Revista Rock Meeting #44

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Editorial

Os que não foram D eus está morto? Este é o questionamento conduzido pela mais nova música divulgada pelo Black Sabbath neste mês de abril. O single “God Is Dead?” integrará o vindouro álbum “13”, que conta com Ozzy Osbourne, enfim nos vocais, algo que não acontecia num registro de estúdio desde 1978. Com todos os méritos, a canção de quase nove minutos perpassa muito bem pelos caminhos do doom erguido pelo quarteto. Na verdade, o baterista original - Bill Ward - não está no projeto, que ainda conta com Geezer Butler no baixo e Tony Iommi nas seis cordas, que foi gravado quando o músico ainda enfermo de câncer. Esses guerreiros sessentões não devem nada a ninguém. “Nós gastamos mais com cocaína do que com estúdio”, brinca em um dos ensaios, Butler com Brad Wilk, do Rage Against The Machine, que assumiu as baquetas. Entretanto, o que deve ser levantado aqui é o clima festivo e saudável em que a banda se encontra e não se Deus existe ou não. A letra foi baseada no livro “Assim Falou Zaratustra”, do influente filósofo alemão Frie-

drich Nietzsche. Sem delongas, há pessoas que ainda olham com desdém para a volta do Black Sabbath, o qual tem lançamento do novo play marcado para 10 de junho próximo. Ora, esse é o Black Sabbath original! A essência está ali; o cheiro dos anos 1970 de uma Inglaterra industrial. A batida coesa, a rifferama autêntica, o arrastar da voz de Ozzy. Dizem que a banda não traz nada de novo para o Heavy Metal. Também pudera... eles “apenas” ajudaram a criar o estilo, né? É sempre complicado se reinventar. E num mundo de cópias e influências escabrosas, nada menos deturpador que se autocopiar. Ou esse seria um pecado mortal no código headbanger? Se algo novo, “moderno”, surgisse no som deles, aí, sim, o bicho ia pegar... A moral da história é que o Sabbath está rindo à toa – e com um guitarrista curado – com datas marcadas em uma turnê grandiosa. Creio que um roqueiro só pode se tornar um adulto normal se presenciar/testemunhar/participar/ver/ouvir/sentir esses caras ao vivo. Do contrário, continuarão reclamando.


Table of Contents 07 - Coluna - Doomal 11 - News - World Metal 15 - Review - Extreme Noise Terror 21 - Obrigado - Jeff Hanneman 25 - Opinião - André Matos & Underground 29 - Capa - Abril Pro Rock 38 - Matéria - Lacerated and Carbonized 48 - Matéria - Margareth e Iron 51 - Review - Ara Rock 2013 54 - Coluna - Review 57 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral

Pei Fon

Revisão Breno Airan Katherine Coutinho Rafael Paolilo Capa

Alcides Burn

Diagramação Pei Fon Conteúdo Breno Airan Daniel Lima João Marcelo Cruz Jonas Sutareli Lucas Marques Colaboradores Igor Miranda Mauricio Melo (Espanha) Vicente de A. Maranhão Weslei Varjão Agradecimentos Ellen Maris Sandro Pessoa CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting



Imago Mortis

Por Por Ellen Maris e Sandro Pessoa (Sunset Metal Press)

Revolução do Doom Metal no Brasil Já não se pode dizer nos dias de hoje o mesmo que se dizia a cerca de dois ou três anos atrás, a respeito do Doom Metal no Brasil. Numa cena que reunia pouco mais de uma centena de adeptos em grupos de redes sociais como as (quase mortas) comunidades do Orkut, por exemplo, onde quase todo o foco de atenção era voltado para tratar das principais bandas estrangeiras do gênero, boatos sobre possíveis apresentações em nossas terras ou discussão de lançamentos da velha tríade do Doom e mudanças drásticas que estas sofreram ao longo dos anos, fosse na formação ou mesmo no próprio estilo. Pouco se falava de uma banda nacional, até por que a atenção que o assunto sobre uma mainstream do Doom Metal exercia numa discussão dentro daqueles fóruns ofus-

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cava, de vez, qualquer novidade ou tentativa de se fazer presente por ali. Não somente nos grupos. Nas rodinhas, nos bares, nas portas dos shows onde os poucos doomsters se encontravam e iniciavam suas discussões. As informações sobre as bandas nacionais eram mínimas, até mesmo por conta da própria descrença das mesmas sobre a situação do estilo no Brasil e as migalhas que lhes sobravam para se apresentarem num evento ou outro, em meio ao turbilhão de festivais nacionais voltados ao Death e Thrash daqueles tempos. Tempos estes que parecem distantes dos de hoje, mas, para quem lembra e viven-


Hellight

ciou a situação, sabe que a mudança aconteceu há pouco e o efeito causado realmente modificou a realidade do Doom por aqui. Num dia qualquer, nesses chats de discussão do Facebook, alguém começa a reclamar daquela mesma situação que todas as bandas e o público do gênero no país reclamava: Brasil fora da rota de shows dos grandes nomes do Doom mundial, enquanto vizinhos como Chile e Uruguai deitam e rolam com as apresentações de grupos que para nós parecia impossível esperar por aqui. Das poucas que se fizeram presentes até aquele momento, o público ainda era pequeno, as organizações precárias, enfim: o interesse dos produtores em relação ao estilo era pouco significativo.

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Menor ainda era a coragem de uma banda de Doom nacional arriscar carreira por aqui. Era muito mais fácil conseguir qualquer reconhecimento fora do país. Daí, muito material do “Doom Tupiniquim” nem sequer era lançado no Brasil. A descrença absoluta ainda assim gerava tais discussões. E foi a partir destas que integrantes e apreciadores do estilo se uniram e surge então a ideia de formar a União Doom Metal Brasil. A ideia inicial era atrair para o país grandes nomes do Doom mundial e entrar para a rota de shows destas. Para isso, precisariam fortalecer a cena local, aumentando a quantidade de público e de eventos do tipo. E foi a partir daí que bandas de todos os cantos do Brasil se juntaram, por um mesmo propósito.


Desde então, fomos surpreendidos com trabalhos nacionais que não fazíamos ideia que existia ou que mal se ouvia falar noutros tempos. Álbuns de qualidade incontestável; e, de uma vez por todas, provou que possuíamos um nicho de grupos com características próprias, musicalmente falando. O resultado dessa União surgiu em forma de coletânea. Lançada no ano passado, a “Doomed Serenades” reuniu 10 nomes da cena nacional e surpreendeu os selos patrocinadores com o sucesso das vendas. A distribuição foi feita também fora do Brasil, o que provocou o reconhecimento tanto do público quanto de bandas estrangeiras,

que até então pouco sabiam de como o nosso cenário era rico. Deu-se desta maneira o que podemos chamar de a primeira ascensão do Doom Metal brasileiro, o que dividiu os meios de comunicação igualmente com os demais estilos. Pessoas que não se identificavam com o gênero pelo simples fato de não conhecerem passaram a admitir a qualidade do mesmo após a audição da coletânea. Levando-se em conta de que o Doom Metal é extremamente amplo, indo do Heavy tradicional ao Death e Black Metal, foi fácil atingir uma parcela enorme de fãs do metal em geral – era o que faltava: divulgação e desmitificação do estilo. Passado quase um ano após a iniciativa da União Doom Metal Brasil, já é possível citar grandes diferenças (grande em relação ao que o público seguidor do estilo era acostumado) como o aumento de eventos voltados exclusivamente ao gênero e maior inclusão de bandas em diversos eventos no país.

Mythological Cold Towers

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Hoje, tanto os antigos como os mais novos fãs estão mais presentes e interessados em trabalhos nacionais, assim como rádios e sites específicos já terem espaços reservados a notícias das mesmas, como também o surgimento de novas bandas no cenário. E por maior lucro que possamos ter tido com toda essa ampla divulgação, a grande surpresa foi, de fato, a inesperada identidade do Doom Metal nacional. É certo que, de um modo geral, a raiz do estilo sempre será as terras frias da Europa e todas as atuais e futuras bandas carregarão traços que marcam o estilo. Porém, com a alta repercussão de nossas bandas, podemos encontrar um novo formato de música executadas com maestria por algumas destas, onde somente uma pequena parcela do público vinha a desfrutar de tais criações. Bandas como Mythological Cold Towers, HellLight e Imago Mortis são claros exemplos onde a sonoridade de suas ótimas canções são extremamente características, bem diferentes daquilo que fomos acostumados durante anos e anos por bandas estrangeiras. Conclui-se o que muitos sequer imaginavam: o Brasil também é um forte produtor de bandas de Doom com suas respectivas identidades, claramente distintas das do restante do planeta. Algo tão difícil na atualidade, onde quase tudo na música já foi experimentado.

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Thatcher odiada O ex-líder do The Smiths, o vocalista Morrissey, abriu o verbo em desfavor da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que morreu no último dia 8, em decorrência de um derrame: ela “foi um terror sem um átomo de humanidade”. A assertiva foi feita por em artigo no The Daily Beast. Ele comenta que “tudo que ela fazia era carregado de negatividade. Ela acabou com a indústria manufatureira britânica, ela odiava os mineiros, ela odiava as artes, ela odiava os que lutavam pela liberdade da Irlanda do Norte e permitiu que eles morressem, ela odiava os pobres da Inglaterra e nunca fez nada para ajudá-los, ela odiava o Greenpeace e os ativistas ambientais [...] seu próprio gabinete a expulsou”. Thatcher era conhecida como “a Dama de Ferro” por seu pulso forte.

Beatles em cifras

Metal deprê

Um preço astronômico foi dado em um exemplar do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, de 1967, dos Beatles, durante leilão realizado no final do mês de março: cerca de R$ 590 mil. Um recorde. O comprador anônimo fez o arremate na empresa de leilões Heritage Auctions, com sede em Dallas, nos EUA. A alta cifra impressinou, pois, segundo a revista The Hollywood Reporter, esperava-se lances até R$ 60 mil. O LP teria sido autografado pelo quarteto ainda em junho, em seu ano de lançamento.

“As pessoas pensam que eu sou doido, porque estou a todo momento franzindo o cenho”. Eis um trecho da canção “Paranoid”, da banda Black Sabbath, que traduz bem o que uma recente pesquisa afirma sobre os ouvintes de Heavy Metal, estilo que o quarteto ajudou a construir. Segundo os especialistas da American Psychological Association (APA), que fizeram um levantamento com 551 estudantes universitários, a maioria dos que curtem Metal (um total de 57%) tem tendência a sofrer “níveis significativamente maiores de ira, ansiedade e depressão”.

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Em cena

Luto no Rock

Os gigantes do Progressive Metal, Dream Theater, estão em estúdio gravando a sequência do seu álbum indicado ao Grammy, o ótimo “A Dramatic Turn Of Events”, de 2011. Em entrevista à Roadrunner Records, o guitarrista John Petrucci declarou o seguinte que “primeiramente, está sendo ótimo, e por mais que estejamos juntos na banda por uns 15 anos, não experimentamos juntos esse processo de fato. Estamos no estúdio há algumas semanas, e ele tem sido incrível. [...]. Só o que posso lhe dizer é que está acontecendo. Quando as pessoas ouvirem a bateria nesse álbum, elas vão pirar”.

O baixista Chi Cheng da banda Deftones morreu na manhã do dia 14 de abril, após longo coma. Figura sempre marcante no palco com sua cabeleira vasta e corpo tatuado, ele estava em debilitado desde novembro de 2008, quando sofreu um acidente de carro quase fatal, em Sacramento, nos EUA. O músico tinha 42 anos. “Ele deixou este mundo comigo cantando músicas que ele gostava em seu ouvido”, escreveu Jeanne Marie Cheng, ou “Mamãe J” ao site feito por fãs Oneloveforchi.com.

Gravidez épica A banda Epica anunciou a gravidez de sua vocalista Simone Simons via Facebook: “Estamos felizes em anunciar que Simone está grávida! Simone e o parceiro de longa data Oliver Palotai (Kamelot, Sons of Seasons) estão esperando o seu primeiro filho por volta do final do verão. Para assegurar a melhor possibilidade de gravidez e considerando a saúde de Simone e do bebê, nós decidimos parar nossas atividades a partir de 1º de julho. Isso implica dizer que o Epica não tocará este ano no Masters of Rock Festival na República Tcheca. Por outro lado, isto não quer dizer que o Epica não vai fazer nada! Nosso DVD ao vivo, o Retrospect, será lançado em breve. Mais adiante, durante a segunda metade de 2013 o EPICA vai iniciar as gravações de seu novo disco, que será lançado em 2014”. 12


Nova do Mega O primeiro single do Megadeth, lançado em meados do mÊs de abril, causou certo furor e até indignação por parte de alguns fãs. É que eles esperavam que a canção “Super Collider”, que dá nome ao próximo CD, a ser lançado dia 4 de junho, fosse com uma pegada mais Thrash Metal. O que se notava é um resgate dos tempos de álbuns como “Youthnasia” e “Cryptic Writings”, o que necessariamente não quer dizer que seja algo ruim. A música se encaixaria, por exemplo, no final de algum filme de super-herói. Esperemos, então. Por enquanto, no Youtube, ela foi divulgada no canal oficial do grupo. Ouça AQUI!

Ainda se importam, Rob

Max quer voltar

O frenético Rob Zombie - que está lançando seu novo filme de terror “The Lords of Salem” - lançou no dia 23 de abril o vindouro álbum “Venomous Rat Regenaration Vendor”. O play, que saiu pelo seu selo Zodiac Swan, em parceria com a T-Boy Records/UMe, também figurou no iTunes, Amazon e Best Buy. Ainda na noite do dia seguinte, o CD alcançou o Top Ten do iTunes e Zombie, prontamente, agradeceu em seu perfil do Facebook: “Fico feliz em ver que alguém ainda se importa com a porra do Rock e este é você. Portanto, obrigado!”, pontua ele.

Em entrevista à rádio Heavy Nation, da UOL, o lendário vocalista Max Cavalera disse que a reunião com o Sepultura já poderia ter rolado há tempos. “Teve uma época que até liguei para o Andreas [Kisser, guitarrista] e falei: ‘Vamos fazer, cara, mostrar para o mundo como era foda essa banda’. Todo mundo quer ver, até meus filhos. Então eu queria fazer pelos fãs e pelos meus filhos. Pela minha parte, já teria rolado. Nunca escondi. Depende deles, se eles querem fazer ou não. Não está nas minhas mãos”, declarou Max. Ele mostrou sinceridade ao falar que não sente saudades dos tempos de auge do grupo, mas sim dos primórdios.

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Ringo ‘starrá’ no Brasil

Lobão nas prateleiras

Ringo Starr virá ao Brasil no mês de outubro para duas apresentações. O ex-Beatle tocará em São Paulo, no Credicard Hall, no dia 29 e em Curitiba, no Teatro Positivo, no dia 31. Em ambas as ocasiões ele será acompanhado pelo grupo All-Starr Band. Mais informações, como valores dos ingressos, serão divulgadas em breve. Além do Brasil, Ringo passará ainda, na América Latina, pelo Uruguai, Paraguai, Peru, e México. O músico britânico vem ao país divulgar a turnê de seu álbum mais recente.

Mais uma vez o polêmico roqueiro Lobão chega às prateleiras do Brasil, mas não em CD. Ele está para lançar seu mais novo livro, o “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, pela editora Nova Fronteira. Pelo seu perfil do Facebook, foi avisado que ainda em maio a publicação sairia, mas a data não fora adiantada à imprensa. Este é o segundo livro de Lobão, que já havia escrito sua biografia “50 Anos a Mil” em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, em 2010. Neste novo apontamento, o cantor traça suas opiniões acerca de política e cultura no nosso país.

A gosto de BrakK Após um período de incertezas num passado recente, a banda paranaense BrakK, de Melodic Death Metal, decidiu enfrentar as adversidades e finalizar a gravação de seu primeiro EP, intitulado de Leeches. Contendo apenas três músicas, este EP mostra uma sonoridade melódica aliada ao peso e brutalidade do death metal. Este álbum pode ser baixado grátis em sua página no BandcCamp. Para outras informações sobre a banda, curtam a sua página oficial no Facebook. 14


ESTRAPERLO CLUB DEL RITME (BADALONA)

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Texto e fotos: Mauricio Melo (Correspondente | Espanha)

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ode parecer história de velho, ou melhor, experiente (para não pegar mal), mas a primeira vez que escutei uma música do Exteme Noise Terror foi através do Ratos de Porão, tocando o cover “Work For Never” num programa de TV, não sei exatamente se era o Programa Livre ou o Matéria Prima, ambos apresentado por Serginho Groisman antes de ser apontado como vendido. Um programa onde, além dos Ratos, ainda foram bandas como Sepultura, Korzus, Plebe Rude, Ira!, etc. Levando em consideração que era em TV aberta e às 17:00 (horário de Brasília), podemos afirmar que a situação era bem interessante. Nesta época o Gordo só tinha duas camisas, uma dos Dead Kennedys e outra do Kill Your Idols e uma das duas levava vestida junto aos urros do cover em questão. De lá pra cá, mais de 20 anos se passaram e nunca tive a oportunidade de vê-los. Com a morte de Phil Vane em 2011, as possibilidades pareciam escassas. Até que após a turnê dos britânicos pelo Brasil em 2012 a chama da esperança voltava a acender. É até irônico escrever a palavra “esperança” diante de uma banda que mais oferece o caos do que a beleza primaveral do mês de abril. Entretanto, nossa jornada começava antes, quando ainda no metrô, em direção ao clube Estraperlo em Badalona, a quantidade de punks e crust punkers era bastante acentuada, possivelmente sem pagar passagem, pulando facilmente as roletas do sistema catalão.

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Enquanto fazíamos uma hora do lado de fora, uma cena até inusitada veio a acontecer. O local onde se situa o clube é um polígono industrial de imensos galpões, empresas transportadoras e também onde se situam as casas noturnas como discotecas e afins, tudo muito longe da vizinhança e das reclamações provocadas pelos decibéis. Eis que do nada, surgem dois furgões dos Mossos d’Esquadra, o que equivale ao batalhão de choque e anti-distúrbios estatal. Que passe um carro de polícia, fazendo uma ronda rotineira, tudo bem, mas quando avistei os furgões às escuras dobrando a esquina deu um certo receio. Ainda mais quando, ao tentar passar pela rua, que estava completamente bloqueada de gente (punks bêbados), os mesmos foram vaiados e quem mais incitava as vaias era ninguém mais, ninguém menos, que o vocalista Dean Jones e seu cabelo de pano, que na verdade é o que parece, um aplique de pano. Risadas à parte e logo veio a hora da verdade com Looking For an Answer, outra banda que já havia assistido numa abertura para o Napalm Death, mas que não havia associado ao nome, algo que só veio acontecer, outra vez, através do R.D.P., quando lançaram o Split com os espanhóis. Um bom show, alto nível técnico, publico vibrante e músicas como “Campo de Extermínio”, “Guerra Total”, “Peste Roja” e outras tantas que só pelos títulos já da para saber como vai o tema da situação. Para a formação mais “extrema” da

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noite, foi curioso ver ao vivo o quão bem John Loughlin substitui o bom e elogiado substituto de John Vane nos vocais, Roman Matuszewski, que durou apenas um ano no cargo. Realmente a banda está bem representada e não só por suas cordas vocais, mas também por seu bronco visual e movimentação no palco. Com músicas que já são hinos punk/ grind, a “covardia” de abrir o show com “Deceived” e “Work for Never”, tendo um público tão insano quanto a triplicada taxa de álcool permitida e até mesmo explodindo bafômetros, a apresentação teve direito a punks caindo do palco e acertando as vigas de ferro que ficam próximas ao mesmo, os nocauteando instantaneamente em diversas ocasiões. O show foi nitidamente curto - ainda que intenso - isso sim. Não podemos reclamar da dedicação do sexteto, que realmente suou a camisa. Dean Jones até arrancou a prótese dentária (ou algo parecido) da boca e jogou embaixo da caixa de retorno para melhorar sua performance em sua tradicional posição, debruçado sobre o pedestal, fazendo caretas enquanto John urrava suas partes vocais. No geral, para quem não os havia visto e pelos poucos shows que nos reservamos a frequentar na terra de Gaudi, tudo saiu dentro do previsto.

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Por Weslei Varjão (weslei.varjao@gmail.com) Fotos: Divulgação

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ia 02 de maio de2013 ficará marcado como um dia de luto na história do heavy metal. Eis que uma das figuras que mais encarnavam o espírito do grupo do qual fazia parte, o guitarrista do Slayer, Jeff Hanneman, morreu devido a uma insuficiência hepática. Membro de uma das duplas de guitarras mais explosivas da história, mas com temperamento tão explosivo quanto. Esse foi o legado que Hanneman deixou com sua morte, que prematuramente ocorreu aos 49 anos de idade. Temperamento tão forte e por muitas vezes recluso, que assustava até o inatingível companheiro de banda, Kerry King. Além de seu temperamento forte, Hanneman teve outras lutas as quais vencer, principalmente nestes dois últimos anos de vida. A mais conhecida foi devido a uma picada de aranha que sofreu enquanto estava em uma banheira, que acabou por lhe causar fasciite necrotizante, que fez com que sofresse várias cirurgias para colocação de enxerto em seu braço esquerdo e, inclusive, ficasse em coma induzido. Foram dois anos de indefinições, em que ele foi se distanciando cada vez mais do grupo e que fizeram surgir rumores de que Kerry King estava apenas esperando o momento correto para se despedir da banda. Porém, havia uma luta maior e que provavelmente ceifou sua vida. Sempre foi notório que ele sofria devido ao abuso de álcool, e conforme alguns, este foi o motivo de sua recuperação a fasciite ter sido tão lenta. Alguns veículos de comunicação afirmaram que ele acabou por largar o tratamen22

Thras


sh de luto

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to e passou a beber de maneira incontrolável, que começava logo em seu café da manhã e ia até o jantar. Ainda se especulou de que ele estaria na fila de um transplante de fígado e que o nível de sua doença já estava avançado. Independente do que realmente o tenha levado a óbito, é difícil mensurar o quanto sua perda foi sentida para os admiradores do estilo. Com riffs agressivos e solos perturbadores, podemos afirmar que o lado sujo do som do Slayer vinha diretamente de sua guitarra, o que diferenciava o grupo dos demais integrantes do Big Four, os tornando muito mais pesados que as outras bandas da Bay Area. Com sua morte, talvez a continuidade do grupo corra risco. Apesar de Gary Holt ter assumido as funções desde seu afastamento, 24

nas últimas entrevistas ele afirmou que não deixaria o Exodus para se dedicar integralmente ao Slayer. Sem falar no recente afastamento de Dave Lombardo, por não concordar com a maneira que o lucro da banda era divido. Por outro lado, King já se posicionava a favor da efetivação de Holt no grupo, afirmando que, por ele, estaria tudo tranquilo se isso acontecesse e que ele não via problema se Gary Holt ficasse no grupo para sempre. Qualquer que seja o desfecho para o Slayer, podemos afirmar que um dos maiores nomes do heavy metal se foi e fará imensa falta. Seus riffs nunca serão esquecidos e ainda tirarão sorrisos satisfeitos de quem aprecia o som pesado que ele e seus comparsas destilaram nestes 49 anos de sua breve e marcante existência.


Andre Matos: boa voz para cantar, pĂŠssima para falar com a imprensa Por Igor Miranda (igormiranda93@gmail.com) Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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ndre Matos. Vocalista, compositor, pianista e maestro. Competência que consta academicamente, visto que tem formação comprovada em seu currículo. Como músico, seu valor já foi comprovado em várias bandas e projetos, como Viper, Angra, Shaman, Symfonia, Virgo, Avantasia e Aina. Sem dúvidas, um grande nome do metal nacional. Mas, ultimamente, tem dado declarações infelizes. Aliás, sua boca só se abriu de forma positiva nos últimos tempos para cantar. Das mais notáveis, duas são recentes e serão resgatadas a seguir. Em entrevista ao Heavy Nation, programa da Rádio Uol, Matos disse que uma de suas ex-bandas, o Angra, deveria acabar. Não que eu discorde. Só que, ao dizer que não adianta insistir em remontar a banda por “viver muito do passado”, a coerência se perde através de um fato que aconteceu recentemente. Sabe-se que “Angels Cry”, disco de estreia do Angra, completa 20 anos de lançamento neste ano. E, pela mídia, circulou-se o rumor, posteriormente confirmado, de que Andre foi convidado para realizar uma turnê com a banda para a comemoração simbólica. O cantor recusou o convite. Sem problemas, até aí. Mas logo foi anunciado que ele próprio faria uma turnê solo para celebrar esse mesmo aniversário. A história não foi muito bem explicada, mas é claro: Andre lucraria bem menos se fizesse a excursão com o Angra do que com músicos contratados e em carreira solo. O público seria menor, mas a maior fatia da grana ficaria com o vocalista.

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Considerando, ainda, que o Viper também foi ressuscitado para uma excursão em celebração ao passado, Matos se mostra incoerente. Nos últimos anos, não fez nada além de “viver do passado”. Pior: registrou discos solo muito aquém do esperado. E foi o frontman de um dos maiores fiascos da história do heavy metal: o anteriormente citado Symfonia, que contou com ex-integrantes de bandas consagradas, como Timo Tolkki e Jari Kainulainen (ambos ex-Stratovarius) e MikkoHärkin (ex-Sonata Arctica). De tanto dizer que não vale a pena viver do passado, lançou “In Paradisum” com esse “supergrupo” em questão. Resumindo o conteúdo do disco: um verdadeiro grito de glória ao passado, repetição descarada da fórmula do metal melódico sem trazer absolutamente nada de novo. Andre Matos foi além nas recentes incoerências. Em entrevista ao blog Liberdade ao Rock, o cantor disse que “só do underground podem surgir grandes talentos”. Uma piada de mau gosto se for analisada a sua trajetória. A banda que lhe deu mais prestígio no cenário musical foi o Angra, que como todos sabem, não surgiu do underground. Talvez Andre tenha uma pontinha disso, porque apareceu anteriormente com o Viper. Mas o Angra foi formado por dois estudantes de uma faculdade de composição e regência (os guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt). Matos trouxe o empresário Antônio Pirani, da revista Rock Brigade e seu selo musical Rock Brigade Records. A partir daí, a banda foi montada pelo empresário.

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Uma banda com dois estudantes de faculdade de música e músicos convidados por um empresário não pode ter surgido do underground. Os integrantes não enfrentaram nenhuma dificuldade para lançar seu primeiro disco por todo o Brasil e em outros continentes. Não pelo talento, mas pelos contatos. E os projetos posteriores de Andre também não tiveram nada de underground. Músicos consagrados sempre estiveram envolvidos – com muita grana, diga-se de passagem. Dinheiro, inclusive, foi o principal motivo que fez o vocalista sair do Angra. 28

E não o contesto por isso. Mas sem esse papo de “guerreiro do underground”. Disso já estamos todos cansados. Não sei se a declaração em questão foi dada como uma “indireta” a seus antigos companheiros de banda do Angra (esses “metaleiros” do Brasil adoram dar “indiretinhas” pela péssima imprensa especializada, que abraça essas patifarias em busca de repercussão). Mas foi infeliz. Incoerente. Com todo o respeito, tira parte do prestígio do músico, que tem talento incontestável, mas não sabe o que diz.


21 edições de puro Rock

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Por Daniel Lima (@rockmeeting |contato@rockmeeting) Fotos: Pei Fon

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festival “Abril Pro Rock” aconteceu nos dias 19 e 20 de abril, no Chevrolet Hall, na capital pernambucana. Nos dois dias de festival, a música imperou. Mas foi no dia 20 que o Rock mostrou a sua cara no evento, contando com 10 bandas de diversas vertentes entre o Punk e o Metal. Também teve uma novidade importante: transmissão online através do portal G1/Pernambuco. Todo o Brasil pode ver a grandiosidade do APR’13. Pessoas de diversos Estados do Nordeste, e até de outras regiões do Brasil, estavam presentes para prestigiar este festival, 30

que já entrou na rota nacional. Em mais uma edição do festival, um fator importante não foi deixado de lado: a valorização das bandas locais e de outros Estados do Nordeste. Um bom exemplo do que anda acontecendo em Recife é a banda Vocífera, que iniciou a noite com bastante energia para o público, mostrando que mulher também entende de Metal e que sabe fazer som, quebrando paradigmas como anda acontecendo no cenário nacional. Kriver veio em seguida - mais uma banda pernambucana. Esta apresentou dois no-


vos integrantes, saídos da banda Pandemmy: o vocalista Rafael Gorga (vocal) e Ricardo Lira (bateria). Mais uma banda que mostrou a força do Metal no Nordeste brasileiro. Neste momento do evento, o público já estava maior. Os potiguares da banda Kataphero deram continuidade às apresentações. A cada dia eles se destacam mais nos eventos realizados em toda a região. Um som bastante obscuro e sólido foi mostrado. A primeira atração internacional que subiu no palco do Abril Pro Rock foram os 31

estadunidenses da banda Fang. Eles mostraram o puro Punk Hardcore vindo da Califórnia. Os presentes já começaram a fazer roda e já havia um púbico bastante numeroso que prestigiavam o som deles. O repertório da Fang estava repleto de clássicos, entre elas as que estão no álbum lançado no ano passado, chamado “Here Come The Cops”. Eles ainda pronunciaram algumas palavras em português para agradar ao público presente. A galera do “Distrito Federal Caos”, banda mais conhecida como DFC, subiu no palco para efervescer o público. O repertorio trouxe músicas de diversas fases da banda e


entre elas estava “Vai Se Fuder No Inferno” e “Lucro é o Fim”. Pela segunda vez a roda tomava conta do Chevrolet Hall e o público retribuía de maneira positiva. No final do show, o vocalista Túlio anuncia o maior clássico da banda: “Molecada 666”. O público foi ao delírio e o pessoal do circle pit cantou junto com a banda a música que encerrou apresentação do DFC no Abril Pro Rock 2013. Em seguida, veio mais HC com Devotos, banda pernambucana consagrada nacionalmente. Em um determinado momento do show, o vocalista e baixista, Canibal, pediu que apenas as mulheres ficassem na roda e os homens respeitaram o pedido. Elas mostraram que roda não é apenas uma coisa masculina e que também mandam ver no cirle pit. Entre as músicas do repertório estavam: “Nós Faremos que Você Nunca Esqueça” e “Eu Tenho Pressa”. Encerram o show com o sucesso “Punk Rock Hardcore é no Alto José do Pinho”. Uma das atrações mais esperadas do festival era um ícone do Punk vindo da Califórnia. Dead Kennedys subiu ao palco e mostrou a razão de ser uma das atrações principais do APR, fazendo um show baseado em dois álbuns clássicos gravados na década de 80. “Police Truck” foi o pontapé inicial para a chuva de clássicos que viria e o vocalista Skip foi, literalmente, para o público. Em alguns momentos, ele subia na grade e cantava com o público, mostrando que o Rock não tem idade e que apenas o corpo envelhece, a alma permanece. Vale ressaltar a reação dos presentes nas músicas “California Uber Alles” e “Holiday in Cambodia “, que cantaram muito alto esses grandes sucessos do Dead Kennedys. Eles foram bastante aplaudidos e com certeza todos que foram ver 32


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a banda ficaram satisfeitos. Os gaúchos do Krisun invadiram o palco do Abril Pro Rock para mostrar o verdadeiro Death Metal brasileiro e o motivo de serem uma das maiores bandas nacionais. Técnicas apuradas e velocidade são características da banda. “Combustion Infernal” e “Slaying Steel”, do álbum Southern Storm estavam no repertório, além das faixas do último álbum - “The Great Execution” - lançado em 2011. Além dessas, uma variação entre os álbuns anteriores foram executadas com bastante imponência pela banda. O vocalista e baixista, Alex Camargo, falou muito bem do festival e elogiou em vários momentos o público que o esperava ansiosamente. A banda tocou “No Class”, do Motörhead, o que foi uma grande surpresa para todos os presentes. Lembrando que em setembro o Krisiun se apresentará no Rock In Rio, no Rio de Janeiro, junto com a banda Destruction, que tocará no mesmo palco. Depois de uma viagem por várias vertentes do Rock, o público “embarcou” para a Alemanha com a banda Sodom. Os caras mostraram como é que se faz Thrash Metal de qualidade. Formado nos anos 80, o Sodom, com suas letras que falam relativamente em guerras e violência, foi a última atração internacional desta edição. Eles surpreenderam o público com o cover da música “Surfin Bird”, do The Trashmen. Uma música bastante conhecida pelos fãs de Punk Rock. O público cantou bem mais alto com a faixa “Remember the Fallen”. Um show para entrar na história do Abril Pro Rock. André Matos subiu ao palco quando já era madrugada de domingo (21), para encerrar o festival com chave de ouro. Ele que foi 35


vocalista das bandas Viper, Angra e Shaman e não decepcionou o público, que esperou até tarde para assistir um espetáculo. Antes de fazer uma “pocket” comemoração dos 20 anos do álbum “Angels Cry”, do Angra (até porque num festival não dá para se tocar na íntegra), ele tocou algumas músicas do álbum solo. Abriu com “Liberty”, “I Will Return”, “Course of Life” e “Rio”, antes de tocar a balada “Fairy Tale”, da época que ele cantava no Shaman. Pode-se afirmar que este foi o ponto alto do show. Uníssonos, o público cantava junto “Oooh Oooh, life is good”. Arrepiante! Em seguida, “Living For The Night”, do Viper, antes de

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iniciar a sequência do álbum “Angels Cry” com “Carry On”, clássico dos clássicos. Infelizmente, a apresentação teve que ser reduzida por falta de tempo e encerrou com “Evil Warning”, quando já era por volta das 3h da madrugada. Um festival que já é sucesso reconhecido em todo Brasil. Esta edição mostrou mais uma vez que o Abril Pro Rock é forte e que o público pode esperar, que ano que vem tem mais surpresas. Eles conseguiram colocar o Nordeste na rota de shows internacionais e mostrar que tem potencial para realizar qualquer evento de pequeno, médio e grande porte. Até 2014!



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“Somos uma banda que constrói o nome a partir da estrada” Banda brazuca de Death Metal com críticas positivas cá e acolá, a Lacerated and Carbonized lança seu novo play chegando ao reconhecimento merecido

Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: Site oficial - Divulgação

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Rio de Janeiro não deve ser conhecido apenas por ser uma cidade maravilhosa. Já parou para escutar o que sai de lá? Não, não estou falando do funk, tá? Tedioso. Como mídia que fala de Rock/Metal, estamos aqui para mostrar para os nossos leitores o que há de bom no Brasil. Desta feita, a banda da vez é a Lacerated and Carbonized. Gravou aí? Entrevistamos o baixista do grupo, Paulo Doc., e ele nos conta um pouco mais sobre a banda, influências, novo álbum e o futuro. Confira aí o que a trupe de Jonathan Cruz (vocais), Caio Mendonça (guitarras) e Victor Mendonça (bateria) tem a oferecer! 40

Como de costume, neste primeiro ato, apresentem-se para os nossos leitores. Somos o Lacerated and Carbonized, do Rio de Janeiro. Nosso primeiro álbum, “Homicidal Rapture”, de 2011, colocou a banda no mapa do Metal extremo. Em 2012, lançamos o single “Third World Slavery”, uma prévia do álbum “The Core of Disruption” que será lançado neste mês de maio. Somos uma banda que constrói o nome a partir da estrada. Já rodamos por 19 países pelo mundo afora, mostrando a que viemos e é gratificante colher os frutos de todo esse trabalho. O nome de vocês é bastante curioso. Como surgiu?


Pouco antes do Victor se juntar a nós, eu, Caio e Jonathan fazíamos parte de uma outra banda voltada ao Thrash Metal. Porém, nossas influências naturalmente imprimiram um outro direcionamento às composições e, por isso, resolvemos começar uma banda nova para aproveitar esse material. Pensamos em um nome forte e que indicasse logo de cara o tipo de som que estávamos propostos a fazer. Quando o Caio sugeriu ‘Lacerated and Carbonized’, imediatamente, gostamos e resolvemos adotá-lo. Música, ideias, sonhos... Temos muito essa coisa de mudar o mundo. Enquanto musicistas, independente do estilo musical, qual a mensagem principal da banda? O que vocês querem transmitir através do que fazem? Expomos de forma crua os podres que assolam o Rio de Janeiro e o Brasil, como tráfico de drogas, corrupção e as milícias armadas que surgem no vácuo deixado pela insubsistência do Estado. Queremos que as pessoas daqui acordem para o caos em que estão vivendo e, ao mesmo tempo, buscamos mostrar para o mundo o que acontece a partir de uma visão de quem vive isso no dia a dia. O Rio de Janeiro, cidade-natal, como qualquer outra cidade, têm problemas a serem resolvidos. E estes problemas são retratados pela banda. É difícil falar do que se vê e se convive? Pelo contrário! Esse cotidiano faz parte de nossas vidas e do ambiente em que crescemos e isso faz com que as ideias apareçam de forma muito natural. Particularmente, entendo que esse retrato da realidade é muito mais brutal do que letras splatter, baseadas em filmes ou outras situações abstratas. 41


A violência sobre a qual falamos é concreta, real. Podemos tratar o tema com propriedade. É uma tarefa bastante difícil para quem compõe, não é mesmo? Não diria que é difícil... Certamente, é um processo trabalhoso, que requer foco e trabalho árduo, mas nós respiramos Lacerated and Carbonized; colocamos nosso sangue em tudo que fazemos. Dessa forma, os resultados são sempre recompensadores. Calcado no Death Metal, o grupo exagera do pedal duplo (particularmente adoro) e daqueles guturais quase incompreensivos. De onde buscaram inspiração? Não há uma influência direcionada. Tudo o que escutamos e gostamos contribui para o resultado final das composições, mas é claro que há bandas como Morbid Angel, Krisiun, Bolt Thrower e Black Sabbath que são unanimidade entre nós quatro e nos inspiram de forma diferenciada. Em falar no vocal, noto que houve uma mudança entre o primeiro álbum, “Homicidal Rapture” e o EP “Thrid World Slavery”. Algum tipo de estratégia ou a mudança ocorreu naturalmente? Foi natural. Jonathan é um vocalista muito versátil e talentoso. Quando iniciamos o processo de composição do novo álbum, sentimos que essa mudança na forma de cantar deu muito mais pressão ao material. E creio que esse seja o sentimento geral do público, pois todos reagiram de forma extremamente positiva. E falando do primeiro álbum. Ele re42


cebeu críticas positivas dentro e fora do país. Imagino a satisfação de vocês com tais notícias. Vocês acreditavam que teria esta repercussão toda? Sabíamos que tínhamos um material de qualidade em mãos e queríamos mostrar nossa cara para o mundo. A repercussão foi incrível e o álbum abriu muitas portas para o LAC, tanto aqui quanto no exterior. Posso dizer que o “Homicidal Rapture” nos colocou em evidência e nos afirmou como um nome forte da nova geração do Metal Extremo brasileiro. Com tanta repercussão, chegaram a tocar pelo Brasil e fora dele. Passando por alguns países sul-americanos, como foram recebidos por eles? A vibe é diferente por lá? E o público? Passamos por diversos estados do Brasil e tocamos com bandas com o Sepultura, Mayhem, Belphegor e Immolation, o que foi fundamental para o crescimento do LAC. Além disso, partimos para a “Homicidal South American Tour”, em 2010, passando por Colômbia, Equador, Chile, Bolívia e Peru, países onde o “Homicidal Rapture” vinha sendo distribuído. Pudemos sentir o quanto o Metal brasileiro é respeitado na América do Sul. A atmosfera dos shows era impressionante e o público absolutamente insano! Costumo perguntar sobre o público para saber se há diferença por sermos de países distintos. A música fala por si só? Até fale um pouco sobre os europeus, já que vocês estiveram na Europa na mesma tour com os americanos do Vile. Com certeza, existem diferenças, mas o que mais impressiona é justamente notar que 43


há um elo que identifica os headbangers de todos os lugares do mundo. O clima de respeito, confraternização e de ‘sangue nos olhos’ sempre predomina, onde quer que estejamos. Partimos para nossa primeira tour europeia no final de 2012, ao lado do Vile (EUA) e do Slaughter Denial (Itália), passando por Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Holanda, Rússia, Ucrânia, Suíça, Áustria, República Tcheca, Bélgica, Escócia e País de Gales. Os europeus foram muito receptivos e abraçaram o LAC incrivelmente. Eu diria que eles são mais reservados; não são tão expansivos quanto os sul-americanos (exceto os russos e ucranianos, que são um verdadeiro capítulo à parte!), mas demonstram muito respeito e 44

admiração do jeito deles. “Awake the Thrist” tem um peso sonoro incrível. Gostei bastante do track, sonoramente mais maduros e a qualidade do áudio é bem melhor. De um modo geral, o que mudou desde o início até agora? Os anos de estrada certamente amadureceram a banda e essa evolução é muito evidente no novo trabalho. Desta vez, trabalhamos com o alemão Andy Classen, um dos produtores mais respeitados do mundo e que já trabalhou com grupos do quilate de Destruction, Tankard, Krisiun, Belphegor, Legion of the Damned, na ‘mix’ e na ‘master’


deste novo play. Era um desejo antigo nosso e ele certamente contribuiu para elevar o patamar de qualidade do resultado final. Chega de passado e pausa no presente, vamos falar do futuro. “The Core of Disruption” está prestes a sair, o que pode adiantar para nós? Já tem data de lançamento? “The Core of Disruption” será lançado pela Eternal Hatred Records aqui no Brasil (com distribuição pela Voice Music e pela Mutilation Records), e pela Mulligore Records no Canadá e nos EUA. Em breve, vamos anunciar o selo que fará o lançamento na Europa. A première oficial de lançamento será 45

no dia 11 de maio em um grande fest no Rio de Janeiro, em que dividiremos o palco com nossos irmãos do Unearthly. Quem estiver na cidade não pode perder este show por nada, pois será uma noite de brutalidade repleta de surpresas. “The Core of Disruption” vem falando da violência que assola o Rio de Janeiro. Não deixa de ser um protesto. Vocês fazem a sua parte em denunciar, mas, honestamente, tem como mudar esta realidade? A mudança é possível e necessária, mas exige uma mobilização política diametralmente oposta a que se observa neste mo-


mento. A questão é extremamente complexa, mas, em suma, enquanto houver verba pública sendo desviada por corruptos e investida em estádios de futebol em detrimento de escolas e hospitais, nada será diferente. E este novo álbum contará com participações especiais de uma galera de diferentes estilos, mas que conhecem bem a temática que o LAC aborda. Como surgiram os nomes, a reação dos caras? É uma enorme satisfação contar com caras do calibre do Felipe Eregion (Unearthly), Felipe Chehuan e Max Moraes (Confronto) e Guilherme Sevens (Painside) abrilhantando o álbum. Nos conhecemos de longa data da cena aqui do Rio de Janeiro; são todos músicos excepcionais e de muito destaque. Além disso, achamos importante trazer pessoas que também vivenciam a mesma rotina de caos e violência que retratamos para que a intensidade da mensagem fosse mantida. Ainda sobre música, mas agora algo mais pessoal. O que o LAC tem ouvido? Poderia passar umas 10 páginas respondendo apenas a essa pergunta (risos). Nós sempre estamos ouvindo muita coisa o tempo todo. No meu playlist, por exemplo, tem rolado Suffoction, Hypocrisy, Claustrofobia, The Rotted e Caedere, sem parar. Top 5. Quais as cinco bandas que são influências do LAC. Comente um pou-

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co sobre elas. Vamos lá: Slayer – Mais de 30 anos no mainstream descendo a lenha. Não preciso falar mais nada! Morbid Angel – Não tem como ver o clipe de ‘Blessed Are The Sick’ e não sentir vontade de quebrar o que estiver pela frente! Krisiun – Além da qualidade indiscutível, o Krisiun é um exemplo pela atitude. Chegaram ao patamar onde estão com muito trabalho, suor e honestidade. Sepultura – ‘Arise’ e ‘Beneath The Remains’ são clássicos absolutos. Todas as bandas brasileiras de Metal devem muito ao Sepultura. Graças ao que eles conquistaram o mundo passou a ver com outros olhos o som feito aqui. Black Sabbath – A fonte de tudo, simplesmente. Estou ansioso para vê-los no Brasil este ano! Por fim, quais as outras metas para 2013? Agradeço, mais uma vez, pela entrevista. Sucesso e continuem a elevar o Metal brasileiro. Eu é que agradeço à Rock Meeting e aos headbangers que nos acompanham! O clipe de “Third World Slavery” está no forno – a produção está matadora. Em 2013, vamos viajar mais pelo Brasil, aproveitando o embalo do “The Core of Disruption”. Também faremos um giro rápido pela Argentina e pelo Uruguai, além de retornar à Europa para uma tour ainda maior. Fiquem ligados!


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Iron Maiden versus Iron Lady A intrigante relação entre a falecida premiê Margaret Thatcher e a banda que ajudou a alavancar o grande momento do Heavy Metal

Por Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

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nindo o Punk Rock com um som mais agressivo, o Iron Maiden de Steve Harris e Paul Di’Anno trilhava um caminho sem volta no final dos anos 1970. Ao mesmo tempo, em 1979, quando lançou o EP independente “Soundhouse Tapes”, Margaret Thatcher assumia como primeiraministra britânica - ela era vista como uma autoridade de pulso, daí seu apelido “Dama de Ferro”. A premiê faleceu na manhã do dia 8 de abril último, aos 87 anos, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC), no Reino Unido. Ela ficou no ‘comando’ da Inglaterra por três mandatos consecutivos, de 1979 a 1990. Segundo consta, suas medidas no poder conseguiram, de fato, reduzir a inflação, mas 48

o desemprego só subiu. Ela, membro Partido Conservador no Parlamento de Finchley, tinha bastante rigor com sindicatos trabalhistas e era a favor da liberdade de mercado e privatizações. Na época, Thatcher tinha 54 anos, mas ainda com ideais arrojados. A conexão com o banda não parou na semelhança do apelido de Thatcher, “Iron Lady” (Dama de Ferro), com o nome Iron Maiden (Donzela de Ferro). Por conta de seu estilo autoritário, a banda britânica, sempre irônica, a colocou na capa do single “Sanctuary”, lançado em 1980, numa posição um tanto incômoda - a imagem mostrava o mascote Eddie atacando-a com um punhal, enquanto Thatcher tentava rasgar um cartaz deles em um beco.


De acordo com o jornalista Ian Christe, em seu ótimo “Heavy Metal – “A História Completa”, de 2010, “O governo inglês respondeu à popularidade do disco com censura oficial, exigindo que edições futuras apresentassem uma tarja preta sobre o rosto da líder atormentada. Para seu desespero, Thatcher, que cortou programas sociais, privatizou órgãos do governo e combateu sindicatos, foi posteriormente apelidada de ‘a Dama de Ferro’ pelo grande circuito da mídia

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Pegando carona na repercussão da imprensa local, sobretudo nos periódicos Daily Mirror e Daily Record, o Maiden colocou no mercado em seguida o single “Women in Uniform”, trazendo novamente a premiê na capa, desta vez com uma metralhadora. Isso alavancou ainda mais a emergente New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM), que já caminhava a pequenos passos firmes. Pouco depois, a primeira-ministra ‘conheceu’ a banda pessoalmente.



O interior alagoano há muito se mostra um atrativo para festivais de Rock. Arapiraca fez a festa neste mês de abril Por Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

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cidade de Arapiraca há muito carecia de uma sacudida no âmbito roqueiro. Desde o fim do festival independente AraMetal Night – nem mesmo com as edições do Nocturnal Metal –, o fogo não reacendia com uma chama forte e azulada. Mas isso, o fogo, pôde ser visto na noite do último dia 13 de abril, num evento de nome quase igual: Ara Rock Night. A pegada estava justamente no fazer acontecer. Afinal, os produtores não eram do ramo. De supetão, um amigo olhou pro outro e, vendo a necessidade de reavivar a cena, 51

comentou: “Poderíamos tentar fazer algo do tipo do AraMetal”. E o nome surgiu logo em seguida, com a ajuda artística do designer Fernando Lopes, que deu vida à logo. Os dois parceiros Téo Carnaúba e Carlos Eduardo resolveram não pensar muito. Tocaram à frente o projeto pensando que daria certo. E deu! Com muito esforço para conseguir patrocínio, eles correram atrás e, no dia do espetáculo, não descansaram, não. Os detalhes como iluminação, acomodação das bandas de outros municípios, som e pormenores de ambientação: tudo estava sendo cuidadosamen-


te visitado. Com efeito, quando cheguei no Clube dos Fumicultores, no bairro do Centro de Arapiraca, não havia assim tanta gente. Achei que seria aquilo e pronto. Havia poucos quilos que estavam sendo arrecadados a fim de serem entregues na instituição Casa dos Velhilhos, mas parecia o suficiente. Quando a banda Charrua começou – durante madrugada adentro ainda rolou Foxy (Maceió), Storm e Ariel/Kaliban (Palmeira dos Índios) -, a coisa parecia ter mudado. Camisas pretas me circundavam. Minha namorada, ao meu lado, sorriu: os roqueiros invadiram o rol do clube para bangear. As cotoveladas eram mais intensas à medida que o som progredia; das músicas próprias direto para um cover açucarado do System of A Down. O show foi rápido, mas muito bem executado, com destaques para o guitarrista Willames “Slash” Cavalcante. Depois de 10 anos, a banda voltou com tudo aos palcos. Em seguida, subiu a Foxy, com seu Metal melódico apurado. Com o excelente EP “Among the Tears” lançado em maio do ano passado, o show filtrou o que cada integrante tinha de melhor – aliás, o guitarrista Edgar Lins assumiu os vocais, com a saída do cantor, e desempenhou muito bem o papel. Com desfiles de solos giratórios de uma “Eagle Fly Free” inspirada, o grupo de Maceió acabou seu set list com muitos aplausos. Durante a subida da Storm ao palco, agradeci-

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mentos e sorteios. Na execução da performance do quinteto arapiraquense – o qual já tem na bagagem o EP “Number One: Nightmare in the Elm Street”, de 2004 –, uma gama de estilos, mas todos eles voltados ao Metal tradicional, no final das contas. Para fechar a noite, toda a poesia da Ariel/Kaliban, de Palmeira dos Índios. Eles tocaram música do EP “Karma”, de 2009 – e já pretendem lançar material novo em breve –, e fizeram por onde uma caravana vir da cidade deles para prestigiá-los. Não só de lá, mas, no público, podia-se ver pessoas de várias cidades do Agreste e até no Sertão alagoano, sinal de que a divulgação foi bem feita. Mais que isso: o Rock não tem fronteiras por aqui – ainda bem. Cerca de 400 pessoas compareceram ao evento, que deve ter uma nova edição no dia 13 de julho próximo, Dia Mundial do Rock. É só ir aquecendo... Afora, a cidade de Arapiraca está numa crescente onda de bandas surgindo e outras voltando. Isso quer dizer outra coisa: mais espaços têm de ser abertos para esses grupos não desaparecerem. Um baita empurrão veio com o festival mensal Rock Pró-Cultura, que acontece desde o ano passado. As edições de maio e junho trarão a Mutação e a Mopho. Como ocorre de forma gratuita na Praça Luiz Pereira Lima, a antiga Praça da Prefeitura, em Arapiraca, o público precisa e deve comparecer. Como sempre o faz...

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Sedna

Por Breno Airan

Para uma banda que tem como nome de seu primeiro álbum, em tradução livre, o que vem a ser um “final sublime”, já no começo do play, lançado no dia 17 de setembro do ano passado, ele conquista e o adjetivo é realmente pertinente. O excelso “Sublime End”, da banda alagoana Sedna, vem para preencher uma lacuna que há muito permanecia no estado: a de ouvir um bom Stoner Metal sendo executado. Ao vivo, a precisão deve ser a mesma e o que mais chama atenção é o coro nas bridges e refrões. É de um detalhismo sincero. A primeira canção, uma das melhores e mais diretas, “Storm at the Gates”, dá a deixa de como serão conduzidas as letras e arranjos ao longo dos 48 minutos do álbum. O quarteto Pablo Wilard (baixo e vocais), Fábio Lyra (guitarras e backing vocals), Rodrigo Lacerda (guitarras e backing vocals) e Damien Murch (bateria) tem também um pouco o pé no grunge e, em certos momentos, é fácil de identificar algumas influências, como a mais latente: Alice in Chains. No mais, eles não tentam imitar ninguém e criam, a partir de belas passagens instrumentais, um clima bem mais pesado e soturno, a exemplo das ótimas “Existence in 54

Black” e “Worm After Wisdom”. Destaques também devem ser creditados a “Phasya 8”, “Empathy”, “Of Wounded Prides or Fallen Hopes” – a guitarra frenética de Fábio Lyra nos redobra a esperança, na verdade –, “Overcoming the Worthless”, que tem uma ‘cozinha’ incrível, e a belíssima “Fall From Grace”. Outro fator importante a ser lembrado é que, segundo Lyra, todo o material começou a ser elaborado ainda em 2009, logo depois de eles terem partido para este atual projeto – antes, o grupo se chamava Entinema e tocava um som mais voltado para o grunge e o Hard Rock. De forma independente e com a mão na mesa de som, o quarteto stoner resolveu juntar forças e os conhecimentos básicos de cada um, vindo a montar um home studio carinhosamente apelidado de Lylo, nome do coelho do baixista e cantor Pablo Wilard. O resultado de tanto trabalho é o reconhecimento no meio independente e, mais ainda, lá no exterior: o público não pode estar errado. “Sublime End” é um atestado de competência, entrosamento e boas pitadas de o rock-não-morreu.


Sanctifier Por Daniel Lima

O nordeste vem se mostrando cada vez mais forte quando o assunto é Metal. Em Natal, no Rio Grande do Norte, surgiu a banda de Death Metal Sanctifier. O grupo é formado por Rogério Mendes (Vocal), Alexandre Emerson (Guitarra) Adriano Sabino (Baixo) e Marcelo Costa (Bateria). No ano passado foi lançado o disco Daemoncraft. Um álbum muito bom que mostra uma grande influência de bandas como Krisiun, Morbid Angel e linhas de guitarra que lembram muito o Carcass. A bateria é muito bem trabalhada com os pedais parecendo uma metralhadora maníaca e destruidora que mantém o seguimento das músicas sem perder o tempo. Um detalhe que presto bastante atenção é relacionado à qualidade de gravação. As bandas de Death Metal precisam ter uma qualidade de áudio bacana para entender as frases, que normalmente são muito rápidas. Se não tiver uma boa qualidade você termina sem entender onde está a bateria, baixo, 55

guitarra e muito menos o vocal. Mesmo com a facilidade para gravar, é importante ter um profissional na hora de mixar o produto, para deixa-lo com a melhor qualidade possível. No caso da Sanctifier, a qualidade está ótima e se consegue entender cada instrumento. As guitarras com palhetadas dobradas são facilmente entendidas, o pedal duplo está perfeito, o vocal está bem equalizado e até o baixo, que muitas vezes passa despercebido nesse gênero, está bem equalizado. Destacam-se as faixas “Daemoncraft”, “Worshiping Dark Thoughts”, “Demônios de Lava” que é a versão em português da primeira faixa que se chama “Demon Ov Lava”, “Tentacles” e “Invocation of a Shoggoth - The Ritual”. É um excelente álbum para os amantes e admiradores do Death Metal. Pancadaria do começo ao fim. Esse é um daqueles que você aperta o play e deixa tocar até o final. O pessoal da banda Sanctifier está de parabéns pelo trabalho.


Gametas Por Igor Miranda

O início da existência dos Gametas se deu em 2000, continuando até 2007 com uma “existência efêmera”, segundo o próprio frontman Paradise Von Drakulelvis. Apenas em 2008, com a parceria entre Paradise e o guitarrista Iuri Escabroso, o grupo da capital carioca passou a ter a cara de hoje em dia. A formação é completa por Thiago Loverboy (baixo) e Rafael Bralha (bateria). Autointitulado, o primeiro registro dos Gametas foi lançado em 2010 com músicas feitas de 2000 até 2009. Três anos depois, a banda volta com o álbum “Supersônico”, gravado por Fábio Brasil (Detonautas Roque Clube). O produto físico impressiona. O trabalho gráfico minimalista do encarte é reforçado com um pôster com várias homenagens das fãs – as gametetes. Nunca vi tanta mulher nua e seminua em um pôster só. A abertura “Boa Noite, Almas Penadas” não poderia ser mais adequada. Um som bem pra cima, transitório entre Punk, Hard Rock e Pop Rock. “Vampiro Pornô” segue orientada ao Hard Rock. A letra trata de um cara que gosta de fazer sexo oral em mulheres… menstruadas. “A Garota do Ginásio” é um formidável Power Pop com uma leve dose adicional de peso. 56

“Menino Lobisomem” coloca o pé no acelerador com irreverência e um trabalho instrumental formidável. Nem mesmo na balada “Tmda (Toque Mágico do Amor)”, os Gametas ficam no óbvio. A letra ambígua e o som grudento reforçam a tônica da originalidade. A boa “Beth Cemitério” é uma releitura brazuca de “Pet Sematary”, dos Ramones. “Teu Namorado É Gay” alia a letra – que beira o genial de tão escrachado – a um instrumental Rock n’ Roll. A faixa-título é uma boa balada, com potencial de single. “Menina Popular” tem um apelo Pop Rock, mas ainda mantendo a marca dos Gametas. “Dublê de Rockstar”, Hardão de atitude, traz uma crítica válida a todos aqueles que fazem música em troca de cerveja e desvalorizam o underground. “Eu Quero que Você Morra!” fecha o álbum apresentando um novo olhar para músicas baseadas em dores de cotovelo. “Supersônico” é bem produzido, com instrumental formidável, bons vocais principais e vozes de apoio, letras criativas, versatilidade e o mais importante: criatividade. Nesse registro, os Gametas mostraram que têm capacidade para ir ainda mais longe. Ouça o álbum AQUI!


Pink Floyd Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Qual deve ser a sensação de ver uma obra de arte sua em uma a cada cinco residências inglesas? Talvez inexplicável. Quem poderia dizer isso era o designer Storm Thorgerson, que morreu vítima de câncer no dia 18 de abril último. Foi ele o criador da emblemática e semiótica capa do álbum “Dark Side of The Moon”, de 1973. Além dela, Thorgerson estampou trabalhos do Led Zeppelin, Audioslave, Peter Gabriel, Genesis, Anthrax, 10cc, Alan Parsons Project, Muse e The Mars Volta, entre outros. Mas foi com o “Dark Side...”, aliado a seu toque sublime e minimalista, que ficou mundialmente conhecido. Ele pôde ver o álbum por 750 semanas consecutivas no topo das paradas americanas, no outro continente, logo ao lado. Também pudera. Aquele era o auge criativo do Pink Floyd. Roger Waters (vocais, baixo e programações), David Gilmour (guitarras e vocais), Richard Wright (teclados e vocais) e Nick Mason (bateria) revolucionaram o jeito de se ouvir e sentir a música progressiva. Logo na abertura do play, com a do57

bradinha “Speak To Me/ Breathe”, já há uma mostra do que está por vir: muito virtuosismo e melodias bem encaixadas. No ar, a respiração aumenta o compasso com a frenética “On The Run”, no melhor estilo krautrock. Os sinos adentram na profunda “Time”, que traça a inexorável condição de todos nós na Terra. Gilmour faz um trabalho perfeito nas seis cordas. A bela instrumental “The Great Gig in The Sky” aponta a direção do resto da ‘bolacha’, com uma incrível vocalização em desespero interminável, até a chegada de “Money” – uma crítica bem feita à nossa sociedade consumista. O baixo de Waters marca. “Us And Them”, “Any Colour You Like”, “Brain Damage” e “Eclipse” passam de uma vez só pelos nossos ouvidos, sem pedir licença, com uma bateria dó-ré-mi e um teclado preciso. Tudo está ali – a complexidade, a técnica, os detalhes, a possível sincronia com o filme “Mágico de Oz”, de 1939. O jeito é dar o play de novo e, mais uma vez, viajar sentado neste registro, que completou 40 anos ‘prismando’ nossa realidade.


Amaranthe Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

Tenho escutado tanta coisa que não me prendi a uma única banda ou estilo. Com toda certeza, as bandas com vocal feminino sempre me chamam mais atenção e o destaque deste mês vai para os suecos do Amaranthe. Já falei deles outra vez, lembra? Aquele grupo de Heavy Metal com três vocais: dois masculinos (limpo e gutural) e um feminino. Pois bem, após a sua apresentação no Wacken em 2012, as portas se escancararam de vez para eles e vêm tomando espaço entre as bandas emergentes da Europa. Destaco aqui o novo CD do grupo, “The Nexus”, lançado em fevereiro deste ano. Não sei por que, mas até demorei para escrever algo sobre ele (risos). Enfim, vamos falar do álbum? Confirmo que não traz muita coisa nova, a não ser duas faixas extras acústicas, uma delas da mú-

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sica “Hunger” do primeiro álbum, com a qual confesso que ainda não me acostumei. O fato é que quando vi o vídeo da faixa-título do disco fiquei empolgadíssima. Eu realmente gosto muito desta banda e o que eles lançarem vai soar bem aos meus ouvidos. Elize Ryd, a vocalista, volta um pouco mais segura aos vocais. Não sei se recordam, mas no final do ano passado ela foi convidada pelo Kamelot para uma turnê nos EUA como suporte do Nightwish. Naquela oportunidade, o Kamelot ainda teve a participação de Alissa White-Gluz (The Agonist). Enfim, enfatizo as faixas “Afterlife”, “Invincible”, “The Nexus”, “Burn with me”, “Future on Hold”, “Eletroheart”. Só para quem curte som de “mulherzinha”, tá? (risos).


Richie Sambora Igor Miranda (igormiranda93@gmail.com)

O Bon Jovi se tornou uma das bandas de Rock mais rentáveis dos anos 1980. Consequentemente, as turnês de divulgação atravessaram o globo com muito trabalho e pouco descanso. Isso fez com que a banda desse uma pausa em suas atividades no ano de 1990. O guitarrista Richie Sambora não ficou parado e viu, naquele breve hiato, a oportunidade de mostrar ao mundo suas influências e raízes musicais – diferentes das empregadas no grupo que o consagrou – em um disco solo. “Stranger In This Town” (1991), de quebra, teve a participação dos colegas de trabalho Tico Torres e David Bryan, do virtuoso baixista Tony Levin e, para uma música, o lendário Eric Clapton. O álbum traz um Hard Rock blueseiro e pouco farofeiro, transmitindo uma grande linearidade. A introdução “Rest In Peace” poderia ser um pouco menor e a bela “Church Of Desire” dá o verdadeiro pontapé inicial. Sambora se mostra um grande cantor em uma música basicamente conduzida por sua guitarra, além de boa participação de Bryan. A melancólica faixa-título vem em 59

seguida, com muito feeling em evidência. Traz o melhor solo de guitarra do disco. O single de maior repercussão do play foi “Ballad Of Youth”, mas sem muita extravagância. A canção apresenta uma letra consciente e uma grande performance vocal. Na sequência, temos a linda balada “One Light Burning”. “Mr. Bluesman” conta com a participação de Eric Clapton, além de um bom desempenho de Tico Torres. Os hards “Rosie” (feita originalmente para o multiplatinado álbum “New Jersey”) e “River Of Love” seguem e o clima cai no fechamento, com as baladas “Father Time” e “The Answer”, que exibem a potente voz de Sambora. O guitarrista não lançou um disco solo até “Undiscovered Soul”, sete anos depois, por conta dos compromissos com o Bon Jovi. Mas a audição de “Stranger In This Town” permite a conclusão de que ele deveria ter investido mais em sua carreira solo, mesmo que paralelamente. Vale a pena conferir, inclusive se não gostar de Bon Jovi. É digno ressaltar que, de seus três trabalhos solo, a única “mancha”, a meu ver, é o atual “Aftermath Of The Lowdown”.


Lynyrd Skynyrd Weslei Varjão (weslei.varjao@gmail.com) A partir do momento que conheci o Lynyrd Skynyrd comecei a ver música com outros olhos. A primeira vez que escutei Free Bird, eu descobri que aquela seria uma banda que me acompanharia até o final de minha vida. É praticamente impossível não se apaixonar pelo som dos caras e se sentir ainda mais comovido por todas as histórias de adversidades que rondam o grupo desde seu início. E o primeiro lançamento que pude acompanhar, já sendo fã do grupo, foi God & Guns, com o qual fiquei ansioso para saber o que esperar do reformulado grupo, que havia sofrido mais duas tragédias antes do lançamento deste. A primeira foi a perda do excelente tecladista e um dos membros originais do grupo, Billy Powell, que em 28 de janeiro de 2009 faleceu de suspeita de ataque cardíaco em sua residência. Não bastasse tal desgraça, em 07 de maio do mesmo ano, o baixista Donald “Ean” Evans, que estava desde 2001 no grupo, morreu de câncer também em seu lar. Muitos torceram o nariz, acusando o disco de modernoso demais ou devido ao apelo pop em algumas canções. Mas digo que mesmo com isso, o som que esses caras fazem continua matador e imperdível e afirmam o famoso dito popular “quem vive de passado 60

é museu”. Sem falar do belo trabalho vocal de Johnny Van Zant, que continua a honrar o legado da família. Somos esbofeteados já sem nenhum aviso nem tempo de respirar com “Still Unbroken”, em que é possível, mesmo com o peso apresentado, reconhecer como uma canção típica do Lynyrd. Temos um desabafo do grupo, que mesmo com tantas adversidades continua vivo e inquebrantável e dá provas disso com esta excelente abertura. Se você gosta de músicas que lembram o velho Lynyrd, “Southern Ways” é quase que uma “Sweet Home Alabama pt.2”, onde temos a base desse clássico emprestada para esta canção. A porrada “Floyd”, com a participação de Rob Zombie, em que é contada uma história de terror interiorana é outra excelente música em que a modernidade faz muito bem ao grupo. As baladas se fazem presentes na linda e triste “Unwrited That Song”, em uma letra desacreditada no amor da maneira que a maioria o descreve, como algo perfeito e sem fim. Temos também uma homenagem à Billy Powell na ainda mais bela”Gifted Hands”, em uma aula de feeling desses monstros, que sempre foram mestres nesse quesito. Aqui citei apenas as que mais gosto, mas este é um registro que merece ser apreciado do início ao fim sem pular uma música sequer.


Foo Fighters Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net)

Olá caros leitores. Algumas bandas surgem a partir do fim de outra ou quando algum membro resolve seguir seu caminho. No caso desta, foi o fim trágico do Nirvana que fez surgir o Foo Figthers. Com a morte do fundador e vocalista Kurt Cobain, Dave Ghrol (que na época era baterista do Nirvana) fundou o Foo Fighters, foi até um estúdio e gravou todos os instrumentos, fez algumas cópias e distribuiu entre os amigos. Até que copias chegaram em gravadoras que se interessaram pelo trabalho. A partir daí a história é óbvia. No momento a banda está parada e cada um focado nos seus projetos. Da ultima vez que isso aconteceu, Dave Ghrol se juntou ao Queens Of The Stone Age para tocar bateria e gravou o álbum “Songs for the Deaf” em 2002. O álbum que citarei esse mês é um que já me acompanha a bastante tempo, o “There Is Nothing Left To Lose” que foi lançado em 1999. Conheci o som dos caras

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mais ou menos nessa época e lembro que foi antes do Youtube derrubar a MTV. Esse álbum foi bastante aclamado pela crítica, sem contar os clipes bastante humorados como “Learn To Fly” e “Breakout”. Vale destacar também as músicas “Generator”, “Gimme Stitches” que é uma baladiha muito boa para se ouvir no final da noite, “Stacked Actors” e “Next Year”. Esse é um daqueles álbuns que as pessoas que estão iniciando no Rock ouvindo Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Raimundos e coisas do tipo deveriam ouvir para ter noção das variações rítmicas que o Rock pode encontrar no meio do caminho. Muitas vezes não são apenas velocidade e guitarras gritantes, tem a ver com o “felling” da música, o que se sente ao ouvir ou pegar o violão para tocar (ou seja lá qual for o instrumento que você toque ou esteja aprendendo). Esse álbum é simplesmente fantástico e esse eu recomendo.



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