N U W S Vol. 3
Ficha Técnica Direcção editorial Rita Negrão
Editores Ana Filipa Santos António Muralha Gaspar Crespi Luís Cabral Rita Amado Tiago Alves Miranda
Coordenação de Conteúdos Gaspar Crespi Tiago Alves Miranda 4
Coordenação Artística António Muralha
Relações Externas Gaspar Crespi Tiago Alves Miranda
Desenho Gráfico Ana Filipa Santos Rita Amado
Nº da Edição #3, Abril de 2015
Capa António Muralha Fotografia: Tiago Alves Miranda Tiragem 15 exemplares Publicação NucleAR
Contactos nuws.nuclear@gmail.com oteuespaco.nuws.nuclear@gmail.com nuwsmagazine.wordpress.com (brevemente)
EDITORIAL “Supra-sumo da batata” Por Rita Negrão O número três e todos os seus significados. Se fosse uma coisa mesmo fraquinha
diria à terceira é de vez mas como o nosso objectivo é melhorar sempre e erguer não só e apenas uma revista informativa mas um espaço crítico e de reflexão, à terceira não é de vez, nem será à quarta, nem à quinta nem à quinquagésima séptima. Como estudantes de arquitectura aprendemos (mais do que qualquer outra coisa) que o erro é o nosso braço direito. E por muito que doa, que sabemos
que dói, aprendemos melhor que ninguém a (sobre)viver com ele. E torna-se o nosso melhor amigo, o nosso companheiro das horas e faz-nos crescer, como futuros arquitectos, como pessoas. E neste caso, como editores e sonhadores que tentam sempre dar mais um passo para conquistar algo bem feito, limpo e arrumado. É bom, no final das contas, termos uma revista de pé que voa sobre a cabeça de todos nós. É bom, no final das contas, podermos, a cada edição que passa, descobrir que o vôo seguinte será ainda melhor e mais alto. Esta edição é dedicada ao azulejo. E ao desenho. E alia a mesma viagem de sempre, desde lá de fora até ao canto de cada um, à procura por um conteúdo cada vez mais útil e incisivo para cada um de nós. A nuws não é uma revista de arquitectura. Mas na verdade nunca tencionou ser. Agradecimentos: Professor Matos Silva, Padrão dos Descobrimentos,
Trienal de Arquitectura, LisbonWeek, Indie Lisboa, Miep Linssen, Luísa Fernandes, Miguel Del Castilho, Manuel Campos, Sofia Costa de Sousa, Leandro Martins Arez, Ana Queiróz, João Marques.
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SUMÁRIO nuws #3 NucleAR O Desenho e o Azulejo. E o Desenho do Azulejo.
por fora
Lisboa
HARMÓNICA
:10
A Nuws viajou mais uma vez fora de portas. Foi a Berlim, a Leuven e a Milão.
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#3 - ABRIL
cá dentro
A Arquitectura Portuguesa como Produto Exportado :13
[d]o azulejo
:22
Lisboa que ainda é do azulejo. Xabregas e o Museu do Azulejo.
espaços
NUNO MATOS SILVA Entrevista Exclusiva :29 A Arquitectura e O Desenho Texto: Gaspar Crespi e Tiago Alves Miranda
Testemunhos Erasmus A Luísa que é de Lisboa e está em Leuven. A Miep que é de Leuven e esteve em Lisboa.
:06 & 16
O teu, o da equipa e o de ambos. :33
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POR FORA I can remember my departure as if it was yesterday. It was the 5th of September, a beautiful sunny day in Belgium. My bags were full, my head empty. For the first time I would leave Belgium to live abroad. I couldn’t think anymore, didn’t know what to expect, didn’t know what would happen. After a short and quiet flight I arrived in Lisbon. Lots of good things already reached my ears, but the first impression of this city would always stay in my mind. With some heavy bags I would try to find my way to the castle, where nearby I booked a hostel. The atmosphere you could literally smell, the sun and heat, and the busy but friendly people are still things I link to Lisbon. It was the start of what I now call the best year of my life. It is difficult to explain to you how much I love Portugal, how much I love Lisboa, and no day passes that I do not think about my time there. Walking next to the Tejo while enjoying the sunset is a feeling and lovely experience that is a leading memory in my mind. And it will probably not surprise you that I miss sipping a café in ‘my’ neighborhood Alfama, having a view on –what I call- the most gorgeous cathedral in the world. And how could I forget about drinking some beers while having good conversations on a miradouro with a view over the beautiful architecture of the city. If people ask me to describe Lisboa, I always tell them it’s the perfect city to live in. Great food, beautiful architecture, located perfectly in between stunning nature and lovely beaches. And the most important, in Lisboa live some of the nicest people, who are always willing to help and ready to integrate you into their Lisbon-lifes. After this year, I can mostly tell how much I have changed. Apart from skills I developed like improving my languages, my adaptability and learning to work together with people of different countries, I also got to know myself and widened my view in several aspects. I got to know new cultures from all over the world and shut down the stereotypes in my head while learning to value other ways of thinking. But the most important accomplishment for myself is the ability to appreciate. Before, I would often think that things are better elsewhere. But loving another country this much, truly put things in perspective. In the end my experience abroad taught me to appreciate my own country again. Por: Miep Linssen, sobre o Erasmus que fez em Lisboa no ano lectivo de 2013/2014 Fotografia de Tiago Alves Miranda
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POR FORA Texto por : Gaspar Crespi
David Chipperfield: Robin Hood Gardens
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Lançada campanha que visa a preservação do histórico Complexo Habitacional Robin Hood Gardens, obra que se assume com uma autêntica referência da Arquitectura Brutalista, finalizada em 1972 em Londres e que abrange 213 fogos. A demolição assola o Complexo habitacional desde o ano 2008. Architizer A+s
Seis projectos portugueses no topo dos Architizer A+ A terceira edição dos prémios anunciará os vencedores no dia 14 de Abril Entre os portugueses, constam dois projectos no âmbito residencial, dois na área comercial, um educacional e um outro inserido no campo da reabilitação. Peter Zumthor:
O arquitecto prossegue o desenvolvimento do Los Angeles County Museum of Art O último desenho apresentado demonstra uma simplificação da forma, ainda fortemente estruturada pela presença da curva característica desde o desenho inicial, revelado em 2013. Está prevista uma intervenção de cerca de 600 milhões de dólares.
Nomeado para intervenção no Metropolitan Museum of Art in New York Expansão engloba Ala Sudoeste de Arte Moderna e Contemporânea e galerias adjacentes. A escolha recaiu em Chipperfield, que realizará o seu quinto projecto nos Estados Unidos, após um ano de processo de selecção, sendo que a inclusão de outros arquitectos estará a ser equacionada. Prevê-se que obra qualifique igualmente equipamentos, espaço público e acessibilidades referentes ao Museu. New York Chapter:
(of the American Institute of Architects) anuncia os vencedores dos Prémios de Design 2015. Estão incluídas 12 Distinções de Honra e 25 Prémios de Mérito repartidos pela categorias de Arquitectura, Interiores, Projectos e Design Urbano.
Numa publicação dedicada ao que é nacional e bom, aqui o espaço é outro. Notícias, obras e eventos que se passaram hà pouco tempo ou que decorrem agora a nível internacional. The Serpentine Gallery:
Renzo Piano:
Revela desenhos para o 15º Pavilhão a expor nos Kensington Garden, em Londres. O Pavilhão, do atelier SelgasCano será apresentada entre 25 de Junho e 18 de Outubro de 2015. O Pavilhão de 2014, da autoria de Smiljan Radic foi recolocado para Somerset, na Inglaterra.
Incluído no plano de renovação de Sydney’s Barangaroo South waterfront. Intervenção do arquitecto italiano passa por dois complexos residenciais de escala considerável , nomeados como One Sidney Harbour. Os ateliers Rogers Stirk Harbour Partners e Wilkinson Eyre também colaboraram no plano que passará agora por processo de aprovação.
Nine Elms:
Revelados os 4 Finalistas do Concurso para a Nine Elms to Pimlico Bridge, sobre o rio Tamisa.
Stanton William:
Revelam plano para Royal Opera House Renovação passa por melhoramento das acessibilidades e espaço público. O edifício data do ano de 1858, tendo sido parcialmente reconstruído em 1990, ainda que a fachada e grande auditório se enquadrem ainda na estrutura original. Egipto:
Plano para nova capital administrativa abrange uma área de cerca de 700 quilómetros quadrados, no Cairo e será prevista para 7 milhões de habitantes.
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CÁ DENTRO Texto por : Luís Cabral
A Arquitectura Portuguesa como produto exportado Nos tempos que correm,com a construção em Portugal muito próxima da estagnação por uma crise financeira, e em que a arquitectura feita em território nacional continua a disfrutar de uma óptima reputação, esta exporta-se. Nesta edição da NUWS convidamos os leitores a prescrutar um pouco do que os Portugueses têm exportado de Arquitectura pelo mundo fora.
Uma questão que fica é se o que se está a exportar é só o serviço de Arquitectura ou a nossa própria identidade enquanto nação. Uma «marca» de Arquitectura, a Portuguesa. Parece haver na Arquitectura Portuguesa uma identidade própria, marcada pelo foco em , através desta, resolver problemas. Por resolvê--los de uma forma pragmática, simples, mas sem nunca descuidar a poesia e a «magia» que a Arquitectura pode (e portanto deve) trazer ao quotidiano das pessoas. Mas este «produto» que identificamos como Arquitectura Portuguesa não se exporta apenas pelos ateliês e pelas empresas de Arquitectura que á frente identificamos como exemplos desta exportação. Não, a nossa cultura é também transmitida pelas centenas de jovens profissionais Arquitectos que emigram para trabalhar em empresas de Arquitectura pelo mundo e levam consigo a nossa identidade. Portanto, embora toda esta situação nasça de uma dificuldade do país podemos sempre, enquanto Portugueses, ver a poesia de talvez um dia no futuro podermos viajar por todo o mundo e ver um pouco de Portugal.
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CÁ DENTRO
Cá dentro dá conta do que se passa no nosso país - do que é exportado e do que fica para contar a história. E não precisa de trazer a arquitectura como nome do meio. siza design - a recuperação do sentido do tempo
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“Para Álvaro Siza, projetar não significa só desenhar objetos, mas também os seus contornos. Significa desenhar as razões que justificam o projeto. A forma nasce assim de uma cultura, adquirida esedimentada que se materializa ainda no ato de fazer, com seriedade e compromisso. Desenhar é um problema de tempo. Tempo necessário para decompor o problema, para realizar este grande processo lógico que passa pela arquitetura, o produto, o cliente, o material; tempo para compreender, recolher dados e alcançar resultados; tempo para se distanciar o suficiente e observar de longe; tempo para o regresso ao envolvimento inicial, participando assim com a emoção. Siza recupera o sentido do tempo através de objetos que permitem um certo desfasamento temporal entre o ato necessário para o seu uso e o seu efeito retardado. Como, por exemplo o puxador da gaveta de uma cómoda que provoca um abrandamento da sua abertura: dois centímetros de cabo, equivalentes a instantes preciosos.” Arqa Maria Milano
Siza Design apresenta-se como uma exposição, patente até 26 de Abril, na Galeria Municipal de Matosinhos, de uma extensa abordagem sobre a obra de design do arquitecto Álvaro Siza Vieira, desde peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ouriversaria até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos. Surge na sequência do livro Siza Design, desenhado por João Machado e editado pela Artebooks e é comissariada pela arquitecta e directora do Mestrado em Design de Interiores da ESAD, Maria Milano.
Texto por : Rita Amado
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Design Português
S, M , L, XL REVISITED
O Público, lança agora, todas as terças, juntamente com o jornal, uma colecção inédita e exclusiva de oito volumes ordenados cronologicamente, com coordenação de José Bártolo e da Chancela do Ano do Design Português, que conta a evolução do design em Portugal desde do início do século XX.
Vinte anos após o lançamento da primeira edição do S, M, L, XL da autoria de Rem Koolhaas e Bruce Mau, esta publicação continua a ser um marco de uma época e um manifesto que revolucionou a arquitectura contemporanêa. A par disso, La Mipa em colaboração com a Roca Lisboa Gallery, organizou um ciclo de debates sobre as escalas de internacionalização e os seus mecanismos mediáticos com apresentações de 12 projectos para 4 escalas: S, M, L e XL.
CÁ DENTRO Texto por : Luísa Fernandes
OS QUE VÃO PARA FORA
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Foi exactamente a meio de Setembro que deixei o sol de Portugal pela chuva da Bélgica e estando a mais de meio do meu ano fora posso garantir que as piores condições meteorológicas foram um pequeno preço a pagar. A minha vontade de fazer as malas e partir já vinha de há muitos anos, e quando a oportunidade de fazer Erasmus surgiu nem importava para onde era desde que fosse, daí que cheguei a Leuven sem saber o que esperar - nem nunca tinha estado na Bélgica. O dia em que cá cheguei foi sem dúvida dos dias mais corajosos da minha vida. O pai da rapariga cujo quarto aluguei foi-me buscar ao aeroporto e trouxe-me de carro até casa – obviamente que estava cheia de medo de me pôr no carro de um desconhecido, mas rapidamente percebi que estava segura. Depois fiquei oficialmente sozinha num novo país, numa nova cidade e pior de tudo, sem mapa! Lembro-me perfeitamente de estar completamente perdida, olhar à minha volta para todos os edifícios de tijolo, as pessoas a andar de bicicleta e pensar ‘Vou adorar isto!’. Para quem estava habituada ao frenesim de Lisboa, agora só posso admitir estar apaixonada pelo estilo de vida calmo e seguro de Leuven. Não há melhor sensação que a de andar de bicicleta pelo campus da faculdade, que na verdade se assume mais como uma floresta ou bosque e ter aulas num castelo do século XII faz-me realmente sentir que estou a viver qualquer coisa de especial. É já com nostalgia que percorro as ruas de Leuven. Embora saiba que ainda tenho três meses pela frente, quase que já deixa saudade descer a Naamsestraat a alta velocidade, passear pelos canais, as inúmeras cervejas e barzinhos do Oude Markt mas acima de tudo as pessoas que conheci e que são o melhor de Erasmus. A nível de experiência de vida acho que Erasmus é um must-do na nossa geração: é preciso sairmos do nosso contexto para percebermos o contexto de todo o mundo e dos nossos amigos; precisamos de viajar mais, ver mais arquitectura, segurar mais mapas e andar até as pernas nos doerem; como estudantes de arquitectura, precisamos de deixar de estar menos obcecados com a quantidade de trabalho que temos constantemente para fazer, às vezes também precisamos de um ano menos exaustivo em trabalho e mais exaustivo em vida, mesmo que isso às vezes signifique só darmo-nos ao luxo de ver séries na semana da entrega. Após este ano fora, acho que posso finalmente afirmar que a minha casa é onde estiver a minha boa vontade e capacidade de me ‘desenrascar’, seja em que país for. Por fim, acho que finalmente percebi que o nosso tão português conceito de saudade não precisa de estar tão cheio de fado, porque por vezes a saudade coexiste com o que são os melhores momentos da nossa vida. Testemunhos Erasmus: Leuven Fotografias: Luísa Fernandes
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LISBOA Texto por : Tiago Alves Miranda
EVENTOS LISBOA Para o mês de Abril, a NUWS sugere um conjunto de programas culturais em Lisboa sobre Arquitectura e, porque existem outros eventos que nos abrem o apetite e nos assaltam a curiosidade, como complemento, o Cinema.
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LisbonWeek 2015 10 a 19 Abril O LisbonWeek é um evento que vai explorar o bairro de Alvalade através de visitas culturais e exposições, numa viagem que irá ao encontro de edifícios emblemáticos que fazem parte do dia-a-dia mas cuja relevância ainda é, por muitos, desconhecida. Local: Bairro de Alvalade Site: http://lisbonweek.com/pt/lisbonweek-2015 Preço: 7 € (visitas), 10 € (visitas culturais), exposições gratuitas.
Conferência Distância Crítica — Studio Mumbai 14 Abril, às 19h O Distância Crítica é um ciclo de conferências organizado pela Trienal de Arquitectura de Lisboa. Para a 2ª conferência, a Trienal convidou Bijoy Jain, do Studio Mumbai, considerado pela revista Metropolis como um dos oito arquitectos contemporâneos mais influentes no panorama mundial. Local: Centro Cultural de Belém, Grande Auditório Site: http://www.trienaldelisboa.com/pt/#/ news/studio_mumbai Preço: 5 € 20
Festival IndieLisboa 23 Abril a 3 Maio O IndieLisboa é um festival de cinema internacional e generalista que todos os anos, durante 11 dias, oferece ao público português a oportunidade excepcional de ver filmes portugueses e estrangeiros de todos os géneros (ficções, documentários, animações, filmes experimentais, entre longas e curtas metragens). Local: Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa Site: http://indielisboa.com/programacaoindielisboa-2015/ Preço: 4 € (sessões regulares); 3,20 € (sessões Cinemateca Portuguesa)
8 ½ Festa do Cinema Italiano Até 2 Abril O 8 ½ tem como missão a exibição de obras que cumpram elevados critérios de qualidade, sejam elas de autores consagrados ou da nova geração de cineastas, sempre fiel ao objetivo de trazer a Portugal o melhor do cinema Italiano. Local: Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa Site: http://www.festadocinemaitaliano.com/ Programa/1 Preço: 2,50 € (estudantes até aos 25 anos) 21
“Os Arquitectos são Poetas também” Até 6 Abril, das 10h às 18h Esta exposição, ainda a decorrer no Padrão dos Descobrimentos, pretende dar a conhecer a vida e a obra daquele que foi um dos mais influentes e multifacetados arquitectos portugueses: Cottinelli Telmo. Local: Padrão dos Descobrimentos Site: http://www.padraodosdescobrimentos.pt/ evento/exposicao-cottinelli-telmo Preço: 3 €
LISBOA O Azulejo O azulejo é um elemento que alia a função de revestimento de uma fachada ou de um espaço interior, a uma versatilidade em termos de arte plástica. O azulejo tem o poder de carregar uma forte componente artística, tanto pelo seu formato - quadrado, rectangular, hexagonal - como pelo grafismo, a expressão, as cores e os motivos geométricos mais variados que encerra.
O termo azulejo deriva do árabe al-zuleycha. Foi a partir da atenção a este elemento magistral que se enfatizou a minha paixão pelo desenho, que acabaria por ditar a minha aproximação à Arquitectura.
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Jardim das Amoreiras Estrela
O azulejo é um mensageiro de história e de arte, é o legado deixado pelas culturas passadas que marcaram a presença no território português, no caso particular de Lisboa. O arquitecto José Carlos Loureiro refere no seu livro O azulejo - Possibilidades da sua reintegração na arquitectura portuguesa que “vem de muito longe, na Península, o gosto pelo uso dos resíduos da presença árabe”, sendo que as influências na evolução da cerâmica em Portugal “parece poderem atribuir-se à Andaluzia e algumas vezes a Valência”.
Os trabalhos de Maria Keil e Eduardo Nery foram essenciais nesta experiência da qual resultou uma vontade incontrolável para o desenho na sua vertente mais artística e me levou à produção de padrões, motivos, que são hoje o ponto de partida para um projecto que se serve da temática do azulejo. Partilho da opinião que o azulejo constitui um exemplo refinado de sabedoria para enfrentar as necessidades de um meio climático e, simultaneamente, obter resultados plásticos que nunca podem ser alheios à obra de arte que é a arquitectura e o que de melhor ela traz consigo.
nuws
Infante Santo
NucleAR
Estação metropolitana dos Anjos
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Sul e Sueste
Terraços de Bragança
Texto por: Tiago Alves Miranda Fotografia por: Tiago Alves Miranda e Leandro Martins Arez
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LISBOA Por : Rita Negrão
XABREGAS Ao olharmos sobre o passado da capital, os grandes empreendimentos lisboetas foram reformulações fabris e portuárias. Como Belém e a Exposição do Mundo Português ou o Parque das Nações e a Expo 98. Não sabemos se Xabregas será o próximo lugar comum ou se continuará definido pelos seus limites pálidos e cinzentos. No entanto, porque queremos acreditar que sim e porque esta edição é dedicada ao azulejo luso decidimos que podemos olhar mais longe, tanto no tempo como por entre os armazéns e chaminés que contornam esta não-tão-bonita zona da cidade de Lisboa. Assim trazemos cinco sítios na nossa habitual secção dedicada à capital mais bonita do mundo; cinco sítios que fogem à arquitectura literal, que fogem do dia-a-dia. Cinco sítios que quebram a rotina e nos fazem crer que, afinal, ainda há planos surpreendentes para o próximo fim de semana.
Viaduto de Xabregas, 1938 Fotografia: Eduardo Portugal , Arquivo Fotográfico C.M.L
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4| Museu do Azulejo
1| Fábrica do Braço de Prata
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Não é uma fábrica. É um espaço mutante - ou melhor - espaço mutantes que se transformam de acordo com o que é melhor acontecer naquele dia. Tanto podemos disfrutar de um concerto de jazz, como uma galeria de arte, uma oficina de joalharia ou uma peça de teatro. A Fábrica do Braço de Prata que bem vistas as coisas de fábrica é que não se trata é um dos lugares mais divertidos da capital, por nunca se saber com o que de facto nos vamos deparar.
2| Teatro Meridional
Onde a música tem palco. Desde espectáculos de saxofone, ópera e stand up comedy onde as mulheres tem lugar, o teatro ibérico não tem apenas e só peças. Num espaço ancestral com a capacidade de nos transportar pelo tempo as arcadas de pedra pesada ganham vida e separam o lá fora, deixando espaço para a nossa atenção ser exclusiva do palco. 3| Teatro Ibérico
Lisboa ao quadrado. Segundo publicado em Outubro pela NY Times, se tivessemos que descrever Lisboa numa palavra seria “azulejo”. Assim como Berlim seria “street art”, Londres “hats” e Madrid “guitars”. Segundo o artigo Lisboa é a cidade mais azul do mundo, por causa do céu, por causa do mar e porque no final de contas a arquitectura “neo-Moorish” que vibra pela capital é pautada pelo azulejo azul e branco. Assim achámos que este revestimento que mura a cidade desde os pés à cabeça que parece cair em desuso merecia destaque. E por isso escolhemos Xabregas - para ir de encontro ao azulejo português e ao seu museu que alberga uma colecção vasta de azuleijaria lusa com o intuito de preservar e divulgar estes pequenos quadrados que vestem a nossa capital.
27 Do nomadismo urbano à casa. Depois de muito tempo sem um lugar fixo. A saltar de teatro em espaço, o teatro meridional finalmente arranjou um lugar para ficar e pasmem-se é em Xabregas. O que por fora parece ser mais um armazém, por dentro tem mil e uma histórias por contar.
Ciclos. O Museu da Água tem vários espaços na cidade de Lisboa, desde o aqueduto das águas livres ao reservatório da mãe de água. Passando pelo museu, com a exposição permanente “Água” que tem por objectivo a sensibilização para o uso eficiente da água bem como a compreensão dos seus ciclos e a valorização do seu património.
Museu da Água|5
ESPAÇOS Por : Gaspar Crespi e Tiago Alves Miranda
PROFESSOR Os tempos mudam mas há coisas que se mantêm inalteráveis tal é a sua importância e poética. Um desses exemplos é a intrínseca relação entre o desenho e a Arquitectura. Esta perfeita simbiose, ultimamente ameaçada pelo pragmatismo e conveniência do computador e da modelação digital, ainda hoje se assume como uma essencial ferramenta na vida de um arquitecto. Ultimamente temos assistido a uma série de eventos inseridos neste campo promovidos pelo nosso curso e docentes, que vêm claramente enriquecer e elevar cada vez mais a instituição e a própria visão da mesma no panorama nacional. Deste modo, tentámos encontrar respostas com o Professor Nuno Matos Silva, docente da cadeira de Desenho Arquitectónico I e Desenho Arquitectónico II, e uma referência no curso de Arquitectura, sendo assim apresentados alguns dos assuntos explorados ao longo da conversa.
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Iniciativas da disciplina de Desenho Arquitectónico: Jornadas de Desenho IST – CMAG (Casa Museu Anastácio Gonçalves) - desde o exteriores aos interiores: Da Av. Duque de Ávila, da cidade ao edifício. Do Desenho Arquitectónico ao diálogo com nós próprios. Passar de um plano neutro, concreto para um outro mais personalizado, expressivo. lookatthist - caderno de desenho e não só” (a sair em breve) — publicação dos trabalhos que se fizeram no semestre passado referente ao Complexo Interdisciplinar (IST). Iniciativa que surge após o lançamento do catálogo virtual de trabalho semelhante realizado o ano passado sobre o Instituto Nacional de Estatística, que visa sair fora das paredes da sala de aula.
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NUWS — Qual é a importância do desenho na Arquitectura? NMS — Quando se fala em desenho abre-se um leque enorme de campos. Há dois que estão mais estabilizados: o desenho técnico e o desenho artístico. Algures no meio existe algo muito específico que é o desenho arquitectónico, que não é um nem outro, mas antes o registo das ideias arquitectónicas no papel, antes de passar para desenho técnico. O desenho arquitectónico permite responder espontaneamente ao registo de uma ideia. Não tem necessariamente que ser um bonito desenho, mas pode ser riquíssimo de beleza e intenção. O desenho arquitectónico, quando atinge bons resultados, quando tem um bom nível, alcança planos mais elevados do que os melhores renderings. Por isso vale a pena praticar. O desenho tem materiais associados. O desenho e Arquitectura gostam do tacto, dos materiais, não tanto de ecrãs. Pode ser grafite, tinta ou aguarela, mas há uma vibração dos materiais associada à composição e à espontaneidade.
NUWS — O que é a beleza? NMS — Trata-se do maior desafio a prestar à sociedade, incluir estética no mundo da construção, urbanismo e território. A estética não é um ramo da moda, mas da Filosofia. Além de resolver um problema de forma firme e sustentável, tem de ser bonito. Palavras de há dois mil anos. Às vezes penso que a nossa A necessidade de o fazer presença aqui não é apenas para atendendo à beleza tentar formar melhor arquitectos introduz uma humanidade, põe-nos do lado das ciências como principalmente para ajudar humanas e põe-nos a a formar melhores engenheiros. partilhar com todos os campos. Por isso, o arquitecto é um regente de orquestra, fazer dos ruídos sons, pôr os instrumentos a fazer música, a convergirem para uma composição. Às vezes o lado estético é supervalorizado, outras vezes é subalternizado, nos melhores exemplos há um certo equilíbrio. Estou a pensar na nossa existência aqui na Escola. Se os engenheiros não achassem importante, não se tinham dado ao trabalho de ter trazido para aqui estes sonhadores a viver com eles NUWS — Então, se assim o é Alguns terão tendência a achar que por que que é que o curso não resolvem o mundo com as suas tem mais anos? formulas mas os mais esclarecidos NMS — Estou mais percebem a necessidade de adicionar preocupado em rentabilizar todo o uma mais-valia cultural à resolução tempo que temos. Que seja rico e dê de simples problemas. Às vezes hábitos para as pessoas adquirirem penso que a nossa presença aqui não ferramentas para a vida. Estou é apenas para tentar formar melhor mais interessado em cimentar esse arquitectos como principalmente hábito do que reclamar mais horas. para ajudar a formar melhores Se, com essas horas, não conseguir engenheiros. incutir esse bichinho, sinto que estou a falhar. E isso tem que ver com quantidade, ou seja, só se atinge bom nível se se fizer muito desenho.
NUWS — No caso da Arquitectura como se lida com a dualidade entre a vocação e a técnica? NMS — A Arquitectura tem a vantagem de oferecer uma formação generalista. E, por isso, um arquitecto pode fazer muita coisa. De facto, temos notícias de colegas que já saíram daqui e que estão a fazer coisas o mais díspares possíveis. A Arquitectura deu-lhes competência para isso. Lembro-me de ter ouvido alguém dizer que “nem toda a gente que estuda Direito vai para Advogado”. O paralelo com a Arquitectura é: Não é forçoso que toda a gente fique a prolongar a vida de projectista que teve durante o curso. Por exemplo, a Escola que habitamos talvez tenha tido tantos arquitectos do lado dos projectistas como do lado do dono de obra. Outro exemplo, o desenho das cidades. Que me lembre a última cidade portuguesa a ser desenhada a
partir do zero, Santo André, foram arquitectos a liderar as equipas. Outro exemplo, a grande expansão oriental do Parque das Nações. Técnica e vocação: A formação generalista, medindo o peso que cada coisa, permite vir a trabalhar em muitos e variados campos. O arquitecto pode interessar-se por outros campos. Estou a lembrar-me das capas de livros do Victor Palla. De facto, temos notícias de colegas que já saíram daqui e que estão a fazer coisas o mais díspares possíveis. A Arquitectura deu-lhes competência para isso. Era arquitecto, um excelente fotógrafo e deixou uma vastíssima obra gráfica. Também o Cottinelli Telmo, com o seu conhecido rol de profissões... Talvez apenas possíveis porque de base, era arquitecto. Se vocês se recordam, nunca hesitei em trazer outros temas para dentro da sala de aula. Arranjou-se sempre espaço para um bocadinho de poesia, política ou música. Houve um ano em que os primeiros minutos da aula eram destinados a talent shows, em que rotativamente cada um tinha cinco minutos para “mostrar as suas habilidades”. Este ano ralhei com eles, ninguém sabia sequer um poema de cor. NUWS — Os arquitectos são poetas também? NMS — Claro, a elegância que se tira de uma frase, indirectamente, está a instruir-nos sobre a elegância de uma forma. É impossível não ficar mais exigente formalmente depois de apreciar o Camões a glosar um mote popular.
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NUWS — Qual é o limite entre insanidade e criatividade? NMS — São palavras bem-vindas porque o campo da criatividade precisa de sair fora da caixa, fora dos parâmetros comuns. É preciso estar com uma noção de campo, seja para acertar ou desacertar, às vezes no desacertar é que está a força e, portanto, são palavras queridas. Mesmo quando se fala em insanidade pode entender-se como o enriquecimento da parte humana. O que posso dizer sobre isto? Tenho a noção que o defeito é mais humano que a virtude. Essa coisa da perfeição é inatingível. Percebo a exigência mas o perfeccionismo faz imensamente mal à saúde - e ao desenho. O Orpheu, escrito e publicado há cem anos, em 1915, um arauto de modernidade nas letras, como Sousa Cardoso nas artes, foi considerado obra de dementes de Rilhafoles, anterior designação do hospital psiquiátrico Miguel Bombarda. Insanidade e criatividade São palavras prenhes de humanidade.
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NUWS — O Futuro Siza já passou pelas suas aulas? NMS — Isso suscita uma questão muito interessante. As pessoas de muito talento têm um fogo lá dentro que arde sem ser preciso atear fogo. Quando se tem um talento, isso vai brotar. Viu-se isso com as pessoas excepcionais; com Picasso, com Siza e tantos outros talentos. A escola que eles tiveram não sei se foi assim tão determinante. Mas, se calhar, vou puxar a resposta para outro lado: Infelizmente nem todos têm o talento do Siza. Portanto, pode ser falacioso orientar um curso a fomentar que todos sejam como Siza. Para mim faz igual sentido procurar ferramentas sólidas, constitutivas, que cimentam, que não sejam tão experimentalistas nem tão apegadas à criatividade vaga, mas sim o máximo conhecimento e experimentação. Esse saber não é castrador nem limitador porque as pessoas com talento vão saber dar a volta e acrescentar a novidade, a síntese que conferirá mais valia. O péssimo é aparecer alguém sem talento, convencido do contrário pela prática escolar e que, além de inconsistente na forma, ainda por cima resolve mal os problemas. Isto é uma resposta um pouco crítica do actual padrão predominantemente artístico do ensino
de Arquitectura. Tenho algumas dúvidas, pois considero que se devia preferir ao máximo o que à falta de melhor designaria ciência arquitectónica consolidada. Seria muito bom por exemplo, trabalhar sobre a complexidade de como hoje se encara a construção dos equipamentos de saúde. Ninguém arrisca um improviso. Este é apenas um exemplo. Ao contrário, fomenta-se aquelas questões mais associadas à composição abstracta e à autoria. Às vezes hesito um pouco sobre se estamos no bom caminho, porque tenho total confiança de que o talento quando existe irrompe sempre ao de cima, cuide-se mas é de ser bom no que está ao alcance de todos. O País precisa mais de elevar a média das turmas para um nível bom, acima de 15, do que endeusar as estrelas que atingem resultados extraordinários, chegam aos 20 valores, contribuindo o deslumbramento para um fosso em relação à mediania. A resposta não é simples. Não tenho dúvidas que passaram pelas minhas aulas pessoas com muito talento, isso nota-se muito no desenho. A competência de delinear com sensibilidade e equilíbrio nota-se nos desenhos. Por exemplo, no contraste entre o desenho e o computador. O desenho tem sempre um campo abrangente, abarca-se tudo, enquanto no ecrã o campo inferior é variável e esquivo, conduzindo a problemas de escala. Sei de alguns [alunos] que lidam bem com esse problema. Mas outros têm a maior dificuldade em captar “o filme todo”. Não tenho dúvida que passou por aqui gente muito talentosa. Quando assim é acredito que há um motor lá dentro. A experiência escolar, social, cultural, conta imenso, mas o principal vem de dentro. O nosso papel é ir conservando e espevitando o saber e a chama
.
A Versão integral da entrevista estará disponível em breve no site da nuws.
ESPAÇOS Por : Miguel Del Castilho
O TEU
Não é o ângulo recto que me atrai nem a linha infléxivel e dura, criada pelo Homem, que é a recta. O que me atrai é a sensual e livre curva - aquela que encontro nas montanhas do meu país, no sinuoso curso dos rios, no amado corpo da mulher” (Oscar Niemeyer 1907 - 2012)
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ESPAÇOS Por : António Muralha
COMPETITIONS & AWARDS
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Num mundo cada vez mais global, em que a informação abunda em todos os meios, a necessidade de espalhar ideias aumenta. Nesse contexto aparecem competições, concursos e prémios, globais e abertos a estudantes, com o principal propósito de divulgação de projetos. Assim sendo, não podíamos deixar de fazer uma seleção dos mesmos com o intuito de conhecer e dar a conhecer. Abrindo também lugar à divulgação de projectos participantes e até galardoados. Esperamos que com este novo espaço possamos possibilitar o aumento deste número entre nós.
ARCHIPRIX INTERNATIONAL, Madrid 2015 Bienalmente, o Archiprix International, distingue os melhores projectos de graduação, de Arquitectura, em escolas por todo o mundo. Com o formato de uma submissão por programa de ensino, achamos relevante divulgar a submissão do nosso curso, para a edição de 2015, Archiprix Madrid. A proposta das alunas, Daniela Rodrigues Cunha, Cláudia Fonseca Pinhão e Paula Villar Pastor, insere-se no programa de 4º ano, de 2014, que propunha uma reflexão prática sobre uma possível ampliação do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa. O projeto sob a tutela, do Professor Ricardo Bak Gordon, apresenta-se então como candidato ao prémio Hunter Douglas deste ano, cujos resultados serão divulgados e publicados a 8 de Maio. Mais informações sobre a competição, e apresentação do projecto completo em archiprix.org.
ESPAÇOS
Prémio SECIL UNIVERSIDADES 2013
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O prémio Secil Universidades, distingue anualmente, os projectos de mais valor em Arquitectura e Engenharia Civil, segundo os seus padrões. Sendo um premio de algum renome, é com prazer que apresentamos aqui uma amostra do projecto de José Maria Amaral Santos Gonçalves Vieira e Rodrigo Falcão de Campos Gorjão Henriques, alunos do mestrado integrado do Curso de Arquitectura do IST, galardoados com o premio na edição de 2013. O projecto apresenta-se como um estudo de valorização da área do Intendente, em Lisboa, estando inserido no programa curricular.
FOOD & WELLNESS CLUB, Bologna, Itália Young Architects Competitions A mais recente competição da YAC, visa o desenho de um espaço lúdico dedicado ao bem-estar e a gastronomia, a inserir nos planos para a F.I.C.O (Fabbrica Italiana Contadina), que ambiciona um dos maiores parques temáticos de gastronomia e agronomia do mundo, situado em Bolonha. A competição e aberta, e visa projectistas novos, estudantes ou formados. Os prémios chegam aos 15.000€, monetariamente. A ultima etapa de inscrições termina a 12 de Maio. Para mais informações: youngarchitectscompetitions.com
OBSERVATÓRIO NATURAL DE MONSANTO (NOM), Lisboa, Portugal Arqfolium Data limite de inscrição: 17/04/2015 Mais informações: arqfolium.com CDC INTERNATIONAL ARCHITECTURE “PLAYGROUND: FUN WITH SURFACES - Umbrales de convivencia” Cosentino Design Challenge 9 Data limite de inscrição: 01/06/2015 Mais informações: cosentinodesignchallenge.com
CONCORDIA LIGHTHOUSE COMPETITION, Ilha Giglio, Itália matterbetter Esta competição assenta sobre o tema do farol, a sua tipologia e simbologia, relacionando-a com o desastre do Costa Concordia, na Ilha Giglio, em Italia, em 2012. Apresenta-se como uma competição aberta a todos, estudantes e profissionais, e os prémios, para além da divulgação, atingem, monetariamente, os 6000€. A ultima etapa de inscrições acaba a 17 de Maio. Para mais informações: matterbetter.com
OUTRAS COMPETIÇÕES
WORLD’S REMOTEST INHABITATED ISLAND Tristan da Cunha|Design Ideas Competition Data limite de inscrição: 02/06/2015 Mais informações: ribacompetitions.com/tristan/ OPORTO COWORK COMPETITION AWA Data limite de inscrição: 15/04/2015 Mais informações: awacompetitions.com RESHAPE 15: WEARABLE TECHNOLOGY COMPETITION Reshape Data limite de inscrição: 31/05/2015 Mais informações: youreshape.com DENCITY COMPETITION Shelter Data limite de inscrição: 20/04/2015 Mais informações: shelterglobal.org/competition/
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ÚLTIMA HORA Por : Manuel Campos
“Tinham fome e sede como os bichos, e silêncio à roda dos seus passos. Mas a cada gesto que faziam um pássaro nascia dos seus dedos e deslumbrado penetrava nos espaços” Estrofe última de “Os Amantes sem Dinheiro” Eugénio de Andrade Por : Rita Amado
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arquitecto. arquitecta. architectus. pelo dicionário: pessoa que tem como profissão idealizar e projectar edifícios ou espaços arquitectónicos, podendo também dirigir a sua construção. como estudantes de arquitectura, passamos o tempo a falar de quantas directas fazemos, do trabalho que temos e do quanto vivemos a arquitectura. ou o que achamos que é arquitectura. não sabemos falar de mais nada sem ser de espaço. de promenade architecturale. de estar. percorrer. não sabemos mais nada. cingímo-nos ao limite da nossa profissão. mas afinal ser arquitecto é apenas ser uma pessoa que idealiza e projecta edifícios e espaços arquitectónicos? onde está a curiosidade de querer perceber o porquê do espaço ser assim e não de outra forma? onde está a filosofia e a psicologia atrás de cada plano que é traçado no projecto? onde está a auto-crítica? o saber que somos ignorantes? onde está a noção de que há muito mais para saber? onde está essa busca? não o sinto na maioria dos que me rodeiam. às vezes, nem o sinto em mim. e porquê? porque o espaço que habitamos não nos estimula para essa descoberta. não nos estimula para a acção-reacção. apenas agimos. não reagimos ao que nos é incumbido. não reagimos, nem quando nos pisam a ponta do pé. somos seres de quatro paredes brancas. somos seres de ficar presos nelas mesmo tendo em conta que são apenas quatro paredes e que as podemos trepar. é isso que falta. trepar a parede. para fora daqui. do que são estas quatro paredes que nada nos dizem. afinal ser arquitecto não é apenas uma profissão. é um estilo de vida. e por mais cliché que todos achemos que isto é, é verdade. existe uma necessidade intrínseca de querer estar, constantemente, em contacto com a arquitectura, o cinema, a fotografia, o teatro... todas as artes. afinal quem somos nós? quem sou eu? quem és tu? tu que permaneces inerte. trepa as quatro paredes que confinam o teu espaço e descobre o verdadeiro espaço porque, aqui, preso, onde não há reacção nem estímulo para conhecer mais, não chegas a entender o que é ser arquitecto. nem tu, nem eu, nem ninguém.
FIM
NucleAR