química e pesquisador do ramo cervejeiro, a cerveja nãoficasónageladeira,elatambém está dentro da sala de aula. Porém, apenas como ferramenta de ensino, ele explica: “Em sala, eu consigo trabalhar todas as funções orgânicas por meio de compostos da cerveja. Se são bons ou ruins, onde são formados e degradados, é um tema

beminteressanteparaumaaula”.

DuranteoPintOfScience,oprofessor Eduardo, que foi um dos seis palestrantes, explicou sobre seu estudo: “a química da cerveja e como quatro elementos se tornaram uma das bebidas mais consumidas do mundo”. Além disso, ele também destacou que aprendeu muito sobre Química estudando sua relação com a bebida, e passou de um simples apreciador para estudioso da área. “Quando você estuda uma coisa, não por obrigação, mas porque você gosta, a forma que você absorveédiferente”,acrescenta.

Dentro de suas várias fases, a produção cervejeira tem muita ciência devido aos processos bioquímicos. Para tomar aquela caneca, houve muitas pesquisas que possibilitaram várias descobertas. Dentre elas, os primeiros estudos de termodinâmica, o isolamento das primeiras leveduras, o processo de pasteurização, a descoberta das enzimaseaescaladopHde0a14,como aponta Eduardo. “Também houve avanços fora da química, como o desenvolvimento da refrigeraçãoedovidro”,acrescentaele.

GOLES DE CIÊNCIA

Muitas vezes as pesquisas realizadas nas universidades não chegam até a população, por isso, um evento que proporciona a aproximação entre ciência e sociedade é essencial. O Pint of Science, realiza, desde 2012, divulgações científicas em ambientes não tradicionais, mostrando ao público o que é pesquisado, os motivos e seus resultados, unindo os pesquisadores à comunidade.

O Brasil é o país que tem mais cidades sediando o evento, sendo 120 no total. Em Uberlândia, ele foi realizado em parceria com a UFU. O Pint é de grande importância para a divulgação do saber científico, pois, como afirma Marina de Andrade, coordenadora regional do evento: “ele desmistifica o cientista e o conhecimento científico e aproxima a ciência das pessoas, porque tira ela de onde está escondida e a leva para o bar, que é um lugar muito democrático.”

UFU CERVEJEIRA

A ciência explora o potencial científico na investigação da cerveja, surgindo assim, diversos trabalhos acadêmicos relacionados à bebida. Logo,nãoéàtoaqueaUniversidade conta com diversas pesquisas relacionadas ao tema, sendo 187 estudos realizados nos cursos de Engenharia e Ciências Exatas e da Terra, segundo o repositório institucional da UFU. Um infográfico com os dados está disponível no site do Senso (in)comum, assim como um fotoensaio que explora mais o tema: sensoincomumufu.wixsite.com/ jornal. 

Saideira

Você sabia que a embalagem de alumínio é melhor que a de vidro? Isso porque o vidro tem uma proteção em torno de 90% da luz, mas os 10% ainda conseguem passar, dessa forma, tem uma degradação mais rápidadoproduto.

IN 11 Senso nº 53 Junho / 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UM EVENTO COMO O PINT OF SCIENCE LEVA A CIÊNCIA, DO SEU MEIO ACADÊMICO E FORMAL, PARA O BAR, UM LUGAR DEMOCRÁTICO E INFORMAL. FOTO: ANA CLARA SOUZA

D Deessuummaanniiddaadde e n no o ttrraannssppoorrtte e p púúbblliicco o

A superlotação é um problema recorrente no transporte público em Uberlândia. Consequentemente, transitar entre ônibus e terminais se torna uma situação de desconforto para os passageiros que se encontram muitas vezes apertados, disputando alças de segurança, sentados na entrada ou esmagados no vão entre a escada e a porta.

Para os que necessitam do transporte público para as atividades diárias, a batalha é árdua. Em meio a aglomerações de pessoas que suportam as dificuldades de locomoção rotineiramente, parece não haver espaço para algo que as faz humanas: a dignidade.

Os veículos não carregam apenas cidadãos, mas também as histórias e sentimentos expressos nos corpos cansados e apressados de passageiros que enfrentam a dura realidade da superlotação no transporte público. Confira o fotoensaio completo no site: sensoincomumufu.wixsite.com/jornal. 

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S Suuppeerrlloottaaççãão o n no o c coolleettiivvo o ttoomma a o o lluuggaar r d da a d diiggnniiddaadde e d doos s u ussuuáárriioos s
LOTAÇÃO MÁXIMA. AGUARDANDO O PRÓXIMO EMBARQUE. FOTO: IZADORA FARIA
Senso nº 53 Junho / 2023
NO LIMIAR DA SUPERLOTAÇÃO, CADA MÍNIMO ESPAÇO CONTA. FOTO: LUIZ MARQUÊZ POR IZADORA FARIA, GABRIELA DINIZ, LUIZ MARQUÊZ, KARYNNA LUZ E THUANNE SANTOS ENTRE UMA PARADA E OUTRA: MOMENTOS DE ESPERA E REFLEXÃO. FOTO: IZADORA FARIA

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