Rock Meeting Nº 117

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Andre Matos

Andre, você se foi e um vazio tomou

poderei mais assistir seus shows e tenho

conta de nós. Por que isso? É bem verdade que

muita raiva de mim por ter deixado a opor-

muitas vezes criticamos você... Queríamos te

tunidade passar. De verdade, é uma cul-

ver como foi um dia. Mas era exigir demais de

pa que não consigo explicar, é um pe-

ti que fez tanto por nós. Pode nos desculpar?

sar sem qualquer conforto. Que dor!

Te peço desculpas quando deixei de ir

Agora que você se foi é que reco-

ao seu show imaginando que amanhã teria

nhecemos a importância que teve para

outro. Sinto-me em pedaços porque eu não fiz

a cena Metal no Brasil. Infelizmente

um esforço maior para te ver mais uma vez,

só conseguimos enxergar isso quan-

porque nunca é demais apreciar o que é real-

do alguém se vai. É uma pena que,

mente muito bom, prestigiar o cara que le-

você em vida, não demos o devi-

vou o Metal brasileiro para outro patamar. A

do reconhecimento de sua gran-

sua genialidade, o seu carisma, a sua música.

diosidade. Você nos desculpa?

E é essa música que ouvimos hoje

Andre, onde você esti-

com o coração partido, um luto absoluto,

ver, saiba que não estamos sa-

uma emoção bastante difícil de segurar. Não

bendo lidar com o dia seguin-

está sendo fácil pegar o “Ritual” do Sha-

te. Aceitar que você se foi

man e saber que não o veremos mais. Sin-

está sendo terrível. A sensa-

to-me no chão quando lembro que não fui

ção que temos é que alguém

te ver na turnê comemorativa do ‘Angels

da família se foi. Mas, se

Cry’. Eu via os vídeos e ficava na expectati-

for pensar direitinho, nós

va para saber quando seria a minha vez... E

somos uma família, a do

esse dia não chegou, a turnê acabou e veio o

Heavy Metal brasileiro. E

retorno do Shaman. Também não fui te ver.

mais um irmão se foi.

Meu coração está dilacerado. Agora não

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Foto: Leka Suzuki

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06 - Skin - Maturidade x Autoestima 14 - Live - Edu Falaschi 22 - Live - Vuur 32 - Metal Reflections - Um adeus a Andre Matos 38 - Live - Cradle of Filth 44 - Entrevista - Kryour 52 - Live - Primavera Sound 2019 70 - Capa - Andre Matos 82 - Live - Sweden Rock Festival 96 - Live - Rotting Christ 104 - Live - Queen Extravaganza 110 - Live - Punk in Drubic 120 - Live - Slash

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon CAPA Alcides Burn Jonathan Canuto

COLABORADORES Bárbara Lopes Bruno Sessa Edi Fortini Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Renata Pen Samantha Feehily

CONTATO contato@rockmeeting.net www.rockmeeting.net

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Por Samantha Feehily (Wonder Girls )

A maturidade é o tempo das responsabilidades materiais, como o trabalho, a família e as relações afetivas. Nessa fase, os objetivos que o indivíduo definiu deveriam ter sido alcançados. Normalmente a pessoa tem uma atividade profissional estável, não tem mais grandes lutas para chegar. Economicamente a situação é em geral mais tranquila. Afetivamente, os projetos são a longo prazo, e os investimentos são maiores nessa esfera. O que caracteriza essa fase da vida é o sentido da “responsabilidade”, que é posta em pauta em todos os aspectos: no trabalho, sobre a capacidade de gerir uma função profissional, nos aspectos econômicos, assim como nas situações familiares. Existem responsabilidades materiais com os aspectos práticos da vida, compras, vendas de bens, gestão da casa, etc. Existem responsabilidades afetivas, na escolha de manter uma relação de casal estável,

mesmo sem chegar ao casamento. Existe também uma responsabilidade paternal, no sentido de existir a possibilidade primeiro emocional e depois real de ser pai, tanto para quem já tem filhos e enfrenta os prazeres e dores de criá-los como para quem está elaborando a escolha de não tê-los ou a dor de não os poder ter. Os inimigos da autoestima nessa fase da vida estão nas situações mencionadas acima. No trabalho, o peso das responsabilidades: lutou tanto para chegar a ter o status profissional e, agora que possui tudo o que desejava, não consegue manter o ritmo. Administra tudo dando o máximo de si, mas paga o preço de não ter mais energias para o resto: não consegue cultivar as amizades, nem mesmo uma relação afetiva estável. Sente-se sozinha e avalia o próprio valor em -6-


Malviane Weis

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função dos objetivos que alcança. Outra manifestação é com a insatisfação com o próprio trabalho: trabalhar serve somente para ganhar dinheiro e poder fazer aquilo que gosta. Mas passar o dia inteiro fazendo algo que não curte muito começa a se tornar difícil de sustentar, e o indivíduo começa a se sentir muito frustrado. Não percebe alternativas, e na realidade nem as procura: a sua autoestima decai e começa a ter a sensação de que não vai poder continuar assim por muito tempo. Outra situação é quando não se sente realizado profissionalmente: estudou durante muitos anos para poder desenvolver a atividade dos sonhos, mas até hoje está ainda engatinhando. A sensação é de não chegar nunca e, dia após dia, suporta a injustiça do mundo e dos colegas, alimentando sempre projeções para o amanhã e sonhos de vingança.

Faicy Regis

AMOR X BAIXA AUTOESTIMA Na relação de casal, uma das situações que alimentam a baixa autoestima é o fato de o indivíduo ser ainda solteiro contra sua vontade. O fantasma de ficar sozinho a vida toda começa a ser cada vez mais presente nos seus pensamentos e, junto com ele, a ansiedade de ter que fazer algo para reparar isso: toda vez que sai, o objetivo é encontrar alguém; quando encontra, não vive livremente esse momento, está sempre avaliando se o outro merece o seu tempo. Resultado? Todos fogem, e você fica sempre mais sozinho, firmando cada vez mais a ideia de que não merece o amor de alguém. Outra manifestação na relação de casal é não ter uma relação feliz: vive uma relação há muitos anos e sente que, mesmo que os dias passem sem prazeres nem cumplicidades, não pode mais mudar de ideia. Por outro lado, muitos dos seus amigos vivem -8-


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uma relação parecida: justifica isso dizendo que o amor e a paixão acabam com o tempo, deixando espaço a um afeto mais brando. O problema é que o seu corpo, mais sábio, não acompanha a sua racionalidade, e denuncia o mal-estar com uma série de somatizações: cefaleia, distúrbios sexuais, ansiedade, nervosismo, insônia, falta ou excesso de apetite etc. Outra situação é quando o parceiro trai: raiva, desilusão e cinismo são os ingredientes que essa situação cria em você e que abalam sua autoestima profundamente. Todos se sentem na obrigação de lhe dizer o que fazer, e você não consegue entender o que realmente deseja. Perdão? Vingança? Fuga? Muitas perguntas sem respostas, mas finalmente uma dúvida cruel, que põe fim à sua autoestima já muito abalada: “Se fui traído, talvez tenha sido por merecer”. A relação na qual acreditava acabou: tinha feito muitos planos, alguns postos em prática: a casa, o casamento, os filhos. Improvisadamente sente-se sozinho, como acordando bruscamente de um sonho. É uma realidade que dá medo. Como recomeçar? Onde errou? Quem vai te querer agora? Como perceber quem será a pessoa certa? Os sentimentos de culpa e a sensação de fracasso completam a obra, e a dificuldade maior é encontrar um sentido no que aconteceu.

Samantha Feehily

sente-se inadequada, com muitas perguntas e dúvidas, e isso gera uma ansiedade cada vez maior; nem consegue aceitar que sua vida é valiosa, mesmo sem ter filhos. “Não sou um bom pai.” Filhos rebeldes ou com dificuldade na escola? A resposta é que não serve como pai. Mesmo que tenha feito o melhor para que tudo desse certo, culpa-se porque tem pouco tempo para dedicar aos filhos, culpando assim também suas atividades. Se o parceiro tenta minimizar o fato, sente ainda mais o peso da responsabilidade nas costas. “Sinto-me abandonado pelos filhos que se tornam adultos.” Tudo deu certo até que os

NA RELAÇÃO COM OS FILHOS Sentir-se culpado por achar não ter conseguido criar um bom relacionamento com os filhos é uma ameaça para a boa autoestima. “Não consigo ter filhos.” Tentou de todas as formas. Talvez nem tenha uma causa física, mas nada de engravidar. A vida inteira ouviu dizer que a mulher se realiza plenamente quando tem filhos, e isso não a ajuda. Aliás, - 10 -


filhos precisavam de você. Mas, agora que estão crescendo, que se tornam cada vez mais autônomos e não dependem mais dos pais, você se sente inútil. Ser pai era visto como sinônimo de “dar”, e agora, junto ao prazer de ver os filhos se tornarem adultos, o medo de perdê-los e de não servir mais para nada é cada vez mais presente.

pessoa sente a necessidade de fugir dos hábitos, da rotina. O parceiro que conhece há muito tempo não reserva surpresas nem fortes emoções. E você? O corpo não tem mais a energia de um tempo: as rugas, a barriguinha, os cabelos grisalhos não somem da sua frente. Parece que não gosta de mais nada de você, nem dentro nem fora. É muito fácil nesse momento da vida achar que pode resolver a crise com algumas folias: uma atitude inconsequente no trabalho, um amante, a compra de algo caro e luxuoso... Seja bem-vinda à folia saudável, se isso te permite manter ao longo do dia uma postura consciente de leve-

A CRISE DA MEIA IDADE É UM MOMENTO CRÍTICO COM O QUAL TODOS VÃO TER QUE LIDAR

A vida parece ser sempre a mesma, e a - 11 -


za. Mas o perigo existe quando essas atitudes são uma fuga da realidade, perigosas e difíceis de gerir, que, quando voltar à real, podem fazê-la se sentir pior do que antes. A menopausa é considerada como o fim da vida fértil, mas, para muitas mulheres, representa ainda um momento dramático da própria vida, um momento a ser postergado o máximo possível, mesmo recorrendo a fármacos. Muitas mulheres ignoram o sentido mais simbólico da menopausa: a mulher passa da capacidade de gerar um filho à possibilidade de elevar a própria energia e se abrir para uma capacidade de gerar bem mais ampla. A sexualidade, liberada finalmente do risco da concepção, pode ser vivida com maior leveza e espontaneidade.

a roupa que mais gosta, fazer isso por si mesmo, para se gostar cada vez mais. Os cinco alicerces da autoestima são: 1) Conhecer a si mesmo: desenvolver a capacidade de se desprender das coisas materiais, vivendo a sensação de intenso e íntimo bem-estar, independentemente dos fatores externos. 2) Conhecer o universo: viver em equilíbrio consigo e com o mundo, sem passar o tempo se questionando sobre o porquê vive ou sofre, mas “dançando conforme a música”, sem julgamentos, aproveitando o máximo do que a vida tem de bom a oferecer. 3) Ser consciente: não viver seguindo princípios morais predefinidos, mas estar presente ao que acontece ao seu redor, agindo conforme o momento e o bom senso, sem pré-julgamentos: dessa forma, nos regeneramos e nos reconstituímos permanentemente. 4) Ser livre: viver livre dos rótulos, dos preconceitos, das ideologias e dos valores pré-concebidos; ter liberdade com as paixões, com os sentimentos, para que sejam vividos de forma ativa e não passiva; ter liberdade para consigo mesmo. 5) Encontrar o próprio talento: desenvolver a capacidade de se renovar e de se recriar: aproveitar a própria criatividade em tudo aquilo que se faz, tanto nas coisas mais simples, como nas atividades mais complexas. Ser consciente da própria personalidade e agir sem medo do julgamento dos outros.” Isso é muito mais do que uma simples definição: é conhecer a si mesmo, é ser livre das expectativas e dos julgamentos, é encontrar o próprio talento e não ter medo de expressá-lo. Somente assim poderemos ser felizes.

NA PRÁTICA: VIVER O PRAZER PELO PRAZER Uma happy hour com os amigos antes de voltar para casa? Por que não? Fazer amor de manhã logo após acordar antes de ir ao trabalho? Por que não? Sim, não resista! Viva o presente! Quem quiser ser feliz, seja. Do amanha não se tem certeza. Gozar das coisas boas não cansa, aliás, descansa o cérebro e o regenera. Esvaziando a mente, o prazer elimina as recriminações e ativa as áreas cerebrais que produzem bem-estar. Viva as situações imprevistas como algo bom, que pode agregar coisas boas à sua vida. Elimine as frases em “negativo”, as frases em “absoluto”, os “porquês”, os verbos no “condicional”. Evite se comparar com o passado, evite as promessas para o futuro. Mude sua imagem: às vezes, estamos muito presos a uma imagem antiquada de nós mesmos. Roupas, acessórios, penteado novo ajudam a fazer com que nos sintamos bem desde o começo do dia. Vestir - 12 -


Faicy Regis

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Texto Renata Pen | Foto Bruno Sessa

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du Falaschi, ex vocalista das bandas Angra e Almah, comemorou no dia 04 de maio, no Tom Brasil em São Paulo, os 15 anos do álbum Temple of Shadows. Este trabalho incrível é da época em que era membro da banda Angra (2004). O que não faltou foram convidados para o registro em DVD. Um deles foi o maestro João Carlos Martins, juntamente com a Orquestra Bachiana. Além de participarem desta gravação, também farão parte de uma futura turnê. A casa foi enchendo e pouco depois das 21h30 subiram ao palco os produtores da Foggy Filmes (Junior e Arthur) para dar instruções sobre o show e alertar quanto ao uso excessivo de celulares. Logo mais as luzes foram se apagando enquanto as cortinas se abriram. Isso num espetáculo causa uma emoção divina, ainda mais quando se vê por trás uma linda orquestra tocando a quinta sinfonia de Beethoven. E, como se não bastasse, na sequência tocaram a - 16 -


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introdução de “Temple of Shadows” enquanto a banda entrava: Edu Falaschi (vocal), Fabio Laguna (teclado), Aquiles Priester (bateria), Diogo Mafra e Roberto Barros (guitarras) e Raphael Dafras (baixo). A primeira paulada foi “Spread of Fire” que parecia um hino cantado por todos em uma só voz. Era possível sentir a alegria de Edu, que agradecia sem parar, ao ver tanta gente prestigiando aquilo tudo. Nos intervalos das músicas, o vocalista contou ao público sobre sua experiência na estrada, coisas legais e outras que nem tanto, sendo sempre muito educado e elegante. Em seguida, vieram “Waiting Silence” e “Wishing Well” que foram maravilhosas. Dando prosseguimento ao show, outros convidados vieram para abrilhantar a noite. Kai Hansen (fundador das bandas Helloween e Gamma Ray) participou na canção “The Temple Of Hate”, fazendo muito marmanjo chorar. Em “The Shadow Hunter” Sabine Edelsbacher (vocalista do Edenbridge) também protagonizou no álbum Temple of Shadows ao lado de Edu. Cada música era uma surpresa. Quem estava distraído, deu de cara com o grande Mike Vescera (ex-vocalista do Loudness, Yngwie Malmsteen e Obsession) e juntos cantaram “Wings of Destinaton”. Em “Sprouts of Time” Tiago Mineiro (tecladista e compositor) deu o seu toque especial nesta linda canção. Quem não achava possível, e até aqueles que estão acostumados com misturas e parcerias improváveis, se surpreendeu com a doçura de Guilherme Arantes tocando suas próprias músicas, que são clássicas na música brasileira. Quem não se lembra de “Meu mundo e mais nada”, “Um dia, um Adeus”? E o chororô começou quando ele finalizou com “Planeta Água”. - 18 -


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Calma, calma, está tudo bem! O maestro voltou para executar Vivaldi, mais um belo momento para enxugar as lágrimas e viajar na música clássica enquanto “Summer” veio cumprir a missão. Após, Kay e Mike subiram ao palco novamente para cantarem uma música da carreira solo de Kai. A canção escolhida foi “Rebellion in Dreamland” e na sequência Mike cantou uma do Malmsteen, “Seventh Sign”. Após uma longa conversa com os fãs, onde Edu contou sobre sua antiga banda, eles então tocaram um clássico do Angra e “Rebirth” e “ Nova Era” foram cantadas em uníssono e com a orquestra triturando no metal. Foi maravilhoso! Tudo aconteceu de forma natural. Não precisaram regravar nada e deu tudo certo. Foi realmente um espetáculo.

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Texto Renata Pen | Foto Bruno Sessa

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Honorsounds, em parceria com a produtora Dynamo Brazillie, realizou um projeto cultural reunindo na casa de shows Tropical Butantã, no dia 17 de maio de 2019, as bandas holandesas VUUR e Delain. Por meio do concurso “Minha banda com a Dynamo”, bandas independentes tiveram a oportunidade de mostrar seus trabalhos neste show, além de ganhar mercado. Como foi difícil escolher apenas uma, três bandas abaixo mencionadas tiveram a mesma chance dividindo o tempo no palco. E deu tudo certo! A abertura ficou nas mãos das bandas brasileiras campeãs. Van Dorte, Brightstorm e Living Shields. Com a casa ainda por lotar, a banda de Araçatuba, Living Shields, deu início ao espetáculo, apresentando quatro faixas do seu EP “Delirium”, de 2014. Mesmo com o setlist pe- 24 -


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queno, a banda fez uma apresentação de respeito tendo Bruna Moreira, Larissa Melinky e Daniel Contuchenko em seu line up. Logo após e com um público maior, a banda Brightstorm de São José dos Campos entrou em palco liderada pela bela Naimi Stephanie. Com sua voz doce, a vocalista ganhou o coração do público usando asas e uma capa dourada, acessório que a deixou ainda mais encantadora. Acompanhada de seus parceiros de estrada Alexis Nunes (bateria), Will Lopes (guitarra), Edy Silva (baixo) e Gabriel Bernardes (teclado) mostrou algumas faixas de seu trabalho autoral. A terceira banda deste concurso foi a banda paulistana Van Dorte. Os músicos promoveram o álbum de 2017 “Epilogue” e também tocaram “So Weak”, do single de 2013. A banda é composta por: Alexandre Carmo (guitarra), Bru Paraffine (baixo), Vandré Sculler (bateria), Dione Rigamonte (teclados) e Feleex Duarte (vocal e teclado). O som não estava muito bom, mas melhorou depois. Como o tempo era curto, não foi possível mostrar muito bem o trabalho de todos. Explicaram que o nome da banda surgiu inspirado na admiração a Tim Burton, onde o principal personagem de Noiva Cadáver chama-se Victor Van Dorte. Minutos após às 21h, Delain entrou em cena com sua frontwoman Charlotte Wessels. Com seu vestido vermelho contrastando com seus cabelos louros e longos, a moça estava lindíssima. Iniciaram com uma “intro” causando uma certa euforia no público que já ocupava um pouco mais da metade da casa. “Go Away” foi a primeira a ser executada e em seguida a vocalista falou algumas frases em português de uma maneira muito natural. Acompanhada do tecladista Martjin Westerholt tocaram “Master of Destiny”, que vem do mais novo EP “Hunter’s Moon”. Mas foi com faixas do álbum - 26 -


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“Moonbathers” que a galera explodiu de amor. Era uma energia tão grande, os membros da banda balançavam os cabelos em sincronismo. Foi incrível! A alegria tomou conta em “Fire with Fire’ seguida de “Get the devil out of me”. É imprescindível citar também os integrantes Otto Schimmelpenninck Van Der Oije (baixo), Timo Somers (guitarra) e Joey De Boer (bateria), além da a guitarrista Merel Bechtold que não pôde comparecer devido a compromissos com sua outra banda, Mayan. O contraste de vozes também foi um fator de peso, pois o lírico de Charlotte e o Gultural de Otto deixaram “Pristine” simplesmente fabulosa. E a casa gritava Delain, Delain e mais agradecimentos em português. Charlotte apresentou mais uma canção e disse “Esta é sobre vocês e para vocês” e então “We are the others” e todos ficaram ensandecidos, pulando e cantando. Encerraram a apresentação com “The gathering” do álbum “The Lucidity” de 2006, a qual fez o público não querer mais sair daquela festa e Delain provou que ao vivo eles podem fazer com que o material de estúdio vire uma obra prima. A headliner da vez foi a banda VUUR. A banda chegou detonando tudo, deixando a todos em êxtase principalmente com a entrada da vocalista Anneke Van Gierbergen (que dispensa apresentações) que iniciou o show com “Time – Rotterdam” do début “In this mommente we are free-Cities” de 2017. Ela usou algumas frases em português o que agradou a muita gente. Com teclados no playback os outros músicos: Ed Warby (ex-Aureon, The Gentle Storm [Bateria]), Jord Otto (ex- ReVamp [Guitarra]), Ferry Duijens (Anneke, The Gentle Storm, The Sirens [guitarra]) e Johan Van Stratum (Ex-Stream of Passion, The Gentle Storm [baixo]) desenvolveram uma apresentação impecável. Anneke agradeceu muitas vezes o públi- 28 -


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co dizendo o quão eram lindos e até comentou que em cada lugar que eles passam as pessoas pronunciam o nome da banda de uma maneira diferente. Assim, ela deu uma “aulinha” de pronúncia, parecia até o que os professores fazem nos cursos de idiomas. Explicou, ainda, que o nome da banda significa Fogo mas pode ser usado como Paixão. Clássicos foram tocados para a alegria do público jovem, e eles sabiam cantar as letras. Como eles ficam sabendo de tantas bandas diferentes tão rápido? Voltando aos clássicos, “Strange Machines” de The Gathering foi executada como uma despedida e balançando as cabeleiras acompanhado o ritmo dos riffs tocados. Anneke tem muito a mostrar e ficou um gostinho de quero mais.

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Estava me preparando para fazer a leitura em uma missa onde moro, quando o Padre de minha paróquia (que sabe que sou fã de Metal) me deu a notícia: André Matos havia falecido. Chego em casa, confirmo o fato, e a chefe me pediu um texto sobre o ocorrido... Mas prefiro falar não da morte, mas da vida de André. A primeira vez que vi a cara desse sujeito foi em 1986, na parte de Demo Tapes da Rock Brigade nº 16 (aquela com Kerry King na capa, ainda com cabelos iguais a um porco-espinho). Li sobre a banda, mas ficou nisso. Ainda em 1986, mais especificamente em dezembro, o Viper era cotado para tocar como “opening act” do show do Venom e Exciter em Porto Alegre (RS), mas o show não rolou. Em 1987, em outra Rock Brigade (não lembro o número), eis que surge a resenha de ‘’Soldiers of Sunrise’, mas ainda levei um tempinho para ouvir o disco (na época, eu ainda estava preso demais ao Metal extremo, logo, estava mais focado nas bandas da War-

fare Noise e outros), mas quando ouvi com um amigo meu daqui de onde moro, o Leonardo, me apaixonei. Ele acabou me dando o disco de presente de Natal, em 1988. Desde aquele dia, passei a acompanhar a banda com mais atenção, e virei fã do Viper, em muito por conta daquela voz forte e marcante de André. Em 1989, a banda lançou ‘Theatre of Fate’, que eu só fui ter em 1991 (sempre atrasado, admito), quando André já estava em outra banda. Pirei naquele jeitão Heavy sinfônico, e sempre achei que as letras mexiam profundamente comigo. É um disco que eu tenho e amo. Depois, todos já sabem: André fundou o Angra junto com Rafael Bittencourt. O direcionamento mais voltado a uma mistura de Power/Heavy Metal com elementos clássicos foi bem difícil de engolir para mim, bem como as mudanças na voz de André. Apesar disso, com o tempo, passei a gostar mais de ‘Angel’s Cry’ e ‘Holy Land’, mas sempre achei que André poderia render mais. Ouvi pouco ‘Fireworks’, não vou mentir. - 32 -


Foto: Barbara Martins

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Veio o sucesso, as turnês, e então, em 2001, as pressões levaram André a sair do Angra e a formar o Shaman, levando consigo Luis Mariutti e Ricardo Confessori, e em 2006, saiu. Resolveu continuar a carreira, começando uma banda que leva seu nome (por uma decisão dos músicos, não dele, ou seja, não é uma banda solo). Nesta época, confesso que não ligava mais para os trabalhos de André por conta dos timbres muito agudos que ele usava. Até a faixa que ele participa em “William Shakespeare’s Hamlet”, quando ele abria a boca, era de doer para mim... E não estou julgando ou analisando como crítico aqui. Desde que comecei a me dedica com mais afinco a escrever sobre Metal, após terminar a faculdade em 2010, tive oportunidades de ler, ouvir e noticiar os trabalhos de André com muita frequência. Nunca o encontrei pessoalmente, mas o vi em 2013 quando cobria o Rock in Rio e lá estava ele com o Viper. Não o procurei (acho que ele nem saiu da área dos músicos), mas ele fez um ótimo show, verdade seja dita. Basicamente, estava voltando a curtir o trabalho dele aos poucos. Mas justamente por meu desinteresse nos trabalhos mais recentes dele que nunca tive o prazer de conversar com André em pessoa. Todos os meus amigos dizem a mesma coisa: um sujeito bom, humilde e inteligente. Infelizmente, a oportunidade nunca veio, e nem virá... O que posso expressar: hoje, como escrito, como fã de Metal, e mesmo como ser humano, senti bastante essa perda. Sei de coisas que atormentaram os últimos anos da vida de André e que não quero falar aqui, mas que mostram que atrás desse profissional, desse cantor, desse mito, existia alguém bem humano, um pai carinhoso, um amigo e - 34 -


Foto: Pei Fon

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tanto, ou seja, alguém que vai fazer falta para todos nós, sejamos ou não fãs, pois ele trouxe algo bom para o Metal brazuca: toda a noção de profissionalismo, o que era raro nos anos 90. Um “know-how” que as turnês no exterior e o contato com músicos mais experientes despertaram nele, e que acabou criando escola. Não creio que chorar ou ficar triste seria o que ele queria para seus fãs. Parecia ser um cara de bem com a vida em muitas coisas, logo, digo as mesmas palavras que falei para um amigo que é grande fã do trabalho

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dele: Acredito até que ele não iria querer choro, mas que sua música continuasse vivendo através dos fãs. Da vida para a eternidade, descanse em paz, André. Obrigado pelas alegrias, por tudo de bom que nos deixou, por hoje choro de luto como tantos, e que sua obra mantenha você vivo para sempre entre nós... “So when I leave this world unfair They will cry for me and understand” (Viper - Prelude to Oblivion)


Foto: Barbara Martins

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Texto e Foto Bruno Sessa

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s ingleses do Cradle of Filth são muito respeitados no metal extremo por causa da música bem elaborada até as apresentações teatrais. Eles se apresentaram no tradicional Carioca Club em São Paulo, no dia 25 de maio. Este show fez parte da “Lustmord And Tourgasm – Cruelty and the Beast Exclusive shows 2019” que passou pela América Latina, encerrando a tour no Brasil, organizado pela produtora Overload. Ano passado com única apresentação São Paulo, só que desta vez, a banda realizou mais shows no Brasil, passando por Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. Seu frontman, o vocalista Dani Filth, único integrante da formação original, a banda é completada por Martin Skaroupka (bateria), Daniel Firth (baixo), Richard Shaw (guitarra), Ashok (guitarra) e Lindsay Schoolcraft (backing vocal). O gênero particular do Cradle of Filth ainda hoje gera grandes polêmicas sobre ser de uma banda de black metal em que o grupo alcançou a fama. A banda cita como - 40 -


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suas influências artistas da primeira onda do black metal como Bathory, Celtic Frost e Mercyful Fate. O show contou com a execução do álbum “Crulety and the Beast” (1998) na íntegra, além de clássicos da carreira. Lançado em 1998 é um dos trabalhos mais aclamados na história do black metal. O álbum é baseado na vida da “Condessa de Sangue” húngara Elizabeth Bathory, com letra extremamente demoníaca, vampiresca e erótica. A arte gráfica do disco é outro detalhe que não pode passar por despercebido, e que pode ser conferido em um belo banner no fundo do palco. No palco a banda tem desenvoltura e mostrou muita competência e dedicação. Eles executaram perfeitamente cada música. Dani Filth mostrou que, com o passar do tempo, continua com um ótimo vocal, com diferentes tipos de guturais. É um show bastante teatral, vale a pena prestar atenção em cada detalhe, desde o figurino até o carisma da banda, hipnotizando os fãs a cada música. O público estava em clima de nirvana, mesmo com vários shows acontecendo no mesmo dia na cidade, pudemos ver o Carioca Club cheio. Os fãs sempre fiéis, quee nunca perdem a oportunidade de apreciar a banda, estavam empolgados e cantando todas as músicas. Com certeza, o Cradle of Filth sempre terá público toda vez que realizar apresentações no Brasil. Esse show mostrou o quanto eles são competentes e fazem jus ao título de uma das maiores bandas de metal extremo. Com aproximadamente uma hora e quarenta minutos de show, a banda agradou a todos em sua apresentação agressiva, brutal e com um toque melódico, sem contar o repertório completamente admirável, com os hits que todos gostam de escutar. A banda provou o quanto são importantes ao metal mundial. - 42 -


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Texto Pei Fon | Fotos Renan Facciolo

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metal brasileiro vai se renovando. Enquanto algumas bandas param, outras tocam o barco, como tem que ser, a lei natural das coisas. Sendo assim, a novíssima banda Kryour acaba de lançar seu début e nós ouvimos, discutimos e o resultado está aqui, uma entrevista rápida, pontual e esperamos que vocês gostem. Primeiro contato. Por favor, apresentem-se para os nossos leitores. Gustavo Iandoli - Fala galera! Somos um quarteto de São Paulo e agradecemos a honra de estar aqui com vocês. Kryour é uma banda nova com integrantes novos. Como tudo começou? Quem chamou quem? De onde veio a vontade de reunir uma galera e formar uma banda? Começou comigo Gustavo Iandoli e o nosso manager Andre Luiz em 2014. Eu já tocava e tinha a ideia de formar uma banda, o que deu um impulso na minha motivação foi ter tocado em uma Jam em dezembro 2013 com o Andreas Kisser. Em janeiro, nós achamos os primeiros integrantes pela internet e logo já marcamos o primeiro ensaio, até que a formação foi - 46 -


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mudando um pouco até nos consolidarmos no começo 2016 com a formação atual. Vocês acabaram de lançar seu primeiro full álbum, “When Treasures are Nothing”. Conta para nós como foi o processo de gravação. Foi bem detalhada e extensa, Diego Castro foi quem produziu o disco, além de ser um ótimo profissional é uma pessoa incrível, era um ambiente bem harmônico de pessoas que queriam estar ali. Não queríamos nenhuma pressão, seja de tempo ou de qualquer outra coisa para que tudo fluísse da melhor maneira, e foi isso que aconteceu. Além de crescermos como músicos, crescemos muito como pessoas e nos unimos como nunca. “Where Treasures are Nothing”. Que tesouros seriam esses que não valem de nada? Existe um personagem nesse álbum? Existe um protagonista, e o álbum inteiro é o desenvolvimento de sua história. Por ser em primeira pessoa, o protagonista vai descrevendo suas emoções e pensamentos nas suas fases de vida, os mais diversos conflitos que todos nós como seres humanos devemos enfrentar. Essa pessoa embarca em uma jornada de autoconhecimento, e ele percebe que muitas coisas que parecem ter sentido não fazem diferença alguma pra ele. Pensando num mundo totalmente louco em que todos nós vivemos hoje em dia, temos milhares de opções para cada mínima coisa que possamos fazer e lidar com isso nos deixa loucos. Um exemplo bem besta é ter tantas opções de filmes no Netflix que no fim você não experimenta nada direito porque você vai estar pensando no outro filme ou série que você poderia estar assistindo, e pode usar esse exemplo para qualquer coisa em que a globalização nos dá um cardápio imenso. - 48 -


Nós seres humanos temos muita dificuldade de lidar com isso. Além de tudo tem o valor social também, as coisas que você faz e gosta são mais por você ou pelos outros? Existem coisas que você nem mesmo gosta de fazer, mas acredita gostar pelos outros, ou para simplesmente fazer parte de algo? É uma reflexão um pouco extensa, imagino que cada um possa desenvolver isso da sua maneira e isso é ótimo! Então basicamente dentro de você alguns “tesouros” não tem importância alguma, basta você se conhecer e julgar o que realmente faz sentido para ti. Primeiro você inicia com a inocência, passa pelo caos em seus sonhos, numa queda no esquecimento, mas chega a hora de ir. Que momento é esse? A hora de ir é a morte, é o momento em que você se realizou e está preparado para seguir o seu caminho além daqui, que ainda é indefinido, mas essa história não acaba aqui, tudo se explicará e fará sentido nos nossos trabalhos futuros. Como tem sido a repercussão de “Restless Silence”? Tem sido incrível, tem apresentado a banda para várias pessoas e o carinho que essas pessoas tem de dar um feedback é sem palavras. No início e no fim, “When Treasure are Nothing” prepara e alivia a saída auditiva. Dentro da inquietude que o álbum mostra, o que precisa é de paz no final? Desde o começo eu me preocupei em organizar o tracklist tanto no conceito da história, como a linha do tempo e, quanto musicalmente. E a paz no final é a melhor maneira que essa história pode “terminar” depois de tanta luta que essa pessoa teve consigo mesma. Cada música solta uma reflexão diferente, e espero que - 49 -


esses pensamentos incentivem os ouvintes a imaginar, a criar suas próprias reflexões e se identificarem nas fases de vida retratadas nas músicas, e que de alguma maneira esses gatilhos de reflexões possam ajudar a vida de quem está ouvindo.

própria e isso é sem dúvidas muito cativante. Existe uma galera que insiste em dizer que o Metal está morrendo. Tendo vocês como um sopro de vida, qual a perspectiva que tem sobre o passado, presente e futuro da cena? Um poder maravilhoso que o tempo tem é de transformar as coisas, o metal passa por muitas transformações e podemos dizer que ele está mais vivo do que nunca. Hoje em dia você pode achar bandas que fazem todo o tipo de metal e acredito que isso é algo que só acrescente para o estilo. O metal só morrerá se só ter pessoas que não abram suas cabeças. Espero que a cena do metal continue no mesmo

Por serem muitos novos, ainda mais nessa cena que contamos com tantos medalhões, soa como se já fazem isso há bastante tempo. Em quem se inspiram? Nos inspiramos muito no Gojira, sentimos que as músicas deles têm muito a dizer, muito a se expressar, existem músicas que tem uma alma - 50 -


ritmo que está para o futuro, pessoas inovando e buscando fazer suas músicas do jeito que mais faz sentido a elas, sem julgar ou se privar de determinados estilos.

o Amon Amarth e também o Periphery que representa bem a cena do metal moderno, que com certeza foi uma referência principalmente nas linhas de bateria.

Top 5. Quem são as bandas que inspiram o som do Kryour. Fale um pouco sobre elas. Como eu já havia dito o Gojira é uma grande referência, mas Children Of Bodom que tem muitos riffs melódios que admiramos muito foi uma referência bem importante também. Kreator que nos seus últimos tempos tem uma pegada de riffs melódicos também, junto com

Para finalizar, o que podemos esperar para 2019? Sucesso e muito obrigada! Com certeza muitos shows, uma aproximação real do público para celebrar e divulgar o nosso mais recente trabalho realizado, toda e qualquer novidade estará nas nossas redes sociais, gostaria de agradecer mais uma vez pela oportunidade dessa entrevista. Muito obrigado! - 51 -


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Texto Ana Paula Soares e Mauricio Melo Foto Mauricio Melo & Snap Live Shots

INTRO Sim, pode parecer estranho colocar no título da cobertura uma referência do que na verdade é uma proposta para o ano que vem. Em 2020, o Primavera Sound celebrará sua vigésima edição e para tal dois anúncios foram realizados na atual. O primeiro estava estampado logo na entrada do evento que é a realização do mesmo na cidade de Los Angeles (EUA) no mês de setembro (2020), justificando (ou fazendo-se entender) a venda de 29% do Primavera Sound a um milionário da música independente daquele país, além de se proteger contra grandes empresas e da bolha financeira que envolve os festivais. O segundo anúncio foi feito antes do show da cantora local Rosalía, que possivelmente reuniu o maior público desta edição. Lá no telão apareceram imagens de todos os grandes artistas que por ali passaram, no que definimos como o verdadeiro Primavera Sound e não foram poucos, Iggy Pop, Neil Young, Motörhead, Sonic Youth, Pixies, NIN, Slayer, PJ Harvey e por aí vai até que - 54 -


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chegou a primeira grande confirmação para o próximo ano. O Pavement foi a banda apresentada, recordemos que a mesma já não está em atividade há algum tempo e se reunirá para apenas dois shows que serão no Primavera de Barcelona e, posteriormente, do Porto. Quando digo dois shows, são dois únicos shows no mundo inteiro e fim. Tivemos aquela sensação de soco na mesa, de basta, de… vamos mostrar que o Primavera ainda é foda! Para entender essas palavras, deixaremos no final do texto uma conclusão da edição de 2019. O FESTIVAL Não sabemos dizer se o interesse foi pouco ou a concorrência é grande. A verdade é que a tradicional quinta-feira do Primavera Sound, conhecida por ser a melhor jornada do evento estava relativamente vazia se comparada com anos anteriores. Estávamos acostumados a um grande fluxo de pessoas circulando entre um palco e outro, o que não aconteceu esse ano, considerando também que não houve um sold-out. Também, somamos uma reorganizada na infraestrutura fez com que esse fluxo fosse amenizado. O palco Heineken também passou por mudanças, esse ano se apresentou como uma pequena casa de show, com direito a bar, mesas e cadeiras. O interior de formato redondo e uma lona que lembrava um circo, ficou bem legal. Tivemos a adição de um palco a mais na entrada do evento e uma sensível redução de espaço na área de imprensa. Numa visão geral e rápida, é o que podemos melhor descrever. NO PALCO Fomos bastante seletivos com relação aos shows desta edição, não queríamos (e já não podemos) correr por aí com a camera nas - 56 -


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costas, indo de palco em palco para coletar imagens e pouco assistir ao que as bandas tem de oferecer, que é a música. Nossa primeira parada foi no palco Primavera para o show de Stephen Malkmus & The Jicks, sim o mesmo que estará aqui conosco liderando o Pavement em 2020. Desta vez lançando o bom disco Sparkle Hard do qual tocou mais da metade do mesmo incluindo músicas como “Bike Lane”, “Future Suite”, “Solid Silk” e “Middle America”. Em seguida demos uma passada rápida para ver as japonesas do Shonen Knife, não que nos derretamos de amor por um bom punk rock japonês, mas, acima de tudo, valeu por seu conteúdo histórico. A banda ganhou notoriedade após rasgados elogios de Kurt Cobain e Thurston Moore, reuniu um bom público no palco Adidas Originals, do trio atual somente a vocalista Yamano Atsuko é da formação original. Por falar em formação original, tivemos o Stiff Little Fingers que, entre suas idas e vindas, conservam um bom punhado de originalidade e músicas que há muito entraram para a história do punk rock mundial. Diante do palco encontramos o habitual público Estraperlista (referência ao clube de show local, o Estraperlo) e muitos cabelos brancos curtindo “Law & Order”, “Suspect Device” e “Strummerville” dedicada a nosso herói Joe Strummer e finalizaram o set com “Alternative Ulster”. Grande noite de Jake Burns que demonstrou grande energia apesar de estar um pouco acima do peso ideal. Quem deu um show particular foi Ian McCallum que mesmo exibindo uma coleção cabelos brancos deu um par de decoladas com sua guitarra em punho que deixaria até o Juninho do R.D.P. com orgulho. Saindo do Stiff e indo para o Interpol, conferimos alguns bons momentos do rapper NAS. Vale lembrar que o cidadão é uma lenda dentro do estilo, ainda daquele rap antigo, dos

anos 90, época dourada do mesmo e que abriu caminho para muita gente. O palco Ray-Ban estava abarrotado e tivemos sorte em conseguir uma brecha entre umas árvores e poder assisti-lo à distância e deixar que o grave de “N.Y. State of Mind” vibrasse no peito. “The World is Yours” foi outro clássico que o artista deixou “cair” junto de “The Message” e “Hate Me Now”. Lá no palco principal Seat se encontrava o Interpol ou pelo menos a sombra do mesmo. Sentimos muito deixar registrado aqui essas palavras, mas somos do tempo em que o In- 58 -


terpol era uma banda ainda desconhecida no Brasil, vimos de perto shows de lançamento do Antics e posteriormente Our Love to Admire, da qual a mesma banda recebia comparações com Joy Division, certamente por causa da voz de Banks, algo que parece impossível no momento. Apesar de um excelente setlist, abrindo com “C’mere” e “If You Really Love Nothing” do último disco e a melancólica da linda “Public Pervert”, ficou evidente que Banks carece de um descanso para cuidar da voz. A banda tocou suas músicas de maneira mais lenta e um tom abaixo do habitual, volta-

mos a dizer, é uma opinião pessoal de quem já viu a banda tocar em salas para 400 pessoas, não só em início de carreira, mas igualmente depois de reconhecidos. Recordamos ao leitor que assistimos um “ensaio” da mesma (para convidados) há alguns anos um dia antes de igualmente tocarem no Primavera Sound. “The Rover” foi a outra música do lançamento recente que tocaram além de “Fine Mess” do EP que saiu mês passado e “All The Rage Back Home” do El Pintor, a dezena restante do setlist se concentrou em seus dois primeiros discos como “Say Hello to the Angels”, “Slow - 59 -


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Hands”, “Evil” e “PDA”, entre outras. Voltamos a falar em primeira pessoa, sem ofensas aos fãs da banda, mas essa foi a nossa realidade, talvez um dia ruim do vocalista e nada mais. Já circulando pelo segundo dia do festival e iniciando as atividades com Kurt Vile & The Violators, um dos artistas mais celebrados da cena indie atual e a certeza de que o Primavera não nos abandonou, não nos trocou por sons mais modernos. Lá estava o cidadão, vestido de camisa xadrez, cabelos longos, olhar de menino tímido e uma voz familiar, alguém gritou Lou Reed?! Algo mais moderno, mas o caminho é por aí. Rodeado de guitarras e baixos Jaguar Jazzmasters, entre elas uma guitarra/baixo de seis cordas da versão barítono que possui a Fender. O cidadão tirou uns solos de violão no pedal Wah-Wah que, somado ao sol de fim de tarde, a brisa do Mediterrâneo a poucos metros e uma taça de vinho, foi tipo o paraíso em baixo custo. “Girl Called Alex” e “Check Baby” deram o tom junto a “Walkin on a Pretty Day” e “Wild Imagination”. O dia mal havia começado e já deu a sensação de ganho. Mais adiante e tivemos uma dessas oportunidades que nos chegam muito de vez em quando e normalmente das mãos deste mesmo evento, assim como vimos Drive Like Jehu há alguns anos, desta vez a banda de culto foi Jawbreaker. Abrindo com “The Boat Dreams From the Hill” o trio não se intimidou com o tamanho do palco, abriu o bandeirão de fundo com o nome da banda e desceram a madeira. Talvez o palco idôneo seria o Heineken, ali teria sido de lujo como falamos na Espanha. “West Bay Invitational” deu aquele respiro e “Chemistry” do disco Dear You deixou tudo em ordem. Se o Primavera tem algo especial, esse algo é o poder de receber “super bandas” que muitas vezes só passam por Barcelona para tocar num evento deste porte. Já - 61 -


assistimos infinitos projetos com membros de Portishead, R.E.M., Sonic Youth, Fugazi, etc. Uma dessas superbandas é o Piroshka (não confundir nomes) que acaba de lançar seu humilde disquinho com integrantes de bandas como Modern English, Moose, Elástica e Lush. E é exatamente Mike Berenyi que longe do Lush desfila suas vozes e acordes na banda. Enquanto o grande e novo público do Primavera rumava em direção do palco principal para ver Miley Cyrus… nós nos mantivemos fieis à nossa proposta e na direção contraria nos deparamos com um dos melhores shows do festival. Já havíamos visto o Suede anteriormente e no mesmo Primavera, mas não um show tão completo quanto este. Brett Anderson entrou em cena para arrasar em to-

das e cada uma das 17 canções apresentadas. Saltou, ajoelhou, desceu do palco para cantar entre o público, demonstrou felicidade e despejou alegria. Iniciaram o set com “As One” e “The Outsiders” que são músicas de seus lançamentos mais recentes e reservou boa parte do set para clássicos do brit pop como “We Are The Pigs”, “So Young, “Metal Mickey” e a coroada alternava entre histeria e emoção. Temos que tirar o chapéu e aplaudi-los mesmo não sendo (quem os escreve) fã de carteirinha da banda, isso sem contar o grande finale com “Animal Nitrate”, “The Wild Ones” e “Beautiful Ones”. Se alguém que leu a primeira parte de nossa resenha quer saber qual então seria a representação máxima do que sempre foi esse festival, essa passou pela apresentação do Sue-

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de. Não sabemos se mal interpretamos o som do Tame Impala ou se os australianos modernizaram radicalmente. Lembro de haver visto a banda em sua primeira aparição no Primavera (e na Espanha) e era uma banda com uma pegada anos 70, aquele som inconfundível de Rickenbacker misturado a elementos eletrônicos. De lá para cá, os rapazes passam com certa frequência pelo evento e insistimos em assisti-los na esperança de ver aquela pegada que ao final nunca aconteceu. Reclamações também dos fotógrafos pela falta de luz no palco, algo bastante habitual em seus shows. Não é uma crítica e sim uma má interpretação como falamos antes. A grande curiosidade foi ver o vocalista utilizar uma guitarra

Jazzmaster, modelo assinatura de J. Mascis (Dinosaur Jr.), mas utilizar adesivos para cobrir o nome Squier, que nada mais é um Fender de baixo custo. Pode ter sido coincidência, mas cá entre nós, esse modelo de guitarra é uma das melhores coisas já lançada no mundo dos instrumentos e deveria ser exibida com orgulho. Para finalizar o segundo dia de festival, tivemos (finalmente) a oportunidade de assistir ao Swervedriver, banda que marcou uma geração dos anos noventa com discos como, por exemplo, Raise e The Mezcal Head, muitas bandas atuais beberam na fonte destes discos. Adam Franklin coloca uns efeitos em sua descascada e surrada Jaguar que poucos podem conseguir. Os cabelos dread locks já não exis-

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tem, mas sua voz continua intacta. Grande pena que o set foi curto, mas considerando que a banda era aguardada há alguns anos, desde sua reunião no início desta década após outra em inatividade e nem podemos reclamar. O palco escolhido foi perfeito e se algo poderíamos ter certeza era de que ali, dentro da lona Heineken, somente estavam os entendidos, os que realmente vão para assistir a uma banda e não para falar de suas últimas férias em Nova Iorque como muitos que passam pelo evento durante todo o fim de semana. Mas vamos ao que interessa. Comentamos acima que foi curto, tivemos apenas uma dezena de canções e que não chegaram a dar um repasso na

carreira, mas foi o suficiente para deixar um sorriso estampado no rosto. “Mary Winter” do recém lançado Future Ruins assim como “Future Ruins” figuraram no setlist, os clássicos “Last Train To Satansville”, “Deep Seat” e “Rave Down” deixaram emocionados aos mais nostálgicos. A espera foi longa, mas a recompensa teve um sabor especial. Que essa seja a primeira de muitas visitas que o quarteto possa fazer num futuro. Um viva ao Swervedriver! Abrimos o terceiro dia de festival com o Built to Spill tocando o disco Keep It Like a Secret na íntegra. Tudo bem que é um bom disco, mas os caras ficaram anos sem passar pelo festival e quando passam tocam disco - 64 -


todo, algo que já começa a ficar passado. Uma das coisas que mais chamou atenção foi o guitarrista com uma Giannini Stratosonic e na “mão” da mesma se podia ler o Made in Brazil, o endereço da empresa e o CGC. Amantes da guitarra, deleitem-se. Quando falamos em showman vários nomes vêm à cabeça, mas se existe um na atual geração, esse é definitivamente o Frank Carter e sua banda, o Rattlesnakes. O ex-vocalista do Gallows continua com seus hábitos hardcore, desce do palco, canta nos ombros do público e ainda traz consigo o guitarrista. Abriram o show com a lenta “Why a Butterfly Can’t Love a Spider,” mas foi só para enganar os desavisa-

dos, em Tyrant Lizard King a coisa começou a distorcer e em “Vampires” o caos estava montado. “Heartbreaker” e “Wild Flowers” só alimentaram a situação. Um bom show para um vocalista que sobrava em sua banda anterior, porém que parece não alcançar a glória longe da mesma. Frank já havia tentado a sorte com Pure Love, que parecia ter um grande futuro, mas talvez tenha faltado paciência. Quem sabe ele não acerta um dia? A caminho do show da Rosalía ainda tivemos a oportunidade de passar no Shellac e conseguimos assistir a última música do set. É simplesmente irresistível não os assistir por um ano mais e pelo menos uma vez. Sim, como - 65 -


dito no início do parágrafo, Rosalía. Para os que não conhecem é o novo fenômeno espanhol, já fez turnê na América do Norte e vai arrasando o continente. Para que entendam e resumindo, a jovem é uma Anitta da Espanha, versão pop de todas estas cantoras que existem no mundo, com coreografias, roupas espalhafatosas, etc, etc. Aonde está a diferença? Ela coloca elementos de Flamenco em suas músicas, o que se considera algo inovador. Não tiramos as qualidades da cantora, mas não faz nosso perfil. Por outro lado, SIM, fez o perfil do novo público do festival, foi a artista mais celebrada e a que recebeu a maior galera do evento que, vale destacar, era composto de várias gerações e algo muito importante e talvez um dos grandes objetivos do Primavera, levou junto à Rosalía uma audiência que, possivelmente, nunca havia estado no mesmo. Mais adiante voltamos ao palco Ray-Ban para assistir Jarvis Cocker, eterno líder do Pulp. Não sei se foi abstinência de guitarras após a saída do ambiente Rosalía ou de uma maneira geral, mas vejam que, a dupla que os escreve sempre teve um pé atrás com Mr. Cocker, porque acreditamos que a música é como o amor à primeira vista, tem de chegar fulminando. Algo que Jarvis não conseguiu, mas desta vez o cidadão ofereceu um showzaço. De sua antiga banda apenas “His ’n’ Hers” e de seus trabalhos recentes “Further Complications” merece um salve, principalmente por suas expressões corporais durante a canção. Não sei em outras regiões do Brasil, mas no Rio de Janeiro temos uma expressão ou gíria que é assim: “Porra, Salvou!”, alguns ainda adicionam um “brother” no final. Foi isso que passou por nossas cabeças quando vimos Bobby Gillespie entrando em cena com uma roupa rosa choque, liderando o Primal Scream e entonando “Movin’ On Up” do disco Screamdelica, com “Jailbird” seguida de “Can’t Go - 66 -


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Back” e com o Fender Precision Bass de Simone Butler dando pontos de distorção. Quando saímos da barricada de fotógrafos tivemos a verdadeira visão do que realmente representa o Primavera Sound, aquele público curtindo boas guitarras misturadas às batidas eletrônicas de “Miss Lucifer”, meninas sentadas nos ombros alheios, bandeiras e cervejas diante do mesmo palco e na mesma posição que em outras edições vimos Neil Young, PJ Harvey (ainda roqueira), Sonic Youth, Pavement, Pixies, Superchunk, The Cure e um bom punhado de bandas históricas dentro do P. Sound e logo descobrimos que não estávamos exagerando já que, numa pesquisa posterior, o mesmo foi considerado o melhor show de uma banda veterana para a edição deste ano. Ainda tivemos “Acelerator”, “Kowalski”, “Higher Than the Sun”, “Kill All Hippies”, “Country Girl” e um grande finale com “Rocks”, mais sugestivo impossível. Para arrematar o dia descemos a ladeira para nossa última visita ao palco Adidas Originals e assistir ao The Messthetics, um trio instrumental que conta com o baterista e o baixista do Fugazi. Um Jazz acelerado, escalas de guitarras e baixo a dar com pau, distorção e limpeza, baquetas ou escovinha para tocar suave. Tudo ao mesmo tempo agora. Aguentamos quase o set completo, mas o cansaço físico e mental venceu e o caminho de casa já não fica logo ali. No domingo foi a vez de ver mais uma super banda liderada por Peter Buck (R.E.M.) junto a poderosa voz de Corin Tucker (Sleater-Kinney). Também participam membros de King Crimson e Minus 5. Uma coroada experta com experiência de sobra e bons riffs de guitarra e dois discos já lançados. A formação original contou com Novoselic no baixo, mas atualmente o posto está preenchido com Scott McCaughey. Está aí uma banda a ser assistida - 68 -


caso passe por perto. Bandas que gostaríamos de ter assistido, mas que por motivos extras (horários ruins ou coincidência dos mesmos) nos foi impossível: Nas (show completo), Guided By Voices, Kate Tempest, Courtney Barnett, Carcass, Shellac, Fucked Up, Dream Wife, Soccer Mommy, Stereolab e alguna cosita más. Definitivamente, escolhas são perdas e ganhos. CONCLUSÃO Não somos radicais, aceitamos a todas misturas e vertentes da música desde que a mesma possua conteúdo e consequentemente, qualidade. Quem somos nós para criticar ou apontar dedos ao Primavera Sound? Muito pelo contrário, o mesmo nos ensinou e nos mostrou centenas de novidades nestas doze edições consecutivas que tive(mos) a oportunidade de participar, crescemos como profissionais graças ao universo Primaveral. Opinamos, porém que evoluções e mudanças são inevitáveis e sem as mesmas não se chega a lugar algum, mas quando estas ocupam posições de destaque dentro de algo que já está consolidado, há e haverá sempre um conflito de opiniões, aquela tradicional torcida de nariz. Imaginem que para o próximo ano, o Lollapalooza chegue ao Brasil com Lady Gaga ou Beyoncé em letras garrafais deixando em segundo plano quem sempre esteve dentro da filosofia do festival, qual seria a reação num geral? É mais ou menos isso, abrir espaço para todos os tipos de público e diluir as propostas dentro do mesmo evento é valido, caso contrário “dá ruim”. Continuaremos frequentando ao festival ou pelo menos assim queremos. Se o ambiente do Primavera e se essas mudanças permanecerão ou não, só o tempo dirá. Que venha 2020! Ou vamos 2020? Los Angeles é logo ali. - 69 -


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Texto Renata Pen | Foto Barbara Martins

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fundador das bandas Viper, Angra e Shaman deixa a cena do rock inesperadamente A notícia do falecimento repentino de Andre Matos deixou a nação roqueira devastada. Ele tinha acabado de apresentar-se no Free Pass Metal Fest III, no dia 02 de junho, com as bandas Shaman e Avantasia onde esbanjou saúde, por isso tamanha surpresa diante do acontecido. Sua trajetória será contada usando fontes de internet e relatos de pessoas que tiveram contato direto com ele desde seus 13 anos de idade. VIPER Em 1985, André começou na banda Viper, juntamente com seus amigos Pit Passarell (baixo), Yves Passarell (guitarra), Felipe Machado (guitarra) e Cassio Audi (bateria). Essa banda é tida como referência até hoje, por ser pioneira em trazer o heavy metal para o país do samba. Com ajuda financeira e por causa da influência do empresário Antonio Pirani (Rock Brigade), a banda pôde gravar e apresentar-se tanto no Brasil como também ter - 72 -


Foto: Leka Suzuki

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uma projeção internacional. E com esta alavancada, Andre foi reconhecido como uma das vozes mais poderosas neste estilo. Dois anos depois lançaram o álbum “ Soldiers of Sunrise” que foi bem aceito pelo público. Somente em 1989 lançaram o segundo disco “Theatre of Fate” com o tecladista Junior Andrade. Mas a vida fez com que as coisas fossem mudando e Andre acabou deixando a banda para dedicar-se ao seu estudo musical enquanto Pit assumiu os vocais dali pra frente. Com o intuito de celebrar 25 anos do primeiro álbum, o Viper então decidiu sair com a turnê “ To Live Again Tour”, em 2012.

Com a participação de Andre Matos, eles tocaram pela primeira vez o álbum na íntegra. Este show aconteceu no dia 01 de julho, em São Paulo. Foi uma data relevante porque Andre havia deixado a banda há 22 anos e esse reencontro entre amigos de infância foi de suma importância. Já em 2013, eles lançaram um DVD para deixar registrado essa turnê e ainda participaram do Rock in Rio no mesmo ano. ANGRA - 74 -

Com um estilo mais acelerado na bate-


ria, riffs e arranjos inovadores para a época, além de um vocal mais trabalhado e avassalador, Andre fundou a banda de power metal Angra, em 1991. Seus parceiros desta vez foram Rafael Bittencourt (guitarra), André Linhares (Guitarra), Luis Mariutti (baixo) e Marco Antunes (bateria), mas logo André cedeu o lugar para Kiko Loureiro. Nesta época André convidou o empresário Antonio Pirani para ajuda-los mais uma vez neste novo projeto. No começo eles ensaiaram por um ano para enfim lançarem a primeira demo tape, “Reaching Horizons”. Assinaram ainda com a

JVC e foram para a Alemanha para gravar seu primeiro disco. O primeiro show do Angra foi dia 17 de abril de 1993, no Black Jack em São Paulo. No fim de 1993 veio a obra prima, álbum responsável por trazer mais pessoas para o heavy metal e para serem devotos a isso a vida inteira. “Angels Cry”, contou com a participação de Kai Hansen, Dirk Schlacter, Thomas Nack (Gamma Ray) e Sascha Paeth (Heavens Gate). O estilo Power metal estava estourando na Europa e Japão com Helloween e Gamma Ray. Com isso deu uma impulsionada o que le- 75 -


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vou o Angra a ser o que ele é hoje. A turnê na ‘gringa’ já era a garantia de sucesso. “Angels Cry” chegou a terceira posição na parada internacional, pela venda de 106 mil cópias e ganhou até o disco de ouro. Em 1995, Andre Matos sofreu um problema nas cordas vocais após a turnê europeia. Por causa disso tiveram que parar as gravações no verão de 1995 e retornar ao Brasil para que o músico recebesse tratamento médico. Somente depois disso, ele voltou para a Alemanha para gravar sua parte em “Holy Land”. O período mais tenso do Angra foi na época do álbum “Fireworks”, em 1998. Isso foi um divisor de águas tendo desentendimentos com o empresário e mudança no line up. A data 23 de outubro de 1999 ficou marcada como a última em que Andre, Ricardo e Luis tocaram juntos. SHAMAN Formada em 2000 pelos sempre parceiros de banda Ricardo Confessori, Luis Mariutti e André Matos e, algum tempo depois, Hugo Mariutti juntou se ao grupo e completou a formação que durou até 2006. Eles tentaram trazer o nome Angra, mas esta denominação já era do empresário e dos outros membros, então precisaram escolher outro. Por sugestão de Luis Mariutti, Shaman veio e foi inspirada em uma música composta por André, “The Shaman” do álbum “Holy Land”. Após a escolha do nome, a banda partiu para o trabalho e fazer tudo acontecer. O primeiro álbum “Ritual” foi gravado inteiramente na Alemanha, tirando a percussão e instrumentos étnicos, o que fez deste álbum uma mistura de metal e elementos indígenas. Este trabalho teve aceitação extrema no Brasil e foi lançado em 15 países. Então, seguiram em - 77 -


turnê durante dois anos, viajando pelo Brasil, Ásia, América Latina e Europa. Com este final os integrantes foram tomando outros rumos. Assim outras bandas nasceram junto com outros projetos e histórias. O que estamos tentando fazer aqui é contar a trajetória de um cara humilde e reservado que trouxe muita gente para este mundo do metal com sua voz maravilhosa e um talento único. Mas vamos lá... Com diversos pedidos

de retorno e com tanta gente sentindo saudades em vê-los em cima do palco ou lançando algo novo, a banda resolveu retomar as atividades para um show de reencontro. Assim, o óbvio aconteceu. Deu sold out e tiveram que abrir mais uma data no dia seguinte. O sucesso foi tanto que isso virou uma turnê. Com todo esse sucesso, Andre começou a aparecer um pouco mais na mídia. Falou sobre seus projetos, suas aulas, seus objetivos e com isso os fãs criaram a expectativa de que o retorno ou o reencontro com os integrantes do - 78 -


Foto: Pei Fon

Angra seria breve.

questral, Composição Musical, habilitação em Canto Lírico e habilitação em Piano Erudito. Foi eleito o 77º melhor cantor brasileiro de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil. O novo empresário do Angra, Paulo Baron, estava conduzindo essa situação e tudo parecia que este tão esperado reencontro não tardaria. Andre preferiu preservar-se e não tinha contato com os integrantes do Angra durante estes 20 anos, mas não deu tempo. Sua vida foi ceifada aos 47 anos de idade por um

CARREIRA SOLO Andre estava sempre estudando e com isso adquiriu muito conhecimento, sendo até chamado de maestro. Seus projetos são: Virgo e Symfonia, além de ter feito participações especiais em bandas como Avantasia e Aina. Desde outubro de 2006 estava em carreira solo. Em seu currículo constam Regência Or- 79 -


Foto: Leka Suzuki

ataque cardíaco no dia 08 de junho de 2019. Todos entraram em pânico, porque uns dias antes um outro artista querido foi anunciado como morto e depois foi descoberto que era fake news. Mas a notícia do falecimento do Andre, infelizmente, não estava equivocada e isso arrasou o coração de toda a galera. Muita gente deixou seu depoimento nas redes sociais e contou um pouquinho ou até bastante sobre seu convívio com Andre e o quanto ele foi inspirador em suas vidas. E res-

peitando a linha de pensamento do músico, a família decidiu por não fazer velório e seu corpo foi cremado. “Se eu tivesse que ir embora deste mundo, iria feliz (...) Porque a gente pode dividir muita coisa com muitas pessoas. Isso é arte de verdade, uma das únicas coisas que valem a pena na vida”. André Matos - 80 -



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Texto e Foto Edu Lawless

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os campos afastados, cerca de 20 minutos do centro de Solvesbörg, região sul da Suécia, os fãs começam a chegar dos diversos cantos do mundo, e é quase certo que você ouvira mais de uma dezena de vezes que o Sweden Rock Festival é o melhor festival de Rock do mundo. Uma experiência simplesmente única, um verdadeiro clube de campo para os fãs do Metal. COMO CHEGAR Para muitos dos brasileiros que sonham, ou que já viveram esse sonho, e buscam diferentes formas de aterrissar no SRF, há algumas boas alternativas para fazê-lo, embora segue o aviso de se preparar bem para quatro dias de pura maratona. A cidade mais próxima do Festival é Solvesbörg, porém a cidade não possui quase nada em questão de estrutura hoteleira. As poucas alternativas existentes são normalmente fechadas pelos mesmos grupos de pessoas todos anos e com cerca de um ano de - 84 -


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antecedência. Atualmente alguns AirBNB tem surgido nos arredores, mas ainda assim de forma muito reduzida pela demanda. Para os aventureiros o camping ainda é uma excelente opção, mas deve se estar preparado para as intempéries e as frias noites da Suécia. Ainda pelos arredores do festival é possível encontrar algumas guest houses, espécie de AirBNB onde os hospedes tem lugar para dormir e deixar suas coisas, mas infelizmente é bem difícil de localizar e ‘bookear’ esses lugares, já que os mesmos são praticamente conhecidos somente pelo boca a boca. Uma das cidades próximas com boas opções de Hotéis é Kristianstaad, cerca de 50 minutos do SRF. É de lá também que parte uma das excursões de brasileiros que há 14 anos leva os fãs para o Festival. A excursão é realizada anualmente pela loja Animal Records e proporciona aos fãs a estadia, ônibus para o festival, ingressos e passagens áreas. DIA 1 - O “WARM-UP” A abertura dos portões do SRF, por assim dizer, é o dia onde todos começam a chegar dos diversos cantos do mundo, o reconhecimento do local, encontro com amigos de anos anteriores, e uma imensa confraternização. Ainda com dois dos palcos principais fechados as apresentações, o festival se deu início com a banda James Holkworth and The Coolbenders, formada por músicos ingleses e suecos, liderados por James Holkworth e que trouxeram um Rock clássico e de surpreendente energia para o público que ia se adentrando ao festival. Se alternando entre três diferentes palcos, os grandes destaques do dia ficaram por conta da banda italiana Black Mamba, com um surpreendente Hard Rock, atraindo uma imensa leva de fãs para o Rockklassiker Sta- 87 -


ge, único palco sob uma imensa tenda, que por vezes lembrava um grande circo. Nesta mesma tarde este também foi o palco para os brasileiros do Krisiun, mas que não atraiu a mesma quantidade de público. A noite veio com Joe Lynn Turner cantando os grandes clássicos de Rainbow, Deep Purple e Yngwie J. Malmsteen, tocando ao lado dos integrantes do Dynasty, outra grande banda de Hard Rock sueca que se apresentou na mesma noite e que vem ganhando cada vez mais espaço no cenário Hard Rock Europeu. A primeira noite do festival se encerrou ao som do Skid Row, que de certa forma decepcionou os fãs ao subir ao palco sem seu principal guitarrista Dave Snake Sabo. Apenas Rachel Bolan e Scott Hill da formação original estavam presentes. Apesar da boa performance do atual e novo vocalista ZP Theart (Ex-Dragonforce), para todos os fãs fica incomparável sua performance com Sebastian Bach. DIA 2 - AS APOSTAS E AS PRIMEIRAS DESPEDIDAS O segundo dia do festival começou de forma enérgica da mescla de punk e Southern rock dos canadenses do The Wind!, seguindo do ícone Blaze Bayley abrindo o segundo maior palco do Sweden. Dentre os grandes destaques do dia, há de se mencionar outros canadenses do Three Days Grace que arrastou uma grande multidão da nova geração de fãs do Metal Contemporâneo, enquanto Powerwolf também mostrou porque vem ganhando cada vez mais espaço no mainstream do metal mundial em uma performance incrível, uma banda que definitivamente deve ser ouvida. Já de maneira consagrada, Arch Enemy fez um show aparte com todo o talento que Alyssa White-Gluz trouxe a nova formação. Já - 88 -


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no palco principal uma das pratas da casa, os suecos do Amon Amarth davam outro espetáculo de luzes, efeitos e musicalidade. O apelo visual que a banda traz com sua música, deveria servir de exemplo para as bandas de Death Metal que buscam atingir níveis mais elevados no mainstream musical. Amon Amarth é sem dúvidas o KISS do Death Metal em termos de espetáculo. Outra menção honrosa ao segundo dia do festival vai para Tenacious D, banda formada por Jack Black e Kyle Gass, projeto que se originou do filme homônimo e que, por incrível que parece, tem uma imensa leva que fãs. Muito se ouvia que era uma das bandas que mais o público queria ver tocar. O grande clímax do dia veio com Def Leppard como principal headliner do dia. Sem grandes novidades do que a banda vem apresentando nos últimos anos, porém em um show sensacional, a banda levou todos seus clássicos e agitou a todos do festival. Em tom de adeus dos suecos – assim como o Krokus que já havia tocado na mesma tarde -, o Slayer fechou a última apresentação do dia em sua tour de despedida da banda levando aos seus fãs todos os clássicos da banda ao longo dos 36 anos de carreira. DIA 3 - A GRANDE DESPEDIDA ída da ex-vocalista Seraina Telli ocorreu durante o próprio festival, o que chocou de certa forma os fãs presentes, porém extremamente satisfeitos com a performance da nova vocalista. Outra banda bem exaltada pelo público foi o The Night Flight Orchestra, levando ao público um rock bem diferente baseado nos finais dos anos 70 e início dos 80 em tons bem vintage, um tanto inusitado quando se vê em seus integrantes Björn Strid e David Anderson (Soilwork) e Sharlee D’Angelo (Arch Enemy).

Para muitos a excitação do terceiro dia era uma grande mistura de felicidade e tristeza, afinal seria esse o ponto final do KISS na Suécia após seus quase 50 anos de carreira na estrada. Mas o dia começou com a grata surpresa do Burning Witches mandando um Heavy Metal clássico, que facilmente pode ser comparado a Warlock. O show marcou também o début para a nova vocalista Laura Guldemond (Shadowrise). Na realidade, o anúncio da sa- 90 -


Em termos de novidades, uma das ótimas surpresas do Festival foi o Hard Rock do Thundermother, trazendo uma energia sensacional em sua apresentação, tocando para o público seus principais sucessos, mas também baseando seu show principalmente no último álbum da banda. Os veteranos do ZZ Top eram um dos mais aguardados também do Festival, levando uma imensidão de fãs a sua apresentação. Porém, apesar de todos os clássicos da carreira, deve se deixar claro que é uma banda para ser

ouvida e não necessariamente assistida. Sem grande performance, por assim dizer, o show foi se tornando maçante diante do gigantesco palco ao qual se apresentaram. Era muito comum quase todo o público sentado a grama ou em suas cadeiras apenas tomando sol e ouvindo o som. Em contrapartida, um dos novos nomes do metal, Disturbed, levou à loucura desde ao público mais novo até os mais conservadores, em uma grande apresentação. Ao cair da noite quase todos presentes - 91 -


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do festival se espremiam diante do palco principal para mais uma, e a última, apresentação do KISS no SRF. Ao cair da bandeira com a inscrição KISS, o público foi literalmente ao delírio, o que não é muito comum de se ver na Suécia. Como sempre um espetáculo à parte, porém com o real tom de despedida, principalmente com os primeiros tons de voz de Paul Stanley, que literalmente perdeu totalmente a magia da sua voz, e visivelmente se esforçando demais para atingir algo próximo do que o foi no passado. Os anos chegaram para eles, mas o espetáculo continuou sendo um dos maiores do rock na terra. Com exceção a esse detalhe, tudo mais foi fantástico, incluindo o set list que trouxe algumas músicas com Heaven’s on Fire e Crazy, Crazy Night em um singular tom dançante. DIA 4 - O FINAL O último dia do Festival é praticamente um dia de relaxamento, todo mundo interessado em relaxar mais e curtir mais. Uma pequena parcela do público acaba por deixar o Festival durante o último dia. A manhã veio com uma surpreendente chuva forte, ao mesmo tempo que se abriam os portões. A primeira banda a tocar era uma banda local de Solvensbörg, Dust Bowl Jokies, o que levou muito do público presente enfrentar a chuva para prestigiar o ótimo som do moderno Hard Rock sueco. Dentre os destaques do último dia, podemos citar o Heavy Metal mais clássico do Beast in Black; e o Hard Rock dos suecos do Electric Boys. Outras duas bandas muito aguardadas que trouxeram os clássicos dos anos 70 e 80 foram o Styx, liderado por Tommy Shaw e James Young e; e mais uma despedida dos palcos de U.F.O. após 49 anos de carreira na estrada. - 93 -


Enquanto todos se direcionavam para o palco principal para ver Saxon, o Green Jelly levou a um dos palcos secundários uma apresentação divertidíssima que levou o público ao delírio. O ‘Comedy Metal Punk Rock’ dos americanos colocou no palco vários fãs com imensas mascaras que atuaram e se divertiram com a banda. Músicos iam para o meio do público e faziam uma interação surpreendente. Um show à parte! Mas ao final da tarde foi a vez de mais uma das grandes ilustres pratas da casa, os suecos do Hammerfall, alavancarem uma multidão para seu show. O grande headliner da última noite ficou a encargo de Richie Blackmore’s Rainbow. Um show completo de clássicos da banda, e alguns do Deep Purple, como não poderia deixar de fora, extremamente bem interpretado pelo vocalista espanhol Ronnie Romero. Talvez o único ponto baixo tenha sido a introversão de Richie em ter qualquer conexão com o público, pois pouco se via ao menos ele olhando para o público e muitas vezes tocando de costas para o mesmo. Faltou tato para um dos mestres da guitarra. Com o cancelamento da banda Behemoth no início da tarde do mesmo dia, coube a banda tunisiana Myrath fechar as cortinas do espetáculo. A banda que já havia se apresentado em um dos menores palco do festival, fizeram uma apresentação incrível que levou a produção a convidá-los para fechar o festival. Com isso a banda fez sua segunda apresentação no dia, com um show sensacional e uma grata surpresa. Em uma mistura de Prog e Power Metal, a banda trouxe ao palco elementos típicos de sua cultura dentro de sua musicalidade, com dançarinas e performances de pirotecnia, fechando assim em grande estilo mais uma edição deste aclamado Festival. - 94 -


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Texto Barbara Lopes | Foto Leca Suzuki

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m sua terceira passagem pelo Brasil, os gregos do Rotting Christ se apresentaram em São Paulo, no último dia 31, para divulgação de seu trabalho mais recente, “The Heretics”, lançado em fevereiro deste ano. O evento aconteceu na The House, antigo Hangar 110, local bem conhecido dos headbangers – em especial dos fãs do Rotting, palco das últimas apresentações. A abertura ficou por conta dos equatorianos do Total Death. Composta por Ider Farfán (vocais/guitarra), José Santelices (guitarra/backing vocal), Carlos Moreno (baixo) e Danny Molina, a banda apresentou o som bem peculiar, doom com influências death e letras em espanhol. Os vocais de Farfán eram bem viscerais, com alternância limpa em alguns refrões. Os - 98 -


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riffs eram pesados com eventuais toques melódicos. O público não estava tão agitado – e casa também não estava tão cheia naquele momento -, que não deixava de prestar atenção na apresentação e contemplar com aplausos no final de cada música. Foco para a faixa “My Suicide Light”, cantada em inglês, com ar mais melódico e melancólico, em um estilo quase Woods of Ypres. O show foi finalizado com duas faixas pesadas e densas, com Total Death mostrando a satisfação e a honra de ter aberto para a monstruosidade chamada Rotting Christ. O público começou a ficar frenético ao ver a montagem do palco – feita inclusive pelos novatos Stamatis Petrakos (ou Melanaegis – baixo) e Giannis Kalamatas (guitarra), trajando moletons com capuz em uma tentativa de disfarce ou camuflagem com a equipe técnica. Os espaços vazios na casa já não eram mais vistos, como se o público tivesse se multiplicado. A banda entrou e os fãs foram à loucura, Themis Tolis assumiu a bateria e o irmão Sakis foi o último a entrar, anunciando que eram “the Devil’s music”, engatando com a faixa “Hallowed Be Thy Name”, do recém lançado “The Heretics”. Uma execução incrivelmente intensa – como o resto do show – que inclusive deixou boquiaberta a presente repórter que vos escreve, realmente difícil encontrar palavras para descrever toda aquela energia. Com uma sincronia indefectível, presença de palco e muita vontade de mostrar o trabalho para o público, a banda apresentou músicas também de álbuns passados. Afinal, há muito material em trinta anos de carreira que infelizmente não dá para ser reproduzido em mais de uma hora de show. “Fire, God and Fear” foi introduzida como faixa do novo álbum, cheia de energia e - 100 -


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peso, em total sintonia com o público ansioso. Sakis interagia bastante com os fãs, arranhando algumas palavras em português (e contagens de um a quatro), e esses respondiam de maneira calorosa. “Apage Satana” foi um exemplo bem claro, com o vocal vociferando e obtendo uma sincronia hipnotizante da galera, em um quase ritual. “Dies Irae” mostrou que se você gosta da banda em estúdio, se apaixona ao vê-la ao

vivo, com uma execução bem pesada, e “The Forest of N’Gai”, com uma vibe mais oldschool e super ritmada. Sakis pediu uma roda em “Societas Satanas”, cover de Thou Art Lord, que foi prontamente atendida pelos fãs, de maneira igualmente intensa. O vocalista já havia pedido outras vezes, mas a impressão era de que o público estava fixado demais para começar uma. Os integrantes se viraram de costas e come- 102 -


çaram “In Yumen-Xibalba”. Um momento incrível e realmente me perguntei o que deveria passar na cabeça dos caras naqueles exatos segundos, com toda aquela energia e euforia dos presentes. Mais uma vez, a sincronia dos vocais com os backings foi admirável, em uma construção incrível. “Under The Name of Legion” foi introduzida como a última música daquela apresentação, e logo a banda deixou o palco. Mas

os gregos logo voltaram, com Sakis perguntando, em português “Querem mais uma? Mais duas?”, fechando o encore com “The Sign of Evil Existence” e “Non Serviam”. Uma apresentação claramente memorável, enérgica do começo ao fim, superando todas as expectativas e justificando o apreço de todos aqueles fãs, que vestiam camisetas estampadas com as mais diversas artes de todos esses anos de carreira. - 103 -


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Texto e Foto Marta Ayora

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o dia 30 de maio, a casa de shows Espaço das Américas, em São Paulo, recebeu o espetáculo “The Queen Extravaganza”, um tributo oficial idealizado e produzido pelo baterista Roger Taylor e pelo guitarrista Brian May, integrantes originais de uma das maiores e mais cultuadas bandas de todos os tempos, a banda inglesa Queen. Com direção musical feita pelo tecladista Spike Edney, que acompanhou o Queen ao longo de sua carreira, “The Queen Extravaganza” vai muito além de um tributo, pois transporta o público ao passado para celebrar os grandes clássicos de uma das bandas mais representativas do mundo da música. A banda conta com músicos de vários países escolhidos a dedo pelos próprios Roger e Brian, e para o nosso orgulho entre eles está o brasileiro Alírio Netto nos vocais. Completam o time de peso Brian Gresh na guitarra, François-Olivier Doyon no baixo, Darren Reeves no teclado e Tyler Warren na bateria. Com uma voz potente que impressiona e muita presença de palco, Alírio demonstrou muita energia e carisma que levou o público ao - 106 -


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delírio durante os 90 minutos de apresentação e um repertório poderoso que reuniu mais de vinte clássicos do Queen como “Another One Bites the Dust”, “Under Pressure,” “Crazy Little Thing Called Love“,“Bohemian Rhapsody”, “A Kind of Magic”, “Radio Ga Ga”,” We Will Rock You/We Are the Champions“ ,“Killer Queen”, “Somebody to Love”, entre outros. Como fã declaro do Queen, Alírio criou a atmosfera desejada para daqueles que não tiveram a oportunidade de ver o Queen em seus tempos áureos com o inesquecível Fred. Por fim, só desejamos que retornem.

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Texto Ana Paula Soares & Mauricio Melo Foto Mauricio Melo - Snap Live Shots

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m cartaz de luxo, entradas esgotadas em tempo recorde e uma visita a Madrid três dias antes de aterrissar em Barcelona. Sem dúvida nenhuma estava tudo dentro do esperado… Daí veio aquela chuva e… ninguém se importou. Foi uma tarde/noite épica que já faz parte da história recente do Punk Rock (melódico) e um cartaz que, como dito anteriormente, era de alto nível. E o que nos deixa pra lá de curiosos só de imaginar a proposta de oferecer algo superior para o ano que vem. Responsáveis de abrir o festival, o The Bompops brindou o público com uma boa atuação, aquela velha combinação de Califórnia, Punk Rock, duas meninas se revezando nos riffs de guitarra e vocais. Combinação que não falhou e mesmo se auto definindo como os bebês do festival, devido ao pouco tempo de estrada quando comparados com outros nomes, demonstraram estarem à altura do Punk in Drublic. Na sequência recebemos os velhos conhecidos do Less Than Jake que, por coinci- 112 -


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dência, havíamos visto uma única vez e justamente em turnê com o Bad Religion (Montreal 2002). Naquela ocasião, a turma de Bentley e Graffin lançava o The Process of Belief. Vale ressaltar que o grupo manteve quase intacta sua formação, talvez o segredo maior de não perderem a boa qualidade de seu show, ainda que curto. Chris Demakes (vocal) e Roger Lima (baixo) interagiam de maneira constante com o público e ainda nos deixaram um bom punhado de músicas como “Short Fue Burning”, “She’s Gonna Break Soon” e “Last One Out of Liberty City”. Seguindo a linha do Less Than Jake tivemos o Mad Caddies, também com seus instrumentos de sopro, guitarras Telecasters e semiacústicas para dar um clima de festa a mais com muito Reggae e pitadas de Punk. Não tivemos a oportunidade de conferir o cover de “She” (Green Day) ao que muitos esperavam, mas sim vimos a primeira aparição de Fat Mike no palco, fazendo coro em uma das músicas. O clima de primavera/verão mudou e o ritmo da tarde que naquele momento já havia virado noite também. Junto ao Lagwagon chegou a chuva, que até então tinha dado uma trégua. Um pouco incomodo para os fotógrafos que se viravam como podiam, nada incomodo e até divertido para o público e tudo 100% no palco com o quinteto descendo a madeira com um setlist de hits, destes que não falham num festival como o Punk in Drublic. O baixista utilizava uma camisa que dizia “Joey Cape is Bulshit”, o próprio exibia uma camisa da Rihanna e pouco mais pudemos conferir no meio do caos improvisado que foi fotografar, filmar e assistir algo da apresentação. O público sim se divertiu pacas com “Razor Burn”, “Falling Apart”, “Sick”, “Sleep”, “Making Friends” e “Alien 8” e outras mais. Ficou obvio que no festival havia o primeiro e o segundo tempo e o Lagwagon foi a banda responsável de avisar - 114 -


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sobre isso. A entrada do Bad Religion só veio a confirmar o que foi dito acima. Dentro de todas as bandas que compunham o cartaz, era a banda de expressão máxima dentro do Punk Rock melódico. A sensação imediata foi de que todas as outras bandas não passaram de uma abertura de luxo e quem realmente mandava no pedaço era Greg Graffin, Jay Bentley, Mike Dimkich (The Serb or Chewing Gum), Jamie Miller e é claro, Brian Baker. O por-

quê do destaque a Baker? Simples, além de ter formado parte de uma das maiores bandas da história do Hardcore, o cidadão descarrega riffs únicos com uma cara de tranquilidade e com uma soberania admirável, nada mais do que isso. Graffin mantém uma voz impecável e sinceramente, só sabemos que o tempo passou para o mesmo devido a seus cabelos brancos. Já Bentley se mantém jovial, camisa cortada, sorriso estampado do rosto quase de maneira permanente, se movimenta, vibra, faz os ba- 116 -


cking vocals com maestria. Abriram o set com “Suffer”, “Fuck You” e “Generator” antes mesmo de dar um boa noite, um prenúncio de uma noite memorável, como assim foi. Exceção para “Do The Paranoid Style” e “My Sanity” do recém lançado Age of Unreason, bom disco, mas que não chegou a tempo de emocionar tanto o público como “I Want To Conquer The World”, “No Control”, “You”, “American Jesus ou 21st Century (Digital Boy) ”, que teve invasão surpresa de Fat Mike, a cara de espanto

dos integrantes do Bad Religion está registrada em imagens. Graffin chegou a “reclamar” que no momento de surpresa quase lesionou suas costas. Please Mike, don’t kill the elder guy!!! Havíamos avisado que as invasões surpresa de Fat continuariam com o decorrer do festival. Em reta final e debaixo de uma boa chuva, o NOFX subiu ao palco para mais uma de suas aparições, assim mesmo podemos definir suas apresentações. Típica banda que deixa - 117 -


claro sua proposta, tocar Punk Rock, fazer piada, receber objetos voadores no palco (sapatos, copos, bonés ensopados pela chuva, etc). Protagonistas e praticamente donos da turnê, chegaram avisando que tinham conhecimento das críticas que a banda recebe de que falam mais do que tocam e que não mudariam porra nenhuma naquela noite. Bem, quando tocam sacam da cartola músicas como “60%”, “Six Years on Dope” e “Les Champs-Elysées”. Finalizaram o set com “Don’t Call Me White” e “Kill All the White Man”. O festival no recinto principal havia terminado, mas não havia dado seu último suspiro. Ainda restava assistir de perto o Anti-Flag num “after” na pequena sala Upload, passamos de ser 5.000 pessoas a sermos 300 espremidos. Foi praticamente um show privado no qual vimos um quarteto que igualmente

desfilou seus hits. Abriram com “Die For The Government” e o público se conectou automaticamente, foi como riscar um fósforo num barriu de pólvora. “Broken Bonés” veio na sequência sendo preenchido com os primeiros stage divers (nível profissional). Entre músicas mais virais e outras mais leves, contabilizamos quase duas dezenas de canções com “Fuck Police Brutality”, “Turncoat” e “Power To The Peacefull”. Nem tão vibrante quanto o público estava El Hefe do NOFX conferindo de perto o show do quarteto que encerrou a noite com sua tradicional descida de palco, parte da bateria montada no meio do povo e Chris #2 cantando junto da galera. E lá se foi o tempo em que o Primavera Sound abria a temporada de festivais na Espanha.

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Texto Renata Pen | Foto Marta Ayora

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pós uma turnê ao lado dos ex-parceiros do Guns n’ Roses, Slash voltou ao Brasil com seu trabalho solo só que, desta vez, trouxe também outros grandes nomes da música com ele. Este é o quarto projeto solo de Slash e o terceiro ao lado de Myles Kennedy (Alter Bridge). A banda é composta por Todd Kerns (baixo/backing), Frank Sidoris (guitarra base) e Brent Flitz (bateria). Com oito shows agendados para o Brasil, a banda seguiu o mês de maio levando alegria para onde foram: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Uberlândia, Brasília, Recife e Fortaleza. Estivemos no show em São Paulo, no dia 25/05/19. A casa de shows Espaço das Américas acolheu um grande público, recebendo gente não só de São Paulo, mas os fãs que estavam seguindo a turnê por onde passou. - 122 -


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A abertura ficou por conta da banda paulista República. Leo Beling (vocal), LF Vieira (guitarra solo), Jorge Marinhas (guitarra base), Marco Vieira (baixo) e Mike Maeda (bateria). República está na ativa desde 2011, tendo seu último álbum lançado em 2017 “Brutal & Beautiful”. Fizeram uma apresentação calorosa, o que agradou bastante ao público. Slash e a gang entraram pontualmente às 21h30 prometendo provar que este recente projeto era mesmo algo mais coletivo e forte. Apesar do cansaço da turnê em si (eles tinham vindo do Sul em um ônibus e Myles afirmou não ter dormido), fizeram uma apresentação gratificante, tocando praticamente músicas de seu trabalho solo e desapontando quem esperava ouvir mais músicas de sua ex banda. Apenas “Nightrain” foi executada e pode se dizer que esse foi o ponto alto do show, porque todos ali souberam cantar esse clássico do rock n’ roll. O riffs de Slash são sua marca registrada e os arranjos, executados com perfeição e estilo. Desta vez ele abusou do seu estrelismo em “Wicked Stone”, onde solou por mais de 15 minutos. Pra quem gosta, ótimo! Mas as pessoas ali presentes demonstraram cansaço devido aos solos tão longos enquanto os outros músicos ficaram ali esperando ele terminar, mesmo todos tendo sua chance de solar também, porém por menos tempo. Todd ganhou vários corações com sua presença de palco e, até cantando, enquanto Myles ficou em cima de um lugar mais alto do palco onde podia ser melhor visto. A apresentação durou cerca de duas horas e o repertório foi baseado no último trabalho deles “Living the Dream”.

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