Rock Meeting Nº 133

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WORDS OF EDITOR

FECHANDO UM CICLO. MAS, POR QUE MUDAR?

P

. PEI FON @PEIFON JORNALISTA FORMADA PELA UFAL, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING

ara início de conversa, toda mudança gera um desconforto. Você não sabe como vai ser, por mais que você queira fazer. Isso assusta de verdade, seja qual for a área na qual atue ou motivo que te levou a tal decisão, quando se percebe que é preciso tomar outro rumo é necessário reconhecer os sinais, decidir e seguir em frente. Ao perceber que um novo ciclo estava se iniciando muita coisa me passou pela cabeça, o que tem gerado um turbilhão de lembranças que vão e voltam; mas não é algo ruim. Acredito que seja a certeza de que fizemos o trabalho correta-

mente e agora é importante atingir outro objetivo. Vamos iniciar um trabalho para preencher uma lacuna e, com isso, buscar novas oportunidades. Mas sem esquecer do que já fizemos, claro. Agora é focar onde ainda não chegamos. Sonhamos alto, sim, e nada pode nos parar. Quem quiser nos acompanhar, garanto que será maravilhoso. O foco é não se limitar. É bem verdade que esse novo ciclo é audacioso, no entanto é cheio de esperança. A Rock Meeting está apostando as suas fichas, com os dois pés no chão. Que venham os novos desafios. Estamos prontos!



SUMÁRIO 2020

31 06 11

06. AXTY

NOVA MÚSICA EM NOVEMBRO

11. JOHN WAYNE

DO PURGATÓRIO AO PARAÍSO

23. NÃO OUÇA VOZES ALHEIAS PESO E MELODIA

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31. COSMOS

PROG/DJENT INSTRUMENTAL

55. NUCLEAR

THRASH QUE VEM DO CHILE

63. MARENNA-MEISTER LANÇA ‘OUT OF REACH’

72. AVERNAL

MADE FROM ARGENTINA

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DIREÇÃO GERAL Pei Fon DIREÇÃO EXECUTIVA Felipe da Matta CAPA Alcides Burn Canuto Jonathan PROJETO GRÁFICO @_canuto COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Fernando Pires Marta Ayora Mauricio Melo Paulo Apolinário Rafael Andrade Renato Sanson UIllian Vargas

45 SPIRITBOX ENTREVISTA EXCLUSIVA PARA O BRASIL

CONTATO contato@rockmeeting.net

WWW.ROCKMEETING.NET



ARTICLE . AXTY

POR PAULO APOLINARIO // FOTO BANDA/DIVULGAÇÃO

AXTY evoluiu de um projeto solo do guitarrista Felipe Hervoso para uma banda de MetalCore que mistura peso, melodia e elementos de outros estilos

O

som da banda AXTY carrega uma personalidade própria, uma sonoridade que deixa claro que a banda não tem medo de arriscar. O grupo traz uma mistura entre peso e agressividade em consonância com vocais limpos e

linhas de guitarra melódicas. E mesmo dentro do universo do MetalCore, a AXTY ainda acrescenta elementos de Trap, um subgênero contemporâneo Rap, criando uma mistura positivamente inusitada. “A gente definitivamente se encaixa no Metalcore, com

todo esse lance de versos com berro e refrão mais melódico. Porém, como todos somos muito ecléticos, é possível notar influências de alguns estilos diferentes, como Trap, etc”, declarou Felipe Hervoso, vocalista e guitarrista. No momento, a banda se prepara


para o lançamento de um single em novembro deste ano e um álbum previsto para julho de 2021. “Vocês perceberão a diferença que os novos integrantes fizeram na banda e uma boa evolução em todos os quesitos”, antecipou o guitarrista. A AXTY teve início em 2016, como um projeto solo de Hervoso. Na época, o guitarrista travava uma batalha contra a ansiedade e a depressão, encontrando na música uma forma de terapia. Daí veio o nome, como uma abreviatura da palavra Anxiety (Ansiedade), junto ao lançamento do primeiro EP autointitulado. As composições visavam, através das linhas de guitarra, transmitir o que 8 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

Hervoso estava sentido. São obras técnicas, brutais, mas sem perder o feeling. Apesar desse período difícil na vida do guitarrista, atualmente ele garante estar bem e que, além do auxílio que obteve pela música, também procurou a ajuda de um profissional. “A música sempre foi meu porto-seguro com relação a isso. Porém, infelizmente, por muito tempo eu achei que precisava me manter no limbo para conseguir con-


tinuar compondo, para continuar inspirado, o que só piorou minha situação. Fui atrás de terapia, consegui encarar o fato como uma doença que precisa de tratamento, e hoje estou bem melhor”, comentou o guitarrista. Ainda em 2016, com a necessidade de expansão e o desejo de formar uma banda completa, o baterista Lohan Vidal foi convidado a se juntar ao projeto, o que deu início a uma nova fase na vida de ambos. Os dois integrantes foram consolidando suas ideias no formato duo, definindo o rumo que a banda tomaria no quesito sonoridade e linguagem. Bem como, na mensagem que desejavam passar ao público, tendo em vista que o objetivo sempre foi expandir o debate acerca da ansiedade e como ela se tornou um problema tão presente na sociedade. Além das letras e a sonoridade, a banda também traz em seus clipes uma identidade visual que opta por uma iluminação mais suave e cores neutras. “A gente gosta de trabalhar com contrastes e essa junção de metal com


ARTICLE . AXTY

um clipe mais ‘calmo’ é algo que sempre nos cativou. Acreditamos também que, dessa forma, podemos atingir um público maior, não só pela música, mas também pelos clipes”, explicou Hervoso. Todavia, até 2019 a AXTY era um projeto instrumental. Segundo os integrantes, foi nessa época que surgiu a necessidade de inserir vocais 10 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

nas músicas, com o objetivo de expressar, não só pelo instrumental, mas através de palavras, a mensagem da banda. Daí em diante, Felipe Hervoso passou a ser, além de guitarrista, vocalista. Em agosto de 2019, ainda no formato duo, foi lançada a single “77” e, em março de 2020, “Dark Eyes”. Essas composições abriram um leque possibilidades mu-

sicais para a banda, o que fez surgir a ideia de ampliar ainda mais o projeto, através da entrada de novos membros. A banda assim se completou com dois novos integrantes, o guitarrista Guilherme Pagani e o baixista Jonathas Peschiera, ambos escolhidos não só pelas habilidades musicais, como pelas ideias e ideais compatíveis com o projeto.



INTERVIEW . JOHN WAYNE

POR PAULO APOLINARIO // FOTO RAFAEL ANDRADE

Foto Julio Barbosa

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urgatório é o nome do álbum mais recente lançado pela banda de MetalCore, John Wayne. O trabalho faz parte da empreitada da banda em representar a obra de Dante Alighieri em sua representação do Paraíso, Purgatório e Inferno. Se o “tour” de Dante contou sempre com um guia (Virgílio) que lhe explicava em detalhes o que se passava, a John Wayne trilhou o próprio caminho, experimentando o céu e o inferno nesses 11 anos de estrada. Nesse interim, o grupo já enfrentou problemas com gravadoras, mas, no momento, encontrou o equilíbrio entre a arte e os negócios. Com total controle criativo e comercial, a John Wayne consegue cada vez mais trazer um som verdadeiro e que conversa diretamente com os fãs. Fundada em 2009, na cidade de São Paulo, a banda conta com três álbuns de estúdio; Tempestade (2012), Dois Lados (2015) e Purgatório (2019). Antes da produção do primeiro álbum, contudo, o grupo já tinha lançado Eps e singles que foram bem recebidos pelo público – como Aliança, de 2011. Atualmente, com uma visão mais madura da música e do mercado, a John Wayne aposta em composições ambiciosas, como o já citado Purgatório. O material deixa claro, logo de início, o empenho da banda em criar uma obra técnica, com referências artísticas apuradas, mas sem perder o pé no chão dos melhores mosh pits do undergroud brasileiro. Com mais de uma década na estrada, a John Wayne participou ativamente do movimento Hardcore e underground nacional. Como vocês enxergam a evolução da cena nessa última

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década? Rogerio Torres: A banda começou em 2009. A cena era muito diferente naquela época, tinha um movimento começando por aqui, tudo estava aquecido. Os shows lotavam sempre, porque tudo era novo, apesar do Metalcore já ser uma realidade nos Estados Unidos naquela época.

Nessa época existiam muitas bandas boas, mas a qualidade delas no quesito show, gravação, videoclipes era baixa e nos incluímos nisso. Hoje, após 11 anos, vejo que a coisa evoluiu violentamente para melhor. A qualidade do conteúdo é altíssima. A qualidade das composições evoluiu também. Então, eu vejo que, de

certa forma, apesar de muitas bandas que começaram conosco terem acabado, as que ficaram hoje são referência e isso é muito foda. E a respeito do Metal, de modo geral, como vocês enxergam o dinamismo do gênero com o passar dos anos?


INTERVIEW . JOHN WAYNE

O Metal evoluiu. Surgiram ridade, vocês acreditam muitos subgêneros que trou- que passaram por uma xeram um frescor que o esti- grande mudança desde o lo precisava. Essas mudanças início da carreira? são necessárias. Se o Metal Com certeza. Quando comese mantivesse conservador çamos, éramos essencialmente uma banda de Deathcore e sem nenhuma variação do e tínhamos como principal estilo, para começar a John influência o Suicide Silence, Wayne provavelmente não grande expoente na época. No existiria. Então esse dinamisdisco “Dois Lados – Parte I”, mo, o surgir de novas ban- lançado em 2015, já ouve uma das e subgêneros é essencial mudança considerável na sopara o metal continuar firme noridade. Estávamos com o e forte por muitas e muitas pé mais no Metalcore com décadas ainda. pitadas de Prog/Djent. Já começamos a tocar com guitarDo ponto de vista da sono- ras de 7 cordas, o que mudou 14 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

o rumo da banda para sempre também. E essa mudança foi necessária, apesar de não ter sido proposital, para que a banda chegasse até o momento atual. Com a entrada do Guilherme no vocal, tivemos um outro turning point ali em 2018, uma mudança que trouxe outra sonoridade para a banda e abriu novas possibilidades. Para mim, o “Purgatório” é o auge da banda, o melhor trabalho que já fizemos até hoje e isso é unânime dentro do grupo. Hoje somos uma banda de Metalcore legítima, com várias influências


diferentes, mas ainda assim Metalcore. Eu tenho muito orgulho disso. Essa evolução levou 11 anos para acontecer e nós buscamos isso. Nos últimos anos a banda tem trabalho em um grande projeto inspirado na obra de Dante Alighieri, que já conta com os álbuns Purgatório e Dois Lados (Parte 1). Poderiam falar como surgiu a ideia desse projeto e o que esperar a terceira e última parte dele? No final de 2014 começamos a planejar o lançamento de um segundo disco. Na época já prevíamos que, lançar singles e EPs seria o futuro, onde o público consome muito mais

os conteúdos mais curtos e lançados com maior frequência. Então, a ideia inicial era lançar dois EPs em um período de um ano. A ideia de dois EPs nos deu o insight de “dois lados”, bem e mal, claro e escuro, onde um falaria de um tema e o outro seria o oposto. Todos compraram a ideia e assim começamos a pesquisar possíveis temas para isso. Foi aí que eu li o livro “Inferno” de Dan Brown. Eu já tinha lido anos antes “A Divina Comédia” e isso nos deu a ideia de lançar algo com Inferno e Paraíso. Pronto, estava formada a ideia e todo o conceito. No fim, “Dois Lados – Parte I” não foi um EP, virou um disco mesmo, completo, com 10 faixas, mas o conceito permane-

ceu. Em 2018 quando estávamos discutindo o lançamento do próximo disco, já com o Guilherme dentro da banda, achamos que ainda não era a hora de lançar o “Paraíso”. Não sei, só senti isso. Foi então que lembrei que a divina comédia não se trata de dois livros e sim de três. Tem o purgatório no meio, que pra mim é o mais interessante deles. Mais uma vez, estava definido o conceito do próximo disco. O próximo não vai ter jeito, vai ter que ser o “Paraíso” (risos) não vai ter como escapar. Mas, eu estou MUITO empolgado para escrevê-lo. O tema, apesar de parecer “fofinho”, não é. Muito pelo contrário. É bem foda e traz


INTERVIEW . JOHN WAYNE

reflexões incríveis. Ainda sobre o Purgatório, a banda contou com uma campanha no Catarse que rompeu a meta estipulada. Como foi para vocês receberam o sucesso desse financiamento? A campanha foi a maior loucura que a banda já fez até hoje e também o projeto que deu mais trabalho e exigiu muito suor de todos nós. Foi massivo todo o trabalho envolvido. Nos entregamos 110% ao projeto e acreditamos que isso foi o grande diferencial para que tenha dado tão certo. Mas é claro, que sem a ajuda do nosso público isso não teria sido possível. Nós temos uma base de fãs muito sólida, existe amor, existe uma paixão da galera para com a banda e vice-versa. Isso muda tudo. A galera não queria apenas ajudar a lançar um disco, eles queriam ajudar a construir a história da banda numa campanha que estaria eternizada nos corações de todos nós. Foi uma corrida contra o tempo, foi doloroso, tenso, senti16 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020


Fotos Julio Barbosa

mento à flor da pele, mas no fim tudo valeu a pena. Muito obrigado de novo a todos que fizeram parte disso, nunca teremos como agradecer suficientemente. A música Aliança é um marco importante para a John Wayne, como foi gravar a Parte 2, principalmente em relação à participação do Guilherme Chaves e a parceria com o Yuri Lemes e o Milton Aguiar? O maior hit da banda de todos os tempos é sem dúvida a “Aliança”. Ela foi lançada em 2011, antes mesmo de termos um disco. Nós fizemos aquilo sem pretensão alguma, só queríamos reunir amigos e fazer um som. Só isso. A repercussão foi gigantesca no underground, algo que ninguém esperava. Nós sempre quisemos lançar uma parte 2. Isso sempre estava em pauta. Sete anos depois da primeira, quando o Guilherme entrou na banda, nós queríamos uma forma diferente e bombástica para lançar ele no cenário. Foi então que decidimos que era o momento perfeito para lançar a “Aliança, Pt. II”, pois tínhamos certeza que a música iria bombar, diferentemente da


INTERVIEW . JOHN WAYNE

O SURGIR DE NOVAS BANDAS E SUBGÊNEROS É ESSENCIAL PARA O METAL CONTINUAR FIRME E FORTE

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parte I, que não tínhamos noção alguma da proporção. A Aliança consiste em chamar um vocalista que represente o hardcore e um que represente a voz melódica. A primeira foi assim e queríamos repetir a fórmula na segunda. Milton Aguiar e Yuri Lemes foram nomes cotados para fazer a parte I para vocês terem noção. Fazia muito tempo que queríamos gravar com eles. Particularmente, eu, tinha um sonho de gravar um som com o Yuri, que para mim tem a voz mais bonita do rock brasileiro. Um vocalista

sem igual. Foi um convite muito natural e os dois toparam de primeira. Deu no que deu. Aliança parte 2 é a música mais ouvida em nosso Spotify e segunda em nosso Youtube, perdendo apenas para a parte 1. Somos muito gratos ao Milton e ao Yuri que fizeram acontecer e deram o seu melhor no projeto. Esse som foi bom para as três bandas, deu uma visibilidade incrível para todos e esse é o grande lance da collab, não é promover um só e sim todos os envolvidos. Deu certo!


O que a entrada do vocalista Guilherme Chaves agregou para a banda? Quais são as suas influências? Mudou muita coisa. Ele é um cara que tem uma gama de timbres de voz gigantesca, trouxe muitas novas possibilidades. Ele é muito técnico, estuda muito todas as técnicas de berro, é fissurado por isso e para mim isso é o que torna ele diferente, um excelente vocalista. Ele é um cara que curte som extremo. Entre suas principais influências está o The Black Dhalia Muder. Ele curte muito som “podreira”,

como ele mesmo chama e isso traz uma pitada mais extrema para nós, que somos uma banda de Metalcore. Essa junção foi mais que perfeita, casou incrivelmente bem.

background. Eu por exemplo venho de uma escola mais power metal, então Angra, Evergrey, Edguy, Helloween são minhas grandes bandas da vida. O Denis e o Júnior já são da escola hardcore nacional, então a praia dos caras é Dead Fish, Garage Fuzz, Full Heart, Street Bulldogs, etc. O Edu é o cara do metal, o lance dele é Machine Head, Pantera, Slayer, etc. É isso, essa mescla das influências de cada um faz essa mágica muito louca que é o som da John Wayne hoje.

E para a banda, de modo geral, quais têm sido as influências atuais da John Wayne? O que vocês têm ouvido? Nós sempre fomos influenciados pela cena Metalcore e deathcore. Suicide Silence, Bleed From Within, As I Lay Dying, Killswitch Engage, Parkway Drive são algumas das influ- De que maneira a John ências. Mas cada um tem seu Wayne utiliza as redes so-


INTERVIEW . JOHN WAYNE

ciais para divulgar o som de vocês? Como é o planejamento para o engajamento dos fãs? Nós sempre fomos muito ativos nas redes, desde a época do Myspace, Orkut, sempre estivemos próximos dos fãs. Somos muito acessíveis. Todos nós. Então, tudo que vamos lançar é natural usarmos Instagram, Facebook e Youtube. Essas são as principais mídias que nós trabalhamos. Todo grande lançamento da banda sempre é feito na segunda-feira, isso é um ritual nosso, sempre foi assim desde o início. E todo grande lançamento de single ou músicas de trabalho sempre acompa20 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

nha um material audiovisual, ou seja, sai com clipe ou lyric vídeo. Nós gostamos muito, desde sempre, de usar o visual, a imagem, o vídeo e as fotos para divulgar os trabalhos. Isso faz muita diferença e com certeza foi um dos diferenciais que nos trouxe até aqui. O que a banda tem feito para se manter ativa durante a pandemia? Nós continuamos a alimentar as redes sociais. Nós temos um disco muito novo, que foi lançado no finalzinho do ano passado, então ainda estamos na fase de divulgação do purgatório, que foi ceifada pela pandemia. Não conseguimos

fazer turnê de divulgação desse disco. Uma pena mesmo. Esperamos retomar os palcos logo no início de 2021. Pensando antes e depois da pandemia: como era e como está a relação de vocês com o público? O que tem feito para manter essa chama acesa? Não mudou nada com relação a isso. Ainda estamos muito próximos do nosso público. A internet possibilita isso, então nós já abusávamos desse recurso desde o início da banda. Sempre fazemos lives para falar com a galera, trocar ideia de temas relevantes e nos mantermos próximos de-


Atualmente, pensamos mesmo em mercado, há um crescimento das gravadoras independentes lá fora. No Brasil, esse movimento é forte ou é preciso buscar em outros países? No undergound a gravadora é praticamente inútil. Nós já tivemos a experiência de ter um contrato assinado com uma e foi péssimo. Nada foi feito que pudesse ajudar a banda de maneira expressiva. A banda que tem porte pequeno e até médio, hoje em dia, é muito mais negócio se manter no independente sem sombra de dúvida. A banda precisa aprender a administrar sua

Foto Julio Barbosa

les. Acreditamos que depois da pandemia, todos vão estar sedentos por shows, logo, tudo vai voltar ao normal. Os shows não vão acabar. Também acreditamos que o lance das lives veio para ficar, apesar dela não substituir a experiência de show, tem gente que não curte aglomeração, não gosta de colar em show presencialmente, então isso vai ser uma forma de levar o espetáculo até essas pessoas. A tecnologia está aí para isso e eu sou a favor.


Foto Filipe Nevares

INTERVIEW . JOHN WAYNE

carreira sozinha, aprender a promover e assim ter todo o controle. Na minha opinião essa é a melhor e mais saudável forma de ter uma banda de metal undergound. Não se iluda, a gravadora não vai investir na sua banda a ponto de tirar você do desconhecido para o mainstream do dia para a noite. Isso não vai acontecer, desculpe te decepcionar. O poder da gravadora hoje é infinitamente menor do que era há 30 anos atrás e por consequência, eles têm cada vez menos dinheiro para colocar nos artistas, sendo assim, essa pouca grana que tem eles 22 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

colocam em artistas que têm mais possibilidades de fazer essa grana se multiplicar. O objetivo deles é fazer dinheiro, nada mais. É um negócio. Não romantize isso, não há nenhum glamour envolvido, apenas negócio. Por fim, o que podemos esperar do John Wayne nesse último trimestre de 2020? Sucesso e muito obrigado! Nós continuamos no processo de divulgação do purgatório. Esperamos que até o final do ano a pandemia dê uma aliviada para podermos conti-

nuar trabalhando nisso. Gravar mais clipes e gerar mais material para a galera que nos acompanha. Eu (Rogério), em nome da banda, quero agradecer pelo espaço concedido aqui, de coração. Obrigado à equipe da Rock Meeting que foi muito atenciosa conosco. Muito obrigado também a todos os nossos fãs, que nos acompanham e nos dão um suporte absurdo. Não vemos a hora da pandemia ser controlada para podermos nos encontrar novamente e fazer shows, que é o que amamos fazer. Abração a todos.



INTERVIEW . NÃO OUÇA VOZES ALHEIAS

POR BARBARA LOPES // FOTO GABES DUARTE

N

ão Ouça Vozes Alheias, formada em 2011, une post-hardcore/metalcore com heavy metal, gerando peso e melodia de maneira autêntica. Confira nossa entrevista que aborda mais sobre a cena, as influências e, claro, sobre a própria banda. A banda tem um nome super peculiar! De onde veio? Victor Mendes - Esse nome diz muito sobre o que nós queremos passar, os julgamentos, os olhares, o preconceito, coisas que abominamos, então, basicamente, Não Ouça Vozes Alheias quer dizer “siga em frente, não deixe que ninguém atrapalhe suas vontades e sonhos”. Foi um bate papo comigo e o Will (Vocalista) que resultou nesse nome. Por que vocês optaram em manter as letras em português? Sempre compusemos em português. Quando a banda foi montada, em 2011, não chegamos a pensar na opção de cantar em inglês, acreditamos que a mensagem que nós estamos passando é melhor reproduzida em português! Os temas das letras são bem relacionados a diversos tipos de sentimentos, ora em tom de desabafo, ora em tom de crítica. Além do cotidiano, o que mais os motiva no processo de composição das letras?

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Tudo que possa fazer parte das nossas vidas e das pessoas ao nosso redor. É uma constante troca de experiência com amigos, família e etc. Os problemas, as experiências ruins, experiências boas resultam em letras de autoajuda, conselhos, redenção, que sempre servem pra nós integrantes também (risos). A crítica depende do mundo e de como

as coisas estão acontecendo, sempre tem motivo pra não se calar em meio ao caos da sociedade que vivemos, não? A crítica faz parte de todo movimento artístico, independentemente de qual seja. Agora, em relação à composição instrumental, percebemos que também é uma área bem explo-

rada - com tempos mais marcados, mais pesados, mais harmônicos... Como que tudo acontece? Quais são as influências de vocês? A banda é formada por músicos com gostos peculiares, cada um vem de uma escola diferente, raízes diferentes, mas no final sai tudo isso em forma de metal, às vezes


INTERVIEW . NÃO OUÇA VOZES ALHEIAS

NÓS TRABALHAMOS BASTANTE PARA TRAZER UM CONTEÚDO INOVADOR

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a gente nem entende a ligação (risos). Em resumo, todo mundo é metaleiro, sempre estamos ligados nas atualidades do Metal e seus subgêneros, o Hardcore, e até Pop, Rap, R&B e etc. Recentemente soltamos uma playlist de cada integrante no nosso perfil no Spotify, quem for checar as playlists vai conferir o que mais toca no fone de cada um, vai ver que é todo mundo doido (risos).

re? Qual foi o motivo que os fizeram escolher esse subgênero? Quando começamos a compor juntos, o Post-Hardcore estava em alta nos nossos fones, assim como o Metalcore, e toda uma leva de bandas de Heavy Metal que na época ainda era o nosso carro chefe musical. Estes dois subgêneros trouxeram a possibilidade de utilizarmos dois elementos que nós queríamos que fizessem parte do nosso som: o O que os atraiu para o Peso e a Melodia. Daí a escopost hardcore/metalco- lha.


A versatilidade do Metal já nos trouxe muitas referências boas, a versão mais moderna tem um celeiro promissor. Qual a perspectiva de vocês para esse cenário? A perspectiva é ajudar a alavancar o cenário do metal brasileiro, nós trabalhamos bastante para trazer um conteúdo inovador, não só musical, mas que tenha um conceito ligado ao que estamos fazendo, chamar a atenção com a mensagem nos aspectos visuais e musicais. Temos bandas no cenário nacional

ao nosso lado, que são compostas por músicos incríveis, e que fazem um som animal: John Wayne, Human Kraken, Bayside Kings, Project 46, Distrito Zero, Aurora Rules, entre outras. Ótimas bandas, ótimas músicas, não tem como não se empolgar (risos).

complicada com os avanços da tecnologia. Um material de qualidade, feito por bons profissionais, com uma divulgação estudada e com fundamento é o mínimo que nós pensamos em trazer, utilizar as redes sociais como ferramenta, e campanhas de marketing feitas para seu público Toda banda hoje precisa alvo, tudo isso é extremamencompreender a dinâmica te importante. de divulgação dos trabalhos, como vocês atuam A pandemia nos afetou nessa questão? em inúmeros sentidos, e É um ponto complicado hoje a forma de consumo muem dia, a publicidade ficou sical foi uma delas. Como mais fácil e também mais vocês imaginam que va-


INTERVIEW . NÃO OUÇA VOZES ALHEIAS

mos consumir música (não só ouvir física ou digitalmente, mas também presencialmente) e procurar por novos artistas daqui pra frente? Acreditamos que as formas que foram criadas ou adaptadas para funcionarem nesta pandemia tem grandes chances de serem mantidas mesmo após a volta dos eventos e etc. O consumo tem se mantido muito parecido mesmo antes da pandemia, os streamings, as redes sociais e afins, tudo isso está sendo utilizado como fonte principal de 28 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

muitos artistas.

sa, os estilos que fazem parte da cultura, principalmente no Como vocês enxergam as Brasil. indústrias fonográficas nacional e internacional? Como é a busca pelas graAcreditam que tem “espa- vadoras que apoiam o esço” para bandas de cenas tilo de vocês? É melhor mais modernas ou o dese- manter um selo indepenjo ainda é pelo “clássico” dente ou buscar gravadoe mainstream? ras maiores? É uma questão complicada, A tecnologia fez com que a entendemos que existem vá- banda hoje seja autossufirios fatores pra fazer com que ciente no quesito produção, as grandes indústrias fono- música, marketing, gravação, gráficas não cedam tanto es- pós-produção... Dessa forma, paço pro Underground, mas fazendo as coisas “dentro de tudo se baseia em estilo, o casa”, nos deixa mais tranquique é consumível pela mas- los para trabalhar da forma


que achamos interessante, como a velocidade do trabalho. Para nós, independente funciona muito melhor. “Preso no existir” ainda está em fase de finalização. Conseguimos

ter esse ou algum outro lançamento ainda esse ano? O que Não Ouça Vozes Alheias tem para nos mostrar até o fim do ano? Bom, todos os nossos planos, inclusive “Preso no

Existir” foram prejudicados diante da pandemia que estamos vivendo, estamos nos esforçando para produzir alguns materiais novos e finalizar o que temos em mãos pra lançamento, com certeza conseguiremos lançar mais alguma coisa esse ano, mas está sendo complicado conseguir montar material e respeitar a pandemia, por enquanto estamos focados em respeitar as normas da OMS, assim como quem pode, deveria fazer #ficaemCasa. Muito obrigada por conversar conosco! Fiquem à vontade para deixar um recado para nossos leitores. Nós somos imensamente gratos pelo convite, pelo espaço e pelo trabalho de mídias como a Rock Meeting, que nos cede o espaço e a oportunidade de divulgar nosso trabalho. Agradecemos a todos que compartilham, curtem e nos incentivam a continuar a trabalhar, a compor, a filmar, a fazer o que nós mais gostamos, escrever o que precisa ser dito e transformar em canção. Juntos, somos muito mais Vozes! Obrigado \m/




INTERVIEW . COSMOS

POR BARBARA LOPES // FOTO PEDRO HENRIQUE

C

osmos: o power trio instrumental composto por Rogerio Torres, Edu Garcia e Bruno Ladislau apresenta composições que oscilam entre o denso e o etéreo, em uma sonoridade djent peculiar. Conversamos sobre a origem da banda, a atual cena de Metal no Brasil e o lançamento previsto para o primeiro trimeste de 2021. Confira! Primeiro de tudo, vocês são músicos conhecidos na cena, como se juntaram para um projeto de música instrumental? Possibilidade de eventuais faixas com vocais? Rogerio Torres: Na verdade, o Cosmos foi um projeto iniciado por mim, sozinho, no meu home studio em janeiro de 2016. Não era minha intenção transformar o projeto em uma banda para tocar ao vivo, só queria gravar minhas ideias e lançar para o mundo. Sempre fui apaixonado pelo estilo progressivo instrumental. Fui muito influenciado pela banda Vitalism, que foi formada da mesma maneira, como um projeto solo do meu amigo Ed Garcia e posteriormente virou uma banda completa para tocar ao vivo. Lancei dois EPs sozinho, compondo, produzindo tudo e em 2018 surgiu uma oportunidade de fazer um show em São Paulo com a banda Vitalism e a Linen Cent. Foi aí que tive que pensar em possíveis membros para fazer esse show. O primeiro que veio na cabeça foi o meu amigo Edu Garcia, que já é meu companheiro de banda na John Wayne desde 2013, um grande ba-

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terista, que é grande fã de música instrumental e progressivo. O segundo foi o baixista Felipe Fifas, que hoje toca na A Última Theoria, um grande músico que é muito influenciado pelo metal progressivo e virtuoso. Com esse power trio fizemos o primeiro show e assim consolidamos a banda com uma turnê em conjun-

to com a banda John Wayne entre setembro e dezembro de 2018. No final de 2018, o Fifas decidiu sair da banda e em seguida escolhemos Bruno Ladislau para assumir o baixo. Ele é um dos maiores baixistas do país, tendo tocado com grandes nomes da música, como Paul Gilbert e o mito André Matos. Assim continua

a formação da banda até hoje. Sobre colocar vocais nas músicas, nós não temos essa intenção. Não vou dizer que isso nunca vai acontecer, porque não sabemos o dia de amanhã, mas não está em nossos planos. Queremos manter as raízes da banda e fazer música instrumental para os amantes do estilo e


INTERVIEW . COSMOS

NÓS TEMOS QUE TRABALHAR COM AINDA MAIS AFINCO AS EMOÇÕES E SENSAÇÕES NO OUVINTE

tentar sempre buscar mais fãs tendi que o público queria um para ouvir esse gênero que é nome de banda mesmo. Aí eu tão rico em grandes artistas. dei o nome à banda antes do lançamento do primeiro EP. Sobre o nome Cosmos, Eu sou um grande apreciador qual o motivo da escolha da astronomia. Gosto muito desse nome? Há algum mesmo de pesquisar sobre significado especial? isso, entender um pouco mais No início, o nome da banda sobre o assunto. Dentre os noera Rogerio Torres e o nome mes que estavam como opção, do primeiro EP seria Cosmos. Cosmos foi o que mais gostei. Como se realmente fosse uma É simples, curto, fácil de lemcarreira solo. Mas a galera co- brar e representa muito. Difemeçou a gostar muito do nome rentemente do que as pessoas Cosmos e sempre me pergun- pensam, quando escolhi esse tavam: “E aí, Rogerio. Quan- nome, eu ainda não conhecia do sai o Cosmos?”. Aí eu en- o famoso documentário Cos-


mos de Carl Sagan, por incrí- “moleques” fazendo um som vel que pareça. brutal, muito bem arranjado e com uma roupagem jamais O que os atraiu no prog/ vista na história da música pedjent a ponto de formar sada. Daí para frente já tinha uma banda nesse estilo? a ideia de no futuro fazer algo Qual foi o motivo funda- nesse estilo. Quando conheci mental pra investir neste o Vitalism, vi o mesmo espírisom? to inovador do Periphery, mas Eu sempre fui fã de metal era ainda mais poderoso, porprogressivo. Dream Theater, que era instrumental. ConseSymphony X, Opeth, Pain of guir tocar as pessoas sem dizer Salvation, etc. Desde adoles- uma só palavra. Isso me moticente sempre ouvi essas ban- vou muito. No final de 2015, das. Mas em 2014 eu ouvi o após todo período de turnê Periphery pela primeira vez e do disco “Dois Lados – Parte me apaixonei. É progressivo, I” da banda John Wayne, nós mas é moderno, é jovem, são tiramos umas pequenas férias

e foi aí que decidi que era hora de criar algo novo, um novo projeto. Foi assim que nasceu o Cosmos, em janeiro de 2016. As composições são harmoniosas e oscilam por vibes mais leves e alegres até mais densas e pesadas. Como ocorre o processo de composição e quais são as influências da banda? Eu acredito que, por ser instrumental, nós temos que trabalhar com ainda mais afinco as emoções e sensações no ouvinte. Prender a atenção das


INTERVIEW . COSMOS

pessoas está cada vez mais difícil, então a música tem que ser interessante, imprevisível. Os dois EPs que temos, “Cosmos” e “Redshift” foram escritos 100% por mim. O bom de ter várias influências diferentes é isso, a mistura de estilos fica muito interessante. Eu curto muito deathcore, metalcore, slam, que são estilos mais pesados, com muitos breakdowns e gosto muito de power metal, power prog, o famoso metal melódico, que me traz inspiração para as melodias. Então essa junção de influências pesadas com melodiosas resulta nessa mescla de climas densos e bonitos ao mesmo tempo. Encontramos várias faixas com feats. de outros instrumentistas. Como é feita a seleção dos músicos e o processo de gravação? Eles também compõem ou são apenas convidados? No primeiro EP, eu quis fazê-lo inteiro com participações. Queria criar um movimento. 36 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020


Trazer à tona músicos que eu gosto para tocar no projeto, inclusive duas excelentes guitarristas mulheres, o que para mim foi um grande diferencial. Todos que participaram já eram velhos amigos, com exceção do Ed Garcia, que eu conheci por causa do convite que fiz a ele para participar. Todos puderam criar suas partes. Eu dei a base e eles criaram seus solos com toda liberdade possível. Queria a identidade de cada um no disco. O Ed foi o que teve mais participação nas composições, porque ele veio até a minha casa e a gente escreveu muitas coisas juntos na música “Eclipse”, que é o som que ele participa. Esse EP foi um grande marco na minha carreira e toda colaboração envolvida ali foi muito benéfica e o público pirou nessa grande collab feita em um único trabalho. Inclusive, tanto essas faixas como a faixa “Redshift” possuem videoclipes. Vocês acreditam que os videoclipes ainda conferem visibilidade à banda? Por que escolheram fazer? Hoje em dia, na minha opinião, não dá para mais lançar


INTERVIEW . COSMOS

uma música só com áudio. O vídeo tem um peso tão grande que é impossível lançar sem ele. O público consome muito conteúdo visual. Então fotos e vídeos são extremamente necessários para engajar e aumentar o alcance da banda, além de ser um material

incrível, um registro maravilhoso que ficará eternizado. Quando eu lancei o primeiro EP, me lembro que o Metallica tinha acabado de lançar um disco e todas as faixas tinham clipe. Todas. Achei isso inovador e quis fazer o mesmo. Guardadas as devidas propor-

ções, lançamos as cinco faixas do EP, todas com videoclipe e isso fez toda diferença, com toda certeza.

Metal. Assim, como vocês veem essa cena mais moderna dentro do Metal? Por que escolheram seguir nesse estilo? Foi uma grande vitória para nós. Mesmo não tendo levado o prêmio, só de estar entre as dez finalistas entre centenas de bandas, foi uma vitória gi-

gantesca, ainda mais sendo um grupo de metal. Nós escolhemos tocar metal por pura paixão. Eu sou do princípio de que é necessário fazer o que você ama. Se existe amor, há grandes chances de conquistar o sucesso. Eu cresci ouvindo som pesado. É da minha natureza, eu amo isso e

vou morrer tocando isso. Não há chance de mudar e eu nunca vou tocar outra coisa ou mudar de estilo, porque não vai ser de verdade, não vai ser por paixão. Para mim esse é o nosso diferencial. O amor pelo metal faz com que possamos quebrar cada vez mais barreiras.

38 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

Vocês foram um dos dez finalistas do Samsung E-Festival Instrumental, sendo a única banda de


A banda iniciou a carreira como um projeto paralelo para internet, mas acabou inclusive fazendo shows e participando de uma mini turnê que passou por seis cidades brasileiras. Agora, em um momento de pandemia, vocês acreditam que “voltaram às origens”? Como pretendem manter a dinâmica de divulgação das músicas? A pandemia trouxe um novo modelo de trabalho para todos que trabalham com música. Isso é fato. Todos nós

tivemos que nos adaptar ao novo jeito de fazer as coisas no nosso ramo. Apesar disso, nós amamos os palcos, o público e o calor humano. Nada substitui isso. Não há possibilidade de ficar só na internet. Os shows presenciais são necessários. Enquanto a pandemia não passar, faremos o possível para estar presentes na internet, usaremos esse tempo para criar coisas novas, mas assim que isso passar vamos cair na estrada novamente e fazer o que amamos, que é subir no palco e tocar para as pessoas.

Com todas as mudanças que sofremos nos últimos meses, como vocês enxergam a forma de consumo musical daqui para frente? Não só pela aquisição de mídias, mas o comportamento do público, formas de apresentações, busca por novos artistas... Essa situação da pandemia teve um impacto negativo avassalador na indústria musical. Indiscutível. No entanto, eu tenho visto que nossas visualizações e números de inscritos no Youtube subiram.


INTERVIEW . COSMOS

Isso porque as pessoas estão em casa e estão consumindo mais material digital. Esse foi um benefício que essa situação trouxe, apesar de toda parte ruim, é claro. Sendo assim, eu acredito que o consumo de streaming irá crescer cada vez mais e as bandas terão que produzir cada vez mais material novo em um curto período de tempo. Eu 40 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

acredito que a era dos discos completos de doze faixas está ficando cada dia mais ultrapassado. Eu adoro fazer grandes discos, mas o público não consome mais dessa maneira. Muitos estão pegando essas doze faixas e lançando uma por mês ou a cada bimestre. Assim você está sempre alimentando o seu público com coisa nova sem jogar tudo de

uma vez. Isso tem se mostrado cada vez mais eficaz. Independentemente da pandemia isso é uma realidade. Eu acredito que as lives são uma realidade também e mesmo quando as pessoas puderem sair com segurança de suas casas elas vão continuar. Nós já havíamos notado nos últimos anos uma diminuição considerável do públi-


co presencial em shows, então as lives podem alimentar esse público que não iria a um espetáculo presencialmente. É uma grande ferramenta. Sou a favor. O release diz que “Cosmos vem ajudando a quebrar as barreiras da música instrumental brasileira e levando o estilo para outros países mundo afora”. Como esse processo ocorre? Como vocês enxergam as indústrias fonográficas nacional e internacional? O fato de termos ficado entre os dez finalistas no prê-

mio Samsung E-festival foi uma das provas que estamos quebrando barreiras. Nós não fomos os primeiros e não seremos a última banda instrumental no Brasil. Existem outras inúmeras que são sensacionais. E tomara que venham mais, mas nós chegamos com uma nova proposta. Nós somos uma banda pesada, massiva, um instrumental que eu nunca tinha ouvido antes. Até o próprio Vitão Bonesso, um grande radialista e crítico de metal há mais de 30 anos, disse isso quando fomos entrevistados no progra-

ma Backstage. Ele disse que somos a banda instrumental mais pesada que ele já ouviu. Somos diferentes, isso é fato e é isso que nos destaca no cenário. Não somos melhores nem piores, somos apenas diferentes e é assim que vai continuar. No Brasil, assim como eu mencionei, existem muitas bandas e artistas incríveis fazendo música instrumental, mas acredito que 100% deles são independentes, assim como nós. Eu vejo que no Brasil o mercado não é tão grande que possa chamar atenção de uma gravadora e que ela possa investir em algum grupo. Nos Estados Unidos tem a Sumerian Records, que investe bastante nesse estilo mais progressivo e em instrumental também. O que nos ajuda é que não existe língua na nossa música. Como não tem vo-


INTERVIEW . COSMOS

apoiam o estilo de vocês? No Brasil, nenhuma. Mundialmente falando, algumas poucas. Esse é um estilo que ainda é bem underground. É um gênero que não gera uma grande receita para as gravadoras, por isso não existe um grande investimento, um grande mercado. Isso vem mudando aos poucos, mas acredito que ainda vai demoVamos ver! rar um pouco até atingirmos Ainda sobre a indústria um público que chame atenfonográfica, existe de- ção dos grandes empresários manda de gravadoras que da indústria fonográfica. Encal, não tem idioma. Então não existe uma barreira caso uma gravadora internacional queira nos contratar, mas isso não é uma coisa que ficamos pensando ou almejando. Nós só fazemos o nosso trabalho com a melhor qualidade possível e se algum dia isso chamar a atenção de alguém e rolar uma proposta, quem sabe.

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quanto isso estamos fazendo o nosso melhor aqui no cenário independente. Um novo material está sendo criado, com previsão de lançamento para o primeiro trimestre de 2021. O que podemos esperar do que está sendo desenvolvido? Cosmos vai nos mostrar alguma coisa ainda esse ano? Nós estamos criando, sem pressa, sem nenhuma pressão, já faz algum tempo. Te-


mos ideias maravilhosas para serem gravadas. Nós vamos continuar pesados, densos, mas ainda com nossas melodias que tocam as pessoas. Esse é o nosso estilo e é o que sabemos fazer de melhor. É possível que tenhamos algum single até o final desse ano. Estamos trabalhando para entregar o melhor trabalho do Cosmos até agora e com os grandes músicos que estão comigo dessa vez, podem ter certeza que vai vir coisa boa por aí.

Muito obrigada por conversar conosco! Fiquem à vontade para deixar um recado para nossos leitores. Nós que agradecemos pelo espaço. Vocês da Rock Meeting vêm fazendo um trabalho incrível, trazendo ótimas bandas e artistas, dando voz para músicos como nós que estamos batalhando dia após dia para nos mantermos em pé no cenário. Muito obrigado, de coração. Não deixem de nos se-

guir nas redes sociais, ouvir nossos trabalhos nas plataformas digitais. Isso faz toda diferença na nossa carreira. Cada like, cada compartilhamento ou comentário muda tudo. De verdade. A

todos

que curtem nosso trabalho, queremos agradecer todo o suporte que sempre nos dão, somos muito gratos a todos vocês e podem esperar que 2021 promete EP novo, muitos shows e muita coisa boa para todos! Muito obrigado!




CAPA . SPIRITBOX

POR PEI FON // FOTO KYLE JOINSON

S

piritbox é novo, tem pouco mais de três anos de existência, porém faz um barulho importante na cena, tem se destacado, não porque tem uma mulher que canta no ‘berro’, mas pela qualidade técnica e sonora, pela emoção que as músicas são tocadas e isso se deve a interpretação de sua vocalista, Courtney La Plante. Além dela, o powertrio é formado por Michael Stringer e Bill Crook. Com alguns EP’s lançados e singles, o ouvinte se deleita em músicas que exploram a experiência humana num som moderno, versátil e que só o Metal pode proporcionar. Conversamos com Courtney sobre muitas coisas, música, experiências coletivas e individuais, pandemia, projetos, Brasil e, claro, o futuro. Por hora, no presente, podem anotar o nome dessa banda, é uma aposta certa! Spiritbox pode soar até novo para o público brasileiro, por exemplo. Ainda assim, a atual forma de divulgar tem mudado o consumo da música. Como vocês planejam cada single da banda? Courtney La Plante - Éramos muito ambiciosos em 2018 e decidimos gravar um EP de cinco músicas e lançar cada uma delas como um single com um videoclipe. Em vez de criar um ou dois videoclipes e encerrar o processo, o lançamento contínuo de novas músicas e vídeos a cada poucos meses nos permitiu continuar na onda

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ascendente e alcançar novos ouvintes. Nos últimos dois anos, temos lançado singles com videoclipes com a maior frequência possível, quando tempo e dinheiro nos permitiam investir nisso. Os planos mudaram muito este ano devido à pandemia, mas ainda estamos encontrando maneiras de criar músicas e vídeos

para continuar alcançando novas pessoas e entreter nossos ouvintes constantes. Em nossa situação, “tocar de ouvido” nos permitiu permanecer adaptáveis e flexíveis. Esse powertrio bebe de muitas vertentes musicais e flerta muito com a modernidade. Em que

momento vocês pararam tudo e decidiram criar o Spiritbox? Michael e eu deixamos nossa banda em 2015 e imediatamente fomos para casa e começamos a trabalhar em novas músicas. Demoramos muito para desenvolver e nos preparar, mas em 2017 lançamos nosso primeiro EP.


CAPA . SPIRITBOX

“Holy Roller” tem feito um enorme barulho desde que foi lançada. Em pouco tempo já havia milhares de centenas de ouvintes. E já está quase a 2 milhões de reproduções. Vocês acreditam que ‘acertaram na mosca’ com esse groove? De jeito nenhum! A parte difícil apenas começou, agora temos que usar essa plataforma que nos foi oferecida e mostrar às pessoas que merecemos ficar. Eu estive e conheci muitas bandas que tinham uma ou duas canções populares, mas isso não é sustentável. As pessoas que se apaixonam por você por causa de uma música geralmente ficam desapontadas quando você não continua a criar a mesma música indefinidamente, se essa música for muito diferente do resto do seu catálogo, isso pode ser um problema. Estamos muito gratos e animados, é uma música que nos traz muita alegria e estamos ansiosos para nos divertir e tocá-la em turnê 48 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020


novamente algum dia. Aliás, “Holy Roller” foi lançada nesse período de pandemia, vocês já tinham gravado ou foram gravando quando podia? Como que aconteceu esse processo? Essa música era para ser uma faixa divertida em nosso próximo álbum, e nós decidimos tocá-la em nossa primeira turnê em março, antes mesmo de estar totalmente pronta. Nós meio que a criamos no palco todas as noites e nos divertíamos muito fazendo isso. Quando a turnê foi cancelada e tudo foi encerrado, tivemos que cancelar a gravação do nosso álbum e viver em isolamento. Então, decidimos fazer o que vem naturalmente para nós: gravar essa música nós mesmos, com nosso produtor presente remotamente no Zoom, e dirigir e editar nosso próprio videoclipe. Também tivemos muita sorte em ter alguém corrigindo a cor do vídeo e nos ajudando a deixá-lo ainda melhor. Não poder comprar ou alugar adereços, equipamentos ou fantasias tornou as coisas um pouco mais difíceis do que o normal, mas é o que temos feito há quase três anos.


CAPA . SPIRITBOX

(HOLY ROLLER) É UMA MÚSICA QUE NOS TRAZ MUITA ALEGRIA

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A primeira música que ouvi foi “Holy Roller”, mas foi em “Blessed Be” que me fez grudar no som que fazem. É interessante como essa música é carregada de paixão, você sente de fato o que a música está dizendo. Se foi essa a intenção, parabéns! Obrigada, estou tão feliz que isso aconteça e sinto que esse é o ponto crucial da banda.

o ouvinte o faz permanecer na música. O refrão gruda muito na cabeça. De repente, a narrativa muda, a revolta quieta toma a forma mais visceral, é como se a paciência tivesse acabado, ainda assim “This is my home, I’m waiting here for you”. Não se deve perder a esperança, é isso? Eu ouvi muitas pessoas dizerem que a música soa esAinda sobre “Blessed Be”, perançosa para eles, o que é ela começa de forma mui- muito legal, mas minha into serena, a voz encanta terpretação é o oposto, que


essa pessoa é completamente dependente de outra e isso é muito prejudicial à saúde. É uma canção triste para mim. Courtney, outro dia você postou um vídeo mostrando a sua alegria de ouvir “Holy Roller” tocado numa rádio. O que isso significa para o músico? É algo como ‘é para isso que trabalho duro’, por exemplo? É ainda mais do que isso, é uma daquelas coisas que eu realmente nunca imaginei acontecer para minha banda.

Nós realmente nunca pensamos que isso está ao nosso alcance, então é muito lisonjeiro. Foi ótimo conhecer o mundo do rádio.

em que realmente não penso, só vem com a prática dessa técnica por mais de dez anos. Mas este ano trabalharei com um coach vocal e até mesmo um fonoaudiólogo para me O mais recente play- ajudar a obter a melhor forma through da Courtney, vocal possível para retomar a para “Holy Roller”, cha- turnê no próximo ano! ma muita atenção, não só pelas caras e bocas (que Sobre as técnicas vocais, são uma atração à parte), como é para você fazer a mas pela técnica atribuí- mudança de técnica num da. Você tem alguma roti- curto espaço de tempo? na vocal, aulas? Quais os Uma hora é scream, no cuidados antes, durante e mesmo segundo um fry, depois? logo depois um vocal limÉ apenas uma daquelas coisas po. Como é feita essa tran-


CAPA . SPIRITBOX

o seu início com a música, canto...? Isso me deixa muito feliz e orgulhosa, obrigada! Espero que outras mulheres, e realmente qualquer pessoa que se sentiu excluída da cena do metal, possa me ouvir e saber que elas têm tanto direito de estar aqui quanto qualquer outra pessoa. O começo foi difícil para mim, o sexismo e a misoginia eram excessivos. Esses problemas ainda fazem parte da nossa comunidade, mas estão melhorando.

sição? A respiração...? Eu não poderia nem mesmo dizer o que é um Fry Scream, na minha mente, minha técnica mal muda tanto quanto gritar, eu sinto que é sempre a mesma. Tem sido muito educativo ver os coach vocais rea52 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

girem ao meu desempenho e explicarem que técnica eles acham que estou usando. Courtney, você tem noção que tem sido a inspiração para muitas meninas que desejam cantar? Como foi

Como somos do Brasil, vocês têm recebido mensagens de nossos conterrâneos? O que vocês sabem sobre as bandas brasileiras? Do público? Não sei muito sobre bandas brasileiras, mas todo músico sabe que o Brasil tem alguns dos fãs mais dedicados do mundo. Todo mundo que conheço que faz muitas turnês está sempre muito animado para tocar no Brasil e encontrar os fãs de lá.


A receptividade do público brasileiro para o Metal Moderno tem crescido bastante, tanto em show quanto nas plataformas digitais e redes sociais. Animal As Leaders, Jinjer, Periphery e outras tiveram ótima recepção por aqui. Vocês pensam, em algum momento, atingir esse mercado em particular? Sim, a única coisa que nos impede (além da pandemia, é claro) é precisar de um convite!

O primeiro full álbum foi lançado em 2017. Desde o ano passado vocês estão lançando material novo. Há a possibilidade de um full de inéditas ou vão manter a dinâmica dos singles? Ainda podemos esperar algo para esses meses restantes de 2020? Só gravamos singles porque… não podíamos bancar um álbum completo e não havia demanda na época, haha! Agora há uma demanda do nosso público, eles querem um Long Play, e estamos tentando en-

tregar desde abril, mas temos que continuar adiando devido à pandemia. Assim que pudermos nos encontrar com nosso produtor nos EUA, iremos gravá-lo! Acompanhando a dinamização do Rock/Heavy Metal, muita coisa tem aparecido de bom. Como vocês avaliam essa versatilidade do som, do Metal Moderno? Eu acho que muito do metal moderno que eu gosto está tendo um revival Nu-metal,


CAPA . SPIRITBOX

e eu gosto disso! Eu gosto de estrago em muitas áreas. groove e me canso de fritação Tudo parou no mundo constante. em virtude do coronavirus. Como vocês estão faQuais bandas vocês po- zendo para manter a base dem citar desse celeiro da de fãs, até mesmo os tranova geração do Metal? balhos? Patreon tem sido Em quem apostam, além uma plataforma que tem de vocês? (haha) ajudado os músicos? Amamos Loathe, Make Them O Patreon tem sido incrível Suffer, Erra, Entheos, Crystal ao nos permitir permanecer Lake, Dayseeker, pra citar al- conectados com nossos fãs, guns. somos capazes de compartilhar tudo em que estamos traA pandemia tem feito um balhando e isso nos aproxima 54 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

ainda mais. Todos nós ainda temos nossos empregos, então temos muita sorte nesse aspecto. Para nós, além do tour que fizemos pela metade antes do Covid cancelá-lo, só existíamos realmente online, então estamos de volta à nossa zona de conforto. Não podemos esperar para voltar às turnês.. Assim que esse momento passar, esperamos vê-los no Brasil. Muito obrigada!



INTERVIEW . NUCLEAR

POR AUGUSTO HUNTER // FOTO SEBASTIÁN DOMÍNGUEZ

M

uito rica, a cena do Thrash Metal sempre foi muito boa na América do Sul, mostrando que muitas bandas fazem música com muito mais qualidade que alguns gigantes. Nuclear é um exemplo disso, dentro de um novo álbum, chamado “Murder Of Crows”, nós nos divertimos bastante conversando sobre o seu disco e a cena em geral,leia! Em primeiro lugar, obrigado pelo tempo de chat. Agora, você está dizendo que Murder Of Crows está vindo mais Death / Thrash Metal, por que vocês escolheram esse caminho? Matías Leonicio - Bem, por mais que nossos álbuns anteriores fossem mais relacionados ao Thrash, somos todos fãs do antigo Death Metal - aquele tipo de música que ouvíamos enquanto crescíamos. Acho que foi um processo muito natural durante as sessões de composição de “Murder Of Crows”, a música tornou-se algo mais pesado, mais raivoso e mais denso, o resultado final foi essa mistura que você pode ouvir no novo álbum. Talvez à medida que envelhecemos, temos essa necessidade de colocar mais peso e aspereza em nossa música. A música thrash coloca a agressividade na mesa, mas o Death Metal coloca algo mais sombrio, então sentimos que precisávamos dos dois lados neste lançamento. Estamos muito felizes com o resultado. É correto dizer que a Nuclear está sempre tentando mudar seus caminhos, mas ficando ligada a algumas raízes? Leonicio - Com certeza. Desde “Apátrida” EP (2012), adicionamos mais elementos de hardcore e punk à

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nossa música e “Formula For Anarchy” (2015) é um bom exemplo disso. Nós gostamos de Thrash, como gostamos de Punk e Death Metal. Como explicado na pergunta anterior, em “Murder Of Crows” você encontrará mais Death Metal, mas a vibração Thrash também estará presente - até mesmo mais alguns elementos que pegamos do Crust/

Punk e outros tipos de música extrema. Este álbum é bem ousado do nosso ponto de vista, em comparação com nossos lançamentos anteriores. Achamos que é sempre bom colocar novos desafios na música e este álbum é uma prova disso. Eu diria que este álbum é mais agressivo, mas mais sombrio, ele reflete muitas coisas pessoais que suporta-

mos durante todo o processo de composição e gravação. Um mês antes da Covid-19 explodir no mundo, vocês estavam em uma turnê europeia junto o Abbath, pode nos contar como foi? Leonicio - A turnê foi muito boa. 22 shows pela Europa em 12 países, durante o inverno,


INTERVIEW . NUCLEAR

SEMPRE TENTAMOS CONSTRUIR UMA BASE DE FÃS OBSTINADA EM TODOS OS LUGARES QUE TOCAMOS

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ao lado de grandes bandas de metal como Abbath, 1349 e Vltimas. O público foi ótimo, tudo funcionou muito bem. Para nós foi muito importante tocar pela primeira vez no Reino Unido ou na Suécia, também fazer uma rodada de seis shows na Alemanha ou voltar para a Polônia e para a República Tcheca. Como você disse, isso aconteceu poucos dias antes da explosão da pandemia e, de alguma forma, tivemos muita sorte em concluir a tour. Sabemos que as turnês depois da nossa fo-

ram canceladas com músicos afetados pelo Covid-19 ou coisas do tipo. A pandemia atingiu ferozmente as turnês e todos os envolvidos. Ninguém sabe quando a música ao vivo retornará como um dia conhecemos. Mas é muito bom como algumas bandas estarem de volta à estrada, como o Vader fazendo shows na Polônia ou o Destruction na Suíça. Mal podemos esperar para voltar a fazer turnês, isso é um fato. Enquanto isso, basta paciência esperando que as coisas sejam resolvidas.


Agora galera, como podem nos contar sobre a ligação entre sua base de fãs e você, através da nova tecnologia por aí? Leonicio - É forte, muito forte. Apesar da tecnologia e muitas plataformas, redes sociais e outras coisas, o melhor lugar para interagir com nossa base de fãs são os shows. Sabemos que não há shows hoje em dia, mas sempre tentamos construir uma base de fãs obstinada em todos os lugares que tocamos. Sempre ficamos surpresos na Europa, quando os caras vêm aos

shows com uma camiseta da banda ou quando conversamos depois dos shows pedindo uma assinatura. De alguma forma, nossa visão é deixar a música falar por si mesma, e isso é respeitado pelos fãs.

do Metal apenas colocando músicas na rede ou postando nas redes sociais tudo o que você faz, desde acordar até ir para a cama. Você tem que tocar ao vivo, você precisa tocar ao vivo. Nada se compara à experiência de um show. E o Spotify, Deezer, Apple Nuclear é uma banda ao vivo, Music e todos ajudam uma banda de palco. É simmuito as bandas a conse- ples assim. guir novos ouvintes, você pode nos contar a impor- Como vocês podem destância disso? crever para nós, a cena do Leonicio - Eles são impor- metal no Chile? tantes, mas como um comple- Leonicio - Uma cena muito mento. Você não pode cons- forte, muitas bandas boas e truir uma carreira no cenário um público muito brutal. De


INTERVIEW . NUCLEAR

uma forma bem underground, a cena chilena continua viva desde meados dos anos oitenta. Do Thrash ao Death Metal ou do Grindcore ao Black Metal, você encontrará bandas muito boas neste lado do mundo. Talvez não tenhamos a mesma “indústria” em torno do Metal que outros países, mas aqui está à paixão, o compromisso, e ainda está crescendo, muitas bandas jovens estão trabalhando duro lançando coisas realmente boas. Isso é muito im60 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

portante para manter a cena metal. Tudo é sobre o clássico Metal viva. “faça você mesmo”. O mesmo acontece na maioria dos paíÉ correto dizer que, no ses sul-americanos. Mas acho Chile, as bandas têm mais que isso incentiva cada vez chance de trabalhar em mais todos os músicos de meseu material? tal a trabalharem mais. Não Leonicio - Eu acho que é temos nada a perder e se o praticamente o mesmo que Metal na América Latina não em outras partes do mundo. está sob uma merda da inEsta é uma cena muito inde- dústria do metal mainstream, pendente e os músicos não não há limites para criar múconseguem ver a música como sica extrema. uma atividade profissional, devido à inexistência de uma Vocês podem nos contar indústria cultural em torno do como foi o processo de


gravação do seu novo álbum, vocês preferem usar um equipamento mais digital ou se mantêm no caminho analógico? Francisco Haussman - Foi um processo longo e muito exaustivo, para ser honesto. Começamos ano passado e tivemos que suspendê-lo devido à turnê de inverno com Abbath. Quando voltamos da Europa, o bloqueio começou e tivemos que segurá-lo novamente. Estávamos a poucos passos de deixá-lo pronto, mas a pandemia dizia o contrário. Alguns solos e linhas vocais estavam faltando, então decidimos ir em frente de qualquer maneira. Demoramos quase 10 meses para deixá-lo pronto. Agora, sobre

o equipamento digital ou analógico, sempre tentamos equilibrar os dois. Para algumas coisas, o equipamento digital funciona melhor, mas um tratamento analógico do som sempre oferece algo extra. Usamos ambos para Murder Of Crows.

é que uma maneira de dizer um “Grupo de Corvos”, não tem nada a ver com o assassinato de pássaros, o conceito, ou mensagem é basicamente a semelhança entre corvos e humanos, seu comportamento e como ambos reagem quando submetidos a situações extremas. “Murder Of Crows” fala A arte da capa de Murder sobre a sociedade e como ela The Crows, quem foi o ar- se comporta coletivamente tista e qual é a mensagem quando algo está faltando, é principal dela? difícil ou quando é escasso. Haussman - A artista por trás da capa foi a Gisela Brün- Estamos vivendo temker Pérez, que por acaso é mi- pos estranhos, tem muita nha prima. Ela é uma artista merda rolando na Políalemã-chilena muito talen- tica Mundial, os probletosa, que traduziu e pintou mas de saúde e tudo mais, o que nós dissemos a ela e você pode medir o estrago entendemos sobre o álbum. na nossa cena neste mo“Murder Of Crows” nada mais mento e você pode usar


INTERVIEW . NUCLEAR

isso como um catalisador para novos álbuns? Leonicio - Estamos medindo os danos agora, já que não temos shows ou turnês, há muitas pessoas afetadas por isso. Não apenas músicos, mas também promotores, técnicos, agentes de reservas, vendedores de mercadorias, apenas para citar alguns. Tempos estranhos, mas de alguma forma, necessários para aprendermos que não somos o centro do universo. Esta pandemia revela a fraqueza de um sistema social 62 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

um recado para todos os leitores da Rock Meeting. Leonicio - Agradeço a você Augusto pela entrevista, realmente me diverti muito respondendo suas perguntas. Fiquem alerta com nosso novo álbum “Murder Of Crows”, que será lançado no dia 13 de novembro. Enquanto isso, você pode dar uma olhada no primeiro single “Facing Towards You” no Spotify ou no YouTube. Saudações do Chile e continuem apoiando o Metal Sul-Americano! “Cheers Obrigado pelo chat. Deixe fellas”. desumano e do regime econômico implacável que afundou nossos países na pobreza, corrupção e ignorância. O dano ainda é incerto, mas uma coisa é certa: é inspirador para escrevermos mais músicas. Todos os dias enfrentamos à morte, vivemos presos à corrupção política, à depredação econômica e à devastação do meio ambiente pelas grandes empresas. Esse é um grande catalisador para criar música mais brutal e intransigente.



INTERVIEW . MARENNA-MEISTER

POR JESSICA MAR // FOTO EDUARDO AMAYO E ROGER CLOTS

M

arenna-Meister é o novo projeto do cantor Rod Marenna (Marenna) e do guitarrista Alex Meister (ex-Pleasure Maker/ Alex Meister Solo). A banda apresentou seu álbum de estreia, “Out Of Reach”, no dia 28 de setembro pelo selo dinamarquês Lions Pride Music e traz 10 faixas extremamente poderosas com a energia Hard Rock e Hair Metal dos anos 80, e já disponível em tdoas as plataformas digitais e em pré-venda no site da banda. Com as vibrações mais intensas, juntando suas experiências de mais de 25 anos dedicadas a esse estilo, Marenna-Meister promove uma união empolgante entre os vocais melódicos e marcantes, riffs poderosos e solos de guitarra com toneladas de energia para serem ouvidas no volume máximo. “Out Of Reach” garante uma viagem aos tempos de ouro, inpirados em Danger Danger, Dokken, Winger e Warrant. A banda já lançou o lyric video da faixa “The Price of Love” e o videoclipe para o single “(There’s So) Many Things”“ e para contar um pouco sobre este projeto, o compositor, produtor e renomado guitarrista carioca com experiência de mais de 30 anos de carreira, Alex Meister concedeu uma entrevista á revista Rock Meeting, onde também conta como tudo começou, a influência do Hard Rock na vida dos músicos e todas as novidades deste lançamento. Marenna-Meister é uma banda nova, pode nos falar um pouco sobre esse projeto? Alex Meister - Olá á todos da Rock Meeting e obrigado pelo convite! Esse projeto nasceu no em 2019,

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momento em que eu havia decidido encerrar os trabalhos, após 15 anos, do Pleasure Maker e estava pensando por qual caminho seguir, sendo solo e assumindo os vocais, ou me associar a um novo vocal. Então, em uma conversa sem compromisso o Rod Marenna me perguntou: “Quando que gravaremos uma música

Meister e o vocalista Rod Marenna. Como vocês se conheceram e decidiram criar o Marenna-Meister? Eu conheci o Rod de maneira completamente sem querer! Estava ouvindo a webradio “Rock Melocid Radio - Dream Runners”, como sempre tive A banda é um duo forma- o hábito de escutar. E semdo pelo guitarrista Alex pre que aparecia uma música juntos?”, e na hora já respondi “agora!”. Na mesma hora peguei uma música minha, entre várias que mantenho guardado em uma biblioteca, e enviei. Dois dias depois já tínhamos a primeira música pronta!


INTERVIEW . MARENNA-MEISTER

Foto Barbara Martins

MÚSICOS QUE DECIDIRAM UNIR FORÇAS E CONHECIMENTO EM PROL DESSE ESTILO QUE TANTO AMAM

que não conhecia, tacava no site HeavyHarmmonies.com. Certa vez entrou uma música da banda Marenna, logo em seguida ao ver no site, era do Brasil, para minha surpresa! Fui procurá-lo no Facebook, e ele já era meu amigo lá! Então, mandei mensagem elogiando o trabalho dele por ter ouvido e tal. Daí tudo começou! (risos) Como vocês lidam com todos os projetos? É difícil trabalhar em duas bandas e dividir o tempo?

66 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

Eu sinceramente não consigo trabalhar com dois projetos ao mesmo tempo, inclusive por eu, além de compor, também produzo. Devido a isso eu gosto exatamente de fazer uma emersão e cair de cabeça no trabalho e respirar isso 24h por dia. Lembrem-se de que antes de começar esse trabalho, eu terminei minha antiga banda, e apenas lancei o single “Just Thinkin’ About You”, como Alex Meister. Depois disso foi só ‘Out Of Reach’ na cabeça. Já o Rod Marenna já não tem esse problema! Ele


consegue dividir isso de uma Metal! Mas a minha verdade maneira diferente de mim. sempre foi essa. E creio que nunca vai mudar... ‘O Out of Vimos que a banda segue Reach’ é o 5° CD da minha estilos e influências do carreira como guitarrista, hardrock e hair metal dos compositor e produtor, sendo anos 80. Por que seguir mais uma consolidação disso essa linha? que sempre fiz. Quem me conhece, e já ouviu todos os 4 CDs que lancei O álbum da banda, “Out até 2019, sabe que sempre fiz of Rich”, foi lançado no esse estilo, e por sua maioria final de setembro, você do tempo remando totalmen- pode nos contar um poute contra a maré. Eu respiro co sobre esse trabalho? Hard Rock, Glam Metal, Hair Esse álbum traz o amadureMetal, AOR 24h por dia des- cimento do trabalho de dois de que sou adolescente. Cla- músicos que sempre foram ro que também ouço Heavy dedicados ao estilo, cada um

em seu estado, eu no Rio de Janeiro e o Rod no Rio Grande do Sul. Músicos que decidiram unir forças e conhecimento em prol desse estilo que tanto amam, para o público que é carente deste som desde a mudança de mercado em 1992/1993. A composição deste trabalho começou em julho do ano passado, quando escrevemos o Single “Follow Me Up”, lançado no mesmo ano, e a “(There’s So) Many Things”, que ficou guardada para o álbum assim que assinamos contrato com a Lions Pride Music. Então, após o Maren-


INTERVIEW . MARENNA-MEISTER

na terminar o EP da banda Marenna, e eu o single “Just Thinkin’ About You”, entramos no estúdio em outubro e compomos, pré-produzimos o álbum e em meados de dezembro começamos a produção que terminou na primeira semana de abril. Marenna-Meister conseguiu lançar por um selo internacional, o Lions Pride Music, algo muito almejado pelas bandas nacionais. Como foi esse contato? Na realidade esse é meu quinto contrato assinado com um 68 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

selo internacional e o Rod deve ser ao menos, o terceiro. Isso rola com a gente desde os nossos primeiros álbuns, pois esse estilo sempre foi exaltado após a queda nos anos 90 na Europa e também com mercado consumidor no Japão. E ao menos aqui, ninguém queria nada com Hard Rock... Então fomos dando nosso jeito de obter atenção da mídia gringa através de reviews na imprensa especializada no estilo lá fora até conseguir o primeiro contrato.

O estilo Hard Rock ainda está em alta? O Rock no geral envelheceu e perdeu espaço na mídia e por grande parcela do público jovem. Isso é realmente lamentável... O Hard Rock passa por uma nova onda com novas bandas na Escandinávia desde 2005 com o aparecimento do Crashdiet, e a partir de 2008 apareceram representantes como Reckless Love, H.E.A.T. e Crazy Lixx, trazendo um novo cenário com muitas bandas, aonde os selos Frontiers e earMUSIC são os principais. Como você vê a cena do Está bem diferente do merrock e metal atualmente? cado que conheci no começo


dos anos 2000 quando lancei o CD de estreia ‘Love On The Rocks’ do Pleasure Maker. Para alguém que nunca ouviu a banda, como você diria que a banda soa? Você sente que é uma banda original, mesmo usando tanto influência dos grandes nomes do hard rock? Digo que é um resgate da atmosfera e sonoridade das bandas do final de 80 e começo de 90, onde destacaria Def Leppard, Bon Jovi, Dokken, Winger, Warrant, Ratt, entre outras. Acho que originalidade é uma coisa que quase ninguém tem. Tudo é sempre algum tipo de releitura. Ninguém reinventará a roda por exemplo. O importante é fazer bem feito o que você realmente acredita. E esse trabalho é um grande exemplo disso. A crise do novo coronavírus realmente atrapalhou os planos da banda? Que estratégia você criou para lidar com a crise? Esse vírus atrasou a conclusão da produção do álbum em 2 ou 3 semanas. Mas conseguimos dar um jeito e contornar. Nos


INTERVIEW . MARENNA-MEISTER

mensagem para os nossos leitores? Gostaríamos de agradecer a todos que estão assistindo ao nosso clipe e ouvindo nosso álbum nas plataformas de streaming como Spotify! A pré-venda do CD físico em lote limitadíssimo e camisetas está acontecendo aqui no Brasil exclusivamente em nosso site oficial. Se depender de nós, vamos manter essa chaQuais são os planos do ma do Hard Rock/Hair Metal Marenna-Meister para o Você pode deixar uma sempre viva! prejudicou pra filmar nossos clipes, um deles já lançado, de “There’s So Many Things”, e outro que somente sairá no final de outubro. Mas o pior é não poder fazer os shows que já tínhamos previamente agendado para novembro em diante. Mas por enquanto só estou me preocupando em promover o álbum da forma que puder.

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futuro, quando tudo voltar à normalidade? Na verdade, não estamos fazendo tantos projetos até que tudo realmente se normalize. Mas a ideia natural será marcar shows pra completar a promoção do álbum. Mas por enquanto vamos ver como será toda a repercussão deste novo trabalho com o público pra saber o que e como faremos a partir de 2021




INTERVIEW . AVERNAL

POR BARBARA LOPES // FOTO CLAUDIO FILADORO & LAUTARO MARTINEZ

C

om 27 anos de carreira, a banda de death metal Avernal, originária de Quilmes, Argentina, lançou seu oitavo álbum, intitulado “Tzompantli”, durante os primeiros meses da pandemia. Conversamos com nossos hermanos sobre a cena de Metal na América Latina, as formas de consumo musical e, claro, sobre o lançamento. “Tzompantli” é um lugar para expor crânios, geralmente utilizado nas civilizações mesoamericanas, certo? E logo a primeira faixa se chama “Hilera de Cráneos”. Qual a referência deste artefato com o conceito do álbum? É verdade, tzompantli é um altar de crânios, usados para expor as cabeças do inimigo. Nesse caso, o inimigo é o Estado, os políticos corruptos, a polícia assassina, a igreja cúmplice, e a mídia hegemônica que é funcional ao sistema. Todos eles estão representados em nosso tzompantli. A faixa “Arquitectura Pestilente” é iniciada com um trecho de um discurso em uma rádio. Sobre quem estão falando? Como se relaciona com a letra? A narração é um trecho de uma das profecias de Don Orione, ele falou sobre a revolta das pessoas contra todos os políticos corruptos, polícia


INTERVIEW . AVERNAL

ou soldados e padres que, tendo o poder de melhorar a Argentina, não o fez. Isso foi na década de 1930 e o que nós fizemos foi gravar e usar efeitos de rádio da época. A letra fala sobre como isso poderia acontecer se os responsáveis não se conscientizarem, devem parar com o abuso e a corrupção, e parar de envenenar 74 // ROCK MEETING // OUTUBRO . 2020

nossas mentes com mentiras. Por que escolheram manter as letras em espanhol? Acho que é a melhor forma de me expressar. Eu gosto da forma como soa e eu sinto que é mais agressivo em espanhol. Vocês estão na estrada desde 1993 e certamen-

te presenciaram algumas adaptações dentro do Metal, uma modernização do estilo. Como vocês enxergam isso? Acreditam que, de alguma forma, estão encaixados neste “Metal moderno”? Certamente, nós estamos ativos desde 1993 e cada álbum do Avernal soa diferente do


anterior, nós sempre tentamos não nos repetir. Eu acho que a modernização que você está falando é mais em relação à tecnologia, hoje é mais fácil de conseguir um bom áudio, e isso é muito bom, eu acho que de alguma forma nós conseguimos ter nossa própria identidade musical dentro do gênero. O que os levou ao death metal? Qual foi o motivo fundamental para investir nesse subgênero? Escutando bandas como Carcass, Napalm Death, Cannibal Corpse e Sepultura, ouvir essas vozes me fez querer cantar dessa forma, e de alguma forma minha obsessão com os mistérios da morte me levaram a escrever o que eu escrevo, basicamente tudo o que eu escrevo é sobre morte. E é isso o que o death metal é! Vocês estão presentes em várias plataformas digitais musicais. Como pretendem manter a dinâ-


INTERVIEW . AVERNAL

AS PLATAFORMAS DIGITAIS SÃO UMA ÓTIMA FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO MUSICAL

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mica de divulgação dos trabalhos? Eu acho que as plataformas digitais são uma ótima ferramenta de divulgação musical, mas de qualquer forma eu sou um daqueles que coleciona álbuns, e nós sempre lançamos também no formato físico. Eu realmente não sei muito bem como atingir um público maior, o tempo vai tratar de nos dar as devidas recompensas.

como vocês acreditam que será o comportamento das pessoas em relação ao consumo de música? Não apenas sobre o consumo em si, mas como formas de apresentações, busca por novos artistas... No nosso caso, a pandemia não nos parou, e no meio dela nós lançamos nosso oitavo álbum de estúdio. Eu acho que para algumas pessoas isso foi destrutivo, e em outros caCom todos esses reflexos sos fez com que olhássemos deixados pela pandemia, para novas alternativas, ten-


do vantagem dos shows via streaming (lives), divulgando a música por meio de plataformas digitais. O segredo é não temer, não se desesperar, tudo está canalizado em algum ponto! Como vocês enxergam a cena do Metal na América Latina? A cena de Metal na América Latina é muito boa, principalmente na qualidade musical. Há um alto nível de composição e áudio nas bandas latinoamericanas, eu acho que não a nada a ser invejado na

Europa ou Estados Unidos olha. O death metal sempre em relação à cena musical. vai ser underground, e está tudo bem, eu acho que as banCom tantos anos de ex- das são os que dão vida à cena periência e com o single latina, e também identidade “El Edén de los Gusanos” para toda essa cena. Trabamesclado e masterizado lhar como você disse com um na Suécia, como vocês produtor da Suécia é ótimo, enxergam a indústria fo- foi muito legal ouvir uma múnográfica argentina e a sica do Avernal mixada pela mundial? mesma pessoa que trabalhou A indústria musical é uma com bandas como Entombed, porcaria, na Argentina ou em Dismember ou Grave, mas na qualquer outro lugar do mun- realidade esse último álbum do, eles procuram por outras foi mixado na Bélgica. Foi um coisas, no metal e especial- argentino (Martin Furia), e mente em subgêneros como ele conseguiu fazer a banda death metal, a indústria nem soar de uma forma como nin-


INTERVIEW . AVERNAL

guém fez anteriormente. Como é a busca das gravadoras pelo estilo que vocês tocam? Nós sempre fomos independentes e sempre fomos uma banda autogerenciada. Entretanto, foi só divulgar nosso álbum nas redes sociais que nós conseguimos vários selos interessados no nosso material. Na Argentina, o álbum vai ser

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lançado pelo selo “Grinder Além do visceral TzomCirujano records”, no México pantli, podemos esperar vai ser lançado pelo “Concre- mais algum lançamento records” e graças ao nosso to do Avernal ainda este novo amigo do Brasil (Alcides ano? Esse ano nós esperamos ver o Burn) o álbum vai ser lançaTzompantli em seu formato fído pelo selo com distribuição sico, e até o momento não vai no Brasil e Portugal, “Your haver novo material. RecenPoison records/Helven”. Mas temente fizemos uma live no tudo isso aconteceu sem es- estúdio apresentando o novo tarmos procurando por isso, álbum e foi bem legal, vamos os planetas se alinharam. ver se conseguimos repetir.


Muito obrigada por conversar conosco! Fiquem à vontade para deixar um recado para nossos leitores! Eu aprecio muito o espaço e a entrevista, isso vai fazer com que muitas pessoas nos descubra no Brasil, o que é muito prazeroso para nós! Eu espero visitar seu território em algum momento! Um grande abraço a todos!



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