Possessão - Possession

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POSSESSテグ



Possessão

Idealizador :

Rocco Ribeiro

Direção de Performance :

Anderson Gomes

Fotografia :

Cris Abreu

Design :

Alessandra Moscato

2012




































































Possessão Não tenho a intenção de falar sobre fotografia, pois não tenho bagagem para abordar esse tema e simplesmente não tenho palavras e propriedade para tratar do assunto como um grande conhecedor poderia fazê-lo. Minha relação com a fotografia é tão nova como um recém-nascido que no primeiro momento, aparentemente se amedronta com a sua chegada nesse lugar estranho, doloroso e ao mesmo tempo maravilhoso. Aos poucos esse mesmo recém-nascido vai se maravilhando, se deleitando com cada coisa que vai se deparando e inevitavelmente conhecendo, assim sou eu nessa relação. Faz três anos que iniciei esse caso e desde então estou sempre a me deleitar com o poder de capturar imagens, com o poder de congelar o tempo dentro do tempo. Estou sempre a manter um olhar fixo sobre o momento, o instante que me prende e que me torna apto a prendê-lo dentro de uma magia, dentro de uma alquimia que resulta em algo que dispensa palavras para se pronunciar. No geral, minha relação com arte é de quem está sempre correndo atrás de algo que não é palpável, daquilo que não é dizível, que não é visível, para justamente transformar o que não é em algo (ser) que possa dar forma, que possa ser descrito, ter visibilidade e tudo mais que componha a suposta “inexistência”. No inicio de 2009, vivi tempos difíceis na minha tentativa de fazer acontecer minha arte. Nesse tempo estava próximo da pintura, mas por questões financeiras tive dificuldades para comprar materiais, até de fato acabar tendo que me privar dos mesmos. Estava inundado por paisagens que gritavam dentro de mim para serem exteriorizadas e a necessidade de ver essas paisagens fora de mim carcomia minha alma. O curioso é que esse ponto que descrevo, o trabalho que realizava consistia em uma série que nomeei como Paisagens da Alma (trabalho que ainda não finalizei). Antes de ficar sem os materiais necessários, fiz um registro fotográfico do processo da pintura que estava desenvolvendo na época. Com esse registro fiz uma montagem de vídeo na intenção de ser um stop-motion onde mostrava quadro a quadro a pintura surgindo. O primeiro registro que fiz foi com um celular e não deu certo, pois não fiquei atento a resolução da imagem. Mas os três trabalhos que surgiram consegui fazer os registros e os vídeos acabaram sendo montados. Sem ter uma percepção consciente, nesses registros fotográficos de cada processo de pintura teve início minha relação com a fotografia (logicamente não tive preocupação técnicas em fotografar, buscava apenas enquadrar a pintura de forma que a imagem ficasse completa no quadro fotográfico). Digo “percepção consciente” porque não imaginava que a fotografia passaria a compor minha vida com a intensidade que hoje ela compõe. No mais, sem ter os materiais necessários para desenvolver meu trabalho, sentia sede por pintar e essa necessidade foi corroendo minha alma. Foi nesse momento que por algum motivo uma máquina fotográfica veio aparecer na minha vida. A máquina foi uma Sony Cyber-Shot DSC-W210. Foi então que um leve desespero que corria em minhas veias enxergou na fotografia, a pintura. Passei a associar à pintura, desde cores, sombras, luzes, equilíbrio e distribuição de figuras e objetos no espaço físico da tela com o ato de fotografar, de paralisar uma imagem em um enquadramento que por motivos semelhantes requer o mesmo estilo de composição de imagens. A primeira vez que saí com a máquina nas mãos foi no início de uma bela tarde de sábado.


Era um sábado nublado e havia chovido por toda a manhã. Segui em direção a uma das ruas principais da minha cidade, a Rua Marechal Deodoro, e fiz minha primeira série fotográfica, Reflexo Urbano. Cada click foi um regozijo de prazer. Depois de uma semana fiz a série A Ruína. Assim foi surgindo uma ou outra série e toda a vontade e necessidade de pintar foi sendo suprida pelo ato de fotografar. Esse ato foi se apoderando de mim de uma forma que fotografar passou a ser mais necessário do que o ato de pintar, mesmo que ainda tenha desenvolvido posteriormente alguns trabalhos de pintura como o projeto Caos das Cores. Fotografar passou a ser algo tão intenso que passei a ser de fato possuído pela fotografia. Os meus olhos, ouvidos, olfato, boca, tato só sentiam a fotografia, ou melhor, tudo em mim foi arrebatado pela fotografia. Por esse motivo é que junto com Cris Abreu, Anderson Gomes e Alessandra Moscato realizo esse trabalho, que classifico como Livro de Artista. Possessão surgiu da necessidade de expressar o quão grato sou pela existência deste “fato” que é a fotografia. Possessão é uma tentativa de fazer uma simples homenagem de alguém que não se considera fotógrafo, de alguém que não possui propriedades para descrever qualquer coisa sobre o ato de fotografar, mas que se considera honesto e digno em sua busca de suprir e ser fiel aquilo que grita dentro de si. Possessão é por si só um resumo de uma vida nos últimos três anos, é um estado exteriorizado de alma, uma alma dominada pelo “poder” e deleite de prender o tempo dentro de outro espaço-tempo aparentemente estático, porém repleto de poesia e movimento.

Rocco Ribeiro





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