Revista Tecnologia & Defesa Nº 153 DROPS

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| EXÉRCITO BRASILEIRO |

Os rumos do

SISFRON Roberto Caiafa

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Fotos: EB

Um panorama dos avanços e dificuldades de um dos mais importantes programas brasileiros da atualidade

Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), é um sistema de sensoriamento, de apoio à decisão e de atuação operacional, cujo propósito é fortalecer a presença e a capacidade de ação do Estado na faixa de fronteira terrestre brasileira, contribuindo com o esforço de manter efetivo controle nesta região, bem como o aumento da capacidade de comunicações e detecção de possíveis ameaças/ilícitos transfronteiriças e crimes ambientais. Os meios de sensoriamento desse ambicioso programa do Exército Brasileiro (EB) estão sendo paulatinamente desdobrado ao longo dos 16.886 km da linha de fronteira, monitorando uma faixa de 150 km de largura, o que favorecerá o emprego das organizações subordinadas aos Comandos Militares do Norte, da Amazônia, do Oeste e do Sul. Além disso, servirá de instrumento para a atuação integrada dos vários escalões de emprego da Força Terrestre, desde patrulhas e postos de controle, passando pelos batalhões, brigadas, divisões, comandos de área e chegando ao Comando de Operações Terrestres (COTER), em Brasília (DF). Nos aspectos da modernização das estruturas militares e apoio às ações governamentais na faixa de fronteira, o SISFRON, complementarmente, assume um papel de relevância social com múltiplas dimensões, no bojo dos cenários operacionais que compreendem a missão dos comandos militares de área. Sua transversalidade influi em outros Programas Estratégicos do Exército Brasileiro como o Guarani, o Proteger e o Programa Estratégico Obtenção da Capacidade Operacional Plena (Prg EE OCOP). E aqui cabe uma importante ressalva.

Criado em 2012, o OCOP é o único Programa Estratégico que contempla todo o EB, contribuindo para a manutenção do estado de prontidão da Força Terrestre, atendendo às demandas de sistemas e materiais de emprego militar para dotação das organizações militares e permitindo a atuação nas operações no amplo espectro. No escopo de planejamento, e considerando sua sinergia com outros Programas Estratégicos, as entregas de novos uniformes, material individual de campanha, capacetes, acessórios molles, fuzis de assalto, miras holográficas, optrônicos/imageadores termais, terminais táticos digitais robustecidos, rádios digitais, viaturas com capacidades diversas de transporte, comunicações-comando-controle, postos de comando móveis, infraestrutura de aquartelamento, linhas de transmissão, instalações funcionais, sensores fixos e móveis como radares, todos estão inseridos também no rol das entregas/ações do planejamento SISFRON/OCOP. Lançado oficialmente em 2014, na cidade de Dourados (MS), área sob a responsabilidade da Brigada Guaicurus (4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada), o piloto do Programa teve sua implantação conduzida pelo consórcio Tepro, formado por Savis Tecnologia e Sistemas S/A e OrbiSat Indústria e Aerolevantamento S/A, empresas controladas pela Embraer Defesa e Segurança. O sistema de sistemas que compõe o projeto piloto é formado por radares, sensores eletromagnéticos e optrônicos, componentes táticos e de comunicação satelital, infovias e centros de comando e controle. Além de Dourados, declarado operacional no final de 2014, outros três centros de operação (comando & controle) foram introduzidos em quartéis nas cidades de Mundo Novo, Iguatemi e Caracol, no Mato Grosso do Sul.

A FASE 2 Mesmo atrasado por corte nos repasses de recursos feitos pelo Governo Federal e por dificuldades na implantação da tecnologia, o projeto piloto do SISFRON passará por uma expansão planejada em 2018. Iniciado na linha de fronteira entre Mundo Novo e Bela Vista, em Mato Grosso do Sul, o sistema já está sendo testado no Pantanal de Mato Grosso e em breve chega ao Paraná, no lago da Usina Binacional de Itaipu. A expansão começou a ser feita mesmo antes de o projeto ser concluído na fronteira sul-mato-grossense, onde o

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| REGISTRO |

A transformação na capacidade de

ataque da Aviação do Exército João Paulo Moralez partir de 3 de setembro de 1986 o Exército Brasileiro (EB) voltou a atuar também na camada aérea do campo de batalha, ao ser recriada naquela data a Aviação do Exército (AvEx). Com o passar dos anos, os comandantes da Força concluíram que o vetor aéreo se tornou indispensável em qualquer tipo de operação realizada em território nacional, da fronteira ao litoral. Tal é a sua importância que há muitos anos a AvEx compõe as Forças de Atuação Estratégica, um grupamento de unidades que pode ser mobilizado em questão de poucas horas para atingir qualquer localidade do Brasil e sob condições meteorológicas adversas quando a missão é a defesa da Pátria. A AvEx, entretanto, mostrou ser uma ferramenta fundamental em outro 30 TECNOLOGIA & DEFESA

segmento que não apenas o da defesa tradicional. Não faltam casos que exemplificam esse cenário. O mais recente é o Rio de Janeiro, que foi mergulhado numa situação de caos, domínio de facções criminosas e a perda de controle das autoridades municipais e estaduais culminando numa escalada de violência, fruto da omissão dos seus governantes ao longo de décadas. A sucessão de crises econômicas também colaborou para agravar esse cenário. Depois de decretada a intervenção federal, o Exército foi uma das Forças acionadas para ajudar na estabilização da ordem. E essa é uma das ocasiões em que os rotores da AvEx são amplamente usados em missões de comando e controle, levantamento de imagens, informações e inteligência. Vale lembrar que o mesmo tipo de mis-

são foi realizado nos eventos de grande envergadura como a Rio+20, Copa das Confederações, Copa do Mundo da FIFA, Jogos Olímpicos, Jornada Mundial da Juventude e outros. Por outro lado, em catástrofes naturais os helicópteros e os seus militares também se fazem presente. De fato, a aviação foi um dos fatores que mais revolucionou o Exército nos últimos 30 anos, multiplicando o poder da Força Terrestre, projetando-a para um patamar impensável. Se antes a atuação da tropa em solo era planejada sem a presença do helicóptero, hoje nenhuma ação ou operação de vulto pode ser pensada sem esse vetor. Contudo, ao mesmo tempo em que ganhou importância para o País, a modernização da frota e das suas instalações pouco evoluiu ao longo


Fotos do autor

O programa de modernização do sistema de armamento e de imageamento para a frota de helicópteros Fennec e Pantera vai colocar a Aviação do Exército num novo patamar para missões de ataque leve, vigilância e inteligência em prol do Brasil desses anos. Somente no final da década passada é que os primeiros programas de atualização surgiram para os Helibras HB-350L1 Esquilo/ AS.550A2 Fennec (HA-1) e Airbus Helicopters AS.365K Pantera (HM-1), enquanto a AvEx se preparava para a vinda dos primeiros Airbus Helicopter H225M (HM-4 Jaguar). Em 2013, o Grupo de Ensaios e Avaliações (GEA), criado para dar assessoria técnica de alto nível e especializada para o comandante da AvEx e para a Diretoria de Material de Aviação do Exército, foi estabelecido na Seção de Projetos Especiais do Comando de Aviação do Exército, em Taubaté (SP). O Grupo passou a desempenhar várias funções como avaliações técnico-operacionais, ensaios em voo, atuar nas campanhas de certificação e homo-

logação, a ajudar na elaboração de requisitos operacionais, entre muitas outras atividades. Uma delas foi a de auxiliar na tomada de decisão sobre o ciclo de vida operacional que deveria ter a frota de quatro Sikorsky UH-60 Black Hawk (HM-2), recebidos em 1995, e oito AS.532UE Cougar (HM-3), a partir de 2002, que permaneceram sem qualquer tipo de modernização e que deverão ser substituídos por um único vetor a partir de meados da próxima década. Em relação à própria estrutura de Taubaté, nos últimos anos várias novas instalações, mais modernas, amplas e acima de tudo, adequadas para suprir as necessidades atuais e futuras foram erguidas no setor sul da base, onde estão hoje situados o Centro de Instrução de Aviação do Exército, uma área para

simulação e o Batalhão de Manutenção e Suprimento de Aviação do Exército. Mas o grande fôlego para a continuidade de todos esses trabalhos veio em 2016 quando a AvEx foi inserida no rol dos Programas Estratégicos do Exército Brasileiro, confirmando a sua fundamental importância. Enfim, em 31 de agosto de 2017 foi aprovada a Diretriz de Implantação do Programa Estratégico do Exército Aviação do Exército que estabeleceu três principais objetivos. O primeiro, seguir com os processos que já haviam sido iniciados, como as modernizações dos helicópteros, a recuperação da frota, a implantação do Centro de Simulação e ampliações nas estruturas fixas, por exemplo. Em segundo lugar, diminuir da dependência de um único só fornecedor e, por fim, adquirir no futuro uma aeronave de ataque. TECNOLOGIA & DEFESA 31


| MARINHA DO BRASIL |

O trabalho da Autoridade Marítima Brasileira Investimentos em tecnologia para melhorar a segurança da navegação e o atendimento à sociedade Roberto Gondim Carneiro da Cunha

Marinha do Brasil, além da destinação constitucional de contribuir para a defesa da Pátria, tem como atribuição ser a Autoridade Marítima Brasileira (que é exercida pelo comandante da Marinha) e nesse aspecto seus propósitos são assegurar a salvaguarda da vida humana, a segurança da navegação no mar aberto e hidrovias interiores, bem como a prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações, plataformas ou suas instalações de apoio. Essa atribuição, executada por mais de 60 representantes e agentes distribuídos pelo País, engloba as áreas de Segurança da Navegação e Meio Ambiente, Marinha Mercante, Ensino Profissional Marítimo, Segurança do Tráfego Aquaviário, Socorro e Salvamento, e também a Investigação Científica Marinha e Bens Submersos, Organismos Internacionais, Antártica e Recursos do Mar. A Diretoria de Portos e Costas (DPC), é uma das representantes da Autoridade Marítima e tem investido em tecnologia para aprimorar o atendimento à comunidade marítima, agilizar os serviços prestados e monitorar as ocorrências nas Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), entre outras atividades.

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MONITORAMENTO MARÍTIMO Uma das soluções tecnológicas desenvolvidas pela DPC é o Sistema de Monitoramento Marítimo de Apoio às Atividades do Petróleo (SIMMAP), que permite identificar e acompanhar o tráfego marítimo relacionado à indústria petrolífera, por meio de rastreamento das embarcações em tempo real. O sistema possibilita, ainda, que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) fiscalize a execução dos levantamentos geofísicos dentro das áreas previamente autorizadas para a pesquisa sísmica. Controlado pela DPC, funciona online e conta com terminais instalados na ANP e no Comando do Controle Naval do Tráfego Marítimo (COMCONTRAM). Entre outras finalidades, o SIMMAP contribui para a fiscalização das atividades da indústria do petróleo e gás natural pelas autoridades competentes e serve como instrumento auxiliar nas investigações em casos de acidentes que envolvam alguma das embarcações acompanhadas.

VISTORIAS E INSPEÇÕES NAVAIS Já o Sistema de Gerência de Vistorias e Inspeções Navais (SISGEVI) é

Todas as iniciativas da DPC são norteadas pelo seu lema: Mares e Rios Seguros e Limpos


Fotos: MB

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|ESPECIAL|

Viking 2018 Maior exercício do mundo em sua categoria, pela primeira vez um país fora da Europa acolheu um de seus sítios remotos

Roberto Caiafa

983. No auge da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, o jovem David Lightman quebra a inexpugnável segurança nacional e, inadvertidamente, decifra os códigos do mais avançado computador do mundo, usado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. 52 TECNOLOGIA & DEFESA

Sem querer, o ator Matthew Broderick e seus amigos poderiam ter iniciado o conflito que levaria à Terceira Guerra Mundial e o fim da civilização. War Games, ou Jogos de Guerra, foi um grande sucesso do cinema norte-americano e lançou o ator ao estrelato. O roteiro do filme usava o North American Aerospace Defense

Command (NORAD), baseado na montanha Cheyenne (Colorado Springs), como cenário de uma possível hecatombe nuclear simulada em rede por um computador com sérios problemas funcionais. Nos dias atuais, as redes de computadores assumiram o controle de praticamente todas as atividades humanas,


Fotos do autor

proporcionando o aprimoramento do conhecimento. Na arena militar, o uso de conectividade e digitalização de processos é uma realidade condizente com as últimas tecnologias empregadas pelas mais modernas Forças Armadas, especialmente no treinamento, formação e capacitação de pessoal.

SIMULAÇÃO DE ALTA SOFISTICAÇÃO O Exercício Viking é um Exercício de Posto de Comando (multidimensional, multinacional e multifuncional) assistido por computadores em rede. Sua plataforma de treinamento foi desenhada para preparar conjuntamente civis, militares e policiais desdobrados em áreas de crise ou missões de paz lideradas pela Organizações das Nações Unidas (ONU), pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou pela União Europeia (UE). Essa “missão de paz” simulada multinacional é desenhada utilizando uma aproximação compreensiva, e todos os aspectos do exercício (conceito, desenvolvimento, implementação e avaliação) são co-presididos e constituem-se posteriormente em co-propriedade de todos os participantes. Uma “Audiência de Treinamento” é composta por militares, civis e po-

Abertura: os computadores, rodando a interface segura “Combater”, conectaram-se de forma sincronizada com a rede na Suécia e demais sítios do Exercício, permitindo ações fluidas mesmo com a diferença de fuso horário. Acima: Tela com a visão geral do exercício: múltiplas missões com demandas variadas e rígidos protocolos de resposta padrão OTAN/ONU liciais oriundos de parceiros-chaves (QG da Missão, Comandos Regionais, Escritórios Regionais e Escritórios de Campo). O cenário proporciona um exercício diverso e multidimensional apoiado por uma sólida plataforma técnica. Seu objetivo, treinar e educar os participantes em uma Missão de

Paz da ONU Multidimensional com um mandato sob o Capítulo VII. Entre os múltiplos desafios apresentados está a necessidade de aplicar uma aproximação compreensiva em uma missão de paz internacional, incluindo o papel com relação ao país anfitrião, promovendo o entendimento

O general-de-brigada José Ricardo Vendramin Nunes, ao centro, comandou um staff de múltiplas nacionalidades igualadas em dois pontos, os protocolos de emprego padronizados e o uso da língua inglesa

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