Revista Rock Meeting #14

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Editorial Uma palavra define bem o que chamamos de vida: “mudança”. Desde o momento em que somos gerados, até o desaparecimento de nossos corpos depois que morremos, passamos por mudanças, alterações externas e internas que são fundamentais para a manutenção da ordem natural das coisas. Você não é a mesma pessoa que foi ontem: seu corpo mudou, suas células têm morrido (e também se renovado) a todo instante, e você ficou mais velho. Uma das melhores coisas do mundo é que há mudanças pelas quais podemos optar. Você pode mudar tanto para pior, quanto para melhor. Não que a escolha seja fácil, mas quando se toma a decisão correta, somente coisas boas aparecerão em seu caminho. Assim como você, a Rock Meeting também não é mais a mesma. Mudanças positivas exigem tempo e dedicação, e, pouco mais de um ano depois do nascimento da revista, sabemos que mudamos para melhor, tanto como indivíduos, quanto como equipe. Para que isso acontecesse, precisamos passar por maus bocados, encarar desafios assustadores, enfrentar os nossos medos e superar muitos obstáculos. Mas tudo bem, sem problemas: sabíamos que não seria um caminho fácil, e perseverança é algo que temos de sobra. E você, está preparado para mudar?


O tem aqui?

02 Darth Jeder (Nova Coluna) 04 World Metal 06 Diรกrio de bordo 09Forfun 12 Mia Dolce Vendetta 19 EXCLUSIVO - Cruor 24 Perfil RM 25 Eu estava lรก

12


Antonio Fon

Expediente Direção Geral Pei Fang Fon Fotografia Pei Fang Fon Yzza Albuquerque Revisão Yzza Albuquerque Capa Lucas Marques Pei Fang Fon Equipe Daniel Lima Jonas Sutareli Lucas Marques Pei Fang Fon Renato Tiengo Yzza Albuquerque Colaboradores nesta edição Antonio Fon

Contato

Email: contato@rockmeeting.net Orkut: Revista Rock Meeting Twitter: http://twitter.com/rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting

As matérias não refletem, necessariamente, a opinião da revista, e sim de quem assina.


Darth Jeder

Carta de Um Velho Roqueiro a Um Jovem Guerreiro

Por Jeder Janotti Jr. (colunista da Rock Meeting, Headbanger e professor da UFAL-UFPE)

B

em, cá estamos nós, em plena era do

achavam que Heavy Metal era uma fase da

fim do CD, da fluidez musical, insistindo

adolescência, que, como muitas coisas na

em colecionar música, camisetas, ir a

vida, iria passar. Realmente, aquele tempo

shows em lugares “apertados” e sem infra-

em que eu podia dedicar quase tudo em

estrutura, enfim; no tempo dos descartes,

minha vida ao Heavy Metal passou, mas

continuamos a colecionar música. Mas,

deixou suas marcas.

sou fã de Heavy Metal, e como tal, aprendi

O

uma coisa que continuará comigo para

descoberta do prazer de dedicar-se ao

o resto de meus dias: sou dono do meu

mundo da música. Isso não é romantismo

tempo, pelo menos até que o famigerado

desconectado do mundo. É um romantismo,

ceifador exija que se pague o preço. It´s

sim, mas consciente de que ao comprar

heaven and hell. Mas até lá, quero ouvir a

o ingresso de um show, ou os álbuns de

música que quiser sem maiores pressões,

minha banda preferida, eu ajudo a mover

quero ser guiado por minha paixão pelo

as engrenagens do mercado da música.

Rock. Com o Metal, aprendi que não

Mas qual é o problema? Quero que minhas

preciso dedicar-me às modas da música

bandas preferidas possam viver de suas

sentimento

de

camaradagem,

músicas.

Pop.

Quero

que

a

a

C o l e c i o n o

cena local se fortaleça e

conhecimento musical, pois

que muitas bandas de fora

não

possam aportar suas turnês

basta

simplesmente Escuto

(mesmo que pequenas) em

música como um relojoeiro

Maceió. Negócio e música

dedica-se ao mecanismo

de boa qualidade devem

dos mais antigos relógios:

andar juntos.

ouvir

com

música.

paixão!

02 Rock Meeting

Meus

pais


A existência da cena de Metal depende de sua independência musical e de sua profissionalização. Fazer a Rock Meeting exige de suas editoras dedicação , abnegação de quem se dedica ao Rock, mas isso também implica sacrifícios. Por isso vos digo, jovens guerreiros, não confundam amor pela música com miséria. Dignidade no underground significa exigir boas aparelhagens de som, bons instrumentos, lugares legais para os shows, e isso não surge sem profissionalismo, característica de qualquer grande música para além dos gêneros musicais. Por isso, do alto de minha pilha de álbuns (de minhas coleções do Black Sabbath e Paradise Lost, aos últimos lançamentos do Amorphis e Anathema), com a respiração embargada pelo tempo e pelo álcool, eu vos saúdo, afinal como dizia aquela velha banda, de lendários roqueiros: “For Those About Rock, We Salute You”. Espero que os jovens passem por cima de minha geração, exijam mais, cada vez mais, lembrando que no negócio da música, manter sua paixão por um gênero musical que já foi diagnosticado como moribundo, acabado e fora de moda, é manter vivas as nossas possibilidades de escolha para além dos cartões postais e estereótipos que abundam por essas praias.


Ozzy Osbourne: participação no WOA 2011 confirmada

Slayer: Kerry King toca “Rattlehead” com Megadeth em show

A participação de Ozzy Osbourne foi anunciada para a edição do próximo ano do festival Wacken Open Air, que acontecerá entre 4 e 6 de agosto de 2011, na pequena cidade de Wacken, em SchleswigHolstein, norte da Alemanha. Bandas como Avantasia, Suicidal Tendencies, Apocalyptica e Blind Guardian, entre outras, também foram confirmadas.

No 21 passado, encerrou-se a turnê americana conjunta de Megadeth e Slayer, com um show em Los Angeles. Para deixar claro que antigas desavenças ficaram no passado, Dave Mustaine convidou Kerry King para tocar a música “Rattlehead”. Foi a 1ª vez que King tocou com o Megadeth em 26 anos (ele fez parte da banda em 1984). Confira o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=aVr4hvUX1ZI

Angra: lançamento oficial de novo vídeoclipe O Angra oficializou recentemente o lançamento do seu mais novo clipe. A música escolhida foi “Lease of Life”, e o material contou com produção de Paulo Calencci, fotografia de Kaue Zilli, direção de Ricardo Guidara, além da participação especial da atriz Vanessa Cristina. A banda disponibilizou o vídeo em seu canal oficial no YouTube. Confira: h tt p : / / w w w. yo u t u b e . c o m / watch?v=K3D_ENwGXrI

Apocalyptica: banda planeja fazer o maior mosaico de fotos de fãs do mundo Fãs de todo o mundo foram convidados a enviar fotos e tornar-se parte do maior mosaico de fãs já feito. Juntas, todas as imagens dos fãs formarão o “Mosaic Symphony”. Para participar, basta ter uma conta no Facebook, Twitter, MySpace, OpenID ou Yahoo, escolher a foto e enviar.

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Depois, é só esperar para baixar o pôster em que sua foto aparece e imprimí-lo de graça, assim que ele estiver concluído (uma vez que 10.000 imagens forem enviadas, ou quando a data de encerramento for alcançada, em 30 de novembro). Todas as fotos dos fãs, quando unidas, se transformarão na capa do álbum mais recente do Apocalyptica, o “7th Symphony”. Para ter uma ideia melhor de como a arte final ficará, acesse o endereço a seguir: http://apocalypticamosaic. sonymusic.de/home


Primal Fear: datas da turnê na América do Sul anunciadas Os alemães do Primal Fear agendaram as seguintes datas para sua turnê sul-americana, em fevereiro de 2011: 22/02 - Lima, Peru 24/02 - La Paz, Bolívia 25/02 - Buenos Aires, Argentina 26/02 - Rio de Janeiro, Brasil 27/02 - São Paulo, Brasil

Death: cinco primeiros álbuns relançados no Brasil Eis uma ótima notícia para todos os fãs brasileiros da Death, um dos maiores nomes da história do Metal: os cinco primeiros discos da banda, liderada pelo falecido Chuck Schuldiner, estão sendo relançados no Brasil pela Shinigami Records. “Scream Bloody Gore” (1987), “Leprosy” (1988), “Spiritual Healing” (1990), “Human” (1991) e “Individual

Foo Fighters: novo álbum, novo show, e ainda por cima, um filme Em entrevista ao programa do radialista Zane Lowe, da rádio britânica BBC 1, no dia 25 deste mês, o vocalista do Foo Fighters, Dave Grohl, anunciou que o grupo já está gravando um novo disco, e revelou que a banda já tem dois shows agendados na Inglaterra para junho de 2011. A informação é do site Terra. “Já temos sete músicas prontas e vamos fazer mais cinco ou

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Gorgoroth: banda anuncia novo álbum A banda de Black Metal Gorgoroth anunciou recentemente um novo álbum, que será lançado em 2011 pela Regain Records. Ele ainda não tem título. Também está sendo concluída, durante as sessões de gravação do novo disco, uma regravação do terceiro álbum da banda, “Under the Sign of Hell”, que será lançado no mesmo ano. Thought Patterns” (1993) receberão novos e longos encartes, contendo todas as letras e um texto sobre a carreira do grupo. Ficaram de fora apenas dois álbuns: “Symbolic” (1995) e “The Sound of Perseverance” (1998). Se você ainda não possui nada da banda, esta é a oportunidade pela qual estava esperando. A Death é até hoje considerada como uma das pioneiras do Death Metal, embora os exmembros não gostassem muito do termo.

seis. No último um mês e meio, gravamos na minha garagem, num sistema analógico, totalmente ‘old school’”, contou Grohl. “Todas as músicas são barulhentas, não tem nenhum violão acústico”, completou. O vocalista também afirmou estar com saudades dos outros integrantes: “Os últimos dois anos e meio foram muito legais, mas estava sentindo falta de tocar com eles”. Outra novidade sobre o Foo Fighters é a ideia de rodar um filme sobre a banda. “Já temos um diretor”, revelou Grohl.


GORESLAVE & ANDRALLS EM ARACAJU

Diário de bordo

Goreslave NA ESTRADA Por Messias Júnior O dia começou infernal... Após trabalharmos a manhã inteira, e depois de milhares de propostas de negociação para não tomar uma falta no emprego (ou perde-lo, o que é pior), conseguimos enfim fugir de nossas obrigações para celebrar o metal extremo em terras sergipanas. O passo seguinte foi conseguir colocar metade de uma bateria, guitarra e baixo, junto com várias mochilas dentro de um Palio. Detalhe: Ainda precisaríamos caber dentro dele. A viagem foi bastante produtiva. Definimos pontos do show, alguns detalhes de letras e músicas, conversamos diversas abobrinhas sobre os mais diversos assuntos. Interessante como a diversão e a ansiedade estão sempre nos inquietando. Felizmente enfrentamos uma estrada sossegada, bem sinalizada e com pouquíssimos pontos de congestionamento. Destaque especial para algumas cidades pelas quais passamos: Algumas pareciam Silent Hill (os gamers sabem do que estou falando)... Com direito a uma parada em um posto de gasolina abandonado, com apenas um frentista, armado. Chegamos em Aracaju por volta das 18h30. O calor era infernal, as pernas queimavam, os músculos doíam. Enfrentamos horas de trânsito infernal na capital sergipana (os semáforos de trânsito mais lentos que já vi na vida!), até encontrarmos com Fábio da banda Sign Of Hate, e também organizador do show. A essa altura da viagem, a fome e o cansaço da estrada já se mostravam impiedosos. Um bom banho, seguido de lanches bem reforçados nos deixaram novos de novo para o show que viria a seguir. A previsão de início do show era de 21 horas, mas como é praxe, o atraso normal aconteceu. O show aconteceu em um local chamado Espaço Cultiva, na orla de Aracaju. Um pouco afastado do centro, sem muitas opções de locomoção, o que também explica a quantidade de público, abaixo das expectativas. Muitos comentaram que pelo fato de ter sido um show feito em uma sexta-feira,

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muitos não puderam ir por conta de seus trabalhos, era também véspera de eleição... Problemas e realidades não muito diferentes entre as capitais. Organizar eventos é sempre uma roleta-russa. Bem legal o espaço, amplo, aparelhagem de som muito boa. Só a altura do palco não nos favoreceu. Particularmente para nós, que temos uma formação em trio, e com um baterista/vocalista. Mas nada que impeça de fazermos algumas cabeças se movimentarem... mas quase ninguém vê que é o baterista que canta... Reencontramos lá grandes amigos e amigas que fizemos nas três vezes em que tocamos lá. Depois de uma boa espera, a primeira banda da noite, Irrisório, sobe ao palco abrindo o show. O som dos caras é bem pesado, e bastante agressivo. Enquanto isso, encho minhas garrafas de “suco gummi” (mentira, somente água...) e me posiciono com minhas tralhas ao lado do palco. Já estou ficando com trauma de palcos altos. Toda vez eu necessariamente preciso cair ou tropeçar em algum deles. Se ele tem mais de um metro de altura, já fico nervoso. Pratos travados, cabos conferidos, pedais encaixados, tudo afinado... hora de subir e fazer

o “rock maneiro”. Para minha surpresa, não tive espaço para montar todo o set, e tive que limar alguns pratos e estantes. Não fomos surpresa para a maioria, pois já nos conheciam, inclusive cantando algumas de nossas músicas mais antigas, o que nos deixou bastante felizes. Um destaque para esse dia foi mesmo o calor, impressionante e muito forte, mesmo estando a metros da praia. Derretemos literalmente no palco. O público de Aracaju é sempre insano. Curtem o estilo e aprontam diversas rodas durante o show. Fizemos um apanhado de músicas, mesclando faixas novas com antigas, mais os covers que sempre gostamos de fazer. É um show a parte, e uma homenagem os nossos “professores”: Tocar um Cannibal Corpse ou um Morbid Angel é sempre uma alegria a parte para quem nos vê. 50 minutos depois, saímos do palco com a sensação de dever cumprido, e prontos para descansar. Muitos e muitos litros de H2OH e isotônicos pra segurar o calor. Depois vem a pior parte: desmontar e guardar tudo. Na próxima encarnação, quero vir flautista, gaitista, ou alguém que toque apito, reco-reco... algo que caiba nos bolsos, de preferência.


Depois sobe ao palco a Sign Of Hate, banda de Death Metal de Sergipe. Sempre competentes, fizeram um show bastante pesado, com musicas bem rápidas e técnicas. Fábio e sua trupe mantém a chama do metal extremo acesa. Já bem conhecidos do público, notouse uma clara interação entre banda e público. Brutal e rápido, como sempre, cada dia mais entrosados, a banda melhora cada vez mais. Chega o momento do Andralls subir ao palco. Acompanhei a passagem de som dos caras, e dali já tinha visto que a porradaria seria grande. Os anos de estrada fizeram muito bem ao trio, que executa o que eles chama de “Fasthrash”: um Thrash Metal muito rápido, direto, sem firulas. Chega o momento do Andralls subir ao palco. Acompanhei a passagem de som dos caras, e dali já tinha visto que a porradaria seria grande. Os anos de estrada fizeram muito bem ao trio, que executa o que eles chama de “fasthrash”: um Thrash Metal muito rápido, direto, sem firulas. O vocalista tem uma ótima presença de palco, e a interação entre eles e o público era muito boa. Um influencia clara de Sepultura das antigas e muito da cena alemã. Cerca de 1 hora de show depois, e muitos pescoços destruídos, o evento acaba. Parabéns ao Andralls, pela atitude, humildade, mostrando como se faz um Thrash Metal ignorantemente direto e com qualidade. O dia já estava amanhecendo quando finalmente achamos uma pousada interessante pra ficar. Daí foi dormir, acordar, e pegar a estrada de volta. Quase 600km percorridos, em pouco mais de 24 horas. Chegando em Maceió, de volta a realidade, ao trabalho... E aos puxões de orelha do chefe.


Polisensitividade, positividade e rock Jonas Sutareli (@sutareli | jonas@rockmeeting.net)

Fotos: IZP (Flickr For Fun)

Misturando essas vibes, o ForFun forma seu som. Na capital alagoana, numa casa de shows à beira da praia, a banda não decepcionou os fãs que foram prestigiar o grupo.

O evento, marcado para as 16h, começou com um pouco de atraso, o que é comum em qualquer lugar que se vá. Acontecem imprevistos e assim segue. Sem mais delongas, a banda que abriu o show foi a Deskarte. Lançaram um CD recentemente, têm músicas próprias, fizeram um show curto para poucas pessoas, a maioria ainda não tinha entrado. Logo após, subiu ao palco a banda de Power Pop Wake Up. Fazendo também um show não muito longo, pelo atraso, horário avançado, as coisas tinham que ser mais corridas. Também com músicas próprias e fazendo um cover de “Divina Comédia” da banda Scracho, a Wake Up fez também um show pra poucas pessoas. A fila estava enorme e o pessoal ainda entrava.

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Quando a maioria já tinha adentrado no recinto, a banda Belt sobe ao palco com seu Hardcore misturado com MPB. Tocando músicas autorais, a Belt fez um show consistente e legal. Encerraram com um cover de “Bemvindo ao Clube”, da aclamada banda de Hardcore, Dead Fish. O público, que curtia muito Dead Fish, pediu bis. Todavia, não foi possível, justamente por conta dos atrasos e da hora corrida. Após a Belt, sobe ao palco a atração pernambucana Bon Vivant. Com um Rock mais popular, uma pegada mais ao estilo Los Hermanos, a Bon Vivant mostrou que tem um público aqui e agitou a galera em seu show. Em seguida, a banda De$lucro sobe para fazer sua apresentação. A banda tem um excelente público na cidade, é bastante conhecida, toca apenas músicas autorais e fez um bom show. Músicas bem executadas, as canções agradaram ao público, que cantou praticamente todas elas músicas junto com a banda. Depois de muita espera, após todas essas atrações, sobe ao palco o Forfun. A banda interagiu com o público, que correspondeu satisfatoriamente. Executando a maioria das músicas do disco “Polisenso”, além do hit “História de Verão” e a primeira faixa do disco “Teoria Dinâmica Gastativa”, o Forfun fez um show consistente, bem executado, relativamente longo e agitado. Além de tudo, homenagearam Bob Marley e o alagoano Djavan, tocando um cover de cada, além de dedicar a música “Sigo o Som” para Heloísa Helena. No saldo geral, Forfun foi bastante satisfatório, alegre e agitado. Quem gosta da banda e foi prestigiá-los, não se arrependeu nem um pouco por ter ido.

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MIA DOLCE VENDETTA

CAPA Pei Fang Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Yzza Albuquerque (@yzzie | yzza@rockmeeting.net) Fotos: Antonio Fon (@antoniofon | www.fotofon.com.br)



Apesar do pouco tempo de existência, a Mia Dolce Vendetta tem dado o que falar na cena local. Confira a conversa que tivemos com os caras. Inicialmente, obrigado pela entrevista. Bom, apresentem a Mia Dolce Vendetta e a função de cada um na banda. Saulo - Nós é que agradecemos a oportunidade oferecida. A Mia Dolce Vendetta é composta por Carlos Peixoto (baixo), Igor Calado (guitarra), Hudson Feitosa (guitarra), Diogo Borges (bateria), Saulo Lessa (berros). A pergunta é bem clichê, mas qual o motivo por trás do nome Mia Dolce Vendetta? Saulo - Bom... Cansado de ver todas as bandas com nomes em inglês, resolvi pensar em um nome em outra língua, com algo relacionado a vingança. Testei várias, mas não curti nenhuma. Foi quando veio na minha cabeça o filme “V for Vendetta” (V de Vingança), e eu achei que o nome soou muito bem. Então resolvi traduzi Minha Doce Vingança para o italiano. E o resultado foi bastante interessante. O estilo adotado pela MDV é relativamente moderno para os mais conservadores. Por que a escolha do estilo Metal/Hardcore como o som base para as canções? Saulo - Todos da banda curtem muito o verdadeiro Metal. O Metal de origem, de fato. Mas queríamos associar o Metal raiz ao Hardcore. Esse “tempero” é mais uma estética, tendo em vista que a Mia Dolce Vendetta é basicamente Metal. Em poucas oportunidades você irá ouvir Hardcore no nosso som, embora eu goste muito. Diogo - De fato, sim, é atual, pois somos influenciados por bandas relativamente atuais (risos), porém não nos consideramos uma mistura de Metal com Hardcore, mas sim um Metal genuíno, nos moldes da contemporaneidade. E a escolha do estilo é por ser um estilo substantivamente expressivo, entre outros fatores. Carlos - A ideia da gente foi fazer um som pesado, extremo, com afinação Baixa (A) e letras fortes, sem privações, por isso nunca pensamos em rotular o som da MDV. Até porque são muitas as nossas influências. Quem escuta as nossas músicas logo percebe elementos de Grindcore,

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Thrash, Death Metal, Hardcore NY. A proposta da MDV é não ficar limitada a nenhum rótulo, e continuar fazendo um som pesado e trabalhado. Sabemos que a banda de vocês é bem nova. O que os levou a formá-la? Há quanto tempo exatamente estão juntos? Saulo - O que levou a MDV a ser formada, foi mesmo a junção de ideias iguais e vontades semelhantes. Estamos na ativa há seis meses. Diogo - Certamente a banda é bem recente. A banda surgiu espontaneamente, quando os respectivos fundadores, Diogo e Igor, haviam se encontrado para testar um amplificador de guitarra. Então, a partir de um diálogo entre nós, decidimos montar um projeto dentro da vertente Metal, sem fragmentar ou rotular minuciosamente. (risos) Carlos - Fui o último a entrar na banda. Fui convidado pelos caras, que já tinham começado a ensaiar sem baixista. Eu já estava querendo fazer essa linha de som há muito tempo, e quando recebi o convite, não pensei duas vezes. A banda é nova, tem aproximadamente seis meses de vida, mas é formada por músicos experientes, que estão na correria há anos e já tocaram em muitos projetos, o que facilitou muito no processo de composição das músicas. O entrosamento foi muito rápido, e isso me deixou bastante motivado com o projeto. A estreia da MDV foi no final de julho passado. Quais eram as expectativas do momento pré-show? E do pós show? Saulo - Bom, basicamente, nervosismo. Embora todos os integrantes da banda sejam acostumados com shows, só nós sabemos o quão pouco tempo tivemos para deixar a banda “redonda”, tendo em vista que o show de estreia de uma banda é muito importante! É literalmente o cartão de visita. Então, foi pouco tempo antes do show. Mas tudo rolou bem, e a repercussão foi maravilhosa. Depois, o sentimento era de segurança, afinal, o nosso papel estava sendo feito com vigor. Diogo - A expectativa pré-show era ingênua: apenas surpreender o público presente com um som extremamente pesado. E o momento pós-



show, foi só aguardar a diversidade de opiniões, para que pudéssemos melhorar o nosso som cada vez mais. Carlos - O primeiro show foi no Banga Metal Fest, evento que o Igor e o Saulo organizaram. Foi um show curto - nosso set ainda era pequeno, na época -, mas o público nos recebeu muito bem. O show foi bastante enérgico, a repercussão foi muito boa e logo apareceram vários convites para outros eventos. O que pensam da cena do Metal/ Hardcore do Nordeste? E a nível nacional? Saulo - Confesso que sou meio leigo quando se fala de bandas do Nordeste. Aprecio bastante uma banda do nosso estado, a Never Say Die Julieet. Mas a nível nacional, tem uma banda que eu gosto bastante, que é a Confronto. Diogo - Bom, a cena Metal/Hardcore daqui, não tenho competência suficiente para aprofundar a opinião, mas a cena do Metal de Maceió é bem oscilante, no sentido de que hora está constante, e em outros momentos não, o que acaba dificultando o lado das bandas, que precisam se apresentar para o público daqui. E a cena de Metal do Brasil sempre foi substancialmente significativa e forte, isso posso dizer com toda certeza. Carlos - A nível nacional, é bastante forte, já que a Liberation tem promovido muitos eventos com bandas do estilo (nacionais e gringas). Confronto é uma banda que eu curto bastante, em nível de Brasil. Na cena do Nordeste, eu posso destacar duas bandas que fazem a correria: Andragma (Salvador) e A Trigger to Forget (Fortaleza). Quais bandas mais influenciam o som de vocês? Saulo - No meu caso, Suicide Silence, Waking the Cadaver, Job for a Cowboy e tudo que for “Grind”. Diogo - As bandas que influenciam os integrantes da MDV são inúmeras, amplamente, desde outros estilos de Rock como de Metal, por exemplo: curtimos de Motörhead a Meshuggah. Carlos - No meu caso, as bandas que me influenciaram diretamente para tocar nesse projeto foram Napalm Death, Six Feet Under, Unearth, Lamb of God, Job for a Cowboy...

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Vocês curtem algum estilo musical fora do Rock/Metal? O que mais vocês ouvem? Saulo - Com certeza! Curto muito Rap, Pop, Samba... Não tenho a cabeça fechada. Dentro do Rock, curto bastante Grunge, Hardcore, Power pop... Diogo - Sim, a maioria dos integrantes escuta Rock e Metal, mas dois ou três integrantes escutam desde a música clássica ao Fusion. Carlos - Ouço muitas coisas diferentes: música experimental, Eletrônica Industrial, curto muito Johnny Cash, Joe Strummer (The Clash), Depeche Mode, Nine Inch Nails... Como é o processo de criação das canções da Mia Dolce Vendetta? Saulo - No início, eram criados arranjos e melodias no computador. Depois, eram passados para cada um, e a música ia ganhando vida. Mas agora, estamos construindo nossas músicas nos ensaios, sempre quando alguém vem com uma nova ideia. Diogo - O processo de composição é bem complexo: algumas vezes, um só integrante faz a música. Mas normalmente compomos todos na hora do ensaio, expondo nossas opiniões e diversidades idealísticas. Carlos - No início, o Igor e o Hudson criaram juntos algumas bases de guitarra. Nós gravamos tudo no PC e criamos todos os arranjos e linhas de vocais em cima dessas ideias iniciais. As duas primeiras músicas da MDV saíram dessa forma. As composições seguintes foram saindo naturalmente, alguém vem com uma ideia e todos vão dando suas opiniões e criando os arranjos de uma forma bem natural. O que podemos esperar ainda para este ano da MDV? Algum EP ou Demo? Saulo - Nós já estamos em fase de finalização do EP. Não sei se sai este ano ainda. No meu caso, é uma dúvida. Não posso adiantar nada. Mas a MDV fará alguns shows ainda este ano, é isso que eu posso adiantar. Diogo - Por enquanto, neste fim de 2010, apenas shows irão acontecer, resumindo-se em simbólicas apresentações. Registros como CD e EP, possivelmente em 2011.


Carlos - Estamos finalizando o nosso EP, falta apenas uma música. Queremos lançar esse trabalho até dezembro. Mas já disponibilizamos duas músicas do EP no nosso PureVolume: www.purevolume. com/miadolcevendetta Qual seria o top 5 das músicas que mais representam os integrantes da MDV? Saulo - Para mim: Suicide Silence – “The Price of Beauty” Waking the Cadaver – “Blood Splattered Satisfaction” August Burns Red – “Back Burner” Confronto – “Vale da Morte” Realidade Cruel – “O Resgate” Carlos - Motörhead – “Ace of Spades” Anthrax – “Caught in a Mosh” Suicidal Tendencies – “You Can´t Bring Me Down” Lamb of God - “Laid to Rest” Killswitch Engage – “My Last Serenade” Antes de finalizar, algum show previsto para os próximos meses? Mais uma vez, muito obrigado pela entrevista. Sucesso! Saulo - Iremos tocar em Salvador em dezembro. Há algumas especulações sobre shows aqui, mas só serão citados quando concretizados... A revista Rock Meeting está me surpreendendo com tamanhos profissionalismo, ética e seriedade. Parabenizo-os mais uma vez por esta iniciativa. Obrigado! E que venham muitas outras edições! Diogo - Sem dúvida, em novembro iremos nos apresentar aqui em Maceió, e também na Bahia. Desde já, agradecemos o suporte oferecido pela revista à Mia Dolce Vendetta. Sinceros agradecimentos.



EXCLUSIVO

A RM entrevista u antigas do cenรกr perna a cruor Jรก abriu agora para

confira com exc banda tem pa Pei Fang Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Yzza Albuquerque (@yzzie | yzza@rockmeeting.net) Fotos: Dudu Schnaider (Raio Lazer)


uma das bandas mais rio underground DE ambuco. u para o megadeth, e o death angel.

clusividade o que a ara NOS contar!


Como é o nosso primeiro contato, gostaríamos de agradecer pelo tempo reservado para a Rock Meeting. Comecem nos contando quem faz o Cruor. Apresentem-se! Aí vai: Túlio Falcão, guitarra; Jairo Neto, baixo; Wilfred Gadêlha, vocal; Bruno “Bacalhau” Montenegro, bateria. Esta pergunta é clichê, mas não podemos deixar de fazê-la. Como surgiu o nome da banda? Algum detalhe em especial? Contem-nos. Jairo – Está lá no dicionário: “Cruor s.m. Parte do sangue que se coagula (por opos. ao soro). / Matéria corante do sangue. / Sangue derramado fora dos vasos. (poetic.) Sangue de inocentes derramado”. Há, na verdade, duas histórias de como chegamos ao nome. A primeira vez que surgiu para nós foi via Marcelo Demo, guitarrista fundador da banda, e RogerMan - que ia tocar guitarra também e hoje é o frontman do Bonssucesso Samba Clube e grande irmão -, que chegaram a esse nome através de outro brother, Budega. Havia um zine chamado Acclamatur, de Gustavo Buckardt, que iria se chamar Cruor. Aí, juntou a fome com a vontade de comer. Assim como a banda Morcegos, de Maceió, vocês estão há bastante tempo dentro do cenário underground de Pernambuco: já são 23 anos de história para contar. Seguir o Thrash/Death por tanto tempo pode se tornar cansativo. O que tem mantido o Cruor vivo por mais de duas décadas? Túlio - Eu, particularmente, comecei a tocar meus primeiros acordes ouvindo discos de Thrash. Isso entre 1986 e 1987. Está no sangue! Continuo ouvindo Metal em geral, principalmente Thrash e Death, e adoro tocar esse estilo de música. Também houve, durante os anos 1990, uma ótima leva de bandas que renovaram o estilo e o tornaram atrativo novamente, mostrando que ainda era um campo fértil e criativo. E acho que o Cruor se encaixa neste montante, modestamente falando. O Morcegos ainda existe? Que legal, cara! Eu e o Wilfred tocamos com eles em Maceió, acho que em 1992, quando tocávamos no Dark Fate. O Nephastus da Paraíba também tocou... Lembram disto? Jairo - Acho o que faz uma banda durar, além do apoio dos amigos, é quando a música, particularmente o Metal, corre dentro de suas veias. Também acreditamos no que fazemos, por isso ainda vão ter que tolerar o Cruor pelo menos por mais 23 anos! Wilfred – Cara, acredito que é a instigação para tocar que mantém a banda junta até hoje. Passar por maus bocados, todo mundo passa, mas continuar focado em um objetivo, mesmo que ele pareça intransponível, é para poucos. E, claro, sempre ter na cabeça que fazer o que a gente está a fim de fazer é a chave para a longevidade e tal. Ah, sobre o Morcegos, acho que não agradeci direito ao batera deles pelos bumbos e pelos pratos naquele show de Maceió, quando eu então tocava bateria...

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Muitos músicos já passaram pela banda neste período. Qual o motivo dessas mudanças e o que elas trouxeram de positivo? Jairo - É difícil hoje você encontrar uma banda com mais de 20 anos de estrada que não tenha tido pelo menos uma mudança no line-up original. Todos que passaram pelo Cruor trouxeram suas influências, o que é sempre bem-vindo para evolução individual como músicos e da banda como um todo. Estamos todos aprendendo um com outro sempre, e a maioria que saiu da banda foi para seguir seu próprio caminho, visto que quando começamos éramos adolescentes de 12, 13 anos. Conforme crescemos, temos que dar rumo à vida, mas todos que passaram pelo Cruor, consideramos como irmãos para sempre. Então, sempre que alguém sai ou entra, a família aumenta... Wilfred – Posso dizer pela minha experiência: no ano passado, meus compromissos profissionais (sou editor-assistente de Internacional do Jornal do Commercio) estavam entrando em rota de choque com o Cruor. Conversei com os caras e decidi sair, porque eu estava atrapalhando a banda. Mas, logo depois, voltamos a conversar e eu voltei. Acredito que alguns ex-membros tenham passado pelo mesmo, como nosso ex-guitarrista Georgius Vassilius, o popular Galego, que foi morar em Nova Iorque. Este ano, vocês lançaram o EP “Unburied”. Cinco faixas. Um trabalho pronto. Qual foi a reação do público? Jairo - Esse EP só veio para confirmar para que estamos aqui. Considero a crítica uma questão de gosto, e devido a excelência do Metal nordestino e a tecnologia de informação, a quantidade de público aumentou, mas a qualidade também. Hoje em dia, você fazer um trabalho que só recebeu críticas positivas, acho que é muito recompensador. Afinal de contas, no final quem julga seu trabalho é o seu público, e o que mais me emocionou

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nesse processo foi que algumas pessoas que não curtiram nosso primeiro disco, hoje são nossos amigos e fãs, a quem eu aproveito o espaço para agradecer pela força e pelo apoio que estamos recebendo. Túlio – Melhor, impossível. O público hoje está mais exigente, e ter uma boa receptividade é bastante lisonjeiro e compensador. Fizemos uma mostra sincera do que era o novo Cruor e acho que todos conseguiram captar a energia desta nova formação, aprovando-a. Wilfred – Rapaz, faço minhas as palavras de Túlio. A galera tem sido foda no que diz respeito à reação às músicas do “Unburied”. Colocamos o nosso melhor nelas, e o que mais nos gratifica é justamente olhar no olho de cada banger que está no moshpit e ver que ele está se divertindo. Um site de Pernambuco disse que são músicas para ressuscitar bêbados. Inclusive nós... Em abril, vocês tocaram no mesmo palco que o Megadeth. Como foi a experiência de ver o quinteto americano na sua cidade e ainda tocar no show? Contem-nos um pouco a respeito. Túlio - Bicho, vou responder essa sem medo de ser piegas. Eu tinha uns 12 anos quando comprei o “Peace Sells...” e ainda começava a aprender a tocar. Então ouvia aquilo, pegava uma vassoura e me imaginava em cima de um palco, tocando e batendo cabeça. Já era difícil você ter algum material em vídeo naquela época, quiçá ter uma banda gringa em sua cidade. Ter uma banda do sul do país em sua cidade já era difícil, e uma banda estrangeira beirava o impossível. Bom, os anos se passaram e aquele menino que fazia air guitar ouvindo “Wake Up Dead”, batendo cabeça no pouco espaço disponível na sala e que nunca tinha visto o Megadeth tocando nem em VHS, estava tocando no mesmo palco, olhando o pano de fundo do Megadeth, sem acreditar no que estava vendo... Deu pra sentir o drama?


Jairo - Infelizmente, não tem como não ser piegas... Mas quando eu pisei no palco montado para o Megadeth e ouvi os bangers gritando “Cruor”, foi minha maior emoção como musico de Metal. É indescritível, não éramos só nós que estávamos naquele palco, e sim todos os headbengers do Nordeste que ansiavam pelo Megadeth. Isso é que ficou gravado para sempre na minha memória! No final do show, me lembrei de quando tinha uns 13 ou 14 anos, e ouvi pela primeira vez um “Peace Sells...” pirata argentino... Se alguém me dissesse que 20 anos depois eu estaria abrindo o show do Megadeth e no Recife, eu diria para ele parar de se drogar. Wilfred – Cara, confesso que na hora deu um frio na barriga. Mas a produção da banda e do show foram extremamente profissionais conosco. Fomos muito bem tratados e isso se refletiu no show. Quando terminou e ouvimos os bangers gritando “Cruor, Cruor!”, foi uma sensação de dever cumprido. O estilo com que o Cruor conseguiu cativar a audiência pernambucana foi o “Fuckin’ Thrash Metal”. Mas o que seria este estilo para vocês? Qual é a pegada principal do som da banda? Jairo - Desde que começamos com a banda, a meta principal era fazer um som coeso, mas que ao mesmo tempo não parecesse com nada que tivéssemos ouvido antes. Isso nos levou a uma viagem através da mente, atravessando o deserto de nossa realidade mortal até chegar a harmonias insanas, o que culminou no primeiro disco. Mas, mesmo com a nova formação, o princípio continuou o mesmo, sem medo de ousar, só que agora queríamos algo mais agressivo e direto, sem perder o feeling do Thrash Metal dos anos 1980, que foi o que nos colocou nesse caminho. Então numa cachaça com amigos - e a galera, como sempre, querendo te arrumar um rótulo -, surgiu a expressão do “Thrash Metal Fudido (sic) Oitentista”, que logo virou “Fuckin’ Thrash Metal”: um som rápido, coeso, agressivo, mas sem perder a característica tão própria do Thrash dos anos 1980. Já tive a oportunidade de saber que algumas bandas se dizem de “Fuckin’ Thrash Metal”, o que não significa parecer com o Cruor, e sim ter características próprias e originais, sem imitar ou querer soar como algo conhecido, e seguir alguns conceitos já mencionados. Falando em estilo musical, o que vocês escutam fora do Metal? Citem alguns exemplos. Túlio - Acho que da banda, eu sou o de gosto mais abrangente e bizarro! Escuto desde a música renascentista de Orlando di Lasso e Monteverdi, até grupos de Harsh Noise, tipo Merzbow, Prurient e outros. Gosto bastante de música experimental e tenho um projeto solo (www.myspace.com/tuliofalcao) e um duo de música eletroacústica chamado HRÖNIR, que inclusive tocou em um festival em São Paulo este ano. Ultimamente, estou ouvindo (fora Metal) John Zorn, Daniel Menche, Morton Feldman, Iannis Xenakis, Merzbow, Prurient, Umlaut, Zbigniew Karkowski, e por aí vai... Wilfred – Túlio realmente é o responsável pelas bizarrices na banda... Já eu cresci ouvindo muito Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Alceu Valença. Gosto muito ainda de todos eles e até já toquei alfaia, triângulo e agogô em uma banda que investia em maracatu, ciranda e forró. Gosto de brega clássico (Carlos Alexandre, Reginaldo Rossi, Evaldo Braga), de Beastie Boys, de Duran Duran, da Nação Zumbi, do


Sigue Sigue Sputnik e de Paco de Lucia.

especial. O Metal brasileiro cada vez mais conquista espaços pela sua qualidade, em especial as bandas Jairo – Bem, eu comecei em 1975 ouvindo Elvis e do Nordeste, como Cangaço, Decomposed God, Beatles, até conhecer bandas como Módulo 1000, Infested Blood, dentre outras que ainda não Deep Purple, Floyd, Hendrix, Zeppelin e Sabbath. conseguiram espaço fora do Nordeste, mas que Aí vieram os anos 1980... Tenho um gosto também são de qualidade ímpar, como Inner extremamente eclético, já atuei como violoncelista Demons Rise, Firetomb, Carrasco, Extreme Death e tocando música erudita, que estudei durante Psych Acid, Infected Mind (PB) e muitas outras que quatro anos. Sou guitarrista solo de uma banda de eu talvez nem tenha tido a oportunidade de ouvir... reggae e estou concluindo a gravação de um disco de blues como guitarrista (Gê Domingues). Acho Wilfred – Vejo uma espécie de “reacomodação” que qualquer música bem feita merece ser ouvida. da cena. Bandas antigas ressurgindo, outras Mesmo que depois de ouvir eu ache uma merda continuando e muitas, mas muitas mesmo, bandas ou não curta o estilo, procuro a musicalidade dos novas aparecendo. Eu enxergo tudo isso como um envolvidos naquele trabalho, e quem sabe, possa ponto positivo. O que acho que falta? Reclamar me acrescentar algo inusitado. Mas escuto Metal da falta de apoio? É fácil fazer isso. Muitas vezes a rapaziada fala do governo e tal, mas a maioria praticamente todo dia. nem sequer pediu. Claro, portas fechadas na cara a gente já está cansado de levar, mas a cobrança tem O que podem nos falar sobre shows que que ser concreta e não apenas no Orkut. No Recife, já tenham feito fora de Pernambuco? eu aplaudo várias bandas novas e tenho visto que Já tocaram em algum local fora do a cena está mais forte, apesar de a galera não comparecer aos shows como eu acho que deveria. Nordeste? Jairo - Nos anos 1990, fizemos uma micro tour na ocasião do lançamento do primeiro disco. Tocamos no Black Jack (SP), Garage (RJ), Baratos (Santo André–SP), Salvador (UFBA), e terminamos a tour em Recife, com o Overdose. Mas já abrimos shows em Recife de bandas como Chakal, Sepultura, RDP, Attomica, Megadeth e agora Death Angel. Túlio - Ainda não tive o prazer de tocar com o Cruor fora do Nordeste. Wilfred – Eu entrei em 2008, fiz meus 3 primeiros shows em 2009. Em 2010 já se vão oito. Priorizamos o nosso Estado neste momento e agora é a hora de sair. Há algumas negociações em andamento. Mas, quem sabe, a gente dá o pontapé inicial na parte externa da Unburied Tour em Maceió?

2010 já terminando. O que há para fazer ainda este ano e quais os projetos para o ano novo? Túlio - Neste ano, a prioridade é compor o próximo álbum e continuar divulgando o “Unburied”. No ano que vem, queremos gravar o disco novo e tentar divulgá-lo com shows no Brasil e no exterior. Wilfred – Há projetos em andamento para um documentário contando a história do Cruor. Queremos ainda investir em um clipe legal. Eu estou indo para a França agora em novembro e vou levar material nosso para lá. Quem sabe os gringos se interessam? Até porque algumas músicas nossas já foram veiculadas por lá.

E para finalizar, alguma mensagem para Como veem a cena do Metal brasileiro? os leitores da Rock Meeting? Obrigado O que há de bom, e o que acreditam que pela entrevista, mais uma vez! Sucesso! Túlio - Muito obrigado pela oportunidade e um falta nela? grande abraço a todos os leitores e para todos vocês Jairo - Graças ao público, que como já comentamos da Rock Meeting! Quem sabe não nos veremos em anteriormente, melhorou exponencialmente, e algum show por aí e tomaremos bastante cerveja, a produtores como Lula Vieira (Raio Lazer), João hein? (Blackout Records) e Paulo André (Abril pro Rock), Jairo - Queria agradecer a todos que diretamente Pernambuco se consolida como pólo para shows ou indiretamente nos apóiam e acreditam em nosso de Metal internacional, o que tem levado outros trabalho, e dizer que estamos disponíveis para tocar produtores, como no exemplo da Paraíba (vide o em todos os lugares possíveis e imagináveis... show do Scorpions), a acreditarem num sonho e Wilfred – Fazer Metal no Brasil é dureza, mas no transformarem nossos desejos em realidade. Para Nordeste é ainda mais complicado. Apoios como os nós, principalmente, que vimos praticamente o de vocês da Rock Meeting são primordiais para o Metal nascer no Nordeste, é muito reconfortante e fortalecimento da cena. Obrigado!


Sorteamos esta coluna no mês passado, durante a festa de aniversário de um ano da RM, no Kfofo. O resultado está aqui. Conheça agora Jéssica de Oliveira Fernandes, a ganhadora do sorteio que fizemos. Apresente-se. Chamo-me

Jéssica de Oliveira Fernandes, nasci em Piedade, São Paulo. Tenho 17 anos e gosto de ouvir Rock Progressivo. É com o que me identifico mais.

PERFIL RM

De onde veio o interesse em ouvir música? Quais as suas influências? Acho que o interesse em ouvir musica é algo que nasce com você. Você só vai descobrindo ao decorrer de sua vida quais as coisas que você realmente gosta. Mas, meu pai é um grande influencia musical para mim. Mostrou-me muitas coisas que ouço hoje. Acho que é isso.

Quais as suas bandas favoritas?

Nossa, são tantas! Mas acho que Pink Floyd, Los Hermanos, Kansas, Dire Straits e Led Zeppelin são as que eu mais ouço.

Como está o cenário do Rock alagoano, no seu ponto de vista? Depende muito do segmento, sabe? Eu acho que o cenário alternativo tem umas bandas boas e até uma frequência legal, eu vejo um bom cenário do Rock alternativo aqui no estado. Já do Metal, deixa muito a desejar. Tem pouca coisa, abrem mais espaço para as bandas de Death Metal e Metalcore... Deveriam abrir mais espaço para as outras vertentes do Metal. Falta muito ainda para ser um bom cenário.

Quais os seus 5 álbuns prediletos? Justifique em poucas palavras. Só cinco? Difícil... Mas acho que o “The

Dark Side of the Moon” e “Animal”, ambos do Pink Floyd, “Leftoverture”, do Kansas, “House of the Holy”, do Led Zeppelin, e “Making

26 Rock Meeting

Movies”, do Dire Straits, são os que eu mais gosto de ouvir. Não tem muito o que falar, são os que mais me deixam em êxtase.

Quais as bandas alagoanas que você vê que se destacam mais?

Ah, destaque assim, eu não sei muito. Estou aqui há um ano e não sei exatamente dizer as bandas mais de destaque. Posso falar algumas que eu gosto e vejo que são boas e que, para mim, se destacam, que são a Mopho e a $ifrão.

Conte-nos quais os shows que você mais quer ver, mesmo que não tenham nenhuma data prevista. Os shows que eu mais gostaria de ver são: Roger Waters, Metallica (não posso morrer sem vê-los ao vivo), Ludov, Kansas e Uriah Heep.

O que você acha da rivalidade entre as diferentes vertentes do Rock? Por mim, as coisas seriam do meu jeito. Seria legal se gostassem do que gosto, mas isso é irracional, cada um tem o direito de gostar do que der na telha e, por educação, não devemos julgá-los.

Você acha que tem espaço para todas as cenas? Sim, claro. Se todos se respeitassem, a coisa seria bem mais legal. Tem espaço para todos desde que haja respeito.

Deixe sua mensagem para leitores da Rock Meeting.

os

Ah, não sei o que dizer. Escutem muito Pink Floyd! Isso!


EU

ESTAVA LÁ Foram cinco longos anos longe do Brasil, mas que foram recompensados da forma mais espetacular possível. A banda finlandesa The 69 Eyes literalmente levou os fãs à loucura com um repertório abarrotado de clássicos. O show, realizado no último sábado, 25 de setembro, no Carioca Club, em São Paulo, teve todo o requinte do metal escandinavo. Costábile Salzano Jr. | Fotos: Mia Ramos

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