Alex Brito
valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
INFORMATIVO PUBLICITÁRIO ESPECIAL
2 são josé
ESPECIAL
valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
O sanatório Vicentina Aranha, datado de 1924, em construção, um dos marcos da fase sanatorial de São José
A entrada da Sociedade Beneficente Israelita Ezra, onde hoje fica o parque Santos Dumont
242 Anos
Uma história com marca da superação Dar a volta por cima e surpreender vira característica nata de São José dos Campos ao longo dos anos São José dos Campos
Vencer, ultrapassar, exceder, sobrepujar são alguns sinônimos da palavra superação que descreve e define com perfeição a vocação de São José dos Campos desde a sua fundação. A cidade, que comemora amanhã 242 anos, foi obrigada, segundo a professora e pesquisadora Valéria Zanetti, a superar difíceis momentos históricos. “O primeiro deles diz respeito à própria demarcação espacial do território, quando o povoado de São José do Parahyba se tornou autônomo de Jacareí”, explica a especialista em História Social. Embates territoriais envolviam interesses particulares que se conflitavam com os interesses da coroa portuguesa de povoar e elevar em vila os aldeamentos paulistas com o objetivo de assegurar os territórios coloniais. Valéria destaca outro grande momento de dificuldade, acontecido no fim do século 19, quando o município teve de tomar medidas para atrair e manter um povoamento fixo. Com terras pouco atrativas para a produção agrícola, a população estava sendo atraída pela cultura do café no oeste paulista. “Essa evasão da população causou grande impacto na economia local”, define. A superação dessa histórica crise econômica e social teve um marco divisor: quando o município recebeu o título de Estância Climatérica e Hidromineral. “Em 1935, a cidade passou a receber, do governo estadual uma considerável verba do Fundo de Melhoria das Estâncias (Fumest), investida no aparato sanatorial”, descreve Valéria. A verba também foi aplicada nos serviços públicos tais como pavimentação das ruas, implantação de rede de esgoto, de tratamento de água, de iluminação e revitalização dos espaços públicos. Para Valéria, a fase sanatorial, apesar do perigo que representava para o município, ajudou a transformar as dificuldades em oportunidades. Com a economia equilibrada e o espaço organizado, segundo determinações exigidas pela doença, a cidade se tornou uma referência no cenário nacional e preparou o terreno para acolher as exigências da fase subsequente, industrial e tecnológica.
O sanatório Vicentina Aranha pronto: chegada de tuberculosos na cidade gerou clima de segregação que perdurou por anos; vinda de médicos favoreceu investimentos em infraestrutura necessária para combater a doença
Antigos Sanatórios 1924 - Vicentina Aranha 1928 - Vila Samaritana - Associação Evangélica Beneficente 1934 - Ruy Dória 1935 - Sociedade Beneficente Israelita Ezra 1935 - Maria Imaculada 1946 - Sanatório São José 1952 - Antoninho da Rocha Marmo
Contágio Geral
Prefeito e padre eram ex-doentes São José dos Campos
A segregação era costumeira e radical no início do século 20. O comércio fixava placas informando que não atendia doentes. Havia receio em tomar um simples café nas padarias. Os hotéis exigiam atestado de saúde. Havia prostíbulos para saudáveis e para doentes. Escarradeiras eram instaladas em lugares públicos. Mas, ironicamente, São José dos Campos era conhecida como Cidade da Esperança. A distinção entre as pessoas só dei-
xou de existir quando muitos doentes recém-curados passam a ocupar cargos de destaque. “Chegou uma época onde onde o prefeito, o promotor, o padre eram ex-doentes”, disse Vitor Chuster, diretor do Patrimônio Histórico da Fundação Cultural. Os médicos, resolveram então, em 1935, solicitar ao governador que a cidade fosse transformada em Estância Climatérica e Hidromineral, o título de hidromineral teve embasamento em uma pequena fonte que corria no bairro de Santana, no norte do
município. “Se São José assim fosse considerada passaria a receber mais dinheiro do governo”, disse. O ônus dessa decisão seria perder a autonomia política. Durante muitos anos, São José teve seus prefeitos nomeados pelo governador. Cada prefeito era chamado Prefeito Sanitário ou interventor Sanitário. Esse administrador não poderia ser qualquer pessoa. Tinha de ser alguém minimamente instruído sobre os problemas da saúde. Por isso, vários prefeitos foram médicos”, disse Chuster. “Ele teria plena
consciência de como o dinheiro teria que ser empregado, e esse é um outro processo de superação”, completa Chuster. MEMÓRIA - Embora a história de São José dos Campos seja rica e diferenciada, durante muitos anos foi mantida em segredo pelos descendentes de doentes da época, que davam preferência em esquecê-la. Vários prédios de antigamente foram substituídos, o que ajudou a apagar um pouco da história da cidade.
Preconceito
sãojosé Editor Edilon Rocha (edilon@valeparaibano.com.br) Textos Daniela Borges, Rodrigo Machado e Edilon Rocha Diretor Comercial Arnaldo Stein Gerente Comercial Priscilla Xavier (priscilla@valeparaibano.com.br)
valeparaibano Av. Samuel Wainer, 3755 - Jd. Augusta São José dos Campos - SP CEP 12216-710 - Caixa Postal 8030 PABX (12) 3202-4000 Comercial (12) 3202-4051 Fax Comercial (12) 3202-4002
Em São José dos Campos, muitas famílias foram constituídas no universo da tuberculose, de acordo com a professora e pesquisadora Valéria Zanetti, outras tantas foram desestruturadas ou desfeitas. “Lembrar o espaço privado da vida dos joseenses requer um tour pela tuberculose, pelos sanatórios, pelas repúblicas e pelas pensões de doentes que, inerentemente, faziam parte da história da cidade”, explica. “Tanto isso é verdade que um prefeito da época assumia que, diferentemente das atividades desenvolvidas em Jacareí e Taubaté, a nossa indústria estava calcada na doença”, confirma a estudiosa. Durante anos, a cidade de São José foi estigmatizada como doente. Essa concepção causou um
São José dos Campos
Os médicos tiveram grande importância para a história de São José. Uma pessoa que estudava medicina tinha uma outra visão de mundo. Vinha do Rio de Janeiro, uma cidade cosmopolita com hábitos já muito diferentes de uma São José provinciana. “Esses médicos têm uma visão muito diferente e chegam em uma cidadezinha pacata em que as pessoas estão acostumadas a plantar na zona norte e vender no mercado. O doente andando pela rua”, relata Vitor Chuster, da Fundação Cultural. “Quando os médicos chegam aqui e vêem essa desordem, eles sabem o que deve ser feito. Da necessidade de ter uma água de qualidade, de ter rede de esgoto que não eram habituais”, completa. Não apenas os médicos, mas São José começou a atrair engenheiros, sanitaristas e advogados que tinham uma visão avançada para a época. Nélson D’Ávilla, que além de médico é presidente da Câmara, começa a questionar o fato de a economia da cidade girar apenas em torno dos doentes. “E quando vier a cura?”, dizia. Em 1920, é publicada a primeira Lei de Incentivo Fiscal no intuito de atrair indústrias para a cidade que resulta na instalação da primeira grande indústria por aqui, a Louças Santa Efigênia. Diferente das cidades vizinhas, São José não conta com palecetes e grandes casarões. “Por isso que tem uma discussão muito grande que essas cidades tem história e São José não tem”, disse. “Na realidade, eles tem uma história e São José tem outra. Só que a nossa história é até um pouco diferente por que a nossa história foi de superação”, orgulha-se o engenheiro.
Programação de Aniversário
Estigma da tuberculose perdurou por décadas São José dos Campos
Médicos mudaram a cidade
forte preconceito contra as pessoas que residiam no município, originando uma política de segregação, que marcou a região a partir da década de 1920. Na década de 1970, em função da nova configuração econômica e com o polo industrial emergente, apareceu um novo discurso. A cidade da doença agora tinha que ser identificada como a cidade industrial. “Sobrepondo-se identidades, as novas afirmações foram mais ágeis e fortes, pois legitimaram, nos espaços do município, essa nova marca identitária”, conceitualiza Valéria. Portanto, o que se percebe é que no espaço existem múltiplas memórias. Umas se sobrepondo à outras e definindo por sua vez o que deve ser esquecido e o que deve ser lembrado. “Pertencer significa fazer parte da cidade, isso não acontece quando o pas-
sado dessas pessoas não existe como referência na cidade”, define a pesquisadora Valéria. “Se a memória dessas pessoas é apagada pela falta de marco do passado, expressa na fala dos moradores ou na inexistência de elementos materializados no seu espaço, suas identidades ficam mutiladas”, completa. Por conta disso é que ouvimos as pessoas dizerem por aí que a cidade não tem identidade. “Talvez pelo esforço que se faz de apagar o “triste e pesado” passado sanatorial”, disse. “Mesmo considerada por muitos como uma fase triste e difícil, lembrar o passado sanatorial implica no direito à história, à memória. Preservar a memória e da fase sanatorial significa dar direito aos antigos moradores de pertencimento à cidade”, conclui. Leia mais sobre a história de São José à página 3.
Hoje 8ª PROVA DE LANÇAMENTO DE PESCA ESPORTIVA
Horário: 9h BAILE NA CASA DO IDOSO Onde: rua Euclides Miragaia, 508
Onde: Hípica da Univap Urbanova
Horário: 14h
Horário: das 8h às 18h
SHOW
PARKTRONIC - 2º FESTIVAL DE MÚSICA ELETRÔNICA DE SÃO JOSÉ
COM A DUPLA
EDSON E HUD-
SON
Onde: Parque da Cidade Roberto Burle Marx
Onde: Parque da Cidade Roberto Burle Marx
Horário: 15h
Horário: das 9h às 18h
CULTO DE AÇÃO DE GRAÇAS
CONCERTO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DE SÃO JOSÉ
Onde: Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo
Onde: Parque Vicentina Aranha
Endereço: rua Dr. Fernando Costa, 182, Jd. Esplanada 2
Horário: 20h Amanhã Hasteamento de Bandeiras
Horário: 20h30 Até o dia 31
Onde: Orla do Banhado
12ª Feissecre (Feira de Tecnologia Industrial de São José)
Horário: 8h
Onde: Parque Tecnológico
Missa Solene
Horário: das 16h às 22h
Onde: Igreja Matriz
Prefeitura de São José os Campos
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valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
Superação na Indústria
Quem diria que demissões em massa dos anos 80 e 90 trariam coisa boa? São José ganhou novas empresas Cláudio Capucho
Anos de crise despertaram vocação para os negócios Rodrigo Machado São José dos Campos
Se tem alguma história de superação de São José dos Campos que deve ser lembrada por muitos anos é o talento de seus moradores em se `reiventar’ diante dos desafios. A crise no setor industrial entre os anos 80 e 90 é um bom exemplo. São histórias de demissões em massa que resultaram em um novo rumo para a cidade, com a abertura de microempresas e o fortalecimento do comércio. Foi nessa época que nasceu o primeiro bairro industrial na zona sul da cidade — o Chácaras Reunidas. Hoje, o local abriga 230 empresas e estabelecimentos comerciais, segundo dados da Assecre (Associação dos Empresários das Chácaras Reunidas). Se São José completa amanhã 242 anos, quem comemora são os munícipes que hoje conseguem visualizar uma cidade próspera e cheia de ‘gás’ para vencer o cenário duvidoso com a atual crise econômica mundial e superar ainda mais os percalços. “São José é um lídimo berço do empreendedorismo. Desde a primeira grande crise, os competentes engenheiros e administradores que perderam suas vagas no mercado montaram seus próprios negócios e passaram a gerar outros empregos e cresceram”, diz o presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial), Felipe Cury. Essa foi a grande fórmula para superar todas as crises, aponta ele, que era um dos diretores da Avibras, uma das indústrias mais afetadas por aqueles tempos difíceis na indústria. Entre as empresas mais afetadas também podem ser citadas GM, Rhodia, Embraer, Jonhson, Philips, Kodak, Panasonic e a Engesa, que até faliu. Por consequência da crise, hoje a região conta com diversas empresas como, por exemplo, Prolind\Prolisa, Friulli, Winstall, Usimorem, Plande, que são for-
necedoras no setor automobilístico e aeronáutico —praticamente todas dirigidas por empresários advindos da fase crítica dos anos 80 na cidade. “As demissões em massa desenvolveram reações negativas e positivas. As negativas são o pânico, a perda do emprego, do meio de subsistência do trabalhador e de sua família, e o pior, desperta uma reação em cadeia”, diz. “Por outro lado, o aspecto positivo é que aguça o espírito empreendedor e estimula a ida à luta, à busca de novas oportunidades”, afirma o líder empresarial. Entre as principais mudanças na época estão o fortalecimento das empresas prestadoras de serviços que antes, no bolo econômico de São José, ficavam em terceiro lugar, e hoje estão em primeiro. “Em 2008, somente o setor de serviços teve um saldo positivo, diferença entre admissões e demissões, de 9.712 empregos. Em 2009, de janeiro a maio, o mesmo setor já criou 2.167 empregos”, endossa Cury.
Indústrias ‘sepultam’ sanatórios São José dos Campos
CIDADE MODERNA Vista da avenida João Guilhermino, no centro de São José dos Campos; cidade que completa 242 anos amanhã mantém pujança mesmo tendo passado períodos difíceis na economia Flávio Pereira
Crise e Benefícios
Setor de serviços desponta
✓ Abertura de empresas por profissionais especializados demitidos das grandes indústrias dos setores aeronáutico e aeroespacial ✓ Diversificação da economia nos ramos industrial, comercial e serviços ✓ São José torna o Chácaras Reunidas um bairro industrial para abrigar microempresas, que vão conquistando mercado ao longo dos anos
São José dos Campos
✓ Fortalecimento do comércio joseense ✓ Chegada dos grandes atacadistas e varejistas de alimentos, lojas de departamento, grandes magazines, agências de veículos de várias montadoras e a abertura de shoppings ✓ Fortalecimento de empresas prestadoras de serviços no bolo econômico de São José
A implantação de políticas de desconcentração industrial em nível nacional e estadual a partir da metade do século passado consistiu no incentivo à expansão das empresas para cidades do interior, como São José, que oferecia estímulos como isenção fiscal e doação de áreas para receber novas indústrias. À época, a cidade fazia parte das estratégias de incentivo à indústria. Acabou se tornando um polo de tecnologia aeroespacial do Vale, por meio das condições políticas para o crescimento econômico. A instalação do CTA (Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial) em 1951, o aeroporto e a Embraer em 1969, além da Avibras, fizeram de São José dos Campos um núcleo de indústrias militarmente estratégicas. A condição de estância climática e de repouso perdurou até 1977, quando o desenvolvimento industrial havia superado a condição de cidade sanatorial do início do século 20. Nesse período o crescimento do setor industrial já tinha atraído intenso movimento migratório, vindo do sul de Minas Gerais e de outras cidades da região e do norte do Paraná. Mesmo com a crise em 80, o resultado desse conjunto de forças é o sucesso da economia de São José.
O presidente da Associação Comercial e Industrial, Felipe Cury
Entre o final dos anos 80 e o início da década de 90, São José dos Campos vivia em função das indústrias, mas com a grande mudança provocada pelas demissões em massa, o município tornou-se um centro de compras, atraindo moradores de todo o Vale do Paraíba e Litoral Norte. Os joseenses deixaram de fazer compras em São Paulo e Rio
de Janeiro, e passaram a centralizar a atenção nos estabelecimentos comerciais da cidade, cita Felipe Cury, que está à frente da ACI (Associação Comercial e Industrial) desde janeiro deste ano. “As empresas, para atender a nova demanda, tiveram que crescer e modernizarse. Outras lojas de departamentos também surgiram para atender o mercado.” Nesse período, o pessimismo praticamente não era notado, segundo ele, pois o clima, que naturalmente tinha tudo para ser ruim, foi substituído pela esperança de dias melhores. “São José é cosmopolita, com população vinda de toda parte. É a terra das oportunidades. Essa crise desenvolveu o sentimento de inovação.”
Raquel Cunha
Entrevista/Almir Fernandes
Qualificação vira trunfo na cidade Rodrigo Machado São José dos Campos
Está mais do que provada a forte vocação de São José para o desenvolvimento de tecnologias, a superação de problemas e o talento para vencer desafios que surgem a cada instante. Em um passado recente (entre as décadas 50 e 80), a cidade era conhecida como ‘terra de forasteiros’. As pessoas vinham de diversos lugares atrás de oportunidades para realizarem seus sonhos. E são esses ditos aventureiros que contribuíram para que o município conquistasse, de uma vez por todas, um lugar de destaque no cenário nacional. Em entrevista ao valeparaibano, o diretor-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em São José, Almir Fernandes, lembra da crise que impulsionou e desenvolveu diver-
sos setores, comenta sobre o talento de seus empreendedores e cita casos de sucesso, como a construção civil. “Aprendemos que as empresas devem ser flexíveis para diversificar mercado e aproveitar as oportunidades que surgirem”, diz. A seguir, a entrevista: valeparaibano - São José é uma cidade que supera os desafios do mercado? Almir Fernandes - A cidade nasceu e se fundamentou na superação de desafios individuais e de grandes grupos. Aqui nasceu o CTA e o ITA através do sonho e da visão de futuro de alguns. O surgimento da Embraer e a vinda das grandes empresas provam um esforço coletivo de atração de negócios. Hoje, ainda vemos isso e com orgulho. O Ciesp acompanha o otimismo dos empresários e empreendedores. vp - Como a cidade, hoje
O diretor-titular da regional do Ciesp São José, Almir Fernandes: em entrevista, líder explica como a cidade venceu seus desafios
uma das principais do Estado, supera as crises que surgem na esfera nacional e mundial? Fernandes - Todo brasileiro é um pouco doutor em crise. Sempre ouvi dizer que o Brasil está em crise. E isso eu ouço desde quando nasci. São José, por ter um parque industrial bem diversificado, consegue superar suas crises com mais facilidade. A crise, em geral, afeta um ou outro setor e, assim, conseguimos man-
ter nossos negócios. Veja por exemplo essa atual crise: apenas as indústrias que trabalham com exportações é que estão com problemas maiores. O mercado externo está sem crédito e deixa de comprar, o que incorre em sofrimento para as empresas que exportam, assim como toda a sua cadeia de fornecedores. vp - Como era o cenário industrial da cidade entre o final dos anos 80 e o início da
década de 90, quando a crise atingiu o setor? Fernandes - As indústrias menores eram mais voltadas ao setor de autopeças, com empresas geralmente multinacionais que forneciam peças para as montadoras. Não havia tantas empresas de serviços como existem atualmente, pois as indústrias faziam quase tudo internamente. Mesmo aquilo que não era diretamente ligado ao seu produto, como a segurança, alimentação, jardinagem, manutenção etc. vp - E por que aquela crise, seguida das demissões, gerou tantos negócios? Fernandes - Ser demitido nunca é bom. O que acontece com São José é que muitas pessoas que trabalham aqui não são de nossa cidade. Quando perdem seus empregos, voltam para a sua terra natal e outros tentam arrumar a vida por aqui mesmo. Como o nível técnico de nossa mão de obra é alto, temos o privilégio de que essas pessoas, altamente qualificadas, se tornem novos empreendedores e abram seus próprios negócios. É lógico que nem todos têm sucesso, mas felizmente a maioria que sabemos é bem sucedida. vp - Quais foram as principais mudanças na época? Fernandes - Várias empresas que hoje são fornecedoras da
Embraer, surgiram de ex-funcionários. Inclusive se expandiram muito com o crescimento da Embraer nos últimos anos, tendo algumas delas filiais em Botucatu, para atendê-la. vp - Como as empresas Embraer, Johnson, GM, e outras como a Engesa, Avibras, responsáveis por grandes demissões, reagiram a crise à época? Fernandes - Com relação a Engesa, como todos sabem não conseguiu reagir e acabou encerrando suas atividades. Quanto à Avibras, até hoje ela vem sofrendo, mas pelos nossos conhecimentos agora tem a oportunidade de voltar a ser a empresa de antes. Não sei se com a mesma imensidão, mas com certeza vai ser bem melhor do que nos últimos anos. Quanto às outras empresas citadas, todas são bem estruturadas, consolidadas no Brasil e sem dúvida que conseguem passar por qualquer crise. vp - Cite um caso de sucesso pós-crise de algum setor industrial em São José Fernandes - Se pegarmos a indústria da construção civil, podemos citar quase todas as construtoras joseenses como exemplos de sucesso. Todo o nosso parque industrial, de um modo geral, vem crescendo, de forma lenta, mas vem crescendo.
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Economia
Mudança no cenário cria até um bairro Chácaras Reunidas se fortaleceu após a crise econômica de décadas passadas; empresários criam associação Cláudio Vieira
Rodrigo Machado São José dos Campos
Uma das principais mudanças na economia de nas últimas décadas ocorreu junto com o surgimento do bairro Chácaras Reunidas entre o final dos anos 70 e início dos anos 80. Para fomentar ainda mais as atividades na região, um grupo de empresários criou, a partir de 1993, uma associação para agregar pequenas e médias empresas que surgiam a cada instante. A época coincidiu com a crise que se estabeleceu na economia, principalmente no setor metalúrgico e aeroespacial, o que provocou demissões em massa. Alguns dos demitidos viraram empresários e instalaram suas fábricas no novo bairro industrial da cidade. Logo nos primeiros anos, o objetivo da Assecre (Associação dos Empresários do Chácaras Reunidas) ficou voltado para melhorias para o bairro. Entre as metas estavam garantia de linhas telefônicas, reativação de posto policial e reforço no patrulhamento, além da criação do primeiro guia empresarial. Hoje, a entidade oferece
aos associados assistência jurídica, médica e odontológica, correios, bancos e promove ainda eventos para integrar empresários ao mercado. A história da associação, que conta com pelo menos 230 empresas e estabelecimentos comerciais associados, se mescla com o crescimento do município, diz o empresário e um dos coordenadores da Assecre, Angel Guillen, 56 anos. A trajetória consolidou o bairro, segundo ele, como importante polo industrial, gerador de tecnologia e empregos na cidade. “O papel da Assecre é unir os empresários da região do Chácaras Reunidas para juntos buscarmos melhorias de condições para nossas empresas e colaboradores, exercendo com responsabilidade nossa cidadania”, diz. SOCIAL - O trabalho dos empresários na região também contribui com a sociedade quando o assunto é ação social na comunidade. Cerca de 40 estudantes da escola estadual Elmano Ferreira Veloso participam do coral todas as quartas-feiras na sede da entidade.
Feira começa na terça São José dos Campos
Considerada a maior feira tecnológica do cone leste paulista, a Feissecre (Feira de Tecnologia Industrial de São José dos Campos) acontece a partir da próxima terça-feira e se estende até o dia 31. O evento acontece no Pavilhão do Núcleo do Parque Tecnológico Riugi Kojima e a entrada é gratuita. Criada em 1997, a feira faz parte do calendário oficial de festividades da cidade devido
BAIRRO DE FÁBRICAS Caminhões junto de empresas do bairro Chácaras Reunidas em São José; associação dos empresários, a Assecre, tem 230 filiados
Novos Negócios
Empresária conhece bem o que é crise e superação Para Angela, São José é uma cidade fadada ao crescimento, como por exemplo ela cita a superação da crise do setor aeronáutico. A empresária também vê com bons olhos incentivos do governo conferidos a outros setores, como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) zero para carros populares. Thiago Leon
A empresária Angela Grou em sua empresa, nas Chácaras Reunidas, que projeta, fabrica e monta estruturas industriais
‘
Nenhum município deve concentrar incentivos em poucos setores e sim estabelecer políticas de incentivos econômico e fiscal para as empresas locais Angela Grou, empresária em São José dos Campos
‘
Se fosse para contar as diversas histórias das pessoas afetadas pela crise no setor industrial no passado, e que conseguiram dar a volta por cima e assumiram papéis de empresários, a leitura renderia mais algumas páginas sobre o tema. São exemplos de superação e empreendedorismo que fizeram fortalecer o terceiro setor em São José dos Campos. Mas quais as lições tiradas desse período ‘crítico’ e quais as mudanças na vida dos joseenses? A resposta poderia ser até coletiva, mas como em qualquer outra economia as histórias de sucesso se cruzam com casos fracassados e sem final feliz. Para a empresária Angela Grou, 55 anos, de São José, as lições aprendidas de lá pra cá são muitas, entre elas a de que a cidade não pode depender apenas do ramo industrial. “A economia deve ser diversificada e empresários e o poder público devem ter visão estratégica”, diz. A joseense é exemplo de superação. Ex-funcionária do Banco Meridional, ficou sem vaga no mercado de trabalho em 1980, quando a crise atingiu instituições financeiras e culminou com a falência do banco. Hoje, Angela é sócia-proprietária da empresa Paulo Grou Engenharia, instalada no bairro Chácaras Reunidas há 17 anos. Ela deu a volta por cima junto com o marido e sócio, Paulo Grou. Juntos, empregam de 30 a 40 funcionários, sem contar a mão de obra terceirizada. Ligada à construção civil, a empresa é voltada para as áreas industrial, comecial e institucional. “Projetamos, fabricamos e montamos estruturas e coberturas metálicas para obras industriais. Licenciamos e regularizamos empresas junto aos órgãos públicos”, conta.
Angela acompanhou o crescimento e todas as mudanças da cidade e do país. Ela cita que era raro o mês em que o Banco Central não tinha de intervir e fechar um agente financeiro. “Criamos a empresa com muita dificuldade. Hoje, com sede própria, acredito ter superado as expectativas.
‘
Um dos maiores desafios enfrentados pela empresa foi a crise de energia elétrica. Embora passageira, ela assustou e nos fez investir em fontes alternativas. Angela Grou
‘
São José dos Campos
a sua importância e o número de expositores que cresceu 73% nos últimos três anos. Somente no ano passado, segundo o empresário e um dos coordenadores da Assecre, Angel Guillen, o evento contou com 268 estandes e cerca de 14 mil visitantes. Para este ano, os organizadores disponibilizarão 308 estandes, ou seja, 14% a mais em relação à edição anterior. A quantidade atinge o limite da área do pavilhão — 5.400 metros quadrados. “A Feissecre é uma grande vitrine de negócios, máquinas, equipamentos, acessórios, produtos e prestadores de serviço para o setor industrial”, diz. “É a oportunidade, tanto para estreitar o relacionamento comercial, quanto para a realização de novos negócios”, completa.
O projeto social tem o objetivo de ensinar aos alunos ética, cidadania, saúde e dignidade. Além das aulas de canto, a Assecre oferece ainda curso para quem deseja aprender flauta. Outra ação que chama a atenção é o convênio firmado junto com a empresa Soesp para dar tratamento odontológico a 120 crianças. A Assecre fica na rua Loanda, 895. Informações: (12) 32016804.
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ESPECIAL
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Pontos de Fuga
Município aumenta as ofertas de lazer S. José tem 53 endereços, em todas as regiões, para a prática de esportes, descanso e encontro com amigos Roosevelt Cássio/VP
Rodrigo Machado São José dos Campos
Foi-se o tempo que São José restringia as áreas de lazer e esportes a apenas alguns bairros. A cidade oferece atividades esportivas e recreativas em 53 endereços de lazer. São ‘pontos de fuga’ criados nos últimos 20 anos com o objetivo de tornar a vida do joseense mais prazerosa. A oferta dessas áreas aumentou mais de 50% nos últimos 20 anos somente na zona leste, segundo estimativa dos presidentes das associações de bairros, que afirmam ainda que as atividades contribuíram com a qualidade de vida dos moradores. Segundo a Secretaria de Esportes e Lazer, são pelo menos 20 pontos de lazer em bairros como o Campos de São José, Jardim Valparaíba, Jardim Copacabana e Parque Novo Horizonte — lugares que em uma passado não muito remoto eram tidos como carentes. A exemplo são os quatro campos de futebol instalados
Esporte e Lazer Ginásio de Esportes Wagner Morera Praça Nenê Cursino, Vila Maria Centro Comunitário Filisbino Franco Rodrigues Praça José Molina, Vila Industrial Centro Poliesportivo Luiz Antônio Ribeiro de Macedo Rua Bento Pinto da Cunha, 381, Jd. Copacabama Centro Poliesportivo PM José Carlos das Neves Rua 23 de dezembro, 400, Jd. Cerejeiras Ginásio de Esportes Dr. Fauze Métene Rua dos Ceramistas, 81, Novo Horizonte Centro Esportivo Casa do Jovem Avenida Olivo Gomes, 381, Santana Centro Comunitário João Cordeiro dos Santos Avenida Eliane Maria Barbieri, 180, Morumbi Veja mais no site www.sjc.sp.gov.br
Vista do Parque Santos Dumont, na região central, que foi recentemente revitalizado
São José mudou muito nos últimos anos. A cidade está cada vez mais cheia de opções de lazer Ana Carolina dos Santos, dona de casa de 48 anos
na região leste. Diariamente o estudante Marcos Alexandre dos Santos, 23 anos, convida os amigos para ‘bater uma bolinha’ na quadra esportiva do Jardim das Flores, no distrito de Eugênio de Melo, zona leste de São José. Ele mora a três quadras do local, o que facilita a prática de esportes. “Aqui é o lugar onde a turma se encontra pra jogar futebol e falar sobre várias coisas, como balada, show e campeonato, que a gente organiza uma vez por ano. Esse espaço é bem aproveitado pelos moradores. No sábado e domingo tem bastante gente que anda de patins”, diz. Engano de que acha que as áreas de lazer incluem somente quadras e campos de futebol. Todos as noites um grupo de amigos se diverte no Centro Esportivo Palmeiras de São José, na zona sul, ouvindo músicas durante o jogo de basquete. A dez minutos dali, jovens e adolescentes se encontram para andar de skate e bike no Pavilhão Municipal de Exposições Fouad Cury, no Jardim América. “Opção pra curtir com a galera não falta. Venho do Jardim Satélite, porque sei que a rampa é uma das melhores da cidade”, conta o auxiliar
de caixa José Carlos Vilela, 19 anos. “Meu pai sempre fala que no tempo dele a diversão era em qualquer campinho.” Leia mais sobre este assunto às páginas 10 e 12
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ESPECIAL Cláudio Capucho
valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009 Cláudio Capucho
Roosevelt Cássio/VP
Vistas do Parque da Cidade Roberto Burle Max, inaugurado em 1996; com 516 mil metros quadrados de área, local é visitado diariamente por 5.000 pessoas, segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente
Lazer
Novos parques aumentam o número de cartões-postais População de São José ganhou quatro grandes áreas somente nos últimos anos São José dos Campos
Se existe algo que os moradores de São José dos Campos devem ter é o orgulho dos parques instalados nas quatro regiões da cidade. Esses espaços, considerados democráticos por receberem visitantes de diversos bairros, deram novos rumos aos bairros e tornaram-se verdadeiros cartões-postais. A criação de mais áreas verdes em São José pode ser vista como uma história de superação. Na década de 80, a cidade contava apenas com alguns parques, como o Santos Dumont. Hoje, os joseenses têm mais quatro grandes áreas. São elas o Parque da Cidade Roberto Burle Marx, o Parque Ecológico Sérgio Sobral de Oliveira, o Parque Vicentina
Aranha e o Parque Senhorinha, instalado onde antes era a favela Salinas. O local, que faz parte do
Programa de Revitalização de Nascentes, recebeu pista para caminhada, equipamentos de ginás-
tica, bancos, iluminação e 6.000 mudas de plantas nativas da Mata Atlântica. Cláudio Capucho
Garotos jogam futebol junto das palmeiras do Parque da Cidade, a maior área de lazer de São José
Joseense aprova mais opções São José dos Campos
Todas as manhãs a secretária Julia Cardoso Arruda, 29 anos, sai de seu apartamento em Santana, na zona norte de São José, para caminhar no quinta de sua casa: o Parque da Cidade Roberto Burle Marx. “Tenho a sorte de morar tão próxima desse tesouro”, diz ela.
Há 13 anos parte da antiga Fazenda da Tecelagem Parahyba foi transformada no Parque da Cidade Roberto Burle Marx, em Santana, na zona norte de São José, e tornou-se a principal área de lazer do município. Com 516 mil metros quadrados, o local possui vários atrativos como lago, ilha artificial e uma área ideal para trilhas.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, por lá passam mais de 5.000 pessoas diariamente. Gente como a professora Sandra Aparecida dos Santos, 43 anos, joseense de coração. “Cheguei na cidade quando tinha 13 anos. Antes tinhamos poucas opções, mas hoje existem mais parques para passeio”, comenta ela.
ESPECIAL
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Artes & Espetáculos
Município entra no circuito cultural Shows e eventos do roteiro das capitais passam a integrar a agenda de São José; espaços aumentam Eugênio Vieira/VP
Considerada uma das cidades estratégicas para a fomentação da cultura e realização de grandes espetáculos, São José dos Campos atrai cada vez mais produções que percorrem as capitais brasileiras e supera os desafios de equilibrar esse cenário cultural com a presença de artistas da cidade. E se há mudanças significativas na área artística e cultural nos últimos 30 anos, elas são frutos da criação da Fundação Cultural Cassiano Ricardo no começo da década de 80. Esse período foi o pontapé inicial no que diz respeito a todo o processo cultural de São José, conta o diretor cultural Cláudio Mendel. De lá pra cá, a cidade criou centros culturais em diversos bairros, apostou nos artistas joseenses e produziu grandes eventos e espetáculos. Hoje, São José integra cada vez mais o circuito cultural, atrai novos produtores e investimentos, como a construção de novos teatros. Os exemplos das últimas mudanças importantes no cenário
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A Fundação Cultural trabalha para a implantação de uma política na área cultural, que viabilize de forma rotineira, espetáculos que possam contribuir na formação de público
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Cláudio Mendel, diretor cultural
Apresentação de dança na Virada Cultural ocorrida em maio passado: cidade é estratégica para a cultura
Novo teatro agenda espetáculos São José dos Campos
Com capacidade para receber 324 espectadores, o Teatro Colinas, inaugurado há cerca de dois meses em São José dos Campos com o espetáculo “Beatles num Céu de Diamantes, dará início em setembro a uma programação intensa para a população. O local, de 1.100 metros quadrados, recebeu cerca de R$ 3 milhões de investimentos. O projeto de construção se baseou nos teatros clássicos italianos, segundo a gerente de marketing do Shopping Colinas, Valéria Israel. O teatro não é um palco pronto para receber megaproduções, mas suporta peças de tamanho médio com conforto. A decoração e o projeto ar-
quitetônico visam o conforto e o bem-estar do público que irá contar com chapelaria, mezaninos, camarotes e cafeteria. Equipamentos de luz e som de última geração, cabines de sonoplastia e tradução simultâ-
O Teatro Colinas Local: Shopping Colinas Investimento: 3 milhões Área: 1.100 m2 Capacidade: 324 expectadores Estrutura: inclui chapelaria, mezanino, cafeteria e camarote
nea, além de um dos mais atuais sistemas de tratamento acústico do país. “O Teatro Colinas vem preencher uma lacuna na cidade, que carece de um local de alto nível para eventos teatrais e empresariais. O teatro pretende ser um espaço multidisciplinar voltado para eventos de alto nível, que venham agregar qualidade à vida cultural da região”, conta. Segundo ela, o desafio agora é no sentido de prover o espaço com bons espetáculos. “Embora tenha demorado mais do que o previsto para ser concluído, o teatro é fruto de um projeto nascido justamente há pouco mais de uma década, quando já se notava a carência de boas casas de espetáculos.”
artístico são o Teatro Colinas, inaugurado há quase dois meses, e a realização de eventos como a Virada Cultural e o Festival da Mantiqueira. A cidade também é uma das sedes do Revelando São Paulo. “São os criadores e produtores culturais do município, cuja inventividade, criatividade e trabalho, que mantiveram seus produtos em circulação dentro e fora da cidade”, diz Mendel. O grande desenvolvimento da cultura, segundo ele, ocorre porque a cidade oferece espaços adequados, conta com diversidade de público para todas as áreas e se alia a uma política pública de cultura estabelecida. “Nessa linha, sem dúvida, a cidade passa a ocupar um espaço importante da cultura no país. São José, em pouco mais de 20 anos, passou a construir e implantar essas qualidades. Somos parte desse roteiro e continuaremos a ser”, conta. Sob a responsabilidade da Fundação Cultural, Mendel afirma que houve avanço da Orquestra Sinfônica, enquanto qualidade musical, ao lado do Festidança que inovou, abrindo espaço para as batalhas de dan-
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São José sempre oferece novos talentos; prova disso são os espetáculos que surgem em escolas públicas da cidade e nas oficinas culturais nos bairros Marisa Aparecida Moreira, professora
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São José dos Campos
ças urbanas. “Esses foram os dois principais marcos no município.” AGENDA - Neste mês, São José deu início aos projetos Terças em Cena, Quartas Musicais e Sextas da Dança, com o objetivo de apoiar a produção e divulgação artística da cidade.
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ESPECIAL
valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
Cidade das Artes
Diversificação marca cultura joseense Diretor da Fundação Cultural Cassiano Ricardo afirma que S. José descarta rótulo de estilo único em cultura São José dos Campos
Você já parou para pensar qual é a vocação cultural de São José? Dança contemporânea, catira ou balé clássico? Musical ou espetáculo caipira? Mosaico ou cerâmica? Afinal, São José tem ou não uma vocação para uma determinada atividade cultural? Hoje, não é mais possível uma rotulação para a cidade, afirmando que seja essa ou aquela a vocação de São José, conta o diretor cultural da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, Cláudio Mendel. “Temos a produção de cerâmica e de mosaico. Temos dança catira e temos a contemporânea. Há a Orquestra Sinfônica e a Orquestra de Viola Caipira. Acredito que a vocação de São José é a grande produção cultural que tem repercussão na cidade, região e no exterior”, diz. Mas ainda há muito o quê fazer, principalmente no cenário
teatral. Segundo Mendel, só agora é que a cidade começa a ter casas de espetáculos pensadas para receber espetáculos, com estrutura física, acústica e equipamentos técnicos de qualidade. “Anteriormente tínhamos apenas cinemas adaptados. No início da década de 90, o teatro foi o responsável pela formação de público. É necessário, e estamos repensando as ações para favorecer o aprimoramento e a difusão das artes. Uma arte sozinha não tem eficácia, pois isoladamente, não é cultura. É apenas arte”, conta.
como se pode imaginar, ao contrário, é a história viva de nosso tempo. É no MAB que posso en-
tender e compreender a história da aviação no Brasil, assim como o Museu de Arte Sacra
pode me esclarecer não apenas a história da religiosidade, mas também os movimentos artístiRaquel Cunha
cos que influenciaram a criação das imagens expostas”, diz Cláudio Mendel.a
Fundação cria arte nos bairros São José dos Campos
ROTEIRO - Uma dica do valeparaibano é visitar quatro atrações em São José: o Museu do Folclore, em Santana, o MAB (Memorial Aeroespacial Brasileiro), no Jardim da Granja, o Museu de Esportes e o Museu de Arte Sacra, ambos na região central. “Os Museus são importantíssimos na formação do ser humano. Não é uma ‘coisa velha’
O diretor cultural da Fundação Cassiano Ricardo, Cláudio Mendel: falta alavancar cenário teatral
Novo Sesc garante as atrações São José dos Campos
Os 30 mil matriculados do Sesc e toda a população da cidade tem motivo para comemorar e aproveitar as novas instalações do centro de cultura e lazer de São José, por oferecer atrativos e atividades de terça a domingo. Com uma área de 8.000 m. quadrados, o novo espaço tem capacidade de receber até 1.500 pes-
soas. A estrutura, com auditório e ginásio de esportes, oferece eventos de grande porte ao público. “Desde a inauguração, que norteou o trabalho realizado neste primeiro semestre, têm-se alternado grandes shows com os artistas Lenine, Zélia Duncan, Frejat, Arnaldo Antunes, Gilberto Gil, Ceumar, As Galvão, Cordel do Fogo Encantado e Antônio Nóbrega”, disse João Omar
Gambini, gerente em exercício. A unidade foi inaugurada em 11 de setembro de 1976 e acompanha todo a história da cena cultural joseense. “Hoje, a cidade tem um grande movimento de artistas de diferentes linguagens, em franca produção e criação, buscando formas para expor os resultados de sua pesquisa, desenvolvimento, evolução e trabalho.”
As atividades artísticas oferecidas em 12 centros culturais nos bairros de São José dos Campos contribui com o desenvolvimento de jovens e crianças, desperta a sensibilidade da comunidade e faz surgir novos talentos. Foi pensando nessa linha que a Fundação Cultural Cassiano Ricardo criou o projeto Arte nos Bairros, a fim de proporcionar o acesso ao aprendizado e ao exercício da arte. Como o próprio nome diz, o objetivo é descentralizar a arte e a cultura, estendendo suas atividades aos bairros e distritos. “Há 10 anos não sabíamos o que era teatro, nem sequer tínhamos oportunidade de aprender música. Hoje, a história é outra, mas ainda falta muita coisa”, conta a balconista Gisele Cunha dos Santos, 32 anos, moradora do Jardim Colonial, que há três meses participa das aulas de música. Os centros culturais oferecem as diversas modalidades de oficinas, como acordeon, aquarela, artes plásticas, canto coral, capoeira, criação de brinquedos, literária, flauta, além das danças contemporânea, criativa, de rua e folclórica, e promovem ainda atividades com artistas da cidade. Atualmente, os espaços culturais atendem mais de 5.000 pessoas e promovem ainda exposições, apresentações dos trabalhos e troca de conteúdos e experiências artístico-culturais.
ESPECIAL
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Economia
Cidade já superou outras turbulências São José sobreviveu aos percalços do setor bélico, da indústria aeronáutica e durante planos econômicos Flávio Pereira
São José dos Campos
O mundo vive os reflexos da crise econômica deflagrada no final do ano passado. São José dos Campos não passou ilesa pelo momento desfavorável e o quase “congelamento” das exportações gerou demissões e retraiu a economia da maior cidade do Vale. Historicamente, São José já passou por crises igualmente difíceis ou até piores e conseguiu superálas. De acordo com especialistas e historiadores, nada melhor do que conhecer o passado para ajudar a manter a tranquilidade no presente e a projetar o futuro. O primeiro momento crítico enfrentado pela cidade em sua história recente foi na década de 80. “Nessa época aconteceu a crise do setor bélico, quando acabou a Guerra Fria entre as potências mundiais”, recorda-se o economista Roberto Koga. A cidade abrigava algumas das principais indústrias do setor como a Avibras e Engesa e amargou tempos de recessão. Durante a década de 80 e início de 90, a economia do país viveu anos de instabilidade, com os seguidos planos econômicos, inflação alarmante, governo Fernando Collor e seu famigerado confisco da poupança. Quando as perspectivas econômicas pareciam melhorar com o advento do
Vista panorâmica de São José dos Campos, que não deixou o trem do desenvolvimento descarrilar em meio a crises econômicas do passado
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Economistas destacam ação do governo
Roque Mendes, economista
Quanto mais rica a cidade, maior é a presença de atividades do setor terciário
São José dos Campos
Luiz Carlos Laureano da Rosa, economista
Uma família desempregada não compra, não gasta e isso acarretará diminuição no comércio, que como conseqüência ocasiona redução na produção, afetando a mão de obra e aumentando ainda mais o desemprego, tornando um processo em cadeia
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Roque Mendes, economista
Linha de produção da Johnson & Johnson em São José: mercado interno aquecido ajuda vendas da indústria regional
A crise afetou o setor produtivo com a queda de empregos, mas, segundo o economista Roque Mendes, também exigiu uma nova postura do setor produtivo.“Quando enfrentamos problemas, repensamos nossas atitudes, refazemos nossos planejamentos e procuramos estar mais preparados para o futuro.” Para os economistas e professores Luiz Carlos Laureano da Rosa e Edson Trajano, ambos pesquisadores do Nupes (Núcleo de Pesquisas EconômicasSociais), da Unitau, apesar de São José dos Campos ter sido uma das cidades mais atingidas pela crise, em virtude de boa parte de suas atividades estarem ligadas ao setor externo, a economia da cidade, de uma maneira geral, tem enfrentado o momento graças ao consumo interno aquecido, de acordo com eles, pelas ações de estímulo do governo, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
Diversificação econômica atual é maior
Atividades Econômicas VALOR ADICIONADO POR ATIVIDADES (%) Ano
2002
2003
2004
2005
2006
Setor de Serviços
43,14
45,15
40,68
45,92
50,40
0,08
0,11
0,11
0,11
0,12
56,78
54,74
59,20
53,98
49,49
Valor Adicionado Total (Em milhões de R$) 12.155
11.805
14.681
14.329
13.327
Indústria
Leia mais sobre economia abaixo e às páginas 14 e 15.
Roosevelt Cássio/VP
Em tudo na vida é assim: “apanhando é que se aprende
Agropecuária
Plano Real, a Embraer, em fase de privatização, anunciou a maior demissão em massa até então, atingindo em cheio a economia joseense. Com o passar do tempo, a economia voltou a andar nos trilhos e a alcançar índices de crescimento que surpreenderam até os mais otimistas, quando, no fim do ano passado, a bolha imobiliária americana detonou uma crise financeira que resvalou em boa parte dos países do mundo. “No momento, passamos pelo reflexo da crise financeira mundial, com a recessão da economia nacional e internacional”, comenta Koga. Contudo, alguns fatores apontados pelo economista Roque Mendes, professor de economia e matemática financeira na Univap, ajudaram a cidade a resistir à crise atual. “São José é um município bem estruturado, bem administrado e que tem um potencial produtivo classificado entre os primeiros de São Paulo”, explica. Para ele, apesar do desemprego gerado pelas demissões da Embraer, a cidade teve uma excelente recuperação no mercado de veículos, mantendo e até aumentando o nível de emprego nas montadoras. “O mesmo ocorreu com o setor de serviços”, completa.
Fonte: Fundação Seade
São José dos Campos
A versatilidade do perfil econômico de uma cidade pode, segundo economistas, minimizar os efeitos das crises. “Quando uma cidade fica dependente de uma única atividade ela corre o risco de sofrer mais do que as outras”, disse o economista Luiz Carlos Laureano da Rosa. “Caso o setor em que ela esteja atrelada sofra um impacto negativo provocará grandes problemas econômicos e sociais em cadeia”, completa.
Foi o que aconteceu com São José em meados de 1990, quando a Embraer demitiu 4.000 funcionários e afetou a economia da cidade inteira. Segundo Laureano, o mesmo já não aconteceu com a atual crise mundial, ou seja, o impacto dos mais de 4.000 demitidos da Embraer foi menor em relação à anterior. “Isso porque o setor de serviços, incluindo o comércio, segurou de certa maneira a economia”, observa Laureano. Pelos dados da Fundação Sea-
de, em 2006, 50,40% das atividades econômicas da cidade estavam ligadas ao setor de serviços e 49,49% na indústria. (Veja quadro) “Entretanto, é pertinente observar que mesmo com essa queda na atividade industrial ela continua respondendo pela metade da riqueza produzida no município”, pondera Laureano. A vocação industrial começou a se formar nos anos 60 e 70, e está ligada aos projetos dos governos para descentralização da
produção da região metropolitana de São Paulo. O crescimento urbano a partir de 1970 aumentou a demanda por serviços e comércio. “Isso fez com que a partir dos anos 90, São José passasse por um importante incremento no setor terciário, que pode ser demonstrado pelo fato de a cidade ser hoje um centro regional de compras e serviços do Vale e sul de Minas Gerais, atendendo uma população de aproximadamente 2 milhões de habitantes”, disse o pesquisador.
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ESPECIAL
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Economia
Expansão dos serviços fica evidente Atividades do setor terciário despontam no cenário na década de 90 e superam demais ramos da economia Flávio Pereira
Roberto Koga, economista
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‘
O sucesso do setor de serviços depende, muitas vezes, da índústria
São José dos Campos
Com o surgimento dos shoppings Vale Sul e Colinas, das universidades e da rede hoteleira, segundo o economista Roberto Koga, ficou evidente o desenvolvimento do município na área de serviços durante os anos da década de90. “A cidade segue a tendência mundial de crescimento na área de serviço, no entanto,
São José dos Campos ainda depende muito da riqueza do setor industrial”, defende Koga. “Apesar de gerar menos emprego, por fatores como aumento da produtividade, robotização e terceirização, por exemplo, o setor de serviços depende das indústrias”, completa o economista. O pesquisador Luiz Carlos Laureano compartilha da mesma opinião e explica que a queda
Vista do shopping Colinas: construção dos mais novos centros de compra é uma prova da força adquirida pelo setor terciário
no número de emprego no setor industrial, que acontece em um ritmo maior do que a participação na renda, tem como motivo o aumento na produtividade (inovação tecnológica). Considerado pelos economistas como o segmento menos suscetível às crises, o setor de serviços se beneficia por estar voltado para o mercado interno, que se mantem aquecido, mesmo em tempos de crise como a atual, que afeta a economia do mundo todo. “Entretanto o seu sucesso depende, muitas vezes, do desempenho da indústria, pois se reduzir a renda dos trabalhadores da indústria, que são os que têm melhores salários em média, pode comprometer as atividades terciárias”, considera Luiz Carlos Laureano. OS 3 SETORES - Para a sociedade entender melhor os cenários econômicos, economistas dividem as atividades produtivas em três níveis: A agicultura integra o setor primário; a indústria faz parte do setor secundário; serviços e comércio integram o setor terciário da economia. Fazem parte do setor de serviços atividades como telecomunicações, informática, seguros, transporte, limpeza, alimentação, turismo, educação, saúde.
Empregos NÚMERO DE VAGAS POR SETOR DE ATIVIDADE EM JANEIRO DE 2009 Indústria 50.941 Comércio 32.810 Serviços 72.095 Construção civil 13.339 Outros 4.417 Total 173.602 Fonte: Caged
Número de Empresas Comerciais Em 1997: 3.086 Em 2007: 4.777 Crescimento em 10 anos: 55% Industriais Em 1997: 615 Em 2007: 802 Taxa de crescimento em 10 anos: 30% Fonte: Fundação Seade
ESPECIAL
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Economia
Empregos garantem a força econômica Economistas pregam esforço total contra o desemprego para evitar a típica reação em cadeia no cenário Flávio Pereira
São José dos Campos
Para os economistas, o desemprego é o principal fator de comprometimento da economia, responsável por desencadear uma reação em cadeia que afeta todos os setores econômicos. “O desempregado vai obrigatoriamente deixar de consumir e com isso o comércio vai deixar de vender e fatalmente também não comprará da indústria que por sua vez não vai poder admitir novos empregados”, pormenoriza o economista e pesquisador Luiz Carlos Laureano da Rosa. O economista Roque Mendes concorda que o pesquisador e vai além. Para ele, a economia também fica comprometida com as altas taxas de juros, que acabam inibindo as compras, os impostos e a flutuação cambial. “Os impostos elevados tornam o produto mais caro. O dólar baixo (em relação ao real), inibe a exportação reduzindo o PIB (Produto Interno Bruto) da cidade. Já o dólar alto interfere nos preços dos produtos e matérias primas importados, reduzindo as compras no comércio e aumentando os preços na produção”, disse Mendes. DESAFIO - De acordo com os economistas e pesquisadores Luiz Carlos Laureano e Edson Trajano, o principal desafio econômico das cidades para se manterem prósperas é o desenvolvimento sustentável. “Não é apenas o crescimento econômico e sim tomar um conjunto de medidas e atitudes que atendam às necessidades sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades e isso tudo acompanhado de uma sustentabilidade (ecologicamente correto, economicamente viável, socialmen-
Vista do Banhado: desafio é crescer de forma sustentável
te justo e culturalmente aceito)”, conceitualiza Laureano. Para a dupla de economistas, São José tem esse grande desafio. “O crescimento da cidade vem acompanhado de um crescimento populacional, que resulta na ampliação dos problemas sociais com a criação de um bolsão de probre-
za”, completa Trajano. Os pesquisadores consideram que, no caso de São José, um dos fatores econômicos mais importantes para o seu desenvolvimento econômico é a situação do setor externo. “Pois ela (São José) depende da exportação de seus produtos”, conclui Laureano.
Participação dos empregados nos setores (VÍNCULOS EMPREGATÍCIOS EM %) Ano Agropecuária Comércio Construção Civil Indústria Serviços
1991 1,35 11,58 3,00 44,02 31,08
1995 0,71 16,18 4,35 40,59 37,65
2000 0,69 18,15 3,91 36,82 40,43
2002 0,62 18,59 4,31 31,60 44,88
2003 0,57 19,53 3,39 34,16 42,35
2004 2005 0,52 0,43 19,86 20,66 3,55 3,68 34,28 32,61 41,79 42,63
2006 0,47 21,24 4,49 32,13 41,67
2007 0,51 19,70 6,78 31,46 41,55
Fonte: Fundação Seade Alex Brito
O economista Roberto Koga defende mais planejamento econômico estratégico para evitar vulnerabilidades
Economistas citam o que falta fazer São José dos Campos
Para os pesquisadores Luiz Carlos Laureano Rosa e Edson Trajano, da Unitau, São José precisa buscar uma maior diversificação da sua produção, oferecendo produtos mais voltados para o mercado interno. Segundo eles, essas medidas ajudariam a cidade a continuar em uma trajetória de crescimento. Já para o economista e professor Roque Mendes, da Univap, a superação da crise e a volta do crescimento estão ligadas a criação de frentes de trabalho. “Com
a participação de novas empresas, criando e aperfeiçoando novas tecnologias e, principalmente criando meios de não depender de poucas “grandes” empresas, mas sim de muitas “médias e pequenas”. Assim, no caso de desemprego, certamente o mesmo não ocorrerá em massa como tivemos”, recomenda Mendes. Para o economista Roberto Koga, São José carece de um planejamento econômico estratégico. “Tivemos a “sorte” de superar as crises pelo restabelecimento da economia nacional e internacional”, conclui.
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Voto Direto
1º prefeito eleito precisou se superar Primeiro chefe do Executivo escolhido pelo povo, Joaquim Bevilacqua encontrou grandes desafios Enfrentar o desafio de ser o primeiro prefeito eleito pelo voto direto depois de anos de nomeações para a chefia do poder executivo da cidade. Esse foi apenas um dos vários momentos de superação vividos pelo ex-prefeito joseense Joaquim Bevilacqua no pouco tempo em que esteve à frente da Prefeitura de São José. Uma história que ajuda a entender a vocação da cidade para o desenvolvimento, que envolve e integra a vida de um administrador público com o destino da cidade. Reconhecido pela criatividade e pelo dinamismo, Joaquim Bevilacqua mudou as características sociais da cidade no fim da década de 70 e estabeleceu um relacionamento entre munícipe e poder público até então inexistente. Muito do que São José é hoje deve-se à sorte de contar com administradores comprometidos
com a cidade. Visionários, entusiastas, ousados, alguns prefeitos empenharam força e energia no projeto de traçar o futuro de São José com obras importantes e decisões políticas que colocaram a cidade para sempre no rol das mais importantes do Brasil. A ascensão política experimentada pelo ex-prefeito, que
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Não fui populista, tenho sensibilidade. Se alguém me conta um problema, ele passa a ser meu Joaquim Bevilacqua, ex-prefeito de São José
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São José dos Campos
aos 34 anos chegou à administração da cidade, deu a ele o poder de fazer uma administração diferente com idéias pautadas no pioneirismo. Entre os desafios do seu governo, Bevilacqua destaca a abertura dos canais de participação como o principal. “A maior superação do meu governo foi, sem dúvida, a implementação de políticas públicas definidas”, reforça Bevilacqua. “Até então não havia uma política para a saúde, habitação e promoção humana, por exemplo, e também não havia nenhuma participação da população”, completa. Em um tempo em que a figura do prefeito era distante, mítica e intangível, Bevilacqua instaurou as audiências públicas semanais. “Todas as sextas-feiras, das 7h30 até quase 22h, recebíamos os munícipes no salão térreo do Paço Municipal. Junto com todo o secretariado, chegávamos a atender 700/800 pessoas por dia”, re-
corda-se o ex-prefeito. A iniciativa ousada, tinha, segundo o próprio Bevilacqua, vários objetivos. “Em primeiro lugar tinha sentido didático: o munícipe falava diretamente com o prefeito e o servidor sabia que se ele não atendesse bem, o munícipe falaria com o prefeito e eles
falavam mesmo”, disse. “Também trouxe um feedback do que estava se passando e onde era preciso melhorar”, completa. Bevilacqua assumiu a prefeitura pela primeira vez em 1978, graças a um discurso arejado e jovem, junto com o forte apelo pela redemocratização, mas renun-
ciou em 1982 para se candidatar ao Senado. Ele voltou a ser eleito para o cargo de prefeito em 1989, mas renunciou no ano seguinte atraído pela possibilidade de outra candidatura que também não se confirmou. Leia mais sobre este assunto à página 19. Cláudio Capucho22JUN04
O ex-prefeito de São José, Joaquim Bevilacqua, o primeiro eleito por voto direto após o regime militar
Ex-prefeito nomeia ‘ícones de superação’ São José dos Campos
Para Joaquim Bevilacqua, alguns setores de sua administração como prefeito tornaram-se verdadeiros ícones de superação. No campo de políticas públicas, suas ações, que hoje poderiam soar como utópicas, foram colocadas em prática — algumas delas com muito sucesso. São casos do mapeamento individual da saúde dos estudantes do ensino municipal e a disseminação dos cursos profissionalizantes nos bairros por meio do uso de unidades móveis de ensino. Enquanto os prefeitos nomeados até então investiam fortemente em obras, Bevilacqua desenvolveu a promoção humana. “Fui na contramão disso e atuei mais no lado social, na saúde e na educação”, afirma. Nessa época, os assistentes sociais foram muito va-
lorizados pela prefeitura. Embora a preocupação do governo tenha sido o desenvolvimento humano, na sua administração ocorreu a primeira fase do Anel Viário e como consequência o primeiro projeto de desfavelização da cidade e o desenvolvimento da zona sul com a criação do acesso àquela região pelo Vidoca. A aquisição do terreno e o projeto do Hospital Municipal e a mudança do teatro para o Shopping Centro — onde está até hoje — também foram decididos durante o seu governo. Mas, entre os mais emblemáticos motivos que ajudaram na sua projeção como administrador público eficiente, foi a criação do Cosemt (Centro de Orientação SócioEducativa do Menor Trabalhador), um projeto voltado para a profissionalização de menores carentes que foi premiado pelo Unicef e foi o embrião da Fundhas.
Trajetória política foi breve São José dos Campos
A trajetória de Joaquim Bevilacqua pode ser considerada breve, mas intensa. Concorreu a cinco cargos e ganhou todos. Se elegeu vereador de São José em 1972, com apenas 28 anos. Dois anos depois, foi eleito deputado federal. Chegou à prefeitura em 78, eleito com 66% dos votos. Entorpecido pela sugestão de Paulo Maluf em concorrer ao Senado, Bevilacqua renunciou em 82. No entanto, a sua candidatura nunca foi efetivada. Em 86, se tornou deputado federal. Em 89, se elegeu prefeito de novo. Para a surpresa de todos, renunciou em 90, para sair candidato a vice-governador de ninguém menos que Sílvio Santos, que desistiu de ser candidato e enterrou os anseios do ex-prefeito. Abandonou política em 91.
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Marcas
Ex-prefeito de São José criou o passe livre para idosos e defende ter lançado o orçamento participativo
Pioneirismo marcou o mandato de Bevilacqua São José dos Campos
A cidade que comemora amanhã 242 anos, foi pioneira em várias ações de sucesso ligadas à política pública e que até hoje são aplicadas em âmbito nacional, muitas delas concebidas durante a administração de Joaquim Bevilacqua. Quem poderia imaginar que São José foi a primeira cidade a implantar o passe livre para idosos no transporte público urbano? E quem diria, o projeto Cingapura, de apartamentos populares da era Maluf, foi baseado no Conjunto Integração, uma parceria público-privada de São José. O ex-prefeito também foi o primeiro a adotar o depois copiado projeto de orçamento participativo, em 1980. “Criamos os formulários para que fossem feitas as indicações das prioridades e distribuímos nas escolas de primeiro grau”, explica Bevilacqua. “Os alunos levavam para a casa, discutiam com os pais e devolviam.” A administração municipal também criou mutirões semanais e estimulou a criação das SABs (Sociedade Amigos de Bairro). “Quando assumi tinham apenas três, depois de três anos fechamos com mais de 80 SABs”, disse. Já que o mote do governo estava galgado na plataforma da redemocratização, Bevilcqua con-
vocou eleições diretas para as sub-prefeituras dos distritos de Eugênio de Melo e São Francisco Xavier pela primeira vez na história da cidade. Seu governo também foi pioneiro na implantação no país de um sistema hierarquizado de atendimento na saúde pública, antecipando-se ao SUS (Sistema Único de Saúde), com atendimento em unidades avançadas, unidades básicas, unidade de pronto atendimento até chegar no hospital. A vivência como vereador e deputado deram ao prefeito as ferramentas para por em prática um governo que influenciaria para sempre o destino da cidade. “Foi muito gratificante. A gente trabalhava muito, não tinha folga. A prefeitura fervilhava de gente. A administração era muito intensa. Havia aquela interação entre poder público e a população, e os servidores viviam isso”, recorda-se, com evidente nostalgia. ILUMINAÇÃO - Pode-se dizer também, que, de certo modo, Bevilacqua tirou a cidade da escuridão. Naquela época, a iluminação urbana contava com cerca de 7.000 lâmpadas. Ao final de sua gestão este número saltou para 27.000. Atualmente estimase que a cidade tenha 40.000 lâmpadas.
Flávio Pereira
A cidade passou a ser mais iluminada após a administração de Bevilacqua, que elevou o número de lâmpadas de 7.000 para 27.000
Gestão também teve projetos frustrados São José dos Campos
Embora o governo de Joaquim Bevilacqua tenha sido pioneiro e positivo sob vários aspectos, alguns episódios deixaram um gosto amargo na boca do eleitorado e marcaram para sempre a carreira política de Joaquim Bevilacqua,
como as suas renúncias ao cargo de prefeito nas duas vezes que se elegeu, iludido pelas perspectivas de se tornar ocupante de cargos mais representativos. Bevilacqua se considerava um prefeito “metido”, não no sentido de esnobe, mas de se envolver em vários segmentos
da sociedade. “Eu entendia que a prefeitura tinha de ter ações e participação em todos os assuntos de interesse da cidade”. Os projetos e ideias eram tantos que alguns deles naufragaram antes mesmo de terem sido colocados em prática, como a usina que seria administrada pela Urbam (Urbaniza-
dora Municipal) para produzir álcool de mandioca. Quando questionado sobre o que ele gostaria de ter feito durante a sua administração, o exprefeito menciona as ciclovias, a Guarda Municipal e o Parque Tecnológico, que só se materializaram posteriormente, em outras administrações.
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Infância e Adolescência
S. José supera problema do abandono Capitaneada pela Fundhas, rede social de proteção consegue tirar do asfalto as crianças que pedem esmola Fotos: Flávio Pereira
São José dos Campos
A antiga “cidade dos tuberculosos” recebeu uma repaginada para ninguém botar defeito. Que sanatórios que nada! Já nos anos 60, São José chamava a atenção pela expansão industrial e crescimento de sua população. O desenvolvimento, porém, trouxe no seu bojo um problema: os movimentos migratórios. Neste aspecto, um dos obstáculos a ser superados era o crescente abandono de crianças pelas ruas. Já notou que é raro ver crianças perambulando pela cidade ou pedindo esmolas para condutores de veículos que param nos semáforos? Se essas cenas estão praticamente fora da paisagem urbana joseense é graças a uma rede de proteção à criança que existe na cidade, rede que tem na Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) o seu aspecto mais visível. “É fácil perceber que em cidades nas quais não existe trabalho semelhante são observados índices maiores de violência, evasão escolar, desmotivação do aprendizado e dificuldade de inserção no mercado de trabalho”, acrescenta o presidente da Fundhas, Roniel Soeiro de Faria. A Fundhas é considerada o maior projeto social do Vale do Paraíba. Em suas 22 unidades espalhadas pela cidade atende 8.000 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. CONTATO - Em São José, todos que verem uma criança pedinte podem denunciar o caso. Basta ligar para o telefone 153, para ter contato com a cabine da SDS (Decretaria de Desenvolvimento Social) junto ao COI (Centro de Operações Integradas), que é preparada para receber esse tipo de denúncia. Após o contato, imediatamente as equipes que fazem a ronda 24 horas por todas as regiões da cidade vão até o local com educadores para buscar
essa criança e encaminhá-la para programas sociais. Aí começa o papel da rede social de proteção. “Existem programas sociais que atendem à criança em sua totalidade. Um exemplo de muito sucesso no município é o Aquarela, para crianças vítimas de violência doméstica. É um projeto pioneiro e é uma ação intersecretarias — o que o torna diferenciado”, cita Faria. Sob a coordenação da Fundhas, participam do Aquarela as secretarias de Desenvolvimento Social, Educação, Esportes e Lazer, Defesa do Cidadão e a Fundação Cultural. Profissionais de cada secretaria integram o programa. “Uma pedagoga da Secretaria de Educação, por exemplo, fica no Aquarela para cuidar da matrícula, frequência e rendimento escolar da criança”, explica o presidente da Fundhas. Conselho Tutelar e Vara da Infância e Juventude também integram o sistema para garantir direitos sociais básicos a crianças e adolescentes do município.
Crianças durante atividade em sala da unidade do centro da Fundhas: fundação integra a rede social em favor da criança e do adolescente
Curiosidades ✓ Crianças e adolescentes têm acesso a tratamento odontológico preventivo e palestras educativas sobre higiene bucal ✓ O curso de Mecânica ensina sobre funcionamento de motores de veículos, ignição, câmbio, freios (inclusive ABS), entre outro itens ✓ Nos cursos de Panificação e Confeitaria são consumidos, somente no café-da-manhã e no lanche da tarde, 70 mil pães mensais produzidos na padaria-escola. O Buffet da Fundhas atende uma média de 50 eventos (externos e internos) ✓ No Projeto Maioridade, os jovens que são desligados da Fundhas por completarem 18 anos são acompanhados por mais dois anos, quando recebem orientação para o mercado de trabalho e encaminhamento de currículos a agências/empresas
O presidente da Fundhas, Roniel Soeiro de Faria, almoça com crianças
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ESPECIAL
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Infância e Adolescência
Sucesso cria apoio a carreiras Na esteira do êxito da Fundhas, Cephas surge em 2000 para formar mão de obra qualificada Fotos: Flávio Pereira
São José dos Campos
O sucesso do trabalho social da Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) possibilitou a criação, no ano 2000, do Cephas (Centro Profissional Hélio Augusto de Souza), o braço profissionalizante da fundação. Segundo os diretores, o Cephas surgiu de duas situações: a necessidade da oferta de cursos técnicos de alto nível à comunidade e o aproveitamento de um Projeto Proep (Programa de Expansão Profissionalizante) do MEC. Sendo São José dos Campos uma cidade conhecida por seus empreendimentos tecnológicos (CTA, Inpe, Embraer) fez-se necessária, segundo os dirigentes, mãode-obra qualificada para atender a essa demanda. Para entrar no Cephas é preciso passar por um vestibulinho. Para participar da prova, o interessado tem de comprovar que mora na cidade há no mínimo dois anos e também ter concluído ou estar cursando o ensino médio (enfermagem exige conclusão). Além do Vestibulinho é considerada a situação socioeconômica do candidato. A escola técnica do Cephas oferece cursos de nível médio gratuitos a toda comunidade. Em nove anos de existência, já formou mais de 3.800 alunos.
Cursos do Cephas
Crianças assistidas pela Fundhas em aula de informática; além de possuir 23 unidades, fundação é mantenedora da escola técnica Cephas
Precursores
Esforço pela infância começou nos anos 70
✓ Eletrônica ✓ Mecânica ✓ Enfermagem ✓ Edificações ✓ Turismo e Hotelaria ✓ Comércio Exterior ✓ Gestão Empresarial ✓ Mecânica de Aeronaves ✓ Química Industrial Fonte: Fundhas
Cosemt, Clubinho e Fiscais do Lixo anteciparam Fundhas São José dos Campos
Como funciona a fundação
A criação da Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza), em 1987, coroou todo um esforço que já havia começado na década de 70 para desarmar a bomba-relógio que se constituía o problema do abandono de menores. Antes da fundação já havia programas da prefeitura vol-
São José dos Campos
tados para crianças e adolescentes. No Fiscais do Lixo, por exemplo, crianças agiam como verdadeiros fiscais para evitar que sacos com lixos acondicionados fossem rasgados por vândalos. Em 1972, foi criado o Clubinho, para dar orientação social às crianças. Neste projeto, uma das atividades era o serviço de
engraxate. Sete anos mais tarde surgia o Cosemt (Centro de Orientação do Menor Trabalhador), que oferecia atividades de doceiras, horta, carregadores de sacola, limpeza de rua e guarda mirim. A criação da Fundhas, já na década seguinte, veio para adequar o amparo às crianças ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O atendido da Fundhas deve, obrigatoriamente, estar matriculado em escola de ensino regular pública (estadual ou municipal) e frequenta a Fundhas no período contrário à escola, quando fica ocupado em atividades que o mantém longe da ociosidade e dos perigos das ruas. A Fundhas é mantida em 85% pela Prefeitura de São José e os 15% restantes são oriundos de parceria com empresas (investimentos em projetos e/ou doações espontâneas). Em reconhecimento às parcerias com as empresas parceiras, a Fundhas criou em 2004 o “Selo Empresa Amiga da Fundhas” que é entregue em solenidade realizada a cada dois anos. Neste ano haverá a entrega do “Selo” dia 20 de outubro.
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A Fundhas quer que as crianças e jovens acreditem em um futuro melhor Roniel Soeiro de Faria, presidente da Fundhas
Quem foi Hélio Augusto São José dos Campos
Assistente social por formação e vice-diretor da Faculdade de Serviço Social da Univap (à época Fundação Valeparaibano de Ensino), Hélio Augusto de Souza, havia trabalhado na implantação do Cosemt quando era chefe de gabinete no Paço Municipal. Já como vice-prefeito eleito em 1982, retomou o trabalho com incapazes no ano seguinte e começou a preparar toda a documentação para a criação da Fundação de Atendimento à Criança e ao Adolescente. Morreu em 1986 sem ver o sonho concluído. Em 1987, a Lei Municipal (3.222) de 28 de abril de 1987 criava a tão sonhada fundação, que em sua homenagem recebeu o nome de Hélio Augusto de Souza. Se fosse vivo, Hélio Augusto certamente ficaria entusiasmado com o trabalho da Fundhas. A entidade virou modelo e hoje recebe comitivas locais, regionais e até de estrangeiros para conhecer o sistema de apoio e inclusão de crianças e adolescentes.
Programas Programa Criança: Reforço escolar, atividades culturais e esportivas, aulas de informática e educação ambiental para crianças de 7 a 13 anos
Atividade física na Fundhas do centro da cidadeߺ: fundação teve “embriões sociais” nos anos 70
Alvo são as ‘crianças vulneráveis’ São José dos Campos
A Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) tem como objetivo dar apoio a toda criança em situação de vulnerabilidade social no município de São José. A expressão vulnerabilidde social resume a idéia, segundo o presidente da Fundhas, Roniel Soeiro, de maior exposição de um indíviduo ou grupo aos pro-
blemas enfrentados na sociedade. Entre esses problemas estão exclusão econômica e social, que os leva a romper seus vínculos sociais com a família, trabalho. “Já o termo situação de risco acontece quando os direitos sociais básicos são violados ficando as pessoas, à margem da rede de proteção, como: abandono e negligência; abuso e maus-tratos na família e nas instituições; explora-
ção e abuso sexual; trabalho abusivo e explorador; tráfico de crianças e adolescentes etc”, explica. Para o sucesso da intervenção é necessário, segundo Soeiro, que o município possua ampla rede de proteção como Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude, serviços sociais, de Saúde, Educação, entre outros serviços de maneira a garantir esses direitos sociais básicos.
Arte Educação: Atividades sócio-educaticas para adolescentes, como aulas de teatro, dança, música e rádio Aprendiz: Atende jovens de 15 a 18 anos, por meio de cursos profissionalizantes. Após o término do curso, os adolescentes são encaminhados como aprendizes para empresas- parceiras, onde têm carteira de trabalho assinada e todos os direitos garantidos Critérios de Triagem: para entrar na Fundhas é necessário pertencer a família com renda per capita inferior a meio salário mínimo e morar há pelo menos dois anos no município
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ESPECIAL
valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
Educação
São José é caso de sucesso no ensino Colégio mantido pela Embraer se torna o melhor de todo o Estado e motiva estudantes de escolas públicas Roosevelt Cássio/VP
São José dos Campos
Como muito se houve falar que a educação é um problema crônico no terceiro mundo, incluindo os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, como fazer para desatar o nó? Embora o assunto não se trata de uma carência específica de âmbito municipal, São José tem dado exemplo de superação do problema e já começa a virar referência para todo o país. O exemplo mais visível do sucesso vem do ensino particular, com o colégio Engenheiro Wanderley Juarez, mantido pelo Instituto Embraer. Após seus alunos conseguirem a média de 76,02 no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) do ano passado, o co-
légio passou a ser o melhor do Estado. Na chamada “Escola da Embraer” ninguém paga para estudar. Na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, alunos interessados — estritamente de escolas públicas — prestam um exame que concede 200 vagas no antigo colegial. Quem for aprovado, estuda em período integral (10 horas) e recebe de graça transporte, uniforme, material escolar e três refeições diárias. Somente no ano passado, quase 5.000 alunos disputaram vagas. A possibilidade de estudar de graça em um dos melhores colégios do Brasil causa uma agitação positiva em escolas estaduais e municipais da
cidade e até abre um nicho de escolas preparatórias.
Alunos em laboratório do colégio Juarez Wanderley: quase 5.000 disputaram 200 vagas no ano passado
Escolas municipais fazem a sua parte São José dos Campos
As escolas municipais de São José há anos são conhecidas pela qualidade no ensino, tanto que chegam a mobilizar muitos pais de crianças interessadas em vaga. Mais recentemente, alcançou índice notório no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). “Hoje a média alcançada pelas escolas municipais (5,6 nos anos iniciais e 5,0 nos anos finais) é motivo de orgulho e conseqüência do empenho dos professores, equipes de lideranças e alunos”, afirma o secretário Educação, Alberto Marques Filho. “Estamos contentes com a
média alcançada em 2007 e com os avanços obtidos nos últimos 12 anos, mas sabemos que não podemos nos acomodar com os bons números. Temos de buscar cada vez mais a excelência e a superação de desafios”. Segundo ele, o objetivo é chegar o mais rápido possível à nota 6 — considerada a média dos países desenvolvidos . Entre investimentos da pasta para atingir a meta está a construção de três creches, no Jardim Satélite, 31 de Março e Santa Inês 2. Também três escolas passarão a funcionar em tempo integral (8 h) nos bairros Dom Pedro 1º, Campo dos Alemães e Altos de Santana.
Comparativo Anos Iniciais Ano São José Campinas Rib. Preto Sorocaba S. Bernardo Guarulhos
São José e Outros Municípios no Ideb 2005 2007 Meta 2021 5,2 5,6 7,1 4,7 6,7 4,6 4,7 6,7 4,9 4,7 6,9 4,9 5,1 6,8 4,2 4,5 6,3 Fonte: Secretaria de Educação de São José
FACULDADE - Como se não bastasse o sucesso no Enem, o Wanderley Juarez aumentou recentemente para 100% o índice de aprovação de estudantes nos exames vestibulares de universidades públicas, as mais concorridas do Brasil. Além de preparar bem o aluno, o Instituto Embraer também garante as despesas de custeio do seu ex-aluno na época da faculdade. A ajuda de custo é estabelecida por meio de um fundo no qual o aluno recebe quase R$ 500 por mês para garantir pagamento de despesa de transporte, alimentação e estadia. Depois de formado, o ex-aluno reembolsa o Instituto Embraer.
Busca de vaga agita alunos e até professores São José dos Campos
Além de motivar alunos, a qualidade de ensino da escola da Embraer mexe com educadores. Professores de escolas públicas “entram no clima” e se mobilizam para dar dicas aos estudantes e intensificar o ensino. O secretário de Educação de São José, Alberto Marques Filho, o Mano, reconhece que a qualidade do colégio Juarez Wanderley “puxa para cima”, o nível do ensino público. “O colégio da Embraer é, sem dúvida, uma referência e fomenta a qualidade do ensino em São José”, comenta. “A escola tem influenciado na dedicação dos alunos aos estudos e estimulado os professores a melhorarem o rendimento dos estudantes. O professor que tem aluno aprovado na escola sente-se orgulhoso.” O caso de sucesso serve de modelo também para os próprios gestores da educação. “Nós da Secretaria Municipal de Educação também já visitamos o colégio da Embraer para conhecer ações exitosas que podem ser trazidas para a rede municipal”.
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valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
Volta por Cima
Comércio é catedrático em vencer crise Estabelecimentos ‘de rua’ superaram demissões na indústria, concorrência forte e abalos econômicos do País Thiago Leon
São José dos Campos
O comércio da cidade já enfrentou grandes desafios. Como a crise generalizada provocada no final dos anos 80 e início de 90. “Essa época coincidiu com as demissões em massa da indústria e a chegada das grandes redes e dos shoppings à cidade, abalando a estrutura do comércio local”, afirma Faria. Durante aquele período, os comerciantes de rua sentiram os efeitos da crise, somada à vinda de grandes shoppings centers, o que gerou grande apreensão. Hoje, todos os comércios têm o seu público. “O comércio de rua de São José já encontrou seu caminho. Depois de um primeiro impacto negativo com a chegada dos três grandes shoppings na cidade, houve uma reestruturação de conceito e hoje todos têm seu espaço”, disse Faria. De acordo com a localização, os estabelecimentos encontraram, segundo Faria, seus diferenciais. O comércio de bairro se destaca pela proximidade com as áreas residenciais e o atendimento. O comércio do
O Comércio de Rua Crises Superadas Demissões em massa na indústria a partir dos anos 80, concorrência com São Paulo, concorrência com São Paulo, crises econômicas mundiais Peso na Economia Casas comerciais somam 42,85% do total de estabelecimentos de São José
Superação na vida e nos negócios
centro está focado nas vendas por impulso e nas grandes redes de vestuário e calçados. “Se você caminhar pelas ruas do centro, em qualquer horário e em qualquer dia da semana, verá que o comércio está longe de ficar vazio”, ressalta. Hoje, o número de estabelecimentos comerciais de São José representa 42,85% do total de estabelecimentos da cidade, segundo a Prefeitura Municipal. O comércio de São Paulo, que já disputou clientela com o comércio de São José dos Campos, hoje já não tem tanto apelo. “Atualmente não há mais intervalo de tempo entre o lançamento de uma novidade nos grandes centros e sua chegada aos pólos regionais, como São José”, afirma Faria. “O avanço da logística dos transportes, das tecnologias de comunicação e publicidade e a Internet se encarregam de divulgar qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo”, completa. CRISE ATUAL - A crise financeira que o mundo atravessa atualmente e que chegou a refletir no comércio de São José dos Campos , começa, de acordo com o presidente do Sincomércio, a se dissipar. “Todos os segmentos da economia foram afetados. O nível de consumo caiu bastante e tivemos um Natal bastante modesto”, afirma José Maria de Faria. Mas, segundo ele, as isenções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a linha branca e para os automóveis zero quilômetro ajudaram muito e o primeiro semestre desse ano demonstra alguns sinais de recuperação no cenário econômico.
São José dos Campos
Para quem acredita em recompensa divina, dona Maria pode ser um exemplo vivo das providências de Deus. Reconhecida no comércio da cidade pela honestidade e retidão, dona Maria Antonia Cury hoje colhe os frutos de uma vida sacrificada. Dona Maria aprendeu cedo o significado da palavra persistência. “Vim do Líbano fugindo da guerra”, conta. Como se não bastasse estar em um país com outros costumes, dona Maria se instala em uma São José ainda provinciana, nos anos 40. “Aqueles eram tempos difíceis”, lembra. Mal sabia ela que a vida guardava momentos piores. Após alguns anos na cidade, seu marido adoece e morre, deixando-a grávida e com cinco filhos. “Cheguei a passar fome com meus filhos. Estava grávida e não podia trabalhar, nem sei como superei isso”. A situação começou a mudar quando seu sexto filho nasceu. “Deus começou a despejar fartura na minha vida. A vida tem seus altos e baixos, a gente sofre mas não pode nunca perder a fé”, conclui. Com trajetória de superação na vida pessoal, Dona Maria encara os desafios do comércio com a mesma persistência. Não é à toa que tem loja há 55 anos na Rua 7 de Setembro. Movimento no Calçadão; comércio do centro se especializou em vendas por impulso, vestuário e calçados
Leia mais neste suplemento
Sindicomércio faz ações contra o calote São José dos Campos
O índice de inadimplência no comércio, de acordo com José Maria de Faria, presidente do Sindicato de Comércio Varejista, de São José, em qualquer lugar, é sazonal, ou seja, varia muito conforme a época do ano. “Há um pico por volta dos meses de abril e maio, por conta das vendas realizadas no período natalino”, explica Faria. As dívidas em atraso resultam na inclusão dos inadimplentes no famoso SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). O Sincomércio, segundo Faria, coloca em prática várias ações com o intuito de reduzir o calote no comércio da cidade, principalmente em tempos de crédito fácil. “Promovemos palestras sobre análise de crédito, orientação sobre fraudes e falsificações e treinamento de funcionários”, exemplifica. “Algu-
mas regras básicas são: consultar sempre o nome do cliente no SCPC, não estender muito o número de parcelas e fazer um bom cadastro”, recomenda o presidente. CRÉDITO - O advento do cartão de crédito causou uma certa revolução nas relações de consumo. Não chegou a significar uma aumento no poder de compra da população, segundo José Maria de Faria, mas facilitou o consumo. “O sistema de pagamento com o chamado “dinheiro de plástico” vem se expandindo há alguns anos e se consolidando como a forma de pagamento preferida do consumidor”, disse. “A presença dessa modalidade no nosso comércio acompanha os índices dos grandes centros, podendo chegar hoje a 70% das vendas, dependendo do segmento”, conclui o presidente do Sindicato do Comércio Varejista.
Clientela fiel mantém comércio por 30 anos São José dos Campos
Uma loja que resiste há 30 anos no comércio de rua de São José. A casa de roupas Cearense, que atualmente mudou seu nome para Última Moda, possui uma clientela fiel que não costuma deixar Elizete Bessa, 50 anos, dona do estabelecimento, de braços cruzados. Localizada no Calçadão, a loja é um exemplo de comércio atuante que já superou e continua superando as crises da história. “A crise atual deu uma chacoalhada na gente e as vendas caíram”, afirma Elizete. “Mas a cada dia o movimento está voltando e as vendas estão melhorando, posso dizer que o pior já passou e hoje estamos respirando mais aliviados”, completa. Elizete já enfrentou outras crises, mas nenhuma como esta. “Me lembro daquela fase difícil do governo Collor, mas a gente estava começando”, recorda-se.
Ela se lembra também de quando o shopping CenterVale abriu as portas. “Todos nós do comércio de rua ficamos apavorados, mas sobrevivemos a todos esses momentos desafiadores”, disse. Para ela, vários são os fatores que fizeram com que a loja se mantivesse firme durante todos esses anos. “Persistência, uma base sólida e a clientela fiel, esses são os segredos do nosso sucesso”, elenca a dona da loja, nascida no Ceára e que há 30 anos adotou São José como a sua cidade. “O Calçadão tem uma magia que atrai os clientes, além da diversidade de produtos e preço”, afirma. As peças vendidas na loja vem do Bom Retiro, em São Paulo, lugar que, segundo Elizete, é a mesma origem de muitas das roupas que são comercializadas nos shoppings da cidade. “A diferença é que o nosso preço é bem mais barato do que o deles”, conclui.
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ESPECIAL
Políticas Públicas
Complexa, saúde da cidade tenta suparar os desafios Prefeitura pensa em como adequar a rede para a demanda dos próximos 20 anos São José dos Campos
Considerado um dos gargalos do atual mandato do prefeito Eduardo Cury (PSDB), a rede pública de saúde em São José enfrenta diversos problemas. Mas mesmo diante das dificuldades da contratação de médicos, por exemplo, a cidade dispõe de serviços diferenciais como os programas de reabilitação, tratamento ao tabagista e infraestrutura adequada para atendimento aos munícipes. A Secretaria de Saúde mantém 40 UBSs (Unidades Básicas de Saúde), cinco unidades de pronto-atendimento e dois hospitais, sendo o Municipal e o Clínicas Sul, além de parcerias com o Hospital Pio 12 e o Antoninho da
Rocha Marmo, além de 32 clínicas e laboratórios. A cidade também é reconhecida por abrigar diversas clínicas e centros médicos particulares, como o Hospital Vivalle, a Reger, e o recém-inaugurado, Santos Dumont, do grupo Unimed, considerados excelentes no atendimento. (Leia sobre a rede paricular de saúde neste suplemento) A complexidade da saúde de São José é maior do que muitas capitais do país, assim como o nível de exigências da população, segundo o secretário da pasta, Jorge Zarur Junior. Para ele, a oferta de serviços na rede básica e emergencial é considerada suficiente e de boa qualidade. “Mesmo assim existe grande
preocupação em manter este nível. O AME (Ambulatório Médico de Especialidades) e o programa Pró Santa Casa 2 vieram para resolver as duas maiores dificuldades que eram as consultas com especialistas e cirurgias de alta complexidade”, diz. “Mas o nosso maior desafio será adequar a rede e as políticas de saúde para os próximos 20 anos devido ao grau de aumento populacional previsto para a região”, conclui. MÉDICOS - Políticas que devem levar em conta a importância de atrair profissionais da área para trabalhar na cidade. Atualmente, a Secretaria de Saúde conta com 713 médicos.Deste total, 331 atuam no departamentos de Atenção Básica e de Políticas de
Saúde, 160 em hospitais e emergência, no qual inclui as UPAs e o Hospital de Clínicas Sul, além de 196 atual no Hospital Municipal. Se o número é suficiente para uma cidade com 650 mil habitantes? De acordo com o Ministério da Saúde, que estabelece os parâmetros assistenciais do SUS, a cobertura de consultas médicas são de duas a três por habitante. Em São José dos Campos, segundo o secretário, a população cadastrada no SUS (Sistema Único de Saúde) é de 540 mil. “No ano passado, a cobertura ambulatoriais na cidade foi de 2,81 consultas por habitante, atendendo aos parâmetros de cobertura”, argumenta o secretário Zarur Junior.
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Reabilitação tem 22 mil cadastrados São José dos Campos
Responsável por realizar 4.500 atendimentos por mês em três unidades da Secretaria de Saúde de São José, o Programa de Reabilitação é uma das ações realizadas pela equipe multidisciplinar com fisioterapeutas, médico ortopedista, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais na cidade. O objetivo é a prevenção, o tratamento e a diminuição de sequelas do problema, a fim de promover a independência das práticas cotidianas, inclusão social, detecção precoce de diversas deficiências, avaliação e tratamento individual ou em grupo. Segundo a Secretaria da Saúde, o serviço tem 22 mil pacientes cadastrados e atende recém-nascidos, pacientes pré e pós-operatórios, pessoas com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, patologias neurológicas recentes e disfun-
ções alimentares decorrentes de patologias neurológicas. Esse ano, o programa comemora 19 anos de serviços prestados às pessoas com deficiência física e fortalece ainda mais as parcerias com outros órgãos públicos e secretarias, segundo o secretário da pasta e médico Jorge Zarur Junior. Ele lembra que o trabalho em conjunto com as secretarias de educação e esportes são exemplos de sucesso. Como ação preventiva, o Programa de Reabilitação capacita professores e cuidadores para lidar com estudantes especiais na rede. Outra ação é o Pincel Mágico, onde foi introduzida a triagem auditiva nas escolas do município, com alunos dos dois primeiros anos do ensino fundamental. “Quando algum problema é detectado no paciente, o mesmo é encaminhado para a unidade de Serviço de Referência Auditiva, em Taubaté”, conta o secretário. As unidades de reabilitação estão localizadas na área central e nos bairros Jardim São José, região leste da cidade e no Jardim Satélite, na zona sul, para atender usuários ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde) e também os pacientes da rede particular. Cláudio Capucho
O Hospital Municipal de São José: maternidade foi apontada como uma das 30 melhores do Estado
Sistema de agendamento é alterado
Paciente reclama da qualidade do serviço São José dos Campos
São José dos Campos
Em funcionamento desde o último dia 1º, o novo sistema de agendamento de consultas da Secretaria de Saúde comemora os resultados em menos de um mês de implantação: a redução de 57% no número de faltas nas UBSs. Após 10 dias da implantação, o índice caiu de 30 para 13% em média em cada uma das 40 unidades espalhadas pela cidade. Ao todo, foram realizadas mais de 12 mil consultas em 10 dias, segundo dados levantados pela prefeitura. Para agendar consulta, o paciente deve comparecer à UBS mais próxima de sua casa. Em 2008, de um total de 600 mil consultas ofertadas, aproximadamente 136 mil pacientes não compareceram às unidades. “Hoje, o tempo entre a marcação e a realização das consultas é de, no máximo, 30 dias, considerando a ordem dos pedidos dos usuários da rede básica”, explica o secretário e médico Jorge Zarur Junior. Mas ainda há casos de espera por muito tempo, segundo usuários da saúde pública no município.
Como em qualquer outra cidade, São José dos Campos também lida com problemas na área da saúde. A falta de especialistas para as consultas nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), um dos principais motivos de reclamação, além das longas horas de espera e as filas para cirurgias são alguns dos pontos negativos apontados pelos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) no mucicípio. O filho da dona de casa Benedita Leite dos Santos, 38 anos, o estudante João Carlos dos Santos, 15 anos, sofreu uma fatura exposta em uma das pernas e teve, segundo Benedita, que ficar mais de duas horas esperando para ser atendido no Hospital de Clínicas Sul, no Parque Industrial, zona sul da cidade. “Uma vez precisei de atendimento depois de ter uma infecção no intestino. Lembro que não tive problemas na época com demora ou mesmo a falta de especialista, mas meu filho ter esperado com dor depois de quebrar a perna foi muito humilhante. Reconheço as coisas boas, mas vejo o que está errado”, afirma a dona
de casa. Apesar dos problemas, a cidade é apontada por especialistas ligados à área da saúde como uma das melhores do Estado e por oferecer infra-estrutura e tratamentos adequados para os pacientes de São José e cidades vizinhas, como Jacareí, Caçapava e Taubaté. “A cidade possui uma dos melhores sistemas de saúde pública do interior de São Paulo”, diz o diretor de negócios do Hospital Vivalle, Felipe Ciotola Bruno. MATERNIDADE - De olho na qualidade de atendimento e na satisfação dos pacientes, a maternidade do Hospital Municipal foi classificada como uma das 30 melhores maternidades conveniadas à rede pública do Estado de São Paulo. O hospital ganhou destaque por meio de pesquisa de satisfação realizada entre novembro e dezembro de 2007 e entre abril e junho do ano passado, segundo a Secretaria do Estado da Saúde. O levantamento ouviu 60 mil pacientes que passaram por internações e exames em 500 estabelecimentos de saúde conveniados à rede.
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ESPECIAL
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Construção Civil
Boom imobiliário surgiu há 30 anos Leva de trabalhadores da indústria emergente provocou a primeira grande expansão do setor na cidade Eugênio Vieira/vp
Rodrigo Machado São José dos Campos
Edifícios do Jardim Aquarius; bairro da região oeste experimentou uma das mais notórias expansões imobiliárias em São José dos Campos
CEF prevê elevação de crédito habitacional A Caixa Econômica Federal espera superar a projeção de R$ 29 bilhões em contratos de crédito para o setor habitacional este ano. Segundo a presidente da CEF, Maria Coelho, até maio já foram emprestados R$ 13 bilhões em 300 mil contratos. O volume de negócios vem sendo alavancado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo.
Expansão impacta outros setores São José dos Campos
O crescimento da indústria da construção tem impactado o setor de materiais de construção, fornecedores e prestadores de serviços. “Temos motivos para comemorar o aniversário da cidade
e também de fazer o balanço das crises ‘passageiras’ que nos colocam para reiventarmos estratégias diante dos desafios”, diz o empresário do setor de materiais Carlos Augusto Junior Pacheco. A expansão causa movimentação no comércio e nos agentes fi-
nanceiros, injetando recursos na economia. “Outro grande impacto está relacionado com a quantidade de empregos que geramos. Estima-se que no Vale, o setor gere 50 mil empregos”, cita o presidente da Aconvap, Cleber Córdoba de Lima.
Quando se pensa em expansão imobiliária em São José dos Campos, logo vem à mente o cenário da construção civil que se destaca de quatro anos para cá. Mas o que passa despercebido é que o crescimento do setor teve início há 30 anos, quando a cidade recebeu importantes indústrias, e o setor ganhou proporções que alavancaram a economia. Como na época existia uma grande carência de imóveis para atender essa nova parcela de trabalhadores das fábricas, o setor soube aproveitar as oportunidades e crescer junto com a cidade, diz o presidente da Aconvap (Associação das Construtoras do Vale do Paraíba), Cleber Córdoba de Lima. Atualmente, São José segue a tendência nacional e registra aumento de 10,9% em 2007, após apresentar elevação de 7,1% no ano anterior, segundo dados do IBGE. “O setor apresenta ótimos índices de crescimento, até superiores ao PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Em São José, por ser uma cidade em constante desenvolvimento, os números são ainda melhores”, afirma Lima. De acordo com pesquisa da Aconvap, feita em parceria com o Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), entre novembro de 2008 e fevereiro
de 2009, a cidade tinha 68 empreendimentos em construção e cinco prontos para ser ocupados. Quatro meses depois, ou seja, entre março e junho deste ano, o município passou a ter 81 empreendimentos em construção e 15 prontos. Entre os principais fatores que contribuíram com o estímulo e o desempenho das construtoras a partir da década 80, segundo Lima, foram as diversas atividades econômicas industriais e o fato de o setor oferecer ao mercado empreendimentos para diferentes perfis. “O mercado da construção civil sempre teve atividade intensa. Até o início dos anos 90 existiam financiamentos imobiliários e os empresários trabalhavam com recursos dos bancos, principalmente da Caixa Econômica Federal”, diz. Mas depois que os recursos não foram mais disponibilizados ou tiveram redução muito acentuada, surgiram novas modalidades de planos de financiamento fora do SFH (Sistema Financeiro Habitacional) a fim de atender toda a demanda e continuar desenvolvendo a construção civil no município. “Essa foi a fórmula encontrada para enfrentar na época a crise de crédito. Hoje, os bancos voltaram a oferecer recursos financeiros e as construtoras continuam a fazer financiamentos habitacionais próprios”, afirmou Lima ao valeparaibano.
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valeparaibano | DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009
Moradia
Desfavelização completa uma década no município Remoção de famílias em quatro bairros deu início ao atual ‘pacote de ações’ Um dos grandes desafios do poder público nas capitais e grandes centros urbanos é diminuir o déficit de moradia com casas populares e conduzir o processo de desfavelização de uma maneira pacífica. Em São José, o conjunto de ações para a saída
de famílias em áreas de riscos e invadidas teve início há dez anos. A cidade, considerada uma das melhores para se morar e trabalhar segundo o IBGE, não é um modelo perfeito de projetos habitacionais, mas segue no caminho certo. A exemplo disso são as primeiras ações de desfavelização no município, ocorridas em 1999.
Nessa primeira fase de ‘mudanças’, entre 1999 e 2002, 300 famílias que faziam parte dos núcleos Salinas, Antonio Aleixo, Galpão Campoy, além de uma creche e uma área invadida do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), foram removidas para unidades populares no Bosque dos EucaFotos: Flávio Pereira
Fachada da unidade do centro da Fundhas, onde foram removidas famílias a partir do ano de 2002
liptos, Jardim Satélite, Campo dos Alemães e Dom Pedro 2º. Nos anos seguintes, a desfavelização chegou nas áreas Miracema (em duas fases), Maranhão e núcleos isolados no Jardim das Indústrias, zona oeste da cidade, e no Nova Detroit, Caparão, Nova Tatetuba, na região leste. No total foram 722 famílias foram removidas. Não há um número preciso do déficit habitacional na cidade, segundo o secretário de Habitação de São José, Alfio Moretto Junior, mas estima-se que está entre 15 e 17 mil moradias. “De qualquer forma, o grande foco ainda são as famílias de baixa renda, isto é, aquelas com renda igual ou inferior a três salários mínimos”, diz. “Nesta faixa de renda, podemos considerar todos os inscritos no programa habitacional, com seus dados atualizados”, completa. Segundo o secretário, o poder público, por si só, não poderá solucionar o problema da falta de moradia, pois os grandes centros urbanos atraem cada vez mais fluxos migratórios, o que nem sempre é previsível nem controlável. “Além dos investimentos públicos, é preciso estimular a iniciativa privada nos empreendimentos para a população de mais baixa renda e acima de tudo deve haver esforço integrado entre as várias esferas. O objetivo do atual Programa Habitacional é a construção de 6.243 unidades para os próximos anos”, afirma.
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Hoje está se tomando providências de desfavelização e fiscalização mais rigorosa dos loteamentos clandestinos Alfio Moretto Junior, secretário de Habitação de São José
A desfavelização atingiu parte da favela Santa Cruz, onde barracos foram derrubados em área de risco
Pinheirinho é o grande desafio São José dos Campos
O grande desafio de São José na habitação é encontrar uma solução para o acampamento dos sem-teto no Pinheirinho, na zona sul. O núcleo, que abriga 9.600 pessoas teve início em fevereiro de 2004, mas foi congelado para não receber novos ocupantes Trata-se de uma invasão de área particular, mas hoje sob ação judicial. O secretário de Habitação, Alfio Moretto Junior, disse que é fundamental o entendimento entre invasores e proprietários da área, sem o que, segundo ele, pouco poderá ser feito. “Amparo social à população não faltará”, diz. As 1.843 famílias esperam uma solução do poder público, garante o sindicalista Valdir Martins, o Marron, líder no acampamento. Cinco anos depois da invasão da área, os sem-teto contam com diversos estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e até igrejas evangélicas instaladas no local. Há menos de um mês, apenas 12 famílias do Pinheirinho estavam inscritas regularmente no programa habitacional da prefeitura. “As inscrições para o programa habitacional sempre estarão abertas, sem quaisquer restrições a quem quer que seja, desde que, evidentemente, sejam seguidas as regras básicas.” Entre os quesitos, estão residir há pelo menos dois anos no município e a apresentação dos documentos e comprovantes necessários. A inscrição pode ser feita no terceiro andar do Paço ou nos postos regionais da prefeitura. “A solução para regularizar a área passa pelo entendimento e negociação entre os invasores e proprietários. Sem este passo, o restante fica comprometido”, conclui o secretário.de Habitação de São José.
Mais Serviço
Na paisagem urbana, ainda se vê barraco Três favelas e acampamento irregular tiram sono de administradores públicos São José dos Campos
São José dos Campos possui três áreas Nova Esperança, Santa Cruz e Vila Rodhia, que deverão ser desfavelizadas no futuro, além da Luchetti, na qual estão em fase final as 55 unidades habitacionais na rua Xingu, próxima ao local onde habitam hoje. Além dessas favelas há o acampamento Pinheirinho, (Leia texto ao lado) que pede solução. A Secretaria municipal de Habitação afirma que estão sendo construídas mais 2.041 unidades populares. Parte da favela Santa Cruz, na região central, que estava em local de deslizamento de encosta e colocava em risco as famílias, foi removida entre 2002 e 2006 para a construção de um anexo à Câmara e uma unidade da Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) para atender a comunidade jovem do local e adjacências. Segundo o secretário de Habitação, Alfio Moretto Junior, a prefeitura ofereceu à CEF (Caixa Econômica Federal) dois terrenos, sendo um na região do Putim, zona sudeste, e outro no Altos de Santana, região norte da cidade. As áreas têm espaço disponível para a construção de 997 casas para famílias de baixa renda.
“Há necessidade de investir e ampliar as parcerias com o poder privado, construtoras e os bancos. Hoje, os municípios apresentam redução de receitas e aumento de diversos problemas sociais”, diz. “Os governos que desenvolverem a criatividade e um trabalho de equipe mais produtivo, serão os grandes vencedores e solucionadores de problemas críticos na área de habitação”, conclui. Os grandes alvos, aponta ele, continuam sendo a regularização urbanística dos bairros clandestinos, principalmente das regiões leste e norte do município, a eficácia na fiscalização e na conscientização como fator educativo a fim de evitar novas construções irregulares, a busca de novos parceiros e estímulo a investidores privados. “Pessoas são a prioridades e as instituições e as leis existem para atendê-las em suas necessidades básicas de cidadania. Nunca deve-se perder essa consciência”, conclui o secretário. O prefeito de São José, Eduardo Cury (PSDB), disse nesta semana que a Secretaria de Habitação está esperando resposta da Caixa Econômica Federal para a parceria na construção de casas populares no Putim e Altos de Santana.
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São José dos Campos
Moradores reconhecem melhorias São José dos Campos
É quase certo que o processo da desfavelização de áreas impróprias traz diversos incômodos e provoca preocupação nos moradores, mas depois de um tempo o reconhecimento sobre melhorias nos quesitos saneamento básico, educação, saúde e conforto surge entre essas pessoas que são submetidas às mudanças. Foi assim com a empregada doméstica Jéssica de Fátima Cardoso, 32 anos, ex-moradora da núcleo Miracema, na zona oeste da cidade. Ela e a família foram removidas há quatro anos. “Hoje, posso dizer que estou morando bem. Ainda faltam muitas coisas, mas a necessidade básica é atendida”, conta. No Conjunto Residencial João Paulo 2º, na zona sul de São José, moradores tiveram de enfrentar muitos problemas logo após receberem as chaves dos imóveis no primeiro semestre de 2007. Problemas de enchente, nas fiações elétricas das casas e trinca nas paredes eram quesitos que a prefeitura deixava de levar em consideração, segundo eles. “Os problemas eram demais. Todos os dias sabíamos de alguma coisa que não estava de acordo com o contrato. À época tivemos que acionar o jornal valeparaibano para mostrar a nossa realidade, mas superamos esses ajustes”, conta o comerciante Pedro Barbosa dos Santos. Um dos problemas enfrentados pelas famílias é o local para onde são removidas. Geralmente são áreas afastadas e que apresentam falta de rede de serviços e transporte.
ESPECIAL
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são josé
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Limpeza Urbana
Programa antipichação dá resultado Para menter a cidade limpa, por ano são pintados mais de 200 mil metros quadrados de muros rabiscados Divulgação
São José dos Campos
Grafiteiros em ação no programa Grafite Legal, criado mês passado pela Prefeitura de São José
Alternativa
Grafite Legal tenta conter o vandalismo no município O grafite nas ruas é proibido, mas o Programa Grafite Legal criado pela Secretaria da Juventude de São José dos Campos possibilita que os grafiteiros da cidade expressem sua arte de forma organizada e legal. A iniciativa, lançada no mês passado, tem como objetivo principal valorizar a arte do grafite criando novas formas e espaços para apre-
sentar ao público o trabalho que os artistas de rua produzem. Para Alexandre Blanco, secre-
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O programa incentiva a cultura e gera renda aos produtores Alexandre Blanco, secretário da Juventude
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São José dos Campos
tário da Juventude, a iniciativa também possui um papel social. “Incentiva a produção da cultura e gera emprego e renda aos produtores”, comenta. Para participar do programas, os interessados devem realizar um cadastro junto à secretaria da juventude. O cadastro pode ser disponibilizado aos interessados em contratar os serviços de grafite para festas, eventos e até para decoração de ambientes.
A imagem que a cidade projeta para quem passa por ela, principalmente pela Via Dutra, reforça e realça um dos orgulhos de ser joseense. A cidade que completa amanhã 242 anos, exibe todo o seu vigor e pujança durante o percurso que liga as principais cidades do Brasil. Alguns dos projetos adotados por São José são pioneiros no país e como exemplos, são seguidos, imitados, adotados e, muitas vezes, invejados por outros municípios. Entre os programas de sucesso está o Programa Antipichação desenvolvido pela Secretaria Especial de Defesa do Cidadão, criado em 2001. Para Lya Faria, responsável pelo programa, o Antipichação é considerado um ponto de superação para cidade. “Depois da criação do programa pudemos notar logo na entrada da cidade (pela Dutra) o quanto nossa cidade está limpa”, observa. O trabalho de prevenção e combate à pichação é feito pela Guarda Civil Municipal, em parceria com o COI (Centro de Operações Integradas), que trabalham integrados à Secretaria. O monitoramento é realizado pelas 221 câmeras do COI e quando há flagrante de atos de pichação imediantante a Guarda Municipal é acionada. “As ações tam-
Balanço O prejuízo ✓ 200 mil metros quadrados de muro pintados (média anual) Os flagrantes ✓ 380 menores flagrados pichando já passaram pelo programa para cumprir pena, desde 2001 Fonte: Secretaria Especial de Defesa do Cidadão
bém contam com as parcerias com a Polícia Militar, Polícia Civil e Justiça”, completa Lya. A população também pode colaborar com o programa denuncionado os pichadores pelo telefone 153. “Os munícipes têm um papel fundamental no sucesso do programa, isso porque são ele que fazem as denúncias e colaboram com a prefeitura na limpeza dos imóveis”, explica Lya. Na primeira vez que o imóvel é pichado, o proprietário fornece a tinta e a prefeitura fornece a mão de obra. “Em caso de reincidência, a tinta e a mão de obra são por conta do poder público”, afirma. O programa mudou a cara da cidade e ajudou a criar uma consciência coletiva com relação
tema. “A população passou a ser mais consciente sobre a importância de se prevenir e se combater a ação dos pichadores”, comenta. Entre os recursos utilizados para desestimular a pichação, está a aplicação de uma resina especial nos viadutos e passarelas. “Com a resina, se o local for pichado novamente, será necessário apenas limpar a área afetada, sem precisar pintar novamente”, afirma Lya. Anualmente, são pintados em média 200 mil metros quadrados de muro pichados. Pichar e grafitar é crime. Os menores que são flagrados pichando são encaminhados pela promotoria da Vara da Infância e Juventude.
ESPECIAL
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são josé
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Transportes
Manter anel viário fluindo é o desafio Prefeitura faz de tudo para manter característica do local como via expressa; obra foi vital para o município Ronny Santos/VP28AGO08
São José dos Campos
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Complexo Viário Sérgio Sobral de Oliveira, conhecido popularmente como anel viário, pode ser considerado a obra que mudou o perfil urbano de São José. Sua criação influenciou e facilitou diretamente a vida de quase todos os moradores da cidade e trouxe a fluidez característica das grandes cidades brasileiras. Uma obra que se estendeu durante décadas. O projeto inicial foi concebido durante o governo de Ednardo de Paula Santos, na segunda metade da década de 70. Nessa época, foram entregues os viadutos das avenidas Nelson D’Ávilla, Francisco José Longo e Heitor Villa-Lobos. A segunda parte do anel viário só chegou a ser executada na gestão de Angela Guadagnin, já na década de 90, quando ligou definitivamente a zona sul ao resto da cidade, por meio do viaduto ‘da Kanebo’ oferecendo uma alternativa mais segura do que a via Dutra. Esse viaduto já foi uma espécie de símbulo do atraso, porque permaneceu construído apenas pela metade, durante anos. O último trecho entregue do anel viário foi construído em 2001, na gestão de Emanuel Fernandes, com a entrega da avenida Eduardo Cury. Apesar de a obra ter significado um divisor de águas no sistema viário da cidade, atualmente, com o crescimento constante da frota de veículos da cidade, o anel viário já chega a registrar pontos de lentidão em alguns horários considerados de pico. “O anel viário já desempenha todo o seu potencial em alguns horários e precisa de ampliação para aumentar sua capacidade”, ressalta Felício Ramuth, secretário de Transportes de São José. “Para acrescentar mais faixas de rolamento às vias, seria necessária a desapropriação de grandes áreas da cidade”, completa. Ainda, segundo Ramuth, já existe a necessidade de propor novas vias para descarregar o anel viário. “Não podemos canalizar todo o fluxo de veículos para o anel viário, ele já atinge 100% de sua capacidade nos horários de pico”, reforça. Para que o anel viário não perca seu principal trunfo, o de ser uma via expressa, a secretaria tem buscado reduzir e eliminar interseções em nível e convertêlas em viadutos.
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A questão do trânsito só será resolvida quando as administrações de São José levarem como prioridade as diferentes modalidades de transporte, principalmente o de massa, tanto por meio de ônibus como por trem ou metrô de superfície
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Flávio Brant Mourão, arquiteto, professor na Unip e Unitau e mestre em estruturas ambientais urbanas
Trânsito no anel viário atinge 100% de sua capacidade nos horários de pico; Secretaria dos Transportes trabalha para diminuir interseções em nível
Especialista percebe trânsito estrangulado Para o arquiteto Flávio Brant Mourão, professor na Unip e Unitau e mestre em estruturas ambientais urbanas, a estrutura viária de São José encontra-se fragmentada e estrangulada. “Fora as três vias projetadas na década de 70 e concluídas no final de 90 (que formam o anel viário), que são os únicos traços de uma tentativa de implantar um sistema viário na cidade”, explica. Para ele, o sistema não levou em consideração a necessidade de se pensar nos diferentes modos de transporte, principalmente no coletivo. Ainda, de acordo com o arquiteto, a única obra que trouxe alguma melhoria no trânsito foi o anel viário. “Que permitiu alternativas de transpor a área central contornando-a”, ressalta. “Porém a falta de continuidade e a perda de foco e controle sobre o crescimento da cidade já tornou esta obra obsoleta”, completa. Hoje, o anel viário apresenta vários pontos de lentidão durante os horários em que o fluxo de veículos é mais intenso, principalmente no início da manhã e fim da tarde. Outros gargalos têm se formado no trânsito da cidade com o aumento da frota e crescimento populacional em determinados bairros. Na opinião de Mourão, o principal problema do trânsito em São José está relacionado com a visão equivocada de que fazendo novas avenidas vai melhorar o trânsito. “Não funcionou em São Paulo, Rio de Janeiro, Los Angeles ou Nova York, porque
funcionaria aqui?”, questiona. “Outra questão que causa perplexidade é a destruição do ramal ferroviário que liga São José a Jacareí que poderia desafogar o crônico congestionamento na Via Dutra, uma omissão grave tanto do município quanto da União”, completa. DESAFIO - O grande desafio a ser superado no sistema viário da cidade, de acordo com Mourão, é abandonar a a ideia do carro para o transporte de massa. “Insistir no modelo atual só vai piorar o trânsito pois apenas transfere momentaneamente de lugar o problema”, afirma Mourão. “Vai ser preciso muita ousadia e desprendimento na busca de novas soluções”, completa. Para o arquiteto, se não houver uma mudança radical na filosofia de transporte o cenário do trânsito só tende a piorar. Ele sugere que o foco das administrações seja voltado para a implantação de um sistema de transporte público eficiente e de qualidade. “Só assim as pessoas com maior poder aquisitivo vão optar por usar este meio de transporte e deixar o seu automóvel em casa”, conclui.
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Se não houver uma mudança radical na filosofia de transporte, o cenário do trânsito tende a piorar Flávio Brant Mourão, arquiteto
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São José dos Campos
Via Norte é a nova alternativa São José dos Campos
A primeira fase da Via Norte, obra que liga a região norte ao centro, foi recentemente entregue pelo governo Eduardo Cury. A via é uma alternativa para desafogar o trânsito na avenida Rui Barbosa, que ficava parado nos horários de grande fluxo de veículos. A obra orçada em 15 milhões de reais, terá uma segunda parte que, segundo a secretaria de
transportes, deverá ser entregue até fevereiro do ano que vem. “A segunda fase ainda depende da liberação do viaduto que fará a transposição da linha férrea”, explica o secretário dos Transportes Felício Ramuth. Estima-se que a frota atual de veículos em São José seja de 209 mil veículos. “A expectativa de crescimento é de aproximadamente 9% a 10% ao ano”, aponta Ramuth. Em virtude do aumento do fluxo de veículos na cidade, obras de duplicação como a da avenida Guadalupe, viaduto da Granja, tem sido praticadas pela secretaria dos Transportes. No entanto, a própria pasta admite que ainda falta promover a integração entre as regiões da cidade e as transposições da via Dutra e da linha de trans-
missão de energia. “A preocupação é proporcionar a interligação entre as regiões, desenvolvendo projetos de novas vias expressas, como a Via Oeste e a Via Norte, oferecendo maior fluidez e segurança ao condutor”, explica Ramuth. Para o secretário, a principal superação da cidade é colocar em prática as complementações do anel viário, como a Via Oeste e a Via Norte. FUTURO - Em termos viários, o futuro, segundo o secretário, guarda uma cidade com uma maior mobilidade entre as regiões. “Que será realizada por novas vias, redução dos veículos coma melhora do transporte coletivo e do uso de meios que não utilizem motores, como as bicicletas”, vislumbra. Alex Brito
Vista da Via Norte, cuja primeira fase foi liberada: segunda etapa tem previsão para fevereiro
RESTRIÇÕES - Os loteamentos que estão sendo anunciados nas proximidades das vias expressas do anel viário estão, segundo Ramuth, em conformidade com a lei 261, que restringe a construção de prédios e residências com acesso direto para o anel viário. “A construção só é permitida em vias marginais”, indica o secretário Ramuth. Leia mais sobre transportes à página 41
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ESPECIAL
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Modernidade no hospital de R$ 23 mi São José dos Campos
Há pouco mais de dois meses, São José dos Campos, que completa amanhã mais um ano de história, foi presenteada com a inauguração de mais um novo centro médico, o Santos Dumont Hospital. Com investimento de R$ 23 milhões, o empreendimento começa a atender parte das necessidades dos especialistas e conveniados da Unimed na região. O hospital é exclusivo para a realização de cirurgias eletivas de alta complexidade, segundo o diretor de assitência e promoção de Saúde de Recursos Próprios do Santos Dumont, o médico Julio Cesar Amado. Segundo ele, o centro ainda vai oferecer cirurgias cardíacas, ortopédicas, endovascular e de obesidade, entre outras, como a neurocirurgia. O centro deve contar com 36 leitos na área de internação, sendo dois de alto padrão, para pacientes de todo o Vale. Os quartos apresentam moderno sistema de áudio, vídeo e internet. “Na primeira fase contamos com 10 leitos, sendo dois de isolamento. Para a segunda, prevista para ser entregue entre dezembro e janeiro próximos, serão mais 10 leitos”, diz. Com 6.200 metros quadrados de área, o Santos Dumont também conta com quatro salas cirúrgicas de grande porte, uma sala de procedimentos endoscópicos, UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e área de recuperação pós-anestésica, além de um centro de diagnóstico por imagem equipado com raio-x digital, tomografia multi-slice, ultrassonografia e ecocardiografia. “O local foi preparado visando o controle total das infecções hospitalares com a instalação de um moderno sistema de ar condicionado, que renova constantemente o ar do ambiente interno”, diz. “Não tínhamos todo essa tecnologia há alguns anos na cidade. Isso já contribui com a história de São José”, completa. Amado afirma que a cidade está bem servida quanto às unidades de atendimento oferecidas à população — tanto na saúde
pública quanto nos hospitais particulares. “Talvez o que esteja faltando é uma política de remuneração, que ainda não condiz com a reali-
dade. A cidade possui um dos melhores serviços públicos de saúde do Estado, se não do Brasil”, diz. “A verdade é que a população sempre deseja mais como-
didade no atendimento, mas se todos conhecessem a ‘saúde’ em outros municípios, sentiriam orgulho do que encontram na cidade”, conclui. Fotos: Cláudio Capucho
A presidente Rosemary Sanches na frente do hospital do Gacc, recém-construído em São José
Combate ao câncer infantil vira referência na região Rodrigo Machado São José dos Campos
Se por um lado a rede pública de saúde de São José dos Campos é motivo de controvérsia e reclamação de muitos usuários, por outro, instituições como o Gacc (Grupo de Assistência à Criança com Câncer) colocam a região em lugar de destaque e referência no tratamento de doenças. As 39 cidades do Vale contam com o atendimento da instituição há 14 anos —um dos importantes passos de São José na tentativa de superar o câncer na vida de mais de 400 crianças e adolescentes. Não e à toa que o Centro de
Tratamento Infanto-Juvenil Fabiana Macedo de Morais, o hospital do Gacc recém-construído, foi certificado como centro de excelência em diagnóstico, pesquisa, e tratamento da doença, pela organização The Myelodysplastic Syndromes Foundation. “Todos os pacientes usufruem dos equipamentos de última geração existentes e são atendidos pela equipe médica e multidisciplinar especializada em oncologia pediátrica. Todos eles são atendidos dentro da filosofia de humanização tanto pelos profissionais quanto pelos voluntários”, diz a presidente da instituição, Rosemary Sanz.
Segundo ela, mais de 75% dos pacientes são provenientes do SUS (Sistema Único de Saúde), e todos utilizam da mesma estrutura física desde 1995. DESAFIO - Captar recursos é um dos grandes desafios da instituição pelo fato do tratamento do câncer ser alta complexidade e apresentar custos elevados. “Precisamos ainda superar o desconhecimento dos profissionais da área de saúde, principalmente de outros municípios, sobre os serviços que o Gacc oferece. Queremos ampliar a divulgação sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento integral especializado”, conclui.
Roosevelt Cássio/VP
Nova Medicina
Internação
Câmara traz oxigênio 100% puro
Vivalle adota alta tecnologia
São José dos Campos
São José dos Campos
Além de ser referência no setor aeroespacial e desenvolver diversas tecnologias para a aviação, São José tornou-se, ao longo dos últimos 20 anos, uma cidade que busca excelência também na área da saúde — ao menos em hospitais e clínicas médicas particulares. A rede particular oferece uma série de novos procedimentos médicos. Um desses exemplos atende pelo nome de oxigenioterapia hiperbárica ou hiperoxigenação hiperbárica. No procedimento adotado para adiantar a recuperação de muitos males, o paciente respira 100% de oxigênio puro. O médico responsável pela clínica, Marcus Vinicius de Carvalho explica que o paciente é submetido a uma pressão maior que a atmosférica no interior de uma câmara hiperbárica, que lembra um sumarino, respirando ar puro. As sessões variam de duração, nível de pressão e número total de aplicações de acordo com as patologias. “Na câmara, o paciente é exposto a pressões e por meio da respiração, ele absorve mais oxigênio que se dissolve no plasma, elevando a tensão do gás nos tecidos e agilizando o processo de cura”, conta.
Conhecido por procedimentos de alta complexidade de cardiologia, neurologia, oncologia e gastroenterologia, o Hospital Vivalle se destaca por ser o único centro médico em São José que faz o uso de equipamentos de alta tecnologia para a realização do controle de infecção hospitalar. O procedimento ocorre na Central de Material Esterilizado com aparelhos como Autoclave, Sterrad, Termodesinfectora e Statin, que realizam rígidos processos de esterilização e desinfecção dos materiais do centro cirúrgico sem nenhum contato manual. “Buscamos oferecer a mais alta qualidade por meio da valorização dos médicos e pacientes. Para isso, o hospital realiza investimentos em tecnologia, estímulo à pesquisa, da humanização do atendimento e do respeito à vida”, afirma o diretor de negócios do Vivalle, Felipe Ciotola Bruno. Inaugurado em dezembro de 2000, o hospital foi o primeiro da região a ter sua qualidade certificada pela Organização Nacional de Acreditação, além de ser o único a possuir a Acreditação Plena, uma garantia de atendimento eficiente e seguro.
Suprimed comercializa equipamento de ponta Além de abrigar importantes hospitais e clínicas particulares, São José também se destaca por receber empresas que comercializam produtos médicos hospitalares, odontológicos, estético e veterinário. Com importante papel de abastecer o mercado local, a Suprimed desponta na cidade. A empresa comercializa produtos de diversas indústrias e representa a Johnson & Johnson Medical Brasil, que produz uma linha de alta tecnologia de suturas mecânicas, produtos para videolaparoscopia, neurologia, descartáveis, além de um sistema de esterilização e lavagem de materiais cirúrgicos.
Ambiente do hospital Reger
Geriatria
Hospital tem aspecto de hotel São José dos Campos
Se de um lado a cidade perdeu o Hospital Geriátrico Vicentina Aranha há alguns anos, por outro o município ganhou de presente em dezembro passado, o Hospital Reger um empreendimento referência para atender pacientes geriátricos. Com o fechamento do Vicentina Aranha, pacientes ficaram ‘órfãos’ de um serviço que atendesse os diversos casos de idosos cujo tratamento num hospital geral é inadequado, segundo o diretor técnico do Reger, Roberto Schoueri Junior, 49 anos. Foi dessa situação que nasceu a idéia de criar uma nova instituição. “Temos uma equipe interdisciplinar que faz a avaliação inicial do paciente e dá a diretriz do tratamento, definindo objetivos e prazos. O tratamento proposto pode ser feito em regime de internação, suporte à família ou regime de hospital dia”, explica. Cada detalhe das instalações r foi projetado para que os ambientes transmitissem conforto, segurança e aconchego aos pacientes, como se estivessem em uma casa de família.
INOVAÇÃO - Mas foi só a partir de 2006 que a instituição passou a se caracterizar por um moderno hospital geral e hoje atua com cirurgias de alta complexidade, além de pronto atendimento clínico e ortopédico 24 horas. No Centro Médico Vivalle, unidade do hospital que atende consultas eletivas, passam cerca de 850 pacientes por mês. Uma das medidas pioneiras foi a abertura da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para visitantes. Desde maio deste ano, todos os pacientes internados podem ter algum familiar, que demonstre condições emocionais, como acompanhante na maior parte do dia.