Rock Meeting Nº 114

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Be Strong! A edição de março da Rock Meeting é a primeira, em 10 anos de existência, dedicada à mulher. Mas por que somente agora? Uma tentativa de chamar atenção? De angariar mais likes ao falar do assunto que está na ‘moda’? Não! Ser mulher e debater o seu papel não é moda. É uma busca constante por respeito. O Dia Internacional da Mulher passou e algo me chamou a atenção. Entre tantas postagens sobre o assunto, uma frase foi chocante: “dona de casa por habilidade”. Não critico a mulher que queira ser dona de casa, escolhas são escolhas. Respeito. Mas mulher alguma deve achar essa frase normal. Dona de casa por habilidade? Não, ninguém é dona de casa por habilidade. Há muitas razões para isso acontecer, e habilidade, definitivamente, não é uma delas. Essa edição especial não vem para ser uma autoajuda. Mal haviam mulheres nesse meio há dez anos. Quem criou esta revista é uma mulher, então, imagine como foi (e ainda é) difícil lidar com a descrença de montar uma publicação sem ser taxada de oportu-

nista. Hoje, após uma década, conseguimos conhecer e reunir algumas destas mulheres e fazê-las contar seus percalços para chegar onde estão. E vocês acham mesmo que estamos satisfeitas? Não, o céu é o limite. Ou melhor, não há limites para os nossos sonhos. Só não queremos que cortem as nossas asas e não nos permitam crescer. A cada declaração dada, pude me colocar na pele dessa garota e dizer para mim mesma: eu te entendo! Você não conseguiu chegar no patamar desejado porque é mulher, é loira, é bonita e etc. Você conseguiu porque tem talento. Você é capaz. Você pode! Ser mulher, por sofrer bastante com a pressão social, é ser forte. Por mais que não nos enxerguemos no espelho e não vejamos isso. Só nós sabemos o que passamos, quantos ‘nãos’ demos, ou até vociferamos palavras de baixo calão para espantar nossos medos. A você mulher, não desista. Se estamos aqui é porque não desistimos. Leia, entenda e não seja essa que acha que ser dona de casa por habilidade é normal.


08 - Metal Reflections - Doro 12 - Live - Overload Beer Fest 20 - Entrevista - Final Disaster 28 - Skin - Ciúmes 36 - Entrevista - Endigna 44 - Especial - Mulheres da Música 60 - Especial - Mulheres na Profissão 74 - Entrevista - Isa Nielsen 86 - Entrevista - Voz Ignea 96 - Live - Slapshot Port 104 - Live - Eluveitie

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bárbara Lopes Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net

FOTO DA CAPA Designed by Nikitabuida / Freepik www.rockmeeting.net


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omo a chefe pediu um texto sobre as mulheres para esta edição, tive que refletir por horas. Então, surgiu esta

banda em quatro anos. E quando Peter Zimmermann (ex-manager do grupo) ganhou os direitos do nome, então ela passou a usar o nome Doro para sua banda. E apesar dos altos e baixos, ainda está aí, firme e forte. Aliás, gerenciando a própria carreira, lançando discos com regularidade, sendo headliner do Wacken Open Air (a primeira vez foi em 1993, quando o atual feminismo extremista ainda era mero pesadelo de homens e mulheres), e sendo a imagem da mulher forte e independente dentro do cenário. Aliás, já que falamos no cenário, é preciso dizer que Doro sempre se impôs pelo talento. E é uma profissional de alto nível, que inclusive escolheu não se casar para se dedicar às suas atividades como cantora. Outro ponto: é a simpatia em pessoa com os fãs, pelo que sei de amigos que já a encontraram. Tudo isso para dizer que Doro Pesch não é a Metal Queen à toa, mas que ela é a verdadeira personificação do que muitas mulheres chamam de “empoderamento feminino”, com uma diferença: ela nunca se expôs mostrando o seio em lugares públicos (dizem

ideia. Em 1981, com apenas 11 anos de idade, apenas mais um garoto que ouvia o que os adultos ouviam nas rádios teve contato com o hit “Mulher”, do Tremandão Erasmo Carlos. Em 1985, lendo sua primeira revista sobre Metal (a finada Metal), este mesmo garoto teve contato com a primeira banda onde uma mulher estava. Este garoto sou eu, hoje com 49 anos, que nunca esqueceu esta letra, ou aquela primeira matéria com o finado Warlock, onde conheci o trabalho de Doro Pesch. Ou seja, são 35 anos que conheço essa musa, embora tenha demorado um pouco mais para ouvir e virar fã (o que ocorreu em 1991). “Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda!”, é o trecho inicial da canção de Erasmo, e se encaixa perfeitamente na figura de Doro. Ela formou o Warlock em 1982, junto com os colegas, gravou quatro álbuns com a -8-


Foto: Mauricio Melo

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Foto: Mauricio Melo

as lendas que ela foi convidada a posar para a Playboy, mas se recusou), nunca precisou de manifestos ou queixas contra os homens. Pelo contrário: nunca houve uma mulher na banda de apoio, ele sempre se rodeou de homens, e alguns deles, profissionais muito conhecidos do cenário. Fora dos palcos, Doro é vegana, luta Muai Thai, não usa roupas feitas com peles de animais desde que aderiu ao PETA (Peo-

ple for the Ethical Treatment of Animals, uma organização não governamental em defesa aos animais), bem como dá suporte ao Terre des Femmes (outra ONG, que auxilia mulheres em necessidade pelo mundo todo), é apreciadora de arte e gosta de pintar quando tem tempo. “Dizem que a mulher é o sexo frágil” qualquer um pode dizer. Doro viveu e vive para mostrar que não é fato.

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Texto e Foto Edi Fortini

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o início de fevereiro, rolou a primeira edição do Overload Beer Fest no Carioca Club, em São Paulo. Com mais de 8 horas de atividades, as bandas Overkill, Tankard, Ratos de Porão, D.F.C., Surra e Blasthrash se apresentaram para uma casa animada e lotada do início ao fim do evento. A junção de cervejas tradicionais e artesanais, bandas de thrash e hardcore, lanches tradicionais e veganos e o calor excessivo fez do evento um sucesso absoluto de palco e consumo. Foi um exemplo de festival bem organizado e para ser um exemplo de festival inclusivo só faltou ter uma banda de mulheres no cast (fica a sugestão para o próximo, temos maravilhosas bandas de mulheres no Brasil!). Com a habitual pontualidade na produção, o Blasthrash abriu o festival com muita empolgação aos que já estavam presentes. A atual formação da banda que conta com Dario Viola (vocal), Jhon França (guitarra), Diego Rocha (guitarra), Diego Nogueira (baixo) e Rafael Sampaio (bateria) acrescentou mui- 14 -


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to peso e ousadia e não deixou nada a desejar como banda de abertura. Em seguida foi a vez dos santistas do Surra, que com a formação atual de Leeo Mesquita (guitarra/vocal), Guilherme Elias (baixo/vocal) e Victor Miranda (bateria) trouxe mais velocidade e descontentamento político que culminou a uma performance cheia de protesto explícitos no palco. Já que palco são sua especialidade e desde 2012, já são mais de 250 shows por todas as regiões do Brasil e mais de 10 países da Europa. Os brasilienses do DFC contaram com uma plateia já enorme e que estava ansiosa por vê-los. A atual formação conta com Tulio (vocal), Miguel (guitarra), Leonardo (baixo) e Bruno (bateria) e a banda teve muito a acrescentar em termos de experiência de palco e velocidade de som. Clássicos não faltaram como “Igreja Quadrangular do Triângulo Redondo”, “O Massacre da Guitarra Elétrica” e “O Mal que vem para Pior”, seus quase 30 anos de palco acrescentaram muito à noite que ainda estava na metade. A sequência se deu com os veteranos do Ratos de Porão, que com a formação de João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) não deixou uma pessoa neutra no local. Era impossível ficar imune aos moshes. Com 13 álbuns de estúdio, além das coletâneas e outros lançamentos, o Ratos foi uma das bandas mais aguardadas da noite e fizeram um show impecável. Das atrações internacionais, os alemães do Tankard fizeram muito bonito. Atualmente formado por Andreas “Gerre” Geremia (vocal), Frank Thorwarth (baixo), Olaf Zissel (bateria) e Andreas “Andy” Gutjahr (guitarra), a energia no palco era gritante! Tendo o último álbum lançado em 2017, “One Foot in the Grave” trouxe muitas novas músicas apresentadas ao - 16 -


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vivo, como a homônima do álbum e também Pay to pray. Foi um setlist de 15 músicas que passou por quase todo o seu material lançado. E para terminar em grande estilo, o Overkill trouxe em sua formação Bobby “Blitz” Ellsworth (vocal), Carlo “D.D.” Verni (baixo), Dave Linsk (guitarra), Derek Tailer (guitarra) e Jason Bittner (bateria) para promover o álbum “The Wings Of War” e não deixou uma pessoa imune à porradaria ao final do show. Foram 16 músicas que contemplaram boa parte de seus álbuns já lançados.

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Texto Renata Pen | Fotos Gil Oliveira

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banda paulistana Final Disaster tem como sua inspiração o terror, o curioso é que, alguns deles têm seus medos, mas ao mesmo tempo tem uma atração pelo tema. Seja com jogos, filmes e até na arte eles acham inspiração para compor seu trabalho. A banda é composta por Laura Borssatti Giorgi (vocal), Kito Vallim (vocal), Daniel Crivello (guitarra), Rodrigo Alves (guitarra), Felipe KBÇA (baixo) e Bruno Garcia (bateria). Conversei com Laura sobre a banda, temas diversos, shows e sobre ela mesma. Acompanhe! Como começou seu amor pela música. Como, onde e quando tudo isso aconteceu? Eu cresci num ambiente cheio de música. Lembro quando era criança de pegar os cds dos meus pais, como Celine Dion, Janet Jackson, Spice Girls, Andrea Bocelli, e ouvia repetidamente. Desde de pequena sonhava em ser uma cantora famosa, e até hoje sonho com isso. Conforme o tempo foi passando, meu gosto foi se moldando mais para o heavy metal - 22 -


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e rock, e esse é meu foco agora. Mais pra frente pretendo me especializar em musicais e ópera, que são minhas paixões também. Como você entrou para a banda? Eu entrei na banda por convite direto do Kito Vallim. Ele tocava em algumas bandas covers, mas queria fazer algo diferente, então me convidou a participar desse projeto direcionado ao assunto de terror. Desde então a banda e as músicas foram tomando forma e fixamos uma formação que está indo muito bem até o momento. Os meninos te tratam diferente por ser menina ou é tudo o mesmo rolê? Os meninos são meus parceiros do crime, todos nós nos tratamos de igual para igual. Se eles precisam às vezes eu dou umas puxadas de orelha, assim como eu também levo e muitas! Mas nunca tivemos distinção em relação a sexo na banda, e isso funciona muito bem para todos nos sentirmos à vontade. Você já foi desrespeitada? Sim, várias vezes. Apesar de eu não ligar de me expor um pouco a mais para chamar atenção para a banda, eu já sofri comentários como “Ela só está na banda porque estava namorando um deles” ou “Só está na banda porque é bonita” e coisas do gênero. Eu sou simpática com todos os fãs, e têm vezes que eles se mostram um pouco mais interessados do que simplesmente na música, e eu não ligo, eu consigo levar bem muito dessas coisas sem maldade e até com bastante humor envolvido. Mas quando desvalorizam meu trabalho por conta do meu sexo ou da minha aparência, isso é extremamente desrespeitoso. Eu estou longe de ser a melhor vocalista de heavy metal ou uma cantora talentosíssima, tenho muito a aprender, mas garanto que todo meu mérito de es- 24 -


tar onde estou é fruto do meu esforço. E infelizmente, não sou a única mulher na cena que passa por isso. O que é a música na sua vida? Música pra mim é tudo. Eu vivo e respiro música, viajo constantemente pra festivais afim de conhecer bandas novas. Ela sempre esteve presente na minha vida, me resgatou mais de uma vez da depressão, me ajudou muito com minhas crises de ansiedade, e constantemente me lembra como é se sentir viva. Sem a música eu seria uma pessoas extremamente miserável. Como rolam os convites para shows? Os convites de show geralmente rolam através do Kito, que é o responsável por passar as datas para a banda e alinhar com todo mundo. Ele cuida dessa parte gerencial da banda, então ele que tem os contatos de shows e festivais. Quando recebemos algum convite, entramos num consenso se vale a pena, se a prospecção será boa, e acima de tudo se não irá comprometer o cronograma da banda com outras tarefas. Sobre o figurino. Como você faz com essa parte? Têm lojas especializadas para metaleiros ou um costureiro? Não tenho nenhuma loja ou costureira especializada que eu frequente. Quando eu tenho algum show ou photoshoot, eu escolho o que pode ser mais adequado para aquele momento, focado na imagem que queremos passar com a nossa música. Não gosto de gastar muito dinheiro com roupa, então tento reutilizar as peças ou usar elas de forma criativa, inclusive já fiz shows com camisa de trabalho que caíram muito bem! Sobre maquiagem. Você usa sempre a - 25 -


mesma cor e estilo? Se inspira em alguém? A maquiagem vai mais do meu humor do dia, em relação a cor, uma hora é vermelha, outra hora é azul, uma hora preto fosco, outro cheio de glitter. Eu sempre tenho um padrão que se adequa ao meu rosto e eu não me inspiro em ninguém em particular.

ma. Tem que dar um jeito de conciliar e estar todo mundo feliz. Porém deixo claro: a música vem em primeiro lugar sempre. Eu não acho que as pessoas sejam descartáveis, mas isso eu aprendi na vida: pessoas vêm e vão, a música é pra sempre. Conta alguma coisa engraçada que aconteceu com vocês? O ponto alto é nos nossos ensaios: a gente combina que quem chegar atrasado tem que pagar uma cerveja pra cada membro, ou seja, 5 cervejas, e isso deixa o clima leve e divertido, pois a pessoa sempre acaba sofrendo um bullying saudável e todo mundo entra na brincadeira. Além de fazer todos chegarem na hora por morrer de medo de gastar dinheiro à toa (risos).

É difícil arrumar um namorado, você sendo uma frontwoman? Eu já tive alguns problemas com relacionamentos anteriores em relação a banda, eu entendo que não deve ser fácil a pessoa compreender que eu tenho que me dedicar muito, viajar e não dá pra me acompanhar o tempo todo, e ainda tem a questão do ciúmes que felizmente hoje eu não tenho mais esse proble- 26 -



Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

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ciúme geralmente está relacionado com a dinâmica psicológica de cada pessoa, com sua história de vida e padrões de relacionamento e comportamento aprendido. Às vezes dependendo do tipo de relação estabelecida com o parceiro pode ser acentuado conforme características que o parceiro possui e desencadeia na relação. Na abordagem psicanalítica, Freud em seu texto diz “alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e na homossexualidade” define o ciúme como sendo um estado emocional, podendo ser descrito ou classificado como normal. A partir dessa definição, Freud afirma que se um sujeito aparentemente não possui ciúme, é porque este sofreu uma severa repressão e que devido a esse motivo, o ciúme desempenharia um grande papel na sua vida mental inconsciente. Nesse mesmo texto, Freud classifica o ciúme em três camadas ou em três graus, os quais são denominados de o competitivo ou o

normal, o projetado e o delirante. O primeiro, pode ser explicado como um ciúme relacionado à concorrência com um rival, isto é, o medo de perder o objeto amado, o que denota uma ferida narcísica. Além disso, o ciúme, em alguns indivíduos, pode ser vivenciado de forma bissexual, mais especificamente, um homem não apenas irá sofrer devido ao amor que sente pela sua mulher, mas também nutrirá ódio pelo homem, seu rival. Por outro lado, poderá sentir pesar pelo homem, a quem ama inconscientemente, e odiar a sua mulher, pois irá considerá-la como uma rival. Esse último ponto pode ser adicionado à intensidade de seu ciúme. O segundo grau de ciúme que seria o projetado, significa que tendemos a projetar nossos próprios impulsos relacionados à infidelidade no nosso parceiro a quem, muitas vezes, juramos fidelidade. O terceiro tipo denominado de delirante teria como origem a homossexualidade negada, isto é, “ Eu não o amo; é ela quem o ama!”. - 28 -


Lais Conde

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Destaca-se que no ciúme delirante encontra-se ciúmes pertinentes a todas as camadas mencionadas e nunca apenas à terceira. Vale salientar que homens manifestam os sentimentos, na sua grande maioria, de maneira mais ‘contida’ aonde manifesta-se através de comportamentos de controle, de atitudes machistas (aonde a mulher não pode isso, não deve aquilo...etc.). O ciúme é uma emoção, instintiva e natural. Os animais também manifestam ciúme. É um sentimento comum a todos os seres humanos – quando se fala a palavra ciúme todo mundo sabe seu significado porque já sentiu. Mas não devemos nos deixar guiar pelo ciúme, pois as emoções são más conselheiras. A arte do viver consiste em ter a emoção como motor e a razão como leme, assim aquela nos motiva e esta nos orienta. Neste sentido, o ciúme pode ser o útil motor que nos leva a sermos cuidadosos com nosso objeto de amor, mas sempre lembrando que cuidado não quer dizer controle, nem domínio. Por ser instintivo, o ciúme é verdadeiro e deve merecer nosso respeito; mas é também irracional e precisa ser examinado e aceito pela razão. Respeito não significa aceitação. O ciúme quando não temperado pela razão nos torna possessivos, o que também é uma característica natural (pois também se encontra nos outros animais); mas o desejo de um ser humano para dominar e controlar os outros e tratá-los como uma propriedade sua ofende nossa inteligência. Basicamente, o ciúme consiste no medo de perder para outro o objeto amado. E para que tal não ocorra devemos zelar pelo nosso amor. Zelo e ciúme andam próximos – em espanhol a palavra “celoso” tanto significa zeloso quanto ciumento. Ou seja, o ciúme nos faz zelosos. A insegurança é uma das causas do crescimento

anormal do ciúme. Em geral está relacionada com a consciência de estarmos sendo pouco cuidadosos ou incompetentes quanto à nossa relação amorosa. Quem não cuida de seu amor acaba sentindo-se em falta e temendo ser castigado e a expectativa gerada por este sentimento de culpa agrava o sentimento de ciúme. Os jovens costumam ser muito ciumentos por insegurança em relação à sua capacidade para administrar o namoro. Por vezes, o ciúme nem tem a ver com a questão sexual. Podemos ter ciúme da pessoa amada, mesmo sabendo que ela não vai ter encontros sexuais com outras pessoas, mas simplesmente porque ela fica falando no telefone quando estamos querendo conversar. Mera possessividade, uma característica instintiva do ser humano e de grande parte dos mamíferos, que temos que reconhecer que possuímos, mas a qual não devemos ficar escravizados, como não devemos ficar escravizados às outras nossas características instintivas, embora as reconhecendo e respeitando. A pessoa que desenvolve um ciúme possessivo e obsessivo pelo parceiro pode estar sofrendo de um distúrbio obsessivo ou pode apresentar sintomas de uma personalidade obsessiva compulsiva. A pessoa que sofre com ciúmes pode ter uma personalidade obsessiva compulsiva que possui um padrão característico de sintomas que precisam ser observados como se há um padrão persistente de preocupação com asseio, perfeccionismo, controle mental e interpessoal. Há pouca flexibilidade, transparência, relaxamento das preocupações de dos pensamentos, os pensamentos apresentam pouca eficiência, os pensamentos acontecem recorrentemente, ou seja, não saem da cabeça. Este distúrbio começa no início da vida adulta e apresentam uma variedade de contextos, como indicado - 30 -


Samantha Feehily

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por quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: 1. Estar preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários e com o que ainda vai fazer. 2. Mostra perfeccionismo que interfere com a tarefa concluída (por exemplo, é impossível concluir um projeto devido ao aumento de suas próprias exigências das normas e regras). 3. É demasiadamente dedicado ao trabalho e produtividade e deixa de lado as atividades de lazer e amizades. 4. É muito convencido de seus próprios pensamentos, não aceita a opinião alheia, ou não acredita nas evidências que a outra pessoa aponta, é escrupuloso, é inflexível em matéria de moralidade, ética ou valores. 5. É incapaz de se desfazer de objetos sem valor, mesmo quando estes não têm valor nem sentimental. 6. Mostra-se relutante em delegar tarefas ou a trabalhar com outras pessoas, salvo se apresentarem exatamente a sua mesma maneira de fazer as coisas e a mesma forma de pensamento que o seu. 7. Adota um estilo pão-duro, o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para as futuras catástrofes. 8. Mostra rigidez e teimosia. 9. Acredita piamente em seus pensamentos e acha que os outros estão mentindo. No caso do ciúmes, nunca aceita a explicação do outro, ou acha que está sendo sempre enganada. 10. Pensa o tempo todo em como controlar a outra pessoa a ponto de querer acompanhar tudo o que ela faz, onde está, o que está pensando, numa necessidade de posse do outro. Os indivíduos que sofrem desta desordem de personalidade muitas vezes se caracterizam pela sua falta de abertura e flexibilidade, não só em suas rotinas diárias, mas também com

as relações interpessoais e expectativas. A imensa preocupação com asseio, perfeccionismo e controle de suas vidas e de suas relações ocupam grande parte de sua vida. As opções de tratamento que não se encaixam no esquema cognitivo do cliente provavelmente serão rejeitadas rapidamente ao invés de ser uma tentativa aprovada por ele Os indivíduos que sofrem deste distúrbio têm dificuldade em incorporar novas informações e mudanças em suas vidas. Para incorporar novas aprendizagens é necessário uma empatia muito grande com o terapeuta para que o mesmo consiga colocar novos planos de - 32 -


Lais Conde

vida e confrontação com a realidade para que ocorram novas reestruturações cognitivas. A técnica de relaxamento é uma indicação para concorrência com os pensamentos disfuncionais e com a ansiedade vivida pela necessidade de controle. A capacidade para trabalhar com os outros é igualmente afetada, uma vez que eles veem o mundo em preto e branco, acham que somente a sua maneira de fazer as coisas é a correta. A técnica de confrontação com a realidade e a busca de evidências na terapia cognitiva comportamental é uma forma que ajuda muito a pessoa com ciúme obsessivo a

entender o modo de funcionamento de seus pensamentos e fantasias, conseguindo diferenciar entre estes aspectos. A terapia de casal pode ser indicada quando o ciúme está focado no parceiro que não aceita sua doença e terapia e, consequentemente fica mais fácil aceitar o atendimento terapêutico para ambos. O ciúme possessivo atrapalha a relação do casal e se não for trabalhadas estas questões acontece o desgaste muito rápido na relação, interferindo em direitos e deveres de cada um e principalmente no respeito entre o casal. A busca de ajuda terapêutica permite uma melhor avaliação do contexto e pode - 33 -


haver encaminhamento para uma avaliação médica e psiquiatra, pois em alguns casos há a necessidade de intervenção medicamentosa para maior controle da ansiedade e dos pensamentos obsessivos. O ciúme pode destruir casais, como é o caso mostrado na novela “Em Família”. É comum que as pessoas sintam esse ciúme violento? Qual a explicação para esse tipo de comportamento? As manifestações destrutivas do ciúme – desde as conhecidas “cenas de ciúme” acompanhadas de gritos e choros até a violência mais explícita das agressões – fazem parte do conjunto de impulsos naturais e selvagens que possuímos e cuja repressão é proposta como

base para a vida civilizada. Desde muito cedo somos treinados a controlar nossos impulsos naturais, começando na mais precoce infância pelo controle das excreções com o uso do penico. Aliás, este talvez seja o lugar ideal para despejarmos os nossos ciúmes, pois quando deixamos os sentimentos guiarem sem restrições nosso comportamento os resultados costumam ser catastróficos. Quando encaramos a relação amorosa como uma relação livre entre dois adultos independentes, nela não há lugar para nos sentirmos proprietários de nosso(a) parceiro(a). Por isto, temos que estar diária e permanentemente reconquistando e seduzindo o outro e zelando pelo relacionamento.

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Texto Marta Ayora | Fotos Bárbara Martins

É costume que nossos entrevistados se apresentem. Por favor. Meu nome é Thais Amaral e eu sou vocalista da banda paulistana de metal/crossover Endigna. Thais, conte-nos um pouco de sua história na música. Com que idade começou a cantar, suas influências...? Bom, eu comecei a cantar muito pequena. Nasci numa família evangélica e é muito comum lidar com música na igreja. Lembro-me que meu primeiro contato foi aos 7 anos no Coral infantil. Dali em diante, dei sequência até os 14 anos onde cantava no Coral de jovens. Nesta mesma época (14~15 anos) conheci e me encantei pelo Rock, o que inclusive me trazia muitos problemas com a minha mãe, pois reza a lenda que Rock é coisa do Diabo (coitado) (risos). Comecei ouvindo bandas como Faith No More, Raimundos, Metallica, SOAD e por aí vai. E era muito engraçado porque eu só podia ouvir nos extintos Diskman, walkman ou no rádio na hora que todos estavam dormindo em casa. E isso, claro só aguçava ainda mais a - 38 -


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minha paixão pelo Rock/Metal. Nessa época, eu já sonhava em formar uma banda. Você lidera os vocais da Endigna desde 2007. Como tudo aconteceu e qual o significado do nome da banda? Sim, a Endigna nasceu em 2007 e na verdade foi a continuação da minha primeira banda, que se chamava Goma84, que foi formada quando eu tinha acabado de fazer 17 anos. Nela começamos a tocar cover de várias bandas e começamos a participar de muitos festivais. Daí a vontade de fazer um som autoral surgiu. Na época a aceitação foi de imediato tanto sobre a transição de Goma84 para Endigna, quanto o fato de optarmos apenas por fazer um som autoral. Desde cedo sempre fui muito ousada e expressiva no palco e isso ajudou e ajuda muito até hoje. Não é sobre ir lá e fazer um show apenas, é sobre deixar um pouquinho da sua alma e da sua essência. O nome da banda veio em decorrência de um ciclo que terminava onde dois membros saíram e não vimos motivos concretos para continuar usando. Na época ficamos entre Injúria e Indigna. Então decidimos que Indigna soaria melhor e só trocamos o “i” pelo “e”. Achamos que soava melhor (risos). Processo criativo. Como tudo acontece? Os processos criativos variam de acordo com o tempo, as primeiras músicas de trabalho da Endigna são todas autobiográficas e podem ser interpretadas de maneiras diferentes. Hoje em dia, quase 12 anos depois, é como psicografar...sei lá...só vem. Como vem sendo a aceitação do single “De mãos dadas”? O single “De Mãos Dadas” foi uma parada não planejada exatamente, foi uma música que eu escrevi em 40 minutos dentro do estúdio en- 40 -


quanto os caras acertaram a base. E Chazam! Apareceu... Soltamos o single e hoje é a música mais pedida nos shows. Isso é muito bom! Ser vocalista de uma banda de metal tem seu ônus e bônus, você já passou por alguma situação difícil? Não encaro como um desafio, mas também não vou mentir que sinto que tenho que provar em todo show que mulher faz gutural tão bem e tão grave quanto um homem. Acho que não é gênero, é competência que manda. No começo até passava umas paradas do tipo “Vai Gostosa”, “É cover de Pitty” e por aí vai. Mas quando você foca no trabalho... Isso nem faz diferença. No ano passado a Endigna abriu as apresentações da banda Jinjer. Como surgiu o convite e como foi a experiência? Foi um presente do universo, pois estávamos num momento decisivo. Estava muito cansada emocional e fisicamente devido às dificuldades de ter ou manter uma banda aqui no Brasil. Uma semana antes da convite, reuni a banda que já não tinha um baixista e chegamos à conclusão de que era melhor encerrarmos a história da Endigna por ali. Afinal estamos há quatro anos tentando lançar um cd e não conseguimos membros fixos. Ainda tem gente que se vangloria pelo fato de fazer parte de uma banda. E quando tem que deixar família, mulher, filho para trás não aguenta o baque e sai. Deixa na mão sem dó. Enfim, recebemos o convite do Manifesto, onde já havíamos participado de um festival só com bandas de mulheres... Cerca de 80 bandas e ficamos em 2° lugar. Foi um festival que nos rendeu uma visibilidade bacana. Quando fecharam o show com o Jinjer, eles falaram diretamente comigo. E eu nem acreditei, nem acredito até hoje para falar a verdade. Sou muito fã da banda e - 41 -


fiz até um vídeo vocal cover da música “Piscies” onde a própria banda (Jinjer) compartilhou dizendo ser o melhor cover. Hoje com mais de 40.000 views. (Pasmem, risos). Mas foi uma experiência surreal. Reunimos a banda com outra guitarra e outro baixista e mandamos ver.

alucinante a energia dele no palco. 2 e 3 - Max e Igor Cavalera (Sepultura/Cavalera Conspiracy). Existem coisas que vão além da nossa vã filosofia e aqueles dois têm disso. É o que você não pode ver, mas pode sentir. 4 - Otep Shamaya (Otep) porque ela abriu todas as possibilidades vocais (guturais) para mim na época e eu gosto muito do senso artístico que ela tem. 5 - Scott Wiland (Stone Temple Pilots) por toda sua paixão alucinante mesclada com a doçura. Eu o amo com todas as minhas forças (R.I.P).

Top 5. Há uma infinidade de bandas e músicos que admiramos, qual (ais) você gostaria de dividir o palco? Fale um pouco sobre cada um deles. Nossa... É muita gente, mas vamos lá. 1 - Mike Patton (Faith No More) meu primeiro amor platônico (risos). Sempre achei - 42 -


O que você diria para uma garota que está começando a cantar em uma banda e te vê como uma inspiração? Vai lá e olha bem na bolinha do olho de todo mundo quando você estiver no palco, a essência da mensagem que você quer passar está no olhar, na convicção do que você quer expressar. E falar até papagaio fala. Foca no trabalho da banda e vai.

universo nos deu, entendemos que a Endigna é um trabalho que não deve ser interrompido por nada. Estamos finalizando o cd que terá 10 faixas, mas sem data prevista para lançamento. Afinal, todas às vezes que demos data não rolou (risos), então deixa rolar. Podem esperar músicas novas. Músicas em Inglês com afinações mais graves (não estou me aguentando de vontade de mostrar para todo mundo) e se tudo der certo ainda sai um EP logo na sequência do cd. Mas ainda é só uma hipótese. Agradeço de coração em nome da Endigna por esta entrevista. E parabéns por todo conteúdo da Rock Meeting e um muito obrigado especial pra Marta Ayora. Até mais!

Para finalizar, o que podemos esperar para 2019? Tem algum projeto especial para este ano? Muito obrigada e sucesso sempre. Esperamos que depois dessa mensagem que o - 43 -


O dia que resolvi ter uma banda. Você escolheu ou foi a música que te ‘pegou pelo braço’? A primeira voz que me inspirou foi da minha mãe, apesar de ter uma voz incrível ela dedicou esse dom aos corais da igreja que frequenta, mas estou tentando mudar isso incentivando ela a iniciar os estudos em canto. Eu não quis seguir o mesmo caminho, desde de pequena me via como cantora, mas parecia uma meta muito distante de se concretizar. Comecei a ouvir metal por volta dos 13 anos e até os 18 me dediquei somente aos estudos e ao trabalho (aos 15 fazia estágio, curso técnico). Quando passei a frequentar shows, pude vislumbrar que uma carreira como vocalista de metal era

possível. Resolvi então gravar alguns covers caseiros para mostrar minha voz, com um programa chamado Audacity e um microfone destes que a gente usa pra falar no skype, era o que eu tinha, mas foi suficiente pra criar uma série de covers que iam de Deicide a Bruce Dickinson. Divulgava em comunidades do orkut na época, cheguei a fazer um ensaio com o Sinaya quando buscavam vocalista em meados de 2011, mas eu não tinha grana nem para as passagens na época (risos). Não desisti, cheguei a montar dois projetos o Lithania e o Brutalia, com musicistas excelentes como Paula Carregosa (Detonator), Patrícia Schlithler (Hellarise/Harppia), Renata Petrelli (Hellarise/Sinaya) e Juliana Martins (Sarcoma), - 44 -


Foto: Arquivo Pessoal

mas tínhamos dificuldades para seguir com ensaios. Alguns anos depois como vocalista do Necromesis, tive minhas primeiras experiências com banda, lançamos dois trabalhos de estúdio e fizemos pequenas turnês com o Master e Vital Remains no Brasi. Hoje encaro a rotina intensa ao lado do Torture Squad que elevou essa experiência a um nível profissional. Olhando para tudo isso, acredito que eu persegui a música, pois o que não faltou foi obstáculo que tentasse me fazer desistir dela. Viver de música no Brasil é algo bastante difícil. Como você enxerga a música diante dessa perspectiva? Uma das atitudes mais difíceis que tive de to- 45 -

mar para poder me dedicar ao Torture Squad foi deixar meu emprego e minha família. Saí de Santo André e morei por quase um ano no estúdio da banda em São Paulo. Foi um período de poucos shows e muitos ensaios, então precisei ter jogo de cintura para lidar com as dificuldades principalmente financeiras, já que os ensaios quatro vezes por semana não permitiam que eu tivesse um emprego formal em horário comercial. Vendi acessórios, trabalhei em bares... Não ter um “canto” pra chamar de meu deixava minhas emoções à flor da pele, e era um duelo todos os dias para continuar acreditando que todo esse perrengue valeria a pena. Fui tendo cada vez mais contato com produtores, professores de canto, técnicos de som e meus próprios companheiros de banda como o Amílcar, que há anos é instrutor de bateria, que me mostraram que na própria música eu podia encontrar oportunidades de trabalho que permitiam conciliar minha rotina de ensaios e shows, mas como qualquer área exige que você se capacite. Muita gente me procurava querendo aprender a cantar metal extremo, eu tinha a experiência prática, mas precisava dominar a didática de aulas, então iniciei um curso de canto voltado para drives e vozes distorcidas com o professor Ariel Coelho que me direcionou a ir mais a fundo no assunto guturais. Surgiram também convites para workshop e palestras onde pessoas que estão começando na música buscam direcionamento. Gostaria de um dia me aprofundar em produção musical fora do país, atualmente tenho aulas de canto contemporâneo com Iara Vilaça, aulas de violão com Marcelo Miranda (Olam Ein Sof/Arum), e também piano e teoria musical no conservatório Ever Dream em São Paulo. Bom só nessa resposta pude citar diversas profissões dentro do Rock/Metal que não se restringem somente aos palcos, então posso dizer que é possível viver de música, mas


exige que você se capacite e se destaque como em qualquer outro mercado profissional. Em algum momento você já foi vista com outros olhos? Popularmente falando, como uma ‘oportunista’, buscando certos interesses que não era musical? Ou ‘vai lá, você consegue tudo, é mulher’? Recentemente sofri ataques de um cara que se diz professor de canto, dentro de um grupo de interação de uma turma de um curso que frequento. A pessoa disparava mensagens ofensivas e irônicas sempre que eu divulgava meu trabalho para meus companheiros de turma e até mesmo a participação da minha banda no Rock in Rio foi motivo de ataques de fúria do rapaz nas redes sociais. É muito triste ver que algumas pessoas que se dizem profissionais tentem te descredibilizar com medo de uma “concorrência” que não existe, e quando faltam argumentos apelam para comentários baixos e atribuem seus sucessos ao fato de ser mulher, como se o “ser mulher” fosse algo depreciativo. Quando um aluno me procura ele está buscando muito mais do que técnica, mas também experiências que se identifiquem com suas metas de carreira, isso também vale para a contratação de um show por exemplo... As pessoas buscam por experiências marcantes e transformadoras na música. Todas as minhas conquistas vieram do reflexo de um trabalho árduo bem feito e também de um relacionamento amistoso com outros profissionais do meio, não concordo com este tipo de competitividade doentia em um mercado que abre espaço para tantas parcerias entre profissionais. Eu procuro não dar credibilidade a essas atitudes, pois para mim são características de pessoas que não se destacam e procuram essa notoriedade através de polêmicas que eu sinceramente não dou a menor margem para

que sejam alimentadas. Diante dos ataques recebi mensagens solidárias de profissionais renomados no ramo como Lyba Serra e Fausto Caetano, pessoas assim me estimulam a continuar meu trabalho sempre buscando evoluir, enquanto outros perdem seu tempo com fofocas e mentiras. Há tantas referências ótimas de mulheres, mas por que insistem tanto em atribuir sucesso e visibilidade ao fato de ser mulher e não pelo talento que tem? A impressão que se tem é de que não seria capaz de realizar tal feito. Eu decidi ligar o foda-se e correr atrás independente do julgamento que fariam sobre mim, e acredito que a grande maioria das - 46 -


Foto: Caike Scheffer

mulheres fazem o mesmo. Ao meu ver o “Ser mulher” ainda está muito ligado socialmente a uma figura frágil, maternal e sexualizada, e estamos em um país que ainda propaga a imagem da mulher submissa e objetificada. Então quando você coloca uma mulher em posição de poder ela carrega esse estereótipo feminino com ela ao mesmo tempo que o fere. Estamos passando por um “revival” conservador estimulado por figuras da política que usam da religião cristã para alimentar essa visão da mulher que deveria se dedicar apenas ao papel de mãe de família, então é muito comum uma mulher sofrer ataques quando assume um papel de liderança, pois este não seria nosso lugar, e estamos falando de diversos perfis de mulheres: desde as mais femininas até as que

não se identificam com esse padrão da mulher ideal. Nenhuma está imune a esse tipo de julgamento, isso vem sendo combatido há tanto tempo que já se tornou um assunto cansativo para nós. Quando estamos falando de artistas da música este assunto é ainda mais complexo, pois o mesmo artista pode assumir diferentes personagens. Eu mesma adoro construir personagens diferentes que comuniquem minha música, e infelizmente há também mulheres (poucas) na cena que disparam julgamentos a outras garotas que fazem parte de bandas e curtem se produzir e expressar sua feminilidade e por que não, sua sensualidade em suas performances? Descredibilizar o sucesso de alguém por ser mulher além de ultrapassado demonstra uma falta de compreensão do que - 47 -


é a verdadeira expressão artística da música.

abusos, sinto a onda de conservadorismo mais forte fora do cenário musical do que dentro. Socialmente, enquanto os “mais antigos” perpetuarem pensamentos retrógrados qualquer conquista feminina parece uma grande luta, e nossas dores são minimizadas e colocadas num patamar de vitimismo, ainda é perpetuado o pensamento de que “briga de marido e mulher não se mete a colher” e por conta de omissões como estas o Brasil figura entre os países que mais matam mulheres no mundo dentro do ambiente doméstico. Sofri preconceito e ataques dentro da minha convivência familiar, alguns poucos me respeitam como artista, outros julgaram mal meu trabalho, o fato de ser uma mulher em meio a uma ban-

Independente da área de atuação, o mundo hoje está mais atento ao que acontece com as mulheres ou está, cada vez mais, dando notoriedade aos casos? Você acha que as pessoas mudaram realmente de conduta? Conscientes? Existe sim uma mudança de pensamento por parte de uma geração de jovens que entenderam que certas barreiras de gênero precisavam ser quebradas, e outros não tão jovens que amadureceram e até mesmo mudaram suas opiniões sobre o assunto. Vemos homens dentro do cenário artístico se posicionando a favor da visibilidade feminina e contra aos - 48 -


ria essa atribuição de ensinar? Da mãe, dos pais... de quem? Na minha família sempre bati o pé com as pequenas atitudes machistas do dia a dia como, por exemplo, por que as meninas tinham que lavar a louça enquanto os meninos jogavam videogame? E numa banda com três homens que passo mais tempo com eles do que com minha família, dividimos as tarefas e ninguém reclama, nunca foi preciso uma discussão sobre o assunto, todos se dedicam para o bem-estar comum. Você tem o poder de decidir quem fica do seu lado, o famoso “ou soma, ou some”. O cara que é mimado ou preguiçoso vai encontrar dificuldades não só em relacionamentos amorosos. Ser líder de uma banda também inspira outras mulheres a serem autossuficientes buscando sua independência no dia a dia.

Foto: Billy Albuquerque

Para finalizar. Deixe o seu recado para as tantas mulheres que, por aí, precisam de um incentivo, de uma palavra amiga, de um conforto. Eu poderia dizer muitas coisas, mas acho que também estamos cansadas de frases de autoajuda no estilo “be positive”, não tenho como saber os reais desafios individuais que cada uma enfrenta. Meu desejo é que você que está lendo a matéria consiga acordar todos os dias e lembrar que seus sonhos também são importantes, seu bem-estar é importante, cuidar de você mesma, da sua saúde mental e corporal também é importante mesmo que não pareça diante dos desafios do dia a dia. A música transforma vidas, gera oportunidades e é um instrumento de protesto, a arte pode dar voz a seus pensamentos, sonhos e aliviar suas angustias. Através da música você pode dar um novo desfecho para sua história. Coragem!

da somente de homens (“isso não é coisa pra uma mulher de família”), e também por eu ter optado não seguir a religião deles (cristã), inventaram histórias absurdas a meu respeito apenas por me interessar por ocultismo e não compartilhar da mesma fé que eles. Me afastei de muitas pessoas, pois essa falta de compreensão estava me impedindo de alcançar meus objetivos, e essa é uma realidade comum pra muitas mulheres que seguem carreira na arte. Existe uma hashtag #porramaridos no twitter, onde cada mulher conta a sua história, muitas delas relacionadas as tarefas domésticas. Se o homem cresce sem fazer e ajudar em nada, de quem se- 49 -


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O dia que resolvi ter uma banda. Você escolheu ou foi a música que te ‘pegou pelo braço’? Literalmente a música pra mim veio do berço. Meu avô paterno era músico, meu pai, além de advogado e escritor, também era compositor, e minha mãe ligada à poesia. Eu e meus irmãos sempre fomos muitos estimulados em relação, à música e artes em geral. Minha inclinação para música foi percebida ainda muito criança, com instrumentos de brinquedo que ganhava e onde já conseguia extrair melodias e tirar algumas músicas infantis de ouvido. Eu sempre quis enveredar por esse caminho. Viver de música no Brasil é algo bastante difícil. Como você enxerga a música diante dessa perspectiva? Viver de qualquer escolha artística no Brasil é bem difícil, sim. Em relação à música existem muitas formas de conseguir dinheiro fazendo música, seja se adaptando a situação do mercado, o que na real não garante que você vá conseguir uma vaga e sair com seu cash farto na mão (até porquê cashs fartos são raros) dando aulas, tocando na noite, produzindo artistas, trabalhando em estúdios, enfim, existem muitos caminhos e todos eles são de correria. Com certeza fazer música autoral, dependendo da situação do momento, será uma das mais difíceis de gerar algum ganho que consiga manter sua existência. Manter outros trabalhos paralelos é a forma de continuar fazendo o que ama e investindo nisso também. Viver de música é uma missão. Em algum momento você já foi vista com outros olhos? Popularmente falando, como uma ‘oportunista’, buscando certos interesses que não era musical? Ou ‘vai lá, você consegue tudo, é mulher’?

Foto: Tereza & Aryanne

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Nunca falaram nada do tipo diretamente a mim, mas sempre há o sujeito que sente ameaçado e que precisa acreditar que alguém que está lá, fazendo e acontecendo tudo do jeito que ele mesmo gostaria, pelos motivos errados e que foi agraciada, ou agraciou alguém, de alguma forma. Mas essas pessoas, que são numerosas, não costumam mostrar a cara, só lançam bobagens ao vento. Há tantas referências ótimas de mulheres, mas por que insistem tanto em atribuir sucesso e visibilidade ao fato de ser mulher e não pelo talento que tem? A impressão que se tem é de que não seria capaz de realizar tal feito. Machismo estrutural atrapalhando o desenvolvimento profissional das mulheres desde tempos imemoriais. Independente da área de atuação, o mundo hoje está mais atento ao que acontece com as mulheres ou está, cada vez mais, dando notoriedade aos casos? Você acha que as pessoas mudaram realmente de conduta? Conscientes? O número de pessoas que vem saindo das sombras da ignorância vem aumentando progressivamente, mas ainda é um longo e árduo caminho para que seja comemorada a extinção do pensamento e comportamento machista nocivo que vem norteando a humanidade há séculos. Existe uma hashtag #porramaridos no twitter, onde cada mulher conta a sua história, muitas delas relacionadas as tarefas domésticas. Se o homem cresce sem fazer e ajudar em nada, de quem seria essa atribuição de ensinar? Da mãe, dos pais... de quem? De todo mundo. Não deveria jamais precisar

existir uma tag para falar de algo que simplesmente deveria ser natural. Atividades do lar pertencem aos moradores do lar, todos eles. Assim como em relação à criação dos filhos. Para finalizar. Deixe o seu recado para as tantas mulheres que, por aí, precisam de um incentivo, de uma palavra - 52 -


Foto: Liliane Moreira

amiga, de um conforto. Minhas amigas, irmãs, minhas soberanas, sejam livres. Livres através do conhecimento, livres através da independência, livres através da força de vocês. Sejam fortes, sim, e sejam vulneráveis, também. Sejam o equilíbrio, os erros, o aprendizado, e os acertos. Sejam o

que vocês quiserem. Seja lá o que vocês estiverem fazendo, persistam, continuem. Haverá dias terríveis, vocês ouvirão e passarão por tormentos, mas continuem. E apoiem umas às outras, sempre.

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O dia que resolvi ter uma banda. Você escolheu ou foi a música que te ‘pegou pelo braço’? Antes das bandas, tive aulas de música (teclado e violino) desde os nove anos de idade. A partir dos 13 comecei a tocar/cantar em uma banda de hard rock. Aos 16 entrei para o Vocifera e aos 18 no Pandemmy. Não teve um momento em que “decidi” ter uma banda... Eu nasci para isso e não poderia ser mais feliz com que faço!

to a sério e pretendemos levá-lo para a maior quantidade de países que pudermos. Apesar da dificuldade, todos da banda temos nossas profissões. Amamos o nosso trabalho com o Pandemmy e pretendemos levar uma mensagem através da música. E ela será entregue independente dessas dificuldades. Estamos dispostos! Em algum momento você já foi vista com outros olhos? Popularmente falando, como uma ‘oportunista’, buscando certos interesses que não era musical? Ou ‘vai lá, você consegue tudo, é mulher’? O fato de sermos “poucas” nos palcos de música extrema, ainda é algo “novo e interessante”, digamos assim. Claro que de vez em quando

Viver de música no Brasil é algo bastante difícil. Como você enxerga a música diante dessa perspectiva? É verdade! Principalmente com nosso estilo (Thrash/Death Metal). Independente do retorno financeiro, levamos nosso trabalho mui- 54 -


Foto: João de Oliveira

alizar quaisquer atividades que não sejam as domésticas. Por isso estou aqui! Para mostrar que isso não passa de um pensamento retrógrado e extremamente ignorante. Podemos ser e fazer o que quisermos! Independente da área de atuação, o mundo hoje está mais atento ao que acontece com as mulheres ou está, cada vez mais, dando notoriedade aos casos? Você acha que as pessoas mudaram realmente de conduta? Conscientes? Não o suficiente! Temos um número absurdo de mulheres que são assediadas, violentadas e assassinadas. Mulheres que ainda recebem salários desiguais aos dos homens apesar de exercerem o mesmo cargo. Ainda existem os casos das que não são contratadas pelo fato de engravidar! Um absurdo! Já conquistamos muitas coisas, mas precisamos de muito mais igualdade. Existe uma hashtag #porramaridos no twitter, onde cada mulher conta a sua história, muitas delas relacionadas as tarefas domésticas. Se o homem cresce sem fazer e ajudar em nada, de quem seria essa atribuição de ensinar? Da mãe, dos pais... de quem? Justamente pelo fato de vivermos em uma sociedade muito preconceituosa, as tarefas de casa majoritariamente ainda são atribuídas às meninas! Cabe aos pais ensinarem suas crianças a serem organizadas, independentemente do gênero

aparece aquele “só tocou em tal festival porque é mulher”, acredito que colhemos o que plantamos e que se cheguei em algum lugar é porque trabalhei e me esforcei para isso. Enfim... Comentários destrutivos não me afetam. Meu foco não é esse. Há tantas referências ótimas de mulheres, mas por que insistem tanto em atribuir sucesso e visibilidade ao fato de ser mulher e não pelo talento que tem? A impressão que se tem é de que não seria capaz de realizar tal feito. Por muitos anos a mulher vem sofrendo com o machismo, como já estamos cansadas de saber. Infelizmente ainda vivemos numa sociedade um tanto preconceituosa, onde a mulher ainda é vista como um objeto e incapaz de re-

Para finalizar. Deixe o seu recado para as tantas mulheres que, por aí, precisam de um incentivo, de uma palavra amiga, de um conforto. Gostaria de falar o quanto somos fortes, muito mais do que pensam. Que nosso lugar é onde quisermos! Resumindo em uma frase: “Refuse, Resist!”. - 55 -


Foto: Humberto Morais

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O dia que resolvi ter uma banda. Você escolheu ou foi a música que te ‘pegou pelo braço’? Na verdade, eu escolhi. Quando me apaixonei pelo Heavy Metal, logo de cara quis ter uma banda, pois desde criança sempre fui envolvida com a música (toquei piano na infância). Viver de música no Brasil é algo bastante difícil. Como você enxerga a música diante dessa perspectiva? Na verdade, viver de música no Brasil, vai depender do estilo que você escolher. No Rock ou no Metal, é quase impossível sobreviver financeiramente, então, melhor direcionar como um hobby e ter um emprego “normal” para poder viver. Mas algumas bandas se arriscam e acabam conseguindo. Vai depender do que cada um está disposto a enfrentar.

Independente da área de atuação, o mundo hoje está mais atento ao que acontece com as mulheres ou está, cada vez mais, dando notoriedade aos casos? Você acha que as pessoas mudaram realmente de conduta? Conscientes? Acredito que a tendência da humanidade é a evolução, e consequentemente um nível maior de consciência. Durante longas batalhas passadas, presentes e as que ainda irão acontecer, as mulheres brigaram muito por seus Direitos, e conquistaram boa parte deles. Mas ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. Como a mulher vem conquistando um espaço maior, mostrando suas qualidades, talentos, perseverança, o mundo tem dado mais atenção às mulheres. Claro que nem todos os homens mudaram a conduta, pois ainda vemos muita violência e preconceito contra as mulheres. Mas as mulheres cada vez mais têm ganhado força e rompido o silêncio contra tudo que a oprime e a impede de ser feliz.

Em algum momento você já foi vista com outros olhos? Popularmente falando, como uma ‘oportunista’, buscando certos interesses que não era musical? Ou ‘vai lá, você consegue tudo, é mulher’? Não que eu saiba (risos). Até porque o interesse sempre foi a música, pois invisto boa parte do meu dinheiro na banda e não tenho retorno financeiro. Então, não existe nem a possibilidade de querer ou ser “oportunista”.

Existe uma hashtag #porramaridos no twitter, onde cada mulher conta a sua história, muitas delas relacionadas as tarefas domésticas. Se o homem cresce sem fazer e ajudar em nada, de quem seria essa atribuição de ensinar? Da mãe, dos pais... de quem? Em minha opinião, dos pais, da sociedade. Tarefas domésticas são atribuições de todos, não apenas das mulheres.

Há tantas referências ótimas de mulheres, mas por que insistem tanto em atribuir sucesso e visibilidade ao fato de ser mulher e não pelo talento que tem? A impressão que se tem é de que não seria capaz de realizar tal feito. Eu sempre fui contra criar esse estereótipo. Sempre levantei a bandeira de que no palco, não existe “sexo”, e o que importa é a música, o sentimento, e não se somos mulheres ou não.

Para finalizar. Deixe o seu recado para as tantas mulheres que, por aí, precisam de um incentivo, de uma palavra amiga, de um conforto. Li um texto recentemente na internet, mas não me recordo a autora, mas peço licença para reproduzir, já que adorei e me ajudou a lidar com certos obstáculos. - 57 -


Foto: Flavio Hopp

“Saber a hora de sair de cena é um dos conhecimentos mais importantes que se pode ter, e demonstra bom senso, amor-próprio, coragem, independência, liberdade e autonomia. Nem sempre é fácil ou óbvio perceber que nosso tempo chegou ao fim. Nem sempre conseguimos assimilar ou acreditar que aquilo que queríamos tanto não está reservado para a gente. Nem sempre conseguimos abrir mão de nossos sonhos, planos, desejos e expectativas numa boa, mesmo que nossa hora tenha passado. Temos que entender que merecemos um amor recíproco, inteiro, companheiro, verdadeiro. Quem se submete a amores menores e unilaterais, acreditou que é merecedor

de pouca coisa, de afetos rasos e parciais. Por isso é tão importante discernir onde se deve ou não permanecer. Por isso é essencial descobrir a hora de fazer as malas e deixar de prorrogar nossa presença onde não somos mais considerados convidados especiais. É preciso aprender a parar de insistir naquilo que não é pra gente. É preciso aprender a aceitar que desejar muito alguma coisa não garante que ela seja nossa. É preciso aprender a sair de cena quando tudo já foi dito, esclarecido, colocado em pratos limpos e não há mais lugar para a gente naquela história. É preciso aprender a aceitar as frustrações, os desejos desfeitos, a necessidade de fazer as malas e de tirar a mesa”. - 58 -



Mila, queremos saber um pouco sobre você e como a fotografia entrou na sua vida? Desde muito nova sempre tive uma câmera, mesmo que bem ruinzinha. Fotografava pouco, mas sempre gostei. Acho que isso veio do meu pai, que também tinha isso como hobby. Posso dizer que ele foi um grande “financiador” da minha carreira. Mesmo, como eu, sem imaginar que iria ser a minha profissão, ele “investiu” bastante em equipamentos, filmes e revelações. Depois de alguns anos, acho que com uns 17/18 anos fiz um curso básico de fotografia. Na época o acesso a equipamentos não era dos mais fáceis. Tive a oportunidade de viajar para os EUA e comprei minha primeira câmera, uma Canon AE1 e uma lente 50mm, que tenho até hoje. Um equipamento bom que me fez “tomar gosto” de verdade pela

coisa. Mas tenho que assumir, tem muita coisa dos meus primeiros anos que deveriam ir pro lixo. Com 19 anos, comecei a fazer estágio na Band FM, sem grandes aspirações por lá, mesmo porquê eu fazia Faculdade de Biologia. Não poderia ter arrumado um trabalho melhor. A Band na época era super alternativa, tocava todo tipo de música boa. Tinha uma equipe incrível em todos os sentidos e com eles ia para tudo que é lugar como shows, festas das gravadoras, lançamentos de discos. Fotografava algumas coisas por minha conta, por diversão. Quando saí de lá, depois de uns 4 anos, já formada em Biologia, não tinha ideia do que ia fazer da vida. Tinha feito um ano da Faculdade de Comunicação durantes esse período, mas acabei largando porque não consegui conciliar tudo. Conversando a respeito com uma ami- 60 -


Foto: MRossi

a trabalhar com algumas revistas e sites, casas de shows, teatro e com agências de eventos. Posso falar que essa coisa de fotografar shows virou um “vício”. Fotografo todos que consigo, trabalhando por algum veículo, pela produção, assessoria, casa de shows ou simplesmente porquê acho que o registro tem que ser feito. Trabalhei também com algumas revistas e sites quase sempre com fotos relaciona em música, como a Bizz, DJ Sound, Luz & Cena, Galeria do Rock, Show Livre e vários outros veículos Você já sofreu algum tipo de desrespeito na sua área de atuação? Podemos entender por desrespeito de várias formas, e ele existe em todas as profissões. Em relação a shows já sofri de algumas formas, desde pessoas do público que não se importam com o seu trabalho, que se incomodam por você estar fotografando ao lado delas, mesmo sem estar atrapalhando e fazem de tudo pra te atrapalharem; desrespeito por parte de seguranças muitas vezes inaptos para a função e que atropelam quem está trabalhando; desrespeito do cliente que te oferece um cachê absurdo porque nem quer saber dos seus custos ou quanto você vai ter que se dispor para fazer o trabalho e às vezes nem te oferece um cachê, achando a gente vive de “crédito”; desrespeito de colegas fotógrafos que não se incomodam de te atropelarem e entrar na sua frente para pegar “aquela” foto. Por outro lado, já tive várias situações opostas a essas, como alguém do público que me vendo abaixada entre as mesas tentando fazer uma foto, oferece para eu sentar na cadeira vazia da mesa para facilitar. Nessas já me ofereceram até taça de vinho e petiscos. Ou alguém que te chama para ficar no lugar dele no meio da plateia porquê acha que lá daria uma boa foto e os que se oferecem para te carregar para ficar em uma altura melhor. E também

ga, Monica Castilho, que na época trabalhava em uma gravadora (acho que CBS, não lembro) me perguntou por que eu não trabalhava com fotografia, já que eu gostava tanto e ela achava que eu fotografava bem. Vale lembrar que trabalhar com isso nem me passava pela cabeça. Ela começou a me chamar para fazer os trabalhos para gravadora e de lá, comecei a trabalhar com todas elas (Warner, Polygram, EMI, Universal, Sony, RCA, Trama, Paradox e tantas outras). Conhecia todos por conta da rádio e isso me facilitou muito. Com isso fotografei muitos shows, acompanhava artistas no trabalho de divulgação nas rádios e tvs, festas de todos os tipos, assinaturas de contratos e tudo o que envolvia o mercado fonográfico. Conheci muita gente bacana e tive o privilégio de acompanhar bandas e artistas durante uma boa parte da carreira deles. Daí comecei - 61 -


muitos seguranças que, como eu, trabalham em shows há muito tempo e respeitam e ajudam quando podem. E claro, amigos fotógrafos queridos que ajudam sempre que podem, emprestando equipamento, tirando dúvidas técnicas e sempre dispostos para qualquer coisa. E até os clientes, depois de passar um orçamento falar que podiam pagar um pouco mais. Difícil, mas rola (risos). Enfim, como tudo... Tem gente de todo jeito. Trabalhar com fotografia não é nada fácil. Em algum momento você já foi testada de modo a provar que tem capacidade para exercer tal função? Não me lembro de nenhum fato específico. Como eu comecei no mercado fonográfico de onde eu já conhecia todos as coisas foram caminhando na boa. O que a pessoa deve entender para atuar com a fotografia? O mercado fotográfico mudou muito desde que comecei. Como eu brinco, agora todo mundo é fotógrafo. O acesso a equipamentos ficou muito mais fácil e a fotografia digital facilita muito o trabalho. Não tem mais aquela coisa de esperar um dia para pegar o filme no laboratório, nem de se preocupar com gastos com filmes e revelação. Você pode conferir na hora o que está fazendo. Mas por outro lado, além de um equipamento razoável, temos que ter um computador ou note adequado e claro, conhecimentos técnicos de equipamento e de programas de tratamento, edição e arquivo. Um bom relacionamento com possíveis clientes é fundamental e claro, respeitar todos os profissionais envolvidos. Um bom profissional tem, antes de tudo, que ser uma boa pessoa, em qualquer área. Ética é fundamental!

de fotografar? Fale um pouco cada um. Acho que não consigo escolher cinco. Tantos shows e festivais. Nem tenho ideia de quantos shows eu fotografei. Gostaria de conseguir organizar todo o material para ter uma ideia disso. Posso falar de alguns exemplos, não sei se seriam mesmo o Top 5, mas foram bem significativos: Rock in Rio 85, primeiro Festival que fotografei. Ainda não era profissional da área, consegui o credenciamento pela Band FM. Foi um dos primeiros grandes festivais do país e acho que na época eu nem tinha noção da impor-

Top 5. Quais os shows que mais gostou - 62 -


Foto: Ale Frata

tância daqueles registros. Foi uma experiência única. No dia das bandas metaleiras caiu uma chuva absurda e o povo se acabou na lama. Robert Plant e Jimmy Page, por ser o mais próximo que eu fotografei da minha banda preferida, Led Zeppelin. Quase não consegui fotografar de tanta emoção. Ney Matogrosso, não um show específico, mas o “conjunto da obra”. Um artista que sabe realmente o que está fazendo em cima do palco. Adoro fotografá-lo. Les Miserables, a primeira versão de 2001, foi o primeiro grande musical do Brasil. Fotografei para a produção. Acompanhei e equipe

desde os primeiros ensaios. Foi uma grande produção, a maioria dos atores estava começando e o envolvimento entre todos foi muito especial. Rolling Stones – com o “conjunto da obra” também. Uma banda que adoro, não consegui credenciamento para nenhum dos shows que eles fizeram aqui e acabei fotografando quase todos na raça, inventando meios de entrar com equipamento e conseguir alguma foto razoável. No fim, foi isso que eu consegui... algumas fotos razoáveis. Em um deles, as melhores foram feitas no ombro de um cara que vendo meu desespero se ofereceu para me ajudar. - 63 -


Bia, queremos saber um pouco sobre você. Como tudo aconteceu na sua vida? Você já tinha o desejo de trabalhar com música ou ‘aconteceu’? Música sempre foi algo muito presente na minha vida. Na minha família não tem nenhum músico, mas praticamente todas as pessoas são aficionadas por música, especialmente por rock’n’roll e suas vertentes. Sempre estava tocando metal nas festas de família, mas os primeiros discos de rock que ouvi foi quando invadi o quarto do meu tio, ele tinha uma coleção enorme de discos, e conforme as capas me chamavam atenção eu coloca pra escutar; Perfect Strangers do Deep purple, Restless and Wild do Accept, Arise do Sepultura, e claro...

Black Sabbath, minha banda número 1! Ele tinha um sistema de som moderno para a época, com caixas que reproduziam bem as frequências sub grave. Quando aquele peso e aqueles grooves bateram no peito eu fui arrebatada, eu disse “metal é a razão de eu viver” (risos). Minha infância se baseou em incursões na natureza, escutar discos e praticar todo tipo de esporte, em especial escalada, futebol e skate. Esporte é outra paixão muito grande. Comecei a vida no esporte devido aos amigos que fiz, e também porquê muitas bandas tem o lifestyle bem forte no esporte, como Suicidal Tendencies que é skate punk. Eu comecei a competir no circuito do skate e isso consu- 64 -


Foto: Arquivo Pessoal

Falei com ele, e ele me apontou a direção, fazer o curso do IAV. Na primeira semana eu já estava apaixonada por áudio e pelo backstage. Há cinco anos que estou na profissão, me envolvi de tal forma que acabei tendo que deixar o skate um pouco de lado, mas ele ainda tá no pé e eu ainda sonho em unir os mundos. Esporte e música. Cada pessoa é um mundo diferente, você já sofreu algum tipo de desrespeito na sua área de atuação? Sim, sofri. A profissão de técnica de som é uma profissão que exige saber lidar com pressão. Especialmente se você trabalha com ao vivo. A pressão vem da banda, do público, da produção, do desafio de tirar um som foda de equipamentos muitas vezes medianos ou mal alinhados, e às vezes em um tempo muito curto. Tanto um homem quanto uma mulher que iniciarem nessa profissão terão que quebrar essa barreira, e para mulher tem o ‘plus’ de simplesmente ser mulher. Os caras ainda não botam fé que mina sabe operar sistema de som e muitas vezes desdenham de você, te subestimam querendo te ensinar a fazer o óbvio. Eu tento não devolver na mesma moeda, quão mais escrotos eles forem, mais simpática eu sou, e sigo fazendo o meu trampo, sem querer forçar uma aprovação ou sem querer escandalizar que sei sobre o que estou fazendo, deixo eles acharem que estão me ajudando e sigo fazendo o meu, os julgamentos entram por um ouvido e saem por outro, tenho uma banda inteira para me preocupar. A maioria das vezes consigo mudar a cabeça deles e deixo uma boa impressão para a próxima mulher que tiver que trabalhar com aquela pessoa.

miu boa parte da minha adolescência, dos 17 aos 24 para ser mais exata, mas eu seguia sonhando em tocar guitarra e ter uma banda, estava sempre com fone de ouvido nas pistas, e cantava com bandas de amigos, só for fun. No entanto, minha família é humilde e logo me vi numa sinuca de bico, ganhar grana com esporte é difícil, a vida cobrava maturidade financeira, fiquei super dividida entre esporte e música, porquê saquei que estava difícil trabalhar e levar os dois, evoluir nos dois. Foi então que frequentando um zilhão de shows e tendo muitos amigos de banda eu me liguei no backstage, especialmente em um camarada que se chama Vander Caselli, que hoje opera o som de bandas como Glenn Hughes e Testament.

Trabalhar operando áudio não é fácil. Em algum momento você já foi testada de modo a provar que tem capacidade para exercer tal função? Acho que comecei a responder essa pergunta - 65 -


na resposta anterior, então vou narrar uma situação. Nós, técnicas de ao vivo, temos que a cada show lidar com equipamentos diferentes, acústicas diferentes, equipes diferentes, que querem te ajudar ou não estão nem aí, que tem conhecimento sobre o próprio trabalho e o próprio equipamento, ou não. Certa vez eu fui contratada para operar o som da banda Ancestral em um festival de metal, no Anhangabaú, a mesa era uma Digidesign Venue SC 48, eu estava começando a operar mesas digitais, mas mesmo para alguém experiente, é comum o técnico da empresa que locou o som lhe dar dicas básicas sobre a operação da mesa, e te dizer como tudo está conectado, assim você não perde tempo tendo que descobrir sozinho e otimiza sua passagem de som. Nesse dia cheguei bem cedo para poder ficar do lado do técnico da empresa e ver ele alinhar o sistema, e assim sanar dúvidas com antecedência. Cheguei, me apresentei dizendo ser técnica da banda, e perguntei se eu podia ver ele alinhar o sistema, pois eu não conhecia bem aquela mesa de som. Ele fez uma expressão de desdém e descrença, e sem olhar na minha cara respondeu “pode ficar, só não sei se você vai entender”. Para quem já estava com a adrenalina na flor da pele, aquilo foi um balde de água fria, a insegurança quis tomar conta e nessa hora deu vontade de só sair correndo, mas eu respirei fundo e não me deixei intimidar, continue ali vendo ele operar, e fazendo perguntas, mesmo ele não respondendo nenhuma. Devo ter ficado umas 5 horas vendo ele e outros técnicos operarem; foi suficiente para eu conseguir fazer minha passagem de som e o show foi bem massa. No final ele me cumprimentou e me parabenizou pelo trampo, e pela primeira vez olhou no meu olho.

Foto: Arquivo Pessoal

profissão são física e matemática, pois alguns cálculos usam logaritmo, elétrica, eletrônica e muito treinamento auditivo, escutar variados estilos musicais e treinar bastante o ouvido, além de saber interpretar o modo operacional de diferentes equipamentos. A prática traz a excelência, pois você passa a enxergar o sistema de som como um todo, hoje eu olho para um show de qualquer tamanho e sei onde as coisas começam e onde terminam, assim se der

O que a pessoa deve entender para ingressar no mercado de operação de áudio? Alguns dos conhecimentos exigidos para a - 66 -


academia, pois com certeza vocês vão carregar peso, e as costas têm que durar, né ;) Top 5. Quais os shows que mais gostou de ‘equalizar’? Fale um pouco cada um. Colocarei em ordem cronológica. Primeiro PA que ficou para história foi a Nervosa abrindo pro Venom, no teatro Teleton, no Chile. Ficou foda e eu conseguia ver o pessoal se espancando nas rodas. As gurias estavam detonando e esse show deu o que falar pois o Cronos, líder da banda, ficou puto por algum motivo e mandou cortar as últimas músicas. Em segundo foi uma turnê que fiz com o Torture Squad, rodamos o Brasil inteiro de Van, eu fui como técnica de P.A e roadie, a turnê toda foi foda, mas teve um show em Recife, em uma casa renomada que agora me fugiu o nome, que foi SENSACIONAL. O equipo era bom, e a galera do Nordeste representa muito, que energia eles têm, fora que sou fã de Torture Squad. Em terceiro foi o Voodoopriest em um festival em Brasília, o Porão do Rock, foi meu primeiro P.A gigantesco. O do teatro Teleton era grande, mas esse era muito maior. Tive problemas técnicos no começo, pois tive que subir 24 canais em 10 minutos, mas consegui arrumar o som. Depois que a pressão passa vem uma onda de prazer indescritível por ter conseguido superar o desafio, e a galera curtiu pacas. Em quarto lugar coloco a satisfação de ter feito o trabalho de palco para o Glenn Hughes, que quase me levou do Brasil (risos). E o Napalm Death, no Bar da Montanha, em Limeira (SP). Em quinto coloco todos os P.A’s com a banda que sou fixa hoje em dia e se chama Mulamba. O último foi um show fodasso no palco headliner do festival Psicodalia, em Rio Negrinho - SC.

qualquer problema, eu sei onde procurar esse problema. Costumo dizer que técnicos de som de ao vivo são primeiramente solucionadores de problemas e em segundo artistas, pois se tudo estiver em ordem aí sim você pode colorir o som, timbrar, dar pressão, fazer automação, mexer na dinâmica, colocar efeitos, etc... Para quem se sentir interessado eu indico o curso de fundamentos de áudio e acústica do Instituto de Áudio e Vídeo (IAV). E ah, façam - 67 -


Dri, queremos saber um pouco sobre você. Como tudo aconteceu na sua vida? Como ‘mexer’ com luz cênica entrou na sua vida? Oi pessoal! Um prazer estar aqui compartilhando com vocês. Meu nome artístico é Oliveira Azul, sou iluminadora cênica, Capixaba, moro em São Paulo há 8 anos, o mesmo tempo que a luz cênica entrou na minha vida. Na real, as coisas começaram em 2007 quando iniciei os estudos não concluídos em audiovisual. Trabalhava como editora de imagem fazendo milagre com luz e sombra. Em 2009, fui ser videomaker de uma série de documentários na Patuleia Filmes e foi ali que

transformei meu ranço por uma paixãozinha pela iluminação. Decidi me mudar para SP para estudar algo novo e acabei conhecendo a SP Escola de Teatro, ela tinha inaugurado naquele ano com um projeto pedagógico novo inspirado em Paulo Freire e as turmas eram separadas por cada área técnica, o que me deixou bastante feliz; tinha luz, sonoplastia, cenografia, dramaturgia e finalmente eu tinha achado o que busquei por anos: eu não precisava ser atriz e estudar quatro anos de atuação para ser iluminadora. Minha primeira experiência como iluminadora foi na remontagem do ‘Cidade Fim Cidade Coro Cidade Reverso’ da Cia de Narradores. Lá eu - 68 -


Foto: Arquivo Pessoal

você já sofreu algum tipo de desrespeito na sua área de atuação? Sim… Não sei se chega a ser desrespeito, mas muita dúvida sim. Em São Paulo, as casas já estão acostumadas com iluminadoras, mas viajando pelo Brasil não é tão natural, oferecem ajuda com medo de eu não saber o que estou fazendo ali (risos), mas existe empatia! As pessoas que desrespeitam geralmente não são da área, são as que desconhecem o quanto iluminar um palco é complexo, que não é só ir lá e colocar a luz, que exige pensar, que exige tempo, que vai demandar outras milhões de coisas para acontecer da maneira mais bonita.

montava uma sala com 6 monitores, filmava e dava o play em projeção ao vivo, ajudei as meninas a montar luz pelas dalas do prédio no Bixiga aonde aconteciam as cenas na deriva. Hoje eu crio luzes para diversos projetos, opero e faço sub para outros iluminadores também. Atualmente acompanho o Mc G15 fazendo as luzes dos seus shows. Agora em março estou a desenhar luz nova para um cia do Rio que ficará em cartaz no shopping Raposo Tavares, sempre que tem show da Letrux em São Paulo eu tenho o prazer em colaborar. Cada pessoa é um mundo diferente, - 69 -


Fotos: Arquivo Pessoal

Trabalhar com luz não é nada fácil. Em algum momento você já foi testada de modo a provar que tem capacidade para exercer tal função? Não é fácil, mas muitas pessoas acham que é só ligar um botão e pronto… Já fui testada sim, mas isso acontece com quem não conhece meu trabalho, geralmente em turnê os técnicos ficam impressionados (risos). Não sei se chega a ser uma dúvida ou afronta.

Buscar sua visualidade vendo muito filme, exposição, videoclipe…Passar pela experiência em montagem, afinação e programação foi essencial para mim e a criatividade acaba sendo um processo único de cada artista. Top 5. Quais os shows que mais gostou de ‘fazer’ a luz? Fale um pouco cada um. 1- ‘Você devia ter fechado a porta’ foi um processo experimental no teatro em 2012, umas das minhas criações, em parceria com Gustavo Guerra, que já desenhava as luzes da cia TF Style de dança. Tivemos a melhor con-

O que a pessoa deve entender para atuar com luz cênica? Estudar a técnica antes de qualquer coisa. - 70 -


4- Festival Oxigênio - Iluminadora do Johnny Hooker, que estava em turnê na Europa para ficar com um palco desse festival. Foram mais de 20 bandas em 3 dias, coisa linda. 5- A participação do Mc G15 no Baile do Dennis foi o momento mais mágico e no maior palco até agora, uns 200 aparelhos de luz, maior público, o que dá um frio na barriga e um dos artistas pioneiros que está mudando a forma das produções enxergarem a luz. Se quiserem saber algo específico sobre algum projeto ou tirarem dúvidas me busquem pelo instagram @oliveira_azul :)

cepção depois de fritar todos os neurônios e os críticos que assistiram saíram falando que o teatro contemporâneo nascia ali (risos). 2- O musical Constellation, dirigido por Jarbas Homem de Mello foi onde eu pude entender a dramaturgia da luz. Eu operava 2h30 de luz, programei o segundo ato porquê Wagner Freire, que era lighting designer, precisou viajar. Coordenava as deixas para os canhões sem espaço para erro. 3- Todos os show da Letrux, porém o que aconteceu no Auditório do Ibirapuera foi o mais intenso, desenhar a luz num palco desenhado por Oscar Niemeyer era um sonho. - 71 -


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Karina, queremos saber um pouco sobre você. Como tudo aconteceu na sua vida? Como a assessoria entrou na sua vida? Pouco tempo depois de chegar ao Brasil em 2001, conheci o Eric de Haas e comecei a trabalhar na Century Media Records Brasil no Departamento de Vendas para países hispano falantes. Após uns meses precisei sair para cuidar de assuntos pessoais, mas voltei à gravadora um ano depois, porém no Departamento de Imprensa no setor que cuidava dos países latino-americanos, exceto o Brasil. Quando o escritório brasileiro da CM fechou as portas, comecei a trabalhar na Dynamo Records, em um primeiro momento no “Departamento Latino” e depois assumi também o Brasil. Em 2010, saí da Dynamo Records e comecei a trabalhar na Shinigami Records, pois conhecia o Willian – dono da gravadora – desde a época em que trabalhávamos juntos na Century Media.

testada de modo a provar que tem capacidade para exercer tal função? Acho que todos os dias sou testada e preciso provar a minha capacidade. Mas isso acontece em qualquer ambiente laboral, em qualquer empresa. Muitas vezes, sou eu mesma que testo a minha capacidade fazendo algo relativamente novo. Claro que me abalo se alguma coisa não sai como é esperado, mas tento sempre tirar algo positivo da situação e se não conseguir, bom... é seguir em frente, fazer o quê? (risos) O que a pessoa deve entender para atuar com assessoria? Não acho que eu seja uma expert no assunto, mas um primeiro passo seria entender o serviço ou produto que você vende e o nicho de mercado desse serviço ou produto. Conhecer o seu público-alvo é essencial para saber qual é o melhor jeito de falar com ele. Top 5. Quais locais/empresas/eventos que mais gostou de assessorar? Fale um pouco cada um. Desde que iniciei esse trabalho, fiquei mais no corporativo, até trabalhei em alguns shows na época da Dynamo Records, mas não fazia o assessoramento. Então, essa vou ficar te devendo essa (risos).

Cada pessoa é um mundo diferente, você já sofreu algum tipo de desrespeito na sua área de atuação? Não que eu lembre, mas imagino que devam falar de mim pelas minhas costas (risos). Trabalhar com assessoria não é nada fácil. Em algum momento você já foi

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Texto e Fotos Marta Ayora

Inicialmente, por favor, apresente-se para os nossos leitores. Oi pessoal! Primeiramente gostaria de agradecer a Rock Meeting pela entrevista e a você que está lendo. Eu sou a Isa Nielsen, guitarrista e compositora. Comecei a tocar guitarra com 14 anos e com 19 fiz parte da banda de apoio do Ídolos, programa da Record. Neste período eu também já tinha começado a dar aulas de guitarra, e depois do Ídolos entrei em uma banda de covers que tocava por bares em São Paulo. Nós tínhamos shows três vezes por semana ou mais, mas saí para entrar na banda Detonator e as Musas do Metal. A banda gravou um cd da qual eu participei dos solos de guitarra, fizemos vários shows pelo Brasil, gravamos um DVD, participamos de reality shows em TVs, como Dia do Rock MTV, Rocka Rolla MTV, Agora é tarde, entre outros. Em paralelo, workshops e aulas de guitarra. Em 2015, fui convidada para participar de uma coletânea de guitarristas brasileiros, e compus a “Synthetic Inoxia” música de 7 cordas afinada meio tom a baixo. Em 2016, entrei na banda Metalmania - 76 -


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de Robertinho de Recife. Tocamos no Rio, Recife, São Paulo. No mesmo ano me desliguei da Metalmania e Detonator e as Musas do Metal. No ano seguinte, fui convidada pelo próprio mestre Steve Vai a fazer uma Jam durante a passa-gem de som, foi uma grande honra, isto definitivamente significa muito pra mim. Em 2017, trabalhei em composições, algumas já estão prontas e serão lançadas em breve! (Sim! Teremos novidades!) Outras estão sendo trabalhadas e gravadas no momento presente. Ainda em 2017, estive na banda Volkana, tocamos no Sesc em São Paulo, Curitiba, Litoral. Em 2018, me desliguei da Volkana, trabalhando em meus projetos solo. Fiz várias apresentações sozinha e com banda, Workshows para marcas parceiras, Galeria do Rock, Music Show, Joyo Guitar Day, e o maravilhoso Samsung Best Of Blues. Foram dois dias maravilhosos, os shows do Tom Morello e John 5 foram muito melhores do que que eu poderia imaginar. Os meus shows correram bem e os fãs ficaram muito animados! Um pouco de sua história na música. Com que idade começou a es-tudar, motivo, por que guitarra...? Fale tudo, não esconda nada (risos). Eu sempre me interessei por música, mas comecei a ouvir rock com 11 anos, do Classic Rock ao Death Metal. Desde então, minha prioridade virou música. Aos 13 anos, apareceram vários amigos, vizinhos, que tocavam guitarra e o instrumento me foi acessível através destes amigos. Eu estava encantada pelo virtuosismo e o desafio que a guitarra me dava. Eu sabia que não seria uma jornada fácil, então eu tive consciência de que o quanto antes eu estudasse e levasse a sério, melhor seria. No meu aniversário de 14 anos comprei uma guitarra e um amplificador. Mal sabia tocar, já montei uma banda, acreditava que iria aprender a to- 78 -


car de algum jeito! (risos). A minha colega de guitarra, Beatriz Carrasco, falou, “nossa Isa, você está tocando muito mal! Você precisa de aulas de guitarra...”. E aí ela chamou o amigo dela, Paulo Alonso que é um guitarrista muito virtuoso, e ele me ensinou várias coisas, e logo me orientou a ir para uma escola de música e assim o fiz. Entrei na escola dia 31/01/2007 com o professor Jefferson Ardanuy, primo do Edu Ardanuy. Estudei na escola até 2011, ano que fazia aulas com Mozart Mello, quando tive que parar as aulas para fazer parte da banda do programa de TV Ídolos da Record. Este foi um grande incentivo. A minha situação nessa época era um pouco tensa porque minha família não queria que eu seguisse música como profissão. Desde então os trabalhos que eu faço sempre me mostram que estou no caminho certo e seguindo minha verdadeira vocação. De repente, seu primeiro show, como foi essa experiência? Eu tinha 16 anos quando fiz meu primeiro show. Foi difícil porque me apresentei na escola, onde estavam todos os músicos, professores, etc. Em compensação, os shows seguintes foram só melhorando. Principalmente na fase do Detonator, tínhamos muitos shows e o estilo de música (Metal) me é favorável (risos). Já o meu primeiro show solo no Best of Blues foi um grande desafio, montei minha equipe de verdade e foi muito gratificante. Foi um pouco difícil, mas valeu a pena tudo o que eu fiz, desde o começo dos três meses quando fui convidada até o fim do último show. Por exemplo, ficar 5 horas em um dia, passando a mesma música, além de passar as outras músicas do repertório. Dia a dia. Você vive de música ou tem outra profissão? - 79 -


Paralelo aos shows, eu faço workshops, dou aulas de guitarra e violão, publicações no Instagram, tenho minha loja virtual onde vendo meu merchandising e também mantenho meu canal do YouTube que tem vídeos toda quinta-feira, ao meio dia. Fora isso, mantenho meus estudos, vou a academia, procuro cuidar da minha alimentação, bem-estar físico e emocional em geral.

Foi incrível! Fizemos muitos shows, apresentações em programas de TV, tocamos no VMB da MTV, no navio da rádio rock, gravamos CD, DVD. Foi uma experiência que me agregou muito aprendizado. Fiquei quase 5 anos na banda. Saí pra entrar na banda Metalmania do Robertinho de Recife. Às vezes precisamos sair da nossa “zona de conforto” e viver novos desafios, desde que saí do Detonator já tinha a intenção de ficar na minha carreira solo.

Você foi uma das guitarristas da banda “Detonator e as Musas do Metal”. Como foi essa fase e qual o motivo da saída da banda?

Você já sofreu algum tipo de discriminação? O que acontece, é que quem quer criticar, vai - 80 -


achar um defeito para apontar. O que percebo são pessoas que diminuem o meu esforço, mérito, dizendo que só consegui porque sou mulher, porque sou loira… Como se eu ser eu mesma fosse “injusto”. Não faz sentido, mas essa é uma forma de preconceito que existe. Já aconteceu de pessoas que considerava amigos dizendo que era pra eu continuar loira pra ter sucesso, outros dizendo que eu iria servir só para enfeitar a capa do CD, perguntaram se eu era uma modelo fingindo que tocava gui-tarra. Aí quando o fotógrafo me viu tocando, ele falou “Nossa não sabia que ela tocava de verdade, achei que ela era só modelo”. Quando são

apenas usuários da internet, eu não me importo, mas quando são pessoas próxima, você descobre quem são seus verdadeiros amigos. Falam, “nossa, uma menina tocando guitarra!”. Como se fôssemos algo abaixo de um ser humano (no caso masculino). Sinceramente, eu percebo as coisas, as causas… Mas não me im-porto com isso porque já estou muito ocupada e tenho outras coisas pra me ocupar. O problema é de quem está criticando, eu penso que são pessoas aleatórias e não levo para o pessoal, todo artista passa por isso, então se isso acontece, acho bom porque significa que estou crescendo como artista. - 81 -


Processo criativo. Como tudo acontece? Sempre que tento alguma ideia, gravo com o celular, e assim vou guardando riffs, melodias. Quando estou compondo, analiso esses trechos e como eles podem se desenvolver. Também estou trabalhando em parceria com letristas, para desenvolver músicas com vocais, além das músicas instrumentais. Tendo um rascunho, uma demo, levo para o produtor, para fazer a versão final da música, e a última etapa é colocar nas plataformas digitais. Em breve teremos novidades, é surpresa! Todo mundo se inspira em alguém, quem são os seus? Depois das experiências mais próximas que tive com o Steve Vai, John 5 e Tom Morello, me tornei mais fã ainda. Com certeza são grandes influências pra mim no momento atual. Quando comecei a tocar guitarra, me inspirava muito na Litta Ford e Jennifer Batten. Atualmente, além dos artistas já cita-dos, gosto muito da Taylor Momsen, Courtney Love, Malmsteen, Slash, Zakk Wylde. As mulheres da minha família também me influenciaram muito, por-que são mulheres intelectuais e bem-sucedidas profissionalmente. Minha avó por exemplo, professora de biologia, antes dos 30 anos, foi homenageada pela prefeitura de Vera Cruz com um colégio estadual com o nome dela, Dirce Belluzzo de Campos, na época dela, por volta de 1950, ela era uma exceção, tendo em vista que nessa época muitas mulheres eram donas de casa. Infelizmente ela faleceu muito jovem e deixou quatro filhas pequenas, mas o seu exem-plo ficou para todas as gerações. Como tem sido a sua interação com os fãs? Os fãs são muito queridos, procuro responder as mensagens, ser recíproca a todo carinho e atenção. Esse ano, abri a minha loja virtual, - 82 -


o comprador tem a opção de retirar pessoalmente em São Paulo. Sempre que posso, faço as entre-gas da lojinha, fico feliz de ver os fãs usando as camisetas, utilizando o merchandising. Também tenho notado mais o carinho e algumas fãs meninas que também tocam. Fico feliz em dar dicas valiosas que eu posso dar para elas, que eu não tive na minha época. No ano passado você abriu as apresentações do Samsung Best of Blues. Como surgiu o convite? Rolou interação com as bandas que se apresentaram lá? O convite surgiu por uma ligação, perguntaram se eu teria interesse em participar e eu disse sim! Foi uma experiência maravilhosa. Interagi com os artistas no momento da coletiva de imprensa, meet and greet com os fãs. O John 5 e Tom Morello são extremamente simpáticos, pudemos conversar um pouco, mas foram dois dias corridos, eu mesma não parei um minuto. O tempo livre que tive em Porto Alegre, fiquei passando as músicas do show (risos). E em São Paulo não tive tempo livre, mas foi tudo de bom que você puder imaginar, me senti realizada. Você já tinha se apresentado para um público tão grande? Me apresentei para 20 mil pessoas em Fortaleza no show de gravação do DVD do Detonator e as Musas do Metal. Então o Best of Blues foi o maior festival que já toquei, e talvez muitos não saibam, mas foi o meu primeiro show solo com banda, então digamos que meu primeiro show da carreira solo foi para 38 mil pessoas, em Porto Alegre. Isso significa muito, foi o que eu falei anteriormente, as oportunidades sempre foram a minha motivação, o “sim” do universo de que estou no caminho certo. Top 5. Quais músicos ou bandas você gostaria de tocar? Fale um pouco sobre - 83 -


cada uma delas. Guns N’ Roses - Foi a banda mais marcante de rock da minha adolescência, sem falar dos solos geniais do Slash. Ano passado eles compartilharam um vídeo meu tocando Sweet Child O’ Mine, viralizou e teve mais de 3 milhões e meio de visualizações no Facebook deles. Foi demais! Megadeth - O Guns foi uma banda de rock muito marcante na minha adolescência, e de metal posso dizer que foi o Megadeth. Incriveis riffs e solos. Agora com o Kiko na guitarra, está ainda melhor! Led Zeppelin - Sou muito fã do Led Zeppe-

lin e principalmente do Jimmy Page... O estilo dos anos 70 é incrível! Com certeza é uma das minhas influências principais. Deep Purple - Assim como o Led Zeppelin, também sou muito fã do Deep Purple e do Ritchie Blackmore... Blackmore, Page e Iommi são Magos para mim... As melhores bandas de classic rock de todos os tempos na minha opi-nião Marilyn Manson - Na minha adolescência tive uma “obsessão” pelo Manson, ia para a escola com a maquiagem dele, lentes de contato, tinha todos os CDs, videoclipes, pôsteres. Ele é muito original, e as composições são incríveis. - 84 -


Ter tocado no mesmo festival que o John 5 (que foi guitarrista do Manson) foi um sonho!

música volta para você! Por fim, o que podemos esperar de Isa este ano? Muito obrigada, su-cesso sempre. E fica o espaço para os agradecimentos. Para 2019 terei alguns lançamentos de vídeos, singles, talvez um álbum se eu conseguir terminar esse ano. Quero expandir a loja online, fazer muitos shows. Tenho surpresas por aí, aguardem! Gostaria de agradecer a Rock Meeting, aos fãs, minha equipe, minha banda, família e amigos!

O que você diria para uma garota que está começando a tocar guitarra? Seus sonhos são possíveis! Mas dependem de você, acredite, faça o seu melhor, estude, tenha disciplina, foco no que você quer. Cuide do seu estado emocional, com uma mente madura e equilibrada tudo se torna muito melhor. Preste atenção nas pessoas ao seu redor, se elas estão torcendo para sua felicidade. Você pode, você consegue! O segredo é persistir e ter paciência, tenha certeza que tudo que você dá para - 85 -


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Texto Edi Fortini | Fotos Caike Scheffer

Vocês são uma banda relativamente nova. Como tem sido esse início de estrada? Tem encontrado muitas dificuldades? A banda é ainda muito nova, realmente, estamos engatinhando no mundo do rock e o aprendizado tem sido enorme. Encarar a banda como um negócio, não apenas como música e diversão e encontrar oportunidades de crescimento e visibilidade em meio a tantas outras bandas (boas e ruins) é o nosso maior desafio. Mas, apesar das dificuldades da cena, como a falta de abertura e de estrutura para bandas novas, nós podemos dizer que somos uma banda de sorte, porque, não temos nem três anos de existência ainda e já trabalhamos com pessoas muito profissionais, já temos um EP gravado, um clipe sensacional (que teve uma excelente repercussão), já temos material para iniciar a gravação de um novo trabalho e já perdemos as contas de quantos shows já fizemos e de quantos contatos já criamos nesse meio. Nosso foco é grande no sentido de profissionalizar a banda e já temos, apesar do pouco tempo de estrada, várias grandes conquistas no nosso portfólio. - 88 -


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Quando teremos a previsão de um lançamento de um álbum completo da banda? Ainda não temos previsão para lançar um álbum completo, temos músicas suficientes pra lançar um álbum duplo até, mas estamos indo com calma, queremos desenvolver uma boa base de fãs para lançar essas músicas do jeito certo, não lançar por lançar. Mas esse ano ainda entramos em estúdio para lançar mais um EP. Acreditamos que esse é o melhor formato para o momento da banda. Como foi o processo de gravação do ep e do videoclipe? Gravamos o nosso EP no estudo Dual Noise, com o Rogério Wecko - grande produtor da cena - e temos muito orgulho dele. As cinco músicas do EP são as primeiras composições da Vox, que vão desde o peso e velocidade da Erupção, à sensibilidade da Imersa. Ficamos bem felizes com o resultado, porque ele mostra bem a que viemos, sabe? Nossas músicas novas talvez estejam mais maduras e com mais detalhes e nuances, mas essa crueza rasgada do primeiro EP é muito honesta e a gente tem muito orgulho disso. O processo de gravação do clipe foi uma experiência ao mesmo tempo cansativa e maravilhosa para todos nós. Foi a realização de um sonho. Somos da geração MTV, dos anos 90, crescemos acompanhando os videoclipes dos nossos ídolos e ver aquilo sendo concretizado com a nossa banda foi uma satisfação indescritível. Foram dois dias de gravação com a incrível produção da equipe da Pier 66 Films. Fizemos gravações de madrugada, com frio e fome, dando o sangue pela banda! Mas o resultado não poderia ter sido melhor para nós. O que podem adiantar pra gente sobre as futuras composições da banda? O - 90 -


que tem rolado de efetivo que pode ser comentado? Nós temos várias composições novas rolando! Por alguma razão inexplicada do universo, essa é uma banda muito criativa! Temos cerca de trinta músicas já iniciadas e pelo menos nove dessas já praticamente finalizadas. Quem já nos viu ao vivo conhece algumas delas como “Covil”, “Ela Vem”, “Diversão” e “Ego de Rei”. Essas novas composições têm se mostrado bem diversas entre si, apesar de manterem uma certa unidade sonora. “Covil”, por exemplo, é uma música muito influenciada por Black Sabbath, com um riff bem pesado que conduz a maior parte dessa faixa, mas há uma sessão no meio dela que é completamente louca e psicodélica. “Diversão”, por outro lado, é uma música com uma energia incrível, bem pra cima, com uma certa influência de AC/DC e com uma letra bem rocker. Já “Ego de Rei” tem um instrumental direto e é mais acessível, a letra fala sobre dar a volta por cima e se sobressair em um relacionamento em que uma das partes é um ególatra, tudo na perspectiva feminina da Raquel. Nesse sentido, eu acho que a mensagem que nós pretendemos passar com as músicas novas continua sendo a de empoderamento feminino, afinal as letras da banda são escritas pela nossa vocalista. Mas é um empoderamento por meio da força que o Rock sempre teve e que precisa voltar a ter e que pode servir como uma força libertadora do comportamento. Como tem sido a experiência de vocês no palco? Já tocaram em muitos lugares? Estar no palco para gente é meio que o resultado final de todo ensaio, toda gravação, procuramos sempre fazer um show melhor que o anterior e para gente é divertido estar ali e é o que tentamos passar para o público: “divirta- 91 -


-se”! Temos feito muitos shows ao longo desses dois anos e meio, até mais que o esperado pra uma banda em início de carreira nesse cenário difícil que é o rock atual. Passamos muitas experiências boas e ruins nesses shows, mas quando ao menos uma pessoa curte o show e vem falar conosco pessoalmente ou pelas redes sociais, um pouco do nosso objetivo já foi alcançado. Por enquanto só tocamos em São Paulo, cidades da grande São Paulo e região do ABC, mas, em breve, vamos levar nosso som para outros estados.

fazer esse tipo de som. Nós achamos que o Rock ‘n’ Roll pra cima, com energia, com riffs interessantes de guitarra e uma levada consistente de baixo e bateria, tem muito a ver com o Brasil, tem a ver com a alegria e estilo festeiro do nosso povo. Agora falta apenas cair nas graças do público! Além disso, uma característica marcante da Vox é a presença do vocal feminino que dá a cara da banda. No Brasil não é comum uma banda de Hard Rock com uma mulher à frente, por isso nós resolvemos investir no estilo como um diferencial interessante para a banda. Nossa estratégia se divide em duas frentes: on line e off line. Com a importância das redes sociais e dos serviços de streaming, a principal divulgação de artistas independentes tem se dado pela internet. Nós temos o nosso site,

Vocês acreditam que o rock simples e direto, que vocês fazem, conta com muitos fãs brasileiros? Como têm sido a estratégia pra vocês se fazerem conhecer? Sim, desde o início do projeto a gente decidiu - 92 -


Foto: Bolivia e Catia Rock

que dá acesso as demais redes da banda (Instagram, Facebook, etc.), nós temos o nosso vídeo clipe que está no nosso canal do YouTube, além disso nossas redes são alimentadas com conteúdo frequente, o que ajuda bastante a estar em contato com os nossos fãs e conseguir aumentar o número de pessoas que conhecem a banda. A Vox é bem ativa nas redes é isso ajuda muito na nossa divulgação. A outra parte da estratégia é fazer muitos shows! Desde o início a nossa banda tem conseguido manter uma boa agenda de apresentações, o que ajudou muito a moldar o entrosamento que temos hoje, além de servir também como um ótimo meio de divulgação da banda. Quem nos conhece da internet acaba gostando ainda mais quando nos vê ao vivo, porque nós sempre nos preocupamos muito em oferecer um show que

seja memorável para os nossos fãs. Desde o início a banda foi concebida para ter uma vocalista? (nada melhor que essa resposta ser dada pela própria vocalista da banda, então, prazer galera, meu nome é Raquel, vocalista da Vox) Sim, sempre. Meu sonho de adolescência era ter uma banda de Hard Rock. Eu imitava vários cantores de que eu gostava como Scott Weiland (Stone Templo Pilots e Velvet Revolver), Sebastian Bach (Skid Row) e desde que conheci o Rodrigo (guitarra), passamos a dividir essa ideia. O Rock é rebeldia e é algo que eu considero ser revolucionário, então, expressar essa força, garra, paixão, inconformismo e sexualidade, sob um ponto de vista feminino, podendo dar - 93 -


o que mais achar necessário para nossos leitores. Nós gostaríamos muito de agradecer à Revista Rock Meeting pelo espaço concedido, as perguntas estavam ótimas, foi um prazer respondermos a essa entrevista. Aos leitores, gostaríamos de agradecer muito pela leitura, vocês não têm ideia do quão é importante o apoio do público. Falem mais sobre o Rock Underground, afinal, compartilhar e dividir com os amigos o que você achou de interessante é a melhor maneira de fortalecer e divulgar o que tem aparecido de novo no cenário, o Rock não morreu, tem muita banda independente super-boa por aí, podem acreditar! Aproveitando visitem as nossas redes sociais e curtam a gente, vocês verão que vale a pena o empoderamento feminino no Rock ‘n’ Roll.

voz para ELAS, sempre foi a real intenção da Vox Ignea e isso é muito importante para uma banda de rock, porque para o rock é preciso saber o que se quer, para conseguir comunicar a mensagem de forma clara e contundente. Estamos seguros com essa formação, porque, além de ser muito prazeroso ser frontwoman, também quero passar a mensagem de que nós mulheres podemos fazer o que quisermos, ser o que quisermos, na hora que a gente quiser, porque aqui também é o nosso lugar. Gostaria de passar a ideia de que já somos vencedoras ao quebrar as barreiras e lutar por nossos sonhos. Construir pontes para que uma geração futura de meninas não tenha medo de seguir seus sonhos e, quem sabe, se tornar uma estrela do rock, por qua não? Esse espaço é de vocês, por favor falem - 94 -



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Texto e Foto Mauricio Melo

O

dia 15 de fevereiro já pode constar no calendário de 2019 como um dos dias mais concorridos do ano, sem sombra de dúvidas. Nada mais que acordar e ver no telefone um aviso “você tem 7 eventos hoje”. Tivemos para todos os gostos, preços e distâncias. Não muito longe de casa Pánico al Miedo e Storm em Terassa. Um pouco mais distante Crim, Batec e Violets em Girona. No centro de Barcelona o ’77 se apresentava junto ao The Mothercrow na sala Apolo e o Mastodon, muito bem acompanhado de Kvelertak, na Razzmatazz. Nós humildemente arrumamos nossa mochila e invadimos o Estraperlo Club del Ritme, em Badalona. Lá tivemos um mini festival ainda que, por motivos pessoais não pudemos comparecer no sábado, segundo dia de “festival”. Na sexta-feira fizemos nosso melhor dentro das três bandas que cobrimos. Do País - 98 -


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Vasco tivemos o Orreaga 778 oferecendo um punhado de hinos Oi e um bom público fazendo coro na frente do palco. Apesar da noite ter começado há pouco, a quantidade de cervejas derramadas no chão poderia ser equivalente à já consumida. Na sequência tivemos os noruegueses do Shipwrecked e seu incrível show de vinte minutos, talvez tenha sido um dos vinte minutos mais intensos da história do Estraperlo, incluindo para o fotógrafo que vos escreve. Pessoalmente tive que me esquivar muitas vezes para não ter a câmera esmagada, mesmo com tanta experiência no Club e conhecer as posições seguras, a situação poderia se considerar incontrolável, os stage divings vinham de todos os lados e o quinteto em ação não estava para brincadeiras. Em um dado momento do set, um gringo falou algo ao vocalista, que o puxou para o palco para cantar “Live and Die For”, por um momento vi que o cidadão nada mais queria gravar um vídeo ou mesmo tirar um self em ação. Teve o telefone tomado das mãos duas vezes e ao insistir em conseguir seu objetivo foi praticamente arremessado pelo forte vocalista da banda, registrei uma imagem segundo antes do arremesso, pode-se notar no olhar do vocalista uma certa maldade ou mesmo irritação, não sei se o turista saiu vivo dali, mas com certeza levou uma boa lição. Prometido e cumprido com toda a lealdade original de Boston. O Slapshot anunciou que no meio de cada set da turnê, tocaria versões de seus clássicos sob o nome de Star and Stripes e assim foi junto a outros tantos clássicos do Slapshot. Outra característica da banda é a imagem de durões de seus integrantes e mesmo após trinta anos de carreira, o quarteto mantém a fama em alta. Primeiro o baterista Corey Koniz, queimando em febre, aguentou - 100 -


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o set sem reclamar e o vocalista Choke Kelly, com um chamativo curativo na perna, o que limitou seus movimentos, mas não a intensidade de seu vocal. Abriram a noite com “I Told You So” de um de seus discos mais recentes, voltaram nos anos oitenta com “Back On The Map” para em seguida demostrarem que não amoleceram com os anos tocando “Remedy” de seu último lançamento, “Make America Hate Again”. Esperaram alguns ânimos esfriarem antes de tocar “Olde Tyme Hardcore” e “Silence”, um início à altura para os fãs da banda.

Com pouco mais de meio setlist consumido, chegou o momento que fusionou os públicos Hardcore e Oi presente na noite. “Shaved For The Battle”, “These Colors Run”, “The Power and The Glory” e “Skinhead On The Rampage” e seu aclamado riff foram definitivamente o ponto alto da noite mesmo que em seguida tenham voltado a serem o Slapshot com “No Friend Of Mine”, “Step On It” e praticamente finalizando “Hang Out Your Boots”. A emoção já não seria a mesma. - 102 -



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Texto e Foto Bruno Sessa

A

pós conflitos pessoais e alguns rompimentos de integrantes da banda, o Eluveitie anunciou sua nova formação e, tão logo uma turnê mundial, anunciando o retorno pelo Brasil 4 anos após sua última passagem. O show em São Paulo, na tradicional Carioca Club, contou com a abertura dos mineiros do Tuatha de Dannan, fazendo a ocasião perfeita para os fãs do estilo, na junção das duas bandas do gênero em uma só noite. Mesmo recorrendo de algumas falhas técnicas, a banda entregou um ótimo show com folk metal, flautas e banjos e a mescla com elementos da música e cultura celta para o público presente, contando também com a participação especial da vocalista Fernanda Lira. Com um público considerável lotando a casa de shows, os suíços do Eluveitie subiram ao palco com formação completa desta vez, nove integrantes, trazendo um clima tanto místico quanto filosófico para sua abertura, que contou com a homônima do novo álbum - 106 -


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“Ategnatos”, seguindo com a forte “King” e “Nil”. É notável mencionar a incrível performance com a representação feminina do Eluveitie, que vai muito além da beleza com um enorme talento marcado por Michalina, Nicole e Fabienne, que chamaram toda a atenção pelo carisma e empolgação durante todo o show. Os clássicos do Eluveitie não ficaram de fora, a pesada “Thousandfold” reuniu o tradicional bate cabeça do público, e a incrível apresentação do vocalista Chrigel, que demonstra amor pela cultura, pela música e melodias, tornando a banda um marco na história que se difere das demais no seu estilo. O set-list extenso contou também com as principais músicas em um show do Eluveitie: “The Call of the Mountains”, “A Rose for Epona”, “Helvetios” e o bis com a nova “Rebirth” e para encerrar, o refrão marcante de “Inis Mona”. Reconhecido pelo trabalho genial e pela ótima produção musical, a banda dispõe de arte e impulsiona a mitologia e espiritualidade, apresentando um show belíssimo e com diversos elementos para contribuir para uma grande noite. Depois de tocar em São Paulo, a banda cancelou o show que faria na capital mineira. Os shows de Brasília e Curitiba também foram cancelados, mas pela produtora, havendo um grande conflito contratual entre banda e produção. Para diminuir a frustração, o Eluveitie fez um gesto notável, marcando uma apresentação no Rio de Janeiro no Teatro Odisséia, e foi uma noite inesquecível.

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