ANO 30 - Nº 135
A Marinha na Amazônia Ocidental
A renovação da Esquadra Entrevista com o comandante da Marinha do Brasil
R$ 18,00
Editorial
Torcendo... e com entusiasmo
Tecnologia & Defesa Ano 30 - Número 135 (2013/2014) Correspondência Tecnodefesa Editorial Ltda. Rua Bonfiglio Beraldi, 70/31 CEP: 13206-070 Jundiaí (SP) - Brasil Tel.: (011) 3964-5315 www.tecnodefesa.com.br Diretor Geral/ Editor Chefe Francisco Ferro Editores Adjuntos André M. Mileski Paulo Maia Consultores Técnicos Reginaldo Bacchi Ronaldo Olive Relações Públicas Julio Maringolo Webmaster Roberto Caiafa Repórter Especial Kaiser Konrad Equipe de Reportagem Anderson Subtil, Christián Marambio, (Chile), Guilherme Wiltgen, Hélio Higuchi, Ivan Plavetz, Leonardo Ferro, Luiz Padilha, Marcos Junglas, Paulo Roberto Bastos Jr., Ricardo Bonalume Neto, Silvio Maciel, Ricardo J. Sigal Fogliani (Argentina)
redacao@tecnodefesa.com.br Programação Visual Equipe T&D e Vladimir Rizzetto Impressão e Acabamento Pré-Impressão e Impressão Garilli Tel: (011) 2696-3288 Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora Tel: (011) 2195-3188 Jornalista Responsável Francisco Ferro Os artigos de caráter opinativo podem não refletir a opinião da revista. Capa: O NaPaFlu Pedro Teixeira navega no ponto onde as águas dos rios Negro e Solimões se encontram. Foto: Roberto Caiafa
á iniciamos o novo ano o qual, segundo alguns, deverá ser difícil em função de uma série de fatores conjunturais ligados à economia, combinados com acontecimentos já sabidos e aguardados, e que devem “parar” o País. De fato, e sem querer nos alinharmos à corrente mais pessimista, o horizonte à frente é para ser visto com prudência. Além disso, 2014 se apresenta, para nós brasileiros, principalmente, sob o “vernáculo domínio” do verbo “torcer”. Sim, e como teremos que conjugá-lo na prática nos próximos meses. Começamos torcendo para que a velha máxima de que o Brasil só passa a funcionar após o Carnaval, não seja uma completa verdade, se bem que, fazemos isso anualmente e sempre perdemos. Depois, teremos a realização da Copa do Mundo da FIFA e lá estaremos nós, torcendo apaixonadamente pela Seleção Canarinho, e para que tudo ocorra na mais perfeita ordem para que possamos passar ao mundo uma imagem de país sério e eficiente (é claro, torcendo ainda muito mais para isso). Passado o evento, logo, teremos a campanha política e as eleições e, novamente, vamos torcer por nossos candidatos e, de maneira fervorosa, para que os resultados a serem apurados nas urnas venham a refletir, com as maiores doses de acerto e sabedoria possíveis, a vontade popular. Por outro lado, vamos torcer para que boas notícias para o setor em que atuamos venham a se registrar, tal qual foi em 2013, mesmo que de forma surpreendente, como veio a suceder. Dentre outras ações efetivas, podemos contabilizar a assinatura dos primeiros contratos para a produção do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC), diversas movimentações oficiais (governo e classe política) e empresariais em busca de medidas e atos concretos em prol dos segmentos envolvidos na “construção” da Defesa Nacional, e a entrega do Certificado de Empresa Estratégica de Defesa (EED) às primeiras 26 empresas integrantes da Base Industrial de Defesa (BID), possibilitando a essas passarem a usufruir dos benefícios do Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID), o que irá aumentar significativamente a sua competitividade nos mercados interno e externo. Contudo, e sem nenhuma dúvida, o grande destaque ficou para o anúncio, no apagar das luzes do ano, do resultado (coisa que quase ninguém mais acreditava) do célebre e longevo programa F-X2, com a indicação do seu vencedor, o caça de origem sueca SAAB Gripen NG. Aliás, entendemos nós, de Tecnologia & Defesa, que a atitude (sábia, diga-se de passagem) da Força Aérea Brasileira (FAB) em não buscar mais uma solução paliativa a partir da desativação dos Mirage 2000, propositadamente ou não, acabou tendo grande influência na solução de uma incômoda situação que já se arrastava há cerca de 15 anos, embora ainda venha pela frente um período de mais negociações até a assinatura dos contratos. O Governo Federal, mais que simplesmente resolver o F-X2, conseguiu, ao menos, dois outros aspectos altamente positivos. Um deles é colocar em marcha um ambicioso programa que, por suas características, vai alavancar uma das premissas da Estratégia Nacional de Defesa (END) que trata do domínio de tecnologias de elevados níveis de sofisticação (e, isso, qualquer que fosse o vencedor), por parte da já avançada indústria aeronáutica nacional, do mesmo modo como já vem sendo registrado na área naval com o ProSub ou no campo terrestre, com os projetos do SISFRON e blindado Guarani. O outro reflete-se sobre a própria credibilidade de execução dos diversos programas de modernização das Forças Armadas brasileiras. Foi um importante sinal ansiosamente aguardado pelas nossas, até heroicas, empresas da BID, e que melhora, por tabela, a imagem externa do País perante governos e grandes conglomerados tecnológicos-industriais. Para que assim continue, como escrevemos, continuaremos a torcer. Mas, ao mesmo tempo, todos que labutamos na imprensa especializada em aviação, espaço, defesa e segurança, hoje tão disseminada, já que outros são os tempos, devemos manter, também, uma torcida incansável para que consigamos continuar a desenvolver o nosso trabalho. Problemas, não nos faltam e se traduzem nos novos meios de mídia (internet), nas tradicionais dificuldades em viabilizarmos financeiramente nossas publicações e que são agravadas pela explosão dos custos gráficos, na concorrência entre nós mesmos, e no mais complicado desafio que enfrentamos atualmente, ou seja, as revistas oficiais ou institucionais, comemorativas ou de série, que não estão sujeitas às normas que regulam as atividades privadas e leis de mercado. Não estamos, aqui, contestando o direito dessas existirem – que são líquidos e certos – mas, talvez, o seu meio de produção que conta com o apoio direto da instituição que retratam e, isso sim, não raro, em detrimento daquelas da livre iniciativa. Assim, vamos torcer para não acabarmos por perder os nossos espaço e papel como órgãos de informação. TECNOLOGIA & DEFESA 3
Roberto Caiafa
Sumário 18 Destaque: Caça Gripen para o Brasil
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com o comandante 22 Entrevista da Marinha do Brasil
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A renovação da Esquadra Brasileira
Mirage 112 Asedinastia despede do Brasil
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Arquivo: Voando no Gripen
Fotográfico: 122 Ensaio A Marinha em dois
A indústria de defesa da Polônia Seminário de Guerra de Minas
momentos
80 A Marinha na
Amazônia Ocidental
T&D
Entrevista
Uma Força Naval à altura do País O comandante da Marinha do Brasil fala à T&D 22 TECNOLOGIA & DEFESA
os últimos anos, as responsabilidades da Marinha do Brasil têm sido ampliadas exponencialmente. O fortalecimento do comércio internacional transportado via marítima, a descoberta de importantes reservas de petróleo e gás no mar e a participação em missões da ONU são alguns dos indicadores desta nova realidade. Entretanto, apesar de sensível melhoria nos atendimento das necessidades da Força, existem graves deficiências materiais, acumuladas ao longo de muitos anos, que precisam ser resolvidas com urgência. O comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, concedeu à Tecnologia & Defesa a seguinte entrevista exclusiva onde fala dessas dificuldades, dos programas em andamento e o planejamento para o futuro. Tecnologia & Defesa - O orçamento à disposição da Marinha tem sido satisfatório para os programas de crescimento, reaparelhamento e operacionalidade da Força? As questões relativas aos royalties do petróleo, sistematicamente contingenciados, já foram superadas?” Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto - Inicialmente, cabe ressaltar que, desde a apresentação aos representantes do Congresso Nacional sobre “A Situação e as Necessidades Orçamentárias da Marinha do Brasil (MB)”, realizada em junho de 2008, constatou-se uma mudança paulatina e promissora no cenário de restrição orçamentária. Ainda no ano de 2008, a aprovação da Estratégia Nacional de Defesa (END) representou a adoção pelo País de uma nova postura no campo da defesa, uma vez que, fruto de um amplo debate envolvendo diversos setores e em consonância com os anseios nacionais, formulou, de forma inédita, um planejamento de longo prazo para a defesa. A END concretizou a necessidade de transformação das Forças Armadas, atuando na sua reorganização, na reestruturação da Base Industrial de Defesa (BID) e na política de composição dos seus efetivos. Essa transformação significa dotar as Forças de novas estruturas e capacidades para cumprir múltiplas missões e desempenhar as funções do combate moderno, imerso na era da informação. Nesse contexto, foram estabelecidos os Projetos Estratégicos constantes do Plano de Articulação e de Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB), de modo a consolidar uma Força Naval moderna, equilibrada e balanceada, apta a cumprir as tarefas estatuídas em sua missão.
| ALMIRANTE MOURA NETO | Na elaboração dos Projetos Estratégicos, foram observadas as diretrizes da END, que estabelecem a necessidade premente no desenvolvimento de projetos guiados pelos princípios da independência nacional, a ser alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos setores estratégicos para a defesa: o nuclear, o espacial e o cibernético. Desde então, a MB recebeu aporte orçamentário para impulsionar o desenvolvimento de seus dois programas prioritários: o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub), que inclui o projeto e a construção do primeiro submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR), e o Programa Nuclear da Marinha (PNM). O ProSub engloba, ainda, a construção de quatro submarinos convencionais (S-BR), além da implantação de uma moderna infraestrutura industrial, que contempla a construção de um estaleiro e de uma nova base naval para submarinos. No mesmo período, outros programas foram executados, proporcionando, nos últimos cinco anos, o acréscimo ao inventário da Marinha de 25 navios de superfície, 6 aeronaves, 16 lanchas, 16 organizações militares do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário, dentre outros. No entanto, embora tenham ocorrido importantes aportes orçamentários, cabe destacar que a necessidade de investimentos em novos equipamentos e em articulação é permanente e crescente, principalmente quando se leva em consideração fatores como a velocidade da evolução tecnológica e a vida útil dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais. Ao reconfigurar a Força Naval, a MB deve constituir-se de forma balanceada entre os componentes submarino, de superfície e aeroespacial, de modo a assegurar, prioritariamente, a capacidade para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima, bem como cumprir as demais tarefas básicas do Poder Naval: controlar áreas marítimas, projetar poder sobre terra e contribuir para a dissuasão. Para isso, a Força de Superfície deverá contar com navios de grande porte, capazes de operar e de permanecer por longo tempo em alto mar, e com navios de porte menor, dedicados a patrulhar o litoral e os principais rios navegáveis brasileiros. É importante notar que os projetos estratégicos da MB têm potencial para alavancar o desenvolvimento da BID e fortalecer o setor de construção naval, elevando o índice de nacionalização e fomentando a transferência de tecnologias e conhecimento.
A END define, ainda, que as Forças devem ser reorganizadas sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença. Nesse sentido, outros projetos estratégicos deverão ser desenvolvidos, como a implantação da 2ª Esquadra e da 2ª Força de Fuzileiros da Esquadra, no Norte/ Nordeste do País e do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz). Este último permitirá o controle e monitoramento da “Amazônia Azul”, das águas interiores e da nossa área de responsabilidade, estabelecendo aquilo que se denomina consciência situacional marítima. Após a descoberta do pré-sal e, mais recentemente, de outra grande reserva de petróleo e gás natural no litoral de Sergipe, que poderá se converter em uma nova fronteira petrolífera, notou-se muita especulação e interesse, tendo como foco principal as potencialidades econômicas dessas descobertas. Nesse cenário, o Brasil não pode prescindir de uma Marinha equipada, moderna e respeitada, que garanta, no mar, a nossa soberania e a defesa de todas essas riquezas. A MB considera que a destinação para a defesa de parte dos recursos oriundos da exploração da camada pré-sal e de outras reservas permitiria, de forma contínua, elevar o orçamento da Força para um patamar adequado. Nesse sentido, tem-se envidado esforços para incluir a pauta da defesa nas discussões sobre o tema, propondo, por exemplo, a inclusão do setor nas destinações específicas constantes das Leis nº 12.351/2010 e nº 12.858/2013. Este ano, a Marinha apresentou ao Ministério da Defesa (MD) a importância de que sejam assegurados os recursos oriundos dos royalties da produção de petróleo, com a finalidade de incrementar a proteção e a fiscalização dessas áreas na plataforma continental, uma vez que, com os meios de que dispõe atualmente e diante da demanda crescente, a Força terá dificuldades para efetuar um patrulhamento eficaz. Um exemplo da importância de um fluxo contínuo de recursos é o fato de que, dos 46 navios-patrulha de 500 toneladas previstos no PAEMB, dos quais 27 seriam construídos em um primeiro momento, a MB conseguiu, com grande esforço orçamentário, prontificar dois e contratar a construção de outros cinco, o que ainda é pouco para o desafio que se apresenta. Com relação ao orçamento da Defesa, observa-se, de um ano para outro, uma pequena oscilação em torno de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Embora tenha havido um crescimento no que diz respeito a custeio e investi-
mentos, esse orçamento ainda é baixo, em comparação com outros países, como os do BRICS, grupo do qual, hoje, o Brasil se associa em muitos aspectos, cuja média é da ordem de 2,5%. A MB conta com o empenho do governo e do Poder Legislativo no sentido de adequar o patamar orçamentário da Força ao protagonismo que o País anseia no contexto internacional. Dessa forma, continuará seus esforços no sentido de fortalecer o Poder Naval, para cumprir sua missão constitucional e as atribuições subsidiárias previstas em leis complementares, com ênfase naquelas relacionadas à “Autoridade Marítima”. T&D - Quais são as expectativas em relação à evolução orçamentária? Será possível atender ao custeio, incluídos os reparos/ modernizações de meios? Almirante Moura Neto - As expectativas em relação à evolução orçamentária foram recentemente abordadas na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) do Senado Federal, em audiência conjunta com a comissão homônima da Câmara dos Deputados, com a participação do MD e das Forças Armadas. Em nota técnica encaminhada, foram relatadas as dificuldades para a condução dos projetos estratégicos das Forças, concebidos a partir das diretrizes da END. No caso da MB, o orçamento encaminhado ao Congresso foi de R$ 5 bilhões, enquanto o investimento considerado mínimo é de cerca de R$ 7 bilhões. T&D - Existe a possibilidade da construção de navios auxiliares/ apoio e de patrulha ser inserida nos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC), a exemplo do ProSub? Almirante Moura Neto - É importante destacar as recentes iniciativas do Governo Federal na inclusão de projetos estratégicos das Forças Armadas no PAC, como o desenvolvimento dos helicópteros das Forças Armadas EC725, a cargo da Helibras. O programa HX-BR conta, hoje, com 16 parceiros estratégicos na indústria brasileira e outros 39 fornecedores nacionais. O contrato de desenvolvimento e produção de 50 helicópteros para as três Forças está avaliado em 1,89 bilhão de euros. Em junho de 2012, o MD recebeu R$ 1,527 bilhão do PAC-Equipamentos para a compra de caminhões, blindados Guarani e veículos lançadores de mísseis Astros 2020, produzidos pela Avibras. O ProSub e o PNM foram, igualmente, incluídos no PAC, permitindo que continuem a ser executados dentro dos prazos previstos no Planejamento Estratégico da Marinha do Brasil. Temos
TECNOLOGIA & DEFESA 23
Internacional
POLÔNIA
Mantendo na memória os dias da Segunda Guerra Mundial, o país trata o assunto como da maior relevância e quer ser parceiro estratégico do Brasil Kaiser David Konrad Enviado especial à Varsóvia e Kielce ram 4 horas e 45 minutos da madrugada do dia 1º de Setembro de 1939. O encouraçado alemão “Schleswig-Holstein” abria fogo contra a cidade báltica de Danzig, atual Gdansk. Poucas horas depois as tropas da Wehrmacht iniciavam a invasão do território polonês. A operação Fall Weiss havia começado e, com ela, para valer, a Segunda Guerra Mundial. O povo polonês sentiu as agruras da guerra pela pior forma, que foi ter seu território invadido por uma força militar estrangeira, superior em tamanho, força e tecnologia. Para se precaver ante a possibilidade de que algo do tipo se repita – logicamente dentro de um cenário geopolítico parcialmente diferente – seus governantes vêm levando
o assunto defesa bem a sério. Aliás, a Defesa Nacional é um tema que ocupa destaque no noticiário e no cotidiano da sociedade, preocupa o governo e é tão delicado cuja importância não merece medidas paliativas, como em outros países, mas exige políticas de estado. Para satisfazer as necessidades operacionais e apoiar o processo contínuo de modernização das Forças Armadas, incluindo o suporte às obrigações através da destacada atuação como membro efetivo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), à qual o país foi o primeiro ex-integrante do Pacto de Varsóvia a ingressar, em 1999, a Polônia criou uma forte e reconhecida base industrial de defesa. Parte desses equipamentos é derivada daqueles
produzidos na antiga União Soviética, sendo que outros foram desenvolvidos de acordo com requerimentos internos, frutos de estreita cooperação com empresas estrangeiras, principalmente da Inglaterra e Alemanha. A indústria de defesa polonesa é composta por cerca de 150 empresas. Várias delas são controladas pelo Estado através de uma holding. Cerca de 90% das vendas são feitas às Forças Armadas, que estão divididas em Marinha, Força Aérea, Exército e Forças Especiais. O restante da produção é destinado ao mercado de exportação, onde o país tem mostrado a qualidade e confiabilidade dos seus produtos, que têm sido provados em combate nos mais diversos teatros de operações.
Todos o anos, em 1º de setembro, a Polônia relembra a invasão nazista ocorrida em 1939 e que iniciou a Segunda Guerra Mundial. Civis com uniformes de época homenageiam a resistência e os defensores da pátria nas celebrações, em Varsóvia 50 TECNOLOGIA & DEFESA
| NO CENTRO EUROPEU | Fotos do autor
Com a defesa no foco
Soldado polonês apresenta o míssil Grom (Trovão), durante a MSPO 2013
DEFESA AÉREA - UM PROGRAMA ESTRATÉGICO A Polônia, constantemente, tem que lidar diretamente com o mau humor russo em relação a OTAN, com a ameaça de posicionar mísseis Iskander em Kalinigrado, um enclave russo entre o país e a Lituânia. Isso sempre gera uma relativa apreensão, não só em Varsóvia, como em toda a Europa. Ademais, o fato de os Estados Unidos não mais estarem determinados a instalar na Polônia o Escudo Antimíssil obrigou o país a iniciar seu próprio programa que veio a ser conhecido como “Tarcza Polski” (Escudo da Polônia), que é liderado pelas empresas PCO, MESKO, ZM Tarnów e Elektronica, todas integrantes do Polish
Defence Holding, a nova designação do Grupo BUMAR. A construção do sistema nacional de defesa aérea, que engloba as defesas antiaérea e antimíssil, visa garantir que as Forças Armadas sejam capazes de combater aeronaves e, principalmente, mísseis de curto e médio alcances nos seus estágios finais de voo, e deverá ser totalmente compatível com o Sistema Integrado de Defesa Aérea da OTAN (NATO NATINADS), sendo parte operativa do Sistema de Segurança Europeu. O “Tarcza Polski” integra o processo de modernização das Forças Armadas e foi uma iniciativa do próprio presidente da República, Bronislaw Komorowski. Um detalhe interessante
é que o orçamento anual de defesa é equivalente a 1.95% do PIB e, destes, 20% é dedicado inteiramente à vitalização das capacidades de defesa aérea, o que demonstra o quanto o assunto é estratégico. Ainda hoje, a defesa antiaérea de médio alcance polonesa (> 20 km), é baseada em mísseis soviéticos que, depois de extensa atualização mantiveram a capacidade operacional, mas já não estão totalmente aptos a se contrapor às modernas ameaças, tais como as provenientes das novas gerações de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), ou de aviões de combate. Entendendo que nenhum sistema de defesa antiaéreo é 100% eficaz, decidiu-se que o Escudo da Polônia deveria operar em três camadas de detecção e engajamento, que consistem em “muito curto alcance” (VSHORAD), “curto” (SHORAD) e “médio alcance” (MRAD). TECNOLOGIA & DEFESA 71 51
Especial
A Marinha na Amaz么nia Ocidental Fazendo muito com pouco 80 TECNOLOGIA & DEFESA
FlotAm
| REPORTAGEM DE CAPA |
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Análise
Do papel para a
realidade
A Esquadra Brasileira continua a precisar de ações concretas para o seu reequipamento e adequado dimensionamento Paulo Maia
om a chegada, em 1808, do príncipe Dom João Maria de Bragança, regente de Portugal, que transferiu a Corte Real para a então Colônia, devido às Guerras Napoleônicas, o Brasil recebeu elementos de um poder naval consolidado. Foi instalada no Rio de Janeiro a Secretaria de Estado da Marinha e, sob sua subordinação, a Academia de Guardas-Marinha, o Quartel-General da Armada, a Intendência e a Contadoria, o Hospital de Marinha e o Arquivo Militar, além de navios de guerra e demais meios necessários ao funcionamento da instituição. A Independência, proclamada no dia 07 de setembro de 1822, fez do mar uma área de importância vital no panorama bélico que se seguiu durante a luta pela emancipação da jovem nação. Nasceu naquele grave momento a Esquadra Brasileira, com os meios navais remanescentes da frota portuguesa que se encontravam na Baía de Guanabara. O primeiro ministro da Marinha no Império, o brasileiro Luís da Cunha Moreira, realizou um esforço notável para reconstruir com rapidez o que encontrou disponível, devido à urgência de dispor de uma força naval com capacidade militar crível, capaz de expulsar os portugueses que tinham o domínio da província Cisplatina e do Norte do País. Os trabalhos, que contaram com o apoio de outras importantes figuras políticas, deram resultados e, em 10 de novembro de 1822 foi içado, pela primeira vez, na nau Martim de Freitas
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(rebatizada Pedro Primeiro), navio capitania da Esquadra em formação, o Pavilhão Nacional. Quatro dias depois, partiu da Baía de Guanabara em direção à Cisplatina a primeira força naval brasileira em operações de guerra ostentando em seus mastros a bandeira imperial. Durante três anos (1822-1824) os navios da Esquadra mantiveram o bloqueio às tropas leais à Metrópole, as linhas de comunicações marítimas livres para o transporte de tropas e suprimentos e a prontidão para a interceptação das forças navais lusitanas que rumavam para o litoral brasileiro, contribuindo de maneira imprescindível para a conquista e manutenção da soberania recém conquistada. Após Guerra da Independência, a Esquadra foi chamada para enfrentar novos desafios e lutas, como a Campanha Cisplatina (1825-1828), Guerra dos Farrapos (1835-1845), Guerra do Prata (1851-1852), Guerra do Uruguai (1864-1865), Guerra do Paraguai (1864-1870), Revolução Federalista (1893-1895), Primeira Guerra Mundial (1917-1918), Segunda Guerra Mundial (1941-1945) e o incidente que ficou conhecido como a “Guerra da Lagosta” (1962-1963). Atualmente, emprega a experiência adquirida no passado participando de missões da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti e no Líbano e protegendo as imensas riquezas existentes nas águas jurisdicionais brasileiras.
O QUADRO EXISTENTE O Comando-em-Chefe da Esquadra (ComenCh) foi criado em 1º de outubro de 1924, através do Decreto nº 16.623, que definiu a Esquadra brasileira como: “força de combate organizada, juntamente com as esquadrilhas de aviões e os navios auxiliares necessários às suas operações’’. Tem como responsabilidade imediata a proteção de uma área marítima de aproximadamente 3,6 milhões de km², que devem ser somados a uma área adicional de 970 mil km² correspondentes aos limites da Plataforma Continental, que está sendo pleiteada pelo Brasil junto às Nações Unidas. Nessa imensa área, a chamada Amazônia Azul, que corresponde a quase a metade do território terrestre nacional é realizado 95% do comércio com o exterior que se estende através das Linhas de Comunicação Marítimas por todos os oceanos do planeta, movimentando as atividades de exportação e importação. O maior volume de petróleo e gás, com destaque para as regiões do pré-sal, que o Brasil produz, vem do subsolo marinho. A essa expressiva riqueza devem ser somados a atividade pesqueira e outros recursos naturais inexplorados, como os nódulos polimetálicos: óxidos de ferro e manganês com significativas concentrações de diversos elementos metálicos de relevante importância econômica como o cobalto, o cobre e o níquel.
Luiz Padilha
| A ESQUADRA PARA O FUTURO |
Luiz Padilha
Fragata Independ锚ncia, da Classe Niter贸i
Fragata Bosisio, da Classe Greenhalg
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Registro
Arquivo 1ยบGDA
Fotos do autor
A saga brasileira
dos Deltas franceses 112 TECNOLOGIA & DEFESA
| FORÇA AÉREA |
Quatro décadas de operação dos Dassault Mirage na defesa da soberania aérea do Brasil Julio Maringolo
H
foi criada uma comissão formada por oficiais aviadores e engenheiros para pesquisar, avaliar e indicar a adoção de um caça supersônico moderno que viesse a atender àquela necessidade. Dentre as diversas opções de então, foram selecionadas quatro aeronaves: os norte-americanos Northrop F-5A Freedom Fighter e o poderoso McDonell Douglas Phantom II, o francês Marcel Dassult-Bréguet Aviation Mirage IIIE, e o britânico English Electric Lightining. O Phantom II era o favorito, mas foi descartado pois sua venda para países da América Latina não era autorizada
por Washington. Tal restrição não se aplicava ao F-5A, porém este deixou de interessar à FAB por suas deficiências e baixo rendimento operacional. Seguindo a lista, o número dois era o Mirage III, que depois do Phantom era considerado o caça mais moderno disponível, cuja capacidade fora amplamente comprovada em combate no confl ito árabe-israelense de 1967 (Guerra dos Seis Dias), além de contar com uma certa flexibilidade de Paris quanto ao fornecimento de equipamentos militares. Em terceiro lugar, vinha o
Claucio Oliveira Marques
á mais de 40 anos, o Alto Comando da Aeronáutica, atento à evolução do Poder Aeroespacial com a incorporação das novas tecnologias em aeronaves de combate a jato, a implantação dos sistemas de detecção, controle de trafego aéreo e, principalmente, a defesa aérea, buscava soluções para equipar a Força Aérea Brasileira (FAB) com um sistema atualizado e de pronta resposta, garantindo a manutenção da soberania do espaço aéreo do País em qualquer situação. Após detalhados estudos realizados pelo Estado-Maior da Aeronáutica,
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il v Br as
Gripen NG, em desenvolvimento pela empresa sueca SAAB, é a nova aeronave de caça da Força Aérea Brasileira (FAB). O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, em entrevista coletiva realizada em 18 de dezembro último, em Brasília. O programa F-X, iniciado em 2001, previa a aquisição de 36 aeronaves com transferência de tecnologia para o Brasil. De acordo com o ministro Amorim, a definição entre o Dassault Rafale, Boeing F-18 Super Hornet e o Gripen foi objeto de estudos e ponderações que levaram em conta três fatores. “Foram analisadas a performance, transferência de tecnologia e custos, não só de aquisição, mas também de manutenção. A escolha se baseou no equilíbrio desses três índices”, afirmou. O projeto, com a escolha da opção Gripen NG, terá um custo estimado de US$ 4,5 bilhões. Segundo o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Juniti Saito, está prevista a transferência integral de tecnologia. “Quando terminar a fase de desenvolvimento, nós teremos propriedade intelectual sobre este avião, isto é, acesso a tudo”, explicou. A assinatura do contrato com a empresa sueca deverá demandar em torno de 12 a 18 meses. A partir de então, estima-se que em mais 48 meses a FAB já disponha dos primeiros aviões. “A Força Aérea está de parabéns. Em breve, teremos caças a altura das necessidades de defesa do País”, ressaltou o ministro da Defesa. O Gripen NG é um modelo supersônico monomotor projetado para emprego em missões ar-ar, ar-mar e ar-solo, sob quaisquer condições meteorológicas e desenvolvido para se adaptar à evolução das ameaças e exigências operacionais enfrentadas pelas modernas Forças Aéreas. A versão brasileira, a ser desenvolvida em parceria com empresas locais como a Akaer e a Embraer Defesa & Segurança, a partir do projeto original destinado à Força Aérea da Suécia, contará com modernos sistemas embarcados, radar de última geração e capacidade para empregar armamentos de fabricação nacional. Dotada de um sistema de reabastecimento em voo compatível com os novos aviões tanques recém selecionados (dois Boeing 767 segundo o programa KCX-2), o caça será capaz de defender o espaço aéreo nos pontos mais remotos do Brasil. Tais características, aliadas ao desempenho da plataforma e seus avançados sistemas, possibilitarão um expressivo ganho na capacidade operacional da FAB. O novo jato integra um conjunto completo de sensores, com total flexibilidade de in-
G ai ri d pe e n
Destaques
tegração de armamento, podendo ser equipado com armas adquiridas de outros fornecedores. A capacidade de sobrevivência é garantida pelo equilíbrio existente entre as baixas assinaturas no espectro visível, infravermelho e radar, assim como por um avançadíssimo sistema modular de guerra eletrônica, comunicações e autoproteção. Como caça multiemprego de última geração, incorpora elevado alcance operacional, capacidade de carga útil e a capacidade de guerra centrada em rede (NCW), recurso significativamente aprimorado no modelo brasileiro, pois será operado em combinação com o sistema E-99 Erieye, do 2º/6º GAv “Esquadrão Guardião” , cuja frota está sendo submetida a um programa de modernização. Dotado
de um avançado sistema de armas, o Gripen NG, versão aprimorada do já consagrado Gripen C/D, foi concebido para combater no ambiente NCW de forma muito eficiente. Graças aos seus maiores tanques de combustível internos, o Gripen NG, na configuração de patrulha aérea de combate, alcança 700NM (milhas náuticas), ou seja, 1.300km, a partir da base de operações, com mais de 30 minutos “na estação”. Tem um alcance de traslado de 2.200NM (4.000 km). O tipo é considerado um dos mais ágeis em combate próximo, ao combinar um avançado layout aerodinâmico e uma configuração canard-delta com um sistema triplex de controle de voo fly-by -wire digital. Incorpora os sistemas de
Jan Cadil/ SAAB
links de dados multifrequenciais mais desenvolvidos e seguros do mundo (conectividade com criptografia), conferindo ao piloto uma completa noção da situação ao seu redor, em todos os modos de operação. Esta condição de consciência situacional se deve a uma cabine 100% digital, com grandes e coloridos displays MFD (Multi-Functional Displays), controles HOTAS (Hands-OnThrottle-And-Stick) e capacete com visor acoplado HMD (Helmet Mounted Display). O seu sistema de apresentação de missão resulta da fusão total dos dados dos sensores e possibilita uma capacidade de combate excepcional, garantindo o lançamento extremamente preciso de armas inteligentes. O motor General Electric F414G incorpora
avançada tecnologia, sendo um turbojato modular com pós-combustão, baixa razão de diluição e eficiência no consumo de combustível. Com uma taxa de empuxo superior a 22 mil lb (libras), o F414G gera 20% mais potência que o atual Volvo Aero RM12, viabilizando velocidade de super cruise equivalente a Mach 1.1 na configuração com armas ar-ar. O Gripen NG integra o único radar AESA de 2ª geração do mundo, o ES 05 Raven, o que garante a sua vantagem em termos de noção situacional. Desenvolvido pela Selex-Galileo e
Em 1996, T&D tornou-se a primeira revista brasileira a ir conhecer o Gripen, na Suécia
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| ENSAIO FOTOGRÁFICO |
Marinha do Brasil
Dois momentos O Araguari chega à sua nova casa. T&D acompanhou a viagem do navio patrulha na travessia Recife-Natal
| FORÇA NAVAL |
O NPaOc Araguari chegou a Natal, sua nova base de operações, na manhã do dia 25 de outubro de 2013. O mais novo navio da Marinha do Brasil, vindo do Rio de Janeiro (RJ), foi recepcionado em Recife (PE), no dia 24, pelos navio-veleiro Cisne Branco e navios-patrulha Macau, Graúna e Guaíba. Durante a travessia do GrupoTarefa formado pelos navios do Grupamento de Patrulha Naval do Nordeste, do 3º Distrito Naval, para Natal, foram realizados exercícios de manobras táticas e tiro antiaéreo noturno. No final da tarde do dia 24, aconteceu o primeiro pouso de uma aeronave (UH-12 Esquilo, N-7085, do Esquadrão Águia) a bordo de um navio do Comando do 3º Distrito Naval. Na manhã do dia 25, o navio foi visitado por diversas autoridades locais, recebidas pelo comandante do 3º Distrito Naval, o vice-almirante Marcos Nunes de Miranda. Após a passagem sob a Ponte Newton Navarro, foi realizado o tradicional “Salva à Terra” (21 tiros de canhão). O NPaOc Araguari, da Classe Amazonas (ver T&D nº 130) é o sétimo navio do Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Nordeste, subordinado ao Com3ºDN e contribuirá para a vigilância e patrulha naval da “Amazônia Azul”, que abrange uma área marítima de 4.500.000 m2.
Texto e Fotos: Silvio Maciel Com agradecimentos pela colaboração ao Comandante Cleber Ribeiro, Assessor de Comunicação Social do 3ºDN
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