Rockazine #02

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Ano 01 – Número 02


Por um Brasil Independente


>> editorial

>> expediente

Ano 01 – Número 02

Chegamos a segunda edição do Rockazine. Entre diversos contratempos que apareceram, estamos aí! Da primeira edição pra cá, muita coisa mudou. O site, que não passava de um espaço que eu utilizava para escrever sobre o que gosto, começou a ter grande número de acessos. Colaboradores começaram a surgir e a coisa passou a andar sozinha. Claro que isso me deixa feliz, mas também aumenta (e muito) a responsabilidade de fazer um trabalho bacana. É bom, mas não é fácil e não seria possível sem ajuda de muitos parceiros. Por isso, aproveitando esse espaço quero registrar o meu ‘muito obrigada’. Valeu a todos que leram, entraram no site, que mandam e-mails, e os que fazem criticas. Porque ninguém melhora sem elas. Devo dizer ainda que poucas coisas me agradam tanto quanto ver pessoas realmente comprometidas trabalhando em prol de movimentar a cena alternativa. E o Rockazine possibilitou conhecer muitas pessoas que fazem esse trabalho valer ainda mais a pena. Na segunda edição, a ideia foi explorar as bandas alternativas. As que já são conhecidas, as que estão nascendo, as não tupiniquins, as que são breakdance e as que prometem um bom futuro. Porque com tantas boas bandas é impossível não querer se aprofundar mais e descobrir o que cada uma tem de bom. Eu já disse, mas vale repetir: nesse espaço escrevo apenas o que gosto, apenas o que me dá vontade de escrever. O Rockazine não nasceu sem propósito, tudo tem razão de ser.

Jornalista Responsável Karina Francis karinarockazine@gmail.com @karinafrancis MTB 62.032/SP Colunistas Mary Camata @marycamata Artur Guimarães @revistazas Fabio Gomos @somdonorte Textos Karina Francis Fotos Claudia Schulz David Benincá Douglas Ritzel Kate Bloomfield Luciano Oliveira Silvia Noronha Diagramação Artur Guimarães Karina Francis Colaboração Rodrigo Correia

crédito: silmara andere

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial das reportagens, entrevistas, artigos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares dos direitos autorais.

Karina Francis Gouveia, editora do Rockazine

Contatos karinarockazine@gmail.com Telefone: (11) 6427-5812 Siga-nos no Twitter @rockazine_ Acesse também: www.rockazine.com.br


artigo 30

Grito Rock Nascido em Cuiabá (MT) no ano de 2003 exatamente no período do carnaval, nascia o Grito Rock, um evento de baixo custo e que abria espaço para novas bandas se apresentarem

artigo 32

O “fim” do MySpace Ainda referência em música na internet, site não tem justificado a fama, perdendo em funcionalidade para os brasileiros PalcoMP3 e Conexão Vivo

bandas 06 Para se encantar com o

Loungetude 46

12 Para não cansar de ouvir:

Macaco Bong

20 O break que não é dance dos

tecnologia 34

S...M... o quê??? Mídia criada por brasileiro diminuiu os custos da produção de discos e permitiu que bandas independentes lancem obras acessíveis no mercado

Walverdes

22 Nasceu:

Rinoceronte

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Ócio


Por um Brasil Independente Ano 01 – Número 02


>> loungetude 46


Texto Karina Francis

Para se encantar com o

foto: divulgação

Loungetude 46 Quando a gente pensa que já conhece uma série de bandas excelentes, eis que aparece uma novidade que faz tudo ficar melhor ainda. Aliás, novidade para meus ouvidos, porque a banda já está na estrada desde 2007. Loungetude 46 é um grupo paulistano de música brasileira que conta com sete integrantes, são eles: Adolfo Moreira (Baixo elétrico); Bruno Duarte (Percussão e Vibrafone); Mariana Degani (Voz); Paulo Papaleo (Bateria); Rafael Montorfano “Chicão” (Piano elétrico); Remi Chatain (Sax, flauta e violão) e Thiago Bandeira (Letras e performances). É por meio da união de todos esses integrantes que surge uma mistura de jazz, salsa, funk, samba, entre outros ritmos. O nome Loungetude 46 é a fusão de longitude 46, posição geográfica de São Paulo, que é o ponto de partida da banda, e de lounge, estilo musical que tem como característica fundamental a mistura de elementos musicais étnicos de toda parte do mundo. E você que leu esse texto até aqui pode até pensar: Nossa, que rasgação de seda hein!! Mas não dá para ser dife-

rente diante do ótimo trabalho realizado no segundo disco do grupo: o livro/ CD Ação e Reação. A interpretação do álbum Ação e Reação vai depender muito do senso crítico de cada pessoa. A construção das letras é baseada em retratos urbanos contemporâneos por meio de uma sonoridade singular. O ponto alto das composições é trabalhar problemas atuais com bom humor e leveza. Tudo isso, de forma dançante. Das dez músicas do álbum, grande destaque para “Massa ou Povo”, “Ação e Reação” e “Brasileira”. A ideia do livro não é inédita entre bandas independentes. No Rockazine, por exemplo, já entrevistamos outras bandas que também realizaram esse produto, entre elas Ecos Falsos e Boddah Diciro. A diferença do livro que acompanha o CD Ação e Reação é a ilustração. Inspirado nas letras, o bom humor invade as páginas coloridas do livro transmitindo um humor ácido. Ainda sim, a ideia de produzir um livro agrega valor ao produto. Em tempo de download, a criatividade é essencial para fazer a diferença.

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foto: divulgação

Rockazine: Quando e como o grupo surgiu? Papaleo e Bandeira: O grupo surgiu na noite paulistana em 27 de julho de 2007, um encontro de duas partes da formação atual que se conheceu pela primeira vez em um bar da Vila Madalena. Depois desse primeiro contato, marcamos de conversar e fazer um projeto juntos, pois, alguns dos integrantes estavam fazendo um show no dia. Tudo foi indo muito rápido, e hoje em dia já tivemos uma circulação de 13 pessoas que passaram pelo projeto, o grupo começou como um coletivo de arte e com o tempo foi assumindo cada vez mais a musica como o “carro chefe” da nossa pesquisa.

Rockazine: Mais do que boas canções, percebi que a intenção do grupo é estimular uma visão crítica dos assuntos urbanos. Seria isso mesmo? E qual a finalidade? Papaleo e Bandeira: Nós buscamos retratar cenas urbanas que vamos observando no nosso dia a dia, deixamos que a visão crítica parta do ponto de vista de quem escuta. O mais curioso é que cada pessoa entende de um jeito. Acreditamos que a finalidade é justamente essa, fazer com que a interpretação do público traga um sentido maior para o nosso trabalho. Portanto, é sempre muito importante para nós ouvir o que as pessoas têm a dizer. A cidade de São Paulo nos oferece conflitos e situações que inspiram nossas letras e nossa poesia. O conflito está presente de forma inevitável e a reação a isso depende do senso crítico de cada um. Somos catalisadores de um processo urbano natural - ações e reações, aleatórias ou não, que compõe qualquer metrópole - e por isso também o titulo do novo álbum. Mari Degani: Queremos propor reflexões. Lembrar que certas coisas estão por aí, cotidianamente acontecendo em nosso entorno, mas não nos damos conta. E buscamos formas interessantes de interpretá-las, de forma poética, visual e quem sabe, sensitiva. Rockazine: As diferentes sonoridades presentes nas músicas são uma união de gostos particulares de gêneros musicais ou uma vontade de ser um grupo singular no meio de tantos iguais? Bandeira: Nós somos um grupo de pessoas que tem gostos e experiências musicais muito variadas, nossa sonoridade é um produto que sai naturalmente, onde deixamos um espaço para que cada pessoa ponha o seu tempero na música. Papaleo: É sempre uma troca muito grande, sem restrições ou limitações, gostamos de experimentar diferentes possibilidades no nosso trabalho. A gente nunca termina uma música, sempre estamos em processo de construção. Mari Degani: Talvez um pouco dos dois. Cada um de nós tem gostos e referências particulares, e misturamos de forma natural. Não podemos deixar de citar o fato de São Paulo ser nossa referência inicial. Muitas culturas se mesclam nessa cidade, que abriga gente do mundo todo.

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Rockazine: A ideia de produção do livro foi para agregar valor ao CD físico. Ou seja, um diferencial em tempos de download gratuito? Mari Degani: Também, mas principalmente porque outras linguagens, como a fotografia e a ilustração, como no caso do livro, também fazem parte do nosso trabalho. Papaleo: Exato, acreditamos que a música em si, não é mais um produto de valor econômico direto, mas sim indireto. Pois a música hoje em dia é o que faz as pessoas consumirem o estilo de vida das bandas atuais, nesse caso, como o nosso estilo está sempre relacionado às artes visuais, resolvemos agregar o nosso trabalho sonoro ao nosso trabalho visual. Rockazine: Músicas críticas, ácidas e com um bom humor. Como conseguem misturar tudo isso? Papaleo e Bandeira: Fizemos uma poesia para explicar melhor essa receita. Receita para fazer músicas críticas, ácidas e com bom humor: Pegue seis paulistanos e um pianista de Maringá, ponha todos pra criar sem lógica, nem planos. Junte à mistura alguns anos de amizade, e então verás toda a massa a borbulhar assando em forno urbano.

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Sirva à mesa pela zona leste e retire o prato pela zona sul; mas primeiro faça um teste: Sinta o gosto de cada canção E cante baixinho consigo: “Bom apetite, boa audição”. Mari Degani: Nosso objetivo não é apontar o certo e o errado, mas de forma poética, divertida e com certas doses de acidez, chamar a atenção para temas do cotidiano.

Rockazine: O livro que acompanha o CD Ação e Reação possui um lindo trabalho gráfico. Como conseguiram produzir este material. Buscaram apoio cultural? Papaleo: Esse trabalho foi resultado de muitas conversas, toda a produção dele é independente. Chamamos um parceiro nosso, Rafael Gaiani, que fez a parte de ilustração. MariDegani: Produzimos um lote promo para divulgação, que ainda não está disponível no mercado. Produção 100% independente. Tudo produzido por nós mesmos, e pagos com cachês de shows. Para a produção do lote comercial estamos buscando apoio. A ideia é lançá-lo no início do segundo semestre.


foto: divulgação

Rockazine: O grupo já está no seu segundo álbum. Qual o conceito de cada trabalho? Bandeira: Nosso primeiro disco foi uma grande coletânea. Cada integrante levou aos ensaios algumas músicas já prontas e a partir disso arranjamos o álbum. Já esse segundo disco, partiu de uma ideia central, que foi desenvolvida em cima de conversas, vivências e outras experiências. Agregamos ao grupo um poeta, que não apenas escreve, mas interpreta seus poemas durante os shows. Ainda nesse processo, passaram pelo grupo atores, dançarinos e artistas visuais. Conceituar nosso trabalho é como dar um rosto a cidade de São Paulo. Assim como ela, temos muitas caras e muitas influências.

Acho que o conceito é simplesmente não conceituar, não aplicar rótulos, apenas expressar nossa história, nosso tempo... E estimular um novo pensamento, uma nova visão de mundo. Rockazine: O que esperar do Loungetude 46 este ano? Papaleo e Bandeira: Muitos shows... Em junho iniciamos uma turnê de dois meses na França. Voltando ao Brasil, pretendemos divulgar ao máximo o álbum Ação e Reação e fazer o lançamento do disco. O público pode esperar muita música e poesia em constante evolução. E que essa nossa ação possa gerar alguma reação positiva por parte das pessoas.

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foto: luciano oliveira

>> macaco bong


Texto Karina Francis

Para não cansar de ouvir:

Macaco Bong “Do it yourself já era. Agora é do it together” é por meio desse pensamento de construção coletiva que a banda Macaco Bong tem se legitimado como uma das maiores bandas independentes do país. E não dá para dizer ao contrário! Quem nunca ouviu falar de um power trio que faz um trabalho considerado o que há de melhor no atual cenário da música independente brasileira? O trio é formado por Bruno Kayapy (guitarra), Ynaiã Benthroldo (bateria) e Ney Hugo (baixo). O grupo é uma banda de rock instrumental que nasceu em Cuiabá, Mato Grosso. A banda começou suas atividades no ano de 2004. Antes de lançar o álbum Artista Igual Pedreiro gravaram dois EPs. O primeiro com três faixas, o segundo com cinco. A banda foi destaque nos principais festivais que fazem parte da rota do circuito Fora do Eixo, já participaram dos seguintes eventos: Grito Rock festival (MT), Festival Calango (MT), Goiânia Noise Festival (GO), MADA festival (RN), Primeiro Campeonato Mineiro de Surf (BH), PMW Festival (TO), Festival Varadouro (AC), Festival Jambolada (MG), Festival Demosul (PR), festival Beradeiros (RO), Vaca Amarela Festival (GO), Laboratório Pop Festival (RJ), entre muitos outros.

Além dos trabalhos junto à banda, o trio faz parte do Instituto Cultural Espaço Cubo onde são produtores musicais e co-realizadores de eventos e festivais, como o Calango, Grito Rock e Semana da Música, produções que impulsionam a cadeia produtiva, tanto local, quanto nacional dentro do circuito fora do eixo. O disco Artista Igual Pedreiro é um dos trabalhos mais incríveis já produzidos. Impossível dizer qual a melhor música das dez faixas do álbum. Mas “Shift”, “Fuck You Lady” e “Vamos dar mais uma” são do tipo de música você pode escutar a vida inteira. Favoráveis à questão do download gratuito, o grupo disponibiliza o seu trabalho na internet. Macaco Bong é o tipo de banda que entende o álbum como um cartão de visita e não como fonte de renda. Sabem que independente dos aspectos mercadológicos, existem três integrantes que sobem no palco por gostarem de fazer música e entendem que seu significado está acima de muitas outras questões comerciais. E, é por meio disso, que a construção do trabalho deles se dá em forma plural e não singular. Um exemplo de consciência do que há de ser concretizado a cada dia. Confira a entrevista na íntegra:

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foto: luciano oliveira


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Rockazine: Hoje o mercado da música não depende mais da venda dos CDs. E vocês já mostraram uma postura favorável a questão do download gratuito. Seria uma questão de estratégia ou de ideologia? Ney: As duas coisas. Temos um conteúdo programático muito claro. A banda começou dentro da estrutura do Coletivo Espaço Cubo, fundado dentro do Circuito Fora do Eixo, então desde o começo pautamos o trabalho na autogestão. E a autogestão passa muito por isso, da forte atuação na internet, em ter mais trabalhos focados na circulação da banda, do que nas vendas de CDs. Temos ações de mercado sim, até porque atuamos fortemente na formação e consolidação desse mercado. Mas tudo sempre alinhavado com uma nova lógica desse mercado, que mudou profundamente após o surgimento da internet. Então não sei se ideologia é a palavra certa, mas entendemos as mudanças que ocorreram no mundo e no mercado da música para traçar estratégias de atuação, o que favorece ainda mais transmutações benéficas na consolidação desse mercado que hoje reoxigena a cena musical brasileira. O Macaco Bong já tocou em 24 das 27 unidades federativas do Brasil, além de países como o Canadá, Argentina e Espanha, em 5 anos de banda e praticamente deu seus CDs, usando mais como um cartão de visita do que fonte de renda. Atingimos a sustentabilidade com a circulação e é muito mais bacana a arte chegar dessa maneira, humana, presencial, do que num produto embalado no shopping.

Rockazine: O rock instrumental ainda não é um gênero muito popular no Brasil. Embora bandas como Camarones Orquestra Guitarrística e The Deads Rocks também façam difusão desta sonoridade. Entretanto, diferentemente das bandas citadas, o rock instrumental feito por vocês possui uma singularidade. No que se inspiram na hora de compor? E porque escolheram rock instrumental? Ney: O Bruno (guitarrista) e o Ynaiã (baterista) já atuavam profissionalmente como músicos no Donalua, uma banda de power pop que puxou a cena autoral em Cuiabá no início da década de 2000, juntamente com as ações do Coletivo Espaço Cubo. Ambos se conheceram no curso de verão da escola de música de Brasília, onde tiveram acesso a outras concepções. Não tardou pra cozinha do Donalua montar um projeto instrumental, o Macaco Bong, que na época era um quarteto. Eu entrei pra banda um ano depois da formação, e fechamos no formato trio. Na hora de compor não tentamos soar dessa ou daquela maneira, mas simplesmente damos vazão ao que agrada os nossos ouvidos, de maneira espontânea. As músicas têm muito mais arranjos definidos do que improvisos, mas são executados sempre com muita expressão e liberdade. Rockazine: Vocês já tocaram em diversos festivais e estados do Brasil. Além de possibilitar uma divulgação do trabalho da banda, quais as outras vantagens em participar desses festivais? Ney: Sem dúvida o intercâmbio das cenas culturais. Poder contribuir com a formação da rede do Circuito Fora do Eixo, fazer conexões com bandas, produtores, comunicadores, videomakers, selos, casa de shows, e muito mais agentes dessa cadeia produtiva, todos com muito suor, mão na massa e sedentos por novas parcerias. Acaba que mostrar o trabalho da banda vira uma experiência a mais em meio a um mar de possibilidades. O Grito Rock (festival que começou em Cuiabá e esse ano aconteceu em 130 cidades em 10 países), produção de vídeos colaborativos, podcasts, artes visuais, literatura, artes cênicas (teatro, dança, circense)... os festivais são grandes mostras anuais do que de melhor acontece nas cenas das cidades em eventos menores durante todo o ano. E hoje a coisa cresceu de um jeito que o território brasileiro tem festivais o ano todo. Só na Abrafin são 47 filiados, quase 4 vezes o número de meses do ano. Sem contar outros vários festivais que surgem a cada ano.


foto: luciano oliveira

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Rockazine: Qual o perfil de cada integrante? Além de músicos possuem outras ocupações? Ney: Trabalhamos 100% do nosso tempo com o Macaco Bong e com o Circuito Fora do Eixo. Hoje a lógica do mercado da música é outra, então não existe mais a figura da banda que só ensaia, toca, vive a vida rock and roll e não faz mais nada. Auto administrar a própria banda exige uma série de novos aprendizados. Dedicamos algumas de nossas habilidades específicas em setores estratégicos mas todo mundo faz tudo. De limpar a casa à criação, de uma articulação de turnê ao contato com imprensa. Eu tenho mais o perfil de comunicação e distribuição, o Ynaiã de agente-manager e o Bruno de produtor musical e técnico de áudio. Também trabalhamos nessas mesmas áreas, e em outras, na rede Fora do Eixo. Rockazine: Vocês acreditam que essa facilidade de produzir, gravar e disponibilizar na internet acabou deixando o mercado musical inchado devido a imensa variedade de bandas e sons, muitas vezes sem critérios de qualidade sonora? Ney: Não achamos que deixou inchado não, muito pelo contrário, isso é que está refazendo a produção da música e o surgimento de novas estéticas e tendências, principalmente nesse momento do Brasil. As ferramentas estão aí. É lógico que quando aumenta o número de bandas, aumenta-se também o número de bandas que trabalham pouco, sem critérios de qualidade sonora ou de gestões pretensiosas e desastrosas. Mas pra quem realmente está disposto a se dedicar a trabalhar com música, na humildade, com suor, é muito fácil abrir portas, entrar em portas que já foram abertas, usando e abusando das ferramentas disponíveis. E o fato de poder ter uma conexão direta com o público sem depender da intermediação das grandes gravadoras ou da grande mídia permitiu uma renovação estética na cena musical brasileira. Nunca tivemos tantas bandas boas, de tantos lugares diferentes, circulando tanto e criando tanto público como agora. Rockazine: Quais são as principais dificuldades enfrentadas no Brasil para se fazer música? Ney: O rala cotidiano da construção de um mercado que por muitos anos foi viciado, e a busca por sobrevivência nesse mercado em que o capital de giro ainda não atende sua demanda. Mas a partir dessas dificuldades, criam-

-se tecnologias alternativas, troca de serviços, moedas complementares. Não nos tornamos reféns das dificuldades e construímos tecnologias e viabilidades alternativas. Outro ponto é a alta nos preços dos equipamentos que ou são importados, ou produzidos a altos custos no Brasil. Nos últimos anos têm aparecido novos fabricantes no mercado médio, luthiers, fabricadores de amplificadores, caixas, com um padrão de qualidade que se supera cada vez mais. Mais uma vez vemos aí a criação de viabilidades alternativas. No sentido trabalhista, o grande gargalo é a falta de uma entidade que nos represente. O ECAD é uma vergonha. Tá mais pra carrasco do que parceiro do músico. Também o pensamento engessado arcaico de muitos músicos que ainda não entenderam a nova lógica ou não desceram do alto de seus egos de artista. Mas estamos caminhando a passos largos para a resolução desses problemas.


fotos: silvia noronha

Rockazine: Como avaliam o momento atual que vocês vivem? Ney: É dicotômico. Ao mesmo tempo que é muito especial e temos muitas conquistas, temos a sensação de que apenas começamos. Temos apenas 5 anos de banda, e apenas um disco lançado. Rockazine: Como é a cena de Cuiabá e do MT? Ney: Quente como a cidade. Não é a toa que a cena foi apelidada de Hell City. Nos últimos anos a internet trouxe mais viabilidades de comunicação e articulação, ao mesmo tempo em que algumas pessoas começavam a se mobilizar. O Espaço Cubo, coletivo através do qual formamos a banda, atuou fortemente na cultura da cidade, seja como produtor de eventos, mobilizador dos fóruns públicos, diálogos com o poder público e trazendo novas

alternativas de trabalho. Vale destacar o Cubo Card, moeda solidária criada pelo coletivo, aceita em restaurante, papelaria, tatuador, camisetaria e vários outros produtos e serviços agregados. Cuiabá é a cidade onde começou o Festival Grito Rock, que esse ano aconteceu em 130 cidades em 10 países. Tem o Festival Calango, Semana do Audiovisual, a Casa Fora do Eixo e muitas bandas que já circulam pelo Brasil. Tem vários núcleos de comunicação, que atuam de maneira integrada e formam o MIC Mídias Integradas Cuiabanas (www.miccuiaba.wordpress. com). A CUFA - Central Única da Favelas, que assumiu a vice-presidência da Cufa nacional... Cuiabá passou de cidade que ninguém conhecia a uma das cenas culturais mais importantes do Brasil. Rockazine: Como vocês encaram a cena independente do rock brasileiro na atualidade? Existe muito intercâmbio entre os artistas? Ney: Existe e muito. Existem muitas bandas circulando e elas se encontram frequentemente. Um grande exemplo disso é o Grito Rock. Temos no cenário muitas bandas que também são fazedoras de cultura, realizadoras de eventos, e são figuras ativas nesse intercâmbio. Nunca aconteceu de o Brasil ter tantas bandas, tantas turnês e tantas localidades diferentes recebendo essa cultura circulante como agora. Rockazine: O que esperar de Macaco Bong esse ano? Ney: Vamos lançar o CD e DVD ao vivo “Macaco Bong e Convidados”. O disco foi gravado no auditório do Ibirapuera e o DVD no Palácio das Artes em Belo Horizonte. São basicamente as músicas do Artista Igual Pedreiro com piano, percussão, flauta transversal, rabeca, saxofones e trombone, com Vítor Araújo, Jack (Porcas Borboletas), Siba e o quarteto de metais do Móveis Coloniais de Acaju. Também estamos residentes na casa paulistana Studio SP. Uma quinta por mês realizamos o Macaco Bong e Convidados, sempre com convidados diferentes. Também estamos trabalhando um projeto conjunto com o Emicida. Rockazine: Se fosse pra definir a ideologia da banda em uma frase, qual seria? Ney: Do it yourself já era. Agora é do it together.

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>> walverdes


Texto Karina Francis

O break que não é dance dos

Walverdes Dizem que tudo o que é bom, dura pouco. Mas, com certeza essa frase não é valida quando estamos falando da banda Walverdes. A banda gaúcha já está na estrada nada mais nada mesmo do que 17 anos e é formada por Gustavo “Mini” Bittencourt (guitarra e vocal), Marcos Rubenich (bateria) e Patrick Magalhães (baixo e vocal). Considerando as mudanças frenéticas que a cadeia produtiva da música independente passou dos anos 90 pra cá, podemos dizer que Walverdes não só acompanhou todas as mudanças como também passou a fazer parte de todas elas. “O cenário da música mudou bastante desde que começamos. Na verdade mudou quase tudo, todo o jeito de operacionalizar a banda e distribuir nosso som. Mas em termos de fazer o som não mudou muita coisa, ainda estamos falando de três guris que gostam de fazer som juntos. O que acontece é que com 17 anos de estrada fica tudo mais prático, a gente conseguiu aprender nesse tempo todo”, afirma Gustavo. A banda surgiu no início dos anos 1990, e rapidamente derrubou as fronteiras geográficas e estéticas do chamado rock gaúcho pra tocar em todo país ao lado de bandas importantes como Nebula, Breeders, Supergrass, Nada Surf, MQN, Forgotten Boys, Autoramas, Nação Zumbi, entre outras. No total, a banda já lançou cinco fitas cassete e quatro CDs. O disco Breakdance, lançado pelo selo Monstro Discos, reúne 8 músicas

inéditas e uma regravação de uma antiga música da banda que até então só havia sido lançada em fita cassete na Demo Amarela em 1994. “O processo de produção foi o seguinte: tínhamos um número razoável de músicas compostas em ensaios, e algumas até já tocadas ao vivo, escolhemos o produtor Julio Porto. Daí gravamos as bases no estúdio do Vicente no IAPI, então gravamos as vozes no estúdio da Loop Reclame, então o Julio propôs que o Beto Machado mixasse e assim foi feito no estúdio Soma. Depois, a masterização foi feita por um masterizador americano que tinha masterizado o disco da Pública também “, diz Gustavo. O nome do disco Breakdance é inspirado nos filmes de breakdance lançados nos anos 90. “Quando éramos crianças esse tema passava na Sessão da Tarde, então é uma sensação gostosa relembrar”, conta Gustavo. Mas, não pense que as músicas são referência ao nome do disco. Na verdade as músicas em nada lembram a estética do disco. Os sons são uma mistura do que há de melhor dos anos 1960, 70, 80 e 90. Para a banda a diferença deste álbum para os outros é que cada música ganhou sua identidade. “Por um lado, voltamos pras letras mais toscas. Por outro, tivemos uma abordagem diferente de produção, com cada música ganhando personalidade própria”, finaliza Gustavo. Como eles conseguiram reunir um pouco de tudo em um único disco? Não sei, só sei que de certo e o resultado ficou muito bom.

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foto: claudia schulz

>> rinoceronte

Texto Karina Francis

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Nasceu: Rinoceronte A região sul do Brasil é conhecida pelo nascimento de boas bandas. E, é lá que “nasceu” a banda Rinoceronte. Formada por Paulo Noronha (Voz e Guitarra), Vinicius Brum (Baixo e voz) e Luiz Henrique “Alemão” (Bateria), o trio está conquistando cada vez mais seu espaço no cenário alternativo apresentando sua forma de fazer música. Em 2009, a banda lançou um EP com quatro faixas, intitulado Rinoceronte, e caiu na estrada. Foram mais de 15 shows passando por Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo. No ano de 2010, o grupo lançou o seu primeiro álbum chamado “Nasceu”. O disco teve a produção de Gustavo Vazques e foi coproduzido por Luiz Maldonalle. Além disso, o CD foi lançado pelo selo Monstro Discos. “Conhecemos o Gustavo Vazquez e o Luiz Maldonalle no Goiânia Noise de 2009.

Estavam com um home estúdio no pátio do Martim Cererê fazendo gravações ao vivo de bandas que se inscreviam durante os dias do festival. Tocamos na sexta-feira e conhecemos os caras. No sábado, fomos conferir os shows da noite e acabamos nos inscrevendo pra gravar também”, explica Paulo. Foi a partir desse contato que se deu início a gravação do álbum. “A partir daí começamos a planejar a gravação do disco. No ano seguinte rolou uma viagem para o centro do país onde fizemos uma Tour Fora do Eixo com 14 shows em 4 estados e que começou pelo Festival Bananada de 2010. Aproveitamos então pra executar o projeto do disco. Ficamos 35 dias fora de casa, rodando. Destes 35, no mínimo 15 foram em Goiânia”, conta Vinicius. Todas as dez letras de Nasceu são escritas em português e retratam um álbum com uma sonoridade pesa-


banda ao vivo tocando todo o disco. Talvez se torne até um produto pra linkar com o CD depois. O audiovisual é indispensável na apresentação de uma banda hoje. A internet facilita tudo e não há mais como separar texto, foto, vídeo, som”, diz Vinicius. E neste ano o objetivo do grupo é divulgar o disco e marcar presença em festivais. “Os projetos pra 2011 são muitos. Fazer o máximo de shows divulgando o disco Nasceu, aprimorando cada vez mais e afinando a organização interna da banda. Participar de uma série de festivais, alguns pela primeira vez e voltando a outros. Potencializar nossas parcerias com o Macondo Coletivo, Fora do Eixo e Monstro Discos. Gravar o segundo CD que já tem o processo de composição em andamento. Colocar em ação estes projetos de clipes e quem sabe dar uma saída do país. Temos Argentina e Chile na mira”, afirma Paulo. Embora a banda Rinoceronte seja nova, isso não é motivo inibidor do potencial do trio. Muito pelo contrário, esse gás de nascimento se traduz numa força de vontade essencial para quem busca trilhar esse caminho. Eu poderia enumerar diversos pontos positivos sobre a banda, mas paro por aqui, na esperança de que quem não conhece escute e comprove o que estou dizendo. Esse é apenas o nascimento de uma longa historia.

foto: douglas ritzel

da na medida certa e um com uma produção impecável. Algumas referências de Black Sabbath e Led Zeppelin fazem parte da construção das faixas. “O disco ficou com pegada ao vivo, sem auto tune e minimamente editado. As outras gravações que havíamos feito sempre precisaram demais daquele trampo de corte e costura nas pistas pra encaixar tempos e tal. Desta vez sacamos mais a energia do som, do lugar e das pessoas que estavam lá. Relaxamos e foi ótimo. Gravávamos sempre somente enquanto estávamos sóbrios (risos), ajudou pra ficar massa”, afirma Paulo. Quando questionados sobre a inspiração das letras, eles afirmam que procuram falar sobre o que é comum. “Sempre tentamos escrever sobre coisas que são comuns a todos, que sejam universais, quem nunca acordou de ressaca, quem nunca viu o dia nascer, quem não tem um furacão dentro de sua cabeça ou se olhou no espelho e viu a verdade?”, questiona Alemão. Embora novos na estrada, eles mostram que não são de perder tempo e já possuem um clipe “Anda no ar”. Para eles a importância do trabalho audiovisual para uma banda é um investimento fundamental considerando a visibilidade da Internet. “Achamos que é essencial um trabalho de audiovisual. Temos vários planos em andamento para novos clipes e um especial que é de gravar a

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Texto Karina Francis

Vivendo do

“Ócio” Eu costumo receber vários discos de bandas independentes do Brasil. Até que, certo dia, recebi um pacote diferente. Vendo o endereço vejo que é de uma banda de Londres. Claro que achei estranho! Afinal não tinha noção de que o Rockazine estava circulando em solos europeus. O disco que estava no pacote era de uma banda que eu não conhecia, chamava-se Ócio. Como todo material que eu recebo ele foi para a avaliação. Não escrevo do que não gosto. Também não acho legal ficar falando mal de certas bandas porque gosto é algo muito subjetivo e, além disso, não sou nenhuma sabe tudo de crítica musical. Por isso, no Rockazine seguimos o principio de escrever no que acreditamos. É assim com todas as bandas. Mas não é que o som daquele CD vermelho era bom! Além disso, a banda me despertou a curiosidade de jornalista de saber como é a cena fora do Brasil. Formada por Daniel Furlan (vocal e guitarra), Rod Larica (baixo e vocal) e Jaana Mae (vocal, bateria, flauta e percussão) a banda Ócio mostra no CD Guilty Beat um trabalho maduro e bem desenvolvido. O disco Guilty Beat é composto por dez faixas. O vocal é compartilhado pelas vozes de Daniel Furlan e Jaana Mae. Uma parte do álbum foi gravada em Fradinhos, Vitória, no estúdio Casa da Floresta, com o baterista Patrick Preato. Ele deixou a banda no início de 2009. A outra parte do disco foi gravada no Urchin Studios, em Londres, dos ingleses Matt Ingram e Dan Cox, responsáveis pela produção de Guilty Beat. Entretanto, este não é o primeiro disco do grupo. Em 2006 lançaram Mood Swings. Nessa época ainda moravam em terras tupiniquins. Não houve um planejamento para mudar de país, eles foram fazendo shows e acabaram ficando de vez. Mas esse tempo fora resultou em experiências bacanas e possibilitou outra visão do cenário musical. Na entrevista abaixo você vai entender a opinião deles sobre esse assunto.

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>> www.rockazine.com.br << foto: kate bloomfield

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Rockazine: O que levou a banda a deixar o Brasil e se mudar para Londres? Daniel: Na verdade não foi nada muito planejado... Sempre tivemos vontade de viver essa experiência e teve uma hora que sentimos que o momento era bom e viemos. Começamos a fazer uma boa sequência de shows e fomos ficando. Rockazine: Como avaliam o cenário de música independente no exterior? Existe apoio, bons festivais e uma união de músicos voltados para cena alternativa? Daniel: Há um mercado muito maior do que eu estava acostumado, mas também há muito mais bandas, então tem que ralar muito aqui também. O bom é que as casas de show não se comportam como se estivessem fazendo favor pras bandas. Apesar de ser óbvio, é muito mais claro aqui que as bandas são necessárias pra fazer essa cena toda girar. Na Inglaterra tem muito festival, quando chega o verão é festival de rock pra tudo quanto é lugar, rock alternativo não é coisa de uma parcela pequena e elitizada da população, como no Brasil. Mas os melhores festivais que a gente tocou foram fora da Inglaterra. Em relação às bandas, Londres é bem cada um por si, salvo raras exceções. Isso é bem escroto. Rockazine: O que é ser independente para vocês? Daniel: É poder fazer o que quer, mas não ter o suporte necessário pra fazer o que quer. Rockazine: Vivem financeiramente de música? Daniel: Não. Eu por exemplo também traduzo videogame. Apesar daqui ter várias vantagens que eu citei antes, de uma forma geral as bandas independentes só tendem a se ferrar, acho que em qualquer lugar. Bonita mensagem, né? Mas é isso, o sistema monta em cima por que sabe que tem gente louca pra aparecer e faz o que faz por amor. Quando veem que você faz por amor, é aí que seu ponto fraco ficou exposto. Por isso sempre tento passar a impressão que odeio o que estou fazendo. Rockazine: Como avaliam o cenário da musica independente no Brasil? Daniel: Posso falar mais de Vitória, que era onde a gente morava. De uma forma geral, parecia haver um interesse preguiçoso em bandas autorais, com muitas bandas cover e DJs de hits, e a maioria das pessoas parecia ser dotada de uma frouxidão cultural, o que mantinha as coisas daquela forma. Mas das últimas vezes que estive lá, parece ter ficado mais interessante, não sei se é impressão, mas acho que várias bandas autorais com uma diversidade de estilos maior foi aparecendo, muitas vezes com um público de interesse real, o que é mais importante do que atrair uma atenção ampla, mas superficial.

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>> ócio

>> www.rockazine.com.br <<

Rockazine: Qual o conceito de Guilty Beat e Mood Swings? Daniel: No Mood Swings, todo o processo de gravação e mixagem foi pra ficar do jeito que a gente achava que deveria ficar. Tínhamos uma ideia de como deveria soar e fomos atrás disso desde o primeiro até o último momento do processo. São 11 faixas distintas que falam sobre o mesmo assunto. É um disco um pouco mais masculino e agressivo. No Guilty Beat, a gente queria capturar o momento. Gravamos num live room, todo mundo junto, e mexemos o mínimo possível depois. Queríamos que soasse como a gente estava ali naquele período, inclusive as imperfeições. Não tem nada mais maçante do que um trabalho perfeito. São 10 músicas ligadas por uma letra só, que começa na primeira faixa e termina na última. O Guilty Beat também é agressivo, mas de uma forma mais delicada, acho. Rockazine: Como foi o processo de produção do álbum Guilty Beat? Daniel: A gente já tinha uma música gravada em Londres e duas em Vitória, e depois disso ficamos um bom tempo trancados no estúdio de ensaio finalizando as outras faixas. Daí fomos para o Urchin Studios, e começamos a gravar todo mundo tocando junto, mas com clique. Tava ficando meio engessado e resolvemos experimentar sem clique mesmo, e ficou muito melhor, mais solto. Então o disco de uma forma geral tem composições mais elaboradas que o Mood Swings, mas a execução é mais crua. O tempo flutua, o vocal vacila, você ouve barulhos como eu pisando

no pedal, sirenes passando na rua e outros ruídos que supostamente devem ser tirados do produto final, mas tentamos captar o momento o mais fielmente possível. Depois o Larica, que é baixista, acrescentou uns detalhes de guitarra, a Jaana uns estalinhos de dedo, meia-lua e flauta, e o produtor Matt Ingram um piano elétrico. Ficar editando batera e passando auto-tune na voz não rolou nessas músicas. Acho ótimas as novas tecnologias de produção musical, mas o grande desafio eu acho que é conseguir fazer a banda soar bem como ela é, resistir à sedução dos truques tecnológicos, que prometem resolver sua vida rapidinho, sem esforço, mas deixam seu som aguado, genérico. Rockazine: Com que frequência estão no Brasil? Vocês acompanham o cenário da música alternativa aqui? Se sim, quais as bandas brasileiras que acham promissoras? Daniel: A gente foi tocar quatro vezes no Brasil desde que chegamos na Inglaterra. Difícil dizer sobre bandas promissoras, normalmente eu gosto das que dão errado. Mas gosto muito do Fadarobocoptubarão... Tocamos num festival com o Macaco Bong e foi um dos melhores shows que vi. Tem também meus ídolos do Chico Cuíca Sound System e Zero Zero. Rockazine: Vocês pretendem voltar para o Brasil? Daniel: Não sei, da mesma forma que viemos meio do nada, poderíamos voltar um dia do nada... ou do nada ir ficando por aqui mesmo. Vamos ver pra onde as coisas vão levar a gente.


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foto: david benincรก


>> artigo

Texto Mary Camata

>> alamaryjanne.blogspot.com <<

A força do Grito Rock Parece impossível imaginar que um evento que circule produção alternativa e independente de música e cultura no Brasil, possa acontecer todos os anos, durante um mesmo período em mais de 130 cidades no Brasil e em 10 países. Sim, este evento acontece e se chama Grito Rock e já é considerado o maior evento integrado do planeta. Nascido no Cuiabá (MT) no ano de 2003 exatamente no período do carnaval, nascia o Grito Rock, um evento de baixo custo e que abria espaço para novas bandas se apresentarem. Em 2011, o Grito Rock que é uma produção do Circuito Fora do Eixo filiado a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) chegou em sua nona edição. O festival conta com uma parceria do Toque no Brasil, que disponibiliza mais de mil vagas para bandas e artistas do Brasil e do Mundo. O Toque no Brasil é uma plataforma de diálogo entre artistas e produtores que visa dinamizar e fortalecer o valor a música, facilitando o encontro de quem toca e de quem realiza os eventos. No Toque no Brasil, os produtores abrem vagas para os seus eventos onde as bandas podem se inscrever, o que acaba concentrando um grande número de opor-

tunidades para os artistas. Para que a banda seja conhecida, é necessário criar um perfil onde o artista carrega suas mídias. A expectativa para os últimos dois anos era de que o ingresso das bandas no Toque no Brasil aumentasse em 150% o número de bandas em circulação na cena da música. A ideia de promover um festival que circule no mundo vai muito além de estimular a produção. Segundo o gestor nacional do Grito Rock 2011, Felipe Altenfelder, o Grito Rock é um estímulo a conexões em rede, fomenta a circulação de artistas, além de aumentar a distribuição e a comercialização de produtos, incentiva a formação de agentes culturais e dissemina novas bandas pelo Brasil. O Grito Rock ainda oferece além da programação musical em diferentes regiões do Brasil e do mundo, uma grade voltada a palestras, oficinas, debates e workshops. Grito Rock Apesar de ter o “rock” no nome, o Grito não restringe a programação a estilos. Uma das organizadoras pioneiras do festival, Marielle Ramires, conta que

Graduada em Comunicação Social e pós-graduada no Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (RO). Atualmente é editora-chefe do Jornal Correio Popular, foi coordenadora do Curso de Comunicação Social do Ceulji/Ulbra e assessora de imprensa de alguns festivais de rock em Rondônia. É fotoógrafa e também dona do Blog A La Maryjanne.


fotos: mary camata

A banda acreana Fridas se apresentou no Grito Rock de Ji-Paraná, em Rondônia

“quando iniciamos, o rock era o diferencial da ação, mas com o tempo a rede de produtores foi entendendo que se a atitude for rock, o som pode ser em qualquer ritmo”, se referindo ao lema “faça você mesmo” que nasceu no punk rock e tem sido adaptado para o “façamos juntos” no movimento independente nacional em ações como o GR. Tamanha grandeza do Grito Rock que contempla também bandas que trabalham direta ou indiretamente “dentro de casa”, podendo também fazer um intercambio em outros Grito Rock espelhados pela América Latina. “A grande importância do Grito Rock vem desta possibilidade da grande circulação de artistas, críticos da cena espalhados em diversos pontos do Brasil e do mundo, além de um intercambio rico em tecnologia e informação entre os pontos realizadores dos mais diversos lugares”, disse Nettu Regert, organizador do Grito Rock na cidade de Vilhena, em Rondônia. O organizador do Grito Rock de Palmas, em Tocantins, André Porkão, falou sobre a difícildade em realizar o evento sem verba publica. “O Grito Rock Tocantins foi excelente na qualidade de shows, tivemos um público razoável. Poderia ter sido muito melhor se tivéssemos apoio publico para a realização destes eventos para a população.”, disse Porkão. Os eventos do Grito Rock no Brasil aconteceram em vários locais do Brasil durante os dias 19 de fevereiro e 28 de março e é uma produção do Circuito Fora do Eixo em conjunto com os coletivos de todo o Brasil.

A banda Lopes foi de Cuiabá (MT) para Palmas, em Tocantins para se apresentar no Grito Rock Palmas

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>> artigo

Texto Fabio Gomes

O “fim” do MySpace >> www.somdonorte.com.br <<

Ainda referência em música na internet, site não tem justificado a fama, perdendo em funcionalidade para os brasileiros PalcoMP3 e Conexão Vivo

Outro dia eu conversava pelo bate-papo do Facebook com uma artista cujo trabalho recém-conhecera pela internet: a cantora capixaba Tabatha Fher. Quando perguntei onde podia ouvir o seu trabalho, ela respondeu que ainda está finalizando seu primeiro CD, e que por enquanto eu poderia ouvi-la em sua página no MySpace. De fato, o MySpace ainda é o primeiro nome que vem à cabeça da maioria das pessoas quando se fala em música na internet. Porém, entendo que há muito o site deixou de justificar a fama. Ao longo do tempo, o MySpace foi deixando de lado o que tinha de bom (outrora uma plataforma de downloads, hoje o site parece mais uma central de vendas de música digital) e, simultaneamente, nada fez para resolver seus pontos fracos (o player, pesado, é a última coisa que carrega na página). Sem contar que, hoje, se você não estiver logado no site,

vai poder ouvir no máximo 3 músicas, depois disso só tem liberado 30 segundos de cada faixa. A exigência de login se deve ao fato do MySpace ter tentado se tornar (talvez tarde demais), uma rede social. Mas quem vai abrir uma conta no site apenas para ouvir música aos pulos, já que o player emperra a todo momento? Foram coisas como estas que respondi à banda amazonense Amazônica, que por várias vezes me escreveu no Twitter pedindo que eu visitasse seu MySpace. A banda agradeceu a dica, e aproveitou para perguntar quais seriam então os melhores sites para deixar o som à disposição. Eu indiquei o PalcoMp3, o Conexão Vivo e o 4Shared. Destes, os que mais se assemelham ao MySpace são os brasileiros PalcoMp3 e Conexão Vivo. A banda cria sua página, inclui release e fotos e sobe suas músi-

Gaúcho de Porto Alegre, formou-se em Jornalismo pela UFRGS em 2001. Edita o blog www.somdonorte.com.br e os sites www.brasileirinho.mus.br e www.jornalismocultural.com.br. Atualmente mora em Belém do Pará, de onde colabora com o Rockazine e a revista Intera, de Manaus.


foto: rodrigo rosenthal

cas. Nos dois o player começa a rodar tão logo se abra a página. Quanto a downloads, no Conexão Vivo isto é opcional, enquanto é a regra no PalcoMp3 – tudo que ali pode ser ouvido pode ser baixado. Talvez por isso o site ainda tenha pouca presença de artistas de MPB – muitos ainda torcem o nariz para downloads, apostando na venda do CD físico. Já o 4Shared segue outra lógica – ele é antes de tudo um site de compartilhamento e hospedagem de arquivos, sendo mais utilizado pelas bandas para lançamentos de CDs, EPs e singles. Ao contrário de similares como o Mediafire e o Rapidshare, o 4Shared dificilmente apaga seus arquivos sem aviso prévio (a internet está cheia de blogs indicando links para download que já expiraram). Além disso, o 4Shared permite que você escute online o som hospedado, antes de decidir se baixa ou não – é possível inclusive obter o código do player para publicá-lo em seu site ou blog, exatamente como se faz com os vídeos do YouTube. O YouTube, aliás, acaba também sendo uma opção para a difusão de som, como talvez a mais poderosa alternativa ao MySpace. Foi, por exemplo, a solução que adotei para conhecer melhor o trabalho de Tabatha Fher, até que seu CD seja lançado.

Links dos sites citados: • MySpace - http://br.myspace.com/ • PalcoMP3 - http://palcomp3.com/ • Conexão Vivo - http://www.conexaovivo.com.br/ • 4 Shared - http://www.4shared.com/ Tabatha Fher, cantora capixaba

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>> tecnologia Texto Artur Guimarães

S...M... o quê???

>> www.rockazine.com.br <<

imagem: divulgação

Mídia criada por brasileiro diminuiu os custos da produção de discos e permitiu que bandas independentes lancem obras acessíveis no mercado

“Disco original com preço de pirata. É qualidade, vem com encarte, por apenas cinco reais”. É mais ou menos assim que um ambulante ofereceria um álbum no formato SMD (Semi Metalic Disc). A mídia criada no Brasil surgiu para combater a pirataria e reduzir os custos para produção de um disco. Sem dúvida, a pirataria é um dos principais problemas enfrentados pelas bandas, independentes, ou não. Em qualquer ponto de venda, encontramos CDs a um preço médio de 20 reais, destes, cerca de apenas 5% ficam nas mãos dos lojistas. Soma-se isso a facilidade de baixar músicas pela internet e a comercialização de CDs piratas em quase toda esquina e o resultado é a falência da indústria fonográfica. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos, entre 1997 e 2005, quase 50% dos postos de trabalho ligados à venda de CDs foram extintos e mais de 3.500 postos de vendas fechados. Com o intuito de diminuir os custos de produção, o artista Ralf conhecido pelo trabalho ao lado do irmão na dupla sertaneja Chrystian e Ralf, desenvolveu um método inovador de semi-metalização que toca em qualquer CD-player. “A ideia surgiu há alguns anos atrás quando comprei em Los Angeles

uma fita cassete da Tracy Chapman com duas músicas por 2 dólares. Percebi ali que poderia criar um produto mais barato”, afirma Ralf. O SMD possui a mesma qualidade de som e chega ao consumidor final com o valor fixado de R$ 5, o que inibe a venda de discos piratas e facilita o acesso de um número maior de pessoas ao trabalho da banda: “O Brasil já ocupa o quarto lugar na pirataria mundial, sendo na ordem China, Rússia, Índia e Brasil. As cópias ilegais (pirataria) ainda destroem artistas, gravadoras, selos e todos os envolvidos neste processo”, conta o cantor e inventor do SMD. Ralf anunciou o projeto em 2003 e declarou que os artistas iriam voltar a vender milhões de discos. O SMD não decolou como o previsto inicialmente, mas a cada dia novas bandas aderem ao formato. Hoje já são mais de 5 mil por todo país. A nova tecnologia de armazenamento de áudio e dados garante uma redução de 30% nos custos para fabricação quando comparados com o CD (Compact Disc). Diferentemente do que a maioria acredita, a produção em larga escala de um CD não é igual ao processo dos gravadores a lasers encontrados na maioria dos computadores. Uma matriz é criada e a partir da mídia original são produzidos os discos em um processo caro e demorado. O SMD diminuiu esse processo, o que garante o valor final mais acessível e com uma margem de lucro de 20% para os lojistas. As bandas com quem tenho contato dizem que a aceitação tem sido muito boa e que sempre conseguem vender vários discos depois dos shows. Talvez demore um pouco para as bandas e o público se adaptarem ao novo formato, mas sem dúvida ele surge como alternativa viável para diminuir a venda ilegal de discos. Acesse o portal SMD e entenda um pouco mais sobre a mídia: http://www.portalsmd.com.br/



Nesta Ediテァテ」o Loungetude 46, Macaco Bong, Rinoceronte, Walverdes, テ田io, Grito Rock, SMD


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