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Michel Nazar/ BOA
O acidente de Mariana e a ajuda que veio do céu....
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Fotos: Agência Oficial do Governo de Minas Gerais
barragem da mineradora Samarco que se rompeu na cidade de Mariana (MG), em 05 de novembro de 2015, provocou o maior desastre ambiental da história recente do País, matando pessoas, animais e destruindo tudo em seu caminho. Na chamada Barragem do Fundão (sic) havia lama, rejeitos sólidos e água, resultado da mineração na região. Pelo menos 128 residências foram atingidas pela onda de lama e dejetos. Os detritos tomaram conta do Rio Gualaxo e chegaram ao município de Barra Longa, a 60 km de Mariana e a 215 km de Belo Horizonte. Seis localidades de Mariana, além de Bento Rodrigues, completamente devastada, foram atingidas. Segundo especialistas, a lama que desceu pelo Rio Doce atingiu, no total, uma área de cerca de 10 mil quilômetros quadrados no litoral do Espírito Santo. Os prejuízos apenas no entorno próximo foram calculados em mais de R$ 100 milhões, segundo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior. A Samarco disse ter registrado dois pequenos tremores na área duas horas antes do rompimento. Não se sabe o que teria causado esses tremores – se seriam abalos sísmicos ou a força do próprio rompimento. Estudos divulgados por grupos ambientalistas apontam que poderá levar séculos para o ambiente se recuperar. A lama que se espalhou por Minas Gerais e Espírito Santo impede que matéria orgânica cresça. Uma das consequências que a lama está causando é o assoreamento, o acúmulo de sedimentos na calha do rio, causando impactos socioeconômicos e ambientais. Segundo o IBAMA, houve alterações nos padrões de qualidade da água. Um dos impactos é a morte de animais, terrestres e aquáticos, por asfixia, e a destruição de boa parte da vegetação de mata ciliar, nas margens dos cursos d’ água atingidos.
Aviação de Segurança Pública mobilizada O Batalhão de Operações Aéreas do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (BOA CBMMG) entrou em ação no dia seguinte ao desastre, juntamente com aeronaves de asas rotativas da Aviação de Segurança Pública do Estado disponíveis (“Pégasus”, da Polícia Militar, “Carcará”, da Polícia Civil, Instituto Estadual de Florestas, Gabinete do Governo de Minas Gerais, etc), mais alguns helicópteros civis alugados pela Samarco, totalizando 16 aparelhos. No terceiro dia, juntaram-se àquela heterogênea frota dois HM-1 Pantera, da Aviação do Exército. Três aeronaves de emissoras de televisão e rádio completaram o cenário.
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O capitão-bombeiro militar Fábio Alves Dias (37 anos), um dos pilotos dos helicópteros Esquilo da unidade mobilizados de imediato, descreveu o cenário visto de cima como algo semelhante a uma destruição total causada por uma guerra. Quando as equipes de resgate chegaram sobre as áreas mais atingidas ainda havia lama descendo, com as operações naquelas condições sendo consideradas de altíssimo risco. Após o estabelecimento de uma base com coordenação interagências integradas (Centro de Comando de Buscas), com uma área de pouso e decolagens e logística de combustível usando caminhões tanques, as missões começaram a se suceder sem pausas, do amanhecer ao por-do-sol. Uma frequência de rádio comum foi estabe6
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lecida. Pessoas ilhadas foram resgatadas, voos de reconhecimento e monitoramento se sucederam, o transporte das equipes entre um ponto e outro dentro da área de buscas sendo fundamental para o auxílio às vítimas. Essas ações foram lideradas pelo coordenador estadual de Defesa Civil (Cedec), coronel Helbert Figueiró, e o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, coronel Luiz Henrique Gualberto, dentre outras autoridades deslocadas para a região. Segundo o capitão BM Dias, os voos dentro dos vales escondem um perigo letal para helicópteros, os fios de linhas elétricas suspensas, e as máquinas e tripulações foram bastante exigidas em perfis de baixa altura. Em um voo de 15 minutos chegou-se a
pousar e decolar 10 vezes, nem sempre com os dois esquis do helicóptero completamente no solo, para desembarcar ou recuperar pessoal e cães treinados, e os times de terra que atuaram de forma muito corajosa naquelas condições extremas. A versatilidade e confiabilidade dos Esquilo, modelo presente em maior número, foi decisiva: “Cortávamos o motor após um pouso e, se minutos após precisássemos decolar novamente, sem problemas, máquina acionada, e seguíamos na missão. Sem os Esquilo, isso não teria sido possível. Trata-se de uma ferramenta fundamental nesse tipo de ocorrência”. A entrega de material de ajuda humanitária ocorreu dentro das mesmas dificuldades, pois as vias terrestres estavam bloqueadas. Medicamentos, víveres e doações chegavam às vítimas, nos primeiros dias, quase que exclusivamente pelo ar. A recusa dos moradores em abandonarem suas propriedades e serem resgatados foi outro fator complicador. Em alguns casos famílias inteiras dormiram ao relento em pontos mais altos, contando apenas com colchões e as roupas do corpo. Água potável se tornou um problema constante e as doações de particulares e empresas ajudaram bastante nesse sentido, nos primeiros dias após o rompimento. Outro problema inusitado foi a ocorrência de sobrevoos da aérea atingida por aeronaves particulares, movidas pela curiosidade de
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“ver” a tragédia de cima. Mais de uma vez foi necessário ordenar que esses tráfegos não autorizados deixassem o espaço aéreo sobre a área de buscas. Além da dificuldade do voo próximo ao solo, repleto de obstáculos ocultos, e a inclemência do ambiente, que exigiu sobremaneira das máquinas e equipes, a curiosidade das pessoas atravancando uma área onde dezenas de helicópteros estavam operando com grandes dificuldades nas comunicações foi outro grande complicador, pois dentro dos vales apertados existem áreas cegas para as emissões rádio. Após um mês do acidente, a operação constante, sem descansos, cobrou um alto preço das máquinas. As aeronaves do BOA fizeram uma pausa forçada
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nas operações para passarem por manutenção preventiva. O EC-145 entrou em revisão de 400 horas, e os dois Esquilo B2 VEMD, denominados “Arcanjos” também estão sendo submetidos a uma criteriosa inspeção geral e manutenção profunda. Para o capitão BM Dias: “A confiabilidade do equipamento e a disposição dos bombeiros foi decisiva. Com os Esquilo, conseguimos cumprir qualquer missão com segurança e eficiência. É o “cavalo de batalha” da nossa Aviação de Segurança Pública e, para nós, pilotos e equipes de busca e resgate, é a máquina certa no lugar certo, na hora certa. Confiamos nos nossos helicópteros totalmente, o que é mais um fator importante durante as operações”.