Vida Real

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vida real

venci o álcool Márcia* assumiu que precisava de ajuda e está há quase um ano longe da bebida

“S

empre estive cercada pelo álcool. Com uma família que consumia bebidas alcoólicas, era natural que eu tomasse meu primeiro gole de cerveja aos 9 anos. E ninguém parecia se importar. O primeiro porre veio aos 13 anos e aos 14, comecei a usar crack e maconha. Na adolescência, já estava completamente viciada, tanto no álcool quanto nas drogas. Sentia que algo me fazia mal, mas nunca o associei à bebida. Cheguei a parar com as drogas, mas beber um copo de cerveja por dia ainda me parecia normal.

FOTO: shutterstock images

as perdas Consegui ingressar na faculdade de direito, mas sempre trocava aulas e provas por um copo de bebida no bar. Não durou muito tempo. Fora que os únicos empregos que arrumei foram como temporária e, ainda assim, não parava em nenhum lugar. Cheguei a trabalhar embriagada! Aos 22 anos, foi quando percebi que o álcool atrapalhava minha vida ao ver que as pessoas que mais amava sentiam vergonha de ficar ao meu lado e me desprezavam. Mas, não conseguia parar. Gastava tudo com bebidas e não lembrava do que havia acontecido na noite anterior.

Márcia resolveu dar a volta por cima depois de chegar ao fundo do poço com o álcool

O primeiro gole sempre era fatal. Saia de casa com dinheiro para pagar minhas contas e voltava sem nenhuma nota! Chegava em casa com vários hematomas pelo corpo e simplesmente não sabia o motivo. Certa vez, fui atropelada por um carro na frente do meu condomínio, mas não me lembro como isso aconteceu. A única coisa que me recordo é da dor insuportável que senti nos 3 dias posteriores. E só soube do ocorrido porque minhas vizinhas me contaram.

volta por cima Foi difícil assumir que estava doente. Cheguei a me internar 4 vezes, mas tentava me

convencer de que estava bem e o problema não existia. Tudo uma grande ilusão. Foi aí que comecei a frequentar as reuniões dos Alcoólicos Anônimos e conheci outras pessoas com a doença, o que deixou o processo menos complicado. Estou com 35 anos e sem beber há 9 meses. Procuro ser uma pessoa diferente e estou focada na minha reabilitação. Quero voltar à faculdade o quanto antes.” Entrevista concedida à Roberta Freitas *O nome da entrevistada foi trocado para preservar sua identidade. SHAPE Junho 2013 | 91


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