Vida Real

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fazer o

bem

A fisioterapeuta Leticia Pokorny, 37 anos, desistiu de sua clínica para se juntar aos Médicos sem Fronteiras e ajudar a quem precisa!

omecei a me interessar por trabalhos humanitários na faculdade, ao começar a estudar saúde pública. A vontade de me aprofundar no assunto aumentou quando conheci sobre o continente africano e as dificuldades que as pessoas passam pela falta de infraestrutura. Fiquei tentada em ajudar a quem precisa. Claro que todo mundo que sai da faculdade quer montar um consultório, ganhar dinheiro e ficar bem, mas o meu desejo de ajudar venceu. Entrei no Médicos sem Fronteiras (MSF) em 2008. Eles precisavam de um fisioterapeuta e a ONG em que trabalhei me indicou. Nunca mais parei. Vou em missão três vezes por ano.

trabalho duro Em 2011 resolvi fechar a clínica que tinha com meu pai, vendi meu apartamento e decidi me tornar exclusiva do MSF. Já fiz 11 missões, em países como Haiti, Paquistão, Nigéria e Iêmen. O último projeto foi em junho deste ano na Síria, tratando de pessoas queimadas. Com a guerra, o número de acidentes domésticos aumentou muito, porque não existe combustível à venda para as ações básicas do dia a dia, como cozinhar e se aquecer, por isso as pessoas começam a atear fogo nos quintais para consumo próprio ou para conseguir algum dinheiro extra. Foram seis semanas de

O medo não pode impedir de ajudar o próximo

Foto: Thinkstock.

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“É comum trabalhar ao som de bombas e tiroteios e não perder a calma. A qualquer momento você pode abandonar tudo.” trabalho duro, 12 horas por dia, sete dias por semana. Mas, a parte mais difícil é trabalhar com crianças, que muitas vezes não entendem que as dores dos exercícios fisioterápicos irão ajudá-las na recuperação. O caso mais triste que vi foi de um menino de 9 anos, que sofreu queimaduras de combustível nas pernas e não caminhava por causa da dor. A família não o incentivava a se mexer para evitar que sofresse, mas o garoto estava desaprendendo a andar. Tive que ser muito dura com eles para conseguir realizar o meu trabalho. É difícil ter firmeza e se impor nesses casos. Porém, tento sempre fazer bem o meu dever, sem desrespeitar a cultura deles.

uma nova perspectiva Não é fácil trabalhar como um médico sem fronteiras. É uma tarefa árdua, desafiadora e que exige muita paciência e força de vontade, mas receber o agradecimento e o reconhecimento das pessoas é o que faz tudo isso valer a pena. Para mim, é uma realização poder ajudar a quem realmente precisa. Hoje, posso dizer que não sou mais a mesma, o trabalho humanitário modificou minha maneira de ver o mundo. Agora dou mais valor às coisas simples e à vida.”

Entrevista concedida à Roberta Freitas. SHAPE Novembro 2013 | 91


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