Rock Meeting Nª 136

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WORDS OF EDITOR

BRING ME THE HORIZON FEAT. BABY METAL

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. PEI FON @PEIFON JORNALISTA, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING

a minha procura diária por novas bandas, encontrei uma playlist com grupos variados e que estão dentro da nova linha editorial da Rock Meeting. Ouvindo cada música, me deparei com “Kingslayer” do grupo inglês Bring Me The Horizon. Até aí normal. No entanto, a música tinha a participação da dupla japonesa Baby Metal. Espanto! Essa música foi lançada no final de outubro de 2020 e faz parte do álbum “Post Human: Survival Horror”. Particularmente não sou fã dos ingleses, mas já tinha escutado uma música ou outra. Já das meninas

japonesas, o nome delas tem ecoado forte na cena, escutei um pouco mais do som. Minha primeira experiência real das duas bandas foi essa recente parceria. Assisti alguns reacts e todos tiveram a mesma impressão de surpresa, mas que logo foram envolvidos na melodia. De fato, até pouco tempo, essa parceria era impensável; entretanto, aconteceu e trouxe mais que uma canção, uma reflexão para mim. Se esse single tivesse sido lançado em 2019, com toda certeza, eu seria uma das pessoas que condenaria, e, claro, que há quem condene as bandas. Imagina


uma parceria entre elas... Eu jamais aceitaria esse tipo de som. Jamais! Estou sendo bem sincera ao dizer isso, a minha cabeça não estava aberta para essa modernização que o metal poderia proporcionar. Estava resistente ao novo, apegada ao som ‘antigo’, com um mundo totalmente renovado a frente e que não queria aceitar, tampouco compreender. Muito embora, eu não poderia continuar nessa resistência, já que minha iniciação no Metal não se deu com as bandas tradicionais. Foi justamente com o novo, com o metalcore. Endureci com o tempo e acabei ‘renegando’ aquilo que me acolheu. Tenho até vergonha do que fiz, mas hoje não faço mais isso. A boa música não pode ser penalizada devido a uma postura rígida e antiquada.

A verdade é que a música não deve ser limitada, nem a criatividade e a ousadia podem ser cerceadas em detrimento das opiniões contrárias. Há quem goste e quem não, afinal, não se pode agradar a todos. Mas não se pode negar a importância que essas bandas têm para a cena metal, e a renovação que trazem consigo. Logo aparecerão outras e assim o som vai permanecendo. E não é uma negativa com as bandas tradicionais. Elas foram essenciais para o que conhecemos hoje, porém, não se pode fechar os olhos para o que tem acontecido atualmente. Você pode não gostar, mas negar, nunca! Obrigada BMTH e Baby Metal por me trazer essa reflexão importante.

. PEI FON @PEIFON JORNALISTA, FOTÓGRAFA E DIREÇÃO GERAL DA ROCK MEETING


SUMÁRIO 2021

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06 O PODER DOS HARMÔNICOS COLUNA - ROGÉRIO TORRES 15. MAKE MY DAY METAL FROM JAPAN 29. AVIIRA METALCORE FROM UK 41. HUMAN KRAKEN MODERN METALCORE 55. TORRENTIAL RAIN QUARTETO ALEMÃO

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67. IMMERSE “THE WEIGHT THAT HOLDS ME HERE” 93. OCEANS “WE ARE NOT OKAY” 105. SABLE HILLS ENTREVISTA EXCLUSIVA 113. SER SCREAMER COLUNA - NICOLÁS HORMAZÁBAL

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119. ETERNAL VOID “SERENITY IN THE BLACK” 133. THE HEALING FROM CANADA/UK


DIREÇÃO GERAL Pei Fon DIREÇÃO EXECUTIVA Felipe da Matta CAPA Thiago Silvestre Chama Publicidade

COLABORADORES Augusto Hunter Bárbara Lopes Bárbara Martins Bruno Sessa Fernando Pires Kayomi Suzuki Marta Ayora Mauricio Melo Rafael Andrade UIllian Vargas

79 LANDMVRKS ENTREVISTA EXCLUSIVA PARA O BRASIL

CONTATO contato@rockmeeting.net

WWW.ROCKMEETING.NET


ARTICLE . GUITAR SESSION

Photo: Júlio Barbosa

GUITAR SESSION SESSION GUITAR O PODER DOS HARMÔNICOS NO METAL MODERNO BY ROGERIO TORRES Guitarrista do John Wayne e Cosmos

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inda consigo me lembrar da primeira vez que ouvi “Cemetery Gates” e ter a sensação que a guitarra simplesmente gritava no icônico riff principal da música do Pantera. Dimebag Darrell realmente sabia muito bem como domar esse monstro que é a guitarra distorcida e transmitir esse sentimento ao ouvinte. Era um gênio, de fato. Durante anos, na era pré-internet, é claro, fiquei me perguntando o que seria aquele bendito barulho, aquele “grito” que a guitarra emanava naquele momento específico do riff, como ele fazia aquilo e eu nunca soube de verdade até que em 2002, quando eu estava na casa do meu primo “arranhando” algumas notas na guitarra, bem no início da minha jor-

nada, sem querer, tocando coisas aleatórias e me descobrindo no instrumento, fiz acontecer o tal som esquisito que tanto buscava. Na mesma hora, meu primo e eu arregalamos os olhos e dissemos um ao outro: “Nossa, o que foi isso?”. Ele me perguntou: “Como você fez?” e eu respondi: “não sei”. E fui tentando fazer novamente várias e várias vezes, mas sem sucesso.

Foto: Tatjana Braun


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Anos mais tarde descobri que se tratava, nada mais nada menos que a técnica chamada de harmônico artificial, através de uma revista famosa de guitarra da época, onde inclusive, Dime estava na capa e “Cemetery Gates” era o som que estava sendo analisado naquela edição. Graças a isso descobri de uma vez por todas como fazer o tal harmônico, porém, tarefa fácil não era para um jovem iniciante como eu naquele momento. Mas, para que você entenda melhor do que estamos falando na prática, deixe-me explicar como é feita a execução. Essa técnica consiste essencialmente na habilidade da mão direita (para os destros) de palhetar a nota em questão e logo em seguida encostar levemente a lateral do polegar na corda. Um exemplo clássico é pressionar a casa três da corda Mi mais grave da guitarra e aplicar o harmônico com a mão direita, conforme descrito ante-

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riormente. O efeito é bem característico e familiar, quando você acertar, tenho certeza que vai te lembrar muitas coisas que já ouviu antes. Parece simples fazer, mas não é. Isso só é possível se você policiar muito bem sua mão direita e segurar a palheta quase que na ponta dela, para que o dedo fique naturalmente quase encostando na corda e ao atacá-la, fique muito mais fácil ter êxito na execução harmônico artificial. Você vai patinar bastante no começo, mas costumo dizer que, uma vez que o conceito foi totalmente absorvido, você terá em mais facilidade de acertar com mais frequência. Como um grande fã de Ozzy Osbourne, sempre admirei todos os seus guitarristas, mas em especial, sempre curti o play do Zakk Wylde. Um grande amigo de Dimebag e também um especialista na técnica em questão. Ouvir “No More Tears” é ter um arrepio a cada vez que ele faz um harmônico daqueles. É simplesmente hipnotizante. Até hoje é um clássico, uma referência no estilo e para quem quer praticar os harmônicos é uma bela canção para começar.

Foto: Matt Waterhouse


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Mas já aviso, não vai ser fácil, exige muita prática e agilidade. Mesmo músicos experientes ainda hoje escorregam nada hora de “mandar o harmônico”. Até agora foram citados os exemplos mais clássicos de guitarristas que mandam bem nessa técnica, mas para você, que assim como eu também gosta de um bom metal moderno, aqui vão algumas boas sugestões para você se deliciar e estudar: os caras do After The Burial são mestres no assunto, ouça a faixa “Behold The Crown”, lançada em 2019, onde logo de cara, na introdução, já nos deparamos com um riff insano recheado de harmônicos artificiais, que expressam uma tremenda agressividade e o domínio do instrumento. Essa faixa realmente é um prato cheio para quem quer aprender a técnica em questão. Vale a pena conferir. Falamos dos harmônicos artificiais, porém, assim como já era se esperar, a técnica de

Foto: Up Goer Arts 10 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021


harmônicos naturais também é muito utilizada no metal e com a explosão das bandas de metal progressivo moderno e djent, essa técnica veio ainda mais à tona. Diferente do artificial, o natural é executado com a mão esquerda, aquela que está apoiada na escala da guitarra. Encoste levemente algum dos dedos da mão esquerda na corda paralelamente ao traste, bem acima dele, porém não pressione o dedo na casa, apenas encoste-o na corda como se quisesse apenas abafar o som e logo em seguida palhete essa nota. Esse harmônico terá timbres diferentes dependendo da casa

que você estiver com o dedo apoiado sobre o traste. Uma dica é que ele fica com um som mais definido nas casas 5, 7 e 12 de qualquer corda. Quer um exemplo de onde você pode ouvir isso? Ouça a faixa “Blood Eagle” do Periphery, que no seu riff principal, possui harmônicos naturais executados nas cordas mais graves da guitarra, trazendo uma sonoridade bem interessante. Um outro exemplo ainda mais recente é o da música “Shadow Autonomous” da banda ERRA, lançado recentemente em março de 2020. Seu riff da introdução também conta com uma bela demonstração da técnica e trás uma outra textura para o som. Recomendo.


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Explorar é a chave. Essas técnicas haviam sido deixadas para trás nos últimos anos, onde os guitarristas mal lembravam que elas existiam, mas com os novos músicos das mais novas vertentes do heavy metal sendo revelados, que tocam músicas mais complexas e cheias de camadas, existe uma necessidade muito grande de trazer novas possibilidades para não cair no mais do mesmo. Os guitarristas do djent sabem fazer isso muito bem, explorando novos efeitos, sensações, afinações o que claramente está deixando mais interessante o mundo guitarrístico. A experimentação exige muita tentativa e erro e também muita prática. Quantoli mais você pratica, mais ínhe An ro fica do seu instrumento e contimo d n Lea to: o F segue extrair dele o máximo que ele pode oferecer. Costumo dizer também que a guitarra é ingrata. Deixe de praticar por alguns dias e já não terá a mesma facilidade de executar as coisas

Foto: Randy Edwards

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que você tocava antes. Fato. O grande segredo, na minha opinião é praticar todos os dias. Não importa se você vai ter tempo de tocar apenas cinco minutos ou oito horas. Toque. Cada minuto faz diferença, seja ele aplicado em qualquer técnica que queira aprender ou aprimorar. Às vezes nos pegamos naquela desculpa do tipo, “ah, hoje estou sem tempo, já tenho que sair daqui dez minutos”. Imagine o tanto de harmônicos que você conseguiria praticar em dez minutos. Centenas, provavelmente milhares! Então, chega de desculpas para treinar. Vá e faça! Uma coisa que eu descobri na marra depois de quase 20 anos tocando guitarra é que gravar você mesmo tocando ajuda e muito a melhorar sua técnica e descobrir novas possibilidades. Você não tem ideia do quão libertador é poder tocar um riff, gravar e se ouvir depois analisando onde estão os problemas e repassar tudo isso tentando consertar os possíveis problemas, que às vezes podem estar na mão esquerda ou direta, na pressão que você aplica, na palhetada, na quantidade de distorção, etc. Depois de melhorar absurdamente minha técnica com o auxílio da gravação nos últimos cinco anos,


ARTICLE . GUITAR SESSION

Foto: Fernando Pires

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tomei a iniciativa de criar um curso para ajudar guitarristas a melhorarem tanto sua técnica como sua capacidade de composição e criatividade. O Homerec é um curso 100% online com mais de três horas de conteúdo, onde ensino do zero como montar o seu home studio, desde a escolha dos equipamentos corretos até a gravação, timbres, edição, programação de bateria e baixo em midi, exportação de arquivos e muito mais. No momento em que você estiver lendo essa coluna pode ser que as vagas já tenham se esgotado, no entanto você pode deixar seu nome na lista de espera para a próxima turma. Tenho certeza que sua vida vai mudar a partir do momento em que você começar a gravar em casa! Aqui está o vídeo de apresentação do curso para mais detalhes. Até a próxima! Grande abraço. Facebook



INTERVIEW. MAKE MY DAY

POR SUZUKI KAYOMI / FOTO YUTO FUKADA

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indo do outro lado do mundo, o MAKE MY DAY traz um pouco do cenário Metalcore do Japão. A banda ainda vive no cenário underground, mas apresenta um grande potencial com seu álbum “Mind Haven”, onde a mistura entre hardcore, sintetizadores e até mesmo rap, cria uma mistura inusitada e poderosa. Sem esquecer de suas origens, MAKE MY DAY trouxe letras em japonês em seu mais recente trabalho, “Singular Points”, ganhou a aceitação dos fãs. Com Hal na bateria, Isam no vocal, U-ske no baixo e Julian na guitarra, os quatro integrantes colocam seus sentimentos e visões do mundo em sua música. MAKE MY DAY já subiu no palco do Knotfest Japan em 2014 e continua se apresentando em diversos outros festivais menores, a banda também está disponível em plataformas de streaming ao redor do mundo. Confira agora a conversa que tivemos com Julian. No início a banda se chamava ASHLEY SCARED THE SKY, então vocês trocaram o vocalista e se tornaram MAKE MY DAY. Como foi esse processo? Julian - Por um longo tempo a gente prestou atenção no comportamento do nosso ex-vocalista, como ele parecia não melhorar, acaba-

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letras em japonês para músicas do MAKE MY DAY. Qual a intenção de incluir letras em japonês? Como foi trabalhar com essa mistura de dois idiomas? Tem algumas razões pela qual decidimos trazer letras em Seu último lançamento japonês. Primeiro de tudo, foi “Singular Points”, que como é de se esperar, os fãs pela primeira vez trouxe japoneses não conseguem se mos demitindo-o. Ele pediu para mudarmos o nome da banda, então a gente mudou para MAKE MY DAY. A gente acredita que foi um bom momento para mudarmos o nome da banda, e no fim tudo acabou bem.

identificar com letras que não são em japonês. Outro motivo é que a gente se concentrou muito na pronúncia em inglês que demos pouca atenção para a expressão que queríamos passar na música, e eu queria parar com isso. Eu achei que letras em japonês talvez não se encaixassem com nosso tipo de música, mas tanto faz, eu


INTERVIEW. MAKE MY DAY

realmente gostei lol Para ser honesto, a gente estava esperando uma reação negativa dos fãs, mas aparentemente eles aceitaram, então eu fico aliviado. É bem complicado balancear dois idiomas diferentes sem parecer não natural. “Mind Haven” foi o último álbum lançado por vocês, a música “Money” traz Flare Boy do Malissa para o mundo do hardcore e cria um trap incrível. Vocês pretendem explorar outros estilos e trazê-los para o hardcore? Acredito que o MAKE MY DAY é uma banda que desafia vários estilos musicais, e eu fiz o EP com isso em mente. Como você disse, “Money” é definitivamente um exemplo. Eu norsos estilos de malmente escuto diversos música, acho que a mistura aconteceu naturalmente. Normalmente as letras do MAKE MY DAY são muito expressivas,

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AS LETRAS VÊM MUITO DA MINHA EXPERIÊNCIA OU DE COMO ME SINTO


INTERVIEW. MAKE MY DAY

fortes, a exemplo de “Reborn”, que vocês falam de erguer sua voz e descobrir sua própria força. É como uma mensagem para os ouvintes, mas também uma forma de vocês se expressarem, certo? Sim, as letras vêm muito da minha experiência ou de como me sinto, então tem partes que é mais direcionada a mim do que aos ouvintes, mas o restante é como os ouvintes interpretam. Julian é guitarrista suporte do HYDE, um estilo musical um pouco mais leve do que o MAKE MY DAY. Você tem alguma dificuldade em conciliar os dois? Como você acha que essa experiência pode ajudar o MAKE MY DAY? Não tive nenhuma dificuldade em especial, nossas agendas se ajustaram bem. HYDE estava à procura de um guitarrista de estilo musical mais pesado, então eu entrei no

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palco com ele com o mesmo sentimento que eu entro no palco com o MAKE MY DAY. A experiencia foi um grande impacto. Musicalmente falando, por eu ter aprendido diversas músicas do HYDE, eu aprendi como criar músicas com vários estilos diferente. Também notei como a equipe do HYDE é extremamente profissional, me fez notar o quão amador nós somos no MAKE MY DAY. Recentemente vi como os shows têm sido limitados por conta da pandemia, dá para sentir como as pessoas querem se soltar mais,


INTERVIEW. MAKE MY DAY

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mas não podem. Vocês acham que vai voltar ao ‘normal’, as coisas vão mudar? Como imaginam que será daqui para frente? Eu particularmente não sei aonde isso vai chegar, mas tenho certeza de que os shows limitados vão continuar. Consequentemente as pessoas vão para as streams online. Por enquanto esse estilo online não nos atrai, então acho que iremos continuar com os shows com público reduzido e as limitações. Acho que o tempo em que os shows vão voltar ao ‘normal’ acho que está em um futuro muito distante... Vocês já se apresentaram no Knotfest do Japão e outros eventos com diversas bandas grandes e menores. Não dá um certo medo de subir em um palco tão grande como de um festival? Maior o palco, menos realista ele se torna, então acho que fico mais nervoso com palcos menores que ficam mais próximos dos fãs.


INTERVIEW. MAKE MY DAY

O cenário de hardcore e Metalcore do Japão é bem limitado, parece que não tem muitos fãs. De que modo o cenário pode crescer mais? Acreditam que há um certo preconceito com esse estilo musical? É difícil dizer tudo aqui, mas eu acho que é difícil ficar famoso com hardcore no Japão. Para começar, poucas pessoas ouvem música, e eu sinto que hardcore não se encaixa muito na característica japonesa. Talvez a situação mude se tivermos festivais que foquem no cenário underground, mas na minha opinião, é impossível ter o

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mesmo nível que no exterior. Eu estive atualmente no show que vocês fizeram em dezembro. A performance de vocês é insana, vocês têm muita energia e contagiam bastante o público, de onde vem essa força? Obrigado! Talvez meu estresse diário tenha sido a fonte de toda energia? (risadas) Acho que também o público vê como eu me divirto tocando no palco. A banda tem essa mistura de hardcore com uma pegada eletrônica, como Dubstep e



INTERVIEW. MAKE MY DAY

outros elementos. No Japão essa mistura é bem comum no cenário de loudrock, não é? Alguns anos atrás acho que tinha muito mais, mas recentemente o metal mesmo tem aumentado. Existe um público global que consome hardcore e Metalcore, porém há um certo preconceito quando misturam com Dubstep e outros elementos eletrônicos. Sair da caixa é um caminho viável? Acho que o cenário está sempre evoluindo, e acho que o preconceito aos poucos está desaparecendo, mas se você faz algo muito puxado para o eletrônico, então não é mais Metalcore. Acho que é essencial ter um balanço. Nós temos músicas com e sem elementos sintetizados, e nós vamos continuar fazendo vários tipos de músicas. No Brasil existe um consumo de hardcore, Metalcore, metal etc., o MAKE MY DAY tem alguma intenção em trazer seu som para o Brasil e o restante do mundo? Eu sempre imaginei que o Brasil é um lugar onde o metal é grande! A gente adoraria ir se tivermos a oportunidade, será que alguém poderia nos convidar

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INTERVIEW. MAKE MY DAY

por favor? (risadas) Mas falando sério, a gente não tem muitos planos para tocar no exterior no momento, obviamente por conta da pandemia. Infelizmente tudo que podermos fazer por enquanto é ter shows com restrições aqui no Japão. E para encerrar, o que podemos esperar do MAKE MY DAY futuramente? Muito obrigada. Sucesso! A gente está planejando lançar mais coisas do que no ano passado e ser realmente ativo, então por favor fiquem atentos! E a gente com certeza irá ao Brasil algum dia!

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INTERVIEW. AVIIRA

POR PEI FON / FOTO ROB BISHOP

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busca por novas bandas tem sido fascinante. Do ponto de vista do musical, impressiona a quantidade de trabalhos que existem por aí e não sabemos como absorver tudo isso. Do ponto de vista do conhecimento, ao mesmo tempo que há uma gama enorme de bandas, muitas delas ficam fora da nossa vista e, muitas vezes, o algoritmo não tem favorecido. Pensando nisso, fui atrás das bandas e estou conhecendo um mundo novo. Nessa minha ‘caçada’, conheci o Aviira, um quarteto inglês que busca o seu lugar ao sol. Dentro de uma das cenas mais importantes para o Metal, os caras sabem muito bem quais são os seus objetivos. A banda é formada por Sam Stanton (guitarra), James Gray, Keelan Biggs (vocal) e Connor Hadwick (baixo). Olhando para frente, a Rock Meeting traz mais uma aposta do metalcore para deleite dos seus leitores. Sobre lançamentos, passado, presente e futuro, Sam e James falam de suas expectativas e traçam os planos para o amanhã. Acompanhe!

Foto: Promotion

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Aviira é uma banda bem nova, mas com objetivo bem definido. Fala um pouco sobre como tudo começou para vocês. E qual o significado por trás do nome do quarteto? Sam - Éramos anteriormente conhecidos como “Avenge the Heartache” em 2011 ou algo assim.


Foto: Promotion

À medida que envelhecíamos, Aviira é uma banda da queríamos um novo nome e Inglaterra. Tão logo já um novo começo que refletis- remetemos ao nascimense nosso novo estilo. Portan- to do nosso Heavy Metal, to, no final de 2017, após algu- grandes festivais e bandas. Como se destacar mas mudanças na formação, numa cena tão rica quanmudamos a marca para AVIIto a inglesa? RA. Não há um significado James - É um desafio se desforte ou particular por trás do tacar, mas também é gratinome, mas como disse nos- ficante, e fazer parte da cena so vocalista Keelan, “É como do metal no Reino Unido uma nova era do Avenge the é ótimo. É tudo sobre ser o Heartache”. mais fiel possível a si mesmo

e atingir um público muito específico que pode se conectar com sua música, como nós no gênero Metalcore. Com o gênero se desenvolvendo e encontrando novas maneiras de inovar, sempre queremos seguir em frente e ir além do que podemos. Desde o lançamento do EP “Relentless” até esse novo play “Labyrinth” existe um amadureci-


INTERVIEW. AVIIRA

mento musical natural. Fazendo um paralelo temporal, como vocês se enxergam no campo sonoro e pessoal desde 2017 até agora? Vocês não são os mesmos, não é? James - Com as mudanças de formação que tivemos desde o início da banda em 2017, agora trabalhamos juntos mais fortes do que nunca. Com esse amadurecimento, é sempre importante permanecermos fiéis ao que fazemos de melhor com nosso som, enquanto avançamos juntos e nos mantemos atua-

EU QUERO TER CERTEZA DE QUE NOSSAS MÚSICAS TENHAM UMA MENSAGEM POSITIVA PARA AS PESSOAS (SAM)

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lizados em nosso som. Conforme o tempo passa, quanto mais você escreve música e executa, melhor você se torna, e também com o seu instrumento. Vocês acabaram de lançar um novo single. Como está sendo a recepção de “Labyrinth”? James - Tem sido incrível e estamos maravilhados com o apoio que recebemos, já que é nosso primeiro lançamento desde 2018. Temos guardado essa faixa desde o ano passado e vê-la finalmente lançada agora é uma ótima sensação, e nós apenas olhamos para o

futuro juntos como uma banda. “My mind is a labyrinth, there's no escape, I'm locked inside this place that I have made”. Quantas vezes já não estivemos presos em nossos problemas tentando achar uma saída. Como achar uma saída para esse labirinto? Sam - Ótima pergunta. A música foi escrita em um momento em que eu estava lutando mentalmente para progredir, especialmente com a criação musical etc. Depois de pensar e refletir, percebi que era uma luta porque estava


INTERVIEW. AVIIRA

pensando demais e trazendo muitas dúvidas sobre mim mesmo. Daí o “minha mente é um labirinto” Eu era o motivo de me sentir preso. A saída é continuar aparecendo todos os dias com o objetivo de fazer melhor, e eventualmente você fará. “Labyrinth” está tendo uma boa interação de entrega sentimental nos comentários do vídeo. Você sente que a sua música está ajudando pessoas nesse momento? James - Gostaríamos de pensar que sim. Com tudo o que está acontecendo no mundo agora, todos tiveram que

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se adaptar a essa nova forma de viver a vida. Sentimos que a música nova, ou mesmo no geral, sempre ajudou as pessoas a superarem a pandemia com a ausência de shows ao vivo, onde as pessoas se sentem como uma comunidade coletiva e podiam interagir melhor. Na descrição da banda no Spotify, vocês falam que a música é caminho para entender os altos e baixos da vida e percebo isso bem nas letras. Observando isso, as letras são parte da vivência de alguém da banda? Pessoas próximas que pre-


cisavam de ajuda? Sam - Estou muito feliz que você seja capaz de entender isso pelas letras. Eu escrevo 95% das letras junto com algumas contribuições dos caras. Normalmente, me baseio em experiências de vida ou lutas pelas quais passei. Eu realmente quero que nossas letras venham de um lugar genuíno na esperança de que alguém por aí se sinta menos sozinho com seus problemas. Eu quero ter certeza de que nossas músicas tenham uma mensagem positiva para essas pessoas. Como esse novo play, já podemos

esperar um EP, ou até mesmo um début álbum? Pode nos adiantar algo? O que está nos planos do Aviira? :D James - Definitivamente teremos um álbum. Trabalhamos nele a maior parte do ano passado e estamos super animados para lançar algo novo. Tem sido uma jornada louca para todos nós gravarmos algum material novo e mal podemos esperar. O material do Aviira se encontra disponível nas plataformas digitais. Como a banda se relaciona com as


INTERVIEW. AVIIRA

novas tecnologias de distribuição? De que modo tem ajudado as bandas, ainda mais nesse tempo de isolamento social? James - A Internet antes da pandemia sempre foi crucial para as bandas divulgarem sua música. Normalmente os programas seriam a maior fonte de receita, mas é claro que agora mudou para streams e programas online. É como uma faca de dois gumes, algumas bandas se separaram desde que tudo isso começou, o que é lamentável, considerando a quantidade de talento que existe por aí. Enquanto

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outras bandas como nós conseguiram se adaptar para focar online e encontrar maneiras de contornar isso, a fim de superar tudo o que está acontecendo. Nessa dinâmica de lançamento de singles, “Tiranny” foi uma das músicas mais ouvidas do Aviira. Com pouco mais de 375 mil plays no Spotify, ao que vocês atribuem essa repercussão? Sam - Não faço ideia, cara... haha, infelizmente o número de execuções de uma música / banda tem pouquíssima corre-


lação com a qualidade das músicas. É basicamente tudo algoritmos, sorte e marketing nos dias de hoje. Para nós, acho que essa faixa simplesmente pareceu pousar em um monte de playlists que ajudam novas pessoas a ouvi-la, o que é ótimo! “Tyranny” é uma música que te dá dois socos na cara para acordar. Logo na primeira frase já te traz à realidade: “It takes a lifetime to learn how to live”. Diante do atual momento pandêmico, as pessoas vão ainda precisar passar a vida toda para aprender a viver? Sam - Obrigado! Essa música foi escrita


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anos atrás, foi escrita em uma época em que eu e os caras lutávamos para seguir a música, e nos sentíamos presos por todos ao nosso redor tentando nos convencer a parar e apenas continuar trabalhando em empregos regulares. Já vi tantas pessoas talentosas e apaixonadas desistirem de seus sonhos para trabalhar em um emprego que odeiam por causa das pressões sociais e da ideia de ser "realista". Quando digo que “leva uma vida inteira para aprender a viver”, estou falando

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sobre como, no final da vida, você percebeu que poderia ter vivido uma vida melhor se ouvisse seu próprio coração e seus sonhos. Não apenas o que todos dizem é o caminho certo. Acho que a pandemia atual deu a muitas pessoas alguma perspectiva e tempo para refletir sobre suas vidas e, espero, saírem mais fortes e motivados para buscar o que desejam da vida. Do seu primeiro EP, “Glasshouse” é minha preferida. Enérgica


e cativa logo nos primeiros segundos de audição. Como foi a recepção dessa música? James - Glasshouse sempre foi um dos favoritos entre nossos fãs, possivelmente com 'Tyranny' também, e vê-los ainda gostando desde que foi lançado em 2018 é realmente incrível. Vê-los ainda ouvindo todo o EP 'Relentless' é incrível em geral, todos esses anos depois. 2020 não foi um ano fácil para ninguém, no entanto, para quem tra-

balha no entretenimento foi uma pancada muito forte. Como vocês trabalharam nessa perspectiva de parada total das atividades? James - Tem sido muito louco, tínhamos muito planejado para o ano passado e tudo foi adiado para nós, como todo mundo. É como se a vida tivesse ficado em espera, por assim dizer. Nós tentamos nos manter ocupados como uma banda e, claro, especialmente nossas vidas pessoais. Deveríamos terminar nosso próximo lançamento em Maio, mas


INTERVIEW. AVIIRA

isso não aconteceu até Agosto. No entanto, continuamos escrevendo independentemente, e também ajudamos a impulsionar nosso merchandise e streams do EP 'Relentless' para que pudéssemos manter algum tipo de receita, o que é importante. Enquanto perdemos muitos shows, tínhamos muito tempo para fazer outras coisas para nos ajudar a lidar com o que está acontecendo.

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Para finalizar, quais os planos do Aviira para 2021? Sucesso e muito obrigada! Aguardamos vocês no Brasil. James - Além de novas músicas, esperamos fazer alguns shows novamente. Se tudo correr bem e conseguirmos voltar à vida normal em breve, iremos tocar mais frequentemente possível!



INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

POR SUZUKI KAYOMI / FOTO LEANDRO YWATA

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Foto: Richard Rodrigues

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as profundezas do Brasil, Human Kraken, traz a superfície os questionamentos de nosso dia-a-dia. Pra onde vamos? O que é o fim? Porque estamos nesse caminho? As tantas perguntas que nos assombram estão presentes nas músicas do Human Kraken, que traz um som moderno para o Metalcore, sem deixar de lado a qualidade e a intensidade por trás de cada canção. Misturando seus gostos pessoais e tópicos famosos da atualidade, Human Kraken nos apresenta diversos singles com músicas bem construídas e que trazem consigo características de outra cultura, como em Amaterasu, que incorpora instrumentos clássicos japoneses com metalcore. Uma mistura inusitada, mas muito bem vinda para o cenário musical Brasileiro que implora por novidades na área do Metal. A formação da banda nasceu pela vontade de fazer músicas inspiradas em bandas de Metalcore que ouviam na época. Como vocês avaliam essa caminhada sonora do Human Kraken? Todos na banda sempre tivemos em comum o gosto musical pelo rock e suas vertentes sendo as principais, metalcore, metal progressivo e hard core. Unimos alguns destes estilos em nossas composições e criamos a Human Kraken em 2014. De


Foto: Richard Rodrigues

lá pra cá fomos acompanhando a evolução do metal tanto no exterior quanto nas bandas nacionais, fomos pegando essas influências e imprimindo elas em nossas músicas. Analisando a discografia é perceptível que, entre os dois álbuns lançados e os dois singles, há uma mudança sonora. Essa transição foi pensada ou acompanharam o fluxo

normal do estilo? As mudanças sonoras foram ocorrendo naturalmente de acordo com as influências do que estamos escutando no momento e também pela própria evolução musical da banda. Desde 2014 seguimos com o Rafa nos vocais, e em 2019 no fim da Meraki Tour, optamos por ter dois vocalistas, nos inspirando muito na banda Volumes, foi aí que chamamos o Kayke para di-

vidir os vocais com o Rafa. Rolou apenas um show com essa formação, pois devido a saída do baixista da banda, que na época nos avisou que deixaria a banda por questões pessoais. Foi então que o Rafa decidiu assumir o baixo e fazer apenas os backing vocals na banda, assim o Kayke assumiu como frontman. Com isso a banda se reuniu para definir como seriam as próximas composições, pois


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

BUSCANDO MANTER SEMPRE A ESSÊNCIA MUSICAL DAS NOSSAS RAÍZES E TAMBÉM DE NOSSAS INFLUÊNCIAS ATUAIS

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o Kayke tem características vocais diferentes do Rafa. Decidimos mudar as afinações que antes era Drop B para Drop G# e iniciar a composição das novas músicas. Atualmente seguimos uma linha Metalcore/ Djent com elementos eletrônicos e sintetizadores afim de trazer uma sonoridade moderna para a banda. Human Kraken tem usado bastante referência da cultura asiática visto em “Amaterasu” e o ideograma “final” na capa do álbum. De onde surgiu a ideia? Vocês têm alguma conexão com a Ásia?

Sempre curtimos bastante a cultura asiática, principalmente nos últimos anos onde a temática 'Cyberpunk' estava em alta e ambas estão relacionadas diretamente na parte estética e visual. Muitas bandas, marcas de roupa e cultura pop em geral estão utilizando desta estética também. Então foi uma questão de conciliar nosso gosto pessoal e alinhar com a tendência atual. Vocês cantam sobre os questionamentos internos das pessoas, em “Amaterasu” chama muito atenção o fato do nome da música conectar com a letra, que parece abordar um lado mais religioso. Esses questionamentos são pessoais? Ou seria de um modo mais amplo? Explicando sobre a Amaterasu especificamente, ela fala sobre a Morte, o início e o fim. O começo de um novo ciclo. A letra


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

mostra uma visão filosófica sobre a morte, o refrão diz "sua presença traz o amanhã", ou seja, uma visão sobre que se não houvesse a morte, se não tivermos um final, o amanhã não seria valorizado, o que te faz continuar seguindo, o que te faz seguir, acordar e viver, e saber que isso aqui um dia irá acabar. Ao mesmo tempo as pessoas usam desse "medo do fim" pra te controlar, aqui é onde entra o lado religioso e a visão sobre o "que você precisa ser e fazer durante sua vida”, mas de fato ninguém sabe o que acontece no fim. Ainda sobre “Amaterasu”, parece que a música incorpora alguns elementos musicais tradicionais do Japão. É impressão? Se sim, foi difícil de encaixar com o som de vocês? A composição do som foi feita sem qualquer ideia de elementos japo-

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neses, a ideia nasceu quando a letra estava sendo escrita e casando com o nome e a definição da temática, criamos os samples baseados nos instrumentos tradicionais japoneses (Shamisen - instrumento de 3 cordas e Shakuhachi - flauta de bambu). “Atlas” é mais uma canção que faz parte do novo trabalho do Human Kraken. Lançado esse ano, vocês pretendem manter essa dinâmica de singles ou devem lançar um full álbum? Inicialmente tivemos o planejamento de entregar um “full Album” para o nosso público, porém estudamos muitas formas de lançamentos e percebemos que atualmente não é interessante um lançamento massivo, sendo assim somando também à atual situação de pandemia,

decidimos lançar single a single, buscando trazer uma melhor qualidade nos lançamentos individuais. “Questionar nossa existência é o que nos dá sentido”. Numa percepção mais ampla da música “Atlas”, o atual momento em que vivemos nos faz indagar ainda mais sobre a realidade. Como isso nos dá sentido à vida, por exemplo? Especificamente sobre a Atlas, a letra fala sobre o "Neo-obscurantismo", os negadores da ciência, anti-vax, terraplanistas etc. No atual momento


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

que vivemos, onde essas pessoas preferem ouvir teóricos da conspiração e ideias distorcidas sobre a realidade e viram as costas para a ciência que historicamente nos trouxe até aqui. Sobre o questionamento de "dar sentido à vida", está relacionado ao fato de que a curiosidade e a busca por conhecimento baseado na ciência levam a descobertas e evidências cada vez mais

claras do porquê estamos aqui.

Foto: Richard Rodrigues

Numa leitura livre sobre o nome Atlas e conectando com a música de mesmo nome do Human Kraken, quem seria essa personificação daquele que suporta, quem questiona? Ou do contestado? Complementando a questão anterior, baseado no ser mitológico que sustenta o céu em suas mãos, a letra faz uma analogia com a Ciência, por exemplo, na parte final da música " Por mais que neguem o que sentem, carrego o mundo em minhas mãos " ou seja, as pessoas podem ne48 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021


gar ou se virar contra a Ciência, mas é ela quem nos sustenta e é ela quem nos trouxe até aqui. Ela é tratada como uma entidade, como um "Deus" na letra.

Foto: Richard Rodrigues

“Existência” é uma música que fala muito dessa pressão social que sofremos para seguir uma certa direção. Vocês sentem que são pressionados de alguma forma pela sociedade atual a manter sua música em um estilo/tipo específico? Inclusive a música “Existência” é uma das que não tem um tom tão agressivo quanto as outras... Cada um tem uma visão sobre a vida, mas uma coisa que está cada vez mais comum na sociedade é essa vontade ime-


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

diatista de conquistar ou conhecer algo novo a cada dia, ansiedade dominando cada vez mais as pessoas não deixando elas viverem o presente. Nós somos pressionados por nós mesmos mais do que o mercado musical atual. Uma pressão mais para manter as músicas com uma qualidade sonora que agrade todos da banda em primeiro lugar, buscando manter sempre a essência musical das nossas raízes e também

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de nossas influências atuais. A pandemia está difícil para muita gente, e gravar clipes ficou ainda mais complicado com todas as restrições. Como foi para vocês trabalharem durante esse caos todo? Tivemos muitas dificuldades para conseguir conciliar as tarefas da banda com a situação de pandemia.


Adiamos diversas gravações como também alguns trabalhos de pós gravação por conta disso, mas a saída que encontramos foi ter uma conversa aberta com nosso produtor Audiovisual Felipe Hervoso (FHaudiovisual), onde todos chegamos num consenso de encontrarmos maneiras para superarmos este empecilho e assim conseguimos executar dois trabalhos excelentes como “Amaterasu” e “Atlas”, respeitando todas as medidas protetivas. Sobre o mercado musical do Brasil, há espaço para bandas de Metalcore/Hardcore crescerem? Ou tem que mirar no mercado internacional? Espaço sempre tem, apesar de estarmos passando por um momento sem muito destaque para o rock e metal, tem muita banda boa surgindo e apresentando trabalhos de alto nível. Acreditamos que para se


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

destacar e crescer é preciso trazer novos elementos, novas propostas, apostar em algo novo. No mercado internacional acreditamos ser até mais difícil pela infinidade de bandas tentando encontrar seu espaço, e até mesmo pela facilidade de acesso aos equipamentos de ponta, eles já saem na frente. Focando lá fora, algumas bandas brasileiras são referência no Metal, vocês têm alguma intenção de expandir para o exterior? Não é nosso objetivo no momento, focamos totalmente nosso trabalho no público brasileiro, até por isso nossas letras são em português, mas não descartamos a possibilidade de no futuro apresentarmos um trabalho focando também no público exterior. No Brasil há muitas questões que dificultam as bandas apresentarem o

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pudermos entregar. Também sobre a questão de equipamentos, aqui no Brasil tudo chega muito caro, o que inviabiliza um pouco, e muitas vezes acabamos tendo que tirar o máximo de proveito possível com o que temos. Para finalizar, e sobre o futuro? O que o Human Kraken tem guardado para a gente? Muito obrigada. Sucesso e se cuidem! Para esse ano estamos focados no

Foto: Richard Rodrigues

som moderno, o que vocês enfrentam para tentar expandir sua música no país? Realmente aqui nós temos dificuldades, principalmente por sermos uma banda underground. A principal, acreditamos que seja a falta de estrutura das poucas casas que ainda abrem espaço para as bandas, diante disso na medida do possível nós investimos em equipamentos para podermos levar o nosso som para as casas o mais pronto possível e com a melhor qualidade que


INTERVIEW. HUMAN KRAKEN

lançamento do nosso novo álbum FIM, ao qual optamos por lançar as músicas individualmente. Estamos com muitas ideias e projetos para a banda que esperamos poder colocar em prática o mais breve possível. Queremos muito poder apresentar as novas músicas ao vivo e sentir a energia e recepção do público depois que todo esse caos de pandemia passar. Sigam a banda nas mídias sociais, se inscrevam em nosso canal do youtube, que tem bastante material vindo por aí. Gostaríamos de agradecer a equipe Rock Meeting pelo espaço e também parabenizar pelo trabalho de estar levando informação de qualidade sobre o rock aos seus leitores. Esse trabalho é de extrema importância para as bandas que no cenário atual já não tem muitos espaços em mídia para divulgar o trabalho. Se cuidem, protejam a vocês e aos próximos nessa pandemia, que logo tudo isso vai passar e estaremos reunidos e curtindo um som.

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INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

POR PEI FON / FOTO BASTIAN BARTH

A

Rock Meeting está numa busca ávida por um mundo muito mais amplo do que imaginamos. Diante disso, estamos conhecendo e trazendo bandas das quais os nossos leitores, talvez, desconheçam. Desta vez o nosso destaque vai para o quarteto alemão Torrential Rain. Esses caras não são apenas uma banda que chove muito por um determinado momento e vai embora logo em seguida. Em quatro anos de existência, a banda formada por Christopher Danner (Vocals/Guitarra), Dario Trennert (bateria), Dominik Grauvogl (Vocals/Baixo) e Gordian Golder (Guitarra/ Vocals), tem feito um trabalho impressionante: dois álbuns de estúdio e quatro singles. Várias bandas com essa ‘idade’ não teriam esse volume de música lançadas, eles são diferentes e basta ouvir e ver seus números para entender o porquê que estão numa crescente. Numa boa conversa, tivermos a oportunidade de falar com o vocalista Christopher e ele foi muito simpático conosco. Sobre música, passado, presente e futuro, você acompanha logo abaixo o porquê de o Torrential Rain ter chamada a nossa atenção e já adicione os caras na sua playlist. A música deles fica na cabeça! Torrential Rain é uma banda nova com uma carreira sendo construída. Conta para nós como tudo começou...

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Dominik e eu (Chris) começamos nos juntando a outra banda em 2012. Rapidamente nos separamos para fazer nossas próprias coisas com o Torrential Rain e é isso que temos feito desde então. Torrential Rain surge trazendo a mesma pegada agressiva do Metalcore, porém com uma lingua-

gem sonora pronta para conversar com os fãs mais exigentes. Em virtude disso, vocês têm fãs em mais de 70 países. Surpresos com esse alcance? Imaginavam isso? Nunca teríamos pensado que "Home Alone" nos colocaria no mundo tanto quanto o fez. É incrível saber que em algum lugar do Japão, há um cara

andando por aí com nossos produtos e está ouvindo algo que você gravou sozinho em seu minúsculo quarto. Sempre esperamos atingir um público mais amplo e internacional, mas é definitivamente algo que não prevíamos. Um grande agradecimento a todos os nossos ouvintes - nós realmente apreciamos isso!


INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

ESTAMOS CONSTANTEMENTE EM NOSSO ESTÚDIO TRABALHANDO EM NOVOS MATERIAIS

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Fazendo um paralelo na discografia do Torrential Rain, quanto que vocês amadureceram desde o início até agora? Eu gostaria de acreditar que amadurecemos e aprimoramos muito nossa maneira de fazer música ao longo dos anos. Começamos escrevendo nossas primeiras músicas com essa banda e percorremos um longo caminho desde então. Ainda estamos longe de terminar o aprendizado de novas técnicas ou de tentar incorporar novos estilos. Crescemos ouvindo bandas como Trivium e BFMV e você definitivamente pode ouvir isso em nossas músicas mais antigas, mas estamos sempre tentando melho-


lho com os outros caras. É definitivamente muito trabalho, mas eu gosto de cada segundo. rar e fazer coisas novas, como algumas de nossas bandas favoritas de hoje, como Periphery ou Polyphia. Quem sabe para onde iremos a seguir? Dois álbuns de estúdio e quatro singles lançados. É muito trabalho para quatro anos de existência. Dentre os objetivos traçados, está tudo encaminhado como planejaram ou está fluindo naturalmente? No início de 2020, decidimos lançar quatro singles por ano. Na verdade, fomos capazes de cumprir e realizar esse plano durante cada trimestre. O feedback que recebemos foi incrível! 2020 e o pouco que vimos até agora de 2021, é provavelmente o período mais movimentado da nossa carreira até agora. Estamos constantemente em nosso estúdio trabalhando em novos materiais, criando conteúdo para mídias sociais, fazendo entrevistas online ou gerenciando o fluxo de traba-

As músicas lançadas em 2020 vão compor o terceiro álbum do Torrential Rain? Ou ainda estão estudando as possibilidades? Não há nenhum álbum completo planejado agora, mas na verdade nós culminamos com os quatro singles de 2020 em um EP digital, que está disponível no Bandcamp incluindo uma faixa bônus muito especial. No momento, você não pode realmente promover sua música de outra forma a não ser por meio de mídia social e sites de streaming, por isso queremos sempre poder dar aos nossos ouvintes e fãs algo novo e fresco durante todo o ano. Isso não quer dizer que não haverá mais álbuns nossos no futuro! “Home Alone” tem mais de 260 mil plays no Spotify e continua contando. A letra fixa na cabeça e não é difícil de entender o porquê desse destaque. Vocês imaginariam que


INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

teria essa repercussão? Já que tínhamos um videoclipe gravado para ele e o mixado e masterizado pela Sawdust Recordings, esperávamos que ganhasse um pouco de força, mas como "Home Alone" foi nosso primeiro single, lançamos com nossa nova estrutura dentro do Não conseguíamos acreditar quando olhamos para o Spotify e vimos que tantas pessoas ouviram a música. “Strung out” é uma música que é difícil de apontar alguma parte que não nos cative. “Cause I can fake it all I want. But I'm just running from the mess I made”. Como resolver a bagunça que causamos em nossa própria vida? De certa forma, essas letras não apenas descrevem o problema, mas também a solução. Seja verdadeiro consigo mesmo e abrace a luta. Pode não ir embora, mas pelo menos você não está fugindo disso. O último ano realmente nos mostrou que família e amigos são algumas das partes mais importantes de nossas vidas. Através de todo o distanciamento e lutas, descobrimos que não poderíamos fazer isso sem eles. Além disso, no início do ano passado esse assunto surgiu dentro da banda. Com essa música processamos nossas experiências, o que nos ajudou muito

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Foto: Nioryn Photography

a lidar com situações difíceis. Percebemos que "a banda também é família". Sobre “Deaf Ears”. A letra lembra aquele amigo que tenta fazer o outro te ouvir e enxergar seus erros. Como fazer esse alguém se libertar de uma prisão? O problema é que a iniciativa de mudar tem que vir daquele amigo em particular. Isso é o que torna tudo tão difícil. É fácil dizer a alguém que sofre de depressão, por exemplo, que tudo ficará bem, mas no final cabe a eles puxar-se para fora disso. A única coisa que você realmente pode fazer é estar ao lado dessa pessoa quando ela precisar de você. Na música “Deaf Ears”, quando você fala “I tried to listen, But all you're giving me is opposition…” Pode ser


INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

uma frase adaptada para os dias atuais, vocês acreditam que as pessoas estão impondo suas posições ao invés de dialogar? Isso é o que nos traz a esses atos de despeito, sim. Muitas vezes, é o caminho mais curto para a solução do problema. Comunicação clara e honesta. Infelizmente, todo mundo fica tão preso a suas crenças e opiniões que não permitem mais uma conversa normal. Quanto mais o outro lado tenta convencê-los, mais eles se apegam a isso. “Left Outside”, “Home Alone” e “Deaf Ears” tem algo em comum: começam pelo refrão. Essa é uma maneira mais direta

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de fixação da música. Essa inversão na estrutura da música foi intencional ou aconteceu naturalmente? Ao escrever as músicas, quase nunca começo com o refrão. É sempre um riff ou algum tipo de conceito para uma parte no início. Eu sempre tento ir com o fluxo e fazer o que parece certo para a música. No caso desses três, pareceu mais natural começar com o refrão. Embora se possa pensar que isso nos torna rígidos ou aderem à mesma estrutura musical em todas as músicas, isso não poderia estar mais longe da verdade. Quase sempre tentamos surpreender o ouvinte com algo não convencional em cada música. Muitas vezes isso acontece pela


estrutura das peças! A música “Left Outside” é cheia de emoção e já traz uma passagem que me fez lembrar como me senti há alguns anos. “Have you ever felt alone inside. Have you ever tried to run and hide”. Como resolver esse sentimento de estar sozinho no meio da multidão? Esta volta a algumas das letras de “Strung Out”, embora um pouco mais como sendo deixado por alguém. Você está fazendo tudo o que pode para evitar pensar nos erros que cometeu ou nas memórias dolorosas. Mas no final, sempre se trata de você ser verdadeiro consigo mesmo e não tentar fingir que é alguém que não é.

A música dá uma olhada um pouco sombria nas coisas com a última linha sendo. Uma coleção de erros que prezo sozinho. Opondo-se a Gordy neste caso, acho que você nunca superará de verdade algumas coisas, mas pode aprender a conviver com elas e tentar encontrar algo bom que valha a pena valorizar. Os quatro singles lançados em 2020 foram mixados e masterizados por Christoph Wieczorek, vocalista do Annisokay. Ele tem uma boa bagagem musical e entende o que o estilo precisa, como foi trabalhar com Christoph? Ter Christoph girando os faders em nossas produções mais recentes pode


INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

ser uma de nossas melhores decisões como banda: ele tem um entendimento muito bom de como queremos que nossa música soe e foi capaz de elevar a qualidade de nossas músicas a um novo nível. Christopher, você transmite emoção quando canta e é justamente essa a função que um vocalista deve ter. De onde vem a sua inspiração em cantar com o coração? Alguns dos meus mais amados vocalistas de todos os tempos, aspirantes a caras, como Spencer Sotello, Matty Mullins, Sam Carter ou Jamie Hails. Todos eles têm uma maneira de transmitir tantas emoções em seus vocais e isso é algo que sempre me cativou ao cantar. Posso não ter a voz mais bo-

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nita e provavelmente não ganharia o American Idol, mas acho que me tornei muito boa em sentir as letras que canto. Eu sempre tento me colocar na situação das letras ao invés de apenas passar por elas. Isso também é algo que é muito querido no meu coração quando escrevo letras. Sempre tento inventar algo que tenha um significado mais profundo ou algum tipo de conexão emocional. Vocês são da Alemanha, país reconhecido por entregar grandes nomes para o Metal. Com uma cena tão ativa e variada, o que fazer para se destacar em meio a tantos bons nomes? Com nosso princípio orientador de fusão de potência e precisão, estamos

pegando o melhor de dois mundos e reunindo-os: sendo essa combinação uma tendência muito grande nos Estados Unidos, estamos trabalhando para tornar essa abordagem grande nos palcos europeus. Quando ouvimos falar da Alemanha já associamos aos grandes festivais, no entanto, nesse momento de pandemia essa atividade foi totalmente parada. Como músicos, como está sendo esse período longe dos palcos? Tem sido uma bênção para nós: obviamente, sentimos muita falta de tocar ao vivo, mas certamente não teríamos conseguido, mas tanto esforço em nossas últimas produções, se não fosse por essa ausência forçada do palco. Há


INTERVIEW. TORRENTIAL RAIN

muito trabalho acontecendo nos bastidores agora, então podemos fazer nosso retorno ao palco em grande estilo quando for possível! Durante a pandemia, muitos festivais fizeram suas versões online para atender uma demanda de fãs ávidos sem contato social. Esse novo formato vem para ficar, mas vocês acreditam que terá prazo de validade ou deve continuar quando tudo voltar ao normal? Eu realmente gosto de como a multidão se alimenta da energia que você projeta para fora. A melhor sensação é quando a multidão também devolve essa energia. Eu não acho que você pode realmente substituir essa mági-

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ca por qualquer outra coisa, então eu acho que shows normais definitivamente voltarão em algum ponto! Para finalizar, o que podemos aguardar de vocês para 2021? Sucesso. Muito obrigada e esperamos vocês no Brasil. Em 2021, vamos continuar a nos renovar, nossa música, nossa presença nas redes sociais e nosso conteúdo ao máximo! Agora temos uma boa rotina e pretendemos apenas melhorar tudo! O próximo single já está finalizado e apenas esperando para ser lançado. Você pode esperar ouvir muitos de nós durante este ano! Também adoraríamos um dia poder vir ao Brasil e conhecer você e todas as pessoas incríveis que nos apoiam lá!



INTERVIEW. IMMERSE

POR PEI FON / FOTO GLKMEDIA

E

m mais uma investida da Rock Meeting em conhecer novas bandas, eis mais uma banda vinda da Inglaterra. Immerse faz, de fato, uma imersão nos sentimentos humanos, da alegria a raiva, mas trazendo consigo o otimismo em falar dos nossos problemas pessoais e que nem tudo é o fim. O Immerse é formado por Tim Brown (guitarra), Archie Hatfield (vocalista), Ben Wilshire (baixo), Josh Armitage (bateria). Esse quarteto tem pouco mais de três anos de atuação, dois álbuns lançados e alguns singles para deleite dos ouvintes. Com bons números, é uma banda que merece estar na sua playlist. Tivemos uma conversa muito legal com o baterista Josh Armitage, falando é claro do novíssimo “The Weight That Holds Me Here”, tirando nossas dúvidas sobre as músicas e os planos para 2021. Leia agora mesmo e conheça o Immerse. A música tem um potencial importante na transmissão de uma mensagem. O que o Immerse faz é um mergulho na positividade, muito necessária nesses tempos de pandemia. Quanto o ato de cantar o otimismo ajuda tanto o ouvinte quanto a si mesmo? Josh - Essa banda é uma saída para todos nós

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de maneiras diferentes. Archie escreve letras para expressar seus sentimentos e desabafar em experiências passadas. Para mim, como baterista, apenas estar nesta banda me enche de esperança e positividade. Estamos em uma posição incrível para poder gravar nossa música para o mundo ouvir, então o fato de nossos ouvintes poderem

escapar de seus próprios tem- do Reino Unido no momenpos sombrios com nossa mú- to - é ótimo ter sido capaz sica é muito humildade. de aperfeiçoar nossa arte Oriundos da cena inglesa, uma das mais emblemáticas para o metal, qual é a sensação de vivenciar e formar uma banda num dos berços da música pesada? Há algum talento sério vindo

em vários locais de base e fazer novos amigos ao longo do caminho. O Reino Unido tem uma gama tão diversa de gostos musicais e ideias e isso definitivamente mostra a quantidade de músicas e sons novos que estão surgindo.


INTERVIEW. IMMERSE

NÓS ESCREVEMOS MÚSICAS QUE GOSTARÍAMOS DE OUVIR

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A banda nasceu em 2018 e já possuem dois full álbuns e um EP. Para uma banda com 3 anos de existência, vocês estão caminhando a passos largos. Está tudo indo conforme planejaram ou tudo foi acontecendo naturalmente? O Immerse foi formado a partir de uma banda anterior com um nome e formação de membros diferentes. O álbum Suffer tem músicas dessa banda e as primeiras faixas do Immerse. Conseguimos manter a base de fãs durante a reformulação da marca, o que nos ajudou muito e

nunca olhamos para trás! Mesmo com um tom pesado e muito gutural, IMMERSE ainda consegue mesclar partes mais sutis com as músicas. Como funciona esse equilíbrio? Cada um de nós tem gostos musicais diferentes e isso definitivamente mostra se você ouvir nosso novo álbum do início ao fim! Nós escrevemos músicas que gostaríamos de ouvir, então com isso vem uma ampla gama de ideias que, de alguma forma, conseguimos entrelaçar para criar nosso


INTERVIEW. IMMERSE

próprio som único. “With You” foi a primeira amostra do “The Weight That Holds Me Here”, seu segundo álbum. No Spotify, a música teve uma resposta bem expressiva, como vocês receberam esse feedback? Esperavam por essa resposta dos ouvintes? Estamos nas nuvens com o feedback desta faixa. É totalmente diferente de nossos singles anteriores e não é o que as pessoas esperavam ouvir. Isso demonstra do que mais somos capazes e o contraste extremo em nossa música. “I live each day in fear, ‘Cau-

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se losing you would break my heart in two”. Existe algum personagem em “With You”? Foi escrita para quem? Archie escreveu essa música sobre sua família. A letra descreve tudo o que fizeram por ele e que o vínculo que eles têm é inquebrável. O foco da família não é diretamente claro na superfície, mas permite que os ouvintes conectem o significado de sua própria maneira em um nível pessoal. “The Weight That Holds Me Here” contem onze músicas e é uma “jornada entre a raiva e a reflexão”. Quanto desses e outros sentimen-


tos podemos sentir em cada música desse novo álbum? Ao final, qual o sentimento que prevalece? Raiva, empoderamento, otimismo e tudo mais. É realmente uma jornada e esperamos que, ao final dela, os ouvintes sintam uma sensação de realização, pois o ciclo se completa. Ainda que o segundo álbum esteja sendo lançado em 2021, ele foi feito antes da pandemia. Por qual motivo resolveram apresentá-lo somente agora? Sim, o álbum foi realmente concluído e pronto para lançamento em 2020, mas conforme a pandemia se abateu e o mun-


INTERVIEW. IMMERSE

do entrou em bloqueio, não achamos que seria produtivo lançar este material se não fôssemos capazes de promovê-lo com shows. Decidimos estender a campanha para cobrir a duração do bloqueio, o que significava lançar 3 singles extras com vídeos incríveis feitos pelo nosso baixista Ben! Isso nos deu tempo para melhorar e construir nossa presença online, prontos para quando os shows voltassem. Em uma entrevista para o site No Echo, o guitarrista Tim Brown disse que “The Weight That Holds Me

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Here” é mais obscuro que o seu début álbum. Por qual motivo que esse cd é mais pesado? Não acho que foi criado intencionalmente para ser mais pesado, mas é definitivamente mais obscuro no sentido de apresentar muitos estilos diferentes. É mais uma vitrine de tudo o que queremos que nossa música seja; emocional, escuro, sombrio, mas edificante e cheio de esperança. Ainda nessa entrevista, Tim acrescenta que nem tudo é desgraça e


tristeza, vocês sempre buscam o otimismo para o futuro. Que elementos dão essa vibe positivista no álbum? A abordagem de composição de Tim é muito eficaz em capturar emoção com som, de modo que nossas músicas mais animadas produzem uma vibração positiva, mesmo que as letras ainda sejam incertas. “Red Shade” traz um ponto que se encaixa nos dias atuais com a letra “Empathy. Has never seemed so fucking lost to me”, você acredita que a empatia está perdida atualmente? Infelizmente sim. Estamos testemunhando


INTERVIEW. IMMERSE

isso todos os dias - pessoas apenas vivendo para si mesmas, sem pensar ou se importar com os outros. Estamos todos juntos, então precisamos cuidar uns dos outros, motivar a grandeza e apenas ser gentis! Durante a pandemia, vocês resolveram lançar os singles em momentos distintos e viram que essa atuação gerou bons resultados. Qual o impacto direto dessa ação para a banda? Isso nos deu espaço para respirar para planejar cada lançamento e promo-

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ver mais do álbum. Definitivamente, aproveitamos ao máximo o que tínhamos disponível e estamos todos extremamente felizes com o que conquistamos este ano, apesar de tudo. Assim como toda banda, devem estar ansiosos para tocar num show. Vocês têm uma agenda marcada para 2021, qual a perspectiva desses eventos em tempos de pandemia? Sim, temos algumas coisas planejadas para o final do ano, como um evento


INTERVIEW. IMMERSE

com transmissão ao vivo no The Black Heart em Londres com nossos amigos em Palmist e uma corrida no Reino Unido com os meninos em From Sorrow To Serenity! Estamos muito animados com isso, mas também ansiosos, já que não tocamos há meses. Sentimos que, em geral, a primeira onda de shows ao vivo após o bloqueio será a mais maluca que o país já viu em MUITO tempo e mal podemos esperar para fazer parte disso.

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Para finalizar, vocês pretendem fazer alguma live para promover o seu segundo álbum? Sucesso e se cuidem. Muito obrigada! Fizemos uma sessão de perguntas e respostas ao vivo em nosso Instagram alguns dias após o lançamento - foi muito bem, então definitivamente fique de olho em mais coisas como essa!

Obrigado por nos receber!



CAPA . LANDMVRKS

POR PEI FON / FOTO ALEXIS FONTAINE

N

esse desbravamento musical que a Rock Meeting vem fazendo, estamos descobrindo verdadeiros tesouros. Não só fazendo menção às bandas, mas também às cenas em que pertencem. Quando se pensa na França, logo vem em mente um dos mais icônicos festivais da música pesada, talvez até o mais plural dentre os maiores da Europa. E uma das bandas que está escrevendo o seu nome na cena do metal moderno é o Landmvrks. Oriundos de Marselle, na França, o quinteto é formado por Florent Salfati (Vocals), Nicolas Exposito (guitarra), Paul C. Wilson (guitarra), Rudy Purkart (baixo) e Kevin D’Agostino (bateria). Para os fãs mais exigentes e de cabeça aberta, o Landmvrks é um bom exemplo de que se pode misturar estilos sem perder peso, melodia e paixão. E a representação dessa afirmação é o terceiro álbum do grupo francês, “Lost in the Waves”. Sobre isso, tivemos a oportunidade de conversar com o guitarrista Nicolas Exposito e que você pode acompanhar logo abaixo. Deleite-se!

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A banda foi formada em 2014, sua trajetória foi desde lançar seu primeiro álbum independente até ter o status de uma das bandas mais representativas do metal moderno. Como vocês avaliam esse caminho que o Landmvrks está traçando? Nicolas Exposito - Quando começamos essa banda, tínhamos apenas uma ideia em

mente, queríamos fazer a música que amamos da maneira mais sincera possível e o mais profissionalmente possível. Passamos por todas as etapas e dificuldades da banda local até a nacional e assim por diante, e fomos progredindo ao longo do caminho. Todos esses passos na vida da banda foram inacreditáveis, e nós aproveitamos 100% de tudo! Hoje com este 3º álbum

as coisas parecem estar cada vez maiores e estamos extremamente gratos por isso, nos dá força para os inúmeros passos que ainda temos que percorrer. E mesmo que tenha que parar por aqui, apreciaremos tudo o que já vivemos, mas isso não está nos planos! Agora o Landmvrks lançou seu terceiro álbum, “Lost in the Waves”, e em


CAPA . LANDMVRKS

pouco tempo já vem tendo uma resposta positiva. Vocês esperavam por um feedback tão rápido assim? Sinceramente, sim e não! Sabíamos que tínhamos dado o nosso melhor, havíamos escrito algumas das melhores músicas do nosso catálogo e iríamos aumentar a nossa base de fãs inevitavelmente... este é o desejo de todo artista quando lança um álbum. Os 3 singles que lançamos antes do álbum já foram extremamente bem recebidos, especialmente “Lost In A Wave” que é, para a maioria de nós da banda, provavelmente a melhor música que já escrevemos e desde que o álbum foi lançado o feedback tem sido unânime, alguns dos músicas que não são “singles” rapidamente se tornaram favoritas dos fãs, nossas encomendas estão esgotadas, há inúmeros comentários e “vídeos

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de reação” na internet dizendo o quanto eles amam o álbum, até agora nossas expectativas foram atendidas e até superadas. “Lost in the Waves” é um álbum ‘mente aberta’ quando se fala na união de diferentes estilos. Com certeza, esse disco agrada aos ouvintes mais exigentes, unindo técnica, peso, melodia e refrãos que ficam na cabeça. É essa a marca que desejam imprimir? Absolutamente. Amamos tantos estilos diferentes, com a mesma paixão que sempre queremos não abrir mão da nossa música! Por exemplo, Flo cresceu ouvindo música hardcore com bandas como Madball, Terror, CDC, assim como rap francês e americano, e aprendendo guitarra com o Metallica. Ele descobriu o metal moderno, o metalcore e até o pop punk mais tarde, e esses são


(PARALYZED) A ARTE É TÃO ESSENCIAL PARA AS PESSOAS, QUE TÍNHAMOS QUE PASSAR UMA MENSAGEM FORTE COM ESSA MÚSICA


CAPA . LANDMVRKS

estilos que ele gosta tanto quanto os outros E é igual para todos os integrantes da banda, nem falamos dos estilos menos radicais, é recorrente que a playlist na van vá de Gojira ao Post-Malone. E nosso desafio é integrar todas essas influências de uma forma coerente e fluida em uma música de metal moderna, que às vezes é mais difícil do que parece. Nesse álbum, nós nos desinibimos e superamos nossos medos

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de empurrar ainda mais as barreiras e códigos de nossa própria música e estilo em geral. Falando dessa união de estilos, a música “Visage” é a mais simbólica nesse sentido. Pode-se dizer que essa canção representa a síntese das influências pessoais de cada integrante? Na verdade, “Visage” é uma ótima representação do que a banda pode oferecer! é a música mais ousada do álbum e é muito bem recebida pelos nossos fãs em todo o mundo apesar da barreira do idioma, é

incrível! Mas não é representativo do que Landmvrks tem a oferecer como um todo, cada música do álbum é realmente diferente das outras, cada uma com a própria “surpresa”. Em cada single lançado pela banda, há um videoclipe para cada canção. Qual a importância do audiovisual na transmissão da mensagem contida nas músicas do Landmvrks? Algumas pessoas pensam que hoje os videoclipes são menos importantes do que antes com o surgimento dos serviços de


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streaming... não concordamos. Achamos que o visual ainda é de suma importância, queremos colocar imagens em nossas músicas, os clipes são uma extensão de um álbum, eles podem ancorar o álbum em um universo, uma atmosfera, uma cor... Já estamos pensando em outros clipes e em como trazer algo diferente e menos convencional para colocar em imagens outras músicas do álbum. Pensando um pouco mais a fundo sobre o título do seu terceiro álbum, quem seriam as pessoas que esta-

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riam perdidas nas nuvens, e por qual motivo estariam nessa condição? É inspirado em alguém, pessoas próximas? Como você pode ver na capa do álbum, existe essa mulher cujo rosto não é visível, e que parece estar procurando o seu caminho, e essa é uma metáfora direta do nome do álbum: pode ser qualquer um, ele é um sentimento universal de estar perdido. Foi obviamente Flo que surgiu com esse nome falando sobre suas próprias experiências, mas qualquer um pode se identificar com isso, não é um álbum que traz soluções, é



CAPA . LANDMVRKS

apenas uma representação da realidade, e apenas saber que outras pessoas compartilhe o mesmo sentimento que você... é algo bom. Ouvir “Lost in the Waves” e não mencionar a emocionante “Paralyzed” é um erro. Florent, como é para você cantar as emoções, e transmitir o sentimento que a música precisa? Florent - “Paralyzed” é uma canção complicada de interpretar, e para a anedota os refrões “calmos” assim como o refrão final são retirados diretamente da sessão de pré-produção, gravada no meu quarto. Decidimos mantê-los na versão final da música porque a intenção era perfeita e eu sabia que teria sido muito complexo fazê-lo novamente em estúdio, além do verso ter que ser refeito em estúdio porque a letra não estava finalizada durante a sessão de pré-produção, e levou muito tempo para encontrar a intenção certa e perfeita. Muitas vezes as primeiras intenções são as melhores, e o fato de eu ter gravado os vocais sem nenhuma pressão sabendo que seriam apenas demos, ajudou a criar uma per-

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formance honesta. Existem algumas outras partes vocais do álbum que vêm direto das sessões de demo, como o fim de “Visage”. O clipe de “Paralyzed” faz menção ao lugar que seria um dos shows do Landmvrks, que foi adiado com a pandemia. Como surgiu a ideia de homenagear a todos que fazem esse cenário musical acontecer? Afinal, todos sentimos o peso que a pandemia trouxe... Tivemos a sorte de ter a oportunidade de filmar neste local emblemático, graças à equipa da L’Accor Arena e ao festival que se realizava no final de 2020 “Storm The Arena”. Prestar homenagem a toda essa cena é uma honra para nós... pensamos nos músicos, técnicos, atores, dançarinos etc. que não conseguem mais praticar seu trabalho por mais de um ano, é triste... A arte é tão essencial para as pessoas, que tínhamos que passar uma mensagem forte com essa música. Já se passou mais de um ano


CAPA. LANDMVRKS

e meio desde que fizemos um show e acho que é a coisa mais frustrante que já aconteceu conosco em nossas vidas. “I’m just trying to hide my fears, ‘Cause I’m afraid to understand”, essa parte em “Lost in a Wave” é interessante. Quantas vezes isso já não aconteceu em nossas vidas... Como encarar o medo? Acho que a melhor maneira de en-

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frentar nossos medos é entendê-los, mas sempre é muito mais fácil ignorá-los, evitá-los e nos vemos presos em um círculo vicioso onde toda nossa vida é baseada na evitação, o que reforça ainda mais nossa ansiedade e nosso medo, a solução para esses problemas é ter muita coragem e determinação para entender o que nos assusta e mesmo que nunca possamos nos livrar disso, podemos aprender a conviver com isso, em paz.


“Tired of it all” têm muitas partes interessantes. Fazendo um paralelo ao momento em que vivemos, “I can no longer bear the weight, Of all the things I’ve left undone” se encaixa perfeitamente bem. Vocês já visualizam como será os pós pandemia, em especial para os shows? Não pensamos nisso... Vimos fotos de teste com shows sentados, é estranho para ser honesto. Nós realmente esperamos que quando ele começar

de novo tudo volte ao normal. Precisamos de um público que comove, que nos transmita suas emoções, sua energia. Um show não é como assistir a um filme no cinema onde você se senta e assiste a uma grande tela enquanto come pipoca, é diferente. Você canta, você sua, você compartilha sua paixão com todos os outros na sala, é uma espécie de alquimia perfeita que é criada. É por isso que precisamos disso de volta o mais rápido possível.


CAPA . LANDMVRKS

Perdidos em uma nuvem vendo a chuva cair, estando em silêncio, cansado de tudo, sem dizer nenhuma palavra. Sempre subestimado e agora paralisado. Como ser compreendido e sair dessa condição? Para entender tudo isso, acho que a melhor coisa a fazer é dizer que todos vivemos em uma fantasia onde às vezes as pessoas se sentem vazias e ocas. Para finalizar, há a possibilidade de alguma livestream apresentando esse novo álbum? Muito obrigada, sucesso e se cuidem! Esperamos vê-los no Brasil. Estamos trabalhando em uma transmissão ao vivo no momento, terá que ser lançada nos próximos meses, no momento não podemos fazer um show então obviamente encontramos alternativas. Um grande obrigado a você, na esperança de vir tocar no Brasil um dia!

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Photo: Mariana S. Mayer



INTERVIEW. OCEANS

POR PEI FON / FOTO KATJA BORNS

H

á muitas bandas que falam sobre vários assuntos, seja política, religião, mitologia... mas pouquíssimas falam da nossa condição mental. Não é um tema fácil de se falar, quanto menos cantar… A verdade é que a complexidade do assunto desanima muita gente, mas não foi o caso do Oceans. O Oceans é um quarteto de Viena/Berlin, formado por Timo Rotten (vocals & guitarra), Patrick Zarske (guitarra), Thomas Winkelmann (baixo) e J.F. Grill (bateria). E assim, pensando em ajudar as pessoas, cantando as amarguras e dificuldades, eles dão visibilidade aos assuntos pertinentes, ainda mais em tempos de pandemia. Eles têm tocado naquilo que mais doi em nós. Tivemos a oportunidade de falar com o baixista Thomas. Ele foi muito simpático as nossas perguntas sobre os lançamentos de agora e futuros, pontos de vista e saúde mental, é claro, ele não mediu nada. Curiosos? Continue a leitura! A banda classifica a si mesma como Modern Death Metal, misturado com o Nü Metal dos anos 90 e Post-Rock. É a conjunção desses gêneros que faz com que o Oceans soe tão único? Thomas - Sim, acho que nosso estilo está enraizado em todos esses gêneros. Todos nós temos semelhanças de gosto, mas também preferências muito diferentes que se fundem e criam esse som.

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Photo: Tatjana Braun

Vocês lançaram “We are not okay” com a participação de Andy Dörner (Caliban). Em pouco tempo já foi ouvida mais de 130 mil vezes no Spotify, e contando. Como vocês avaliam essa repercussão que a música está tendo? Hoje, são na verdade 204.000, o que é incrível. Estamos muito gratos e orgulhosos pra caramba que algo que criamos é apreciado e valorizado por outras pessoas também, e esperamos contribuir com algo

útil para a luta pela saúde lecer uma colaboração com a ONG alemã “The ocean in mental. your mind”. Recomendo você ve“We are not okay” faz parte do próximo EP de rificar o site deles e dar uma mesmo nome, que sairá olhada por si mesmo. O ânguem abril. Além da temáti- lo deles é mostrar às pessoas ca sobre a saúde mental, que elas não estão sozinhas terá participações espe- com essas questões, pessoas ciais. Como essas parti- com doenças psicológicas cipações contribuíram no compartilhando suas histófortalecimento das men- rias. Entramos em contato sagens que cada single com eles e eles gostaram do traz? Então, nosso guitarrista Pa- que estamos fazendo, e vicetrick teve a ideia de estabe- -versa. Portanto, continuare-


INTERVIEW. OCEANS

mos trabalhando com eles no futuro e tentaremos ajudar a organização sempre que pudermos. Também procuramos outros artistas e músicos interessados em ajudar a causa. Acho que encontramos as combinações perfeitas para cada música. Agora duas músicas já foram lançadas. Você mencionou Andy de Caliban antes e Lena do Infected Rain fez um vocal na segunda música “Voices”. Há mais dois por vir. Não posso falar muito sobre isso agora, mas temos mais músicas com características fortes que estamos muito orgulhosos de esperar para serem lançadas. O vídeo de "We are not okay" tem fortes críticas sobre os problemas psicológicos que as redes sociais causam, e a depressão é uma dessas consequências. No final do vídeo, há uma mensagem oferecendo ajuda. Como os espectadores reagiram a este clipe? Pelo que posso dizer, o vídeo tem sido muito bem recebido

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até agora. As reações são muito positivas. Não tenho certeza se as pessoas entraram em contato apenas porque viram nosso vídeo, mas só podemos esperar que nosso chamado para pedir ajuda, se necessário, seja ouvido e visto. Em uma entrevista sobre o novo single, o vocalista Timo Rotten fala que o mundo não está nada bem e que é preciso aceitar isso. Em que momento a banda resolveu trazer essa discussão sobre a saúde mental por meio da música? Esse tópico existe desde o primeiro dia nesta banda. Acho que todos nós podemos não apenas nos relacionar com este tópico, mas também tivemos nossas próprias experiências pessoais com doenças mentais. Acho que lutar contra você mesmo e sua saúde mental se tornou mais presente na vida de muitas pessoas hoje em dia, desde que a vida passou por uma mudança drástica em todo o mundo.


TODO MUNDO QUE VOCÊ CONHECE ESTÁ TRAVANDO UMA BATALHA DA QUAL VOCÊ NADA SABE. PORTANTO, SEJA GENTIL. SEMPRE!


INTERVIEW. OCEANS

“When I look into the mirror, I see an unfamiliar face”. Recentemente algumas pessoas da cena metal resolveram se afastar dos holofotes para cuidar do seu eu, como vocês avaliam essa decisão? Por mais que possa doer a você como um fã se as pessoas decidirem desistir ou fazer uma pausa, antes de mais nada, é a escolha individual de cada pessoa sobre como lidar com suas vidas e se isso significa sair dos holofotes para curá-la, que assim seja. Quero dizer, é difícil argumentar contra isso de qualquer maneira. O que quer que você pense que sabe, pode não saber merda nenhuma. Às vezes, nem quando você está muito próximo de alguém. Todo mundo que você conhece está travando uma batalha da qual você nada sabe. Portanto, seja gentil. Sempre! “I don't live – I survive. I am not okay”. Há muitas partes interessantes em “We are not okay”, mas essa é a que mais chama atenção. Em que momentos devemos deixar de existir e começar a viver? A qualquer momento. Pode ser uma

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merda e ser a coisa mais difícil de conseguir, mas também não há alternativa melhor. Escutei “Voices” e imergi nessa canção. As vozes que ficaram na minha cabeça, com certeza, foram a de vocês (lol), o que é positivo. Conta para nós como foi essa parceria com Lena Scissorhands. Lena também já se envolveu com o assunto, criando consciência para problemas de saúde mental e queríamos uma voz feminina forte naquela música, então pensamos em tentar e perguntar a ela. Felizmente ela gostou da música e disse que sim. O resultado parece perfeito para nós. “Who's that man behind the mirror? I don't know him anymore, when did this little boy get lost?”. As primeiras frases de “Voices” são muito impactantes. Existe um personagem por trás? Alguém da banda ou próxima passou por isso? A música é sobre esquizofrenia, que felizmente nenhum de nós teve experiência em primeira mão. Como mencionado antes, temos nossos próprios pontos de contato com questões de saúde mental. Não vou entrar em detalhes sobre os outros caras, mas tenho lutado contra a depressão intermitentemente por metade da minha vida. Já fiz terapia, tomei


INTERVIEW. OCEANS

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os remédios, já lutei contra ataques de pânico e ansiedade antes também. É uma jornada contínua, mas me sinto muito bem hoje em dia e aprendi a perceber quando está piorando novamente e procuro estar sempre um passo à frente ou pelo menos lidar melhor com isso a cada vez. Para mim não resta dúvida sobre quão profunda são as letras do Oceans. Enquanto músicos, a intenção da é fazer com que as pessoas reflitam sobre o que está acontecendo internamente? Obrigado, nós tentamos e às vezes conseguimos escrever coisas boas: D Sim, realmente funciona de duas maneiras. Para

nós, como nossa própria sessão de auto-terapia e catarse, e esperançosamente para outros que possam ouvir nossas músicas. Conheci o som do Oceans com o seu début album, “The Sun and The Cold”, lançado em janeiro de 2020, porém o trabalho de divulgação foi parado devido a pandemia. Como vocês administraram o tempo sem os shows ao vivo?

Tivemos um bom começo com aquele álbum depois de lançar dois EPs antes dele e fazer alguns shows para se preparar para a turnê do Renegades com Equilibrium. Infelizmente, logo após a turnê, todo o primeiro bloqueio aconteceu e desde então não fomos capazes de tocar um único show como tantos outros por aí. Como todos os membros da banda estão morando em lugares diferentes ou até mesmo países diferentes,


INTERVIEW. OCEANS

não nos vimos muito além das videochamadas. Obviamente, isso é péssimo, mas tentamos tirar o melhor proveito disso e temos sido muito produtivos trabalhando em um novo material. Portanto, este foi o nosso 2020 e ainda está em andamento. Na verdade, acabamos de discutir sobre a seleção de músicas para o próximo álbum HAHA. Portanto, é seguro dizer que estamos utilizando bem o live break forçado. Ouvindo bem “The Sun and The Cold” reconheço que é fiel à descrição no perfil da banda no Spotify, ser um som para deprimidos e que toca naquilo que mais dói. Após um ano de seu lançamento, qual a avaliação que fazem desse álbum? Eu ainda amo esse álbum. Tem sido bem importante para nós configurar tudo isso do nada depois de “estar no negócio” por um bom tempo. Mas é seguro dizer que foi a melhor decisão de todas.

análise que vocês fazem dos dois EP’s, singles e o primeiro álbum já lançados? Quanto que a banda cresceu desde então? Estamos constantemente em movimento, por assim dizer. Trabalhamos muito para consolidar nosso som e estilo e nossa própria percepção da banda. Não espero nenhum tempo de parada em breve. Já mal podemos esperar para apresentar o novo álbum ao mundo, embora isso vá demorar um pouco mais até que seja lançado.

A participação dos fãs é muito importante para a manutenção da base, lançar singles e EP’s digitais tem sido uma das formas para se manter ativo. PenFazendo um tour pelo ma- sando nisso, vocês planeterial disponível, qual a jam algum livestream ou 102 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021


outro tipo de promoção? Planejamos sim. Já que estamos falando um com o outro o tempo todo, pensamos por que não fazer mais transmissões ao vivo para incluir as pessoas e manter o contato fora do palco. Nós fazemos Instagram Live Talks de vez em quando e Timo está transmitindo ao vivo do estúdio todas as quintas-feiras no Twitch (twitch.tv/oceans_official) E se houver uma chance em breve, ficaríamos muito felizes em apenas transmitir de um ensaio ou algo assim. Para finalizar, além do EP digital,


Photo: Tamselbärchen

INTERVIEW. OCEANS

o que vocês pretendem fazer ao longo desse ano? Sucesso, se cuidem e esperamos vocês no Brasil. Muito obrigada! Haverá também um lançamento físico de ‘WE ARE NØT OKAY’, limitado a apenas 200 cópias que só podem ser encomendadas diretamente através de nossa loja online. Além do lançamento do EP, vamos entrar em estúdio no primeiro semestre desse

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ano e terminar o álbum número II, fazer alguns videos e photoshoots e coisas assim. Além disso, já estamos verificando algumas oportunidades ao vivo para 2022. Isso nos mantém ocupados por enquanto.

Muito obrigado por me

receber e tudo de bom para vocês. Mal podemos esperar para ir e conhecer todos vocês pessoalmente. Saúde!



INTERVIEW. SABLE HILLS

POR SUZUKI KAYOMI / FOTO PROMOTION TRADUÇÃO JAPONÊS - JENNIFER SKOPPEK

E

ntre as diversas pessoas no Japão, temos uma diversidade grande de música sendo apresentada constantemente para nós diariamente. Mergulhando no cenário de Metalcore, encontramos Sable Hills. Formada por dois irmãos, Rick e Takuya, a banda se destaca pelo seu som agressivo e suas performances insanas. Mencionada por outras bandas como “uma banda foda”, Rick procura trazer um pouco de modernidade ao Metalcore, sem esquecer das raízes principais. Sable Hills pode ser encontrado no YouTube, Spotify e Apple Music. Sable Hills passou por diversas mudanças na sua estrutura. Alguns artistas dizem que quando se troca algum integrante, a banda tem que começar do zero. Como foram as mudanças no Sable Hills? Rick - Eu e o Takuya formamos a base do Sable Hills, enquanto a base não muda, a banda não precisa mudar drasticamente. Óbvio que é triste quando a gente se separa de algum integrante, a caída na motivação também faz parte dessa sensação, não tem muito o que fazer. Você e Takuya são irmãos, correto? Como é trabalhar em família? Vocês têm

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algum atrito por conta de diferenças musicais e opiniões? Nunca tivemos problemas. Nossos gostos musicais são bem parecidos, então não temos nenhuma diferença no quesito musical. A gente se dá até bem, então não acho que tenha nenhum problema.

Metalcore serem cheios de energia com moshpits, wall of death e outros. Com as restrições de shows no Japão, vocês sentem que falta algo quando se apresentam? O que a gente mais sente falta é a voz do público. Eles não podem usar suas vozes, não podem cantar e não podem Sempre vemos shows de gritar quando estão empol-

gados. Acho que a imagem de que multidões podem ser perigosas não vai desaparecer completamente mesmo depois do Corona sumir. Mesmo que moshpits sejam permitidos, pode acontecer de que pessoas que faziam moshpits anteriormente, não vão mais fazer por conta da situação toda.


INTERVIEW. SABLE HILLS

Vocês estão participando de uma audição no Battle Metal Japan para participar do Wacken festival na Alemanha, como vocês têm se preparado? Nós estamos confiantes de que podemos ganhar, e com certeza não vamos poupar esforços até o dia da ‘batalha’. Sabemos que o cenário de metal e hardcore é grande fora do Japão. Quais são as diferenças que vocês acham que existem? Como pode melhorar? A cena de metal no Japão é bem pequena, não acho que seja assim lá fora. Acho que tem muita gente ouvindo Metalcore no exterior, assim

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como tem muitas bandas. Vocês já tocaram lado-a-lado de bandas como Coldrain, Crystal Lake e outros, que são bem presentes no cenário de metal e hardcore fora do Japão. Como foi essa experiência para vocês? A gente com certeza ficou muito feliz, mas a gente só tocou nos mesmos festivais que eles. A gente quer muito ir em uma turnê junto com eles algum dia. Pode ser para uma turnê deles ou quem sabe uma turnê nossa. Sabendo que o cenário de Metal no Japão é limitado, Sable Hills tem intenção de atingir o


QUEREMOS MUITO CHEGAR NO EXTERIOR E NOS APRESENTAR EM FESTIVAIS FAMOSOS


INTERVIEW. SABLE HILLS

exterior? Que tal o Brasil, vocês querem chegar até o outro lado do planeta? Queremos muito chegar no mercado internacional, e claro que também o Brasil. Nossas letras são em inglês e a gente toca Metalcore, um gênero musical que teve sua origem fora do Japão, então é natural. Para as atividades da banda, nossa base é o Japão, mas a gente sempre pensa em como distribuir nossa música no exterior. Notamos que muitas bandas do Japão misturam japonês e inglês em suas letras. Na cena de metal, quase sempre as letras são todas em inglês, assim como Sable Hills. Algum motivo especial para escolher cantar em inglês? Você acha que cantando

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em inglês os fãs do Japão conseguem se conectar com letras? Temos muitas influências de bandas do exterior, então somos inspirados por músicas que escutamos em inglês, então é natural usarmos inglês. Eu também consigo me expressar melhor em inglês quando canto, do que em japonês. Porém a gente sempre prepara traduções, e explicações sobre nossas músicas, em japonês, para que nossos fãs do Japão possam compreender. Seu último lançamento foi “Flood”. Algo que me chama atenção é “Without a reason to fight, I have to be broken”. Qual o motivo pelo qual o Sable Hills luta? “Flood” é uma metáfora para as ad-



INTERVIEW. SABLE HILLS

versidades que estão acontecendo no mundo atualmente. Eu acho que temos que continuar lutando enquanto houver adversidades. A luta que eu me refiro, é continuar criando músicas e fazendo shows. Muitas bandas usam o cenário global como inspiração. E vocês, qual intenções vocês geralmente procuram colocar em suas letras? Eu canto sobre os absurdos que acontece ao nosso redor, ou problemas que existem nesse mundo, com raiva e gritos. Para finalizar, o que podemos esperar do Sable Hills no futuro? Muito obrigada, sucesso e esperamos ver vocês no Brasil algum dia Queremos muito chegar no exterior e nos apresentar em festivais famosos. Nós iremos dar nosso melhor para conseguir atingir esse objetivo.

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V


ARTICLE . VOICE TALK

Foto: Promotion

VOICE TALK VOICE TALK SER UM SCREAMER E ESTAR EM LOCKDOWN BY NICOLÁS HORMAZÁBAL Monitor Teacher FCC Course (Brasil) / PAVA´s Member (Panamerican Vocology Association)


ARTICLE . VOICE TALK

Foto: Oliver Haremsa 114 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021


O

ano recém passado, sem dúvida, atingiu duramente o mundo, e nós que nos dedicamos à música não ficamos isentos deste golpe gerado pela pandemia que teve repercussões mundiais. Porém, em torno do campo musical, existe um problema que ainda não está sendo discutido e que nos afeta diretamente. Assim como os atletas precisam continuar treinando para manter e/ ou melhorar suas marcas, os cantores precisam continuar cantando, ou seja, treinando sua voz para mantê-la condicionada aos requisitos que os estilos que cantam exigem. Porém, é muito diferente ser vizinho de um cantor de Jazz ou Bossa Nova e ser vizinho de um cantor de Rock e na mesma linha, é muito mais complicado ser vizinho de um cantor de metalcore. Um dos problemas que a pandemia revela é a necessidade de um espa-


ARTICLE . VOICE TALK

ço para nos expressarmos, entendendo as diferentes circunstâncias que se acentuam com a pandemia, como as desigualdades sociais, pessoas que vivem em apartamentos de poucos metros quadrados que não possuem os tratamentos acústicos necessários funcionando como isolantes deste tipo de som. Nesse cenário, é complexo e quase impossível conseguir treinar a voz sem incomodar ou “ser inconveniente” para a comunidade que vive no entorno desse espaço compartilhado. Diante dessa situação, você recebeu ligações pedindo para parar de gritar? Eles vieram bater à sua porta para descobrir “quem está morrendo” lá dentro? Receber esse tipo de comentário pode nos afetar, e a verdade é que afetam a maioria de nós. Ainda que não paremos de praticar, apesar desses comentários, nos vemos obrigados a modificar certas coisas para evitar este tipo conflito com os demais. Tudo que foi dito anteriormente, fez com que muitos screamers perdessem a condição muscular de suas vozes devido à falta de treinamento, somada à falta de shows e ensaios.

Devido ao que foi exposto, quando a pandemia for superada, teremos alguns problemas para podermos retomar nossas atividades normais, por isso deixo as seguintes sugestões: 1. Encontre um fonoaudiólogo para ajudá-lo a manter sua voz condicionada. 2. Trabalhe com um professor qualificado em metal extremo para que você não perca o acesso aos Screams que você já alcançou (também poderá ajudá-lo a melhorá-los ou encontrar outros sons). 3. Procure cuidar de sua saúde mental. O apoio psicológico é sempre algo nutritivo, pois embora a música seja um bom catalisador das emoções, sabemos que especificamente nas técnicas de Screaming devemos ter muito cuidado para não nos deixarmos levar pela emoção, pois isso pode causar problemas à nossa saúde vocal.

Foto: Oliver Haremsa 116 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021



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4. Continue praticando! Talvez em alguns casos seja muito difícil manter a prática, mas você não deve desistir (considere a ajuda proposta no ponto anterior). Uma so-

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lução pode ser chegar a um acordo com as pessoas ao seu redor para definir horários e dias em que você praticará seus Screams. Sabemos que talvez não seja o melhor momento, mas podemos aprender muito com tudo o que está acontecendo, vamos continuar praticando, continuar gritando e mostrando ao mundo do que somos feitoS! YEEEEEEEEEEEEEEEEEAH!



INTERVIEW. ETERNAL VOID

POR UILLIAN VARGAS

/ FOTO PROMOTION

E

ternal Void é dessas bandas que não sente nenhum medo de se renovar e acompanhar os novos ventos. A banda foi formada no final da primeira década dos anos 2000, mas foi na virada da década, precisamente em 2010, que ganhou força e consistência. A banda surgiu como um projeto e acabou se tornando a banda principal. Dayton, em Ohio, foi o solo sagrado que viu o Eternal Void nascer e ganhar o mundo. A banda é formada por Waylon Baker (guitarra), Dylan Krebs (bateria), Evan Hilderbrandt (guitarra) e Logan Adams (vocal). O Eternal Void acabou de lançar seu segundo álbum de estúdio, "Serenity in the Black", um apanhado de influências, peso, letras marcantes e melodia. Tivemos a oportunidade de conversar com os caras da Eternal Void e eles nos contaram muitas coisas interessantes e curiosas sobre a banda e a trajetória. Confiram!

Foto: Jenny Rosa

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Vamos começar esta conversa com uma breve história sobre vocês mesmos. Som pesado, melódico e música cheia de energia. Conte-nos sobre o início da banda. O que está por trás do significado do nome da banda? Evan - Bem, a banda na verdade era um projeto paralelo do Dylan enquanto eu e ele estávamos em outra banda em tempo integral. Finalmente aquela banda se separou e então Dylan começou


Foto: Ryan Ferdelman

a levar a Eternal Void mais a sério. Eu implorei e implorei para entrar, finalmente me ofereceram a vaga. No início, definitivamente, era mais influenciada pelo thrash/tech-death metal, pois todos nós estávamos em bandas de metal mais clássico como Death, Sepultura, Megadeth etc. Obviamente, esse som começou a mudar e se desenvolver com o tempo. Quanto ao nome "Eternal Void", ele realmen-

te não começou com nenhum significado especial ou nada por trás dele. Dylan ouviu-a na canção "Into the Void" do Black Sabbath e o resto foi história. Acho que é um daqueles nomes que começam sem nenhum tipo de significado e, com o tempo, começam a desenvolver sua própria vibração e caráter.   Eternal Void nasceu como um projeto alternativo de

Dylan Krebs. Como foi o processo de nascer como um projeto do que depois de se tornar uma banda? Dylan - Foi uma banda divertida que acabou se tornando nosso principal projeto, uma vez que tínhamos adquirido as pessoas certas. Ela floresceu e desabrochou por volta de 2010 e, desde então, continuamos a fazer grandes avanços em toda a linha. Faz uma grande diferença quan-


INTERVIEW. ETERNAL VOID

do todos estão alinhados com os mesmos objetivos e uma determinação para o sucesso através da criatividade.

ESTAMOS CONTINUAMENTE TENTANDO FOCAR EM NOS COLOCAR EM CENA E DESCOBRIR COMO PODEMOS NOS DIFERENCIAR DE TODOS NESTE ESTILO DE MÚSICA

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Os Estados Unidos têm um cenário musical muito forte, e cada cidade tem suas próprias conexões sonoras. Como é o cenário do heavy metal em Ohio? Especialmente em Dayton? Waylon - A cena de Ohio como um todo sempre foi bastante sólida. Muitas bandas excelentes saíram de Ohio e/ ou Dayton, por exemplo The Devil Wears Prada foi formada em Dayton. Bandas como Miss May I, Like Moths to


Flames, só para citar algumas, são de Ohio. Provavelmente faltam muitos outros, mas esses são alguns bons exemplos. Sempre houve uma forte comunidade de “faça você mesmo” na cena e bandas que deram muito duro para surgir. Dayton ainda tem muitas grandes bandas locais e muitas pessoas de grande talento envolvidas na cena musical que nos inspiram a trabalhar mais e ser o melhor que podemos ser.

Desde "Art of our Demise", passando pela "Catharsis" até os dois novos singles ("Crippling Thing" e "Willow"), vocês cresceram como banda. Como vocês

Foto: Ryan Ferdelman

Entre as antigas e as novas influências musicais, o que você está ouvindo atualmente? Quais bandas inspiram Eternal Void e que pode recomendar aos nossos leitores? Logan - Eu tendo a ouvir apenas sons mais modernos como Good Tiger e Thundercat. Embora a banda em geral ouça uma grande variedade, desde clássicos como Metallica até titãs modernos como Spiritbox.


INTERVIEW. ETERNAL VOID

se avaliam nesta jornada? Evan - Detesto dar a típica resposta "amadurecemos em nosso som", mas acho que esse é o caso aqui. Durante a " Art of our Demise ", não sabíamos realmente o que estávamos fazendo para sermos honestos. Era algo parecido com "como podemos tocar as coisas mais insanas e amarrar tudo junto". Não estou dizendo que as coisas naquela época eram ruins, mas 124 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021

ainda éramos jovens e estávamos apenas tentando descobrir coisas. "Catharsis" foi onde realmente começamos a achar nosso caminho e a nos descobrir e criar nosso som, e isso só foi ganhou mais força com o novo álbum. Bote o pé na estrada, pratique sua arte e acumule experiência de vida e, naturalmente, haverá algum tipo de evolução no som. Em nosso caso, aconteceu de ficar cada vez mais escuro e a

música e a letra ficaram mais "reais" e o nome da banda começou a se tornar uma realidade de certa forma. "Catharsis" é o seu segundo álbum. A banda mistura elementos de Post Rock, Death Metal e Djent nas músicas. Durante a composição deste álbum, a mistura de estilos é algo dirigido, ou vem naturalmente?


Foto: Ryan Ferdelman

Dylan - Um pouco de ambos. Entrando em um novo álbum, todos nós temos ideias que provêm de gêneros e outros artistas diferentes. Acho natural que todos nós somos atraídos por esses estilos. Fazemos referência a esses estilos quando se trata de criar. Todos nós temos gostos musicais diferentes, por isso é bom ter várias influências diferentes, que podem realmente permitir o crescimento criativo. No perfil oficial da banda no facebook tem uma postagem engraçada relacionado o “velho Eternal” vs “novo Eternal”. Além do peso sonoro, agressividade e atitude, que mudança é essa na carreira da banda? Logan: Principalmente o fato de ter passado cerca de sete anos desde a “Catharsis”. Isso é muito tempo para influências, membros e nós, como pessoas, mudarmos. "Art of Our Demise" foi lançada em 2012. Como você avalia as músicas

feitas nessa época? Você mudaria alguma coisa? Evan - Para mim, acho que nunca estarei 100% satisfeito com um lançamento. Não quero dizer que não estou feliz ou orgulhoso com os lançamentos passados, mas para a maioria dos músicos você sempre vai olhar para trás e desejar ter escrito algo um pouco diferente, ou talvez desejar que a mixagem pudesse ter sido ajustada melhor, ou talvez você devesse ter lidado com o marketing de forma diferente. Com "The Art of Our Demise", eu olho para trás com carinho. Queria que tivéssemos tido uma mixagem melhor, mas novamente, estávamos apenas começando a entender as coisas. No entanto, tentei tocar alguns dos riffs outro dia e muitos são realmente difíceis e há um som sólido neles, então fiquei muito feliz com isso. Alguma coisa,


INTERVIEW. ETERNAL VOID

acho que alguma ingenuidade realmente nos ajudou muito, porque não estávamos super analisando nada. Foi muito divertido. A "Catharsis" foi lançada duas vezes, em 2014 (originalmente) e em 2018. Com alguns bônus, qual é a razão para lançar o mesmo álbum duas vezes? Que mudanças foram feitas? Dylan Lançamos "Catharsis" uma segunda vez 126 // ROCK MEETING // ABRIL . 2021

a impressão de que ele foi escrito para alguém. "Você é tudo para mim, não faz sentido perder tempo, então começamos a aprender, com os erros que cometemos". É uma impressão ou foi mesmo dedicada a alguém com quem você estava em um relacionamento? Logan - Trata-se de encontrar conforto em alguém de quem você gosta, enquanto Em "Lie Awake", do ál- enfrentamos juntos as dificulbum "Catharsis", tenho dades da vida. Portanto, sim. por obrigação com nosso contrato de gravação. Queríamos acrescentar algum material bônus a esse lançamento que anteriormente não conseguimos devido a problemas de tempo com a gravação do álbum. Refizemos algumas das faixas em softwares e incluímos uma nova música "Suspended Animation", bem como versões instrumentais das faixas ambientadas.


mos. Portanto, aproveite ao timamente, a autodestruição "Element" traz um gran- máximo as coisas enquanto da humanidade. Enquanto eu de questionamento e que temos uma chance. escrevia a letra da canção, o dificilmente teremos uma ponto de vista da árvore acaresposta. "Pense em uma Nos singles recentemen- bou sendo retirado, mas a situação, em que se você te lançados, há uma di- auto reflexão da humanidade morrer amanhã". Como ferença entre "Crippling como um todo ficou. Eu estaindivíduos, em uma situa- Thing" e a mais nova va realmente pensando sobre ção como essa, o que lhe "Willow". A última é mui- a dinâmica entre os grupos de passa pela cabeça quando to mais agressiva e mais pessoas que se concentram na pensa sobre isso? cheia de emoção. Existe ganância e no autodesenvolEvan - Sim, essa linha veio um personagem por trás vimento a todo custo, e como de Logan. Para mim, porém, de "Willow"? existe outro grupo que é mais quando penso nisso, a coisa Evan - De certa forma, sim. puro e cuidadoso e como eles acende uma fogueira, sabe? A ideia original por trás do querem legitimamente meComo se isso me motivasse a "Willow" é um salgueiro que lhorar a vida. Acho que é um querer fazer mais e realizar basicamente resiste ao teste pensamento bonito, mas às coisas legais porque o reló- do tempo através de cente- vezes há uma sensação de degio não para e eventualmente nas de anos da humanidade sânimo e falta de esperança. um dia todos nós morrere- e testemunha a revolta e, ul- Daí a linha "Perseguir o espa-


INTERVIEW. ETERNAL VOID

ço vazio”. Enquanto escrevia a letra, refletia sobre os acontecimentos de 2020 e o estado geral do mundo e como todos nós deveríamos estar trabalhando juntos para atravessar a vida e como isso simplesmente não estava acontecendo. Isso me levou à linha "propósitos entrelaçados, mas estamos perdidos na dissonância". Nos dois singles recentes, sinto uma presença de luta interior nas letras das músicas. Em "Crippling Thing", a ponte para o refrão diz: “I can't tell you how you need to learn how to breathe again" é quase uma frase que pode ser dita ao autoconsciente. Você pode falar um pouco sobre a mensagem desse som? Logan - A vida é difícil. É mais difícil

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quando seu cérebro lhe diz constantemente como você é horrível em tudo e horrível como pessoa. Embora normalmente, nestes casos, o problema seja o próprio eu. Aprender a afastar essa voz e apenas respirar, estar calmo, pode ajudar muito. "Willow" foi para o Youtube, numa montagem de belas e impactantes imagens. Junto com a letra as imagens, aproximam "Willow" de um autoquestionamento. Que reações você espera que este som provoque? Evan - Eu realmente quero que as pessoas reflitam sobre suas vidas e sobre o que estão acrescentando ao mundo. Como elas estão contribuindo? Estamos todos tomando o mesmo caminho de partida desse mundo, de uma forma ou de outra,


Foto: Jenny Rosa

então como podemos tornar nosso tempo aqui um pouco melhor? Além disso, espero que as pessoas estejam mais conscientes de suas ações. Boas ou más. Eu não me consideraria um cara com uma grande vibração de "paz e amor", mas acho que a autoconsciência pode contribuir muito para melhorar o dia a dia. "As time moves on, I lose hope within myself, I'm giving in" esta parte em "Willow" chama bastante a minha atenção. Qual é o caminho para este indivíduo voltar a confiar em si mesmo? Logan - Esta é uma das únicas linhas que escrevi para esta canção, Evan fez a maior parte dela! Embora em crescimento como pessoa, todos nós podemos nos dar ao luxo de ser pessoas melhores.

Você lançou a canção "Despondent" com a convidada especial Courtney LaPlante (Spiritbox). Cheia de sentimento e expressiva, ela foi escrita para alguém? Quando a canção foi escrita, você já estava pensando em um dueto com Courtney? Logan -Foi escrita para refletir a ideia de ver um ente querido sofrer enquanto não há nada que possa ser feito de sua parte. Infelizmente, tenho várias pessoas na vida sobre as quais me senti assim. Embora não tenha sido escrito com Courtney em mente, nós queríamos uma vocalista feminina em uma das faixas. Em meio a este cenário de isolamento social, longe do palco, como banda, como estão administrando a situação e pensando nos próximos passos para o Eternal Void? Como


Foto: Richard Rodrigues

INTERVIEW. ETERNAL VOID

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a medida que avançamos, mas esperamos que a composição fale por si mesma quando as pessoas ouvirem as músicas. O que funciona para outra banda pode não funcionar para nós e vice-versa, por isso estamos apenas tentando definir e encontrar nosso próprio caminho para estar dentro.

vocês trabalham em um cenário social onde não pode se apresentar como uma banda? Waylon - Sim, quando começamos a escrever este disco juntos, tentamos escrever as canções tendo em mente a apresentação ao vivo. Perguntando-nos como elas se traduziriam em um cenário ao vivo. Acho que agora estamos apenas tentando nos concentrar em construir nossa marca e ser consistentes on-line com novas músicas e conteúdo para apoiá-la. Estamos continuamente tentando focar em nos colocar em cena e descobrir como podemos nos diferenciar de todos neste estilo de música. É uma coisa difícil de se fazer e ainda estamos aprendendo

Em fev/2021, Eternal Void liberou outro single. Este movimento de lançamento de álbuns em fragmentos já é uma realidade musical. Com esta brevidade dos dias de hoje, será que o lançamento de um disco completo ainda é válido? Waylon - Os artistas que lançam álbuns em tamanho real ainda são absolutamente válidos. Sentimos que, depois de tanto tempo adormecido, era melhor escrever uma coleção de músicas e colocá-las como um álbum e há um tema consistente ao longo destas músicas também, de modo que fazia sentido. Agora, sendo uma banda menor que somos, teria sido melhor se concentrar apenas em escrever singles em vez de um álbum? Talvez, mas as coisas são diferentes agora do que eram quando começamos a escrever o álbum e sentimos que era melhor manter o rumo e manter nossa promessa aos fãs existentes de lançar um novo álbum de duração completa. Depois que este álbum for lançado, provavel-


INTERVIEW. ETERNAL VOID

mente estaremos nos concentrando em escrever as melhores canções individuais que pudermos de cada vez e provavelmente demorará um pouco antes de outro álbum completo de nossa autoria. E não haverá, até que faça sentido para nós fazer uma novamente. Também queremos experimentar dessa forma mais estilosa com singles e ver se os fãs se sentem atraídos por esse formato. Há prós e contras para ambos, mas realmente depende apenas da demanda e do tamanho do artista. Para finalizar, o que podemos esperar do Eternal Void em 2021? Sucesso, se cuidem e esperamos vê-los nos Brasil. Muito obrigado! Logan - Temos um monte de ideias legais no ar para esse ano e um monte de ideias em torno do álbum e mais além. Tudo que posso dizer é siga nossas páginas e mantenham-se atualizados. Obrigado por nos receber e obrigado aos nossos fãs, novos e antigos!

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INTERVIEW. THE HEALING

POR PEI FON / FOTO PROMOTION

T

em sido até repetitivo dizer o quanto a Rock Meeting está procurando por novas bandas desde que mudou a sua linha editorial. Mas é com base nessas descobertas encantadoras que estamos felizes em trazer ao conhecimento de nossos leitores, bandas que estão aí para serem ouvidas. Desta vez trouxemos uma banda com um pé no Canadá e outro na Inglaterra. The Healing entrou no nosso radar e foi um feliz ‘achado’ e que agora compartilhamos com todos. A banda é formada por Joe Garant (Guitarra), Jason Dykeman (Baixo), Kris Garant (Vocals) e Ned Skiffington (Bateria). Tivemos a oportunidade de conversar com eles sobre muitos assuntos e, principalmente, saber sobre o seu futuro lançamento. Acompanhe! A cena do Canadá tem nos presenteado com boas bandas. Recentemente a Rock Meeting falou com Spiritbox e The Northern e atesta isso. Qual é a percepção de vocês diante desse destaque que a música está tendo? Em primeiro lugar, obrigado por nos contactar para esta entrevista! Achamos que é ótimo ter o metal canadense recebendo mais destaque como é bem-merecido. Mais bandas excelentes continuam surgindo a partir daqui e é incrível de ver.

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The Healing têm dois EPs (“Transcendence” e “Elevate”) e um full álbum (“Hollow Earth”) e, mais recentemente, lançaram dois singles. Como vocês avaliam o percurso que a banda está fazendo desde 2014? A banda desacelerou devido à pandemia, membros da banda se mudando etc., mas

ainda estamos escrevendo músicas e lançando quando estamos felizes com o resultado. Planejamos lançar outro EP ainda este ano. Fazendo uma caminhada pelo o que vocês já lançaram, é perceptível o quanto amadureceram e exploraram ainda mais a música, trazendo di-

namismo para o som da banda. O que gerou essa modernização sonora sentida no début álbum? Continuamos a crescer com o tempo, com nossa perspectiva e crenças moldando-se às novas informações que encontramos, inevitavelmente mudando a direção de nossa música e som. À medida que aprendemos mais sobre o que


INTERVIEW. THE HEALING

funciona e o que não funciona, continuamos a trabalhar para obter um som geral melhor a cada lançamento e esperamos conquistar alguns novos fãs ao longo do caminho! Numa postagem antiga no perfil da banda sobre o lançamento do single “Diary of Jane”, vocês falaram que o novo álbum viria em 2020, no entanto, a pandemia chegou e impôs uma parada brusca. Qual o motivo de não terem lançado um novo play? A pandemia realmente atrapalhou os planos que tínhamos e não fomos capazes de cumprir nossas palavras em um novo recorde. Decidimos uma nova direção com mixagens e músicas, então acabamos começando do zero. Nosso último lançamento, 'Watch The World Burn', é uma boa indicação da nova direção que estamos tomando musicalmente e esperamos trazer mais músicas em breve.

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Em falar no sucessor de “Hollow Earth”, duas músicas foram apresentadas até agora, além da já citada “Diary of Jane”, agora tem “Watch the World Burn”. Vocês já têm o álbum pronto, pretendem lançar em 2021? Ou vão continuar com a dinâmica de singles? O álbum não está pronto, mas continuamos adicionando mais músicas à lista. O próximo lançamento que esperamos fazer é outro EP este ano. “There's a fine line between love and hate”, nessa perspectiva apontada na música “Diary to Jane”, qual o elemento que une as pessoas a conviver nesse limiar? “Diary of Jane” é na verdade uma música cover de Breaking Benjamin. Uma velha canção que gostávamos quando estávamos no colégio. Não escrevemos as letras,


CONTINUAMOS A TRABALHAR PARA OBTER UM SOM GERAL MELHOR A CADA LANÇAMENTO


INTERVIEW. THE HEALING

então não podemos comentá-las, mas éramos grandes fãs da música e da banda ao mesmo tempo. Com música nova disponível para audição, como está sendo a repercussão do “Watch the World Burn”? Recebemos feedback muito bom de nosso último lançamento e as pessoas parecem estar gostando da nova direção até agora. Muitas pessoas comentaram que isso os lembra do nosso primeiro EP 'Transcendence'. Na música “Degenerate”, do álbum “Hollow Earth”, uma parte me chamou atenção: “When was the last time I've faced the world as myself?”. Existe um conflito interno que alguém estava passando, quem é seria esse personagem? A música é sobre um personagem que passa por uma luta interior que o leva a recorrer a outros vícios para amenizar a dor, sejam elas drogas, álcool, comida etc. e cair ainda mais fundo nessa turbulência. Foi uma reflexão sobre algumas pessoas em nossas vidas pessoais que estavam passando por esse problema. Quando você está sendo degenerado, encontra um fantasma de si na procura de uma absolvição. Ainda

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que a terra seja oca, busca-se a divindade na possibilidade de voltar à fonte. A leitura de “Hollow Earth” seria essa? Sua interpretação está muito próxima do que pretendíamos. Nós tentamos fazer nossos álbuns / EPs como uma história que passa por cada música, com tudo amarrado, mas no final das contas cabe ao ouvinte determinar o que ele acredita ser a mensagem. Gostamos de onde está a sua cabeça! “Open your heart, be free of mind, as we live and let go”. Toda a letra de “Hollow Earth” é muito interessante, destaco essa parte como um conselho. Foi escrita para alguém? Fale um pouco sobre... Os pensamentos podem ser algo que o



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levanta ou o mantém para baixo, dependendo do que seja. Às vezes, você precisa apenas viver sua vida e deixar de lado os traumas ou experiências negativas do passado. Liberte-se da mente é outra maneira de dizer para não se demorar em seus pensamentos, especialmente se for negativo. Você não é seus pensamentos. Você já se perguntou “por que diabos estou pensando sobre isso?”. “Overhead, no one to face my woes but I”, essa parte final na música “Phantom Self” é muito forte. De que modo o indivíduo pode lidar com as suas triste-

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zas, como sair dessa situação? Não é fácil lidar com a tristeza ou a depressão. 'Phantom Self' trata de questionar a si mesmo e chegar a um acordo com a realidade. Às vezes, você só precisa endireitar a coluna e enfrentar o mundo ou o problema de frente, porque ninguém vai fazer isso por você. Um dos melhores termômetros que uma banda pode ter é o número de ouvintes. No EP “Elevate”, uma das músicas foi ouvida por pouco mais de 750 mil vezes no Spotify. A música do The Healing está cumprindo o seu propósito?


No final do dia, fazemos essa música para nós mesmos. Não aderimos a nenhuma regra ou somos influenciados por quaisquer outras decisões além das nossas. Se recebemos milhares de streams em uma música, isso é absolutamente fantástico. Se não, tudo bem também. Ficamos felizes se pudermos alcançar até mesmo um punhado de pessoas que apreciam nossa música. O propósito do The Healing sempre foi apenas fazer boa música para nos divertirmos e conseguimos isso. Atualmente a pandemia atrasou muitos planos. Com essa parada repentina das atividades, como vocês enxergam o amanhã nas produções de

shows? Vocês acreditam que o

comportamento

blico,

músicos,

do

pú-

produtores

vai mudar? Esperamos que tudo desapareça e possamos viver como seres humanos

normais

novamente

sem tanto medo. Para finalizar, quais os planos do The Healing para 2021? Sucesso, se cuidem e esperamos vê-los no Brasil. Muito obrigada! Nossos planos atuais para 2021 são lançar um novo EP com novas músicas que as pessoas irão curtir e talvez até algumas músicas antigas remasterizadas. Quem sabe o que futuro vai trazer!



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