Rock Meeting Nº 107

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A idade pesa A Lapada do mês vem falando de show, de como essa geração jovem de ontem está pensando mais para sair de casa, de ver a apresentação de alguma banda. Obviamente, as pessoas são diferentes e cada uma reage como lhe convir. O texto do mês me fez concordar com alguns pontos. Tirando os questionamentos irritantes sobre política, cobrança de ‘postura’ por parte dos doutrinadores do metal e toda essa balela, quando vamos a um show queremos diversão, acima de tudo. Rever amigos, jogar conversa fora, rir bastante, cantar aquela música favorita, essas coisas que podem gerar boas memórias era para ser a toada de sempre nos eventos, a depender do lugar isso mudou um pouco de figura. Ainda assim, outro detalhe está pesando e muito atualmente: idade. E é onde vamos chegar. A idade pesa muito em diversas situações. Não é apenas falando de quanto mais velho, mais chato. Mas de quanto mais velho, mais responsabilidades aparecem. Vamos pensar juntos. Sair de casa hoje tem um

custo, podendo ser alto ou não, mas há. Você precisa pensar em tudo: deslocamento, ingresso, bebida, comida, eventualidades... Já pesou no seu bolso? O outro ponto, além do financeiro, é o peso que a idade lhe traz. Você é daqueles que tem que sair até tal hora, após aquele horário prefere ficar no aconchego de casa? Ou melhor, você saiu cedo, deu meia noite e já quer voltar para casa? Bem-vindo! Sabe um ponto positivo da idade? Você não precisa aturar mais nada. Não precisa mais ter um meio termo, é sim ou não. Ponto final. Isso é maravilhoso. Nesse momento você já sabe a diferença de colega e amigo, já sabe que quantidade não vale de nada se não houver qualidade. Ônus e bônus andam juntos no intuito de estar em equilíbrio. É nessa perspectiva que pensamos mais antes de agir: ir ou não ir, eis a questão. Dúvida: coloque tudo na balança e veja o que é melhor para você. Afinal, você não é mais aquele aventureiro que topava tudo para ver qual era. Enfim, a idade pesa!


06 - Lapada - Shows vazios 14 - Live - Cruilla 24 - Entrevista - Imago Mortis 36 - Entrevista - War Industries Inc 44 - Skin - Agora que são elas 52 - Live - Angra 62 - Entrevista - Cosmic Rover 72 - Capa - Forcaos 2018 86 - Live - Barna N’ Roll 100 - Entrevista - Stomachal Corrosion 108 - Review - Vídeo 116 - Live - Soulfly 122 - Entrevista - Fogo Cruzado 132 - Entrevista - Héia

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net


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á alguns dias, vi uma postagem sobre os shows de antigamente, uma postagem sobre um show do Sepultura no Circo Voador (RJ) quando estavam lançando “Schizophrenia”. Show lotado, retrato de uma época mágica que, infelizmente, findou-se. Não, não tem nada a ver com “os anos 80 eram melhores” ou com “Facebook”, “WhatsApp” ou as comodidades dos dias atuais, mas com a mudança de vários parâmetros de lá para cá. E como eu mesmo não ando mais indo a shows, resolvi falar em uma visão pessoal do assunto. Se querem debater, procurem um chat na internet, ou seus professores de História e Filosofia, pois mesmo olhando os comentários em postagens, me recuso a respondê-los. A primeira coisa: os tempos mudaram a percepção do headbanger sobre o que é a música da qual gostamos. Antes, como já mencionei várias vezes, éramos fãs de Metal com vontade de ouvir Metal e trocar ideias sobre Metal. Éramos diversificados, mas todos se respeitavam bem mais. Tinha ateu, budista, cristão, esquerda, direita, extremistas, mas todos se respeitavam e esqueciam as diferenças nessas horas. Existia o Death to False Metal, mas isso o tempo erodiu (e já foi tarde). Hoje, tem gente mais preocupada com bebidas alcoólicas, drogas de uso recreativo (não uso, não gosto, mas escolha de cada um), e mesmo com militâncias políticas do -6-


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que em aproveitar uma tarde/noite de música na companhia dos amigos. Sinto muito, mas eu sempre preferi pagar por merchandising das bandas a tudo isso. Houve shows em que eu me senti mal com discursos de vertentes políticas. Se vocês querem votar em Lula, Bolsonaro ou outro, por mim, tudo bem. Mas a falta de respeito ideológica mútua é de tostar a paciência. Que mania de faltar o respeito com quem pensa diferente, e muitos depois ainda se acham o supra-sumo da intelectualidade, quando nem mesmo conseguem pensar fora da J-A-U-L-A ideológica em que se encontram! Já disse antes, e torno a dizer: shows de Metal não são palanques políticos ou lugares para isso. E vão problematizar com seus pais conservadores que os bancam, ou encher a paciência de seus líderes políticos que governam suas mentes! A segunda: já viram a dificuldade de deslocamento para muitos? O Brasil tem problemas de transporte público a dar com o pau. Eu mesmo moro em uma cidade a uma hora de viagem (na madrugada, sem trânsito) do Rio de Janeiro, e a única condução é ônibus. Só que há disponibilidade de transporte 24 horas por dia, logo, sou obrigado a me adequar. Houveram shows em que tive que sair faltando 2, 3 músicas do setlist, pois eu tinha que trabalhar no outro dia. E com um detalhe: morrendo de sono. Nos anos 80, os shows eram em horários de matinês aos domingos. Vi Sarcófago no finado Caverna II em 1986 (antes da co-8-


letânea Warfare Noise I ser lançada), em um show que se encerrou às 18h00min de um domingo; vi Vulcano em 1986 em um show que começou na tarde de um sábado, mais ou menos umas 5h, em Madureira; vi em 1987 Necromancer, MX e Taurus também em uma tarde de domingo, com tudo acabando às 18h. Talvez esses horários mais amigos ajudassem bem mais e devessem ser resgatados. A terceira: a idade pesa. Sim, pois muitos já não têm o pique de antes, e o Metal parece ter um público essencialmente de pessoas acima dos 30 anos. Surgem as responsabilidades com família, filhos, e contas, e essas inviabilizam a constância em shows. Além disso, essas gerações mais antigas (como a minha) querem ir aos shows para curtir a música, e não ficar se metendo com tretas. Os mais jovens (já nesse modelo chato de ser de hoje em dia) acham que show é lugar para “problematizar”. Se querem mesmo ajudar em algo, faça doações a instituições de caridade, dê atenção a pessoas que realmente precisam de um pouquinho de seu tempo (idosos em especial), e só se conhecem duas profissões que realmente precisam da boca e da língua: político e prostitutas(os). Escolha seu caminho, e test your might! Quarta: já que falamos em tretas, elas realmente são um fator a ser mencionado. Haja paciência! É mina falando de homens como “machos” (sinto muito se acham que os moleques que adoram as tratam como objeto, mas preferem-nos aos homens de verdade), banda A não se dá com banda B e o fã é posto no meio disso tudo, é gente falando de banda C porque um integrante é isso ou aquilo...

Foto: Bruno Sessa

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Sinceramente? O lugar de gente assim é naqueles shows gigantes de músicos ou bailes (que não são de Metal, mas estilos populares) que nem ligam para suas existências, mas apenas para seu dinheiro! Quinto: a realidade brasileira. Sim, até mesmo isso deve entrar na conta. A atual crise financeira arrancou o poder aquisitivo de muitos. Dessa forma, como pagar passagens, comida, bebida, merchandising e entradas? Começa a ficar pesado para qualquer um que não tenha nascido em berço de ouro. E existem produtores que realmente buscam viabilizar os shows, mas cada vez fica mais difícil. Sexto: a falta de ousadia. Nos 80, íamos aos shows que podíamos sem muitas vezes nem conhecer as bandas. Eram apostas nossas, e valia por apoiar o cenário. Hoje, muitos preferem ir direto aos shows dos chavões. Nisso se percebe porque shows do Iron Maiden lotam, e nos de bandas do underground é um sufoco para chamar público. Tem horas que eu creio que os mais jovens (e alguns marmanjos) têm medo de gostar de bandas novas, que podem destronar os chavões. Sétimo: cansaço de tudo acima. Esta é a mais pessoal de todas. Já disse isso antes e torno a repetir: vendo tudo isso, a poltrona da minha casa se torna cada vez mais tentadora. Mesmo sendo da imprensa, conhecido e podendo pedir credenciamento (e depois ter que escrever sobre o show, logo, entrar em show de graça é his- 10 -


Foto: Bruno Sessa

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Foto: Bruno Sessa

tória da Carochinha para alimentar ego de fofoqueiros), meu nível de desgaste com todos esses fatores foi/é tamanho que, sinceramente, nem King Diamond ou Steve Harris, dois músicos pelos quais nutro imenso afeto, me tiram de minha poltrona se minha disposição não estiver alta. Permitam-me um desabafo: cansei de sair de shows no RJ quase meia noite, de chegar em casa às 2/3 da matina e acordar às 6/7 da manhã para trabalhar, morto de sono e sem pique. Já cobri shows dois dias seguidos, escrevendo a resenha do primeiro na madrugada de um dia para o outro (que para minha

sorte, era de sábado para domingo). E não é fácil, desgasta, cansa corpo e mente. Logo, quando pensar em falar/escrever algo em seu Facebook sobre alguém da imprensa, tenha a delicadeza de ser justo. Não espero isso, mas tento conscientizá-los de tantos fatores que existem que vocês nunca se dão conta. Mas tudo que fiz, como aprendi nos anos 80, visava para dar apoio. Hoje a mentalidade é outra, logo, nos resta ver onde isso vai acabar... Espero de coração que haja uma mudança nesse rumo que o Metal está seguindo... - 12 -



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Texto e Foto Mauricio Melo e Snap Live Shots

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ão cansaremos de elogiar o eclético festival Cruilla Barcelona. Foram inúmeras as vezes que o fizemos em edições passadas e aqui destacaremos mais um de seus golaços com o meio ambiente. Já que o mundo inteiro inicia uma campanha com relação ao lixo plástico, algo que este festival já havia iniciado há tempos, o Cruilla apresentou este ano seus copos plásticos fabricados de milho verde e mais, biodegradáveis. Sim, é possível! Basta querer e educar que a gente consegue. Já o cartaz, eclético como foi dito acima e um verdadeiro filé mignon com direito a uma sobremesa que, infelizmente, fomos obrigados a dispensar por um motivo mais do que justificável, o Barna N’ Roll que coincidiu no mesmo fim de semana, o que nos impossibilitou de frequentar aos três dias de evento. Responsável por abrir o festival, recebeu bom público ainda que essa seja uma difícil missão, Seasick Steve e seu amplo repertório de riffs e guitarras, algumas delas feitas pelo próprio. E já que a moda é chamar de artesanal, estão aí umas guitarras do tipo. Guitarras - 16 -


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de seis cordas, de três ou mesmo de uma só corda, feitas com latas e otras cositas mais e que surpreendeu mesmo aos que já conheciam o som do coroaço. Recebemos ali, numa tarde de quinta-feira uma verdadeira aula de blues. Na dúvida, escute você mesmo temas como “Don’t Know Why She Love Me But She Do” e “Barracuda ‘68”. O cidadão não está nessa aventura em solitário, conta com um baterista loucura total, Dan Magnusson e um segundo guitarrista, Luther Dickinson, que sentado ao lado da bateria, solta uns riffs de arrepiar. Steve se mostrou comunicativo e engraçado com o público além de “derrubar” uma boa garrafa de vinho durante o set. Não nos espantamos quando o vimos passeando pelo festival com cara de feliz e com as pernas pesadas. A grande atração internacional do dia foi Jack White, grande admirador de Seasick Steve e que se esforçou ao máximo em fazer uma grande apresentação e que apesar de incluir quase uma dezena de temas do White Stripe, viu o povo delirar de verdade com “Steady As She Goes” de seu outro projeto, The Raconteurs, isso já em reta final de set. Antes disso, “Over and Over and Over”, “Just One Drink” e “Sixteen Saltines” como parte de sua carreira solo junto a “Black Math”, “Cannon” e “Seven Nation Army” (como última do set) do finado The White Stripes fizeram a festa da galera. Ponto negativo da tarde? Senhor White não deixa fotógrafos trabalharem, bem, ele mudou de ideia e nos colocou na mesa de som com uns 100 metros de distância. Típico artista que esquece suas origens, pelo menos nesse quesito ou deve acreditar que na Espanha fotógrafo de show é bem pago, ou pelo menos, pago. Engana-se quem acha que a noite acabou. O grand finale e o mais esperado pelo público foi Enrique Bunbury. Resumindo, o cidadão foi vocalista de um dos maiores no- 18 -


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mes do rock espanhol do anos 80 e 90, Heroes del Silencio, que é uma verdadeira lenda e um arrasta multidão. Diga-se de passagem, musicalmente não faz minha cabeça, mas reconheço a alta qualidade de sua apresentação e o compromisso assumido com seu imenso público. Músicas de seu antigo grupo levam ao delírio seus fãs, provocam lágrimas e o mesmo não se nega a cantá-las. Para a ocasião “Maldito Duende”, “Mar Adentro” e “Heróe de Leyenda” foram as escolhidas. Um verdadeiro showman. A sexta-feira começou quente, literal e musicalmente. Em nossa rápida visita a um dos palcos secundários, tivemos a oportunidade de ver Camille. A francesa chamou mesmo atenção ao cantar “Too Drunk To Fuck” dos Dead Kennedys, uma versão bossa nova experimental, assim como boa parte de seu set. No palco principal um bom público esperava a apresentação do N.E.R.D. Bem, na verdade esperavam para ver Pharrell Williams cantar, falar palavrão, saltar e rapear. O show pareceu mais de Trap (estilo musical que vem criando polêmica) do que de rap. Não faltaram os sucessos do projeto como “Rock Star”, “She Wants To Move” e “Lemon” além de covers do Daft Punk, Gwen Stefani e The White Stripes. Outro grande nome do festival foi Gilberto Gil, ao qual o público estrangeiro gosta muito. Tanto é que, apesar da linha de frente ser tomada por brasileiros, um grande público se fez presente e não arredou pé para priorizar algum outro artista que coincidisse em horário. O que possivelmente não estava no script , foi a entrada do ex-Ministro na sexta ou sétima música. Mesmo assim, o show de celebração do Refavela estava de pé e agradou. Gil também cantou “Three Little Birds” do Bob Marley e dedicou à Damian “Jr. Gong” Marley que também estava no evento e tocaria no mesmo dia, porém mais tarde. - 21 -


Talvez o grande nome do cartaz e um dos responsáveis, senão o responsável por um quase sold out de sexta-feira, foi o Prophets Of Rage e sua legião de órfãos que deixou o Rage Against The Machine. Para os que não tiveram o privilégio de assistir ao RATM, está aí uma boa opção. Agora, se você foi um dos felizardos, prepare-se para se divertir sem compromisso. Ainda que o grupo levante a mão com punhos serrados, ainda que suba uma estrela vermelha ao fundo e que Tom Morello coloque cartazes em sua guitarra como “Fuck Trump” ou “Catalunya Lliure”, o Prophets não é mais do que uma versão descafeinada de seu antigo grupo. Desculpa a sinceridade, mas nas pala-

vras acima você não encontrará “ruim”, “fraco” ou qualquer uma dessas classificações, até porque nem caberia, é um showzaço e não tenho a menor dúvida disso. Não é todo dia que estamos diante de grandes nomes da música como os já mencionados Tom Morello e Chuck D como pregadores máximo de suas bandas de origem (RATM e Public Enemy) além de B-Real (Cypress Hill), Tim e Brad (RATM) e o DJ Lord e muito menos assisti-los tocando músicas explosivas como “Testify”, “Gerrilla Radio” ou “Bulls On Parade”, mas é isso. A pólvora dessas explosivas canções possui menos quantidade e poder de fogo, ou como disse antes, falta cafeína. Volto a dizer, bebidas sem - 22 -


cafeína possuem o mesmo sabor, principalmente o café e não me venha dizer que sim a menos que seja um Barista, mas no final do dia falta um gás. Já músicas do Public Enemy e do Cypress Hill como “Fight The Power” e “How I Could Just Kill a Man” ganham muita força por conta dos instrumentos e duas distorções. Do disco atual da banda somente “Living On The 110” foi tocada mas quem se importa? As pessoas queriam mesmo é gritar “Killing In The Name” com cara de felicidade, não sei se ignorando a letra ou mesmo sem saber do que se trata, talvez a falta de pólvora, cafeína ou raiva não faz tanta diferença em grande parte da juventude atual.

Sábado e último dia de festival, passaram por lá The Roots e David Byrne que, dizem, fez um show sensacional. Nós, por lá não estávamos já que um compromisso mais punk nos chamava. De todos os festivais que acontecem anualmente, o Cruilla é e sempre será um de nossos favoritos. É muito bom trabalhar no ambiente proporcionado por seus profissionais. Indico e sempre o farei. Aos viajantes que passem por Barcelona a princípios de julho em busca de férias e diversão, está aí um evento de alto nível. Até. - 23 -


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Texto Pei Fon | Foto Alessandra Tolc

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Imago Mortis está de volta, meu povo. E não poderíamos deixar de falar com eles. Conversei com o Alex Voorhees sobre um bocado de coisa interessante Ah, Charles Soulz deixou a sua pitada também. Cd novo, hiato, histórias, perspectivas. Você amante do Doom, acompanhe essa entrevista. O Imago Mortis acabou de lançar mais um cd na praça, fale um pouco sobre ele. Voorhees - O CD se chama “LSD”. Este título surgiu através da tecladista (na época, 2005) Bárbara Lyrae em uma de nossas muitas conversas a respeito de um novo trabalho. L.S.D. é uma sigla para “Love, Sex and Death”. Uma alusão à droga e – fazendo referência aos feromônios - substâncias que provocam reações em nosso organismo que denominamos paixão (muitas vezes, confundido com “amor”). Este trabalho foi forjado com sangue, amor e sofrimento. Musicalmente, estão de volta elementos clássicos do Imago Mortis: o peso e pesar em grau máximo. É um álbum conceitual e temos dois - 26 -


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personagens centrais (um casal), além de um narrador. E temos 12 canções para o ouvinte acompanhar a saga de uma pessoa que começa solteira, busca e encontra uma companhia com quem começa um relacionamento e sofre todos os processos de sexo, paixão, promessas de amor eterno, desentendimento, possessão, ciúmes e que culmina com o inevitável fim. A faixa de abertura funciona como um resumo da ópera onde todos os conceitos propostos no disco são apresentados de uma só vez. A partir da segunda música temos a história em si, que se encerra na filosófica “Epitáfio de um Amor”. “Black Widow” é aquele relacionamento er-

rado para você tentar esquecer o anterior. E amar o que te faz mal, amar a morte. A pulsão de morte freudiana. Love, Sex and Death (Theme) é uma canção que funciona como uma “outro”, com o narrador finalizando o trabalho como uma música de encerramento de um filme, enquanto o mesmo está nos créditos. Há muito mais o que ser dito mas prefiro que os ouvintes descubram por si! 12 anos para lançar um álbum de inéditas. Entendemos que o tempo é algo que não se explica, mas qual o motivo por levar mais de uma década para gravar - 28 -


um novo cd? Voorhees - Para não me alongar demais, vou tentar resumir o que ocorreu conosco durante esses 12 anos. O CD antecessor foi o “Transcendental”, lançado em 2006. Percorremos o país inteiro durante 02 anos para divulgar esse CD, fazendo shows de norte a sul. Foi a nossa turnê mais extensa. Por volta de 2008 a banda deu uma pausa e alguns integrantes acabaram por se desligar da banda por motivos pessoais, inclusive com dois músicos indo morar no exterior. Oportunidades aparecem, você sabe como é. Como a banda já havia sofrido desmanches anteriores, acabei desanimando

e a banda veio a encerrar suas atividades em 2009. Em 2010 houve a morte de meu filho, Alexandre Júnior - que adorava a banda. Percebendo que a vida é mesmo muito curtinha e muito, profundamente triste, comecei a escrever, escrever, escrever e desenvolver mais o conceito do disco (iniciado ainda em 2006 mas que estava parado). Também re-montamos a banda para um show especial tocando o Vida na íntegra em 2011, que também foi um tributo a ele. A banda continuou, fizemos mais shows e começamos - de fato - a trabalhar no conceito. Chegamos a lançar dois singles “demo”, - 29 -


um em 2013 (LSD Theme) e mais tarde, “Black Widow” apenas na internet, para saciar a curiosidade dos fãs e avisar que a banda estava compondo material novo. Por fim, decidimos regravar todas as músicas, incluímos novas mas faltava o principal: dinheiro. Fizemos um crowdfunding em 2016 mas este não obteve o retorno esperado. Mas conseguimos um acordo com o selo Die Hard (que já havia lançado o Vida, Transcendental) que viabilizou a prensagem. Gravamos a bateria (em estúdio terceirizado, o HR) e os demais músicos foram gravando suas partes e me mandando. Eu produzi tudo sozinho, em casa - fazendo todas as partes de edição, algumas timbragens, gravei minha voz, cuidei de burocracias, etc… e no final, mixei tudo. Evidente que neste processo recebi muito feedback dos demais músicos (pela internet, devido à distância - eu moro no sul e eles, no RJ) até chegarmos na versão final de todas as músicas. Por fim, o produtor Michel Marcos, do M&H estúdio, fez a masterização enquanto o brother Alcides Burn cuidou da parte gráfica, contando ainda com um desenho feito a mão pelo amigo Ednum Lopis. Foi um CD que deu mesmo MUITO trabalho, recebendo inclusive o apelido carinhoso de “Chinese Doomocracy” (risos). “Love, Sex and Death” sinto muito disso no álbum ‘LSD’. Entorpecido, denso e mortal. De onde veio a inspiração? Voorhees - Veio quando eu conheci o trabalho de Helen E. Fisher, autora do aclamado livro “Anatomia do Amor” - no qual ela aborda a questão biológica e fisiológica do amor e paixão. Com base nas pesquisas de Fisher, também professora de antropologia da Universidade Rutgers, pode-se fazer um quadro com - 30 -


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as várias manifestações e fases do amor e suas relações com diferentes substâncias químicas no corpo. Eu já havia observado esse fenômeno e resolvi mergulhar profundamente no assunto - utilizando também visões de filósofos como Nietzsche e Schopenhauer, que já dissertaram sobre o tema algumas vezes. Notei que havia muito em comum tanto com minhas visões quanto o trabalho dos filósofos e da própria Helen Fisher. Os meus próprios relacionamentos do passado também serviram de combustível para escrever os temas, com bastante conhecimento de causa, por sinal (risos). Adentrando ainda mais na temática, o que seria mais mortal: o amor ou a paixão? Voorhees - A paixão, pois a paixão tem prazo de validade enquanto o amor pode durar a vida toda. Se você estiver se referindo a “fatal”, cito a paixão novamente pois pode cegar e causar forte descontrole emocional. LSD transita em dois idiomas. A faixa “Epitáfio de um amor” é totalmente em português. O que os ouvintes não ‘lusitanos’ compreendem bem quem plantou ‘esta crença de que o amor jamais acaba’? Voorhees - Acredito que os ouvintes ‘não lusitanos’ vão precisar de um google tradutor para entender alguma coisa dessa faixa (rs). Nossa ideia nunca foi explicar nada com nossa música e sim explorar alguns temas dos quais gostamos. Escolhemos nossa língua pela sua riqueza poética então acredito que esta música seria uma boa oportunidade de explorá-la. Haverão surpresas e em breve disponibilizaremos essa faixa sem vocal algum para que qualquer um possa recitar o poema em casa, inclusive teremos uma letra em inglês para quem se interes- 32 -


sar. Na descrição bem simplificada do álbum é sobre o mito do amor romântico. Existe algum personagem por trás? O que seria esse mito? Voorhees - Existe sim um personagem “principal” por trás (citei anteriormente o casal e o narrador), ele está na primeira pessoa mas como eu sou uma pessoa do sexo “masculino” acaba que a mensagem sai sob a minha perspectiva. Mas de fato a mensagem serve para sexos masculinos, femininos, etc… há mais o que dizer sobre este personagem em si, está implícito nas próprias músicas e isto é um “easter egg” para ouvintes mais atentos. Quanto ao mito do amor romântico, tomamos como base tanto a ciência atual quanto os filósofos clássicos. Vou citar Schopenhauer: para o filósofo alemão, “o amor é a manifestação de um desejo inconsciente de perpetuar a espécie”. A ciência ainda foi mais longe: segundo a professora Cindy Hazan (psicóloga e socióloga), da Universidade Cornell de Nova Iorque, “os seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados durante 18 a 30 meses”. Isso é conhecido como o “ciclo feromônico da paixão” e ocorre inclusive em animais. Ouvindo o ‘LSD’ é possível identificar que ele foi facilmente influenciado por muitos estilos musicais. Durante a composição já sabem que haverá essa variedade sonora ou tudo acontece naturalmente? Charles Soulz: Acontece naturalmente pois na banda ouvimos de tudo (principalmente o Alex e eu, acredito). Então, com o subconsciente lotado de informações musicais, quando nos damos conta o doom já está na companhia de vários outros estilos. - 33 -


Voorhees - Somos uma banda basicamente de doom-metal com fortes influências do metal tradicional oitentista. Mas na hora de compor, a gente não se limita e sempre deixamos a música fluir, sem amarras. É um processo intuitivo e natural, sem pressões quanto à convenções do que está em voga ou a pressão da expectativa de nossos fãs. O mais legal é isso, os nossos fãs entendem que a mola propulsora da banda é realmente essa liberdade artística. Porém quando você está escrevendo sob a égide do Imago Mortis, a marca da banda acaba sempre sobressaindo. Somos uma banda única! A filosofia permeia bastante a inspiração temática do Imago Mortis. Fazendo uma alusão básica sobre o mito da Caverna de Platão, em que momento da história da banda poderia exemplificar? Voorhees - Na faixa de abertura, “The LSD Theorem”, na “Epitáfio de um Amor” e na faixa de encerramento, principalmente: “Love, Sex and Death (Theme)”. Interessante você notar essa conexão. Dizemos que o verdadeiro amor é algo bem diferente da paixão (mas que a maioria das pessoas acabam por confundir). O amor (Ágape) é algo próximo da caridade, do altruísmo e é desapegado e duradouro enquanto a paixão é possessiva (e temporária). A morte (Thanatos) vem para aniquilar tudo, amor, paixão (Eros)… A tríade do amor, sexo e morte é que nos dá o verdadeiro sentido da vida. Portanto, compreender isso é sair da escuridão da caverna e conhecer a luz da verdade!

porém ‘mortal’. É isso mesmo? Voorhees -É isso mesmo! Você percebeu muito bem! Por fim, qual o planejamento do Imago Mortis para esse segundo semestre. Muito obrigada e sucesso sempre! Voorhees - Nós é que agradecemos a oportunidade de falar mais sobre nosso trabalho! Agradecemos também a você, leitor - que se interessou e chegou até aqui! Para o segun-

LSD é um disco denso, difícil de compreender na primeira ouvida, mas depois que escuta começa a emergir para tudo o que está sendo cantado. É uma percepção daquilo que já vivenciamos, - 34 -


do semestre os planos são simples: queremos divulgar o CD tanto através das plataformas digitais (o mesmo se encontra no Spotify, Deezer, etc…) quanto físico. Estamos preparando novos itens de merchandise como camisas, bonés, canecas, o que der para fazer e vamos disponibilizar esse material para venda online através de nossa página no facebook, etc… Também faremos alguns shows - pontuais este ano - como parte da turnê deste álbum, intitulada “LSD ON THE ROAD”. O primei-

ro show será em Indaial, SC no festival River Rock, no dia 08 de Setembro. Em dezembro devemos tocar no Teatro Odisséia (RJ) e em SP ainda sem local confirmado. Visitem nossas páginas para maiores detalhes e novas datas estão sendo agendadas. Muito obrigado a todos e deixo uma frase final: “Sem a morte não haveria amor; Sem amor não haveria poesia; Sem sexo não haveria você!”. - 35 -


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- 37 Foto: Renan Paiva


Texto Erick Tedesco | Foto Camila Cara

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WIII, uma sigla alusiva à World War III (Terceira Guerra Mundial), intitula o segundo álbum do power-trio War Industries Inc, que sai no dia 21 de setembro pela Abraxas Records, e cuja temática bélica pode ser considerada uma marca da banda, baseada em São Paulo. Agressivo, sujo e recheados de riffs que flutuam entre o blues e o rock, num estilo chamado garage punk, o novo disco é a grande aposta da banda para alçar voos maiores, como sugere o frontman e idealizador da WIC, Jim Boone, que é norte-americano radicado no Brasil. Completam a banda Willian Paiva (bateria) e Carlos Motta (baixo). Jim dá mais detalhes da atual fase da banda, que acabou de lançar o single ‘More Casualties’ e o videoclipe-filme desta faixa, com produção da Âncora Filmes. Comente sobre o novo single, “More Casualties”. É uma composição que tem uns elementos novos à proposta da War Industries Inc., como vislumbrou tudo? - 38 -


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Jim Boone - O single More Casualties tem dois elementos diferentes: o riff da guitarra no refrão e, no mesmo riff, tem elementos da música eletrônica. No final das contas, o psycho trance ficou legal, bem encaixado ali. Tem muita banda que faz um ótimo trabalho misturando música pesada com o eletrônico. Música eletrônica tem, sim, seu lugar no rock.

Não é o futuro porque drones já estão há anos em guerras. Eles não fazem tudo, mas farão, e é assustador que não se precisa mais de homem nas batalhas. O país mais poderoso do mundo, mesmo, não vai precisar do ser humano para fazer guerra. A música já está sendo tocada ao vivo? Quais outras do novo álbum? Já executamos ao vivo algumas músicas novas, mas essa ainda não. Em setembro sai o disco e dali pra frente devemos tocá-la, sim.

“More Casualties” também ganhará um videoclipe que retrata um novo jeito de se fazer guerra. Você acredita que guerras via drones são possíveis num futuro não muito longe?

Falando sobre o WWIII, como a temáti- 40 -


ca guerra será abordada neste álbum? Tem alguma conexão com o debut? As músicas são agressivas, violentas, tem tema sobre morte, músicas que falam de tortura, controle da mente humana. ‘No Satan’, ‘Fire’, ‘Don’t want to go home’, ‘Don’t lie to the brain’, ‘Blues’, ‘Telling a Lie’, ‘Running Again’, ‘Calling Time’ e ‘Lobotomy’ são nomes de algumas faixas.

compositor principal. Tem uma ou outra ideia parecida em relação ao debut, além do mesmo produtor (Edu Recife). Mas, no conceito do álbum, a única relação seria que os índios perderam uma guerra. Quem ganha a guerra também escreve a história, e a história deles é algo quase perdido. Quando este segundo álbum será lançado? O álbum sai dia 21 de setembro, uma sexta-feira. Aí vamos fazer o show de lançamento no dia seguinte, no Pub 74, em Santo André.

WWIII tem alguma conexão com o début? Esse álbum não tem conexão com o primeiro. Tem outra formação, apesar de eu ainda ser o - 41 -


O álbum sairá pela Abraxas Records. Como vê a parceria da War Industries Inc com a gravadora? A parceria está legal. O Felipe Toscano, proprietário do selo e produtora Abraxas, trata o artista bem. Não é uma gravadora grande, mas faz muito bem com os recursos mínimos. Estou feliz com eles. Como detalharia o garage punk proposto pela banda? O garage punk é porque somos inspirados por banda do gênero. É um rock que não é genérico, que não tem aquela coisa do lo-fi que geralmente tem a ver com o rock garage; é meio bluesy. E como foi a repercussão do primeiro disco? É um disco bem visceral e ao vivo as músicas funcionam muito bem, né? Recebemos elogios das pessoas pela internet e foram diversas mensagens de que gostaram, apesar de não atingir muita gente. Ao vivo sempre tocamos com tudo, não importa o show. Só não tocamos as últimas duas do álbum, que são mais lentas. Jim, você é americano radicado no Brasil há alguns anos. Teve bandas nos Estados Unidos? Não tinha banda nos Estados Unidos. Meu primeiro instrumento foi saxofone! Nunca gostei porque nunca ouvi o sax em música que gosto, e é a guitarra que faz isso! Comecei a compor entre 18 e 20 anos e, com 27 anos, testei uma one-man band.

dades grandes. Lá as pessoas sempre pensam em ver algo novo, esta seria a grande diferença, enquanto aqui o “mais do mesmo” é mais constante.

E quais as principais diferenças do universo de bandas e shows entre os EUA e o Brasil? Nos Estados Unidos tem o mesmo problema de shows com poucas pessoas, mas não nas ci-

Aliás, a War Industries é uma banda que toca bastante ao vivo. Você tem novas ideias para músicas durante as minitours e shows pelo Brasil? - 42 -


Sempre gravo as músicas quando os ritmos entram na cabeça. É um momento único, que às vezes vem do nada, então paro o que estou fazendo para gravar o que veio à mente. Mas não tem música nova, só alguns riffs gravados, que vou ligando os que se parecem para, posteriormente, poder servir de ideia para uma composição. Gosto de juntar tudo e depois eu sento e componho tudo de uma vez, para unir

conceitos. Com disco novo, novos videoclipes e numa gravadora que ganha cada vez mais espaço e relevância na música, como imagina o futuro da War? Quero tocar em festivais, quero fazer shows maiores! - 43 -


Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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ivemos um momento em que a mulher possui maior liberdade para viver, sentir, expressar-se, perceber-se e comportar-se de maneira mais espontânea sem muitas repressões e barreiras psicológicas e sociais. Anos de submissão e repressão fez um efeito emocional nas mulheres que hoje parecem querer recuperar ‘o tempo perdido’, ou melhor, contido. Então, as mulheres experimentam maior autonomia, mais independência, mais ousadia, mais inovação, mais liberdade psicológica, física e social. Dentre as competências femininas, as mulheres estão presentes cada vez mais em posições de liderança por apresentar características comportamentais que o capacitam como maior habilidade para interações, comunicação e relacionamentos mais próximos. As mulheres possuem uma capacidade - 44 -


Mag Mariotto

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de percepção mais abrangente do ambiente e das interações humanas. Possuem maior capacidade de delegar; são mais amáveis, possui maior facilidade no relacionamento interpessoal; capacidade e talento para gerir equipes; maior poder de negociação, são multitarefas e se detém em mais detalhes que os homens. A mídia tem enfatizado as competências femininas e suas conquistas e essa divulgação reafirma um espaço que as mulheres conquistam cada dia e auxilia na construção de um imaginário coletivo mais propenso a dar lugar e espaço psicológico e social para homens e mulheres. Um espaço aonde homens e mulheres compartilham conquistas e espaços de maneira igualitária e complementar. No decorrer da história na época da revolução industrial, as mulheres entram no mercado de trabalho, porém ainda com condições insalubres de trabalho. Diante desse inconformismo as mulheres começam a mobilizar-se em revoluções em países como a França, Inglaterra, Rússia e Alemanha com objetivo de buscar melhoria nas condições de trabalho, assim como reconhecimento de seus direitos. Durante os séculos XIX e XX vão fortalecendo esses direitos e com isso passam a ser ouvidas e olhadas por alguns seguimentos da sociedade. Essa voz que passa a ser ecoada na sociedade começa a dar espaço para as mulheres sentirem-se mais fortalecidas e com coragem para construir um papel social significativo e com uma identidade própria. “Empoderamento feminino pra mim vai além da gente se olhar no espelho e nos achar um Mulherão da Porra! (O que é um processo diário de aceitação e luta contra os padrões), é se unir e apoiar outras mulheres em busca da igualdade de gênero, em busca das mesmas oportunidades no mercado de trabalho - 46 -


Mag Mariotto

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e com salários iguais!, é ter coragem de ser o que a gente quer, e principalmente fazer o que a gente tiver vontade, ou deixar de fazer... porque não somos obrigadas! E acho que esse movimento começa aos poucos, a gente precisa falar pra nós mesmas que nosso corpo é lindo, que não queremos ter filhos ou que vamos viajar sozinhas, porque isso vai ajudar nossa carreira profissional, e repetimos isso pra nossas amigas e mulheres do nosso convívio. Resumido, é a busca da igualdade com liberdade. É lindo, é só amor!”, diz Magê Mariotto, analista de RH. Dependendo das características de cada segmento do mercado haverá maior dificuldade de inserção da mulher como gestora. Alguns segmentos originalmente mais masculinos como o financeiro, construção civil podem ser ainda mais resistentes a valorizar a mulher como líder e dar espaço para serem reconhecidas e obter ascensão profissional. A mulher tem como características seu lado multitarefa que historicamente já faz parte de suas habilidades inatas. Uma explicação fisiológica é o fato de a mulher ter seu cérebro com maior capacidade para utilizar seus dois hemisférios ao mesmo tempo, condição se deve ao fato da mulher ter mais desenvolvido (pelo própria condição do organismo ter o ciclo hormonal) a parte do cérebro chamado corpo caloso que conecta ambos hemisférios. Importante também dizer que essas habilidades historicamente se desenvolveram pelas atribuições que lhe cabiam como o cuidado com as questões domésticas, cuidado com as plantações e necessidades vitais de todos da família. Mulher pode e deve desenvolver a maior capacidade de ter foco, começo meio e fim em suas atividades. Deve vigiar suas habilidades para não abrir diferentes frentes e

projetos e ter dificuldade de concluir todos ou parte desses. Há prós e contras nessa habilidade da mulher, pois pode as vezes dedicar-se em demasia a um só aspecto de sua vida e esquecer de outros, assim como pode focar em diferentes aspectos de sua vida mas a nenhum obter resultados satisfatórios e significativos. Algumas situações e algumas mulheres ainda se perdem na construção de seu próprio modelo feminino e por esse motivo podem ter uma tendência a seguir modelos masculinos de tirania e repressão ao masculino na sociedade e querer repetir as mesmas atitudes das quais foram anos subordinadas. Talvez a falta de um modelo feminino que mescle habilidades e competências da mulher do passado como prudência, bom senso, amabilidade, afetividade e mediação, com as características da mulher moderna como a independência e capacidade de negociação pode compor a construção da mulher atual multiplural em suas habilidades e com suas competências ampliadas e abrangentes mas sem tender a atitudes extremas como submissão ou tirania. Os homens sentem-se ameaçados por essa mulher que está em construção que ainda tende a agir com características polarizadas em especial uma atitude individualista, mais autoritária, com excesso de independência, pouco solidária e as vezes com certo ar de superioridade e isolamento. Sociologicamente e de maneira psicológica inconsciente a mulher pode temer sentir-se submissa ao homem novamente e por esse motivo pode estar produzindo em alguns momentos um distanciamento que impede de haver cooperação, compreensão, solidariedade, interdependência características necessárias para a harmonia dos relacionamentos. Importante - 48 -


Raphaela Neves

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Mag Mariotto

dizer que também os homens precisam abrir mão de poderes antes absolutos e dimensionar sua postura para novos formas de agir. Bom, tais considerações não buscam findar-se aqui, mas incitar reflexões sobre qual poder buscamos, como podemos lidar com esse poder de maneira madura e equilibrada de tal forma que não nos distancie de nosso FEMININO (que precisa do Masculino!). Precisamos ser poderosas nas diferentes áreas de nossas vidas e mantermos ao mesmo tempo nossa essência feminina. Cada mulher deve encontrar seu caminho que pode ser através de trabalhos de auto-conhe-

cimento (psicoterapias) e/ou auto-reflexões (capacidade de perceber-se e avaliar sua vida nas diferentes áreas e realizar mudanças que aprimorem tais áreas). Isso é bom, afinal são anos de submissão e desigualdades e sempre é gratificante sentir que chegou nossa vez. Outro dia explicava ao meu filho de 8 anos sobre o porquê havia a comemoração do Dia da Mulher. Ao dizer a ele que a mulher passou anos sem direito nenhum, totalmente submissa, que não podia votar, trabalhar, entre outras coisas e que o mundo era dos homens, ele entendeu e até concluiu: “É, então até que vale ter o dia - 50 -


Raphaela Neves

da Mulher”(sic). Porém, mesmo sendo natural acharmos que chegou a nossa vez, costumo dizer às minhas pacientes/clientes que não podemos exagerar, afinal podemos correr o risco de transformarmos na era da tirania feminina. Isso levaria a consequências insalubres no contexto biopsicossocial da mulher, pois, o que vemos, são mulheres poderosas em suas carreiras e vida profissional mas, quando olhamos as diferentes áreas como família, vida social e conjugal, sempre existem “probleminhas” que precisariam ser avaliados e melhorados.

Precisamos refletir qual poder nós, mulheres, queremos. Para quê? Por quê? O que ganhamos e perdemos com isso? Que mudanças esse poder traz ao contexto biopsicossocial da mulher? Sabemos o que fazer com tal poder? Há riscos de perdermos partes importantes de nossa essência feminina? Em prol do que e com que objetivo almejamos o PODER? Sucesso mulheres! Mas cuidem de si e das suas relações de maneira saudável e não deixem outras áreas de suas vidas descobertas. - 51 -


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Texto Renata Pen | Foto Marta Ayora

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oi com considerável atraso que a banda de power metal Angra iniciou sua apresentação no Tom Brasil para a gravação em vídeo do seu mais recente trabalho, ØMNI. Como tudo tinha que estar perfeito, a demora foi tanta que tinha gente assistindo a São Paulo x Corinthians (pelo Campeonato Brasileiro) no celular enquanto esperava o show começar. Ainda antes de as cortinas se abrirem, os fãs chamavam pelo nome da ilustre convidada, Sandy. Participação, aliás, surpreendente para muitos, já que ela não é da comunidade rock, muito menos do círculo heavy metal, que ela afirma nunca ouvir, exceção feita ao Sepultura, de quem seu filho Theo é fã, fazendo-a escutar por tabela. Mas o que realmente importou foi que a suave voz da cantora deu um toque especial às duas músicas das quais ela participou (Black Widow’s Web e Heroes Of Sand), não devendo nada em sua apresentação. Com câmeras e fotógrafos espalhados pela casa, tudo tomava forma e, nas cortinas, refletiam-se alternadamente os nomes da banda e do álbum da turnê. Para apresentá-lo, o Angra havia convocado a imprensa para uma - 54 -


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audição no Café Piu-Piu, em pleno sábado de Carnaval, explicando devidamente faixa por faixa. Cada membro teve a chance de falar sobre sua participação nas músicas, as dificuldades e as alegrias. Também analisaram as mudanças e discorreram sobre planos para o futuro. Em ØMNI, a banda flertou com os elementos da música brasileira e fez a junção disso ao peso do metal. No evento, já estavam com o vídeo de War Horns engatilhado e ele também foi apresentado (mais detalhes da audição em nossa edição 101/102, p. 124). Aí era só partir para a estrada e ver como tudo funcionaria na prática. Voltando ao show, as luzes foram finalmente aparecendo e os acordes eram ouvidos por trás das cortinas, que vagarosamente se abriam, evidenciando luzes maravilhosas e mostrando como o palco estava bem preparado, com um imenso telão de fundo. “Newborn Me” foi a porrada inicial e a energia era incrível. Fabio Leoni, que é um tenor e também canta no Rhapsody, representa muito bem o Angra, que, após algumas trocas na formação, parece ter alcançado um momento de estabilidade e confiança. O caçula Bruno Valverde (bateria) não escondia a alegria e agitou a galera durante as três horas de espetáculo. Marcelo Barbosa, que também tem trabalhos paralelos com o Almah, segue acrescentando muito às novas composições do Angra, fora sua presença de palco, simplesmente fantástica. Quando Felipe Andreoli (baixo) e Rafael Bittencout (guitarra e violão) se juntavam a Marcelo para aquela dança característica de palco, dava para sacar a sintonia entre eles. Após a primeira música, Fabio soltou um: “Oi, tudo bem?”, animou os fãs afirmando que iriam gravar um DVD com convidados e anunciou “Running Alone”. Como nem tudo é perfeito, Bruno o avisou que ele havia pulado uma música do set, então Fabio voltou para - 56 -


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a frente do palco, brincou e aí sim anunciou a música correta: “Angels And Demons”. E o show seguiu conforme previsto, com ØMNI na íntegra, e os elementos de música nordestina misturados ao tradicional metal do Angra só ressaltaram que esta busca por um som característico é possível, trazendo identidade. Como outras bandas já fizeram com músicas indígenas ou de folclore, somente através de experimentações é que se torna possível descobrir o sabor dessa mistura. Na sexta música da noite, “Black Widow’s Web”, a tão aguardada convidada foi apresentada com diversos adjetivos positivos. Se, para algumas pessoas, ainda restavam dúvidas se ela seria vaiada pelos mais radicais, por conta de suas raízes musicais, as incertezas se pulverizaram assim que Sandy pisou no palco e foi ovacionada como se sempre tivesse feito parte da cena metal. Sua voz afinadíssima adequou-se perfeitamente ao perfil doce da viúva negra, fazendo com que a música tivesse um significado especial, pois nem sempre o metal precisa ser agressivo. Representando a outra faceta da viúva, a voz gutural, gravada por Alissa White-Gluz (Arch Enemy), foi interpretada pelo Fabio, que, sempre atencioso com a plateia confessou posteriormente enxergar São Paulo como sua segunda casa, sendo que sua primeira fica em Pisa, na Itália. Prosseguindo, cravou que uma banda não é nada sem seus fãs e agradeceu em português, com pitadas de inglês e uma palavra em italiano. Os outros convidados foram chamados para o registro em DVD e, aproveitando todos que estavam em família, por que não trazer os músicos da Família Lima? Posicionados ao lado da bateria, Amon, Lucas, Moisés e Allen participaram de “Magic Mirror” e “Always More”, tocadas em seqUência, e de “Nova Era”, que encerraria o show. O entrosamento - 59 -


era tamanho que os quatro integrantes da Família Lima pareciam ser membros efetivos do Angra. Em busca do melhor registro possível para uma gravação em DVD, é corriqueiro ter que repetir alguma coisa e isso ocorreu em “Silence Inside”: primeiro o violão caiu e as cordas se quebraram, forçando Rafael a brincar e dizer que tinham ensaiado a parte da queda do instrumento, mas ele havia caído para o lado errado; depois, na segunda tentativa, houve algo de errado com o som do baixo e Felipe pediu para que parassem de tocar, indo para trás do palco. Só no terceiro take tudo finalmente deu certo. E houve espaço para trocadilhos em

“Heroes Of Sand”, rebatizada como ‘Heroes Of Sandy’, devido a mais uma participação da cantora, que, em outro momento surpreendente, calou a boca de muita gente outra vez, acompanhou Fabio e mandou muito bem. A única crítica foi referente à duração do show, um pouco longo em função da gravação e das pausas entre canções, tornando-se cansativo para ficar em pé por tantas horas e afetando até o modo de as pessoas voltarem para casa, sem trem às duas da manhã. Porém, foi algo compreensível e que fez parte de um propósito e de uma ideia. Agora é esperar pelo seu lançamento, acompanhar a turnê e ver que frutos serão colhidos. - 60 -



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Texto Pei Fon | Foto Carla Graseffi

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odo mundo gosta de conhecer bandas novas. E quando essas estão vinculadas a figuras já carimbadas na cena, a curiosidade só aumenta. Sendo assim, a vez é do Cosmic Rover, do rodado baterista Edson Graseffi, que já foi da lendária Panzer. Incansável, nesses 30 anos de estrada, o cara surge com mais uma banda, agora de Stoner Rock. Aquela pitada de passado repaginada para o presente, é isso que você vai encontrar no som do Cosmic Rover. Acompanhe agora a entrevista que fiz com o Edson. É praxe que as bandas se apresentem para os nosso leitores. Por favor. Edson - Antes de tudo agradeço a oportunidade da entrevista. O Cosmic Rover é uma banda Stoner Rock recém formada em São Paulo. Apesar de ser um trabalho novo, nós já somos músicos experientes do cenário paulistano. O Rick (guitarrista) é antigo guitarrista do Laboratory, o Rodrigo (baixista) é um músico muito ativo na noite e eu venho da cena dos anos 80. Nos últimos 30 anos passei por diversas bandas , entre elas o Panzer, banda na qual es- 64 -


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tive por 26 anos como baterista.

Então, resolvi condensar tudo num mesmo trabalho. Assim me tornei vocalista também, além de baterista da banda. Tudo começou com um convite que fiz ao Rick Rocha para vir tocar guitarra comigo. Era apenas uma ideia, eu e ele. Logo em seguida surgiu o Rodrigo, que é um amigo de longa data. Eu estava tatuando ele no meu estúdio e falei do projeto e ele disse na hora que queria ser o baixista. Eu havia conhecido o Rick no estúdio também, pois ele havia me procurado para tatuar comigo. Posso dizer que o Cosmic Rover é uma banda unida pela tatuagem (risos)!

Cosmic Rover vem aí para agitar ainda mais a cena Stoner brasileira. Como tudo surgiu? O Cosmic Rover surgiu da minha vontade de tocar de Stoner Rock, estilo que sempre me influenciou desde os anos 90, quando começou a despontar lá fora. Eu também queria usar todo o material de letras que eu compus e nunca pude usar com minhas outras bandas, porque são letras bem loucas sobre temas espaciais , espirituais e histórias loucas que vivi nas últimas décadas. Eu queria cantar também, algo que faço desde criança e pouca gente sabe.

A banda acabou de lançar seu primeiro - 66 -


EP. Como está sendo a repercussão? Esta sendo a melhor possível. Estamos divulgando o material no meio Stoner e a resposta da galera que curte e entende do estilo está sendo ótima em todo o mundo!

algo muito maior, que é sua própria vida. Essa é a única letra “séria” desta banda até então. Por acaso ela entrou como Lyric vídeo, mais pela pegada sonora do que pela letra em si. Todas as outras letras falam muito de temáticas espirituais, ficção cientifica, experiências com alucinógenos, coisas do tipo...

Na faixa “Never Forget” tem uma parte que diz que ‘Nunca esqueça do que você acredita”. O que você atribui essa parte? Que crenças, pensamentos seriam esses? Essa letra é bem pessoal. Eu falo de nunca esquecer dos seus sonhos, pelo que você luta e pelo que vive sua vida. Ela não tem nenhuma relação com religião ou fé religiosa e sim sobre

EP lançado, já está aí para ser ouvido, mas quando podemos esperar um full? É cedo, está nos planos, já tem algo pronto? Já temos mais músicas compostas para completar o full, muita gente tem nos pedido isso. Lançar um EP logo de cara foi a forma mais - 67 -


rápida e eficiente de fazer a banda surgir no cenário. Acredito que até o início do próximo ano lançaremos um début. Mas posso garantir que o álbum completo será gravado nos mesmos padrões do EP, ou seja, ao vivo, com todo mundo tocando junto, sem edições, sem metrônomo e tudo soando muito orgânico. E não será um álbum imenso de 15 músicas por exemplo. Acreditamos que esse é um formato que morreu. O formato de menos músicas como na época que só haviam LPs ainda é o mais viável porque não cansa o ouvinte. Estamos fazendo as coisas a nossa maneira, criando nossa sonoridade própria na gravação, sem cair no “esquemão” dos produtores. Outra coisa interessante é que acabamos de gravar uma live session, ela será disponibilizada no Youtube como vídeo e será lançada como áudio, ou seja, provavelmente quando esta entrevista for publicada talvez já tenhamos lançado mais um EP ao vivo. Ele traz as 4 músicas do EP de estreia em versões “live” e uma inédita chamada “Mushroom Memories”. Sendo músicos já experientes e conhecidos na cena paulistana, cada um com seu projeto particular, o que fez vocês três se juntarem e criar o Cosmic Rover? Como já disse acima fomos unidos pela tatuagem e paixão pelo Rock N Roll pesado, mas talvez a amizade tenha sido o principal fator que nos uniu. Hoje o Cosmic Rover é o principal trabalho musical dos três e estamos super empolgados com tudo que esta por vir. O Stoner deu uma crescida exponencial nos últimos anos. Ao que se deve esse crescimento significativo? Um resgate sonoro, por exemplo? Vou te dar uma opinião muito pessoal, mas de um cara que vive e viveu a cena pesada inten- 68 -


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samente por 30 anos. Eu vejo que o crescimento do Stoner no mundo se deve aos extremos que a música pesada chegou. Principalmente dentro do Metal, as bandas chegaram a extremos de velocidade e de peso e “perfeição robótica” na produção dos álbuns que colocaram de certa forma um ponto final no estilo. Para onde progredir a partir dali? Tocar mais rápido ainda? Produzir discos mais perfeitos tecnicamente? Eu acho que muita gente como eu cansou disso tudo e vem procurando pela simplicidade do Rock pesado, na sua essência, na sua raiz, da forma como ele surgiu. Acredito que perdeu a “diversão” dentro do Rock Pesado e o Stoner te permite isso, saca? Vejo também que Stoner é na verdade apenas mais um rótulo colocado pela indústria fonográfica como foi o grunge, o punk, mas na verdade é uma reação que faz parte de um ciclo que

sempre aconteceu no Rock. Porém esse estilo abrange uma imensa quantidade de pessoas que querem viver e ouvir o Rock n Roll da forma que o fez tão especial. Puro e simples... E nós somos mais alguns deles. Quais bandas do estilo vocês conhecem, tem contato e a receptividade é boa? Como somos antigos da cena brasileira, conhecemos muita gente, nosso trabalho tem alcançado públicos de outras vertentes do som pesado e estamos surpresos com a aceitação. Acredito que isso se deve ao “beat” mais lento e vocais mais limpos. Isso torna nossa música mais acessível para todos. Quanto as bandas de Stoner do Brasil, gosto muito do RiffCoven, Ownl Co. Hortizon, Dogman, e o BearsWitness. Procure por essas bandas e vocês irão se surpreender. - 70 -


Vocês são mais uma banda que estão buscando um lugar ao sol. Como vocês enxergam a cena atualmente, o mercado fonográfico, o advento da tecnologia, a crise política brasileira, por exemplo? Influencia ou não na manutenção de uma banda? O cenário lá fora é muito forte, mesmo nos países latinos. A coisa aqui está chegando lentamente. No Sul do país existe uma cena forte com muitas bandas. Já em São Paulo começara a surgir mais nomes de algum tempo para cá, porém como tudo neste país, tenho visto uma certa “distorção” do estilo. Muita coisa que se diz Stoner e não é, muita coisa misturada até mesmo com MPB e psicodelia brasileira. De certa forma vejo isso com uma certa estranheza, pois sou fã do estilo desde os anos 90 e nunca vi nada parecido... Coisas que só

realmente acontecem aqui. Quanto a manter a banda, mercado fonográfico é a mesma batalha de qualquer banda que queira um lugar ao sol. Nada é muito fácil e tudo custa muito. Mas seguimos com nosso caminho! Como venho de uma história muita longa dentro desse cenário, as coisas têm sido mais fáceis em relação a mostrar uma nova banda, pois a mídia tem nos aberto as portas como vocês estão fazendo e sou muito grato por isso. Para finalizar, o que podemos esperar do Cosmic Rover? Muito obrigada e sucesso! Podem esperar muito som pesado vindo de três caras que estão muito realizados com essa banda. Isso aqui é só o começo!

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Foto: Anderson Severo


Texto Daniel Tavares | Fotos Chris Machado

INTRODUÇÃO A história que começou a ser escrita em 29 de julho de 1999, no Casarão do Benfica, teve mais um capítulo nos dois últimos finais de semana de julho. Naquele dia de 1999 (e nos dois que se seguiram), quase 30 bandas se apresentaram, entre elas nomes que deixaram sua marca no rock cearense, como Insanity e Jumentaparida, e outras que continuam deixando, como Obskure, Oráculo e Steel Fox. Criado como alternativa a um festival de música baiana, o Forcaos é um elemento importantíssimo na formação do cenário roqueiro do Ceará. Chegando a maioridade agora (esta foi a décima oitava edição e uma série de fatores inviabilizou a edição de 2015), o festival se consagra como um dos maiores festivais independentes de música brasileiros (e temos que lembrar também que, a exemplo desta edição, os ingressos sempre foram gratuitos ou a baixo custo). À sua frente, cuidado de cada detalhe com esmero e paixão, está a Associação Cearense de Rock, em seus palcos, sempre uma grande quantidade de bandas locais e de outros estados, na plateia, entre costumeiros frequentadores do festival, muito músico novato com um sonho: “um dia eu ainda vou tocar no Forcaos”. Confira abaixo como foram os qua- 74 -


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tro dias do Forcaos 2018, em matéria exclusiva para a Rock Meeting. 20 de julho - Theatro José de Alencar Tendo a belíssima estrutura do icônico Theatro José de Alencar como cenário, o Forcaos 2018 começou ao som dos guturais impressionantes de Haru Cage, competindo em pé de igualdade com os riffs pesados da banda Corja!. Apesar de não ser sua primeira vez no Forcaos, a banda ainda pode ser considerada uma revelação no cenário metálico cearense (foi formada em 2017 e está em estúdio preparando o primeiro EP, “Insulto”), mas com a energia que mostra no palco vem conquistando seu lugar nos cartazes em vários festivais pelo estado. E, claro, a presença de palco de Haru (que também é tatuadora) é grande responsável pelo crescimento da banda. Com a Deadly Fate, ícone potiguar dos anos 90, agora com nova formação, emocionando o público em seu retorno a Fortaleza (inclusive com participação do guitarrista Tales Groo, da Darkside, de Fortaleza, em “Battle Hymns”, do Manowar, aumentando a conexão metálica Fortaleza-Natal) a D.E.R. (de São Paulo) botando tudo pra quebrar a primeira noite já mostrou que o festival viria com tudo. 27 de julho - Vila das Artes Na sexta-feira seguinte é que, para boa parte do público, a maratona de shows do Forcaos começou de verdade. E abrindo este final de semana de muito rock, metal e punk, o quinteto Soul De Calçada, quinteto com Joacir Oliveira alternando entre a gaita e a percussão, mostrou um rock and roll de letras espertas e som que cai como uma luva para quem curte bandas como Camisa De Vênus e Barão Vermelho. A voz de Serginho Mello não cabe nele. - 77 -


É muito maior. Cada música, muito bem construída e com competentes solos de guitarra ou gaita, dispara com bom humor contra alguma mazela ou contradição desse nosso país. Quando lançarem um CD com essas músicas podem chegar longe no cenário nacional. A Arcádia, com forte influência grunge, chegou em seguida com aquele pós-punk de vocais arrastados. Quem curte Nirvana e afins tem que dar uma chance ao grunge em português do power trio. A Faixa De Gaza trouxe ao Forcaos o seu som “rápido e ignorante”. “Hardcore não é um estilo de música. É um estilo de vida. É ser duro com quem é duro com você”, disse o vocalista, Isaac. Com um som punk bem voltado para o grunge e músicas de no máximo dois minutos, o setlist é impressionante: 20 pauladas desferidas em cerca de meia-hora. E só demorou tanto porque Isaac, o baixista e até o baterista faziam questão de agradecer (mais de uma vez), a oportunidade de tocar no Forcaos além de comentar um pouco sobre a música que tocariam a seguir. Tantos agradecimentos, de certa forma, cortavam o ritmo do show, mas também era bom porque era a única forma de saber a letra. Entre elas, coisas profundas como “Se esse Deus é onipresente, pra que ele precisa de um lacaio latindo no seu ouvido”, de “Pregação”, ou “Mais um trem pra Auschwitz / Mais um navio com grilhões / Mais um ônibus lotado / Uns chamam de trabalho / Outros de escravidão remunerada”. A primeira banda de metal mais clássico no palco da Vila das Artes foi a veterana Dark Side, naquela sexta com João Junior substituindo temporariamente Marcelo Falcão. Como naquele dia tínhamos tido a triste notícia da partida de Mark “The Shark” Shelton, do Manilla Road, o guitarrista Tales Groo lhe prestou uma homenagem. No set da Dark Side, petardos thrash com influência de heavy tradicional - 78 -


foram a tônica, ainda mais agora que a banda regravou e relançou suas primeiras demos no CD “Fragments of Madness...And the Gates of Time”, mas não faltaram canções de seus dois álbuns, digamos, mais convencionais. “Born for War”, que vale por um show inteiro, foi um dos destaques da apresentação. Não tem quem aguente ficar sem erguer os punhos com uma convocação dessas. “Bubonic”, outra máquina de fazer roda, também fez a alegria dos bangers. Já “Spiral Zone”, do citado CD mais recente e, por isso, voltando aos setlists da banda, foi a chance de JJ fazer o que mais gosta, por causa da parte NWOBHM da música. Outro resgate foi “Inferno”, também das demos, uma chance para quem nunca viu, ver. E para quem já viu, rememorar. “Fragments of Time” (essa nunca saiu do repertório) fechou o show de altíssimo nível. A “estrangeira” da noite foi a Inherence, banda paulista que toca uma mistura bem técnica, quase matemática, de thrash e death, com um peso absurdo, aproximando-se do Djent do Meshuggah. Ainda pouco conhecida na cidade, a banda logo conquistou os presentes com o som e a simpatia. Sempre elogiando o festival, a estrutura e a acolhida dos cearenses, já na segunda música (“Cursed By Fate”), o vocalista preferiu o chão da Vila das Artes ao palco, cantando junto ao público, limitado apenas pelo cabo do microfone (não fosse isso, aposto que o cara iria percorrer toda a Vila e cantar até no estacionamento). Outro que se destaca positivamente pela postura durante o show é o baixista B2, praticamente um Robert Vigna (Immolation), só que nas quatro cordas. Preocupados com o tempo, eles até chegaram a cortar uma música (“Empire of Decay”), mas como ninguém queria ir para casa, depois de “Slavery Design”, eles continuaram o show com a canção que haviam cortado. Merecem voltar muitas vezes às terras

Fotos: Vicente Ferreira

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Fotos: Vicente Ferreira

alencarinas.

como comprovar tal afirmação. Também não fomos lá para conferir. No entanto, como não conseguimos chegar ao Dragão do Mar (duas importantes vias de ligação da Barra do Ceará à região do Dragão foram subitamente interditadas com ônibus incendiados), o Vinícius Oliveira, do selo Vertigem Discos, nos contou tudo o que aconteceu naquele dia. “O terceiro dia de Forcaos 2018 foi carregado de velocidade e energia das bandas e do público que lotou o Dragão do Mar mesmo com a cidade passando por problemas de conflito entre facções e polícia, ônibus incendiados diariamente e a paralisação de circulação do transporte coletivo. O line up de uma noite

28 de julho - Centro Dragão do Mar No sábado, parte da cidade de Fortaleza vivenciou o verdadeiro caos. O nome do festival não poderia soar mais apropriado, mas pelas mais indesejadas das razões. Atravessando uma grave crise de segurança pública no estado, a região metropolitana de Fortaleza vivenciou um Forcaos no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e um “forcaos” em algumas regiões da cidade. Diz-se, à boca miúda, que uma boa parte dos profissionais de segurança da cidade estavam naquele outro festival, mas não temos - 80 -


com Thrash e Hardcore de alto nível teve In No Sense (CE), Facada (CE) com a rara formação de quatro integrantes tocando sua trajetória e as novas do excelente álbum “Quebrante”, Até Tudo Desmoronar (CE) tocando um Hardcore com velocidade o suficiente para as primeiras rodas começarem a aparecer. Um dos pontos altos da noite foram as bandas convidadas Obtus (PI) mostrando uma postura furiosa e incansável de quase 20 anos de HC agregando o público tanto com o som quanto com o discurso político crítico (sempre com a mesma formação, acrescentamos). Finalmente, pela introdução do vocalista Léo da banda de thrashcore Surra (SP) podemos imaginar

como foi o fechamento: “Nós somos o Surra de Santos e tocamos o mais rápido que podemos”. Entre músicas novas do EP “Ainda Somos Culpados” e antigas teve stage diving, circle pit, público no palco cantando as músicas e a concretização de um festival fantástico.” (por Vinicius Araujo de Oliveira). Impressionantemente, apesar do caos urbano, da dificuldade de locomoção e da falta de segurança na cidade como um todo, segundo relatos de outras pessoas que estavam lá, como Emydio Filho, da Gallery Productions, este foi o dia de maior público do Forcaos. O Espaço Rogaciano Leite, apelidado merecidamente como Praça do Rock (até por causa de - 81 -


Fotos: Vicente Ferreira

extremo, o último dia de Forcaos não poderia ser dedicado a mais nada senão ao Death Metal. E isso ficou logo transparente com a Envoke no palco, despejando porrada atrás de porrada sobre o público. A banda é jovem, mas não novata, e canções de seu álbum “Unnatural Cancer of Humanity” serviram bem para esquentar (esquentar? Essa palavra é válida numa cidade como Fortaleza?) o público que começava a lotar a Praça do Rock. Próxima no palco, com cada petardo mais brutal que o outro, veio a Decomposing. A banda é nova, mas pela consistência do trabalho (cace logo o “Human Code Fail”), rapidamente arregimentou uma legião de fãs e conquistou seu

um outro evento que acontece lá) ficou lotado. 29 de julho - Centro Dragão do Mar Ainda na tarde de domingo, o auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura também recebeu o evento de lançamento do livro “Siege of Hate Em Rota de Colisão”, escrito por George Frizzo (com contribuições de seus colegas de banda) e contando em detalhes as duas turnês que a banda Siege Of Hate fez na Europa, uma apenas pelo território nacional e outra em vários países da América do Sul acompanhando o Extreme Noise Terror. Com uma tendência enorme ao metal

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espaço entre as queridinhas do underground cearense. Os vocais de Anderson Nunes são ininteligíveis, mas é isso mesmo que atrai. O quarteto é extremamente técnico, extremamente brutal, é para fazer balançar a cabeça o tempo todo. Não tem para onde correr. Esses caras têm que assinar logo com um selo grande porque a gringaiada precisa conhecer o Decomposing. O guitarrista David Barroso continuou exatamente onde estava porque ele também é guitarra na Krenak, mais uma grande banda de Death Metal, mas que vai numa direção completamente diferente. Os vocais do também baixista Felipe Ferreira são muito car-

acterísticos. Mas o que impressiona também, fora a perfeição do som, é a postura zen do Ítalo Leitão, que toca death metal de olhos fechados e tranquilamente. Parece que está meditando. Meditando enquanto tudo ao redor são as chamas do inferno. Durante o show a banda aproveitou para anunciar que está preparando um álbum novo, que se chamará “Under Hatred”. “Bastards”, uma das canções da noite, é dele. A faixa título do disco também teve ali a sua apresentação oficial. São boas promessas. Com um traço de stoner em seu Death Metal, a Heavenless foi a segunda representante dos vizinhos potiguares no Forcaos. Na segunda canção, ocorreu um problema no

Foto: Chris Machado

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Foto: Vicente Ferreira

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baixo de Kalyl Lamarck, mas o trio conseguiu segurar o som só na guitarra, vocal e bateria. O improviso foi bom e acabou virando uma versão noise ao vivo. Pilhados que estavam, loucos para tocar, em nenhum momento eles deram descanso. Acabou sendo mais uma coisa boa que ruim, assemelhando-se àqueles improvisos malucos ledzeppelianos. Com muita energia em riffs que obrigavam o bangeamento, vocal e guitarra não param quietos (desconfio que até o batera só não fica pulando de um lado para o outro porque aí seria mesmo impossível continuar tocando). O trio não esqueceu de agradecer aos presentes, à organização do festival e até mesmo à Obskure e à Criokar, que não fazem parte do cast deste ano. Ao fim do show, o guitarrista Vinícius Martins encarou um stage dive, com o baixista e o baterista segurar ando o som enquanto ele fazia isso. Estavam devolvendo o favor daquele início de um show que pareceu curto de tão bom. Ah, não podemos esquecer de falar também nos belos adereços de palco. Se tudo o que é bom tem que acabar, que acabe com chave de ouro. A Decomposed God, banda icônica de Pernambuco, ficou responsável por fechar as portas do Forcaos 2018 e abrir o horizonte para 2019. Com pedradas como “No Gods”, “Kill the Bastard” e um baixo potente muito presente, era a terceira vez da banda no Forcaos. Uma canção belíssima é “Ecce Homo”, com seu solo do baixista no braço do baixo. Este foi buscar na memória que a primeira vez que haviam tocado fora de Pernambuco foi em Fortaleza. Lançando o álbum “Storm of Blasphemies”, com material regravado e a nova “Delusion” (que, obviamente, foi apresentada em palco), a banda reconheceu que as doze horas de viagem para tocar na capital cearense haviam valido a pena. E para fechar o fest de forma ainda mais bela (de tirar água de marmanjo barbudo), o quarteto cha- 85 -


Foto: Vicente Ferreira

mou ao palco o designer, produtor e músico, Alcides Burn para participar de “Dawn of Celestial Shadows”. Os quatro dias de Forcaos estavam, então, encerrados. Os bangers cearenses voltaram para casa de alma lavada e, entre um e outro show de metal que acontecerá até que chegue julho de 2019, ficarão no aguardo e certeza de que Fortaleza, mesmo com todos os seus problemas, pode orgulhar do festival que nasceu ali, mas que hoje é propriedade do Brasil inteiro. O ponto de tristeza fica apenas pela ausência de Hermes Capone, baterista da banda de punk rock, Thrunda, que faleceu em

abril, mas foi lembrado várias vezes no festival. Agradecimentos: - Alcides Burn e Pei Fon, pelo convite para contar mais um capítulo da história do Forcaos; - Vinícius Oliveira (Vertigem Discos), pela ajuda no dia 28 de julho; - Amaudson Ximenes (ACR) pelo apoio durante o festival.; - Chris Machado, Vicente Ferreira (In No Sense) e Alexandre Severo pelas imagens que ilustram esta matéria. - 86 -



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Texto e Foto Mauricio Melo e Snap Live Shots

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epassando a história recente. Há menos de uma década a Europa viveu o caos financeiro e os países que mais sofreram foram Portugal, Itália, Grécia e, é claro, a Espanha. Somente os grandes festivais sobreviveram, muitos deles com dinheiro de um público gringo, que vinha para cá não só gastar mas também badernar. Daí muita gente descobriu que organizar festival estava dando retorno mesmo num país em crise e lá vieram uma enxurrada de eventos. A prova viva disso tudo foi no fim de semana do 12 ao 15 de julho deste ano. Este de quinta à domingo registrou mais de uma dúzia de festivais no mesmo período, ou seja, no mesmo fim de semana. Dentre os mais destacados estão o Cruilla, BBK Live, Madcool, Resurrection Fest e, claro, o Barna N’ Roll. Dos citados acima, o Barna é o mais honesto e organizado por quem realmente entende do assunto. A Hardcore For My Nose (promotora) está por trás da organização e deixa claro que, mesmo estando apenas na terceira edição, o evento já entrou para a história por conseguir reunir num único dia, Cock Spar- 90 -


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rer, Descendents, Jello Biafra & Guantanamo School of Medicine, Sick Of It All, A Wilhelm Scream e três excelentes bandas nacionais como CRIM (punk rock catalão), Gatillazo e seu mitológico vocalista Evaristo e La Inquisición. Este último teve a difícil missão de inaugurar o festival apenas meia hora após a abertura dos portões e tendo um sol escaldante como foco de luz natural. O quarteto, que antes se chamava Secret Army e tinha suas letras cantadas em inglês, mudou de nome, deixou o som mais cru e letras passaram para o espanhol. Possuem dois EPs e um LP recém gravado que verá a luz no próximo mês de setembro. Vale lembrar que o Bandcamp está aí para isso. Celebrando 20 anos de carreira estão os rapazes do A Wilhelm Scream, velhos conhecidos de nossas páginas, que possuem bom público, mas que ficaram um tanto deslocados no festival. Há um ano passaram por Barcelona e demoliram tudo numa pequena sala local e com uma galera específica para vê-los, o que não aconteceu desta vez, mas que em nenhum momento tiraram o pé do acelerador, fizeram um set tão intenso quanto das vezes passadas. Como comentamos anteriormente, o Gatillazo possui um público fiel, daqueles apaixonados por um punk mais cru, mais urbano e com letras irônicas. Um punhado de clássicos como “Fosa Común” e “El Caos Perfecto”. Ponto interessante foi ver Evaristo (vocalista) vestido com a camisa do Fluminense, o que passou despercebido pelo grande público, mas não por nós. Se existe uma banda a destacar no cartaz, essa banda se chama CRIM e fazemos questão de escrever assim, em letras maiúsculas. O quarteto vem subindo um degrau por vez e sem pressa já que essa conquista é por puro mérito e esforço. Mesmo com letras em catalão o quarteto já fez turnê na América do Norte - 92 -


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e se saiu muito bem. Tocando em Barcelona e num festival como o Barna N’ Roll, foi o mesmo que o time Blau Grana (como o Barcelona é chamado) jogar em casa. Público apaixonado, letras cantatas a exaustão, punhos serrados. Tudo o que uma banda grande tem e necessita principalmente em músicas como “Benvingut Enemic” e “Cavalls Morts”, duas canções que representam e muito bem seus dois discos lançados até o momento. Crim é a prova real que o punk rock não se importa com idiomas e dialetos, ou você entende ou cai fora. Aviso aos navegantes, a banda possui Bandcamp. Quem não deixa de impressionar a cada visita é o Sick Of It All, os irmãos Koller exibem uma forma física de dar inveja a muito garotão. Recém chegados do Resurrection Fest, não deixaram pedra sobre pedra e provaram o porquê figuram na galeria de mitos na história do Hardcore. São mais de três décadas de atividade e um setlist de dar inveja. “Good Looking Out”, “Injustice System”, “My Life” e “Road Less Traveled” foram apenas algumas das duas dezenas foram tocadas. Além da tradicional “Busted” com o baixista Craig nos vocais, uma intensa “Rat Pack” e deu até para resgatar “No Cure”, música que abre o aclamado “Scratch The Surface” e que nem sempre aparece no set. Outro personagem que não poderia faltar na festa foi Jello Biafra. E lá estava o eterno vocalista do Dead Kennedys liderando seu Guantanamo School Of Medicine, com sua clássica ironia e interpretações caricatas de suas letras. É claro que ele não perdeu a oportunidade de zombar dos personagens políticos que contaminam seu país e por consequência, o mundo. Entrou em cena com uma boina ao melhor estilo Tira de filme, óculos escuros e um sobretudo com cores da bandeira americana. Faltaram as luvas cirúrgicas que tanto fez parte de seu personagem, mas melhor do que isso - 95 -


foi quando estrategicamente abriu seu longo abrigo para exibir o ponto alto de seu figurino, uma camisa com Trump Hates Me (Trump me odeia). Além das atualizadas letras de “California Uber Alles” fazendo referência a Arnold Schwarzenegger, “Too Drunk Too Fuck” (Too Trump Too Fuck) e “Nazi Punks Fuck Off” (Nazi Trump Fuck Off) e “Holiday In Cambodia”, todas do Dead Kennedys e um punhado mais de composições do GSM. Um dos grupos mais esperados da noite foi sem dúvida o Descendents que ao pisar no palco Milo solta a frase, “I Want To Be Stereotyped, I Want to Be Classified” e “Suburban Home” na cara do povo. Foi interessante ver como a banda diminuiu espaços no palco, avançou a bateria, colocou amplificadores nas laterais e deixou uma sensação de proximidade. “Everything Sux”, “Hope”, “Rotting Out”, “Nothing With You” e uma infinidade de clássicos do punk rock melódico, uma verdadeira aula de como levar felicidade às pessoas. Ao final do set, Milo levou o público ao delírio quando desceu do palco, passeou pelo fosso e cantou junto aos fãs que educadamente se acotovelaram para dar uma palhinha. Ainda que um ou outro mais exigente tenha torcido o nariz, a apresentação foi linda e os “doutores sabem tudo” vão ter que aturar essa. As frases “Punk is not Dead” e “Punk Never Dies” nunca foram tão perfeitas para encaixar no Barna N’ Roll. Vimos de perto um repasso do passado, presente e futuro do punk. Gerações e gerações que cantaram e gritaram abraçadas. Carecas, moicanos, velhos, jovens, meninos e meninas. Todos sem exceção, seja com mais ou menos intensidade vibraram com os clássicos (não há outra classificação cabível) do Cock Sparrer. Uns senhores que poderiam passar tranquilamente desapercebidos por muitas cidades no mundo e se alguém dissesse que os mesmos fazem parte da histó- 96 -


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ria da música, não seria um espanto se duvidassem. Abriram com “Riot Squad”, meteram a botinada na porta com “Watch Your Back” e seguiram firme com “Working”. A noite estava ganha mesmo que a Inglaterra tivesse perdido para a Bélgica na disputa do terceiro lugar da Copa do Mundo, nos sentíamos em plena festa britânica cantando para os três leões e seu retorno à casa. Para não dizer que ficaram nos clássicos, “One By One” do recente disco “Forever” foi tocada, mas nada comparado a “England Belongs To Me” e “We Are Coming Back” como encerramento. O Barna N’ Roll chegou para ficar, é um festival honesto para um público que de modismo não tem nada. Vale destacar, preços acessíveis desde o ingresso que custou 50 euros, algo em torno dos 200 reais para assistir a tudo isso e cervejas a 2,50 euros. Não é necessário ser rico para sentir e proporcionar felicidade. Barna N’ Roll Until Die!

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Texto Edi Fortini | Foto Helbert Abreu

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Stomachal Corrosion é uma banda grind mineira, de Belo Horizonte. Está na ativa desde 1991, passando por várias formações, o que é natural para uma banda há tanto tempo na ativa. Atualmente eles assinaram contrato com a Cogumelo e em setembro será lançada uma caixa especial com o novo cd e mais um kit comemorativo. Nesse mês de julho, batemos um papo com Charlie Curcio, o guitarrista e único membro da formação original remanescente. Confira abaixo: O SC está na ativa desde 1991, mas a última formação está consolidada desde o ano passado. A que você acha que se devem todas essas mudanças? Charlie Curcio – Acredito que a maioria das bandas undergrounds, senão todas, passam por este problema. No meu caso propriamente, junto ao desinteresse de alguns caras que passaram pela banda, o fato de que fui obrigado, por circunstâncias da vida, a mudar muito de cidades e até de estados, isso acarretou a inevitáveis mudanças na formação. Como sou o único que foi ficando da formação original, - 102 -


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acabei herdando as responsabilidades com relação à banda. Pra vocês, como é ter uma banda de grind no Brasil? Você acha que existe algo de diferente na cena nacional atualmente? Vejo que hoje o Grind está em um ponto interessante. Diferente dos anos 90, quando houve um boom do estilo, com várias bandas Grind assinando com grandes gravadoras, hoje noto que as coisas permanecem no underground, mas as bandas conseguem ter um bom trabalho, lançar discos cada vez melhores e as gravadoras, mesmo pequenas, têm uma estrutura profissional. É claro que tem aqueles que não querem sair do gueto, dos pequenos shows e dos lançamentos em formatos como CDr, e até fitas cassetes gravadas sem muita preocupação, mas entendo que este é o espírito do extremo underground que persiste. De minha parte, acho que já fiz este alicerce, hoje tenho uma preocupação cada vez maior com a qualidade do trabalho, mas com o cuidado de não perder as características que acompanham a banda desde seu início. O fato de termos entrado no catálogo da Cogumelo, Voice Music e GreyHaze muito me orgulha e é um passo muito largo, vários degraus galgados. Atualmente como está a cena em BH? Temos visto alguns shows internacionais que vão pra cidade, mas como estão os shows nacionais? BH é uma metrópole, acontece muita coisa aqui o todo tempo. Temos muitas ótimas bandas, excelentes músicos que buscam o melhor sempre. Claro que aqui também encontramos aproveitadores, aventureiros, espertalhões de plantão que utilizam dos nomes das bandas para se autopromover e os produtores que se acham mais ídolos do que os músicos. Mas, - 104 -


isso é inerente de todos os lugares, e cabe a quem trabalha sério se desvencilhar desses caras. Shows de bandas nacionais são uma constante por aqui. Nos finais de semana acontecem vários eventos ao mesmo tempo, com uma gama rica de artistas. O que sempre falo é que este cenário musical daqui tem que ir para outros centros, seja as bandas irem tocar fora ou trazer o público para cá. Em setembro vocês lançarão seu segundo CD, como foi o processo de gravação dele? O processo todo foi cansativo (risos). Nós utilizamos o mesmo estúdio que temos gravado outras vezes e onde também ensaiamos de vez em quando, então tudo fica mais fácil assim, pois todos se entendem melhor, a dinâmica flui muito melhor. Pela primeira vez recorremos a outro estúdio apenas para a masterização final, processo mínimo só para chegar aos níveis ideais exigidos pela gravadora. O cansativo a que me refiro é quanto ao tempo que demoramos para finalizar, mas foi preciso para chegar ao alto nível que o material apresenta. Como é o processo de composição de músicas e letras pra vocês? No que vocês se inspiram? Nosso processo é o mais simples possível, ou seja, eu crio algumas bases na guitarra, que servem de esqueleto para um novo som, daí no ensaio vamos moldando até finalizá-lo. Hoje temos uma formação de caras experientes no estilo, então quando apresento esta estrutura inicial eles já vão propondo os acréscimos, encaixes e mudanças. As letras são quase todas eu que escrevo também e me inspiro no que há de pior no mundo (risos). O ser humano nos proporciona muito tema para letras. Este novo CD tem algumas letras que falam até do caso em Janaúba, em que um rapaz ateou fogo - 105 -


em crianças na creche da cidade. Há ainda temas que tratam de assuntos de psicopatia, de cunho social e até crítica ao próprio underground, onde alguns caras se portam como donos do meio e do estilo. Nota da Entrevista: Saiba mais sobre o caso de Janaúba aqui

e sempre vendeu muito bem, nunca encalhou, isso ajudou para criar um interesse por nós da parte dos donos da Cogumelo. E o CD novo foi feito especialmente para este lançamento, mesmo tendo algumas releituras de sons que já havíamos lançado de maneira amadora recentemente e até um som antigo, que saiu no CD 5-Way Grindattack, As a Kick in You Head.

Como foi o processo de contrato com a Cogumelo? Eu trabalho na Cogumelo, então tudo ocorreu meio que por osmose. Antes de eu morar em BH, a loja já teve outros lançamentos nossos

Quais são os planos do SC após o lançamento do CD? Podemos esperar mais shows? Sim, estou trabalhando nisso já, fechando o - 106 -


É uma satisfação novamente figurar na revista, a qual acompanho desde o início, agradeço muito o espaço e atenção. Espero podermos em breve tocar para os maníacos de Maceió e região. Acreditem em vocês, não caiam em discursos demagogos desta classe política deste país, pensem bem antes de declarem apoio e defesa a algum destes nomes. E não permitam que o underground seja um reduto de derrotados, que os shows continuem sempre lotados, que a força da música pesada seja cada dia mais expansiva e forte e nossa cultura a nossa liberdade. Obrigado a todos e sejam felizes.

máximo de datas possível. Inclusive temos uma proposta de uma mini turnê no Nordeste para o primeiro semestre de 2019, quem sabe fechamos algo em Maceió, seria um prazer! Também tenho divulgado ao máximo este lançamento, e o nome da Cogumelo e ainda GreyHaze e Voice Music ajudam demais, claro. Sairá uma caixa especial feita de madeira, incluindo o CD novo, uma camiseta exclusiva, adesivo e pôster. Agora o espaço é de vocês: Deixe algumas palavras para nossos leitores. - 107 -


Judas Priest - Meltdown

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Ocultan - Quintessence

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Pandemmy - Rise of a New Strike

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Trouble - Psalm 9

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Foto: Alberto Meira

Suffocation of Soul - Macabre Sentence

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Overdose - Século XX

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Imperious Malevolence - Decades of Death

Marcos Garcia é formado em Física pela UFF/RJ, Mestre e Doutor em Geofísica pelo ON/MCTIC/RJ. Headbanger desde 1983, é redator-chefe do Metal Samsara, colaborador da Rock Meeting, Metal Temple (Europa) e The Black Planet (Europa). Tem apreço pelos bangers e bandas mais jovens, respeitando o passado, esperando o futuro, mas sempre com a mente no presente.

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Texto e Foto Mauricio Melo e Snap Live Shots

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ax Cavalera passou por Barcelona no último 31 de julho, desta vez liderando o Soulfly e já em reta final da atual turnê europeia da banda e o que poderíamos chamar de turnê de pré-lançamento do disco novo, intitulado “Ritual”, que sairá no próximo mês de outubro. Como banda de abertura, tivemos os espanhóis do Killus. Se você é fã de Marylin Manson e Coal Chamber, está aí uma boa dica. Sob a introdução de “The Dark Ages”, Max entra em palco acompanhado de Marc Rizzo (seu fiel escudeiro nas seis cordas), o “recém” incorporado Mike Leon no baixo e seu filho Zyon Cavalera, que há muito assumiu o posto de baterista da banda e pelo visto do mesmo não sairá mais, o garoto vem evoluindo a cada visita. Titio Iggor que se cuide. Na sequência tocaram “Frontlines” e as primeiras palavras que escutamos sair da boca de Max foi “I don’t give a fuck, you don’t give a fuck...”, melhor letra para uma abertura de show, impossível. “Prophecy” manteve a empolgação do - 118 -


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Um pouco mais adiante apareceu “The Summoning”, que estará no futuro disco, “Ritual”, já mencionado acima e, apesar de o próprio Max confirmar que muita mistura vem por aí, a música em questão tem o DNA da banda. Do primeiro álbum da banda, autointitulado Soulfly e que este ano está completando duas décadas, “No Hope = No Fear”, “Bleed” e “Eye For An Eye” foram escolhidas como representantes. Também devemos destacar “Plata o Plomo” que, possivelmente pelo idioma, sempre tem um grande destaque em seus shows na

público e está aí uma das músicas que já não ficam de fora do setlist da banda, até mesmo porque sua letra continua mais atual do que nunca. Para tirar de vez aquela ideia de que Max mudou de estilo e tirou o pé quando iniciou suas atividades com o Soulfly, tocaram “Fire” emendada com “Porrada” (sem a introdução acústica) e já criando as primeiras rodas de pogo da noite. Uma das músicas que possuem um refrão dos mais pegajosos do Soultly é “Blood Fire War Hate” e o público não decepcionou. - 120 -


Espanha. Também “Babylon” e “Downstroy” com direito a um bonito instrumental de Rizzo empunhando um violão, que na Espanha é chamada de guitarra espanhola, o que sempre ganha uma dimensão maior por aqui devido à cultura do Flamenco. Talvez o ponto negativo da visita tenha sido a falta de divulgação do show, muita gente comentou e compartilhou o evento em suas redes sociais, mas faltou um punho mais forte do próprio promotor. Isso, somado a um público que já vem se arrastando financeira-

mente, após uma enxurrada de festivais e uma grande parte da população que deixa a cidade por causa das férias de verão (algo comparado ao período de Carnaval no Brasil), fez com que a noite não tenha tido um completo sold out na boa sala Salamandra, mesmo assim, um bom número esteve presente. Seja com o Soulfly ou mesmo com o Cavalera Conspiracy, Max continua mantendo seu público fiel e, após duas décadas, o Soulfly já tem seus próprios fãs sem a necessidade de tocar os clássicos de sua antiga banda. - 121 -


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Texto Renata Pen | Foto Eclenir Fotografia

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banda de Punk Rock Fogo Cruzado conta sua história de luta e incrível vivência na cena até hoje. Com uma história discográfica pequena, o Fogo Cruzado conta com uma vasta experiência prática e tem muita coisa legal para nos contar. Após algumas pausas e problemas para encontrar um vocalista, a banda finalmente se firma e tem planos para um álbum de inéditas, que virá com a seguinte formação: Talibã (vocal), Ari Baltazar (guitarra), Anselmo Carlucci (baixo) e Valter Muniz (bateria). Para tirar algumas dúvidas e contar um pouco sobre a história do grupo, entrevistamos Anselmo Carlucci (também integrante do Inocentes) que, humilde, pediu para que seu parceiro de bateria respondesse a primeira pergunta, pois segundo o próprio Anselmo: “Como foi ele quem começou a banda, achei mais certo ele mesmo falar”. Conte aos nossos leitores como foi o início do Fogo Cruzado: como se conheceram, como aprenderam a tocar... Valter Muniz - A banda começou em 1981, - 124 -


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shows naquela época? Anselmo Carlucci - Na época, tudo era mais difícil. Lançar um disco era o sonho de muitos e privilégio de poucos. As gravadoras, TV, rádio, era impossível ter acesso. As gravadoras tinham outros focos comercias como a MPB, etc. Dificilmente olhavam para um bando de moleques fazendo barulho. Tudo era mais complicado.

em um aniversário na casa do Roberto Ladrão, ao som de uma fita cassete, quando o Beca deu a sugestão de montar uma banda com o Roberto e o Muniz. O Roberto então perguntou o que o Muniz tocava e ele respondeu que gostava de bateria, e como ele já tocava guitarra, o baixo ficou para o Roberto Ladrão. E assim o primeiro show do Fogo Cruzado foi marcado para o Teatro Luzo, no Bom Retiro. Com apenas seis músicas, o Beca também assumiu os vocais. Com algumas mudanças aqui e ali, a banda foi se adaptando até chegar ao que é hoje.

Os temas abordados nas músicas ainda são muito pertinentes. Você acredita que um dia tudo isso possa melhorar? Anselmo - Sim, todos os temas ainda são pertinentes, mas nada para se estranhar. A

Como era para lançar um disco e fazer - 126 -


que você considera importante para a história da música e da cultura? Anselmo - Desde a década de 80, muita coisa mudou, né, meu? As cabeças das pessoas mudaram, até mesmo fora do punk. Musicalmente mudou muita coisa, derrubamos barreiras. Mas lançar disco, algo autoral, ensaiar e ter bons estúdios com bons instrumentos, na época, isso era precário e até mesmo impossível, além do fator ‘saber tocar’. E a palavra ‘punk’ assustava um pouco na época. Lembro-me disso até hoje: muitos olhavam torto para você e até se esquivavam quando passavam do seu lado, mas fazia parte. E de lá para cá, muita coisa mudou, como aceitações. E, com o pas-

situação do país continua um lixo e, para ser franco, eu não acredito que vá acontecer uma mudança para todos, pois a classe dominante está sempre se inovando para que possa prejudicar todos nós. É um vírus, um lixo, isso tudo. Você pega “Miséria e Fome” [nota: primeira faixa do 7” do Inocentes, de 1983] e serve para hoje. Você pega “Desemprego”, do Fogo Cruzado, é a mesma coisa. Músicas feitas há trinta anos, então você percebe que não mudou nada. E seria hipocrisia minha achar que vai mudar. O que mudou na cena punk do Brasil desde a década de 80? O que acontecia na comunidade punk naquela época - 127 -


sar do tempo, o direito de falar se tornou importante. Começaram a organizar festivais de punk e as pessoas simpatizantes com o ideal punk passaram a dar apoio porque elas estavam descontentes com a situação do país em todos os sentidos. Isso só veio a somar e, aos poucos, os festivais foram acontecendo. O lado B da MPB teve um dos festivais mais importantes, e ‘O Começo do Fim do Mundo’ [nota: festival punk de duas edições organizadas pelo SESC Pompeia] é inesquecível porque muitas bandas se apresentaram nele na época. Todos se lembram. Eu não tinha banda na época, mas estive presente e subi no palco com o Cólera, Inocentes, Olho Seco, Juízo Final, Fogo Cruzado e muitas outras. E algumas estão na ativa ainda hoje. Foi inesquecível porque foi importante na época por quebrar barreiras e fazer história, mesmo com todas as dificuldades. E hoje você escuta Ramones em uma rádio. Eu não imaginava escutar Ramones em rádio, eu não imaginava escutar um monte de coisas em rádio, e isso mudou para melhor. Teve coisa que acabou se estragando, teve uma sequência, mas isso é devido à própria cultura do país, que dificulta, e fazer Rock and Roll no país do carnaval é complicado. Mas algumas mudanças foram boas, tais como: hoje um garoto consegue ter um bom instrumento, tem a internet para poder dar suporte, enquanto que, na época, ninguém tinha nada. Era o ‘Faça você mesmo’, a gente carregava o amplificador, montava, tocava, desmontava, carregava e ia embora, sem ganho nenhum, praticamente. Fazíamos tudo por um ideal. Foi a época mais verdadeira.

fluências para outras bandas como Inocentes e Cólera. Todo mundo escutava a mesma coisa e depois foram surgindo outras bandas legais, como The Exploited, 999 e Residuos nos anos 90. É legal porque eu tive o prazer de tocar com essas bandas aqui no Brasil, abrindo shows para eles com o Inocentes. As influências do Fogo Cruzado não há como negar. O gosto de cada um é bem parecido.

Quais bandas tiveram maior influência para o Fogo Cruzado? Anselmo - São tantas bandas da época. Eu gosto de Dead Boys, Ramones, Sex Pistols, Vibrators. E essas bandas também foram in- 128 -


Vocês frequentam shows de punk de bandas da Inglaterra para sentir o espírito punk e rever os amigos? Anselmo - Esse lance de ver banda vindas da Europa, sim! Sempre quando tem algum show, não tem como não ir, e também rever vários amigos da época que dividiam aquela história toda com você. É fácil ficar lembrando de vários momentos porque era o verdadeiro

espírito punk. O espírito que existiu mesmo e está no coração de cada um que viveu isso. O legal era poder ouvir U.K. Subs e Ramones na rádio porque em vinil não dava. O que tínhamos eram fitas cassete gravadas do programa do Kid Vinil na época. E hoje você tem o prazer de ver certas bandas tocando aqui no Brasil e, às vezes, dividir o palco com elas. Cara, eu abri show do Resíduos, no Hangar 110, toquei com - 129 -


Qual mensagem você deixa para as pessoas que seguem uma ideologia, movimento ou partido? Anselmo - A mensagem que deixo para a moçada, seja de qualquer tribo, movimento ou partido é: tudo que você fizer, faça com a alma, porque a vida é tão curta para se perder tempo com coisas pequenas. Procure fazer o bem, torne-se uma pessoa melhor a cada dia, mas nunca tente ser melhor do que ninguém. Faça o que fizer, seja sempre você, não importa qual seu estilo. Vá pra cima! É isso...

o Bad Religion no Credicard Hall, U.K. Subs no Showlivre na TV Cultura e muitas outras participações que foram marcantes. O verdadeiro espírito punk nunca morre. Por que os punks perseguiam tanto os metaleiros naquela época? Anselmo - Essa coisa de perseguir os cabeludos, os hippies, era porque todos eram adolescentes e existia uma rebeldia toda, mas eu mesmo não perseguia ninguém e tinha muitos amigos cabeludos. Não era uma coisa generalizada. Sempre existiam gangues que não chegavam a representar esse perigo todo que a mídia falava. E você pode perceber que, em muitas bandas punks, os caras eram cabeludos. Eu, que sempre fui da paz, acredito que o que aconteceu foram casos isolados.

Dica - Performance em 23 de janeiro de 2017 no programa Showlivre, apresentado por Clemente Nascimento, colega de Anselmo em sua outra banda, também de punk rock, o Inocentes. - 130 -



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Texto Aline Pavan | Foto Banda/Divulgação

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ormada no ano de 1999, a horda goiana Héia vem há anos se destacando no cenário nacional. Em 2017 a banda relançou um de seus clássicos, o “Magia Negra” e segue trabalhando forte na divulgação do mesmo. Conversamos com o líder e frontman, Místico, para saber um pouco mais da história e projetos do grupo, confira! É uma satisfação imensa estar fazendo esta entrevista com vocês. Para início de conversa, fale um pouco mais sobre este relançamento do clássico “Magia Negra”. Como foi trabalhar nisso? E como vem sendo a procura? Místico: Salve!! Primeiramente é uma grande satisfação para a horda. Obrigado pela oportunidade. Bom, “Magia Negra” foi lançado inicialmente em 2007. E após 10 anos decidimos fazer o relançamento mais do que merecido. Esse CD é o material mais aclamado da horda e por onde passamos as pessoas pedem, vociferam, gritam... Então já estava mais do que na hora de fecharmos essa parceria com os selos efazermos essa obra materializar mais uma vez. - 134 -


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A Héia já pode ser considerada da velha guarda do Black Metal brasileiro certo? Para você, sendo um dos membros fundadores, como é batalhar tantos anos no underground nacional? E como a banda se sente hoje em dia, acreditam que este é o melhor momento para vocês? Sim, somos de 1999. Olha o nosso underground é maravilhoso, muita horda com excelentes trabalhos e a cada dia eu tenho mais orgulho da nossa cena nacional. E a banda sempre esteve focada em evolução seja técnica ou ideológica, almejamos sempre honrar a nossa cena negra.

fazer uma turnê sul-americana, correto? Em que pé está esse projeto? Sim, já fechamos com a No Class Agency, somos grandes parceiros, inclusive essa mesma agência foi a responsável pela nossa última turnê no Nordeste. Então, a parceria aqui é forte (risos). Vamos para Colômbia e Equador, logo divulgaremos as datas. Qual a visão de vocês sobre o cenário extremo mundial? Acreditam que há uma nova safra de bandas neste estilo? Se sim, poderia nos indicar alguns nomes que andam ouvindo ultimamente? A cena mundial é algo gigante. Eu nunca estive na Europa, mas o que a gente percebe, é um

Li em algum lugar que vocês pretendem - 136 -


mar de tubarões, bandas diferentes e novas de segunda a segunda, e com certeza os selos europeus trabalham com muito mais facilidade que nos aqui no terceiro e estuprado mundo. E hoje tem muita banda nova boa, por exemplo: Nekrodelium da Suécia, MGLA da Polônia, Sex Messiah do Japão, Woods of Desollations da Australia e por aí vai...

época bem diferente de hoje. Eu lembro que ficamos quase dois anos pagando essa gravação (risos), para no final pegarmos e levarmos para prensagem que levou mais meses pagando. Foi tudo muito gratificante, para a época o resultado foi incrível! E hoje em dia, como a horda trabalha na composição de suas músicas? Bom, eu componho quase que tudo. Na verdade, nos últimos discos eu fiz tudo, só não gravei bateria, mas faço todas as músicas e todas as letras. Gravo guitarra, baixo e vocal, para fazer shows ao vivo eu conto com a parceira e amizade de dois irmãos.

Voltando ao “Magia Negra”, como foi – há 10 anos atrás – compor e gravar este material? “Magia Negra” foi gravado e mixado no Rock Lab do Gustavo Wasquez, na época ele era o maior produtor aqui de Goiás. E a gente não tinha grana para pagar as gravações, era uma - 137 -


A banda usa algumas simbologias em seu logo e algumas artes, como o “sigilo” e a Black Metal Resistência. Explique, qual o real significado de “Héia”? Quais as referências que a banda usa para na utilização destes simbolismos? E vocês conseguem linkar tudo isso com os dias atuais? Excelente pergunta! Usamos em nosso sigilo a “Serpente Ígnea” que também é usada em nossa logo. A serpente significa a ‘Evolução do Homem’, a libertação da cruz (libertação dessa mentira chamada cristianismo) homem livre, liberto e que se abre para o oculto, que se abre para os sete corpos, os portais do conhecimento e da liberdade está em nossa fren-

te, mas muita gente prefere continuar sem enxergar e ver só a ilusão na frente. Nós da Héia não comungamos desse ato insano, nós preferimos enxergar e ir além dessa humanidade plastificada, Lúcifer nos conduz todos os dias para além dos 7 corpos, para dentro do poder oculto, onde temos uma visão ampla do que somos e para onde vamos. E hoje, nos dias atuais, cada vez mais pessoas tem se libertado da mentira e enxergado além dos portais. Vi que vocês foram confirmados com o lendário Marduk no Rio de Janeiro recentemente. O que os seguidores da Héia podem esperar para esta apresentação? E aproveitando a pergunta, há - 138 -


datas disponíveis para a região Sudeste, tendo vista que este show é em uma quinta-feira? Sim, foi um grande presente da No Class Agency. Estamos evoluindo a cada dia, então estamos preparando um ‘set’ com 13 músicas e muita agressividade no palco, e sim vamos passar também em São José dos Campos e na capital paulista em três oportunidades.

Novamente muito obrigado por esta entrevista e deixo este espaço para as considerações finais. A horda que agradece pela oportunidade. Obrigado a todos os guerreiros que apoiam a horda de forma direta e indireta. “Hórus é a criança natural de Nuit; Set é a criança das correntes negras lunares, como Caim era a criança de Adão por Lilith e Abel (Baal) por Eva. Há nessa distinção uma doutrina de vital importância para a aplicação mágica da fórmula do Novo Aeon.”

Como estão os preparativos para um novo álbum? Podemos esperar coisa nova ainda para 2018? Olha eu estou com algumas composições novas e a ideia é fazer um LP Split ou algo assim, mas por enquanto não temos nada fechado.

Kenneth Grant, Aleister Crowley and the Hidden God. - 139 -



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