TÓPICOS AVANÇADOS EM DESIGN
DESIGN DE SUPERFÍCIE
2014/4
APRESENTAÇÃO Com o objetivo de promover e aprimorar conceitos relativos à área de Design de Superfície, a disciplina de TAD - Tópicos Avançados em Design apresenta possibilidades de aplicação e inserção no mercado, tendo o foco a construção de conceitos para aplicação nas mais variadas superfícies, usando metodologia apropriada e demonstrações técnicas, além de conhecimento intelectual e de domínio principalmente do prático. Participam da TAD os alunos Augusto Crespi | Carine Rissi | Cristiana Livotto | Diogo André Machado | Eder Francisconi |Jairo Arruda de Castro | Jean Jacó de Souza Nunes | Jessica Gotardo dos Santos | Jéssica Restelli | Juliana Manara | Maria Terezinha Scalcon | Michele Rasador Perin | Pamela Cardoso da Rosa | Roberta Cristina Redante | Stéphanie Oselame Corpo docente : Ana Valquiria Prudêncio | Jane Toss de Bhoni | Silvana Bastianelo
02 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD
5 DESIGN DE SUPERFÍCIE
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10
HELOÍSA CROCCO
WORKSHOP
26 RESULTADOS
04 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
4
IMPRES VID
34 O CHARME DOS LADRILHOS
43
55
SÃO EM DRO
APLICAÇÕES
70 PALESTRA ENCERRAMENTO
49 MALHARIA
SUMÁRIO DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 05
DESENHANDO A SUPERFÍCIE
DESIGN DE SUPERFÍCIE O homem interfere e modifica a superfície dos objetos com os quais convive desde as civilizações préhistóricas. Das pinturas rupestres às corporais, passando por ornamentos encontrados nas armas de caça, vestimentas, utensílios domésticos e espaços arquitetônicos. O desejo pelo adorno sempre foi muito forte em todos os estágios de civilização e em todos os povos.
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O design de superfície é uma atividade que consiste na criação de imagens bidimensionais ou tridimensionais, projetadas especificamente para geração de padrões, que desenvolvem-se de maneira contínua sobre superfícies de revestimentos. É um processo que alia criatividade e técnica na concepção e execução de desenhos ou imagens projetados com determinada finalidade para aplicação em superfícies. Seu objetivo é apresentar ideias funcionais e estéticas levando em conta os diferentes métodos e materiais.
Ele reforça a função estética dos objetos, melhora a identidade dos produtos, seja em embalagens, coleções editoriais ou mídias eletrônicas, e promove melhor aceitação junto aos usuários, principalmente nos produtos de uso individual onde o consumidor procura uma identificação personalizada. Desse modo, uma superfície bem trabalhada pode garantir uma melhor aceitação do produto e agregar valor a um projeto.
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A construção de padronagens possui dois princípios básicos: o módulo e a repetição. O módulo é, a menor área que inclui todos os elementos ou motivos que vão constituir o desenho. A organização dos elementos ou motivos gera a composição da imagem dentro de uma estrutura preestabelecida, de maneira que, quando repetidos lado a lado e encima e embaixo, os módulos formam um padrão contínuo. DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 15
A repetição é a colocação dos módulos nos dois sentidos, comprimento e largura, de modo contínuo, sem originar cortes ou interrupções visuais no padrão gerado. Assim, o resultado final não está na construção do módulo, mas em uma composição bem sucedida na sua repetição. A maneira pela qual um módulo vai se repetir a intervalos constantes é chamada de sistema de repetição (repeat em inglês, rapport em francês). Esta combinação é dada pelo designer e faz parte de sua criação, pois variando o sistema varia-se também o resultado final da estampa, inclusive a sua proposta conceitual e efeitos óticos. Ou seja, mesmo preservando o módulo, encaixes diferentes podem gerar resultados completamente diferentes.
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As possibilidades de aplicações de projetos de superfícies são diferenciadas e se mostram com aspectos variados dependendo do produto e de sua técnica de produção. O processo criativo é voltado para aplicação na indústria, basicamente nas áreas têxtil, de papelaria, cerâmica e materiais sintéticos, mas pode ser aplicado em uma infinidade de outros ramos e materiais.
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HELOÍSA CROCCO DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 21
Heloísa Crocco é umas das maiores referências no design de superfície nacional. A artista plástica e designer, de 65 anos, formou-se em desenho industrial em 1970 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, cidade que reside até hoje. Com seu trabalho delicado, Heloísa obteve, entre outros, o Prêmio de Design do Museu da Casa Brasileira, em 1994, e o do Salão Nacional de Arte do Museu da Pampulha, em 2000. Advinda de trabalhos artísticos com fibra e após diversas viagens pela América Latina , Heloísa Crocco, responsável pelo Crocco Studio Design, dedica-se a uma obra que tem a natureza – suas cores, cheiros e dádivas – como maior inspiração. Seu maior projeto, baseado nas entranhas da madeira, recebe o nome de Topomorfose.
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Seu trabalho começou aos 30 anos, em uma visita descompromissada à região amazônica com nada menos que Zanini Caldas, que catava restos do desmatamento já desenfreado para suas obras. Dentre todo o material que Heloísa coletou, o que mais despertou seu interesse foram as entranhas da madeira, com seus veios e anéis de crescimento, marcas de um verão que se expande e de um inverno que encolhe. Durante suas pesquisas, Heloísa cortava as madeiras longitudinalmente e elegia um quadrado. Foram dois anos pesquisando todas as possibilidades que esses veios lhe ofereciam, e após este período, percebeu que o corte em topo resultava em grafismos, padrões e texturas que começou a aplicar como desenho. Por fim, ela percebeu que ao jatear com areia os quadrados, a parte dos veios que era mole se desmanchava, e isso gerava carimbos.
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A partir disso, Heloísa passou a aplicar seus padrões em todos os suportes possíveis, que iam desde papelaria, cadernos, até louças e linhas têxteis. A artista possui seu trabalho aplicado em empresas de renome, como Tok Stok, Coza e Casa Rima. Também possui uma série limitada de pranchas em conjunto com seu filho, que lhe rendeu um prêmio IF, e possui uma parceira com o estilista Ronaldo Fraga, com aplicações em couro. A ideia da artista é imprimir em objetos cotidianos traços característicos de superfícies madeiriças.
Outra vertente muito importante de seu trabalho é a confecção de painéis a partir de aparas de cercas de madeira. Cada painel é único, possui sua especificidade, e é capaz de render texturas inesperadas, misturas inéditas e jogos ópticos de cor. Alguns painéis não recebem nenhum acabamento de pintura, é somente a madeira natural, outros recebem um efeito óptico, pintados com uma cor de cada lado, e outros são pintados inteiramente.
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Heloísa possui uma forte ligação com a cultura, e busca desenhar uma face do Brasil a partir de diferentes culturas. Atualmente, a artista está à frente do Laboratório Piracema de Design, que é um núcleo de pesquisas da forma na cultura brasileira, e que busca a revitalização de produtos regionais. O projeto conta com uma equipe multidisciplinar, que vai até comunidades espalhadas em diferentes regiões do país. Seu principal foco é a aproximação entre o design e o artesanato, através de mudanças de comportamento e de atitude diante do fazer.
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A artista acredita que o sucesso de seu trabalho de deve a ela buscar na natureza a inspiração e a essência. Heloísa define o seu trabalho como “quando a natureza sai de si mesma e vira arte”, e acredita que são necessárias mais pesquisas de aprofundamento na iconografia brasileira, que nos apresenta uma infinidade de ícones para eleger e fazer a nossa história.
“
“
A viagem na busca por inspiração deve ser para dentro do Brasil e não para fora.
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WORKSHOP A disciplina de Tópicos Avançados em Design proporcionou aos alunos a experiência de aprofundar seus conhecimentos sobre o design de superfície através de um workshop realizado no Crocco Studio Design, da renomada artista Heloísa Crocco. Foram quatro dias de workshop que proporcionaram uma imersão no mundo do design de superfície, e uma nova visão sobre a cultura, além de ter sido uma excelente oportunidade de compartilhar ideias em grupo, e trabalhar de forma colaborativa.
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Às margens do Guaíba, a casaateliê onde a artista mora e tem seu studio, é marca de seu trabalho e expressa muito do estilo de vida que Heloísa busca. Construída totalmente em madeira pinus de áreas de reflorestamento, o studio mostra toda a ligação da artista com a madeira e a natureza. O workshop, realizado no local, foi uma grande oportunidade de conhecer o seu ambiente de trabalho e como a artista encara a vida.
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Em um primeiro momento, Heloísa recebeu os alunos para apresentar seu trabalho, e passar quais eram as suas intenções e as diretrizes do projeto. A artista buscou transpor para o projeto as raízes de seu trabalho, e sua forte ligação com a cultura. Assim, os alunos deveriam buscar elementos da serra gaúcha como iconografia para o projeto, na busca por valorizar a cultura local, que sempre tem muitas riquezas e histórias possíveis de serem trabalhadas.
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A turma foi divida em grupos, e cada grupo deveria pensar em um Ăcone para o seu trabalho, que seria o norte de todo o projeto. Este Ăcone deveria, acima de tudo, ter um significado, ser patrimĂ´nio do local.
Dentre as muitas possibilidades levantadas, os temas que se destacaram e ficaram escolhidos foram: a uva, pela forte expressão da produção de vinho na região. A araucária, por ser uma árvore típica e pela tradição do pinhão. E as taipas, cercas de pedra que representam a herança da colonização.
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Após definidos os temas, foi realizada uma pesquisa histórico-social do objeto de estudo, para que compreendendo a história do ícone e da região o próprio projeto adquirisse mais significado, e pudesse gerar uma identificação maior com as pessoas. A partir das imagens coletadas, também foi definida uma paleta de cores para cada grupo.
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A pesquisa norteou o processo de criação, onde cada grupo buscou representar os elementos escolhidos e abstrai-los em módulos, sempre recebendo orientação por parte dos professores e da curadora, Heloisa. A partir da criação do módulo, foram geradas padronagens através de estudos de composição, explorando ampliação, redução, repetição e rotação do módulo. As padronagens geradas foram aplicadas em produtos que tivessem uma conexão com a serra gaúcha, e que pudessem ser usados em estabelecimentos da região, como hotéis e restaurantes, ou indústrias.
Para representar o projeto, e para que ele pudesse ter posteriores desdobramentos, os grupos se reuniram para pensar em um nome e uma marca para o projeto. Através da técnica de mind maping, foram elencadas ideias, palavras, conceitos e sensações que definissem a região. Por fim, o nome decidido foi “Nostra”, palavra do italiano escolhida para representar que o projeto é algo nosso, da nossa cultura. A marca recebeu assinaturas por parte dos três grupos, sendo as assinaturas “Pietra”, “Grano” e “Sementi”. A marca, além da tipografia, recebeu um símbolo que representa o relevo da região, e as araucárias nativas.
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RESULTADOS DOS GRUPOS
A pedra aqui, não é só um fragmento da natureza. Ela representa nosso empenho, nossa solidez e mostra o quanto não medimos forças para construir nossos lares, para erguer nossas igrejas, para demarcar nossas terras... A arte da construção intrínseca e natural, não é nem de longe o empilhamento do acaso. Ela é sim uma questão de não medir forças.
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A semente que representa a vida, antes não germinava aqui. Trouxemos conosco em nossa bagagem, junto com nossos sonhos, a uva. Com teimosia e muito suor, fizemos nascer aqui, entre as terras e vales íngremes, o que seria o maior símbolo de nossa vitória, as videiras e todas suas cores, formas e aromas.
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Junto com a força e a resistência do imigrante italiano, veio a semente da araucária. Fonte de sustento e sobrevivência para um povo guerreiro. O pinhão está presente no inverno representando a amizade e a união da família em volta do fogão. O calor do fogo e de nossos queridos nos conforta no final de uma árdua jornada de trabalho.
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CONHECENDO A SUPERFÍCIE
O CHARME DOS LADRILHOS Em um antigo casarão localizado no turístico Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, a turma pode conhecer os Ladrilhos São Pedro, uma excelente oportunidade de entrar no ofício e ver in loco uma arte tão tradicional e que esbanja cultura. O proprietário Sergio Viecili, com a sua simplicidade e paciência, dá vida a um trabalho minucioso que teve seu apogeu entre o fim do século XIX e meados do século XX, e que vinha sendo esquecido desde o surgimento dos revestimentos tecnológicos.
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Um clássico da arquitetura de interiores, os ladrilhos hidráulicos possuem como característica principal a exclusividade. Nenhuma peça é igual à outra. Em um processo totalmente ma-nual e artesanal, as peças são produzidas uma a uma, e levam quase dois dias para ficarem prontas. As peças apresentam pequenas diferenças de tamanho, espessura e tonalidades, o que não tira a beleza, pelo contrário, as transforma em algo único.
Os ladrilhos são resultados da habilidade do artesão, que prepara desde a massa até as cores utilizadas. Produzidos da mesma maneira há mais de um século, Sérgio aprendeu o ofício há cerca de dez anos atrás com um francês que vivia em Porto Alegre. Foram dois anos de aprendizado, nos quais o artesão foi adaptando o método para o seu próprio jeito de fazer. Nesses dois primeiros anos, Sérgio produzia as peças e dava para os turistas que visitavam os Caminhos de Pedra. Porém, as peças faziam tanto sucesso que ele viu ali uma forma de transformar o hobby em um negócio rentável, fazendo com que com o tempo ele se aposentasse de sua profissão de pedreiro e se dedicasse somente a isso. Atualmente Sérgio produz, em média, cerca de 30 peças por dia, equivalente a um metro quadrado, dependendo das condições metereológicas.
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O casarão onde Sérgio tem sua oficina, também serve como exposição para o seu trabalho e para as estampas e cores produzidas por ele. O artesão conseguiu fazer com que o local representasse um resgate no passado e na história da cultura da colonização italiana. Ele distribuiu pelo local diversos objetos antigos, característicos da região, que estão expostos nos cômodos e nas paredes e que se misturam em uma composição harmoniosa com as peças, dando ainda mais charme ao lugar.
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O artesão molda cores e formas conforme o gosto do cliente. É possível criar as mais diversas cores e combinações, que se destacam pela mistura dos tons quentes e aconchegantes com a alegria das estampas. Na criação dos desenhos, um limitador muito grande é o alto custo dos moldes, o que dificulta a ampliação da linha de estampas, visto que é um trabalho que poderia dar asas a infinitas formas e padronagens. Assim, no atelier são vendidos somente alguns modelos, que são aplicados como estampas contínuas ou como patchwork.
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Sérgio possui suas peças usadas em igrejas, casas e hotéis. Por serem muito resistentes, elas podem revestir paredes inteiras ou apenas pequenas faixas. Podem ser usadas como tapetes cheios de cor ou como moldura para pisos. Ele conta que as pessoas o procuram quando querem mudar o visual do lar. Os ladrilhos dão um toque mais retrô ou rústico aos ambientes, com ares nostálgicos, e ao mesmo tempo combinam com projetos mais contemporâneos.
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COMO SE FAZ?
1
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A base do molde é untada com óleo de linhaça e é colocado o molde de ferro
MATER
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pó xadrex cimento branco cimento comum areia água
RIAIS
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A tinta é espalhada no molde, onde cada cor tem o seu espaço específico
É feita a tinta, em uma mistura de pó xadrex + cimento branco + água
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O molde é retirado e são feitos os ajustes necessários
5 É dado o acabamento nas laterais
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O ladr retirado d
8
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A mistura é presanda
É colocado uma camada de cimento e por cima é colocada mais uma camada de cimento + areia + água
rilho é do molde
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Por fim, o ladrilho fica em repouso por um dia para secar, e mais um dia mergulhado na água para endurecer e não rachar.
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IMPRESSÃO EM VIDRO
86 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
A Tecnovidro, empresa especializada em be-neficiamento de vidro, recebeu os alunos para lhes mostrar seu processo de produção e de impressão em vidro. A empresa, fundada em 1987, conta com mais de 250 funcionários, possui a maior flexibilidade de produtos da América latina, e domina todo o processo de produção do vidro, desde a sua confecção até a estamparia. Além da marca Tecnovidro, a empresa se subdivide em outras duas marcas, Saint Claire e Casa Vitra. Sua gama de produtos conta com linhas para a indústria moveleira, construção civil, indústria automotiva, linha branca, portas de alumínio, e artigos de utilidade para ambientes residencial e corporativo.
88 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Durante a visita, foi possível compreender os diversos tipos de vidro que a empresa produz, co-nhecer suas propriedades e sua aplicabilidade. Porém, o grande foco da visita foi conhecer as tecnologias de impressão que a empresa utiliza, pensando como as padronagens desenvolvidas pela turma poderiam ser aplicadas, e explorar novas possibilidades que poderiam ser trabalhadas pela empresa.
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O processo de estamparia mais utilizado até então pela empresa é a serigrafia, na qual as artes são gravadas em telas através de fotolitos, e impressas em máquinas de serigrafia a rolo. Além deste processo, quando as chapas de vidro são somente de uma cor chapada, elas são pintadas através de uma pistola a ar. A tinta usada nestes dois processos é uma tinta cerâmica, que quando colocada sobre o vidro que vai ser posteriormente temperado, os dois materiais se fundem e a tinta não pode ser retirada.
92 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Atualmente, a empresa conta com um dos processos de impressão digital mais inovadores do mercado. A impressão é muito similar a um plotter de impressão em lona ou adesivo, porém de qualidade laser. A tinta utilizada é chamada de nano pigmento ou nano fluído, e ela penetra nas partículas do material, se fundindo a ele. É possível imprimir uma imagem diretamente do arquivo eletrônico para o vidro, imprimindo até 4 cores simultaneamente no modelo CMYK e com uma resolução de até 360 dpis. A empresa possibilitou aos alunos a impressão de suas padronagens no plotter de impressão digital, em uma amostra tamanho A4. Uma grande vantagem deste processo é que a impressão pode ser modulada, o que permite confecção de painéis de qualquer tamanho, com dimensão máxima de 2.200 x 1.200 mm.
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 95
A impressão digital permite criar projetos personalizados, reproduzindo com precisão e riqueza de cores e detalhes qualquer tipo de figura, desde texturas até desenhos e fotos. O novo conceito traz substanciais reduções de custos e prazos , além da excepcional qualidade e do ga-nho em soluções arquitetônicas.
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 97
DESIGN TÊXTIL: APLICAÇÕES EM MALHARIA
O design têxtil é a maior área de aplicação do design de superfície e com maior diversidade de técnicas. Para conhecer um pouco mais de uma das técnicas, a malharia retilínea, foram realizados estudos na unidade de criação de malhas no Campus 8 da UCS, que conta com uma unidade equipada com um tear automático.
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 99
A malharia é o processo pelo qual se produzem malhas, que são classificadas como malhas de urdume e malha de trama. As malhas se caracterizam pelo entrelaçamento de fios através de um sistema de agulhas, que pode ser feito na posição vertical, horizontal ou diagonal. As tramas são tecidas em fios industriais de diferentes finuras e gauges, e a malha possui como características flexibilidade e elasticidade.
Atualmente, este segmento possui uma tecnologia de equipamentos eletrônicos com grandes recursos, o que possibilita maior variedade de texturas, construções e tramas – desde rendas trabalhadas, passando por tramas pesadas de tranças com pontos que se confundem com construções artesanais, até a meia malha simples, que simula tecidos de malharia circular. Também possibilita agilidade na confecção, minimizando operações de costuras em linhas de montagem.
102 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Para as aplicações da turma, amostras tamanho 60x30 centímetros, foi escolhido o sistema de tecelagem Jacquard. É um tipo específico de tecelagem, a qual utiliza mais de uma camada tanto no urdume como na trama. Ele é controlado por grandes cartões perfurados, e seleciona fio por fio. Seu sistema de entrelaçamento, também garante maior durabilidade, já que a posição dos fios, o torna mais complexo e resistente.
104 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Os tecidos de jacquard são uma área complexa da indústria têxtil. Inventado por JosephMarie Jacquard, em Lyon na França, em 1804, representa hoje o gênero têxtil de maior possibilidade de inovação no futuro da indústria equipada com as novas tecnologias. Através dele é possível a criação de desenhos e estruturas mais elaboradas de entrelaçamento, tanto em tecelagem como em malharia em meia malha dupla. Isso proporciona uma possibilidade de resultados infinita, sem muita restrição para a criação da padronagem e efeitos menores e mais complexos para o entrelaçamento.
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 107
APLICANDO A SUPERFÍCIE
RESULTADOS INDIVIDUAIS A partir dos estudos realizados no workshop, cada aluno posteriormente buscou aprofundar o tema do grupo e desenvolver seu projeto individual.
110 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFĂ?CIE
“Il onere toccato dal lavoro si trasforma in oro” É inegável de que o italiano se orgulha de sua origem, de seu sobrenome e de sua cultura. Orgulho ainda mais inegável é o que passa ao narrar a saga de seus antepassados. As palavras mais usadas pra descrever seus feitos com certeza são a bravura, honra, fé e braço forte. Não se curvaram diante dos desafios encontrados ao desbravar a serra gaucha e transformaram o fardo em glória. Fardo sintetiza muito bem essa história. Abandonados a própria sorte em uma região inóspita, criaram aqui, através do trabalho e da coragem, um próspero lar. “O fardo tocado pelo trabalho se transforma em ouro.” POR DIOGO MACHADO
112 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Ruptura no sentido de romper. Romper pedras, romper estruturas e romper tempos. Transcrever técnicas rudimentares de construção, para transformá-las em um ícone conteporâneo. É uma derivação do conceito central, onde “ruptura” é a transição do elemento estrutural, da organização e o método da construção das taipas. Pedras maiores e menores em cima, relembrando uma forma triangular em um corte lateral da taipa. POR JAIRO ARRUDA
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 115
As pedras ricas em história, Contam em seu relevo um pouco dela. Cada gota de chuva... Cada ação do vento... Tudo a molda. Topos, proponha-se a converter em superfície Um pouco dessa história. Fazendo que um elemento forte da cultura da serra gaúcha possa se tornar global. Convertendo para diversas superfícies um signo que pouco tem acesso. POR PAMELA ROSA
116 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Mais que um elemento da natureza, mais do que uma cerca de pedras. As taipas, conceito do projeto, deixaram vestígios, contam a história do nosso povo. Uma história de construção, empenho e esforço pela busca de uma vida melhor. Muitas memórias a serem extraídas destas linhas de pedra que cortavam os campos e demarcavam limites. Na diversidade de formas e encaixes das pedras, cada taipa é única, sólida e imponente.
POR MICHELE PERIN
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 119
Imponentes e soberanas nas paisagens serranas, as taipas são uma memória viva de nossos antepassados e de nossa história, resistindo à ação do tempo e do vento através dos séculos. Cercas de pedra construídas para demarcar territórios, são linhas que estendem horizonte afora, cortando campos e indicando caminhos. Linhas compostas por quadros abstratos e singulares, onde cada pedra é única. Mais do que significar as linhas de pedra que delimitam o espaço, a palavra Confine busca representar a soberania deste ícone, que marcam o tempo e espaço de nossas terras e de nossa história. POR ROBERTA REDANTE
120 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
AUGUSTO CRESPI
Com uma sonoridade pregnante e imponente, a palavra Storia provém do idioma italiano. A palavra escolhida simboliza a origem e tradição dos antepassadas que deram início ao desenvolvimento da região da Serra Gaúcha. Para a marca utilizou-se a fonte Foglihten de caráter regular, com pequena serifa e com posterior ajuste e prolongamento de algumas hastes. Associando-se diretamente com a uva, tema principal do projeto desenvolvido, utilizouse símbolo de uvas estilizados fazendo alusão ao cacho e ao fruto, tão importantes para o desenvolvimento da região abordada. POR AUGUTO CRESPI
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 123
A uva é muito mais que sustento. Ela é símbolo da sobrevivência desse povo. É cultuada e está na tradição e no cotidiano de muitas familias ainda. PORTARE (italiano) ato de portar; levar consigo. Assim como a tradição, está sempre com quem faz parte dela. POR JULIANA MANARA
124 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Utilizando a UVA como elemento, deu-se sequência baseando na representatividade que ela possui em relação à família que preserva sua tradição e produção. Ou seja, o conceito partiu da estrutura física da uva, por ela representar a base dessas dessas famílias. POR CRISTIANA LIVOTTO
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 127
O nome foi criado a partir das palavras vinhedo e vida. As cores da marca foram extraídas da paleta desenvolvida através do amadurecimento da uva. O amadurecimento representa a experiência. POR EDER FRASCISCONI
128 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Prima donna , primeira mulher, assim como a primeira uva a ser cultivada , a uva isabel. Tipografia com traรงos finos, e arredondados, demostrando toda a delicadeza da mulher. POR JEAN NUNES
O conceito da marca CURI tem o intuito de demonstrar as origens da araucária, assim como sua grande importancoa para dois povos, os indígenas e os imigrantes italianos, ORIGENS Curi = origem indígena POR CARINE RISSI
130 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
A marca Arau e uma derivação da marca - Nostra Sementi - que é responsável por dar nome e frente a padronagens desenvolvidas a partir da bocha do pinhão. O nome Arau é uma simplificação da palavra Araucária, planta responsável pela produção do pinhão e que é ícone do inverno da região Sul. O grafismo é parte de uma abstração das padronagens que são assinadas pela marca. POR JESSICA GOTARDO
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 133
O Projeto Pina surge do conceito de resgatar e difundir a beleza da serra gaúcha, transformando em arte suas paisagens. Tem foco na exuberância das araucárias, principalmente da bocha e do pinhão, ícones do inverno gaúcho. Seu nome parte da derivação da palavra Pinha, utilizando a fonte Century Gothic. Possui a primeira letra em caixa alta, sendo as demais em caixa baixa. O símbolo lembra a textura da bocha do pinhão, sendo simplificada. Para as cores, usou-se o preto e o verde, este fazendo referência as cores predominantes na planta. POR JÉSSICA RESTELLI
134 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
É o que nos envolve, está ao nosso redor, nos cerca e nos protege. Uma linha inspirada na araucária, que trás consigo traços que nos deixam em casa, nos transmitem a sensação de conforto por estarmos diante do que nos é familiar. POR MARIA SCALCON
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 137
O pinhão, semente da araucária, é uma das iguarias do Sul do Brasil. Ele geralmente, é consumido cozido apenas com água e sal ou assado. Porém, há outras formas de se apreciar o sabor da semente. Uma delas é o entrevero de pinhão. Uma mistura de sabores, ingredientes, temperos e acompanhamentos que levam o sabor do Sul. Com esse propósito foi criada a marca Entrevero, buscando em cada detalhe, essa mistura de texturas, cores, elementos e padrões. POR STÉPHANIE OSELAME
138 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
ENCERRAMENTO HELOÍSA CROCCO O encerramento da disciplina aconteceu com uma palestra da artista Heloisa Crocco, aberta a todos os alunos do curso.
140 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Durante a paletra, Heloísa apresentou seu trabalho, com foco principal em sua ligação com o artesanato. A artista tambem pode conferir os resultados individuais posteriores ao workshop, e ressaltou a importância que este trabalho teve para o aprendizado de cada um e para a região.
142 REVISTA TAD | 2014/4 | DESIGN DE SUPERFÍCIE
Os presentes puderam conferir os trabalhos desenvolvidos individualmente e as aplicações resultantes, que estavam expostos ao longo de todo o auditório. A apreciação por todos foi muito positiva, principalmente por parte da artista Heloísa, que se surpreendeu com os resultados.
DESIGN DE SUPERFÍCIE | 2014/4 | REVISTA TAD 145
CRÉDITOS
Participantes: Augusto Crespi | Carine Rissi | Cristiana Livotto | Diogo André Machado | Eder Francisconi |Jairo Arruda de Castro | Jean Jacó de Souza Nunes | Jessica Gotardo dos Santos | Jéssica Restelli | Juliana Manara | Maria Terezinha Scalcon | Michele Rasador Perin | Pamela Cardoso da Rosa | Roberta Cristina Redante | Stéphanie Oselame
Corpo docente Ana Valquiria Prudêncio | Jane Toss de Bhoni | Silvana Bastianelo
empresas Parceiras: Crocco Studio Design, Tecnovidro e Ladrilhos São Pedro
revista tad: Redação, arte e edição: Roberta Cristina Redante