Rock Meeting Nº 132

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WORDS OF EDITOR

... ONZE ANOS E CONTANDO

A

. PEI FON @PEIFON JORNALISTA FORMADA PELA UFAL, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING

Rock Meeting completa 11 anos de atuação como mídia especializada no Brasil e estamos caminhando para algo maior, porque tem que ser assim, manter a ambição e construir caminhos que te levem para o seu objetivo: coerente, sincero e sendo honesto consigo e com todos os que estão ao seu redor. E assim foi durante todo esse período. Pessoas vieram e já foram; mas outras chegaram. É cíclico. A vida é assim, e sempre será. Todos que aqui estiveram deram sua contribuição para a Rock Meeting ser o que é hoje. Buscando ainda mais conectar pessoas e bandas, a nossa missão é transparente, livre de amarras, comprometida em levar a informação, como deve ser. No entanto, dois capítulos, em específico, quase puseram nosso trabalho por água abaixo. Essa questão está se tornando um hábito da cultura do cancelamento. Ela nasceu faz tempo, só não tinha nome. Mas já sofremos com isso. É importante compreender que nenhum caminho é simples. Conquistar não significa apanhar, mas que haverá percalços até aquela “pedra no meio do caminho”, que o escritor Carlos Drummond de Andrade já falava.

Não existe alguém nessa vida que tenha conquistado seu objetivo sem dificuldades. Sabe por quê? É crescimento, ensinamento. Todo problema que vier pela frente é um aprendizado, pois quando acontecer novamente, você já sabe como lidar e vai remar nesse mar turbulento sabendo como navegar. Bem, assim foram esses 11 anos com a Rock Meeting. Crescer não é sofrer, é aprender. Quem ainda acha que só vai obter resultado sofrendo, é melhor rever seu ‘modus operandi’, porque não é bem assim. Vale lembrar das duas situações distintas num momento de alegria, sim. É para ter os pés no chão, lembrar que não foi fácil chegar até onde está. Tem que olhar para trás e agradecer, porque sem isso, não haveria a força motriz que geraria esse passo adiante. A Rock Meeting vai alçar voos ainda mais altos. Não é uma promessa vazia, pois isso se chama trabalho. A partir desta edição, a RM inicia a sua nova identidade, mais moderna, abrindo um novo ciclo de possibilidades e aventuras. Vamos ver o que o amanhã no guarda. O passo já foi dado. Agora é olhar para frente e buscar por novos ares.



SUMÁRIO 2020

27 73 63

07. BRENTAN ONE MAN BAND 15. THE MANTOR NOVA FORMAÇÃO 27. EUTENIA NOVO ÁLBUM NO FORNO 39. ODEON NOVO SINGLE EM BREVE

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51. RECKONING HOUR DIFERENTES INFLUÊNCIAS 63. VITALISM DJENT MADE IN BRAZIL 73. KADINJA PAIXÃO E VIRTUOSISMO 93. BY FIRE & SWORD LUZ EM FORMA DE MÚSICA 107. THE DAMNNATION POWERTRIO FEMININO

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119. CHAOSFEAR NÃO SE PRENDE A UM ESTILO


DIREÇÃO GERAL Pei Fon DIREÇÃO EXECUTIVA Felipe da Matta CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan PROJETO GRÁFICO @_canuto

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COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Fernando Pires Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade Renato Sanson Samantha Feehily UIllian Vargas CONTATO contato@rockmeeting.net

WWW.ROCKMEETING.NET

ANDY CIZEK “QUERO MOSTRAR AO MUNDO QUE POSSO SER GRANDE”




INTERVIEW . BRENTAN

POR BARBARA LOPES // FOTO BRUNO SESSA

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abriel Brentan, responsável pela (homônima) one man band Brentan, conversou conosco sobre sua jornada musical, como enxerga o nosso atual cenário e as influências do seu legítimo som: uma mistura de vários estilos modernos distintos com rock n’ roll.

Brentan, conta para nós como tudo começou? Como nasceu o seu projeto solo? Primeiramente, muito obrigado pelo convite, é uma honra estar aqui! Tudo começou quando eu tinha apenas oito anos de idade, minha família sempre gostou de rock and roll, desde os clássicos aos mais pesados. Meu pai tinha uma guitarra com alguns pedais antigos, e eu pegava e ficava tocando Iron Maiden tudo 8 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

errado (risos). Eu aprendi algumas notas naquelas revistas de música, e foi onde tudo começou. Eu queria tocar guitarra igual o Iron Maiden, me inspirei muito no Dave Murray, muitos me perguntam se eu já fiz aula, mas foi tudo na raça mesmo. A vontade de tocar sempre foi muito grande e comecei a aprender de ouvido, assim como também acabei aprendendo a tocar bateria, baixo e alguns outros instrumentos. Minha primeira banda foi a Affortiore, temos alguns trabalhos ainda disponíveis, foi diferente porque chegamos à necessidade de ter um vocal clean, e eu morria de vergonha de cantar. Foi aí que comecei a estudar sobre canto, e hoje sou muito grato por isso. Foi com eles que comecei a aprender um pouco sobre



INTERVIEW . BRENTAN

PROCUREM AJUDAR AS BANDAS UNDERGROUNDS, PORQUE TODOS FAZEM POR AMOR

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“sete cordas”. Eu já gostava de algumas bandas na época como Periphery, Architects e outras, então foi uma experiência muito legal começar a utilizar guitarras de sete cordas. Após esse tempo de Affortiore, nós acabamos dando uma pausa e foi aí que eu decidi começar o meu projeto, eu nunca quis parar, eu vivo pra fazer isso, é o que amo fazer. Então, esse projeto Brentan é o começo da minha jornada, onde estou trabalhando nas composições e gravando o

projeto todo sozinho. Como você enxerga o rumo que o estilo mais moderno tem tomado dentro do Metal? Por que você escolheu seguir nesse estilo? Eu vejo muito potencial em muitas bandas desse estilo. A primeira vez que eu ouvi, eu acabei me identificando muito, era o tipo de som que eu sempre quis fazer. Por esse motivo, eu quis fazer um som nessa pegada. O que te atraiu a escutar


esse estilo e tocá-lo? Qual foi o ponto fundamental para investir nesse som? É engraçado porque na época um amigo meu gostava muito de Slipknot, comprávamos alguns CDs e DVDs pra ouvir no fim de semana. Uma vez, encontramos uma banda muito boa em um dos nossos DVDs, essa banda era o As I Lay Dying, e eu acabei gostando muito de metalcore. Daí em diante acabei conhecendo bandas novas, como as que citei, e foi quando comecei a fazer meus sons seguindo uma ideia parecida,

mas colocando um pouco de EP, estou muito feliz com o resultado também, estou danrock and roll no meio. do o meu melhor. Por enquanto você tem um single lançado, com O seu som é autêntico e clipe. Como pretende moderno. Quais foram as manter a dinâmica de di- suas referências? Venho ouvindo muitas banvulgação das músicas? Esse single foi um teste que eu das diferentes ultimamente, acabei fazendo comigo mes- como Bring Me the Horizon, mo, se eu seria capaz de fazer Periphery, Gojira, Architects, isso sozinho, e eu estou muito Spiritbox, Devin Townsend e feliz com o resultado! Eu tive muitas outras. Pode ver que é muitos resultados positivos, uma mistureba (risos). muitos amigos me apoiando e algumas portas se abrindo, Seu público base é o pesrealmente estou muito feliz. E soal mais jovem, certo? agora eu estou finalizando um Quais peculiaridades e


INTERVIEW . BRENTAN

potenciais você enxerga nele? A maior parte são jovens, mas por incrível que pareça, tem uma galera das antigas que me deu um feedback muito legal! Eu espero que eu possa agradar a todos, estou me esforçando muito para trazer um bom resultado e um tipo de som que as pessoas escutem e se identifiquem, afinal, hoje em dia as pessoas estão muito mais ecléticas, com a mente mais aberta… Então acho que o pessoal vai aceitar bem. O que você pensa sobre o mercado fonográfico nacional e internacional? Tudo que eu estou fazendo é por minha conta, é muito difícil estar fazendo isso sozinho, porque o investimento é alto e sabemos que não temos retorno, fazemos porque amamos, mas somos sonhadores e não podemos desistir, a gente dá o nosso melhor. O mercado é difícil, têm muitos artistas talentosos por 12 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


aí, a maioria das bandas param e acabam porque sabemos que o Brasil é muito difícil para o rock and roll, mas há diversas bandas por aqui que são sensacionais… Se alguém falar que o rock está morto é mentira (risos). Tenho muitos amigos no mesmo estilo e fazem um trabalho incrível, procurem ajudar bandas undergrounds, porque todos fazem por amor. Como é a busca por gravadoras que apoiam o seu estilo? Acredita que é melhor trabalhar com gravadora ou lançar por um selo independente? Acho que tudo o que eu falei acima já se resume nisso, é muito difícil você encontrar alguma gravadora ou conseguir contato com alguma diretamente, a maioria acaba escolhendo ser independente, porque o caminho para chegar até alguma gravadora é um caminho difícil demais. Eu adoraria conseguir, assim como todos que têm bandas no mesmo estilo, mas sabemos que para conseguir isso é muito, mas muito difícil mes-

mo. Mas sempre temos que ter a esperança de que isso pode mudar um dia, nunca sabemos o dia de amanhã. O que você acha que o futuro nos reserva? Como você pensa que vão ser as formas de consumo de música, formas de apresentações, busca por novos artistas, comportamento do público...? A tendência está cada vez mais digital, né, eu mesmo procuro bandas novas em playlists no próprio Spotify, YouTube também... Ainda tem a galera que consome merch e tudo mais, CDs, discos... Eu mesmo adoro essas coisas, mas o mundo digital acaba facilitando muito, e a tendência é só aumentar. Quais são as “dores” e as “glórias” de ser um one man band? A parte de investimento é complicado, é você sozinho tomando conta de pagamentos, gravações, divulgações... É muito esforço e muita dedicação. Confesso que é bem cansativo, sentar e compor


INTERVIEW . BRENTAN

é uma experiência diferente também, você está ali sozinho pensando em tudo: guitarra, bateria, vocal... Chega uma hora que você precisa deixar de lado, descansar a mente e continuar no outro dia, sabe? Mas quando você vai para o estúdio, começa a gravar e a música vai tomando forma, é uma sensação incrível! Eu estou muito feliz fazendo dessa maneira, e eu não me arrependo, muito pelo contrário, eu quero fazer muito mais. 14 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

O que podemos esperar de Brentan ainda neste ano? Fica o espaço para as suas considerações. Muito obrigada por conversar conosco, sucesso! Este ano eu vou lançar o meu primeiro EP, sendo quatro faixas e duas delas com participações de dois artistas que admiro muito, isso ficará no suspense (risos). Estou muito feliz por ter assinado com a Solar nesses últimos dias, e também

vai haver algumas novidades com essas guitarras, que são incríveis! Eu agradeço muito a Montreal Music Shop que me ajudou a dar esse passo incrível na minha carreira, como eu sempre digo, eu amo fazer parte do time dessa loja, quem quiser, venha conhecer a gente.

Eu agradeço muito o

convite e foi uma grande honra participar disso com vocês! Muito obrigado!



INTERVIEW. THE MANTOR

POR UILLIAN VARGAS // FOTO DIVULGAÇÃO

A

música, como um dos elementos mais preciosos da arte, presenteou nossa existência com uma infinidade de gêneros e estilos. E desde seu surgimento, que perpassa a história da própria humanidade, as melódicas sonoridades são responsáveis pelas mais belas sensações e sentimentos. E se a humanidade modificou, a música também foi impactada por essas mutações. E com o passar dos tempos foi incorporando nova roupagem e assumindo novas formas para se adaptar aos novos ouvintes (ou criar grupos de fãs). É nessa transformação pulsante que o Djent desembarca em 2020 cada vez mais consolidado e se inspirando em toda a trajetória da música para dar vida a composições impressionantes. Em 2019, surge o The Mantor para ser mais um 16 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

agente dessa transformação constante. Capitaneado pelo guitarrista Ed Garcia, The Mantor é formada por Heber Van Geburt (Baixo), J.P (Vocal), Lo Ferrera (Vocal) e o recém chegado Oliver (bateria, que antes era pilotada por Dirk Verbeuren). E nessa conversa com Ed Garcia, ele nos traz um pouco sobre a banda, inspirações e como foi o processo de ter trabalhado com Dirk Verbeuren (atual baterado Megadeth). Nascidos em 2019, The Mantor deu seu suspiro inicial sob os cuidados de gente com muita experiência. Pode nos contar um pouco sobre esse início? De como foi esse processo ousado de montar um grupo com nomes tão fortes? Ed Garcia - Foi uma expe-



INTERVIEW. THE MANTOR

riência incrível mesmo. Alguns anos atrás, eu tive muita vontade de voltar a ter uma banda com vocais, mas meu trabalho com a minha banda instrumental (Vitalism), estava consumindo todo o meu tempo. Em 2019, foi possível realizar isso. Eu tinha algumas letras escritas aqui, que queria “colocar” realmente para frente através de composições pesadas e poderosas. Eu tinha um sonho desde os 19 anos de idade (tenho 32 agora) de ter algum som mixado ou masterizado pelo produtor Adair Daufembach. Já somos amigos na internet há 18 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

bastante tempo, mandei uma mensagem para ele, dizendo que estava com um projeto novo nas “mangas” e que queria que ele fizesse a produção final. Fizemos uma live, e durante a mesma via messenger, ele me perguntou quem seria o baterista que iria gravar aquelas músicas absurdas (risos). Eu falei que não tinha nenhum nome. Em seguida, ele me falou, vou falar com o Dirk Verbeuren pra ver se ele topa gravar (risos)…. e foi assim que começou. Sobre esses nomes de peso, como foi ter traba-


lhado com o Dirk Verbeuren? Foi algo surreal. Um músico de outro patamar. Muito profissional, comprometido e com um performance PERFEITA. Como uma banda de metal moderno consegue manter a presença do Violão no estilo clássico espanhol em Mea Culpa (2019) de forma tão harmônica? Eu sempre tive a influência erudita e latina, envolvida na minha forma de tocar. Essa “peça” dedilhada, do início


INTERVIEW. THE MANTOR

A CADA TEMPO E TRABALHO QUE PASSA OU É LANÇADO, FICA AINDA MAIS DIFÍCIL CRIAR ALGO E COM QUALIDADE

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da “Mea Culpa”, é algo que já tenho escrito a pelo menos 12 anos. Mas nunca tinha conseguido encaixar em uma composição minha. Não é desafiador essa mescla do antigo e o novo, atuando de forma conjunta e falando a mesma linguagem? É muito desafiador. E muito difícil. As pessoas acham que é porque eu componho esse tipo de coisa, então é fácil para mim (risos). Na verdade, a cada tempo e trabalho que

passa ou é lançado, fica ainda mais difícil criar algo e com qualidade. Mesmo com projetos paralelos rodando ao mesmo tempo, qual o segredo de manter o foco nas composições características para o The Mantor? É um trabalho mental e psicológico. É como se fosse um laboratório de artes cênicas na minha cabeça. Eu realmente preciso me isolar de um forma diferente, para criar composições para cada banda. Eu co-


meço pelos instrumentos. As guitarras que uso em uma, eu não uso na outra. Mudo o figurino de uma para outra. Até a altura da correia eu mudo para cada banda. São dois Ed GARCIAS (risos). Mas é sério, é um ritual de personificação da missão de cada artista.

Entre as melodias rítmicas e os breakdowns, existem as gloriosas pontes. Essas são as coisas mais importantes para mim. De acordo com cada ponte, seja um solo, uma frase técnica, ou algo simples, mas marcante, por te levar para milhões de caminhos. Se as pontes podem unir nações, na música não é diferente. As pontes podem te levar para qualquer coisa, peso, melodia, jazz, breakdown, etc.

Como funciona essa química do ajuste das melodias rítmicas e os breakdowns? Você pensa em um primeiro depois ou outro? Ou simplesmente Meshuggah praticamenvão surgindo no processo te liderou uma geração criativo? inteira de “Djenters”. Na

hora de transformar as ideias em composições, para a The Mantor, quem são as suas maiores inspirações? Acho que In flames, The Faceless, Soilwork, Bad Wolves…. acho que é isso. Quase todas no death melódico. É o gênero que o The Mantor flerta mais. O Djent chegou ao mundo guarnecido pela chegada da internet. Achas que essa globalização ajudou na construção da linguagem sonora do estilo?

Foto: Lucas Menezes


INTERVIEW. THE MANTOR Fotos: Lucas Menezes

Ajudou muito. Principalmente porque as bandas surgiram de forma independente, criando uma base sólida de fãs através de fóruns (No início principalmente SevenString. org era um site gigante em 2012), páginas de Facebook (iT Djent) entre outras coisas. Sempre que se inicia um novo movimento, se agita uma camada de poeira que estava acomodada por muito tempo. Natural que se perceba uma alte22 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

ração no estado natural das coisas, mas também se percebem os “novos ouvidos” curiosos. Como tem acontecido a aceitação das composições da The Mantor no cenário atual? Está sendo uma sensação especial. Principalmente, porque as pessoas têm muito a minha imagem ligada ao Vitalism. Às vezes até pensando que só tenho ideias para tal, e tudo se esgota depois das gravações (risos) e não é. Tenho

composições até para MPB. Eu componho muito, diariamente. Por isso que às vezes os músicos fazem outros trabalhos, para aplicar essas ideias que nem sempre tem espaço em uma determinada banda. Uma pergunta mais pessoal agora, inspirado no Ep Vera (2019). Ainda que um Ep pesado, passagens rápidas e vocal agressivo, há muito sentimento sendo dito nos plays. Dá


para arriscar que o Vera (além de uma homenagem a Dona Vera) é um grito que estava entalado na garganta? Totalmente. É um grito, talvez uma redenção. Acho que temos que registrar esses momentos, para nós conseguirmos ver a mudança real que estamos tendo dentro da gente, durante a jornada.

nos padrões. O New Metal tentou ser esse agente transformador e trouxe visões diferentes e mais pesadas. Que elemento(s) essencial(ais) você acredita que o Djent tem para se manter firme pelo tempo? Eu acho que o maior elemento é a mistura sem preconceito. Se funciona, vamos fazer. Acho que esse é o legado do Essa nova pegada sonora gênero. surge como um oportunidade de renovação dos Com o Djent pulsando status. Uma oxigenada inspirações e cada dia al-

cançando mais adeptos ao estilo, é tranquilo dizer que boa parte dessa força do gênero vem do número crescente de fãs? Exatamente. Os fãs são a base de tudo. São a defesa e o ataque da banda. Não há como deixar de falar sobre o período tenso que estamos vivendo, em quarentena. Como essa pausa forçada influenciou a banda? Foi mais uma pausa para pegar mais oxigênio ou um


INTERVIEW. THE MANTOR

balde de água fria? Influenciou demais. Estávamos prontos para os ensaios, marcando shows e turnês. No começo foi um balde água fria, mas agora, estamos revertendo isso em força e empenho, para entregar o melhor para as pessoas, quando pudermos encontrá-las ao vivo. Com a pandemia as bandas se viram forçadas a investir em ideias virtuais para não deixar de ter contato com o seu público. O que vocês têm feito para divulgar o som da banda? O Instagram é realmente a plataforma que mais nos aproxima dos nossos fãs. Fizemos algumas lives, de anúncios de 24 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


formação, eu toquei as músicas da banda também. Tempos novos, mas ainda não é aquela aproximação que queríamos com os fãs. Bom, depois de tantos anos já absorvendo o estilo passou o momento do choque da novidade, de estar “preparado para ouvir”. Agora é mais um dilema de como lidar com a expectativas dos fãs. Isso é levado em conta na hora de compor? Sim. É sempre um desafio inovar. Por isso, a cada lançamento eu falo. Já temos a fórmula de compor da banda. Mas, que fórmula é essa? Provavelmente do último trabalho lançado. Então será fácil escrever um novo trabalho, poque será uma espécie de “cover” do anterior. Vamos jogar a fórmula fora, e inventar uma nova, do zero.

posição qual o caminho que o coração escolhe? compor pensando no estilo ou seguir o instinto criativo? Sempre no instinto criativo. Quando você está criando, não pode se prender a clichê ou rótulo. Crie igual um louco primeiro, depois quando todas as ideias estiverem na “mesa”, você as organiza mais racionalmente.

Vamos finalizando a conversa. Em nome da equipe Rock Meeting gostaria muito de agradecer a oportunidade desse contato e desejar muito sucesso. Deixo espaço final para teu recado aos nossos leitores. Quero agradecer novamente pela oportunidade incrível, de falar sobre a The Mantor aqui. Obrigado por todos que apoiam a cena e as novas bandas principalmente. Grande E nesse momento da com- abraço. Foto: Lucas Menezes




INTERVIEW . EUTENIA

POR AUGUSTO HUNTER // FOTO WESLEY CARLOS

O

mundo da música é amplo e acolhe todo mundo que quer mostrar um trabalho de qualidade, bem feito. E nessa busca pelo lugar ao sol que o Eutenia faz o seu melhor, sem amarras e com mensagens diretas para o seu público. Sem se prender e aglutinando os estilos, eles buscam na diversidade do Metal a sua identidade. Acompanhe agora o trajeto dos caras sobre o passado, presente e futuro. O Eutenia está na estrada desde 2012 e tem colhido bons frutos do seu trabalho. Para começar, fale um pouco sobre o início de tudo. Bom, começou para a gente como começa para a maioria das bandas. Gostávamos de tocar, gostávamos de bandas e nos juntamos para tocar 28 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

aquelas músicas que gostávamos, tocamos alguns covers de Avenged Sevenfold e Bullet For My Valentine até que cansou e veio a vontade de criar as próprias músicas e assim iniciou-se o projeto autoral. A banda já foi produzida pela lenda Adair Daufembach. O que a participação dele trouxe para o trabalho do Eutenia? Como não tínhamos recursos anteriormente, optamos por estúdios mais acessíveis financeiramente e gravamos duas vezes em outros dois estúdios antes de chegar no Adair. Mas o resultado ficou bem longe do ideal e acabamos nunca divulgando essas gravações. O tempo foi passando, a gente foi se ajeitando e acabamos chegando ao Adair por motivos óbvios de buscar qualidade, e foi uma etapa importan-



INTERVIEW . EUTENIA

te de amadurecimento, afinal, foi um grande profissional trabalhando com a banda e aprendemos bastante coisa, comercialmente falando, para o segmento do projeto como a questão de cantar em português e manter assim, alguns toques de composição e algumas mudanças nas vozes que foram fundamentais. Os seus dois discos têm o nome de “Chymia”, eles contam alguma história? Há um significado, mas não 30 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

Eutenia durante show na Avenida Paullista, em São Paulo


exatamente uma história. Chymia significa Alquimia que se trata da química na idade média que buscava uma substância que transformara os metais em ouro. Somos uma banda de Metal, que busca uma ascensão, e isso fez todo sentido além da questão de a alquimia retratar a mistura de elementos, coisa que fazemos em demasia nas nossas composições misturando vários estilos do Rock dentro de uma mesma música.

um almoço para trocar ideia e explicar o que seria, e ele topou. E na realidade, ele já teve a composição do trecho pronta para cantar, ele não chegou a participar da criação do trecho, mas deu a cara dele nos berros. Procuramos deixá-lo à vontade e o resultado foi muito bom.

Em 2018, vocês contaram com Caio MacBeserra (Project46) para participar do single “Meu Fim”. Como aconteceu o contato? Foi fácil chegar até ele? E como foi a composição da música? O contato foi muito simples: surgiu a ideia de convidarmos outros artistas para participar de faixas do que viria a ser nosso novo CD, e cada faixa teria uma participação. A “Meu Fim” seria a primeira música para iniciar aqueles lançamentos, e naquele trecho pensamos no Caio imediatamente. Simplesmente enviamos uma mensagem para ele no Instagram e combinamos

A banda passou por uma mudança de formação e a atual foi responsável pelo single “Cego”. O que essa mudança trouxe para a composição, para o som do Eutenia? A banda já teve diversas mudanças de formação e sempre lutamos para não permitir que essas mudanças tirem a cara da banda, e acredito que temos sido bem-sucedidos nessa questão. De todas as mudanças de formação que a banda teve, de longe a atual é a mais “madura” para se trabalhar, é uma pena que a pandemia veio e deu uma bagunçada em tudo que havíamos projetado para o ano, mas


INTERVIEW . EUTENIA

essa mudança de formação foi realmente muito boa e nunca foi tão tranquilo e leve de trabalhar nas músicas como têm sido nesse novo projeto. Já na parte do som, embora muita gente pense que o som ficou mais pesado pelo Bill entrar na banda na realidade já havíamos descido o tom antes com o Drio, e as novas músicas já seriam gravadas em Drop C com ele. Quando o Bill

32 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

chegou já estávamos tocando em C, inclusive ao vivo (há até vídeos no YouTube com shows ao vivo em Drop C e o Drio no vocal). Portanto, o Bill veio para abraçar esse projeto e que tem feito muito bem, já que a queda no tom caiu como uma luva no estilo de voz dele. Então a Eutenia continua sendo Eutenia, vamos continuar misturando estilos, sendo modernos e abertos.

A letra de ‘Cego’ é muito interessante. “O pior tipo de cego é que se nega a ver” sendo que “seu pior inimigo é você”. Isso soa tão pessoal. Existe algum personagem por trás dessa letra? Existe, quem está lendo! (risos) Todo ser humano que já habitou esse planeta em algum momento cometeu um deslize, uma escolha errada


que o fez sentir “raiva” de si mesmo. E a letra é basicamente isso, um aviso para que se entenda que errar é humano, mas persistir ou permanecer nesse erro já é ser “Cego” e conivente com isso. É um chacoalhão mesmo. A versatilidade vocal de Bill Sandre trouxe um dinamismo na música. Isso é bom ou dá um nó na hora da composição para harmonizar tudo? Quem chega primeiro o riff ou a voz? Costumamos dizer que o Bill é um camaleão da voz (risos)! Traz bastante dinamismo e isso é muito positivo. O único nó que acontece é que às vezes acabamos com muita ideia


INTERVIEW . EUTENIA

para uma mesma música e temos que escolher o que tirar, e quase nunca essa decisão é unânime e alguém acaba tendo que tirar algum trecho que gostou muito por decisão da maioria (risos). Sobre quem chega primeiro nunca houve uma regra. Temos uma nuvem onde todos colocamos tudo que temos de ideias de composição. Desde ideias de introduções soltas, ou refrãos isolados, ou uma ideia de ritmo, ou somente uma letra com um tema que alguém deseja trabalhar... Enfim, uma nuvem lotada de ideias soltas que abastecemos. E quando alguém cria algo e quer ir adiante abre essa nuvem e procura o que precisa para seguir com sua composição: um riff de guitarra? Uma levada de batera? Uma letra? Se não encontrar, cria você mesmo ou chama o colega no grupo e o intima para criar (risos). Como todos na banda tocam de tudo facilita muito nessa parte. Basicamente é assim, então já aconteceu de tudo: começar pela voz, começar pelo riff... A música “In Memoriam” foi totalmente composta a partir de um conceito, e desse con34 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

ceito veio uma letra, e a partir da letra iniciamos os arranjos pela guitarra. Definitivamente não há uma regra pra isso. Costumeiramente, o inglês é o idioma escolhido pelas bandas, por que cantar em português? Um dia a Eutenia virá a cantar em inglês, não é algo tão distante. Mas acredito que, para crescer aqui e se tratando do

nosso estilo de trabalho, que envolve mensagens que queremos passar nas músicas, o inglês dificultaria muito a recepção dessa mensagem. Recebemos quase que diariamente mensagens, ou vemos stories de pessoas que compartilham trechos das nossas letras por se identificarem com a mensagem passada e isso seria muito menor se fosse em inglês no momento e


no tamanho que a banda se encontra hoje. Vocês apostam em uma sonoridade moderna e bem atual. Diante do dinamismo do estilo, como captar várias influências para criar a sua própria identidade? Aqui nós encontramos a nossa identidade justamente nesse aglomerado de influências. Ocorreu de forma natural e muito simples: queremos screamos, mas também queremos um progressivo ali no meio. Que tal um trecho totalmente limpo e cantado junto? Aqui vale tudo, e foi assim que nos identificamos. A modernidade veio por sermos músicos de mente bem aberta, ouvimos diversas coisas fora do Rock e Metal que trazemos para a banda também. Aqui escutamos desde o Heavy Metal clássico até o Metalcore mais moderno que existe, e curtimos isso. Naturalmente o que você está escutando vai te influenciar no que você está


INTERVIEW . EUTENIA

compondo. A forma de consumo da música tem mudado com o passar dos anos. Hoje o streaming é o meio mais rápido de atingir o público. Qual tem sido a estratégia de divulgação do Eutenia? Nós fugimos ao máximo que podemos do “mais do mesmo”. Isso desde os shows, desde como a banda se apresenta e principalmente como se coloca nas redes sociais. Já 36 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

fizemos até esquetes de humor que envolvem algum perrengue que passamos nas estradas do Rock e desse ramo da música, mudanças de formação e etc. Apostamos em várias coisas para atrair público do nosso nicho, parceria com o jogo Guitar Flash que até hoje rende muito fã novo para a banda, parceria com páginas movimentadas para divulgar nosso trabalho, e já fomos citados por algumas pessoas relevantes desse meio do YouTube e assim você vai

atraindo pessoas para suas páginas. Tendo seu material qualificado para quando essa pessoa, que chega lá naturalmente, se converta em audiência para seu streaming, e se ela gostar da sua música ou se identificar com o que você diz/pensa, ela vai ficar. Como a pandemia afetou a banda? Tinha algum plano que foi cancelado? Como estão administrando a conexão com o seu público?


Afetou muito negativamente em vários aspectos, mas positivamente em somente um. Para 2020, a banda tinha um planejamento de lançar no mês de abril nosso novo CD que já teria seu show de lançamento no mesmo mês com bandas de outros estados. Porém, com o isolamento em março nem sequer conseguimos finalizar a gravação da primeira faixa do álbum. A ideia era fazer um barulho com esse novo trabalho para fortalecer a imagem do Bill e

do Chris junto à banda, voltar a fazer bastante shows e já estávamos com uma turnê nacional engatilhada para rolar, mas tudo isso acabou sendo vetado na pandemia e preferimos aguardar ao invés de fazer lançamentos somente online ou via lives... Acreditamos que nosso show e esse material perderiam muito sendo lançados somente via internet. Por outro lado, com as “férias forçadas” resolvemos compor mais músicas para

termos mais opção de escolha para as que vão entrar para o CD. E já temos praticamente outro álbum composto, então por esse lado foi bom, tivemos mais tempo de trabalhar na criação. Para depois dessa loucura inteira, quais os planos do Eutenia? Retomar tudo isso que foi embargado, mas acima de tudo, cair matando em palcos. Nunca sentimos tanta saudade de tocar, de nos encontrarmos,


INTERVIEW . EUTENIA

de ver a galera nos shows... sem dúvidas uma coisa que vocês vão ver na Eutenia pós-pandemia é a Eutenia nos palcos! Para finalizar, vocês pretendem lançar algo nessa metade final de 2020? Muito obrigado pelo tempo e fica o espaço para um recado aos leitores da Rock Meeting. Abraço! Não sabemos. Temos material para isso, mas não te38 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

mos a menor ideia de como as coisas estarão mercadologicamente. Não sabemos se mesmo com uma liberação de tudo isso sem uma vacina, as pessoas se sentirão à vontade de ir à um show, por exemplo. E essa audiência nos importa! Então nós realmente não sabemos como será o desfecho de 2020, mas estamos aqui preparados para o que der e vier. Pessoal do Rock Meeting, muitíssimo obrigado

pelo espaço, pela oportunidade e pelo interesse em conhecer mais do nosso trabalho. Aos leitores muito obrigado para quem chegou até aqui! Quem já nos conhece sigam as redes do pessoal do Rock Meeting para apoiar quem fortalece o trabalho de bandas como a Eutenia, e para quem não nos conhece ainda será um prazer ter vocês conosco acompanhando a banda, esperamos que gostem! Muito obrigado a todos.



INTERVIEW. ODEON

POR BARBARA LOPES // FOTO FERNANDO VISKY

M

isturando cavaco, batidas de funk, bossa nova, vocais R&B e grooves, djent de uma forma irreverente, o Odeon conta com integrantes e ex-integrantes da banda Vitalism. Distante do local comum, mas com temas cotidianos, conversamos com a banda sobre o metal moderno, novo comportamento do público e prospecções futuras. E aí, galera! Vamos começar?! Como tudo começou? De onde veio a ideia de montar o Odeon? Tudo começou em Maricá (RJ), com o guitarrista, Lucas Moscardini, escrevendo algumas ideias no seu home studio. Lucas trabalhou por anos escrevendo música instrumental com a Vitalism, sempre teve curiosidade de escrever músicas com voz. Então juntou alguns riffs e começou

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a estruturar algumas músicas que vieram a se tornar ‘Daydreams’ e ‘Morphine’. Lucas falou com o baterista, Marvin Tabosa, sobre o projeto e, em poucos dias, eles começaram a trabalhar juntos. Os dois visavam montar uma banda completa, Marvin convidou o André para assumir os baixos. Eles já haviam trabalhado juntos anteriormente, e já conhecíamos o talento, o potencial e o jeito do André trabalhar. Após isso, Marvin entrou em contato com Marcelo Braga para produzir, gravar e mixar as músicas, pois também já havia trabalhado com ele, e havia uma boa sinergia entre os músicos. No processo de criação inicial, Marcelo não iria cantar — iria apenas ajudar a compor as músicas. Porém, quando Marcelo enviou suas primeiras ideias de linhas de voz para a banda,



INTERVIEW. ODEON

os membros ficaram surpresos e sabiam que precisavam contar, também, com a voz do produtor. Marcelo aceitou o convite para participar da banda, e o grupo vem trabalhando em diversas músicas desde então. A banda utiliza, além de elementos latinos, elementos do metal na composição das músicas. E, atualmente, temos um espaço com criações mais modernas dentro da cena 42 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


do metal. Vocês acreditam que essas adaptações dentro do metal, se distanciando do metal tradicional, são um dos pilares que fazem o estilo permanecer forte até hoje? Com certeza! A mudança e a renovação do metal sempre fortalecem o estilo e despertam mais interesse em quem vem de fora. Todos nós ouvimos muitas coisas fora do metal; trazemos essas influências de outros estilos, e as mesclamos com o metal tradicional, o que certamente causa um grande impacto em quem está ouvindo pela primeira vez. Uma das coisas mais interessantes é o impacto no mercado musical internacional. A galera que curte metal obviamente não espera um instrumento desconhecido, ou um ritmo diferenciado, mesclado com guitarras pesadas, berros e ambiências mais tradicionais do estilo. Podemos ver, também, pelas bandas que estão em crescimento no mercado mundial, que a maioria delas têm experimentado outros estilos com o metal, e as tentativas têm dado super certo!

lhas internas entre lados bons e ruins, e falta de empatia. Por que escolheram trabalhar com temas mais cotidianos? Nós acreditamos que o meio mais eficaz de conectar o ouvinte com a mensagem que queremos passar é aquele que passa autenticidade. Sendo assim, nós sempre buscamos compor músicas baseadas em nossas próprias experiências, ou experiências de pessoas próximas que possam nos inspirar. E o fato de escolhermos temas cotidianos, apesar de ser uma escolha involuntária, passa a ser algo muito positivo, e nos ajuda a ter essa conexão real com os ouvintes, pois todos nós já passamos por algumas situações na vida em que podemos nos identiAs letras possuem temas ficar com a mensagem que as recorrentes, como bata- letras passam.


INTERVIEW. ODEON

BUSCAMOS COMPOR MÚSICAS BASEADAS EM NOSSAS PRÓPRIAS EXPERIÊNCIAS

44 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

O som de vocês é bem peculiar e experimental. Como vocês encontraram o público? Como o público pode encontrar o som de vocês? Nós sempre tivemos em mente, antes de começar o projeto, que o objetivo era misturar estilos e, consequentemente, públicos. Como cada membro da banda vem de um background musical diferente, inicialmente juntamos o público pessoal de cada integrante para conhecer o projeto com o nosso primeiro single “Day-

dreams”. Depois de bastante feedback positivo, acreditamos que com “Morphine” foi um efeito bola de neve — um fã indicando o som para outro, o próprio algoritmo do Spotify indicando o nosso som para o público consumidor desses estilos, e assim por diante. E para encontrar o nosso som é muito fácil! Todas as nossas redes sociais são @odeonsounds, e para nos achar no Youtube, Spotify e etc, é só digitar Odeon e ser feliz!


Como tem sido a dinâmica de divulgação das músicas? A divulgação é um dos tópicos que consideramos mais importante para uma banda, então damos bastante atenção em como e quando vamos lançar uma música nova. Trilhamos toda a campanha de pré e pós lançamento de antemão, traçamos todos os objetivos que queremos alcançar, e só quando estivermos com tudo pronto e com todos satisfeitos, prosseguimos com o lançamento. Contamos, também, com ótimos profissionais

que vocês acham do nacional e do internacional? Apesar das dificuldades que enfrentamos no Brasil, o mercado nacional vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço. Não devemos olhar pra trás e fazer comparações de como era 5, 10, 15 anos atrás. Devemos olhar para frente! Acreditamos que as bandas nacionais têm se destacado muito no quesito produção musical e audiovisual. Temos excelentes bandas, com trabalhos incríveis e um público Diante das mudanças do cada vez mais fiel. E a tendênmercado fonográfico, o cia disso é a galera se colocar que nos auxiliam no quesito de estratégia de marketing, como a Patricia Vaz, que nos ajudou nos lançamentos da “Hi” e “Daydreams”; a Beatriz Fernandes, que nos ajuda na criação de posts para deixarmos nossas redes sociais sempre atualizadas; e o nosso designer, Batista, edita nosso conteúdo de vídeo que, inclusive, foi o mago que editou nosso videoclipe da “Morphine”, e levou a estética visual da banda para outro patamar.


INTERVIEW. ODEON

mais no seu lugar e ver que o mercado funciona como uma engrenagem: se cada um fizer sua parte, produzir conteúdo relevante, o público chegar mais junto e apoiar mais as bandas que gostam, as coisas ficam um pouco mais fáceis. Mas, no geral, temos uma expectativa muito boa com o mercado nacional! Já no mercado internacional, tem surgido cada vez mais bandas com materiais e estratégias de marketing impecáveis. É uma disputa muito grande de quem consegue prender mais a atenção do público e gerar engajamento. E, observando os números de ouvintes mensais das bandas que vêm surgindo atualmente, é de se esperar muita coisa boa desse mercado mundial do rock, pois ele cresce mais e mais a cada dia. Como é a busca por gravadoras que apoiam o estilo da Odeon? Vocês conseguiriam fazer um pano46 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


rama sobre essa busca nesse cenário mais ‘alternativo’? Sinceramente, não. Não é algo que nós buscamos ou que conversamos a respeito, não enche nossos olhos. Claro que entendemos toda a representatividade e a importância, só que temos controle total sobre tudo o que acontece com a banda, seja estrutura da música – até o merchan feito! E no momento em que temos o controle sobre isto, e nós mesmos somos responsáveis por cada passo da banda, se a “máquina não funcionar” teremos apenas quatro pessoas responsáveis para lidar com tudo.

pessoas consumirem mais o digital. Isso vale para as apresentações também, com as empresas de streaming monetizando os artistas e dando mais possibilidade e espaço para nos apresentarmos — acreditamos que a tendência também seja essa: investirem mais nas apresentações online e lives. Além de uma proximidade maior com o público, conseguimos ter um feedback mais direto do consumidor final, dando espaço também para conhecer novos artistas e deixando o público mais satisfeito. Claro que nada substitui a experiência de assistir uma banda ao vivo, mas na nossa atual situação, de quarentena, temos que nos acostuCom todas essas mudan- mar a consumir e gerar mais ças pelas quais temos pas- conteúdo online até tudo isso sado, como vocês pensam passar. que será nosso futuro? Nossos hábitos de consu- A Odeon não segue nemo de música, formas de nhum tipo de padrão, apresentações, busca por claramente — tanto em novos artistas, comporta- relação ao som como mento do público...? em relação aos ensaios. O consumo de música em Quais são as alegrias e os geral tem crescido absurda- antagonismos da originamente no mundo online. As lidade? plataformas de streaming têm A gente veio para arriscar, dominado o mercado e a ten- tanto visualmente quanto mudência é exatamente essa: as sicalmente. A ideia era ter um


INTERVIEW. ODEON som encaixado com o visual em todos os formatos, e você percebe essa identidade acontecendo em cada lançamento. A gente estava de um jeito no ‘Daydreams’; em ‘Morphine’ já era algo completamente diferente. E agora, com o nosso próximo lançamento, que está chegando já já, vocês vão pirar! Ser musicalmente diferente é arriscado, e a gente já sabia disso quando começamos a compor. Nossa ideia é criar o que vier na cabeça, sem ter uma meta para o som, ‘eu quero isso ou aquilo’; apenas vamos fazer tudo bem feito, dar o nosso melhor na nossa música para poder entregar o melhor para quem nos acompanha. Isso faz rolar aquela exposição com as pessoas que esperam algo específico. Por muitas delas conhecerem os trabalhos anteriores ou em andamento de cada integrante isolado, tendem a criar expectativas de algo que já ouviram. Já por outro lado, temos uma abertura com uma imensidão de pessoas que nunca ouviram falar da gente, e é aí que a mágica acontece! Por não termos nada definido, deixamos cada um, cada pessoa, que nos ouve criar suas 48 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


possibilidades do que é a Odeon, e do que virá ser a Odeon com o tempo. Acredito que a gente se deu bem! Porque, se o nosso som tem a capacidade de fazer as pessoas pensarem, nós mantemos elas em contato mais tempo com a gente!

Por fim, o que podemos esperar de vocês ainda esse ano? Fiquem à vontade para nos deixar um recado. Muito obrigada por conversar conosco! Sucesso! Nós que agradecemos a oportunidade de dividir um pouco da nossa história e do nosso som com vocês! Gostaríamos de agradecer de coração a todos que tem acompanhado e apoiado a Odeon desde os primórdios. Temos muitas músicas sendo finalizadas neste momento, e já temos algumas prontas para serem lançadas, que estarão disponíveis muito em breve. Ainda este ano, pretendemos lançar mais duas músicas. Até lá, vocês podem acompanhar a Odeon em todas as nossas mídias sociais para ficar por dentro dos spoilers! Mais uma vez, obrigado!




INTERVIEW. RECKONING HOUR

POR RENATO SANSON // FOTO RAFAEL ANDRADE

A

difusão de novos estilos sempre foi uma constante no meio musical. Mesclas, culturas e estilos se entrelaçando e nos trazendo uma nova gama sonora. A Reckoning Hour mesmo com pouco tempo de estrada traz essa maturidade musical e nos brinda com muita diversificação, peso e qualidade. Batemos um papo com o guitarrista Philip Leander sobre o novo momento do Reckoning Hour, modernização do Heavy Metal e muito mais! Ótima leitura! Olá pessoal, aqui é Renato Sanson, sou da equipe da revista Rock Meeting. Agradeço pelo seu tempo aqui nessa entrevista, é uma satisfação imensa para nós. Philip Leander - O prazer é todo meu Renato, são poucas 52 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

as revistas que ainda dão valor para bandas da nossa cena brasileira, admiro muito a iniciativa de vocês e fico feliz em poder divulgar o trabalho da Reckoning Hour por aqui. A trajetória do Reckoning Hour se iniciou em 2016 com o lançamento do primeiro disco “Between Death and Courage”, podemos dizer que esse lançamento teve um destaque meteórico na cena nacional. Como foi este impacto para vocês? Que legal que vocês curtiram o disco! Para quem não sabe, a Reckoning Hour foi o meu projeto final em minha faculdade de produção fonográfica. A ideia era gravar uma banda e lançar o seu trabalho no mercado brasileiro. Meu objetivo no início era trabalhar apenas como produtor musical, mas a criação desse projeto, junto



INTERVIEW. RECKONING HOUR

ao reencontro com meu amigo de infância JP foram forte influência para me inspirar novamente a ter uma banda e voltar a tocar guitarra. O projeto final foi o lançamento do EP “Rise of the Fallen”, e logo após o lançamento desse EP, começamos a trabalhar pesado para nos estabelecermos no mercado como uma banda de fato, foi aí que lançamos nosso primeiro disco “Between Death and Courage” em 2016, juntos com a gravadora Famined Records nos Esta54 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

dos Unidos. 2016 foi um turning point pra gente, o lançamento desse álbum teve um impacto muito importante na nossa história. Tivemos a honra de sermos convidados pela Liberation para sermos os representantes nacionais, abrindo os shows do Children of Bodom em sua turnê brasileira, e daí pra frente, muitas outras portas foram abertas. No mesmo ano, participamos do festival Hell in Rio, fomos convidados para tocar junto

com o Suicide Silence e começamos a dar nossos primeiros passos sozinhos tocando em outras cidades fora do eixo Rio x São Paulo. Foi um ano muito especial pra gente porque percebemos que o trabalho estava tendo uma reciprocidade muito boa, não só do público, como também de marcas que estavam começando a mostrar interesse em trabalhar com a gente. O Metalcore já não é um estilo propriamente dito


Foto: Montenegro Fotografia

novo – com grande difusão e apelo nos EUA – no Brasil em si, ainda parece um cenário um pouco restrito, mas com uma base de fãs bem fieis. Como sustentar esse público? Eu não costumo rotular o gênero específico que eu faço com a minha banda, mas sei que é necessário para estabelecer uma conversa entre determinada época ou estilo. Acredito que grande parte do público hoje em dia também não é mais ligado nisso, pois do mesmo subgênero existem

diversas outras vertentes e influências que diferem uma banda da outra. Eu meio que enxergo tudo como música pesada (heavy music). Não me entenda mal, mas o público real que consome a música pesada hoje em dia não está se importando muito com estilos, se é Death Metal, ou Tech Death, ou Metal Melódico, o mais importante é se a música é boa e se conecta de alguma forma com a realidade daquela pessoa, entende? Em termos de gênero, fazendo uma força aqui e tentando

rotular alguma coisa, eu diria que estamos caminhando para um New Core (Ou NuCore), algo meio que uma evolução desse estilo antigo com mais abrangências de outros gêneros (New Metal, Hardcore, Progressivo, Pop, etc), ritmos, beats, enfim, honestamente eu odeio rotular uma banda. Não posso dizer que a maneira que me expresso na guitarra é igual a de um outro guitarrista que por opinião pública participamos de um mesmo subgênero de um estilo musical. Para mim é tudo


INTERVIEW. RECKONING HOUR

rock. (risos). Grande parte dos ouvintes hoje em dia nem fazem parte da cena, às vezes é um garoto 12 anos na Itália que joga LoL (League of Legends) em casa e gosta de ouvir música enquanto joga, ou uma mulher de 30 anos, que gosta de ouvir música pesada quando está ansiosa voltando do trabalho, o mercado mudou completamente e vai mudar ainda mais com o tempo, assim como as pessoas que colam nos shows. O problema do rock no Brasil é essa segregação de bandas por determinados estilos, isso só atrapalha os artistas. Eu sigo o mesmo pensamento, acredito que você deva ouvir de tudo, dentro e fora do rock, confesso que sou um fã assíduo de bandas novas na indústria da música pesada e adoro mesclar gêneros diferentes no próprio metal, o que acaba me ajudando a ter mais sensibilidade e abranger mais a musicalidade na hora 56 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


de expressar o que eu quero mostrar em uma música. Hoje temos fãs em diversas partes do mundo graças ao nosso esforço e a parceira com nossa gravadora, não só no Brasil, mas também na Indonésia, Peru, Alemanha, e nos Estados Unidos, hoje nossa maior base de fãs. O que é muito louco, pois todos eles vivenciam culturas totalmente diferentes da nossa e mesmo assim consomem nosso trabalho. O mais importante hoje, para sustentar uma base de fãs, é você ser autêntico, criar algo como uma marca registrada do seu trabalho e se manter no mercado com novos lançamentos. Em 2019 foi lançado o álbum “Beyond Conviction” (2° álbum da carreira) consolidando vocês não só no meio underground, mas também nacionalmente. Conte-nos um pouco mais deste lançamento. E por que lançar de modo independente? Quando estávamos compondo o novo trabalho em 2018, tínhamos um contrato com a gravadora Famined Records devido ao nosso primeiro lançamento, “Between Death and

Courage” (2016), mas devido a alguns problemas que tivemos por conta de divergências da lei autoral no Brasil e o Copyright lá fora, decidimos romper o contrato e lançar de modo independente o segundo disco “Beyond Conviction”. Foi engraçado falar isso, porque logo que fizemos o lançamento desse álbum no independente, a gravadora Seek and Strike Records (Upon A Burning Body, Orbit Culture) entrou em contato comigo, querendo relançar o álbum no início de 2020 e iniciando nossa história juntos para próximos lançamentos e futuras tours. O “Beyond Conviction” mostrou a nova fase da Reckoning Hour, com uma pegada diferente de nosso trabalho anterior, a ideia era sair do “metalzão” e abranger mais o som com uma pegada mais “moderna”. Vínhamos extremamente inspirados de outras turnês, e para ajudar nosso lançamento, fomos convidados para participar da turnê do As I Lay Dying, fizemos nossa tour brasileira e no final do ano fomos convidados para abrir o Dream Fest em São Paulo, sem dúvida um dos maiores festivais que participamos junto com


INTERVIEW. RECKONING HOUR

bandas que foram importantes para nossa história como o Killswitch Engage e o Dream Theater. Referente ao Metal moderno e suas vertentes (como o Djent por exemplo), daí pode vir um “novo” Iron Maiden ou Metallica? Na minha opinião, na música não se deve haver uma disputa. Não tem como você comparar a arte de uma pessoa com outra, não tem melhor 58 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


nem pior, estamos falando de expressão. Em termos de business, ok, mas quando se fala de arte, é outra história. O Iron Maiden por exemplo, ele foi fundado em 1975, eles estão no mercado a 45 anos, entende? Houve diversas formações e compositores, dezenas de pessoas e momentos históricos que a banda passou para se inspirar e criar algo, contestar algo. Hoje em dia existem bandas muito boas que estão gigantes no mercado e fazendo a mesma coisa que eles, porém da maneira deles de se expressar, como o Bring Me The Horizon, Spiritbox, Falling in Reverse, Bad Wolves, Fit For A King, é só procurar que tem muita coisa nova legal e autêntica tocando por aí.

leves. Já gostamos de misturar outros gêneros dentro da mesma música, como seguir uma batida de hardcore e as guitarras estarem fazendo outra coisa. Junto a isso, mesclar os vocais guturais com os cantados acaba me dando uma liberdade gigante para compor, criar momentos, histórias dentro da mesma música. Eu nunca sei aonde vai chegar a minha música, eu vou fazendo e tentando seguir a loucura que passa na minha cabeça. No próximo disco, devemos ir mais a fundo nisso, estou querendo trazer alguns elementos de outras culturas, novos instrumentos juntos com a banda, está tudo em aberto ainda, muitas ideias para experimentar.

O Reckoning Hour não se limita só ao Metalcore, sua musicalidade transita entre outras vertentes também. Fale-nos de suas influências. A cada trabalho eu tento trazer algo novo para a identidade da Reckoning Hour, no “Beyond Conviction” a gente curtiu a ideia de mesclar música pesada com beats mais Diante

da

diversidade


INTERVIEW. RECKONING HOUR Foto: Divulgação

musical, quais seriam as bandas que vocês recomendariam da atualidade? Há aquela banda em que se espelham? Não necessariamente uma banda em específico, acredito que hoje o mercado está cada vez mais competitivo e criativo. Acho que o mais legal hoje em dia é ouvir a diversidade, o que tem de novo, novas ideias que as bandas querem de al-

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guma forma se expressar. Eu sempre admirei esse sentimento de novidade, sempre me espelho nas sonoridades e ideologias que mais me chamam atenção naquela determinada época. Se fosse pra citar algumas bandas, eu puxaria a sardinha para bandas aqui do Brasil. Eu admiro esforço da banda Project 46 e da Nervosa, a criatividade da Vita-

lism e desse novo projeto que nasceu de alguns integrantes deles da Odeon, porém, a coisa que eu mais admiro é a constância do Torture Squad, Claustrofobia, Sepultura, por se estabelecerem no mercado por tantos anos sem perder a chama da banda. São méritos admiráveis que me inspiram ainda mais para tocar a Reckoning Hour pra frente, sem contar que todos eles são se-


res humanos maravilhosos, definitivo de uma banda nova, com opiniões fortes e autênti- o que pra mim é muito legal, cas. porque alavanca ainda mais a criatividade dos artistas para A modernização do Heavy criar algo novo, experimentar Metal é algo constante e coisas novas. Só temos a gaaté mesmo natural com o nhar com isso. decorrer do tempo, como vocês enxergam essa mu- A pandemia que assolou tação? o mundo mexeu nas esEu acredito que é bem natu- truturas do mercado foral. Antigamente, esse movi- nográfico, deixando tudo mento de estilos era dividido de ponta cabeça. Qual a por gerações, anos 80, 90, visão de vocês sobre o an2000, com a internet, esse tes, durante e o pós panmovimento ficou cada vez demia? 2020 é um ano mais rápido. A inclusão de perdido ou vocês pretennovos gêneros está cada vez dem brindar os fãs com mais mutável, hoje é muito mais algumas novidades? difícil você saber um estilo Certamente 2020 foi um ano

muito difícil para o mercado musical, setor que foi o primeiro a parar na pandemia e será o último a voltar. Muitos amigos estão sem trabalho, estúdios completamente sem movimento nesse período. É a maior pandemia do século e estamos vivendo isso, o que é muito bizarro. Acredito que depois que passarmos por isso, muita coisa irá mudar no setor, as casas que sobreviverem irão mudar completamente a visão estrutural, acredito que ainda viveremos uma mudança muito grande no quesito de shows e estrutura, muitas mídias novas estão sendo utilizadas nesse perío-


INTERVIEW. RECKONING HOUR

do de dificuldade, como lives de shows, interação forte das mídias sociais, a internet será cada vez mais forte e influente para o setor. Nós decidimos pegar essa fase pandêmica para escrever, aproveitar o momento de quarentena de todos os integrantes para criar. Não dá para dizer que perdemos o ano, acredito que todos nós perdemos o ano, o mundo todo, e enquanto não nos conscientizarmos da gravidade da situação e ficarmos 62 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

em casa a tendência é só piorar. Estamos de longe, mas a todo vapor criando esse novo trabalho com muito carinho, uma hora ele irá chegar e acredito que será uma fase de recomeço para a banda.

Soilwork Bury Tomorrow Mastodon Fit For A King Odeon Make Them Suffer Machine Head Chelsea Grin Eskimo Callboy As I Lay Dying Hollow Front Testament

Para finalizar: abra o seu Spotify agora mesmo (risos) e nos conte o que tem escutado! Muito obrigado e sucesso! Aqui vai algumas coisas que Mais misturado que estou ouvindo recentemente. isso eu não sei (risos), obrigaBleed From Within do pelo espaço, galera!



INTERVIEW. VITALISM

POR UILLIAN VARGAS // FOTO BANDA/DIVULGAÇÃO

H

á 243 anos atrás, Antoine Lavoisier, considerado pai da química moderna (não por acaso) havia anunciado a vinda do Djent quando disse ao mundo: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A curiosidade mora na peculiaridade que ele disparou essa frase, discorrendo ao mundo, sobre o processo da combustão. E justamente como a combustão resulta da combinação do oxigênio com outros elementos, o bom e velho rock n roll também andou envolvido em um processo de transformação ao estar em contato com novos elementos. Claro que foi uma brincadeira usando o nome do Antoine Lavoisier, mas há alguma verdade na afirmação. E nessa alteração de estado, o rock nos presenteou alguns novos estilos, dentre eles o Djent. E

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cheio de atitude, sentimento, melodia e peso a Vitalism é um dos grandes representantes do Djent em solo brasileiro. Atualmente a banda é formada por Marvin Tabosa (bateria), Ed Garcia (guitarra) e Lucas Moscardini (guitarra) e, por hora, segue sem baixista, porém o grupo continua em movimento. Ed Garcia conversou com a Rock Meeting e contou um pouco sobre as inspirações, processos criativos e essa mescla sonora entre o antigo e o moderno, que constituem a Vitalism. Espero que se divirtam com essa super conversa. Como pontapé da conversa, nada melhor do que discorrer um pouco sobre o nome da banda. Sabemos que esse nome verte de um sonho. Mas qual o verdadeiro significado da Vitalism, para além do


Foto: Samyr Novelli


INTERVIEW. VITALISM

sonho realizado? Ed Garcia - Realmente foi um sonho que tive, bem místico por sinal, no qual fez mudar muitas coisas na minha vida. O primeiro momento, o nome seria Vitalis, mas um dia antes, de lançar o “projeto” (até então não era banda) para o mundo, vi que existia um artista bem famoso na Índia, com esse nome (risos). Vitalismo seria a arte ou uma forma de prolongar a vida. Muito da tua formação musical e cultural vem dos clássicos do metal/ prog metal. Lembra quando ocorreu o momento em que você sentiu essa fisgada que te trouxe para o Djent? No início de 2013, eu conheci o Periphery (uma das maiores bandas nesse segmento). Após ouvir o primeiro disco da banda, senti-me na obri66 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


gação de fazer algo realmente moderno, e diferente de tudo que tinha feito até hoje. Uma das coisas que mais martelou na minha cabeça foi: “Vai ser a primeira vez na minha vida que vou poder entrar e tocar um gênero, que ainda nem tem um movimento real, ou até uma cena”. Quando o new metal estourou, eu era muito imaturo ainda como profissional de música. O metal melódico e thrash metal nem se fala. Era a minha chance de fazer uma carreira consolidada, com o movimento ainda surgindo, tudo estava muito no início ainda, eu queria ter um trabalho marcado na história do gênero, algo que sempre quando alguma pessoa fosse pesquisar sobre, iria ver o nome da Vitalism.

Mas por outro lado, a garotada cada vez mais se interessa pela linguagem moderna e pulsante do Djent.

Assim como você fez essa passagem do metal tradicional para um estilo mais moderno, acha que os ouvintes também fazem essa transição ou um fã de Djent já nasce dentro do estilo? Eu acho que acontece as duas coisas. Um metaleiro tradicional acaba encontrando muitos elementos que o agradam.

Escutando o Ep Causa (2015) se percebe de onde (e por onde) flui a construção da musicalidade da Vitalism. Destaco a “Bipolarity” cheia de harmonias e um coletivo de riffs encantadores contrapondo momentos de calmaria. Pode falar um pouco sobre o processo criativo desse som?

Aproveitando o gancho do assunto, o estilo data os primeiros registros no início dos anos 2000. Lá se vão quase duas décadas de existência para algo que era tido como “modismo passageiro”, logo no início. Nesse tempo transcorrido você sentiu alguma mudança dentro desse gênero? Senti muitas mudanças sim. Principalmente um flerte muito grande com o Jazz/Fusion. No caso da Vitalism, por exemplo, misturamos muito com a música brasileira e fusion também.


INTERVIEW. VITALISM

O processo criativo desse som foi muito complexo. É difícil até explicar. Eu tive que me isolar muito tempo para poder estruturar e criar os riffs e melodias do EP inteiro. Comecei a música, realmente por aquela intro bem “clean”. Aquilo era um trecho de uma música que fiz para outra banda que tive, mas ninguém gostava (risos). E então, em “Bipolarity”, milhões e milhões de pessoas gostaram (risos). É interessante que a ca68 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


racterística principal do estilo é o peso e a progressividade. Porém a Vitalism consegue mesclar, de forma excelente, elementos de outros gêneros no seu som (a exemplo de Clairvoyance). Como acontece esse “hibridismo sonoro” com equilíbrio? Eu sempre fui um cara apaixonado por música brasileira, bossa nova, choro, etc. O violão de nylon sempre foi um abrigo aconchegante pra mim (risos). Quando eu levei a pré composição da “Clairvoyance” para o estúdio, tinha algo faltando na música, uma interlude para conectar duas partes grandes da música. Eu lembro como se fosse hoje, o produtor Cavi Montenegro falando comigo: “Ed, tu não és brabo na bossa? Lança uma nessa porra aí” (risos). E assim, foi o que aconteceu. As composições da Vitalism falam muito sobre esta linguagem sonora moderna e nas audições percebe-se a face da novidade sonora. De todos os elementos que se entrelaçam ao Djent, existe algum em especial que

merece muita atenção na hora das composições? Ritmo latino e harmonia Latina. É algo que nos cativa e é a nossa assinatura, sempre. SY (2017), cheio de identidade sonora estilizada, percebemos que veio com um dos pés (senão os dois pés) cravado(s) na malandragem latina, para celebrar a vida. Momentos em que o saxofone compõe a tranquilidade antes da distorção “groovada”, o samba no pé, a conexão com o divino e as alegorias aos antepassados indígenas. Conta um pouco como foi conceber essa “Ode Sonora Chipada” chamada SY, com todos esses componentes interligados? Foi uma loucura. Foram 9 meses de composição. Todos da banda se dedicaram um absurdo para escrever cada


INTERVIEW. VITALISM Foto: Paulo Lins

TRABALHAMOS MAIS COM O NOSSO INSTINTO, DO QUE QUALQUER OUTRA COISA

70 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

trecho, cada interlúdio, cada detalhe. Foi literalmente um trabalho feito à mão. Além do Sax, usamos percussões brasileiras, pianos. Interligar, realmente não foi o trabalho mais difícil. O trabalho árduo foi a criação. Só conseguimos dar o start nas ideias quando “materializamos” o caminho que queríamos traçar naquele momento. Criar uma atmosfera densa, com muita riqueza em raízes quase perdidas ou deixadas de lado. Trabalhamos mais com o nosso instinto, do que

qualquer outra coisa. Deixamos nosso passado invisível nos guiar, eu acho. t Agora falando sobre o Djent como um todo. Já conhecemos o caminho percorrido até aqui, desde o seu início. Quais as tuas expectativas para o futuro desse estilo? Eu acho que o gênero enfrentará muitas mudanças ainda. Os músicos são maravilhosos e imprevisíveis. A cada trabalho lançado pelas bandas, o gênero cria caminhos.


Pode falar um pouco sobre o futuro da Vitalism? Gradus foi um single de 2014 (Primeira postagem no Youtube) e é um dos sons mais vibrantes para se tocar ao vivo. Parece que o nosso show começa “ali” (risos). O ano de 2020 está sendo bizarro, a pandemia nos atrapalhou muito. Na Vitalism são tantos detalhes, que temos que estar pertos um do outro, para realmente conseguirmos nos entender musiGradus foi um sinal de calmente, em meio de tantos fumaça, uma mensagem riffs, licks, ideias, viradas que de novidades a caminho? cada um traz e carrega consiQuais são as maiores dificuldades de buscar ouvintes do Djent em outros estilos (se é que achas que existem)? Acho que pela liberdade que o gênero tem. No Djent, você pode usar tudo que quiser em uma composição. Não há pré-requisitos. Acho que isso faz com que os ouvintes se alimentem do estilo, que não se sentem “seduzidos” a ouvir algo mais tradicional, mas eu só acho.

go mesmo (risos) Bem, gostaria de agradecer a oportunidade dessa conversa. A Rock Meeting deseja muito sucesso e muito som pela frente. Deixamos espaço para teu recado aos nossos leitores. Quero agradecer muito a vocês da Rock Meeting, pela grande oportunidade de falar sobre a minha querida banda Vitalism. O recado que eu deixo é: “Se alimentem de música. Música é o alimento da alma”.

Foto: Alima Produtora




INTERVIEW . KADINJA

POR PEI FON // FOTO BANDA/DIVULGAÇÃO

T

oda edição de aniversário merece algo especial e exclusivo. E, desta feita, a Rock Meeting traz, em primeira mão, uma entrevista com a banda francesa Kadinja, conhecida no meio, mas passa batido no Brasil. Para estreitar essa ponte, atravessamos o Atlântico e conversamos com Morgan Berthert e Steve Tréguier, bateria e baixo, respectivamente. Falando de tudo um pouco, conheça essa banda que desponta com um dos principais nomes do metal moderno. Kadinja é uma banda nova, até desconhecida pelos brasileiros. Nesse mundo mais digital, como tem sido a resposta dos ouvintes nessa quebra de barreira física? Morgan - Bem, nós perde-

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mos cerca de 25 shows até agora, o que é muito, mas poderia ter sido pior. Acho que não há nada diferente para os ouvintes de Kadinja, todos estão chateados, ninguém sabe quando ou como tudo vai começar de novo. Steve - Nesse ponto, apesar de todos os debates que há sobre distribuição digital e tudo mais, acho que ter um mundo “digital” é meio que salvar um pouco os artistas, principalmente os músicos desse período. Somos uma geração que tem a chance de se espalhar pelo mundo com a música com bastante facilidade e estar em contato com pessoas que não temos a oportunidade de conhecer fisicamente, como os brasileiros. Então, sim, o contexto é uma merda, mas todos nós somos forçados a nos adaptar e acho que o público responde a isso.



INTERVIEW . KADINJA

Ainda sobre a modernidade, como tem sido a atuação na divulgação de suas músicas? O perfil do ouvinte mudou, quais as estratégias para que ouçam o seu som? Morgan - Nós deveríamos gravar nosso novo álbum, então francamente, estar trancado em nosso estúdio foi uma ótima oportunidade para começar mais cedo e começar a promovê-lo... Não podemos dizer que a quarentena nos ajudou, mas pelo menos tiramos o melhor da situação e tivemos tempo para planejar tudo para o futuro, embora não saibamos muito sobre o que vai acontecer. Steve - Não notamos a menor mudança com isso. A maioria dos ouvintes Kadinja faz parte dessa “geração digital”, então com base nisso, o Covid não impactou tanto a nós e aos ouvintes. 76 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


Existe uma discussão sobre a aceitação dessa nova linha sonora do Metal. Como vocês avaliam o dinamismo do estilo e o que os mais ‘conversadores’ falam do som do Kadinja? Steve - O Metal Moderno é amplo, mais do que nunca, então não há mais dúvidas sobre a aceitação do gênero musical. Podemos ser rotulados como uma banda Prog / Modern / Alternativa / Djent / Metal, mas isso não faz muito sentido. Pessoas e músicos, inclusive fãs de Kadinja, estão acostumados a isso e cada vez mais abertos para receber coisas novas e inesperadas. Essa é uma boa notícia para a música e a arte em geral.

Morgan Berthet - Baterista do Kadinja

mais do que algo trazido por qualquer novo membro. Mas nos ajudou a ser mais estruturados como uma banda, com papeis claros, como Steve que se juntou a nós dois anos atrás, que também é responsável pela gestão e um monte de coisas que não podíamos fazer antes porque ninguém era bom ou motivado o suficiente para estar no comando dessas coisas. Steve - E, claro, deve ter um impacto direto no som, mas é difícil descrevê-lo claramente. De forma mais geral, ter uma boa organização e encontrar uma verdadeira coesão de banda nos deixa confortáveis em focar em ir mais longe em nossa abordagem artística, e dessa forma sim, provavelmente tem um papel na músiDesde que nasceram, já ca em si. sofreram mudanças. O que essa atual formação, Os músicos do Kadinja com diferentes bagagens, são formados, têm exacrescenta ao som do Ka- periências distintas no dinja? mundo musical e experiMorgan - Eu não sei sobre mentam essa diversidade o som, já que Pierre ainda é no som mais técnico. Fao responsável pela composi- zer o som da banda seria ção e processo de mixagem, testar as qualidades munossas mudanças potenciais sicais individuais? de som sendo uma escolha Steve - Sim e não. Desafiar a


INTERVIEW . KADINJA Foto: Lisa Parédès

VIVER E CURTIR NOSSAS VIDAS COM A MESMA EMPOLGAÇÃO (...) E PARAR DE RECLAMAR POR NADA

78 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

o mais recente nota-se o amadurecimento do próprio som. A busca da identidade e o aperfeiçoamento dela tem sido uma busca constante ou tem acontecido naturalmente? Morgan - Bem, há claramente uma mudança entre Ascendancy e Super 90 ’, mas precisávamos dessas mudanças para as músicas no Super 90’ para comemorar aquela São dois álbuns de estú- era. Menos edição, menos tradio de músicas inéditas. tamentos modernos, algo um Fazendo um paralelo, pouco mais natural, digamos, nós mesmos não é um objetivo próprio da banda, mas na verdade é isso que acontece... Não nos importamos muito com as dificuldades técnicas ou limites no processo de criação. Nós apenas escrevemos músicas tentando fazer algo que cada um de nós ame. Trabalhando assim, aparecem algumas coisas técnicas e sim, é sempre um desafio individual para todos.


gressive Metal. Mas é notória a influência dessa nova leva moderna que é o Djent. O único da formação original, o guitarrista Pierre Danel possui fortes influências de jazz, o que isso acrescentou para a sonoridade do Kadinja? Morgan - Não é incomum ouvir vibrações de Jazz no Metal moderno e ainda mais em Djent, mas Pierre aprendeu Jazz quando era jovem, e isso ele dominou de verdade, então é claro que transparece Vocês se intitulam Pro- na composição, na maneira mas não significa que o próximo soará como Ascendancy ou Super 90 ‘e já sabemos que será um pouco diferente. Steve - Então, na maioria das vezes, isso vem naturalmente com os conceitos do álbum. Em termos de som, é esse o ponto que nos orienta, sabendo desde o início que cor ou que atmosfera queremos ter no álbum. Não é uma busca adequada por identidade, mas mais uma alavanca para comunicar nossa mentalidade em torno de um disco.

como ele toca e o som. Pierre é um músico incrível e é um orgulho trabalhar ao seu lado todos os dias. A diferença que encontro em Super 90’ e Ascendancy é o sentimento. Ouso dizer que o début album foi muito mais emocional. Os vocais transmitem muito mais do que técnica, tem paixão. Foi essa a intenção? Steve - Pessoalmente sinto o oposto (risos). Do meu ponto de vista, Ascendancy como uma abordagem técnica mais

Steve Tréguier - Baixista do Kadinja


INTERVIEW . KADINJA

profunda, e o que fizemos com Super 90’ é tentar desenvolver mais emoções. Mas não existe regra ou resposta boa / errada, cada um tem seus próprios sentimentos! Além de ser extremamente virtuoso, o Super 90’ não deixa de ser emocional, e destaco “Avec Tout Mon Amour”. Existe algum personagem por trás desse instrumental? É dedicado a alguém? Steve - Se bem me lembro, 80 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

muita atenção: “Start to change and see the stars beyond us” e “Life is a playground don’t lose time and have fun, before the game is over”. Como vocês poderiam aplicar essas partes no atual momento do mundo com o coronavirus? Steve - Na verdade, não é apenas aplicável durante o período do vírus. O fato é que Ouvindo mais atentamen- às vezes estamos mais conecte a música “GLHF” duas tados ao mundo virtual do frases me chamaram que à vida real. Uma possível esta faixa foi composta no final do processo de criação do Super 90, neste momento em que você se sente cansado, mas realizado por ter criado algo que todos nós gostamos. É um grande e claro “obrigado” às pessoas que sempre apoiaram Kadinja, membros da equipe ou fãs, e esse foi para nós o melhor final que poderíamos dar a este álbum.


Foto: Nicko Guihal

resposta seria talvez viver e curtir nossa vida com a mesma empolgação que podemos ter nos videogames e parar de reclamar por nada. Mas sim, podemos dizer que o vírus nos mostrou o que é realmente importante para as pessoas, e as fez aprender a aceitar e se adaptar, e focar na positividade. “Episteme” começa com uma luta consigo sobre uma realidade, mas no final nota que não pertence

a esse lugar. Em que momento da vida podemos enxergar isso e mudar o rumo das coisas? Steve - Cada um de nós tem sua própria resposta pessoal sobre esse sentimento. :D . DNA foi lançado um pouco depois de “Super 90’”. É uma verdadeira ode as influências do metal moderno. Em que momento resolveram revisitar essas músicas do Linkin Park, Marilyn Manson,

System of a Down, por exemplo, trazendo para a roupagem técnica, ao modo Kadinja? Imagino que não foi fácil escolher banda e música. Morgan - Estávamos no Japão para nossa turnê Super 90 ‘quando tivemos essa ideia e achamos legal fazer um cover de uma música que gostamos dos anos 90’ / 2000, porque faria sentido depois de Super 90’ fazer algo assim. Tivemos muita dificuldade em escolher entre Korn e Manson


INTERVIEW . KADINJA

no início, então decidimos que poderíamos fazer um EP. Conversamos rapidamente com nossa gravadora Arising Empire, que concordou e até sugeriu fazer um álbum completo com base nisso, e com um prazo de seis meses, o que nos deixaria em torno de três meses para compor/adaptar, gravar, mixar etc... Nós escolhemos basicamente os maiores nomes que tínhamos em mente e as músicas que gostávamos e trabalhamos duro para isso durante dois meses, 82 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

demos esperar do Kadinja para essa segunda metade de 2020. Sucesso, se cuidem e esperamos que venham para o Brasil. Muito obrigada! Morgan - Estamos em estúdio agora. Teremos mais três meses para terminar o próximo álbum e, em seguida, anunciar um lançamento em breve. Steve - 2020 é um ano de trabalho para nós, mas muitas coisas aparecerão em 2021, Para finalizar, o que po- com shows e turnês, espero! dia e noite quase 24 horas por dia, 7 dias por semana. Steve - Foi muito fácil escolher as bandas, mas mais difícil em relação às músicas ... Tivemos que encontrar um bom equilíbrio entre o que gostávamos de fazer cover e o que poderíamos trazer para a música com essa abordagem moderna. Funcionou bem para a maioria deles, mas abandonamos algumas músicas por causa disso.



CAPA . ANDY CIZEK

POR PEI FON // FOTO KAROLINA MALYAN

S

empre aprendendo. Esse é um lema que muitas pessoas levam bastante à sério e não seria diferente para Andy Cizek. Pode-se dizer que ele é um workaholic, canta no Monuments, Makari, Wvnder, Termina, carreira solo. Não falta fôlego, nem determinação para ele. Confira agora a conversa que tivemos com Andy sobre muitos assuntos. Acompanhe!

Andy, tudo joia? Vamos começar? Quem é o Andy Cizek dentro e fora dos palcos? Olá, Pei. Obrigado por me receber! Andy Cizek fora do palco é uma coruja noturna bastante introvertida com um cérebro obsessivo-compulsivo e uma queda por gatos. Há um ano aconteceu uma mudança na sua 84 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

vida. Hoje você é o vocalista do Monuments. Como tudo aconteceu? Em que momento você decidiu gravar um vídeo e enviar para a audição? E como foi pra você receber essa notícia positiva? Eu conheci Olly na internet alguns anos atrás e tínhamos alguns planos potenciais para colaborar. Isso nunca aconteceu realmente, mas permanecemos em contato; e em algum momento Olly me disse que o Monuments estava procurando por um novo vocalista. A essa altura eu já havia feito um cover de uma de suas músicas, “Stygian Blue”, apenas por amor à música. Este vídeo serviu como um teste conveniente para demonstrar minhas habilidades. Alguns meses depois, Olly me disse que eles acabaram se separando de seu vocalista e precisavam de um substituto para a turnê



CAPA . ANDY CIZEK

já marcada pela África do Sul. Eu disse que com certeza sim, fiz a turnê e tudo mais e se encaixou a partir daí. A química foi ótima e eu fui nomeado membro oficial pouco tempo depois. Estar no Monuments te trouxe mais visibilidade para o seu trabalho. Você sente essa pressão de sempre ter que corresponder com o que se espera? Sim e não. A demanda por conteúdo criativo de mim sempre foi uma coisa de crescimento lento, com muitos degraus que levam até agora. Não acho que foi uma mudança drástica de responsabilidade. No entanto, intensificar-se como vocalista de metal em um ambiente ao vivo foi cer86 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


tamente um ajuste da norma. A sua versatilidade vocal chama muita atenção. Como foi a sua entrada no canto? Como foi o seu início e essa versatilidade veio como forma de destacar dos demais ou surgiu naturalmente? Comecei a cantar ainda adolescente, minha história de origem não é super especial. Sempre adorei música, meu pai era músico, então isso me influenciou a me tornar um também. Nos primeiros anos, eu não tinha ideia do que estava fazendo, mas eventualmente comecei a levar a arte muito a sério, a ponto de ficar obcecado por ela. Eu queria desesperadamente me esforçar para ser o melhor, sem prestar atenção se isso era uma coisa realmente alcançável ou não. Coisas que não funcionavam naturalmente, eventualmente se concretizaram depois de muitas pesquisas, tentativas e erros e auto-aversão (risos).

outros projetos em paralelo, como que você fica ‘ao final do dia’? Como gerencia sua carreira solo, Monuments, Makari, Wvnder, Termina? Eu apenas tento viver um dia de cada vez, faço checklists e tento aproveitar a qualquer momento de inspiração. Tenho a sorte de ser capaz de me sustentar financeiramente com música e fazer isso de casa, então isso é praticamente tudo que faço com meu tempo. Acho que estou fazendo um bom trabalho em conciliar tudo, mas sempre tenho a mentalidade de que poderia fazer mais. Essa maneira de pensar é ao mesmo tempo benéfica e, às vezes, prejudicial.

Termina. Como nasceu esse projeto com o guitarrista Nik Nocturnal? Nik e eu éramos amigos da música e colaboradores online quando a ideia de fazer músicas originais surgiu. Originalmente, Nik tinha recrutado outro vocalista para o projeto, mas não deu certo e Ser vocalista de uma ban- ele me chamou. Embora já esda com tanto peso e ter tivesse fazendo outras coisas,


CAPA . ANDY CIZEK Foto: Nikolett Napsugár Rosta

SEMPRE TENTEI USAR A MÚSICA COMO UMA VÁLVULA DE ESCAPE PARA EXPRESSAR ESSAS DESGRAÇAS DE UMA FORMA SAUDÁVEL

88 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

agarrei a oportunidade. Nik é um músico incrivelmente ambicioso e criativo e eu não poderia deixar de me juntar a uma banda com ele!

dos anos no metal, especialmente para alguns de nós, millennials “mais velhos” (ou qualquer outro). O foco parece ter mudado mais para uma composição sólida e menos para ser técnico e se exibir. Nik e eu estamos basicamente tentando pegar nossos aspectos favoritos da cena da música pesada atual, combiná-los de uma forma acessível e ver o que pega.

“The Abyss” foi lançada esse ano, fruto dessa parceria com Nik e já alcançou número expressivos. Ao que se deve essa aceitação do público com o som mais moderno do metal? O perfil do ouvinte Assistindo alguns de tem mudado? covers, incluinEu acho que os gostos defini- seus tivamente mudaram ao longo do a sua audição para o


Monuments, liberado pela Sumerian Records, percebo que você deposita muita paixão na hora de cantar. De onde vem esse sentimento? Meu cérebro é uma bagunça, a vida às vezes é uma merda. Sempre tentei usar a música como uma válvula de escape para expressar essas desgraças de uma forma saudável. É um meio de desabafar, comunicar e se relacionar com os outros de uma forma que nada mais pode oferecer. Acho que a paixão vem da liberação emocional que recebo por

ser capaz de fazer isso. Quero mostrar ao mundo que posso ser grande, mesmo com esses obstáculos mentais e lutas diárias. Isso é o que eu tentei fazer com a música de audição da Sumerian Records.

muito com outras pessoas ao longo dos anos. Também troquei alguns treinadores vocais pelo caminho. A maior parte vem da experiência e de ver o que funciona e o que não funciona para minha voz. Entre os fatores mais importantes que aprendi estão o aquecimento adequado, a manutenção da saúde física e o exercício de repouso vocal quando necessário. Ainda estou sempre aprendendo e experimentando coisas novas.

Como vocalista, além de gerenciar agenda, você precisa cuidar muito bem da voz. Como são os seus cuidados? Você teve algum mentor quando aprendeu a cantar? Eu tentei todos os tipos de abordagens diferentes para A respeito da escrita das manutenção vocal e aprendi letras e interpretação de-


CAPA . ANDY CIZEK

las nas músicas, você escolhe algumas palavras que se encaixem melhor o scream ou tudo flui naturalmente? Gostei dessa pergunta! Muito pensamento vai para a fonética das palavras. Frequentemente, tenho o som de uma vogal em mente antes de a letra ser escrita. Certos fonemas simplesmente “parecem” certos em situações particulares, e eu sigo isso quando escrevo. Você sempre faz playthrough das músicas. Já era uma prática, mas que agora, com a pandemia, isso foi ampliado. Qual a sua estratégia de divulgação e como tem sido esse retorno? Quanto mais eu puder colaborar com outros artistas em vídeos de reprodução, melhor! Acho que se conectar com 90 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

outros músicos talentosos ao redor do mundo é uma das melhores maneiras de espalhar a palavra e aprender uma ou duas coisas ao longo do caminho. Fazer essas conexões foi essencial para meu crescimento como artista e a de-

manda para fazer isso só ficou maior com a pandemia. E um desses vídeos há a participação de João Medeiros no playthrough da música do Spiritbox. Vocês já se conheciam?


Foto: Divulgação

a qualidade do seu trabalho. Eventualmente, fizemos planos para colaborar e a faixa Spiritbox foi aquela em que pousamos!

Como foi tudo ocorreu? João e eu já tínhamos nos conectado online, acho que apenas para expressar admiração pela agitação um do outro. Deixe-me apenas dizer, aquele cara é SUPER talentoso. Fiquei impressionado com

Recentemente Makari lançou “Labyrinth”. Analisando a letra, no atual momento de pandemia, as pessoas e até algumas nações parecem dizer ‘Don’t follow me Cause I’ll lose my way again (...) Cause you’ll end up back where you began’. Qual seria o caminho para sair desse labirinto? Para ser honesto, não tenho certeza. E eu acho que a música meio que expressa essa noção. Estamos todos apenas fazendo o nosso melhor para tentar navegar no labirinto confuso e sempre flutuante da vida. Estou tão perdido quanto todo mundo, muitas vezes me perco. Em falar em pandemia, a parada brusca dos shows afetou toda uma indústria. Como tem sido para você se manter nesse período? O que tem feito?


Foto: Charlie Bluck

CAPA . ANDY CIZEK

É uma merda. O fato de os shows estarem fora de questão indefinidamente é uma pílula difícil de engolir. Não saber quando a indústria da música ao vivo vai se recuperar é uma coisa muito assustadora para os artistas em turnê. Estou apenas tentando aproveitar ao máximo meu tempo fora da estrada escrevendo, criando e colaborando o máximo que posso. O lado bom é que há mais tempo ocioso do que nunca para aproveitar. 92 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

Top 5. Atualmente, quem são os principais vocalistas do Rock/Metal? Fale um pouco sobre cada um deles. Na verdade, esta é uma pergunta que não tenho ideia de como responder. Existem muitas influências e nunca consegui escolher as favoritas. Eu sou muito indeciso!

metade de 2020? Muito obrigada, sucesso enorme! E esperamos vê-lo no Brasil em breve! Você pode esperar um novo EP de Makari muito em breve, um álbum completo de Termina, um número não especificado de músicas do Monuments e muitos outros esforços para listar. Mais uma vez, muito obrigado pela ótiPara finalizar, o que po- ma entrevista, e estou ansioso demos esperar de Andy para ver todos vocês em breve e seus projetos para essa no Brasil!



INTERVIEW. BY FIRE & SWORD

POR PEI FON // FOTO DIVULGAÇÃO

L

ançado no ano passado, o EP “Freedom Will Flood All Things With Light” deu aos americanos do By Fire & Sword uma grande notoriedade, tanto é que The Rev. Tim Tom Jones (vocal), Brother Michael (guitarra), Brother Jeffrey (guitarra), Brother Zachery (baixo) e Brother Michael Francis (bateria) já assinaram com uma gravadora para lançar seu primeiro álbum completo. Apostando numa sonoridade voltada ao Heavy/ Power Metal, com muitas referências épicas, o quinteto também busca uma identificação visual e temática única, e por mais que muitos venham a rotulá-los como White Metal, a banda está muito longe disso. Aqui o teatro se uniu à música de uma maneira instigante e dramática. Com a palavra, Brother Jeffrey, ou, Jeff Young. 94 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

O By Fire & Sword surgiu entre o final de 2017 e começo de 2018 na cidade de Boise, capital do estado de Idaho, e dentre seus principais desejos estava a vontade de criar um Heavy Metal cativante, influenciado pelo Metal Tradicional. Como foi esse início da banda? O que levou vocês a criarem o By Fire & Sword? Jeff Young - O início da banda foi muito interessante. Eu tinha escrito um monte de músicas no meu apartamento no verão de 2017 (a maioria das quais acabou em“Freedom...”) e, além de escrevê-las, não tinha planos reais de lançá-las. Eu mostrei a Thomas, então recrutamos alguns de nossos amigos para completar a banda. Thomas tinha um conceito visual e lírico muito forte para o projeto que achamos que se encaixava muito



INTERVIEW. BY FIRE & SWORD Fotos: Joe Turmes

mos que nos EUA há um grande crescimento de bandas voltadas ao Metal Tradicional, mas há um público ávido pelo estilo? No que diz respeito à música pesada, Boise é bastante diversificada. Temos algumas bandas underground conhecidas atualmente, duas das minhas favoritas são Throes e Infernal Coil, mais na linha de Sludge e Death Metal, respectivamente. Muitas pessoas conhecem os projetos WolvE como é a cena Heavy serpent e Uzala, nos círculos Metal aí na cidade? Sabe- mais ligados ao Doom Metal. bem na música, e foi basicamente isso que acabou sendo o By Fire & Sword. Depois de colocar todos os aspectos no lugar, as coisas aconteceram muito rapidamente e gravamos “Freedom...” em duas sessões diferentes em março de 2018 e outra sessão em novembro. E por alguma razão, não acabamos lançando nada até meados de 2019, quando as coisas realmente decolaram para nós.

96 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

O Heavy Metal tradicional é certamente algo que se ouve localmente, mas seria difícil nomear muitas bandas do estilo na área. A banda Krystos pode ser uma das poucas em quem consigo pensar. O By Fire & Sword decidiu adotar um visual diferente das bandas de Heavy Metal, mais próximos à pregadores, e seus pseudônimos vão de encontro a isso. Como foi criar os personagens The Rev. Tim Tom Jones, Brother


Michael, Brother Jeffrey, Brother Zachery e Brother Michael Francis e o que eles significam? Nosso visual e “vibração”, se você quiser dizer, é definitivamente algo que nos ajuda a nos destacar - geralmente para melhor. Criar os personagens e os elementos temáticos foi muito fácil para Thomas e eu, já que ambos temos uma vasta experiência em escrever e fazer teatro, então trabalhar esses elementos em um projeto de Heavy Metal foi um desafio divertido. Quanto ao significado, a longo prazo,

você só terá que prestar atenção para descobrir, mas todos os Irmãos são muito devotados à sua fé e ao seu líder. Você não vai se juntar a eles e deixá-los mostrar a luz? Além do visual dos músicos e seus pseudônimos, as letras abordam temais mais “positivos”, e a capa mostra uma igreja iluminada em meio a floresta. De que forma poderíamos encarar a temática que o By Fire & Sword aborda? O By Fire & Sword busca ser um farol de luz e esperança

em um mundo que está envolto em trevas. As músicas são sobre como encontrar a luz dentro de você, se livrar dos grilhões de suas demandas sociais opressivas e se juntar à luta pelo bem. A “Primeira Igreja Sagrada dos Filhos da Luz” está travando uma guerra contra as forças das trevas e busca soldados justos para seu exército, para salvar suas almas e todos que você ama. O EP “Freedom Will Flood All Things With Light” foi lançado em julho do ano passado e tem conquista-


INTERVIEW. BY FIRE & SWORD

do muitos fãs ao redor do mundo. Um deles é Mem Von Stein, vocalista do Exumer e grande colecionador de LPs. Como a banda tem visto este crescimento neste ano que se passou? As gentis palavras de Mem foram uma grande honra e surpresa! O EP foi lançado há pouco mais de um ano e o crescimento que vimos foi imenso. Desde o envio de material para lugares como Noruega e Rússia e visitas a novas ci98 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

dades apenas para que estranhos venham nos ver e conhecer a letra de nossas músicas, nós ficamos maravilhados. Aconteceu muito mais rápido e mais intensamente do que qualquer um de nós imaginava, mas foi incrível. Recebemos muitas mensagens de todo o mundo de novos fãs e é muito humilde e comovente todas as vezes. Nada faz meu dia se sentir melhor do que ver um post marcado de um LP ou camiseta de algum lugar no exterior. Movimenta-

mos muitos materiais (CDs, LPs, camisetas) e downloads e tudo isso em nosso primeiro ano, então isso é algo que eu jamais poderia imaginar. A COVID-19 interrompeu rapidamente muitos de nossos planos, mas o amor é sentido com a força de sempre. “Freedom Will Flood All Things With Light” apresenta cinco faixas, dentre elas “Testify”, uma das músicas mais citadas em resenhas, e que recente-


mente ganhou uma versão acústica, disponibilizada no Bandcamp. Além dela, quais músicas que mais tem se destacado? “Testify” é muito mencionada, e é sempre emocionante quando um crítico ou fã no Bandcamp menciona uma faixa diferente como sua favorita. Alguns de nós gostamos bastante de “A Diligent Hand”, e eu diria que é provavelmente minha próxima música favorita. Eu sinto que todas as músicas são diferentes o suficiente para que eu

ame todas elas por razões diferentes. Muitas pessoas nos disseram que “Boots to Neck” é a sua música favorita, bem como “Where The Light Lets Its In”, então eu acho que realmente depende de para quem você pergunta. Acho que há algo para todos dentro do que fazemos. A sonoridade do EP evoca influências de Metal Tradicional/NWOBHM e também possui elementos de Epic Metal. Imagino que há um leque imen-

so de influências. Como foi o processo de composição destas músicas e como vocês as encara cerca de um a dois anos de sua criação? O processo de escrita foi super divertido e experimental para mim. Antes de By Fire & Sword eu passei muito tempo tocando música, mas fora do gênero do Metal em si. Sempre fui um grande fã de NWOBHM e de Power Metal, especialmente, então decidi que escreveria um punhado de músicas, principalmente


INTERVIEW. BY FIRE & SWORD

para ver o que eu inventei. A primeira música que escrevi para o projeto foi “Testify”, e acho que é por isso que tem uma vibe mais Power Metal distinta do que as outras. A influência está definitivamente presente em partes do resto do EP, mas não na sua cara. Naquela época eu estava ouvindo muito Unleash the Archers, Gloryhammer, Orden Ogan, Blind Guardian, Dragonforce, Wintersun, e assim por diante e quando volto e ouço o EP, posso definitivamente identificar essas influências. Três anos depois, acho que todas as músicas ainda estão muito bem e as ouço regularmente. Não podemos deixar de falar da pandemia. Pouco mais de meio ano depois do lançamento do EP, o coronavírus começou a se disseminar pelo mundo e os shows (e obviamente as aglomerações), começaram a ser cance100 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


Foto: Joe Turmes

lados. Neste meio tempo, o By Fire & Sword conseguiu fazer uma quantidade boa de shows? A apresentação marcada para o festival Legions of Metal, inicialmente agendada para maio, foi postergada para setembro e agora foi cancelada de vez. Como têm sido esse período? Infelizmente não. Não tocamos ao vivo há um bom tempo. As coisas estavam um pouco mais lentas para fechar em nossa área (e um pouco rápido demais para abrir novamente), então todos os nossos locais estão fechados há um bom tempo. Houve algumas oportunidades de fazer algumas apresentações ao vivo, mas na época não achamos que aquele tipo de apresentação descontraída e casual fosse muito adequada para o que By Fire & Sword é, e decidimos apenas esperar até que pode dar o nosso melhor desempenho. Foi muito deprimente para o festival Legions of Metal adiar e cancelar o evento, já que estávamos muito felizes por termos sido convidados para tocar ao lado de tantos de nossos amigos e bandas excelentes. Estou muito feliz em dizer que fo-

mos convidados de volta para o festival em 2021, então estamos ansiosos por isso. Tínhamos uma turnê agendada em torno do festival, então quando tudo pegou fogo eu decidi voltar minha atenção para começar a trabalhar nas demos para o álbum completo. E em meio à quarentena, a banda lançou uma versão acústica para “Testify”, liberada apenas no Bandcamp, numa ação envolvendo dezenas de bandas, que doaram todas as suas vendas no Bandcamp no dia 5 de junho para a “National Bail Fund Network” (Rede Nacional de Fundos de Fianças). Nesta ação, cerca de 40 bandas de Heavy Metal e Punk doaram as contribuições recebidas no Bandcamp para ajudar os manifestantes que protestaram contra o assassinato de George Floyd por um policial em 25 de maio, o que ocasionou diversas detenções pelo país em virtude dos protestos, que condenavam a brutalidade policial e o racismo institucionalizado. Como foi participar


INTERVIEW. BY FIRE & SWORD

desta ação e como você encara esta situação? Acho que acabou (se não me falha a memória) realmente sendo algo como 61 bandas? Sentimos que era importante mostrar nossa posição e mostrar o nosso apoio. O Heavy Metal, infelizmente, abriga muitos extremistas de direita, racistas, homofóbicos, etc, então queríamos fazer uma declaração rápida e quando a coalizão foi formada, foi uma decisão fácil dar nosso apoio a ela. Definitivamente não doeu o fato de muitas das minhas bandas favoritas estarem envolvidas, então foi legal ser listado ao lado de muitas bandas que eu amo. Tenho o prazer de dizer que não recebemos nenhuma resistência de nenhum de nossos fãs como várias outras bandas receberam, localmente ou na internet. Achei que poderia mexer com alguma coisa, já que Idaho é um estado muito conservador, dominado pelos brancos e todos nós somos brancos, mas nada ainda. A 102 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

comunidade Boise BLM fez Acho que o próximo lançaum excelente trabalho de pro- mento é mais pesado de um testo e exigindo mudanças. modo geral, mais melódico com um estilo muito mais Mesmo com a pandemia, claro e definido. Eu acho que a banda tem trabalhado ainda soa muito como By Fire em seu début, que deverá & Sword, nós não nos torser lançado no próximo namos progressivos ou algo ano. O que você poderia assim, mas apenas tem um nos adiantar sobre este toque mais fino nisso. Quantrabalho? O que ele difere do escrevi “Freedom...”, foi do EP? meio aleatório e sem um ob-


jetivo claro em mente, ao passo que nessa época eu tinha uma ideia muito mais clara de como queria que soasse e tenho mais de dois anos de riffs no bolso de trás, então não doeu nada também. Se eu tivesse que pintar um quadro verbal, pediria que você tentasse imaginar Blind Guardian, Manilla Road e In Flames misturados. O EP re-

almente serviu como uma introdução aos temas e personagens da banda, enquanto tocava apenas vagamente na banda e na narrativa do Reverendo. O álbum será muito mais focado em percorrer esse caminho em profundidade. Além do By Fire & Sword você também participa de outros projetos musicais,

como o Weald and Woe, uma banda de Black Metal, e que também trabalha em um próximo lançamento. Como é trabalhar em dois lados opostos no estilo e na temática? Na verdade, eu estava trabalhando no material de Weald & Woe em paralelo com as demos do By Fire & Sword. Eles têm aspectos sonoros muito diferentes, então é muito fácil compartimentá-los quando necessário, e eu realmente gostei de trabalhar neles simultaneamente, pois cada um me permitiu uma pausa do outro. Weald & Woe é na verdade um projeto solo, então é mais fácil de escrever, já que sou eu que tenho que fazer tudo, exceto bateria, e não tenho que levar ninguém em consideração. Exceto pelo pobre baterista. É um projeto muito catártico para mim


INTERVIEW. BY FIRE & SWORD

tempo cedido! Alguma mensagem para os fãs brasileiros? Ei, obrigado! Agradeço o tempo. Tive o grande privilégio de conhecer alguns brasileiros durante minha vida relativamente curta e não posso dizer coisas boas o suficiente sobre eles. Nunca tive o prazer de visitá-los, mas está absolutamente na lista de desejos se algum dia chegarmos lá! EsJeff, muito obrigado pelo tamos recebendo um grande e vive em um espaço muito mais pessoal dentro de mim. Com o By Fire & Sword eu escrevo com os outros caras em mente para tentar utilizar melhor suas qualidades e estilos de tocar. Os elementos temáticos e teatrais são muito mais cruciais, por isso é preciso mais ajustes para transformar as ideias em uma música do By Fire & Sword.

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apoio do Brasil recentemente e agradecemos muito a todos por isso. É uma honra para nós poder criar algo que agrade a tantos. Se ainda não fez isso, siga-nos no Facebook e no Instagram para se manter atualizado com o que estamos fazendo. Se você estiver interessado em meu projeto de Black Metal, pode encontrá-lo em @wealdandwoe em todas as plataformas. Obrigado amigos!





INTERVIEW. THE DAMNNATION

TEXTO E FOTO JESSICA MAR

A

mais nova banda brasileira de metal, The Damnnation, apresenta um som versátil, que mistura várias vertentes do metal extremo. Três garotas insanas fazendo metal sem rótulos, consciente e consistente com temas sobre depressão, injustiça e política. The Damnnation acaba de lançar o segundo single da carreira, “Apocalypse”, faixa faz parte do EP intitulado ‘Parasite’, que está passando pelo processo final de gravação e mixagem, com lançamento previsto para o começo de 2021. “Apocalypse” traz uma sonoridade nova e extremamente pesada, um estilo diferente dentro do metal extremo sendo difícil de classificar em apenas um gênero específico. A banda também estreou recentemente o videoclipe “World’s Curse”, a primeira música da banda a ser oficial108 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

mente divulgada nas mídias especializadas. O próximo videoclipe será da faixa “Parasite”, que já foi gravado e será lançado em breve. Renata Petrelli conversou conosco para contar mais detalhes sobre esse novo projeto. Para quem nunca ouviu a música da The Damnnation, como vocês definiriam seu som? Renata Petrelli - É uma mistura dos sons que mais gostamos! Acredito que o que está mais em evidência é o thrash, mas tem influências de grunge, metal melódico, stoner, southern rock, death melódico. Todas as integrantes vieram de outras bandas, como vocês se conheceram e montaram The Damnnation?



INTERVIEW. THE DAMNNATION

A The Damnnation começou em fevereiro do ano passado, logo após a minha saída da Sinaya (na qual fiquei por quase 5 anos). Pouco tempo depois, a Cynthia Tsai também saiu da banda e eu ainda procurando uma baterista, fiz o convite e ela aceitou. A Camila Brandão foi algo inusitado, pois nos seguíamos no Instagram e sempre achei legal a pegada dela no baixo. Mostrei as ideias pra ela e ela topou. Já no momento atual da banda, a Aline Dutchi a conheço em torno de 10 anos mais ou menos, já tocamos em outras bandas juntas, mas ela sendo baterista. Como ela também toca outros instrumentos, como guitarra e baixo, no momento que tivemos que procurar baixista, ela quis tentar e achei super válido! A Leonora além de tocar na Artaxe (banda também daqui de São Paulo), no Heal or Kill e Vindicta, já a conhe110 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


cia por também ter feito teste em bandas anteriores e sempre foi muito participativa na cena, então foi a primeira pessoa que pensei para substituir a Cyn, que precisou se ausentar da banda pela logística de morar longe e o custo que isso tudo envolve. Essa é a primeira banda da Renata Petrelli após a saída da Sinaya? É sim, queria aproveitar o monte de arranjo que já tinha pronto.

redes sociais... Esta música irá virar videoclipe? Será o primeiro videoclipe da banda? “Apocalypse” será o segundo clipe, o primeiro foi “World’s Curse” que está no nosso canal do Youtube. Tínhamos lançado o clipe com apenas 6 meses de banda. A crise do novo coronavírus atrapalhou muito os planos da banda ou vocês já estavam com o EP gravado e os planos de divulgação prontos? Atrapalhou um pouco sim, não nego. Estávamos no meio da gravação do EP, precisamos pausar e retomamos agora em agosto só. Por conta disso, invertemos um pouco o cronograma das coisas e pegamos o tempo “livre” sem shows para organizar a parte de marketing, assessoria, merch e outros assuntos da banda. Além de adiantar mais composições.

O primeiro EP da banda, “Parasite” será lançado este ano, pode nos contar um pouco sobre esta estreia? Não sei se este ano é o melhor momento para lançar o EP, visto que essa pandemia atrapalha um pouco o quanto um lançamento de forma presencial é mais legal e interessante para público e imprensa. Mas se não for esse ano, será no início do ano que vem, quando (espero eu) tudo estiver Como é o processo de granormal! vação da banda? Na grande maioria das vezes Recentemente, lançaram eu faço os arranjos, escrevo o single “Apocalypse”, e no Guitar Pro para as mevimos um making off nas ninas terem as tablaturas e


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também poderem editar seus instrumentos como acharem que é mais bacana, e gravo algumas demos de referência para a gente sentir de uma forma mais orgânica como as músicas soariam. Aí mostramos pro nosso produtor, o Rogério (Flight Estudio), que dá alguns pitacos principalmente na parte estrutural. Isso a gente tem feito via vídeo conferência para minimizar riscos. No momento de gravar sempre acaba mudando alguma coisa ou 112 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020


acrescentando mais coisas. Como vocês estão planejando a performance ao vivo, já que vocês não conseguiram realizar nenhuma estreia nos palcos? Já tem shows agendados? Tínhamos alguns shows agendados, tudo para o estado de SP. Algumas outras cidades e estados têm mostrado interesse também, mas por ora fica difícil agendar qualquer coisa correndo o risco de ter que postergar, né... Mas a ideia é que assim que voltar ao normal ou ser minimamente seguro para banda, público e produção que a gente reagende os que iriam acontecer e

coloque mais na lista. Um power trio feminino não é algo inédito, como está a perspectiva da banda em relação ao projeto? Como está a aceitação do público? É não é mesmo, mas acredito eu que seja mais prático em vários sentidos: logística, gastos, dividendos, decisões, etc. Sobre a expectativa acredito que somos bem pé no chão. Claro que queremos alçar voos cada vez mais altos, mas tudo vem com muito trabalho, dedicação, e um passo de cada vez e muita humildade, saca? No meio está todo mundo procurando seu lugar ao sol e ninguém é melhor do que ninguém. Então nada mais justo do que um ajudar o outro, valorizar e enaltecer o trabalho de todo mundo que


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QUEREMOS ALÇAR VOOS CADA VEZ MAIS ALTOS, MAS CLARO QUE TUDO VEM COM MUITO TRABALHO, DEDICAÇÃO

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faz por onde. Nada cai de mão tras sejam em inglês, quando beijada e estamos só no come- a galera pegar a letra pra ler ço desse trabalho. ou traduzir, quero que entendam a sonoridade de quando Vocês consideram a mú- estou cantando (risos). Eu sica da The Damnnation não “canto” (aspas aí porque algo original? O que você estou aprendendo ainda) guconsidera um diferencial tural, porque escuto muito da banda? gutural que não se entende Pensando que é uma banda logo de cara o que é falado e feminina e powertrio, não é está cheio de banda cantando tão original (risos). Mas a so- gutural, aí quis ir para o lado noridade eu acho que sim, por contrário, porque sou dessas algumas características: Me (risos). O outro diferencial é preocupo muito que as pes- que na hora de fazer os arransoas entendam o que está sen- jos só sento e toco, não fico do falado e por mais que as le- pensando “aí quero fazer um


tos paralelos? Como conciliar todos? Renata Petrelli: Sim, eu toco em um Alice in Chains Cover, chamado Nutshell e em uma banda de hard rock com grunge chamada Marie Dolls que fundei em 2012. A Marie Dolls também é autoral, mas como todas as meninas tem um dia a dia mais atribulado, tem compromissos mais esporádicos, então dá para conciliar. Dutchi: Eu toco bateria em uma outra banda chamada Haze. O Haze é do MS e por Vocês têm outros proje- esse e outros motivos, a banriff tipo da banda X”. Então, como tenho muita influência diferente, de thrash, stoner, grunge, Southern rock, doom, metal melódico, acabo fazendo o que me dá na telha (risos). Na bateria acredito que a Leonora também, sente o arranjo e toca o que a música pede! A Dutchi tem uma tarefa mais difícil na minha opinião, que é fazer arranjo no meio da guitarra e do baixo, de uma maneira que ainda assim não fique limitada e meus amigos, ela consegue e fica demais!

da não tem muitas atividades durante o ano e os últimos shows foram há 2 anos. A gente se reúne de vez em quando e tenta produzir pela internet, então é bem tranquilo para conciliar. O mais difícil é conciliar dois instrumentos, então na parte da tarde eu toco bateria e a noite eu faço as coisas na internet e toco um pouco de baixo. Leonora: Sim, tenho outros projetos paralelos, sou baterista, backing vocal, letrista, participo das composições e fundadora da Vindicta de Campinas. Ainda em Campi-


INTERVIEW. THE DAMNNATION

nas, sou baterista e backing vocal, ajudo nas letras e composições de bateria da Heal or Kill, projeto solo do meu noivo Brunno Mariante, na qual tivemos a honra em trabalhar com grandes nomes como Vitor Rodrigues (ex Torture Squad) e Blaze Bayley (ex Iron Maiden). Em São Paulo, toco numa outra banda feminina a Artaxe e estou com uns projetos a mais que ainda é surpresa, mas é totalmente diferente de tudo o que já faço. Dá pra conciliar, pois são bandas au116 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

torais e as demandas podem ser organizadas de acordo com agenda e, às vezes, fazer o show com mais do que uma banda, cansativo, mas dá. Quais os planos da The Damnnation para o futuro, quando tudo se normalizar? Bom, já estamos mirando mesmo o ano que vem (risos). E é fazer shows.... Como também já tem muita música pronta, é gravar um álbum completo e de repente lançar

já em 2021. Vocês podem citar os álbuns que influenciaram a banda, e o gosto pessoal de cada uma de vocês? Renata: Influenciar a banda... Nossa, na época que essas músicas foram escritas eu estava ouvindo muito Megadeth, Alice in Chains, Kreator, Testament, Lamb of God e Behemoth. E é muito do meu gosto pessoal também. Mas para falar de álbuns: Crypitic Writings – Megadeth.The


New Order – Testament. Metallica - Master of Puppets. Kreator - Violent Revolution. Arch Enemy - Anthems of Rebellion. Paradise Lost – One Second. Alice in Chains – Dirt. Lamb of God – Laid to Rest. Opeth – Sorceress. Leonora: Nossa! Tenho influências de muitas bandas, mas com certeza a minha banda do coração é Arch Enemy! Acho mais fácil citar influências de gêneros que bandas em si, sou muito entusiasta do blues, death metal/ death metal melódico, thrash, heavy

metal, adoro doom metal e stoner, confesso que nasci como baterista por causa de new metal com a banda Kittie (também só de mulheres), então acho que fica mais fácil citar gêneros à bandas... quanto a álbum, jamais vou negar a obra prima do Nevermore, a ‘Dead Heart in a Dead World’ e a ‘Extinct’ do Moonspell, mas têm outras também, mas essas eu não consigo pular qualquer faixa. Dutchi: Álbum foi o ‘Kill’em All’, do Metallica. Influências são Metallica, Megadeth,

Faith No More. E meus ídolos são Cliff Burton (Metallica), Flea (RHCP), Roy Beatty (Enox). Podem deixar uma mensagem para nossos leitores? Primeiramente gostaria muito de agradecer pela entrevista e espaço concedido à nossa banda! Para a galera que está lendo e não nos conhece, sintam-se à vontade em nos contactar nas redes sociais e conferir nosso som: Site, Instagram e Facebook.




INTERVIEW . CHAOSFEAR

POR AUGUSTO HUNTER FOTO JEAN SANTIAGO

Qual a história por trás do ChaosFear? Fernando Boccomino: A história do ChaosFear começou em 1999 quando eu, meu irmão e nosso antigo baterista Danilo Altomar resolvemos montar uma banda que fosse a nossa cara. Nessa época o nome da banda era Sick Mind. Mudamos para ChaosFear em 2002/2003. Quisemos montar uma banda que misturasse thrash, death e hardcore em sua forma mais violenta. Nossos dois primeiros cds (One Step behind Anger e Image of Disorder) são a prova disso. Diretos e violentos. A partir do EP “Legacy of Chaos” começamos a incorporar novas influências ao som da banda. 120 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

E se tem uma parada legal é o nome de vocês, foi fácil achar o nome da banda? Obrigado!! O culpado pelo nome é o Meshuggah! Ouvíamos muito o Chaosphere nessa época, aí do nada o nosso antigo baixista Anderson (2001 – 2012) falou: “e

se colocássemos o nome da banda de ChaosFear?”. Todos gostamos da ideia e adotamos ChaosFear como nome da banda. A junção das palavras Chaos e Fear soam fortes, e era exatamente isso que queríamos: um nome que representasse bem a nossa música.


dávamos pro Marco organizar tudo. Aliás temos que deixar registrado: o trabalho de produção e mixagem do nosso baixista Marco Nunes em “ Be the light in Dark Days” ficou sensacional. A cada novo trabalho ele se supera.

“Be The Light In Dark Days”, seu último lançamento, está com uma sonoridade incrível. Como foi o processo de composição desse disco? O novo trabalho foi feito quase que 100% através de troca de arquivos. Todos gravamos nossas partes em casa e man-

Podemos dizer que esse disco é um pouco mais “positivista”? Com certeza. Dessa vez procurei dar um toque mais realista as letras. Achei que estava na hora de sair um pouco daquela trinca religião, violência e política... Ainda escrevo sobre esses assuntos, afinal as atrocidades continuam por aí de modo desenfreado, mas quis abrir o leque e escrever sobre experiências pessoais. A letra de “Be the light in Dark Days” é praticamente um relato de um período bem difícil em minha vida. Por mais que a letra seja pesada, ela contém uma mensagem de superação, de vitória e de enfrentar de frente todos os seus problemas. Recebemos muitos relatos de pessoas que se sentiram tocadas pela letra. É fantástico!


INTERVIEW . CHAOSFEAR

Quando escrevemos sobre situações reais a chance de atingirmos as pessoas é muito maior, pois há uma identificação quase que imediata. Acho legal criticar, confrontar, colocar mensagens de protesto nas letras, mas é muito importante deixar um fundo de esperança nas mensagens.

novidades para o som?

Vocês se descrevem como Thrash, mas eu percebo muita coisa moderna na construção da banda. É certo dizer que a banda está sempre em busca de

den, Black Sabbath, Kiss, mas

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Correto. Começamos como uma banda Thrash/Death, mas com o passar dos anos sempre fomos acrescentando novas influências. A ideia é não se prender a um único estilo. Vamos do Hard ao Black Metal sem problema algum. Amamos Metallica, Forbidnão paramos no tempo. Ouvimos muitas bandas novas como Periphery, Soen... Eu gosto muito do trabalho da Myrkur. Acho fantástico.

O início da faixa “Cold” ficou ótima, gostei muito do que vocês fizeram e o riff é marcante. A sonoridade surgiu naturalmente ou vocês foram busca, já estavam com uma ideia pronta? Essa música eu fiz há uns três anos atrás. Queria fazer algo que fosse uma mistura de “A good day to Die” (Exodus) com “Harvester of Sorrow” (Metallica). O clima do começo é marcante e contrasta bem com o riff que entra depois, bem pesado e marcado. Mos-


trei a música para o pessoal da banda e todos adoraram. Depois cada um colocou sua cara na música e finalizamos a “Cold”. E a capa do disco é outro show, quem foi o artista e ele soube captar exatamente a mensagem que vocês queriam passar? Muito obrigado! Quem fez a capa foi nosso amigo Jean Santiago. O trabalho dele é fantástico. O cara é super profissional e tem um talento absurdo pra fazer capas e vídeos. O Jean conseguiu cap-

tar o clima das letras/músicas e repassar para a capa do cd. Ficamos 100% satisfeitos com o trabalho. Ele simplesmente nos mandou a capa e dissemos: é isso! Recentemente vocês liberaram uma versão incrível do clássico do Exodus, “Toxic Waltz”, com o lendário Steve ‘Zetro’ Souza participando, como tudo aconteceu? Ainda estamos em choque com tudo isso... Para nós é surreal, realizamos aquele sonho de moleque. Nós está-

vamos planejando lançar alguns covers como singles ou mesmo um EP só de covers. Uma das bandas que estavam na lista era o Exodus. Estávamos um dia conversando com nosso assessor Johnny Z (JZ press) e ele nos mandou essa: “Exodus? Eu posso tentar falar com o Zetro, vocês topam?”. Aí o coração disparou (risos). Uma semana depois que o Johnny já tinha falado com o Zetro e a resposta dele foi: “claro, eu faço!”. Corremos para gravar a música e mandamos pra ele. O Zetro adorou a nossa versão e es-


INTERVIEW . CHAOSFEAR

colheu as partes onde queria cantar. Surreal! A importância do Exodus em nossa formação musical é gigante, ter um membro do Exodus gravando conosco foi um sonho realizado. Com essa pandemia louca, imagino que muitos planos ficaram pra frente, vocês pretendem retomá-los, assim que tudo isso passar? No final do ano passado nós 124 // ROCK MEETING // SETEMBRO . 2020

estabelecemos uma meta para Obrigado pelo tempo e 2020 e posso dizer pra você deixe aqui um recado que fizemos até mais do que para os leitores da Rock estava planejado. Lançamos o Meeting. single “The Alliance”, o cover Nós que agradecemos o espaço cedido ao ChaosFear! do Prong, fizemos um collab/ Agradecemos a todos que vídeo para From No Past, lansempre acompanharam e torçamos um cd novo, um amigo ceram pelo ChaosFear. Acomnos deu de presente um vípanhem a banda através das deo para “Be the light in Dark mídias sociais e nos deixem Days” (com a participação dos uma mensagem sobre o que fãs no vídeo) e o single da “To- acharam do novo trabalho. xic Waltz”. E tem mais por vir Todas as críticas são bem-vinaté o final do ano! das. Stay Metal!




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