Vida Real

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vida real

um dia de A professora Lívia Polichiso, 28 anos, se divide entre a sala de aula e as ruas para dar um dia de dignidade aos sem-teto

dignidade Que tal você também ajudar o próximo?

“A

realidade dura Eu procuro sempre conversar com eles para entender o real motivo de estarem na rua, como se sentem e se desejam voltar para suas famílias. Por causa do projeto, tive notícia de três pessoas que recuperaram suas vidas e vivem normalmente. Mas, nem tudo são flores. Já vivi diversos ‘perrengues’ que me fizeram questionar se isso realmente é para mim. Por ser uma pessoa sensível ao cheiro, muitas vezes passei mal e fui obrigada a me afastar para não demonstrar o incômodo. Certo dia, estava com o carro da empresa em que meu noivo trabalhava, levando-os para a

Há muitas situações em que eles querem tocar meu rosto com a mão toda suja (inclusive de secreção!!!); e eu deixo, para que tenha o contato. igreja, e um deles urinou por todo o carro, como se fosse normal. Outra vez, acompanhava um menino de rua ao restaurante e notei que ele tinha roubado a bolsa de uma senhora. Quando percebeu que havia sido descoberto, o menino fugiu. Meu noivo e eu tivemos que correr atrás dele para que pudéssemos recuperar a bolsa. Já pensei em desistir por conta do assédio dos homens que, muitas vezes sob o efeito de drogas, agem como se fossem verdadeiros animais.

uma pessoa melhor Percebo que eles não querem sair da rua porque perderam qualquer expectativa e alegria de vida.

Quando questionei um deles sobre voltar para casa, ele me perguntou se eu já tinha passado fome. E disse que cheirava cola para esquecê-la! É um grande choque de realidade, mas a sensação que tenho depois que consigo ajudar é inexplicável. Hoje sou muito mais agradecida pelas coisas que possuo e aprendi a não julgar ninguém. Procuro ensinar para meus alunos que não devemos fazer algo para receber um favor em troca. Tudo tem que ser feito de coração. Acredito que, se todos nós fizermos a nossa parte, o mundo pode ser um lugar melhor.” Entrevista concedida à Roberta Freitas. SHAPE Dezembro 2013 | 91

Foto: Thinkstock.

ideia de começar um trabalho voluntário surgiu do meu noivo. Somos membros de um grupo de jovens na igreja e criamos o ministério Madre Teresa de Calcutá, para cuidar dos moradores de rua. A intenção é oferecer a eles tudo aquilo que é básico para a sobrevivência do ser humano. Com a ação que nomeamos de ‘Dia de Dignidade’, vamos até a Praça da Sé (SP) buscálos para irem à igreja tomar banho, cortar o cabelo e fazer a barba. Depois, levamos todos eles a restaurantes, para um almoço.


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