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“Para mim, esporte é vida”
ANA CAROLINA SILVA E IZADORA FARIA
deve ser questionada. Existem tantos programas de inclusão, e vão tirar quem tem mais idade? Pelo menos, para mim, foi assim que eu mesenti,sofrendocomoetarismo.
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Senso (In)comum: Quando você entrou para o time da UFU e para a Atlética da Medicina, como você foi recebida pelas equipes? Você sentiu alguma diferença no tratamento?
Entre os dias 5 e 9 de abril, ocorreu na cidade de Uberaba a disputa pelos Jogos Universitários Mineiros (JUMs). O evento reuniu estudantes de todo o estado para competir em 12 modalidades esportivas. Nos esportes coletivos, a parceria UFU/Praia faturou duas medalhas de ouro, no Basquete e no Voleibol Feminino. Quem jogou no vôlei e vibrou com a vitória foi a jogadora Andréa Maiolino, 54 anos, que competiu pela primeira vez no torneio.
Andréa é psicóloga e mestranda em Ciências da Saúde. Atualmente, joga pela Atlética Medicina e pelas Equipes de Treinamento UFU. Ela conta que os anos de experiência lhe trouxeram maturidade para ocupar uma posição "coringa" nos times. Mas, em competições como o JUMs, a experiência pode ser vista como uma limitação. Não é só o talento que conta: a idade também é um dos critérios para ser selecionada.
Senso (In)comum: Como foi o iníciodasuatrajetórianoesporte?
Andréa Maiolino: Eu era uma criança muito pobre, meu pai era caminhoneiro. Um dia, estava no UTC [Uberaba Tênis Clube] e o presidente do clube me viu. Como eu era muito alta, ele me chamou para jogar e me interessei, só que eu não tinha tênis, não tinha nada. Ele foi na minha casa, conversou com o meu pai e falou que me daria o tênis e a joelheira para que eu pudesse começar a treinar. Com isso, passei a frequentar os treinos e em três meses já estava jogando no time adulto, mesmo tendo apenas13anos.
Senso (In)comum: Você tem uma graduação e agora está fazendo mestrado. Como foi entrar para otimedevôleidaUFU?
Andréa Maiolino: Um dia recebi um e-mail da UFU me convidando para treinar pela Universidade. Então, fui para a seletiva, participei de todo o processo e fiquei entre as escolhidas. Quando veio a competição do JUMs, falaram que 12 meninas iriam participar. Na primeira seletiva, escolheram 15 e eu estava entre elas. E depois de já ter me preparado, me disseram que só poderiam entrar duas atletas acima dos 25. Ou seja, primeiro eu iria competir por uma das 12 vagas e depois por uma das duas, a disputa seria mais difícil. Aí eu questionei: como assim vou ser discriminada por ter 54 anos, sendo que passei portodasasfases?
Senso (In)comum: O que você sentiu quando descobriu que sua idade poderia ser um empecilho paravocêcompetirnoJUMs?
Andréa Maiolino: Na hora me senti discriminada, não pelas atletas ou pela técnica, mas pela regra. Acredito que não seja uma regra justa, porque muitas pessoas fazem faculdade mais tarde, cada um tem um momento na vida e a idade não pode ser um motivo de exclusão. Se querem fazer algum tipo de seleção, precisa haver outros critérios que não a idade. Eu imagino que essa regra seja nacional, mas ela
Andréa Maiolino: Como eu comecei a treinar no pós-pandemia, ainda não tinha um time formado, então começaram a chamar todo mundo e montar as equipes. Quando eu cheguei, comecei a treinar com quem já estava aqui e fui muito bem recebida com todo o carinho domundo. Amaioria das atletas daqui já me conheciam de algum lugar ou já cruzaram comigo em alguma quadra,porque eu tambémjogo pelo Master do Praia há 18 anos. Aqui, como estava todo mundo sendo chamado naquele momento, não tinha nenhuma “panelinha”. Eu não vejoesseclima,achoqueas pessoas recebem muito bem qualquer um que chega. Inclusive, o critério de idade para competir foi uma surpresageralparaotime.
Senso (In)comum: Hoje, você sente que tem uma segurança maior em quadra do que quando estavanacasados20anos?
Andréa Maiolino: Tenho muito orgulho da história que eu cons- melhor de dentro de mim. Agora, eu consigo me adaptar em qualquer posição em quadra: central (atacante de meio), atacar na saída, ponteira (atacante de ponta). Isso, com certeza, vem com a maturidade. Eu podia ter mais força e mais potência naquela época, mas hoje eu tenho mais sabedoria e mais inteligência emocional para lidar com o jogo. Se eu tiver um time para jogar, vou jogar até morrer, até dentro das minhas limitações, porque o esporte me traz vida, amizade, equipe. Para mim,esporte é vida.
Senso (In)comum: Vocês ganharam o JUMs e estão classificadas para a próxima fase. Como está sendo a sua preparação para os JogosUniversitáriosBrasileiros?
Andréa Maiolino: Ganhamos o JUMs sem perder nenhuma partida, todos os jogos foram de 3 sets a 0. Isso para nós foi um marco, porque entre altos e baixos, nós conseguimos nos recuperar e ainda fechar o set. Já a minha preparação se mantém a mesma: cinco vezes por semana eu treino à noite, faço academia e pilates duas vezes por semana e, quando consigo, nado. Também tem toda uma preparação emocional, porque, para manter um corpo master, funcionando bem, é importante a gente cuidar de todos os aspectos, do relaxamento à alimentação. Então, uso