Rock Meeting Nº 80

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EDITORIAL

Cadê você? Cadê você que diz que apoia o Metal Nacional? Cadê você que não vai aos shows esperando ter uma banda internacional? Cadê a valorização que tanto se busca e na hora do ‘vamo ver’ não aparece um? A edição do Festival Abril Pro Rock trouxe de novo à tona um assunto tão destrinchado e cansativo que é a valorização do Metal Nacional. Todo mundo já sabe que o Brasil tem uma penca de bandas incríveis e que não fazem feio diante das bandas internacionais. Mas para sair de casa e ver essas bandas nacionais é um bicho de sete cabeças. Apoiar em tempos da internet é ficar em casa, em frente ao computador, baixando os CDs, mandando mensagem para as bandas dizendo quão boas são, mas cadê esse povo nos shows? Com-

prando o material das bandas, ajudando-as a continuar com o trabalho? No caso do APR, a estrutura estava lá, cadê o público? Os que saíram de suas casas puderam conferir bandas muito boas, de várias vertentes, sem deixar a peteca cair. Mas onde estava o público? Difícil responder para as viúvas de bandas gringas. Lamentamos muito. Sempre reforçamos que a cena nordestina é umas das melhores, mas, desta vez, deu vexame. Entendemos, também, a questão financeira de muitos. Mas se parar e pensar, o valor do ingresso cobrado no festival se gasta facilmente com bebidas. Embriagar-se de teor alcoólico é mais importante do que embriagar-se com aquele riff, aquela música inebriante.


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Lapada - As viĂşvas de bandas gringas 16 - Live - Exodus e Lost Society 18 - Entrevista - Jack Gibson (Exodus) 22 - Entrevista - Ancestral Malediction 28 - Entrevista - Fallen Idol 36 - Capa - Abril Pro Rock 2016 46 - Entrevista - Egregor 56 - Entrevista - Khrophus 70 - Entrevista - Deathraiser 82 - Live - Death DTA 86 - Entrevista - Steve Di Giorgio 94 - Entrevista - Degrador 98 - Perfil RM - Marcus Dotta (Warrel Dane)


Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn

Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Leandro Fernandes Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net



Diário de bordo A banda Noturnall divulgou em suas redes sociais o primeiro diário de gravação do novo álbum de estúdio, o sucessor de “Back To Fuck You Up!” (2015). Ainda sem título definido, o novo trabalho conta com o guitarrista Mike Orlando (Adrenaline Mob & Stonic Stomp), Thiago Bianchi (vocal), Fernando Quesada (baixo), Junior Carelli (teclado), além do baterista Aquiles Priester (Hangar, ex-Angra). Mike Orlando já havia tocado anteriormente com o Noturnall no cruzeiro Axes & Anchors e no Rock in Rio. “3º capítulo dessa jornada de vida, chamada Noturnall. Muito curioso pra saber o que o Cosmos nos reserva pra essa nova esfera da vida da Noturnall. Só posso afirmar com certeza, é que esse é um dos álbuns mais esperados de minha vida!”, disse o vocalista Thiago Bianchi. Assista AQUI. Foto: Marcos Canoas

Foto: Georgia Amorim

‘Oxygen’

“I believe”

A banda Andragonia apresenta a capa de seu novo trabalho, “Oxygen”. Com foto de Marcos Canoas, a arte ficou a cargo de Hud Souza. “Ela traz a geometria sagrada, Mer-ka-bah, que está mais à frente e são provenientes do antigo Egito. É um veículo que pode ajudar corpo, mente e alma a acessarem outras dimensões e planos de realidade”, diz o guitarrista Thiago Larenttes. Veja a capa.

Após lançar o seu primeiro registro autoral com o single e videoclipe “Hardstuff”, a banda paulistana Hardstuff agora apresenta o ‘lyric video’ da faixa “I Believe”, produzido por Tiago Medeiros. A música teve direção de produção a cargo do experiente Paulo Anhaia, ganhador do Grammy Latino por quatro vezes e que também ficou responsável pela mixagem e masterização. Assista o vídeo AQUI.

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música inédita

gravações

O vocalista Leandro Caçoilo começa o mês de Maio repleto de novidades. Logo na primeira semana, o cantor lançou junto com a banda Sancti a faixa inédita “Liberdade”, música que estará presente no novo álbum do grupo. Cantada totalmente em português, a composição mostra novas facetas do vocalista, que é considerado um dos melhores do Brasil. Escute “Liberdade” AQUI.

O guitarrista e vocalista da banda Necrohunter, Mauro Medeiros, está atualmente em estúdio registrando os vocais do seu novo trabalho de inéditas. Trata-se de um EP intitulado “Damnation”, que será lançado na Europa exclusivamente em vinil, e no Brasil será disponibilizado na sua versão CD, através da Eternal Hatred Records. Para conhecer mais sobre a banda, acesse AQUI.

“Let There Be Thrash” Os thrashers cariocas do Forkill acabam de lançar seu novo vídeo clipe, para a música “Let There Be Thrash”, que fará parte do novo disco, “Old Skulls”, ainda em fase de gravações. Com direção de Natane Vidal e produção da Tug Entertainment, o vídeo foca na presença de palco da banda, fugindo um pouco do trabalho realizado no primeiro clipe, da música “Breathing Hate”, de 2013, onde intercalam imagens da banda com cenas dos protestos ocorridos naquele ano. A música em si reflete a evolução do grupo em relação ao debut, trazendo um som mais agressivo. “A sonoridade está sensacional”, comenta o guitarrista Ronnie Giehl, que dá pistas sobre o que podemos esperar em termos de influências e método de trabalho. Assista ao clipe de “Let There Be Thrash” AQUI. 08


Novo álbum A banda Hangar tem orgulho em confirmar que as gravações, mixagens e também a masterização do novo álbum de estúdio do grupo já estão terminadas. A mixagem foi realizada no Mofo Studios, na Finlândia, com o produtor Jesse Vainio, ao lado do baterista Aquiles Priester (Hangar, Noturnall), que viajou até o país nórdico para acompanhar o trabalho. Atualmente o Hangar é formado por Aquiles Priester (bateria), Nando Mello (baixo), Pedro Campos (vocal), Cristiano Wortmann (guitarra), Eduardo Martinez (guitarra) e Fabio Laguna (teclados). O novo álbum, ainda sem data e título definidos, será lançado na Europa e Brasil quase que simultaneamente. Mais informações serão divulgadas em breve. O último trabalho do Hangar foi a coletânea “The Best of 15 Years, Based on a True Story…”, que reúne faixas incluídas originalmente nos quatro álbuns de estúdio da carreira, além de duas inéditas.

recado aos fãs

Formação original

A produtora THC acaba de divulgar o vídeo do vocalista da banda Primal Fear, Ralf Scheepers, convocando o público carioca para o evento que irá ser realizado no Circo Voador dia 01 de setembro. O evento irá contar com a banda Monstractor na abertura, na sequência Luca Turilli’s Rhapsody e fechando a noite Primal Fear. A THC produções é a primeira empresa no Brasil a confirmar as datas com essas grandes bandas. Confira a mensagem de Ralf Scheepers AQUI.

A banda brasileira Lacerated And Carbonized, um dos principais nomes do death metal nacional, continua a desbravar e conquistar novos territórios durante a sua mais nova longa tour pela Europa. Jonathan Cruz (vocal), Caio Mendonça (guitarra), Paulo Doc (baixo) e Victor Mendonça (bateria) recentemente fizeram história ao ser o primeiro grupo internacional a se apresentar nas cidades de Surgut e Nizhnevartovsk, região da Sibéria, na Rússia.

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ou por quem os sinos tocam Desde o início do ano de 2015, após a posse do segundo mandato da líder do poder executivo de nosso país, sejamos francos: estamos em grave crise, em que a economia, a política e a ética mostram o quanto caímos. Mas no que isso reflete dentro do cenário Heavy Metal e Rock’n’Roll no Brasil? Irei me ater apenas a um ponto: à diminuição de shows de bandas internacionais no Brasil, o que causa frisson e choro em muitas viúvas do Metal por aí. Sim, aquele mesmo sujeito que usa camiseta de banda e que você o encontra nos points. Mas nos shows nacionais, onde está este referido sacana? Sim, os shows nacionais estão aí, e sem ufanismos ou exaltações vazias: as bandas estão tocando como nunca em nosso país, bandas daqui. E quase sempre, em espaços vazios ou com poucas pessoas. O que está acontecendo, afinal de contas? A verdade não é única, mas pretendo

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abordar algumas causas mais evidentes. Apesar de muitos se esconderem atrás do “pra-mim-não-existe-banda-gringa-ou-daqui-é-tudo-Metal”, a verdade é explícita: o carinha vai pagar os tubos para ver o Black Sabbath (vai ver, muitos pagarão), mas não pagam 10 ou 20 reais num show nacional. Não pagam e vão chorar rebolando no colo do Capiroto! Isso é puro viralatismo, pois bandas como Woslom (que está indo em mais uma


tour europeia), Panzer, Rebaelliun, Voodoopriest, Unearthly (que já andou muito pelo leste europeu), Lacerated and Carbonized (que está na Europa pela segunda vez enquanto eu escrevo estas linhas), Nervosa, Disgrace and Terror, KroW, Noturnall, Hibria, entre tantos outros, já mostraram suas garras em discos que batem uma boa parte das bandas gringas idolatradas nos circuitos underground de nosso país. Para ilustrar minhas palavras, volto ao

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Nervosa e ao Lacerated and Carbonized. Este que vos escreve teve chance de cobrir o show do Toxic Holocaust no Rio, que teve as bandas citadas no início e ainda o ótimo Land of Tears. Digo e repito o que disse na resenha: O Toxic Holocaust foi bem e fez um bom show. Mas segurar a energia das meninas do Nervosa ou a brutalidade insana do Lacerated and Carbonized é trabalho duro. Resultado: uma torrente de queixas e reclamações pelo Facebook de vários fãs e al-


guns artistas. Aliás, esta polêmica rende frutos até o dia de hoje, embora eu acabe dando risadas disso tudo. Se você se sentiu incomodado com minhas palavras acima, por eu ter dito que duas bandas nacionais foram melhor que uma gringa, você deve ser uma viúva do Metal. Não destratei em momento algum o trio americano (mesmo porque eu gosto do som deles), apenas disse que duas das três bandas nacionais foram melhores. E isso sem falar nos insultos que as bandas tiveram que lidar por isso. Mais exemplos: o Metal Land, realizado no ano passado. Nem os nomes de André Matos, Sepultura, Krisiun, mais Ripper Owens (única atração internacional do even-

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to) o salvou de um público pequeno. Óbvio que houve pontos negativos que lemos em resenhas, mas mesmo assim, por que o público não comparece como deve? Outro: o Abril Pro Rock, realizado no final de abril. Foi um dos primeiros shows do Rebaelliun em sua volta, lançando “The Hell’s Decree”. Tudo bem que o festival não é só de Metal, mas vejam o cast desse ano: Oitão, NervoChaos, Viper, Korzus, Questions. Onde estavam os bangers do Nordeste, tão conhecidos por sua fidelidade e número? Preocupados com os anos 80, como eu ouço falar? Filhos, mofo causa alergia! Há eventos que, devido aos anos, estão consolidados e não dão prejuízos, como o Roça’n’Roll. E creio que isso se deve ao festival


ter vencido a desconfiança inicial e estar aí, firme e forte, e há alguns anos, com bandas internacionais. Não é o foco, óbvio, mas elas estão lá. Talvez o Roça’n’Roll seja um destruidor de críticas idiotas. “Ah, mas o show é longe”, muitos dizem. E o Roça’n’Roll dá gente de tudo que é canto do país, mesmo sendo em Varginha. E não tem nave espacial levando este povo todo para lá. “Ah, é caro”, mas o que as pessoas gastam de bebida e outras futilidades não está no gibi. E não vejo as pessoas reclamando do cast, que no fundo, é bem próximo ao que o Metal Land apresentou.

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Pode ser que eu esteja errado, mas parece que o brasileiro não compra a briga, não faz fé, até ver o festival/banda fazendo sucesso. Hoje, Sepultura, Angra e Krisiun formam os nomes mais expressivos do nosso cenário, mas é coincidente o fato que eles precisaram explodir fora primeiro para depois terem maior aceitação do público daqui. E nessa mesma toada está o Hibria (que só se tornou famoso aqui após explodir no Japão) e o Almah (e espero que este grupo cresça mais e mais). Ah, sim: menciono acima que tem gente que paga com o bufante para ver o Black Sabbath. Não, não critico seu gosto ou sua forma de pensar. O mesmo ocorre com o Iron Maiden, Ozzy ou AC/DC (garanto que mui-


tos reclamões de internet por Axl estar no grupo pagarão o ingresso). O que eu surto é ver você dar uma fortuna por eles, mas nada pelas bandas que estão contigo, ao seu lado, e realmente necessitando do seu apoio para sobreviverem. Prefere chorar quando a banda gringa de fulano de tal não toca na sua cidade. Agora, pastel de bufante guloso: sabia que shows nacionais são termômetros? Que muitos produtores de eventos averiguam as lotações destes como parâmetro de possibilidade de shows internacionais? Pense: qual produtor vai pôr grana em um show com possibilidades de dar prejuízo? E não cobrem deles atitude, pois tem gente aí que quase tira do prato de comer dele e da família por isso, enquanto você entope a cara

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de cana. Pare de chorar com o copo na mão, de culpar os outros pela sinceridade nas palavras que acabam te machucando (quando às vezes nem é a intenção). Faça a sua parte, chegue junto, compre a briga do Metal nacional, compre discos de nossas bandas, vá aos shows, leia revistas, sites e zines impressos, vista essa camisa, pois a cena é sua também. Vá aos shows internacionais, mas vá aos daqui também. Se entendeu minhas palavras, ótimo, mãos à obra. Se não entendeu, leia de novo e entenda a mensagem. Agora, se leu e não quer entender: vai chorar suas mágoas com os sons de sucesso do Brasil, pois não o/a vejo como headbanger. E se ficar de mimimi, F***-se!



Exodus e Lost Society Nosturi Club Helsinki, Finlândia (19/03/2016) Por Virginia Pezzolo Fotos: Entropia Photography

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Exodus, grupo de Thrash Metal veterano, esteve na Finlândia dia 19 de março no Nosturi Club em Helsinki. Ainda fresca na memória, está a aparição da banda ano passado no festival Tuska também na mesma cidade. Há um ano, eles tocaram um set diminuto, porém destruidor, deixando os fãs com vontade de ver a banda novamente. Mesmo já com uma consolidada base de fãs, o Nosturi ainda estava meio vazio quando o Lost Society começou. No entanto, essa nova geração não perdeu tempo despejando bastante energia. O setlist foi construído em torno do álbum “Brain Dead”. Evoluindo de “I Am The 16

Antidote”, lenta e melódica, até “Riot”, mais rápida e violenta. “Dead Brain” é um bom exemplo da versatilidade e do desejo de Lost Society de avançar. Novas músicas estão bem adaptadas no setlist combinada com os sons mais antigos. O público parecia entretido e reagia com entusiasmo sob os comandos do vocalista Samy Elbanna. O curto show de warm up serviu para azeitar a engrenagem. A intro, do já nem tão novo álbum “Blood In Blood Out”, sinalizava que muita truculência old-school Thrash Metal viria adiante. Ia ter wall of death, sim! Depois das duas primeiras músicas do últi-


Lost Society

Lost Society

mo disco, emendaram uma das antigas, “And Then There Were None”. A surpresa veio com “Deranged” do disco “Pleasures of the Flesh” de 1987. A banda tocou de forma brilhante durante todo o show, mesmo estando sem o guitarrista Gary Holt. A ausência de Holt não foi tão dolorosa quanto imaginávamos. Exodus tem estrada para contornar os percalços da vida e sempre jogar um jogo brutal, rápido e hábil. Um número significativo de material clássico foi executado. “Bonded by Blood”, “Metal Command” e “Piranha”. Steve “Zetro” Souza fez um pequeno discurso lamentan17

do a morte do Lemmy Kilmister, falecido em dezembro do ano passado. Da era “Tempo of the Damned” veio “War Is My Sheppard” e “Blacklist”. Em “The Toxic Waltz” o lugar veio abaixo, como era de se esperar. “Friendly violent fun” funciona como sempre! Terminaram com “Strike of The Beast” um set de 16 músicas, deixando os presentes finalmente saciados. Exodus é sempre muito enérgico, mesmo colocado ao lado de bandas mais jovens. O show foi como a carreira da banda estivesse apenas começando.


Entrevista por Virginia Pezzolo - 20 de março em Helsinki, Finlândia Fotos: Entropia Photography

O que vai acontecer com o Exodus agora? Jack Gibson: Basicamente nós vamos fazer a turnê até o final do ano. No começo do próximo ano, nós vamos entrar no estúdio. Ainda não sei a data certa, mas é no começo do próximo ano. Vocês já têm alguma ideia do que gravar? Não. Tudo vem do Gary (Holt) e do Lee (Altus). Esse tipo de música começa com os riffs de guitarra. Eles, como criadores de música, têm sempre ideias. Não é que a gente que tra18

balha em músicas quando estamos em turnê ou algo do tipo. Quando é hora de sentar e fazer o disco, a gente entra no ambiente. Normalmente, é o Gary e o Tom (Hunting) juntos, eu estou lá com o baixo tentando acompanhar, eles começam com as guitarras e bateria. É assim que as músicas são escritas, é assim que as ideias surgem. Como está a agenda do Gary Holt? Ele está super ocupado. A gente sabia disso quando o disco do Slayer saiu, que ele sumiria da área por um tempo (risos). Por isso que a gente pegou o Kragen (Lum). Não de uma


Foto: Miikka Skaffari/Getty Images

mais, merece tudo isso. Conta um pouco sobre a turnê no Brasil. Foi fantástico. América do Sul e América Central é como o velho oeste. Foi cansativo, claro, toda manhã pegar avião. Só que as plateias são sempre as melhores de todas. Também acontece de chegar nos lugares, não ter isso, não ter aquilo, mas você faz o show, as pessoas aparecem. Foi o que aconteceu em Fortaleza? Quando aparecemos, havia um segundo pagamento a ser feito. E o show não estava bem organizado. Só tinha três seguranças para o lugar inteiro. Um cara na porta dos fundos, deixando os amigos entrarem toda hora. Nosso equipamento todo jogado lá. Você sabe, tem gente que rouba, eu entendo, é por isso que fica tudo fora de controle. Têm pessoas que não tem dinheiro. É o nosso negócio e temos que manter o foco. Tudo é muito divertido, mas se nosso equipamento é roubado, ou nosso dinheiro é roubado, aí não é divertido.

maneira permanente, mas por um tempo. É difícil fazer uma parte da turnê com o Gary e depois vem o Kragen, depois volta o Gary. Aí a gente disse: “tudo bem, pelos próximos tempos, a gente vai ficar com o Kragen”. O Gary poderá talvez se juntar no final do ano, depende da agenda dele. Ele também tem uma vida, quando ele chega em casa da turnê do Slayer, ele não vai querer sair de novo. Ele tem filhos e uma esposa. Ele também tem que cuidar da vida dele e a gente respeita isso. Mas está tudo bem, a gente ama o Slayer, eles estão super ocupados. A gente tem orgulho do Gary. Não tem nenhum sentimento esquisito, ele é de19

E também com apenas três seguranças, pode ficar perigoso e violento. Sim. Os nossos caras, os roadies, falaram que não estava bom, que não estava funcionando. E a gente acredita neles. Eles estiveram no mundo inteiro com a gente, fazem tudo para nós. E a ideia que as pessoas ficaram por lá, achando que a gente não iria dar as caras. Nós viajamos vários quilômetros para chegar em Fortaleza. Eu ficaria em casa se não quisesse tocar um show. A gente estava lá, mas as coisas não estão boas. Chove no equipamento, não tem nada para cobrir. E o organizador não tinha o dinheiro, foi a gota d’água. É sempre a mesma história, ele disse que depois do show


ele pagava a gente. Se ele não tinha o dinheiro antes, o cara não estava fazendo as coisas certas. Os honestos compram o show, a gente aparece e eles pagam, é assim que funciona no mundo. Você não recebe seu big mac antes de pagar. Não acontece assim. Eu não sei porque as pessoas esperam isso da gente. Para vir falar “ah, vocês deveriam tocar para os fãs” e eu meio que entendo isso. Porém, agindo desta maneira, a gente parabeniza o cara mau que causou isso tudo. Ele vence. A gente não faz esta banda só por diversão, temos por volta dos 50 anos e não é só festa. É um negócio e nos custa dinheiro para chegar nos lugares. A gente não faz muito dinheiro. Temos que pagar a equipe também. Não dá para ficar fazendo caridade. Eu amo Fortaleza, amo a cidade. Nós já tocamos lá e foi ótimo. A gente vai voltar, a gente só não quer negociar mais com aquele cara. Estávamos no show, pedimos o dinheiro. Ele falou que não tinha e nos encontraria depois no hotel. Fomos então para lá, ele apareceu, quisemos contar o dinheiro. Ele mostrou um envelope pra gente, falou “tenho seu dinheiro”, mas não nos deixou contar. Isso é muito suspeito. Os sinais de alerta estavam em todos os lugares. Foi um desastre, a gente quase saiu aos socos no lobby do hotel. Foi muito chato. A gente teve que entrar no táxi e ir para o aeroporto para o próximo destino. Foi apenas aquele cara e aquele incidente. Eu não sei porque ele agiu assim. A gente sente muito pelos fãs de Fortaleza, espero que eles possam entender. Já aconteceu com o Lemmy. Aconteceu com o Slayer no Chile, o Tom (Araya) ficou possesso. Ele entrou em avião e foi para casa. Nós não somos os únicos. Também aconteceu com o D.R.I., que cancelou a turnê da América do Sul, o dinheiro deles não apareceu. “Ah, vocês são uns vacilões”. Se o dinheiro não existe, não podemos ir. Quem compra as 20

passagens, quem paga as despesas? A saída do Rob Dukes não foi nada amigável. Minha pergunta é, vocês tinham alguma outra pessoa em mente além do Steve Souza para o Exodus? Quando a gente decidiu que não gostou do que o Rob fez cantando no disco, conversamos com ele. Aí as coisas foram de mal a pior. Nós dissemos que queríamos uma outra coisa. Ele disse que tinha feito um bom trabalho e era isso, ponto final. A culpa era parte da perfor-


mance dele, também parte da atitude. Neste meio de trabalho, sim, nós criticamos uns aos outros, é assim que fazemos boa música. Se eu faço algo que o Gary não gosta, ele fala direto na minha cara e eu conserto. É assim que funciona, entende? A cabeça do Rob estava em tudo que era lugar, menos na banda. Ele estava pensando nos carros dele, em casar. Mas eu entendo isso. Só que ele não estava disposto a colocar o empenho dele no disco. Então, a gente teve uma longa conversa. Não foi uma briga, mas um argumento. Eu tinha a opinião 21

que não dava para chamar mais ninguém pra banda além do Zetro. Pegar um outro vocalista seria retroceder muito e acabar com o clima que a gente tinha. Nós conversamos sobre pegar um outro cara mas, no final, a gente conseguiu chamar o Zetro para cantar umas músicas. Quando a gente ouviu, ficou óbvio que só poderia ser ele. A gente pensou sim em chamar outras pessoas, mas não queria outro vocalista entrando e para começar tudo de novo, ter que estabelecer mais uma vez a identidade da banda.


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Por Raphael Arízio Fotos: Banda/Divulgação

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ão quase duas décadas de devoção ao Death Metal. O Ancestral Malediction é mais uma banda a fazer jus à fama do metal extremo brasileiro. Vamos ver o que eles têm a dizer sobre a história da banda e sobre seu futuro lançamento. O último lançamento da banda foi a demo “Deteriorating” em 2011, como foi a repercussão dessa demo? A repercussão foi boa, mas foi limitada, pois queríamos gravar um registro com a volta das atividades da banda, o novo line up com a entrada de Fernanda no baixo. Resolvemos gravar essa demo, em 2011, para analisarmos a sonoridade das novas músicas da Ancestral Malediction. A banda tem planos para o lançamento de um full? Quais os problemas enfrentados para essa demora entre seus lançamentos? Sim, já está gravado o terceiro CD. Começamos em janeiro de 2015 e estendeu - se até outubro do ano passado, devido às viagens de nosso produtor (Trek) que estava trabalhando na época com o Nervochaos na turnê sulamericana e também alguns problemas técnicos em estúdio na parte da mixagem e masterização, onde tivemos que mixar e masterizar em outro local. O Ancestral lançou um clip para a faixa “Gravity Megatons”. Como foi a ideia de fazer esse clip e como foi sua repercus24

são no meio underground? A ideia partiu de um amigo nosso Niko Teixeira, que tem um estúdio, onde foi gravado a demo “Deteriorating”. Junto à Fernanda, ele estava fazendo um curso de edição de vídeos e propôs em fazer um clipe com a banda e ficamos muito contentes com o resultado o que ajudou muito na repercussão no youtube, essa música foi regravada em nosso terceiro cd. O Ancestral Malediction já possui mais de 20 anos de sua existência. Quais são as melhores lembranças desses anos e quais as principais conquistas nessas duas décadas? As melhores lembranças foram vários shows


como na turnê sul e norte do Brasil em 2002. E nossa principal conquista foi conhecer vários lugares, cidades e estados através da banda e também ter tocado ao lado de grandes bandas que somos fãs: Morbid Angel, Deicide, Monstrosity, Incantation, Krisiun, Disaster, Headhunter, Vulcano, e várias outras bandas do nosso cenário underground que são muitas. Um acontecimento um tanto bizarro e incomum na história da banda foi um show ocorrido em Resende-RJ onde o local pegou fogo. O que a banda pode contar sobre essa experiência? E quais outros fatos bizarros que também já ocorreram nesses anos? 25

Esse dia em Resende (RJ) foi impressionante. Eu estava indo para o lugar onde os instrumentos estavam quando vi as chamas quase no case do baixo do Fernando (Funeratus). Cheguei a tempo de tirar nossos instrumentos e guardar nossas coisas na van, pra tomarmos umas cervejas mais sossegados. Foi quando uma tiazinha gritou da cozinha que o fogo estava próximo ao botijão de gás, aí o pânico foi geral. A galera saiu do local rapidinho e logo chegou os bombeiros e controlaram o fogo. Existiram outros fatos, mas preferimos deixar quieto, foram coisas de ‘chapação’ normal. Hoje em dia o trabalho de uma boa assessoria de imprensa se mostra essen-


cial para uma banda se destacar no cenário. Como a banda avalia a importância de uma assessoria? Essa parceria vem sendo muito importante para a Ancestral Malediction, pois vem fazendo um ótimo trabalho com as bandas na divulgação e gerando contatos de eventos e tudo mais. A Ancestral Malediction vem passando por certa dificuldade atualmente, por isso estamos conscientes que não depende apenas da assessoria e sim da própria banda também, é uma união que fortalece e esperamos nos estabelecer para fortificar essa força. Passados 10 anos do lançamento de “Huge Darkness”, como a banda enxerga esse disco hoje em dia, ficaram satisfeitos com sua repercussão? Esse disco teve uma boa repercussão em 2005, apesar de alguns problemas gerados pela inversão das ordens entre duas músicas que nos deixou muito chateados, mas isso foi há 10 anos. Foram feitas mil cópias e acabou. Às vezes, em alguns shows, nos perguntam se ainda temos esse segundo CD, infelizmente acabou! Fizemos algumas cópias em CDR, mas começou dar alguns problemas nas mídias, então deixamos quieto e vamos ver se algum selo junto à banda possa fazer um relançamento tanto do “Huge Blackness” quanto do “Demoniac Holocaust”, pelo menos algumas cópias. A banda pegou aquele boom que a cena brasileira teve há alguns anos devido ao sucesso que o Krisiun teve, principalmente no exterior. Muitas bandas surgiram e acabaram em pouco tempo. Como vocês enxergam aquele momento hoje em dia? A cena brasileira naquela época estava em grande evidencia no cenário mundial, com 26

certeza devido ao grande sucesso do Krisiun com o extremo Death Metal que eles criaram e continuam sendo expoente do nosso cenário. Quanto ao surgimento de várias bandas e que acabaram, depende muito do som característico, entrosamento dos integrantes tanto na amizade interna como na parte musical, uma questão de irmandade e força. No caso do Ancestral Malediction foi um fator pessoal que aconteceu em minha vida qu,e naquela época, não tive cabeça para resolver coisa que hoje em dia saberia resolver com certeza! Infelizmente foi um atraso para a banda, mas podemos ter uma oportunidade com esse reinicio.


A banda tem se mostrado cada vez mais técnica, mas sem perder a brutalidade. Como fazem para dosar esses dois elementos sem perder as características da banda, isso foi algo intencional ou foi uma evolução da técnica dos instrumentistas da banda? Acho que nossas composições são simples e brutais, mas não acho que hoje em dia estejam mais técnicas, e sim mais evoluídas na parte das composições e letras. Nossa intenção é sempre diferenciar umas músicas das outras, sendo que eu faço minhas músicas na guitarra e o Emerson faz as músicas dele também na 27

guitarra isso talvez ajude, pois temos momento de composição distinto. Nesse terceiro cd fez a soma com o baixo, a Fernanda ajudou a compor música e trabalhou o baixo diferenciando nas composições nessa linha do instrumental. Espaço para palavras finais e agradecimentos. Agradeço a todos os leitores headbangers, a Black Legion Prod pelo apoio e confiança nessa parceria de 10 anos e aguardem o lançamento do nosso terceiro cd: “The Death Around Us”. Valeu!


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Por Raphael Arízio Fotos: Banda/Divulgação

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Fallen Idol vem se destacando com seu Doom Metal fortemente influenciado pelos deuses do Black Sabbath. A banda lançou seu primeiro trabalho em 2015 e vêm colhendo grande frutos. Vamos saber o que a banda nos tem a dizer sobre esse disco,seus planos futuros e sobre seu próximo disco. A banda lançou um disco em janeiro de 2015. Como tem sido a repercussão desse lançamento? A banda ficou satisfeita com os frutos colhidos? Em primeiro lugar, muito obrigado pelo espaço e pelo convite! Gravamos esse disco sem saber ao certo se o lançaríamos ou não. Sem decidir se seria um simples demo ou se ficaríamos com ele apenas para registro nosso. Por fim, resolvemos lançar e divulgar na internet, a coisa acabou se espalhando e chegando onde nunca imaginamos. Recebemos elogios de gente de vários países da Europa como França, Itália, Grécia, Portugal, e claro, daqui do Brasil mesmo. Recebemos alguns convites para shows e, embora a princípio nem estivesse nos nossos planos tocar ao vivo, acabamos aceitando alguns convites e fizemos várias amizades a partir daí. Creio que só isso já seria o suficiente para ficarmos contentes e motivados para lançarmos outros discos. A gravação ocorreu no Estúdio Mamute, que pertence ao Paulo Abreu, que chegou a tocar com a banda. Como foram as gravações desse disco? Não que ele tenha sido membro da banda, mas de fato ele chegou a tocar na primeira apresen30

tação da banda. Como não tínhamos planos de sair tocando, achamos que seria melhor ter uma segunda guitarra para ajudar nas bases e harmonias gravadas no CD e o Paulo já conhecia todas as músicas, então foi natural que ele nos ajudasse nisso e sempre seremos gratos a ele por tudo, trata-se de um grande amigo de todos nós, mesmo antes de resolvermos gravar o disco. As gravações não foram exatamente um mar de rosas, mas nada que nos fizesse desanimar do projeto. Entramos em estúdio com as músicas compostas, mas a proposta estilís-


tica do trabalho ainda não havia sido definida, o que nos levou a fazer três ou quatro gravações até chegar no resultado que tínhamos em mente. Isso incluiu desde experimentar outras afinações dos instrumentos a compor novas músicas para substituir outras que, após essas mudanças acabaram não se encaixando mais na ideia do disco. Queríamos um disco com uma sonoridade mórbida e muito pesada, algo meio anos 80, meio anos 90 e sem os excessos de zelo das produções modernas. Creio que atingimos boa parte dos objetivos, ainda que 31

algum detalhe hoje em dia talvez fosse mudado ou melhorado. Enfim, é algo próximo do que queríamos, embora esse ponto tenha sido apontado por alguns profissionais como algo a ser corrigido, pontos de vista que entendemos perfeitamente. No segundo CD a sonoridade foi trabalhada com uma abordagem mais polida, mas ainda privilegiando o peso. O disco de destaca inicialmente com uma bela capa feita por Fernando Lima, vocalista da banda Drowned. O que a


banda queria passar com essa capa? Sempre buscamos ter várias dinâmicas e nuances em nossa música, então era necessário que a arte trouxesse um clima de melancolia e beleza que fizesse sentido com as músicas e com as letras desse CD, pois elas são todas voltadas a temas obscuros e mórbidos como a morte, a loucura, a solidão, a dor e o luto. O artista nos apresentou essa capa após algumas conversas e rascunhos. Mostramos algumas letras e algumas referências e gostamos do resultado. Tudo muito profissional. Passados praticamente um ano e meio de seu último lançamento, a banda tem pretensão de lançar algum novo material? Se sim o que podemos esperar desse futuro lançamento? Começamos a compor o segundo disco semanas após terminarmos o primeiro e ele já está pronto, gravado e finalizado. São sete faixas, sendo que uma delas está saindo como single, provavelmente enquanto as pessoas leem essa entrevista. O que se pode esperar é um trabalho ainda melhor, com músicas ótimas, uma produção mais cuidadosa, mais coeso e mais pesado, fruto de ensaios, palcos e da nossa própria evolução como banda. O CD completo deverá ser lançado em julho, estamos correndo com os detalhes. A banda teve a faixa “Scarecrow” incluída na Compilação Stoned Union Doomed. Como se deu o convite para essa coletânea e por que foi escolhida essa faixa em especial? Primeiramente, a Stoned Union Doomed é o trabalho de um cara apaixonado pelo estilo, Gustav Zombetero. Ele foi um dos primeiros a “descobrir” a banda, pois postamos links na página do blog dele e minutos depois ele fez 32


contato comigo. Também foi o responsável pela primeira apresentação da banda, no festival da SUD, que ele organizava na época. Ele se tornou um grande amigo, inclusive assistimos ao show do Candlemass em São Paulo juntos e nos divertimos muito. Ou seja, o convite foi algo natural, que aceitamos sem pestanejar. Optamos pela “Scarecrow” por ser uma música que costuma receber elogios e nos shows a galera reage bem. Saliente-se que a versão que saiu na coletânea não é a mesma que está no disco, pois nós a regravamos mudando alguns detalhes e fizemos isso especialmente para essa coletânea. O disco teve uma excelente nota e resenha na renomada revista Roadie Crew pelo redator ACM. Inclusive não é um redator tão acostumado a esse determinado tipo de som. Como a banda recebeu essa crítica favorável? Cresci lendo textos do ACM desde os tempos da Rock Brigade e o considero o melhor profissional em atividade nessa área. Já vínhamos recebendo resenhas muito positivas de veículos relevantes como Arte Metal, A Música Continua a Mesma, Metal Maniacs, October Doom e digamos que a nota na Roadie Crew foi a cereja do bolo. Ficamos muito felizes e lisonjeados por todas as resenhas sobre o CD. A banda apresenta muitas influências de Black Sabbath em seu som. Sendo uma grande influência para a banda, como receberam a notícia do fim da banda? Realmente o Black Sabbath é a maior influência no nosso som e na decisão de ter banda, fazer música. Entre tantas idas e voltas, parece que dessa vez é o fim mesmo, não é? Daqui para frente é o que deverá acontecer com to33


das as grandes bandas, pois o tempo não espera por ninguém. As lendas se vão, mas seu legado fica. Como a banda enxerga a cena Doom Metal no Brasil? Não é um estilo tão popular por aqui, mas já revelou grandes bandas no cenário mundial. O que a banda acha que precisa melhorar para termos uma cena mais satisfatória? Temos muitas bandas boas surgindo no país inteiro e lançando bons trabalhos como Pesta, Witching Altar, HellLight, Dirty Grave, Dark Slumber entre várias outras. Fora do Brasil 34

também surgem bandas todos os dias, fica impossível acompanhar. O Doom Metal pode não ser o estilo mais popular no Brasil, mas tem seguidores apaixonados onde nem se imagina. Já sobre a questão de ter uma cena mais satisfatória, acho que esse assunto é algo tão vasto, abrangente e polêmico que eu costumo pensar bastante antes de entrar numa discussão a respeito. Acredito que o público possui muita informação nas mãos, de modo que é difícil para qualquer ser humano acompanhar a avalanche de bandas, músicas, discos, vídeos e tudo aquilo que é lançado diariamente mundo afora. Não existe mais a “sede” por material que


a galera antiga sentia, já que hoje tudo está disponível, bastando poucos cliques. A internet democratizou o acesso a informação, mas o excesso disso acabou por gerar desinteresse nas pessoas. Dessa forma, é necessário que as bandas façam um esforço enorme para conseguir ser notado no meio de tantos, já que o público no geral não tem curiosidade por descobrir sons novos, preferindo os medalhões de sempre - e no fim das contas, é direito de cada um ouvir o que quer ou ver o show que estiver a fim de ver. Enfim, é um assunto bastante complexo, mas creio que é a realidade com que as bandas novas precisam conviver. Não exis35

tirão mais grandes bandas como no passado. Eu acho que se o Metallica surgisse hoje, ninguém daria muita atenção. Espaço para considerações finais e agradecimentos. Agradecemos à Rock Meeting pelo espaço, a galera da Black Legion Productions pela parceria e a todos os que vem nos apoiando nesse trabalho! Acompanhem a banda, curtam nossa página no Facebook e ouçam nosso trabalho! Fiquem atentos ao lançamento do novo disco nos próximos meses!


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Texto e Foto: Pei Fon (peifang@rockmeeting.net)

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24º edição do Abril Pro Rock aconteceu. São 24 anos promovendo shows para todos os gostos dentro do Pop e do Rock/Metal, além de oficinas temáticas, porque não é só de diversão que vive o referido evento. Fora destas questões, a edição 2016 traria três nomes da cena internacional: Malevolent Creation (EUA), Warrel Dane (EUA) e Evil Invaders (BEL). Infelizmente, duas delas foram cortadas por problemas pessoais, e restou ao Evil representar o que vem de fora. Para completar o line-up, foram chamados o Rebaelliun, banda do Rio Grande do Sul que voltou recentemente, e o Edu Falaschi, figura carimbada da cena, para cantar os clássicos do Metal com a banda de apoio do Warrel, mais convidados. Tudo ok! Foram 14 bandas no line-up. Talvez o maior até então. O evento ainda tinha Viper, Korzus, Oitão, Robertinho do Recife, Nervochaos e uma porrada de bandas boas. Uma edição bem nacionalista, podendo dizer assim. Uma verdadeira representação do que tem no país. Só faltou o público entender isso. Onde estão os urros de valorização do Metal Nacional? Muitos, mas muitos comentários nas redes sociais falavam da não ida de bandas internacionais. Que as bandas internacionais são chamariz, isso ninguém tem dúvida; mas quanto às bandas nacionais, elas não merecem ter esse mesmo holofote? Ou vamos cair no discurso de que ‘toca o tempo todo’? É bom ficar atento para esta questão, porque apoiar a cena nacional tá difícil. Entendemos que um festival lhe proporciona momentos ímpares, aproxima aquele sonho de ver determinada banda por um valor acessível. Onde que você assistiria 14 bandas por 45 reais + 1 kg de alimento não perecível?

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É um assunto para muita discussão. Vamos aos shows. Foi assustador chegar ao Classic Hall (PE) e não ter aquele alvoroço de gente na porta, doidos para entrar. Lá dentro, as primeiras três bandas a tocar foram Confounded (PE), Monticelli (PE) e [Maua] (SE). Num palco menor, eles mostraram seus sons autorais com diferentes vertentes do Rock/ Metal. Um salve para mais trabalhos autorais! Já no palco principal, os paulistanos do Nervochaos, com nova formação, tocaram o novo e o velho da banda. Mas que as mudanças realizadas parecem que não modifica em nada a pegada da banda que continua a mesma. A apresentação deles foi enérgica, apesar de não ouvir muito bem o que falavam, talvez por algum detalhe técnico do som. Enfim, eles destroem do mesmo jeito. Em seguida, Sick Sick Sinners do Paraná. Um belo baixo acústico compôs a cena do trio. Para esta que vos escreve, foi uma boa surpresa, não conhecia tanta assim a banda. Fica a dica. Questions de São Paulo deu sequência ao show. Hardcore e porrada na orelha. É isso o que tem a dizer. Aaah, e a galera cantando junto. Isso é que é legal. O HC sendo representado ali. Os pernambucanos do Terra Prima trouxeram o Heavy Metal para o palco do Abril Pro Rock. Lançando seu segundo álbum, o quinteto liderado por Daniel Pinho não fez feio. Tocando as músicas de “Second”, eles mostram que o som mudou para melhor. O álbum foi produzido por Marcello Pompeu. Logo após veio Edu Falaschi com a banda do Warrel Dane. Edu foi chamado de última hora, pois Warrel sofreu um

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acidente e cancelou sua turnê pelo país. Cantando clássicos do Metal, ele abriu com “Symphony of Destruction” do Megadeth. Foi um momento ímpar, com certeza. A apresentação ainda contou com a participação de Antônio Araújo, guitarrista do Korzus, dando uma de cantor. E ele leva jeito para coisa, viu?! Depois foi a vez de Marcello Pompeu esquentar as cordas vocais cantando Kiss. Uma das apresentações aguardadas era do Oitão. O quarteto de São Paulo trazia uma persona bem conhecida do grande público, talvez não por sua música, mas pelo seu trabalho, o masterchef Henrique Fogaça. Um Hardcore bem metal foi tocado e surpreendeu positivamente. Depois veio o Robertinho do Recife. Tá aí uma surpresa! Hardrock muito legal. Uma banda composta por duas mulheres (guitarrista e bateria). Surpreendeu, de verdade! O nome pode não ser muito sugestivo, mas vá escutar o som do cara. Um detalhe que chamou a atenção foi a iluminação: estava bastante escuro, talvez a pedido da turma, ou não. E chegou a vez dos belgas do Evil Invaders mostrarem seu som. A única banda internacional da noite, o quarteto estava bem elétrico no palco. Inquietos, os caras mostraram o seu som, encantaram aos que esperavam por eles. E haja gritinho agudo. E mais uma vez a iluminação estava fraca, escuro. Dificultou bastante o trabalho dos fotógrafos. Os gaúchos do Rebaelliun foram para o palco. Após um longo período parados, o quarteto antecipou o seu retorno e apresentou seu novo álbum “The Hell’s Decrees”. Tocando músicas antigas e novas, a banda mostrou técnica e rapidez com seu Death Metal. Porém o som não estava tecnicamente legal para se ouvir, o que tornou a apresentação abaixo do esperado, sem contar, de novo, com a ilumina42


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ção fraca do palco. Ou seja, os caras merecem outra oportunidade. Após o Oitão, a parte cênica das apresentações ficou comprometida para as bandas que deram sequência. Para quem trabalha com a imagem, percebeu que a iluminação fraca era a mesma e estava no automático. Dando uma olhada no backstage dava para entender o que havia acontecido: técnicos estavam exaustos e alguns dormiam sobre as caixas dos equipamentos. Korzus subiu no palco bem tarde. Os que ainda aguardavam vê-los continuaram ali, firmes e fortes, apesar do cansaço evidente. Muitos estavam sentados e outros até dormiam. Mas a banda estava comemorando os 25 anos de “Mass Illusion” e fez um show matador, como era de se esperar. Korzus não decepciona. Músicas novas e antigas. É assim que se faz. Por fim, o Viper, do mítico André Matos, encerrava o Abril Pro Rock para um público cansado, guerreiro e apaixonado. Afinal, era o André Matos que estava ali. Isso já passava das 4 horas da manhã. “Bom dia”, foi assim que o vocalista cumprimentou a todos, afinal, já era de manhã. Como era de se esperar, o Viper tocou seus clássicos, aqueles que a galera gostaria de ouvir. Pit Passarel dando vexame, como sempre. André tocando baixo. E finalizando com um clássico “Breaking the Law” do Judas Priest. Mesmo André não sendo aquele André de “Angels Cry”, ele será sempre ‘O’ vocalista. O cansaço do público e da equipe de produção era nítido. Talvez essa edição tenha sido a mais longa da história do Abril Pro Rock. Como diria o mastechef Henrique Fogaça: menos é mais. Fica a dica!

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Por Pei Fon com Erick Tedesco Fotos: Banda/Divulgação

Conte-nos sobre o início da Egregor. Quando foi criado um ideal, uma perspectiva concreta de banda? Magdalena - Egregor foi fundado por mim, Magdalena Opazo, de acordo com meu desejo de formar uma banda ainda em 2010, mas que se concretizou apenas em 2012. A perspectiva inicial era apenas fazer música consistente, que foi possível com o passar do tempo e de acordo como os integrantes foram se conhecendo, musicalmente falando, que nos ajudou a ter uma visão de um caminho e apurar a mensagem a ser transmitida. Desde que começaram como banda, até agora, quais são as principais referências culturais que definem a identidade da Egregor? É complexo, porque tanto como banda, ou cada integrante em particular, não tem uma única referência cultural. Acreditamos que nossa referência seja o ser humano, o que ele sente, que faz para compreender a si mesmo para evoluir. Por esta razão a Egregor é influenciada por muitas culturas, crenças, seja do budismo, cristianismo ou celta, além da importância da valorização da terra, as tradições de tribos. Valorizamos muito nossos ancestrais. Tudo isso nos afeta enquanto indivíduos e banda. A cidade natal, Arica (Norte do Chile), e o clima desértico também são influên-

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cias para o trabalho como Egregor? Sem dúvida, mas de forma indireta. Interiorizamos as características de nossa zona geográfica e o clima como inspiração para a música, afinal, é inevitável ser afetado por tudo que nos rodeia. Existe uma definição oficial ao estilo de música praticado pela Egregor? Definimo-nos como uma banda de metal eclético. Decidimos adotar todas as qualidades do termo ‘eclético’ para definir a nossa arte. Falamos de um ecletismo não apenas musical, que nos permite mesclar diferentes ritmos, instrumentos ou tendências, mas também um termo que significa a pluralidade de ideias. Este estilo que propomos dialoga com um pensamento, uma visão conciliadora entre diferentes crenças e gostos, presentes em nossas letras que abordam diferentes ideologias, às vezes opondo uma comunhão entre elas, que para nós significa um reencontro com nossas origens. É por isso que nos sentimos representados pelo termo metal eclético. Fico feliz por saber que a definição ganhou novos horizontes e muitas outras bandas, inclusive de diferentes países, adotam esta definição. A discografia da Egregor consiste em um EP, singles e o álbum “Karma”. O que representa cada registro e o momento em que foi lançado? O EP e os singles foram parte do processo de conhecimento entre os integrantes, quando ainda éramos apenas um projeto de banda. Éramos em três, e fizemos tudo por conta própria. Foi, então, um período de ter confiança que podíamos criar ideias e depois materializá-las. A composição, gravação e lançamento de “Karma” também foi fruto de autoconheFoto: Fabiola Correa

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cimento. Aprendemos muito juntos, fizemos tudo de forma independente, e sem dúvida o álbum é um passo firme para dizer “somos a Egregor e estamos aqui para ficar”. Considero o primeiro grito consistente da vida da banda. Qual a opinião da banda sobre “Karma”? Karma é importante. É um disco que ajuda a conhecer a Egregor, um material concreto e que tem muito a ensinar. Então, entendo Karma como nosso primeiro sopro. Antes éramos uma ideia, um pensamento, agora pouco a pouco começamos a ganhar corpo, a ter um 52

nome que farão as pessoas nos conhecer. Qual o conceito de Karma, principalmente referente as mensagens das letras? Karma não é um álbum temático, mas todas as nossas composições estão focadas em uma visão, uma visão que envolve o conceito da Egregor, tanto em nossas vidas pessoais como na forma em quem nos relacionamos com a música. Os temas de Karma estão focados no reencontro, em recordar e vivenciar os processos que te fazem entender a vida. Compreender que a alma grita para avançar, grita para


experimentar e sentir, já que na dinâmica do mundo atual não encontramos muito tempo para escutar este grito. Para expressar isso, olhamos para diferentes perspectivas, culturas e ideologias, porque sentimos que todas estão conectadas, que todas têm uma mesma origem. É por isso que se encontra em Karma canções que dialogam sobre a consciência cristã, conceitos budistas e celtas, e até descrições científicas de processos relacionados à criação. Por que optaram por temas mais espirituais, às vezes místicos, de autoconhecimento e positividade? 53

Porque é o que somos, uma banda que faz música com mensagem, uma mensagem que vivemos dia a dia. Também estamos aprendendo, crendo, caindo, levantando, chorando, amando. Fazemos música para recordar de onde viemos. Cantamos para todos que sentem que algo os chama. Quais os êxitos da Egregor em cantar na língua pátria, o espanhol? Desde que formamos a banda, decidimos escrever em espanhol devido à um pensamento bastante enraizado em nós. Acreditamos ser importante resguardar o que é nossa língua, é


como nos expressamos com mais profundidade. Além dos instrumentos básicos (guitarra, baixo, bateria), quais outros foram utilizados na produção de Karma? Convidamos muitos músicos que tocam instrumentos da cultura andina, como charango, quenas, zampoñas, além de outros trabalhados de forma digital. Qual a perspectiva da Egregor em ingressar no cenário brasileiro de rock/

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metal? Somos o mesmo sangue, parte de uma história de povos guerreiros, lutamos pelo reconhecimento e valorização de nossas vidas. Temos interesse no público brasileiro porque vocês também fazem parte de nossas mensagens, também cantamos para os brasileiros, assim como queremos que gente de outros continentes nos conheçam, como a Europa. No entanto, a princípio, para nós, é importante nos conectarmos com os irmãos. Por isso, esperamos e desejamos que se conectem com a Egregor, que se sintam parte de nossa proposta.



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Entrevista: Aline Pavan Fotos: Suzan Rascal/Divulgação

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undada em 1993 em São José (SC), Khrophus tornou-se rapidamente uma referência na música extrema brasileira. Executando um Death Metal autêntico, brutal e veloz, não demorou muito para a banda conquistar o reconhecimento internacional. Com três turnês na Europa, e inúmeros shows em países sulamericanos, a banda hoje atravessa mais de 20 anos de carreira, considerada por muitos uma das lendas do Metal Extremo Mundial. Formada por Adriano na guitarra, Carlos Fernandes na bateria e Leonardo Chagas no baixo e vocal, o Khrophus fala com exclusividade para o Rock Meeting um pouco da sua trajetória e dos projetos atuais e futuros. Confira! Eu gostaria de iniciar falando um pouco sobre o último álbum da banda lançado em 2013. Você poderia explicar um pouco do conceito do álbum? Por que utilizar “Eyes of Madness” como título? E o que te inspira a escrever sobre estes gêneros aplicados ao som da banda? Carlos Fernandes: O nome veio de uma música do primeiro CD da banda, chamado “God From the Dead Images” do ano de 2003. Acredito que um CD ou música quando concebida, mesmo a banda leva algum tempo para absorver tudo que ela tem a passar, você necessita de mais de uma audição ou lida para começar a entender bem o que queremos passar. Adriano (guitarra e letrista) nunca é direto ao ponto sempre busca questionar e fazer você se questionar sobre tudo, em especial as 58


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questões sociopolíticas que, para nós, o Brasil é uma mina de ouro em termos de inspiração, basta dar uma olhada ao redor para entender o que queremos dizer com “olhar da loucura”. Até a capa deste álbum nós buscamos ser abstratos, pois ao olhar ela cada um pode ver mais de uma imagem, seja um globo em caos, ou um olho refletindo um mundo sendo consumido por chamas, enfim, isso é o que eu vejo, mas cada um pode tirar sua própria conclusão ao olhar para a capa. E nos estamos buscando nos inspirar em nossos CDs já lançados, pois mesmo sendo antigos, seus termos continuam mais que atuais, claro que jamais faremos um “Eyes of Madness, reload” (risos), mas as nossas músicas nos inspiram com o passar do tempo e isso nos mantém nos eixos dentro do que nos propomos a fazer. Adriano Ribeiro: Naturalmente sempre escrevi de uma forma em que as letras possam apresentar vários sentidos. Umas mais diretas outras nem tanto, e o que me inspira a escrever é a própria sociedade, minhas letras sempre têm questionamentos sobre a coletividade e individualidade dos seres, seus preceitos, dogmas, políticas e religiões. Em resumo, há uma gama gigantesca de informações na vivência e isso é um prato cheio para a inspiração. “Eyes of Madness” é uma síntese dessa loucura todo da humanidade. Como foi o processo de composição e gravação do álbum? Carlos Fernandes: Tudo começa com uma espécie de “jam session freestyle”, entre ideias que Adriano já tem em mente e coisas que surgem ali na hora. O entrosamento é tanto, que ele toca, e eu já sei exatamente o que a música pede. E assim a música vai tomando forma, nada é pré-programado, ou feito em computadores, somos “old school” e para nós o que 60

funciona é ali na hora, sentir a música e fazê-la tomar forma dentro do estúdio, com todos focados e compartilhando o sentimento. Quanto à gravação dele, nós fizemos uma pré-produção caseira, e as gravamos ao vivo mesmo. Com isso em mãos, buscamos o antigo parceiro de estúdio, Alexei Leão (AML estúdios), que já nos conhece bem e acaba somando inclusive na produção das músicas. Ele sabe o que precisamos muitas vezes sem que seja necessário pedir isso ou aquilo, ele é bem coerente e sabe o que a música pede, devemos muito a contri-


buição dele! Adriano Ribeiro: Eu amo tocar, adoro viajar e compor, mas gravar parece que se está numa redoma: você, as paredes, o som e a pressa para o reloginho do tempo não te matar na hora do acerto de contas. Mas acho que funcionou bem a gravação desse álbum. Fizemos o dever de casa, gravamos ensaios e levamos para o cara do estúdio conhecer nossa música antes de gravarmos, e para termos referência de que o material estava pronto para realmente ser gravado. No fim das contas conseguimos, 61

com as dicas do nosso produtor Alexei Leão, chegar muito próximo do que queríamos. Em geral, a galera gostou muito, tanto que vende bastante até hoje. Sabemos que a banda anunciou Leonardo Chagas recentemente. A mudança de formação atrapalha ou de certa forma ajuda trazendo novas ideias? Carlos Fernandes: Ajuda e atrapalha! Pois estávamos há anos com uma formação sólida e entrosamento ímpar em todos os aspectos.


Porém, o sangue novo do Chagas, e a sua vontade de estar ali comprometido com os objetivos da banda, somam muito para todos. Chagas também tem estúdio e sabe muito sobre nossa música, assim como eu, ele conhecia e curtia a banda antes de fazer parte do grupo, suas ideias são sempre bem-vindas e ele tem contribuído bastante para as novas composições que estão surgindo. Em breve, lançaremos algo com a formação atual e com ideias de todos, porém adianto, não espere nada diferente do que estávamos fazendo, sempre buscaremos algo rápido, brutal e visceral. Adriano Ribeiro: Depende. No nosso caso 62

ajudou, pois conseguimos encontrar alguém com as características próximas as nossas e que mora na nossa região. Já estávamos há oito anos com o Alex, e tem todo um lance de entrosamento e amizade envolvido, e isso não se consegue da noite para o dia. Mas o Chagas está indo muito bem, conseguiu pegar as músicas, tocar e cantar, e já está na estrada com a gente, de cara já pegou um grande festival, o Otacílio Rock Festival, e vai excursionar no Uruguai e Argentina e mais uma turnê. E o que temos visto até agora é que o pessoal está gostando bastante do estilo dele, e que se encaixou bem na banda. Para nós foi importan-


voltados somente à composição, e acho que é uma característica marcante da banda e por isso temos estado tanto tempo na cena.

te esse processo, e daqui pra frente ele já está participando da composição das novas músicas, ajudando a moldar as ideias com uma visão diferente da nossa, creio que isso vem somar em muito à banda. Desde o princípio a proposta era trabalhar em material autoral? Adriano Ribeiro: Quando começamos a banda há 23 anos, tínhamos de cara esse conceito de compor, mas como também queríamos fazer shows, tirávamos alguns sons de bandas como Morbid Angel, Deicide, Sarcófogo, etc. Mas depois de algum tempo, somos 63

Como vocês enxergam a importância da Khrophus na história Death Metal brasileiro? Adriano Ribeiro: Ótima pergunta e muito difícil de responder por sinal. É igual a trabalhar numa empresa, se os processos estão corretos, se a equipe está treinada e sabe resolver as situações quando surgem, então a empresa vai crescendo e com coesão vai ter mais chance de superar todos os desafios. Com a Khrophus é bem isso, temos batalhado há tanto tempo, corremos atrás da nossa história, e ela vem ali se formando, deixando rastros. A cada show, cada lançamento, cada viagem nos traz o sentimento de que estamos fazendo a coisa certa. Começamos em 1993, há 23 anos, e nesse tempo aprendemos a sobreviver e a traçar os próprios caminhos. Acho que isso também é uma característica das bandas da nossa época, pois tudo era mais difícil, não havia lugar para tocar, os equipamentos eram de péssima qualidade, havia um imenso amadorismo no cenário. Para gravar era algo muito difícil e caro, enfim, acho que essas coisas fizeram as bandas do fim dos anos 80 e começo dos anos 90 a criar seu mundo, umas conscientes, outras nem tanto, mas, em geral, criávamos nossas próprias oportunidades com trocas de shows, com zines em papel, com troca de material por carta, etc. Tudo isso acumulado fortaleceu as bandas, e nós conseguimos chegar cada vez mais longe, me lembro bem que sonhava em tocar fora da cidade, e hoje, olhando para trás, já estive em 14 países, 10 estados no Brasil e não há preço que pague. É uma experiência de vida tremenda e por si só já mostra a importância dos nossos atos, com trabalho árduo e


sério, brincando nas horas que pode brincar e tentando mostrar o profissionalismo quando necessário. Carlos Fernandes: O Khrophus cravou seu nome dentre as bandas mais respeitadas dentro do cenário mundial, não por sermos famosos, isso não, mas sim por nunca nos deixarmos influenciar por modas ou mercado. Nossa música é natural e imutável. Quanto a fatores comercias, somos o que somos e tocamos o que achamos ser a melhor forma de expressar nossas ideias e sentimentos, sejam bons ou ruins, por isso conquistamos o respeito que temos hoje, ser reconhecido por sua música sincera e honesta, é para poucos e não tem preço.

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E já se foram 20 anos de uma batalha pela música que não tem fim, tempo em que a grande maioria das bandas ficaram pelo caminho. Qual o balanço que fazem da trajetória da Khrophus? Adriano Ribeiro: Muito dos meus sonhos já conquistei, mas ainda faltam muitos outros. Esse é o balanço que faço, 23 anos depois, como falei acima, é muito trabalho sério para se chegar a algum lugar, e isso já mostra nossa trajetória: de jovens sonhadores a velhos sonhadores. O que muda é a experiência e as tomadas de decisões mais acertadas e coesas. Carlos Fernandes: A banda me levou onde jamais sonhei ir: culturas, lugares, amigos, que


jamais teria conhecido se não fosse o Khrophus. Não foi e nem é fácil se manter firme nos objetivos em uma banda underground e levando uma vida paralela, com família, trabalho, porém tudo isso nos da força para seguir por mais 20 anos na estrada. Não julgamos quem por algum motivo deixou seu sonho um pouco de lado, pois a vida não é fácil para ninguém e só você sabe onde a vida mais lhe cobra, certo? Mas estamos aí firmes, nadando contra a corrente da música comercial e fazendo o que a mente e o coração manda. Claro que muitas vezes nos ferrando, mas faz parte, afinal tudo que não matou serviu de aprendizado, já diz o ditado (risos).

E o que esperam do futuro da banda, quais os planos imediatos para 2016? Tem novo álbum saindo? Carlos Fernandes: Estamos com uma turnê para o segundo semestre deste ano, que passará pela Argentina, Uruguai e Paraguai. Além de diversas cidades do Brasil e queremos muito mais. Estamos planejando retornar para Europa ano que vem e Rússia possivelmente, lançar material também, pois esse ano o objetivo é tocar e compor material novo, quem sabe lançar um EP virtual para mostrar a cara da nova formação, mas um CD somente para 2017. Todo esse tempo de estrada já trouxe

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muitas histórias. Qual teria sido o melhor e o pior momento da Khrophus na carreira? Adriano Ribeiro: A pior, com certeza, foi receber ligação para tocar no Wacken e no Dynamo Open Air lá no início dos anos 2000 e não poder ir, pois tínhamos que pagar nossas passagens. Lembro-me de ter corrido atrás de apoio em vários lugares e não consegui nada, baita frustração. Acho que o melhor momento 66

é, sem dúvida, ver e passar por cada caminho que a banda esteve até hoje e mais ainda ter conseguido admiração e respeito do público e bandas no meio underground, isso é impagável. Carlos Fernandes: Acredito que todos os momentos são os melhores, pois se estamos fazendo o que mais gostamos, como pode ser um péssimo momento? E com certeza o tempo está passando e ninguém é eterno, então o


pior momento será o encerramento das atividades da banda, mesmo nesse dia, sentados ali relembrando tudo que vivemos, ainda sim será um ótimo momento. Vocês fizeram alguns shows lá fora, certo? Conte-nos um pouco sobre como foram às apresentações na Europa. Adriano Ribeiro: Foram três turnês pela Europa, e mais algumas incursões no Para67

guai, Uruguai e Argentina. O primeiro show internacional foi em Assunção no Paraguai e tinham 800 pessoas na platéia. Foi muito animal e começávamos aí a criar um mundo novo para a banda. Tocar na Europa foi a realização de um sonho e a conquista da realização pessoal. É um público diferente, com línguas diferentes, mas com uma particularidade em comum a nossa: eles amam Metal. Eles estão anos-luz à frente em termos de condições para as bandas (equipamentos, estrutura e organização, tratamento e educação, etc...) e é isso que nos faz querer voltar novamente. Carlos Fernandes: Tocar fora do país não o torna melhor ou pior que ninguém, pelo contrário, tocar fora do país só lhe torna mais humilde. Qualquer um que pense e diga o contrário está no caminho errado e certamente esta a ponto de se tornar um idiota completo! O metal é uma língua universal e não importa a nacionalidade da pessoa, o respeito se faz presente instantaneamente, pois se ele curte metal, ele é seu irmão e fala a língua do Metal. Tivemos momentos memoráveis lá fora e posso afirmar, temos tudo isso aqui também quando estamos excursionando dentro do Brasil ou na América latina. Ppessoas bebendo, balançando suas cabeças e curtindo a vida, escutando muito metal, quem diz o contrário, está equivocado. Mas para o Khrophus, Alemanha, República Tcheca e Polônia têm algo a mais a oferecer, tanto em termos de público quanto de estrutura. Muito se fala sobre os diversos problemas da cena Metal no Brasil. Qual avaliação que vocês fazem da mesma, visto o longo tempo que a banda já tem de estrada? Acreditam que ela melhorou, piorou ou está estagnada? Carlos Fernandes: A cena no Brasil, a meu


ver, é cíclica. Ela é feita de altos e baixos, mas sempre está ali. Acho que nos picos altos acabam tendo muitos eventos próximos o que pode influenciar em termos de público, mas no geral é isso, feita de altos e baixos. Reclamar não adianta, temos que buscar fazer nossa parte, acredito que as bandas no geral supervalorizam seu trabalho e acabam exigindo demais dos produtores o que acaba, em muitos casos, levando ao prejuízo por parte da organização. Acho que as bandas têm que saber que se o produtor perde a cena perde, a banda perde, todos perdem, certamente ele não irá produzir mais nada, está no vermelho e o principal, está desacreditado. Temos sim que pedir o justo, nada mais que isso, usar padrões “europeus” aqui no Brasil está errado. Se quer Europa, fácil, mude-se para lá p****! Afinal muitas dessas bandas que querem isso, lá fora tocam por 50 euros, no máximo 200 euros por show, e por que aqui no Brasil querem pedir tanto? Hipocrisia, incoerência? Só pode. Adriano Ribeiro: Nosso país é um ser repleto de mistérios. Consegue-se reunir vários mundos ao mesmo tempo e todos convivendo o mesmo terreiro. Antigamente tinha-se uma dificuldade imensa de equipamentos, divulgação, etc. Hoje se tem equipamentos muito superiores em todos os eventos, a internet expandiu o conceito de divulgação ao inimaginável, as bandas conseguem reunir características e qualidade, etc. Em todos estes anos no underground, quais são as lições aprendidas? Carlos Fernandes: Humildade, respeitar as pessoas e respeito ao seu público, sem ele nada temos, pode ter certeza. Ser um completo idiota só lhe levará a merda, seja simpático e atencioso com quem às vezes viaja horas para ver o seu trabalho, respeite para ser respeitado! 68

Quais são os desafios para se manter ativo na cena underground atual? Carlos Fernandes: Sinceramente? Ter um trabalho formal, e não por todas suas pretensões e expectativas na banda, pois pense que algo sempre irá dar errado. Se estiveres preparado financeiramente e psicologicamente para isso, conseguirás superar qualquer adversidade e percalço que o caminho lhe apresentar. Adriano Ribeiro: Hoje a concorrência entre as bandas é muito maior. Cada vez mais bandas


estão apresentando ótimos trabalhos e criando seu espaço. Particularmente acho isso ótimo para a cena, agora só faltou o grande público perceber que tem em casa aquilo que pagam uma fortuna para consumir no mercado mainstream. Agradecemos a vocês por nos mostrarem um pouco mais desta excelenteda banda. Deixem aqui suas mensagens. Carlos Fernandes: Foi um prazer poder 69

compartilhar um pouco do que somos com vocês, e também agradecer pelo espaço e empenho de vocês em somar a cena underground. Sabemos que não há retorno algum em termos financeiros e que é feito na raça e por amor ao metal! Adriano Ribeiro: Só tenho a agradecer o apoio da Rock Meeting, um veículo sério que busca com objetividade seus intentos. Obrigado mesmo!


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Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Fotos: Banda/Divulgação

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m tempo que a internet manda na produção das bandas, os mineiros do Deathraiser andam na contramão do sistema e provam que estão muito ativos. Mesmo sem lançar nada novo desde 2011, a banda continua na lembrança dos fãs mais altivos. Thiago (vocalista) conversou conosco e falou sobre passado, presente e futuro da banda. Acompanhe! É de praxe que as bandas se apresentem. Por favor! Olá galera que acompanha o trabalho do Rock Meeting! Aqui é o Thiago (vocal/guitarra), e venho em nome de toda banda dizer que estamos lisonjeados de poder participar dessa conversa. É muito importante para o underground, espaços como esse onde a música e a arte é levada a sério. A banda vem de um berço de grandes nomes do Metal. Diante das mudanças, como a cena mineira tem reagido à tecnologia, por exemplo? Ajuda ou não? Minas Gerais indiscutivelmente tem um legado respeitoso dentro do metal. Mas não sejamos bairristas (risos). O Brasil produz ótimas bandas por todo canto. Interessante essa questão da tecnologia. Digo no sentido de que, ao mesmo tempo que permitiu a autonomia das bandas, criou-se certos “parâmetros” que muitos que são ligados à sonoridade mais antiga não gostam, e definem em termos como “plastificado” por exemplo. Acho que o resultado tem que ir de encontro com a proposta do som se não destoa, né!? Em Minas, eu vejo que muitas 72


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Foto: Victor Rasga

bandas passaram a produzir de maneira independente, ou em home studios. Não necessariamente à produção digital vai soar como os timbres mais modernos, mas tem gente que busca esse som moderno. Não é a nossa praia, mas como eu disse, se a proposta casa com a sonoridade isso vai de cada um. Thrash metal old school e sempre veloz. A quem atribui à inspiração no estilo? E por que ser ‘old school’? Essa é a definição do thrash metal que a gente aprendeu ouvindo. A gente sempre pirava mais nas linhas à lá Demmolition hammer, Sadus, Dark Angel, Slayer, Sepultura antigo (tanto que o “Beneath” é unanimemente dentro da banda, um dos melhores discos do mundo!). Escutávamos as bandas mais cadenciadas, aquilo também mexia conosco. Mas na hora de tocar queríamos tocar como se não houvesse amanhã (risos). Quanto à parte do “old school”, acho que a galera se sente à vontade com esse termo para caracterizar bandas com um som mais orgânico e voltado para sonoridade das bandas clássicas criadoras do estilo. Mas sinceramente? A gente nunca pensou em ser ‘old school’ pra ser descolado dentre a onda de bandas da nossa geração que vinham ganhando espaço. É que simplesmente pra nós o Thrash é isso, se a galera chama de old school para se sentir mais à vontade com a nomenclatura fiquem à vontade (risos). Nós chamamos de thrash metal de verdade, orgânico saca? “Violent Agression” é o primeiro álbum da banda. O que vocês ainda colhem dele? Ele foi e está sendo muito importante para nós. Foi resultado de um processo árduo entre composição e a gravação. Tivemos que a 75


aprender como um estúdio funciona, como lançar um disco funcionava. Foi uma lição e tanta! Não fazíamos ideia como era complexo, trabalhoso, caro e dar um trampo maneiro no CD. E foi ele que nos possibilitou fazer tudo o que fizemos até hoje, e é a partir dele que nossa história no underground começou. Então cada show, cada amizade, cada cidade, cada história que a gente conhece até hoje, foi porque o disco possibilitou o start para que isso acontecesse. Vocês enxergam algum tipo de diferença desde o período que começaram a tocar (2006) para hoje? 76

Com certeza. Falando da nossa parte, eu vejo uma banda bem mais madura e sabendo o que quer em relação a sua música. E isso se reflete nas novas composições. Já no cenário em geral, eu vejo que hoje mesmo, em plena crise financeira e demais problemas, tem muita gente produzindo shows, bandas caindo na estrada. Se você me perguntar se o público é o mesmo de 2007 no auge do “boom” dessa safra de bandas de thrash por exemplo, eu vejo que em algumas cidades o público diminuiu, mas não deixou de existir. Desde 2011 estão sem lançar material inédito, porém 2016 promete ser di-


Foto: Victor Rasga

ferente. Teremos um novo álbum este ano? Já passou da hora, não é? (risos). Infelizmente esse hiato foi algo que a banda não teve como evitar. Esse período foi um período de adaptações nas nossas vidas pessoais, e exigiu de nós uma atenção especial. Em contrapartida, não paramos de tocar nesse meio tempo. O segundo disco está praticamente finalizado, mas para dar o empenho que ele merece, com o mesmo carinho que tivemos com o primeiro, nós necessitávamos ter passado por esse tempo. Mas agora não tem mais desculpa, é questão de acertar os ponteiros e gravar isso o quanto antes (ainda nesse ano!). 77

Já existe temática, alguma linha narrativa, título? O que podem nos adiantar? Basicamente continuamos a abordar temas pertinentes à natureza humana, e a capacidade do ser humano em destruir, escravizar, extinguir, aniquilar. Só que dessa vez, estamos trazendo para uma visão mais cotidiana, menos lúdica que no primeiro disco. Experimentamos narrativas em primeira pessoa, o que tem de ser algo que venha de dentro, uma letra que esteja expondo uma insatisfação ou raiva pessoal quanto ao tema. Mas como eu disse, nós basicamente mudamos a roupagem/abordagem, mas continuamos a demonstrar indignação, descontentamento e raiva nas letras.


Ano passado tocaram no Forcaos, em Fortaleza. Como vocês enxergam a cena do Nordeste? Foi uma ótima experiência. Não só o Forcaos, mas a tour como um todo. Pudemos conhecer muitas pessoas bacanas na estrada, que levaremos a amizade conosco. Casas como o Pogo (João pessoa) e Bueiro do Rock (Teresina) que já tem um know-how no assunto underground, e produtores que trabalham com seriedade na cena. Sobre a cena, muita das vezes constatamos problemas que não são exclusivos de lugar nenhum, e que se repetem por todas as regiões do Brasil. Mas acho que nem vem ao caso destacá-los como um fator que limita ou mata a cena, porque independente de tudo, o Nordeste tem um cenário/circuito consolidado e uma galera que realmente curte o underground. Foi uma experiência inesquecível, e com certeza a primeira de muitas por lá no que depender da banda. A atual crise política-financeira do país seria uma boa temática lírica para composições? Qual a opinião de vocês para o assunto? Sem dúvida. Estamos vivendo tempos realmente assustadores, com tanta gente vomitando cada absurdo nas redes sociais e isso sendo transposto para o mundo real sob a forma de uma dualidade política cega E muita das vezes com o objetivo de se atacarem ao invés de discutirem o que de fato era pra ser discutido com clareza de ideias. Nós temos um pensamento totalmente libertário, e abominamos qualquer tipo de preconceito. É difícil falar de política enquanto eu sou porta-voz da banda, porque as pessoas já estão armadas com sua raiva e frustração, só esperando para atacar quem for contra a opinião/posicionamento delas. Eu até gosto de discutir, mas pra isso eu preciso ter 78


certeza de que existe essa clareza de ideias, e de que vamos discutir sobre política no real sentido da palavra, e não sobre partido/figura X ou Y. Porque sabe como é, ao invés de argumentos as pessoas usam adjetivos, não se constroi nenhum conhecimento efetivo sobre nada. 10 anos de banda. Terá algum material comemorativo? Sim! Não sei se posso adiantar muito sobre, mas estamos querendo registrar um show que será muito marcante para nós (e para nossa geração de bandas de thrash) e a intenção e produzir nosso primeiro DVD. Top 5. Quais bandas inspiram a banda? Destaque um álbum e fale um pouco sobre cada uma. Esse era o momento para eu citar vários baluartes do metal que a gente cresceu ouvindo, mas eu vou fazer o contrário e incluir bandas que fizeram/fazem parte não só da sonoridade, mas da história da banda, e da construção do nosso pensamento/posicionamento quanto banda de alguma forma. Farscape – Demons Massacre – o álbum que fez a gente ter certeza que era isso que a gente queria tocar! Vendo uma banda nacional, do nosso tempo tocando isso, foi uma ‘puta’ influencia para nós. E ver que hoje a relação que mantenho com eles é de amizade e não idolatria, não tem preço! Slayer nenhum no mundo paga essa sensação haha Violator – Chemical Assault – Ver os caras em 2006 com aquela gana toda, tocando um thrash furioso por diversos cantos nos influenciou bastante. As palhetadas mortais do Capaça dava vontade de sair bicudando o mundo pela frente! Foi massa demais conhecê-los, tocar com eles, e ver que aqueles caras 79


que criaram um clássico da minha geração, eram humildões e tinham as mesmas raízes no underground que as nossas. Eternal Devastation – Slaughterhouse Essa foi uma banda que poderia estar aí até hoje. Eu me lembro quando ouvi esse disco pela primeira vez, e a gente ficou ainda mais encanado em tocar o mais rápido possível. O vocal do Tino ao vivo era destruidor demais! Blasthrash- Violence just for fun – Em 2006, o thrash em ebulição, conhecemos pessoalmente nossos brothers que até, então, conhecíamos só por meios de comunicação. Meio que vimos esse álbum nascendo, o Nizuma (Felipe) numa fase inspirada foi muito importante nesse disco! É de longe meu álbum favorito deles, e o espírito desse disco fala muito para nós. Sepultura – Beneath the remains – Esse merece estar aqui pelo valor histórico que ele tem para nós. Eu, particularmente, quando 80

ouvi isso na adolescência, a primeira vez na vida, tive certeza que era o tipo de música que mexia comigo, e me inspirava a querer tocar como eles. Ali eles acertaram a mão, e nunca mais conseguiram ou vão conseguir fazer um disco tão inspirador quanto aquele, na minha opinião. Para finalizar, o que os fãs podem esperar do Deathraiser para 2016? Muito obrigada. Sucesso! Obrigado pelo espaço, e pelas perguntas pertinentes e de muito bom gosto. 2016 nós vamos apresentar uma banda bem mais madura, e uma evolução do que foi feito até então. Sem sair das nossas raízes, claro! Enfim, que seja um ótimo ano não só para o Deathraiser, mas para todos aqueles envolvidos com as produções contra culturais. Esse é o espirito do underground: mais cooperação e menos competição.



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Death DTA @ Rockclub Tapper Tallinn, Estônia (13/04/2016) Por Virginia Pezzolo Fotos: Mart Sepp

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m 1993, a banda Death afirmou a sua reputação como uma das bandas de Death Metal mais inovadoras, com seu quinto álbum de estúdio, “Individual Thought Patterns”. O material foi mais técnico até exibir os talentos de Chuck Schuldiner (vocal, guitarra), Steve Di Giorgio (baixo), Gene Hoglan (bateria) e o guitarrista convidado Andy LaRocque, conhecido por seu trabalho com King Diamond. Em 2016, este lendário álbum é trazido de volta à vida. Com a turnê ‘European Thought Patterns’, Death DTA (Death to All) presta homenagem à obra-prima e ao precocemente falecido líder da banda, Chuck Schuldiner. Músicas clássicas de todos os outros álbuns do Death também foram executadas. Depois de algumas apresentações por países inesperados como Bulgária, Eslováquia e Romênia, a banda Death DTA trouxe sua turnê para a cidade de Tallinn, na Estônia. Obscura, com seu Death Metal progressivo, foi encarregada de abrir o show, junto com a banda Neglected Fields da Letônia. As portas da casa estavam previstas para abrir às 19 horas. O show foi durante a semana, em plena quarta-feira, mas não impediu que o local ficasse lotado. A primeira banda a se apresentar, Neglected Fields, trouxe seu Dark Technical Death Metal aos primeiros que chegavam ao show. Depois veio o Obscura divulgando seu novo álbum, “Akróasis”. A banda

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Obscura

Obscura

tem clara influência de Death, levando o lado progressivo ao limite. Finalmente chegou a hora da apresentação do Death DTA. Começar com “The Philosopher” foi uma bola dentro, o refrão foi cantado em uníssono. Seguindo “Left to Die” e “Leprosy” do disco homônimo. Prosseguiu-se, então, com “Living Monstrosity” do disco “Spiritual Healing” e “Suicide Machine” do disco “Human”. Em “Overactive Imagination” foi o momento de Gene “Atomic Clock” Hoglan brilhar. Na sequência, um pequeno discurso do baixista Steve Di Giorgio, explicando que a banda não era o Death, mas sim um tributo, que eles estavam felizes de poder tocar essas músicas para uma nova geração. O nome de Chuck Schuldiner brandado por muitos presentes. Os músicos também não esqueceram de tocar músicas do álbum “Symbolic” e o último lançamento do Death, “The Sound of Perseverance”, de 1998. “Pull the Plug” encerrou a apresentação sem falhas. O som estava perfeito. A casa, por não ser muito grande, trouxe uma proximidade com os músicos. A banda se mostrou entusiasmada o tempo todo e o público com certeza foi embora satisfeito.

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teve Di Giorgio é, sem dúvidas, um dos maiores baixistas da história do Metal. Deixou sua marca indelével em bandas como Iced Earth, Control Denied, Sebastian Bach. Entre muitas outras com mais constância como Sadus, Death e Testament. Em uma quarta-feira primaveril na cidade de Tallinn, Estônia, sentamos antes do show pra conversar sobre seus projetos paralelos, turnês e planos para o futuro. O músico incansável contou sobre sua carreira e seu estilo de tocar. A banda Death DTA está em turnê, desta vez passando por países como Bulgária, Romênia, Grécia e Rússia. A banda tem membros que participaram de vários álbuns do Death, tirando Max Phelps, que veio da banda Exist/Cynic e assumiu os vocais e guitarra de Chuck Schuldiner. Você terminou a turnê Slayer/Testament/Carcass e já pulou em outra com o Death DTA. Logo mais se junta ao Testament novamente paras as datas europeias. Como está se sentindo? Steve Di Giorgio: Acho que estamos na nona semana de viajar sem parar, eu, Gene Hoglan e mais uma parte da equipe que dividimos com o Testament. Ainda temos algumas semanas. Ainda não estive em casa desde o final de janeiro ou começo de fevereiro. É difícil, você quer ir pra casa, ficar confortável, mas é bom continuar fazendo esse tipo de música, sabe? Quando eu era jovem, achei que quando chegasse nesta idade, talvez tudo já estaria acabado. Não acabou, ainda estou bem ativo. Me sinto agradecido por ainda poder fazer isso, mas fisicamente não posso mentir, é duro. Tudo bem, tem um fim, aí vamos pra casa. Na verdade não, o Testament vai direto pro estúdio (risos). Com o Death DTA é totalmente diferente. Estamos tocando músicas antigas, o último disco saiu em 1998. Não é igual, não estamos promovendo um novo disco, é uma turnê diferente. Estamos apenas no palco, tocando músicas que as pessoas gostariam de ouvir, com nenhum propósito além disso. Nós gostamos desse tipo de coisa, não há pressão. Há pressão de tocar bem, de tocar o que nós fizemos com 20 e poucos anos. Quando estávamos com o Testament, eu e Gene sabendo que esta turnê estava se aproximando, começamos a ficar entusiasmados com isso. É diferente! Claro que gostamos de tocar com o Testament, mas há um propósito com eles. Com o Death pode ser o que nós quisermos. Podemos mudar em qualquer noite, não há regras. A turnê com o Slayer nos Estados Unidos me pareceu muito

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Por Virginia Pezzolo - 13 de abril no show do Death DTA em Tallinn, Est么nia. Fotos: Mart Sepp

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legal. Quanto tempo vocês tocaram juntos? Seis semanas, acho. Os caras do Slayer são ótimos, eu não tinha tocado com eles antes. O Testament tem um pouco de história com eles, mas eu não. Foi muito bom, a equipe deles nos tratou super bem, todas as bandas tinham produção total, não havia limites. O Carcass estava ótimo, com tudo que eles tinham direito, um super show. E, claro, o Testament também tem uma grande produção. Tivemos bastante público. Foi sold out em quase todas as datas. Também era muito divertido. Depois do set do Testament, a gente se recompunha, colocava roupas limpas e ia ver o Slayer. Era bem emocionante, como se fôssemos jovens de novo. Nós tocamos em vários lugares, não muito no meio dos Estados Unidos. Começamos em Chicago e tocamos bastante no leste. Fomos então para o Canadá e depois para o oeste. Agora vocês estão tocando em cidades não tão óbvias. Como surgiu essa ideia? A gente já tocou bastante na Europa Central. Também no Reino Unido, Irlanda. Desta vez nós queríamos ir para lugares diferentes. O sul da Itália, Roma, Grécia, Península Balcânica. Quando surgiu a oportunidade de continuar com o Death DTA, nós levaríamos mais a sério uma turnê que nos levasse a lugares que não estivemos antes. Nós recebemos ofertas todo o tempo, mas elas têm que ter um propósito. Foi uma boa ideia levar o nosso show pra lugares como o Leste Europeu. Nós nunca tocamos com o Death DTA na Rússia, vai bem ser bem estimulante. Então sim, estamos tocando em lugares inusitados, que as bandas não vão toda hora. Você ainda parece manter o mesmo entusiasmo do começo de sua carreira... Tento tirar algo positivo de cada situação. Na maior parte da minha vida eu tive um emprego fixo. A música era uma válvula de escape, um 88


hobby. Agora que cheguei numa idade que estou tocando música o tempo todo, eu me lembro de uma vida que não tinha tanto entusiasmo. Houve também um momento quando era mais jovem que fiquei de saco cheio de tocar Metal, acho que com uns 25 anos. Aí eu decidi ter uma banda de fusion (Dark Hall), mas nunca tocamos fora dos Estados Unidos. São Francisco foi o mais longe que chegamos. Mas essa banda tem fãs... Sim, promovi bastante essa banda. Na verdade, quando eu estava em turnê com o Testament, eles me deixaram vender o CD na barraca de merchandising. Foi estranho vender música instrumental de jazz em um show de Heavy Metal (risos). Consegui vender uns CDs desta maneira, as pessoas começaram a saber dessa banda. Com a internet foi uma grande vantagem, e-mails começaram a aparecer (risos). Qual momento da sua carreira você pode assinalar como o melhor? Tocar com o Slayer foi maravilhoso. Estou acostumado a ouvir gente falando “ah, eu ouço sua música desde que estava na escola”, mas para mim, eu ouço Slayer desde que estava no colegial e eles continuam firmes e fortes. Eles não terminaram e voltaram, eles seguem em frente, então foi bom estar fazendo parte disso. Quanto aos discos do Death, sim, foi bem divertido. Também é um grande momento, tocando naqueles dias. O Death não era uma banda grande, era uma banda comum, lutando por um espaço. Claro, a gente tinha um público. O Death Metal começou a ficar meio repetitivo e a gente queria fazer coisas diferentes de uma banda no mesmo estilo. Agora, olhando pra trás, parece importante, mas a gente não sabia na época. É difícil para um músico tocar em um álbum, ouvindo tantas vezes, chega uma hora que você perde o foco e não dá pra dizer se está bom 89


ou ruim. Você já tocou em tantos discos, muitas vezes até não conhecendo pessoalmente os músicos. Qual é o critério pra recrutar o Steve Di Giorgio para a banda? Bom, tenho uma regra quando me pedem pra gravar. Logicamente, eu preciso ouvir a música. Se é algo que eu acredito que posso fazer com todo meu interesse e paixão, então o contato está estabelecido. Quando o Christos do Mythodea me mandou a música dele, eu me tornei um fã. Aí ele me pediu pra tocar no disco, eu disse: “sempre problemas, eu adorei”. Às vezes tenho que viajar pra gravar, às vezes mando pela internet, é diferente pra cada situação. Em algumas ocasiões termino um trabalho em três dias, em outras leva um mês. Depende de quanto o material está pron90

to. Tem vezes que consigo terminar seis músicas de dez, por exemplo, aí tenho que fazer alguma outra coisa. A banda tem que me dizer se eles podem esperar ou não, tem vezes que dizem que não podem esperar. Acontece também, como alguns anos atrás, que eu não tinha nada pra gravar. O que é bom também, assim posso escrever minha própria música. Vamos falar do baixo de 3 cordas. Vejo que você também toca no Death com ele. Sim, eu o inventei com o Obituary, mas também o trouxe pro Death. Levei esse baixo pro Testament, mas me aconselharam a não usar (risos). Funciona bem pra algumas músicas, mas você sabe, não dá pra levar um monte de baixos numa turnê. É bom levar os baixos que combinam com a banda. Mas não há vantagem nenhuma em ter um baixo de 3 cordas, é mais


difícil de tocar, as cordas estão longe uma das outras. Tem menos notas nesse instrumento, por ter menos cordas. É um desafio, mas não vou negar que também é pra chamar atenção, eu admito. É divertido, é uma coisa que fiz pra mim, mas mesmo se não tivesse ninguém me olhando. Com o Obituary sim, me livrei das cordas que não preciso. Obituary é o AC/DC do Death Metal. É simples, mas forte todo tempo, com um bom groove. Com o Death eu uso o baixo, preciso das notas que faltam, mas eu as encontro em outro lugar. No final, esse baixo me ajudou a entender melhor o braço do instrumento. O que há além de turnê neste ano? Logo no começo do ano eu estava na Flórida e nós terminamos o terceiro álbum do Charred Walls Of The Damned, ainda vai sair este 91

ano. Tenho um projeto de uma música com o Christos (Nikolaou), acho que vai ser pro Mythodea, não sei ainda. Em maio vou para o estúdio com o Testament, logo depois da turnê com o Death DTA. Nós vamos começar a turnê como antes, mais ou menos o mesmo set. Só que logo que o álbum sair, vamos mudar pra acomodar e divulgar o novo disco. No meio período dessa turnê europeia com o Testament, vou pra Noruega gravar com uns amigos lá. Os coitados estão me esperando há tempos pra terminar isso. Ainda não posso falar muito a respeito, ainda estamos pensando em um nome pra banda. São alguns caras do Spiral Architect. Trabalhei com o baterista numa banda sueca chamada Vintersorg e também uma banda norueguesa chamada Scariot. De qualquer maneira, eu só saio em turnê com algumas poucas bandas. O Obituary só me pe-


gou para algumas poucas datas. Com o Obscura, a banda que está abrindo pra gente agora, eu toquei com eles em três shows no Japão. Estando em turnê com o Death DTA, imagino que sempre te perguntam como o Chuck Schuldiner era como pessoa. Acredito que seja uma curiosidade natural, principalmente porque tem muitos fãs na plateia que são bem novos e não puderam ver um show com ele. Sim, é uma pergunta frequente e é bem difícil de responder porque ele era uma pessoa bem complexa. Ele tinha humor, ele era até bem tonto às vezes, gostava de rir. Mas ele também teve momentos de estar bem estressado. Como era muito envolvido em todos os aspectos da banda, sempre tinha contratos e advogados, coisas que o deixavam nervoso, mas é natural ficar assim, qualquer ser humano ficaria. Cada membro da banda teve um relacionamento diferente com ele, então cada resposta é diferente. Ele era um cara muito criativo, normalmente pessoas assim são diferentes dos “normais”. A gente tocava a música dele, pra gente era apenas música, mas para ele era tinha um conceito. Agora é muito evidente, ele tinha razão, sabia o que estava fazendo, porque as pessoas apreciam até hoje. O Chuck tinha um som particular na guitarra, mas também nos ajudou a encontrar o nosso som. Ele encorajava a gente a trazer ideias e opiniões, a evoluir e fazer tudo especial. É o que gosto de dizer para as pessoas, porque muitos sempre querem focar no lado pessoal: “ah, por que ele chutou tantos músicos?”. Muita coisa é verdade, muita coisa é mentira, mas o importante é dizer que ele amava e estudava música, era um encorajador. Quando não havia ainda nem as regras de como o Death Metal deveria ser, ele já pensava em mudar e fazer algo diferente. Ele não 92


queria ficar em um lugar confortável, ele tinha um pensamento avançado. Com o Death DTA, a gente faz questão que as coisas sejam feitas do jeito que ele queria. Nós três, eu, Gene e Bobby (Koelble) éramos bons amigos dele. Temos ideia de como a mente dele funcionava. E os fãs estão felizes, sabem que a gente está tocando a música dele, que não tem truques. Como foi trazer o Andy LaRocque pro disco “Individual Thought Patterns”? Na época não tinha ninguém pra tocar a segunda guitarra. O Chuck falou, “eu acho que vou ligar pra algum dos meus herois”. Ele tentou chamar o guitarrista do Loudness, acho que o Chuck pediu pra ele primeiro, mas não deu em nada. Aí ele pediu pro Andy, e a resposta foi positiva. O Chuck ficou super feliz, “o Andy vem pra Florida, a gente vai conhecê-lo!”. Eu não sei se ele mandou uma carta ou ligou, não tinha nada de internet naqueles tempos. Ele apareceu e foi demais. Sempre ficou entendido que ele não tocaria ao vivo com a banda, era apenas gravar. Tenho certeza que ele não sabia o que esperar, nós éramos bem mais novos. Os anos se passaram e muita gente chegou no Andy falando que amava o disco do Death que ele tocou. Aí ele percebeu o impacto do álbum, conseguiu ver que a banda tinha fãs. Muitos anos depois, eu o encontrei em Copenhagen, e ele me disse que foi um disco importante na história dele. Ele não sabia na época, mas é o mesmo que eu te disse antes. Na hora que você está trabalhando em um disco, não sabe se vai ser bom ou não, até o tempo passar. O mesmo aconteceu com o Andy. É bom que agora eu posso chamá-lo de amigo, a gente se encontra às vezes. Obrigada pela entrevista.

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Por Raphael Arízio Fotos: Paty Freitas

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Degrador segue a tradição de Minas Gerais de sempre revelar grandes banda de Metal. A banda lançou seu primeiro registro, “Dead in Life”, e vem obtendo um ótimo destaque com seu Thrash Metal. Vamos ver o que a galera diz sobre esse E.P e também sobre a procura de um novo guitarrista para fechar a formação para seu próximo lançamento. A banda acabou de lançar o seu primeiro material, o E.P “Dead In life”. Quais as expectativas da banda com esse lançamento? 94

Estamos ansiosos para ver as críticas sobre esse nosso primeiro trabalho e na expectativa de achar um novo guitarrista para voltar a tocar e divulgar nossas músicas o máximo possível. A banda cita diversas influências clássicas da cena histórica mineira como Sepultura, Chakal, Sarcófago e Overdose. Como é para a banda crescer em um lugar ícone para o underground nacional e o que essas bandas representam para vocês? É incrível! Dá muito orgulho de ser mineiro,


mente, não tivemos o prazer de viver o passado glorioso da cena no nosso estado, nas décadas de 80 e 90. Mas achamos que a cena ainda é muito forte, têm muitas bandas boas já firmadas e outras estão surgindo como a nossa. A banda deu uma pausa em suas atividades em 2014. Quais os motivos para essa pausa e quais as principais dificuldades enfrentadas em se ter uma banda de metal em nosso país? A pausa aconteceu porque nem todos queríamos a mesma coisa, o lado financeiro falou mais alto e infelizmente perdemos um integrante muito importante, mas essas coisas acontecem, é vida que segue e as dificuldades são muitas no nosso caso. Por exemplo, nem temos público na nossa cidade, a sorte é que têm muitos eventos bons nas cidades próximas. Sabemos também que as bandas investem pesado, mas é muito por amor a música porque não se tem um grande retorno, porém o que importa é que gostamos de fazer música e levamos isso muito a sério, queremos tocar o máximo possível e divulgar nosso som.

essas bandas representam muito para nós, sem elas a Degrador não existiria. Depois que as conhecemos mudou tudo para a gente, foi um novo mundo que se abriu. Já conhecíamos grandes bandas como Slayer e Metallica, mas saber que tínhamos uma cena com tantas bandas representativas foi o que nos fez montar a nossa e querer fazer música também. Sem elas não seríamos nada. Diante do histórico, como a banda enxerga a cena mineira atual compara ao seu passado? É difícil para nós compararmos, pois, infeliz95

O E.P foi gravado no estúdio Horizontes em Viçosa-MG, e foi produzido por Thomas Medeiros. Como foi essa experiência para a banda e o que produtor acrescentou para o som da banda? Foi uma experiência incrível porque foi a primeira vez que entramos em estúdio para gravar. Thomas foi muito importante, nos deu o maior apoio e incentivo, fora que o cara saca muito de música, já tem muito tempo no ramo. Nos deu várias dicas e se comprometeu em nos ajudar com nosso primeiro trabalho. Foi muito bom trabalhar com ele. A banda está à procura de um novo guitarrista para completar sua formação, o que a banda procura nesse novo inte-


grante? Procuramos uma pessoa que, como a gente, queira investir em som próprio, fazer músicas, estar disposto a encarar as dificuldades e tentar vencer. Foi anunciado que a banda já começou a compor novas músicas. O que os fãs podem esperar dessas novas composições e qual a pretensão da banda? Lançar um novo E.P ou disco completo de inéditas? Estamos trabalhando as novas músicas e que-

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remos fazer um material melhor que o já lançado. A ideia é fazer um disco completo só com músicas inéditas, não sei se vamos conseguir, mas queremos fazê-lo rápido. Espaço para as considerações finais e agradecimentos. Primeiramente obrigado pela entrevista, valeu pelo apoio. Agradeço também a todas as pessoas que estiveram envolvidas com esse nosso primeiro trabalho e aos que nos incentivam e que acreditam em nós.



Apresente-se! Meu nome é Marcus Dotta, toco bateria há 15 anos e atualmente, dentre outros projetos, acompanho o vocalista Warrel Dane (Nevermore/Sanctuary) em sua carreira solo. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Eu era como qualquer outro fã de rock e metal que queria aprender um instrumento musical e ser como os caras que eu via nas capas e encartes dos discos, coisa de fã adolescente mesmo. Mas a idade veio e racionalmente eu nunca tive pretensões reais de viver de música, fiz faculdade, trabalhei em outras coisas. Mas nunca parei de tocar, ter banda, gravar discos. Em um dado momento de desagrado com minha carreira naquele momento, resolvi largar tudo e viver de bateria, de música. E hoje eu faço coisas que eu nunca imaginaria fazer realmente quando comecei como tocar com músicas da minha banda preferida, com o vocalista dessa banda, pelo mundo. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Como falei acima, estou realizando o maior deles, dia a dia, que é viver de música e principalmente, viver tocando rock e metal, seja nas aulas que eu dou, seja nos shows que eu faço com o Warrel. No caso do Warrel especificamente, ainda é surreal tocar músicas do Nevermore com ele em outros países, por exemplo. Em 2006, minha banda na época abriu um show do Nevermore no Brasil, então imagina eu tocar aquelas músicas com ele hoje. É um sonho que realizo todo dia! Do que você tem medo? De acontecer algo comigo que me impeça de tocar bateria. Quando era criança o que você dizia que iria ser? Antes de entrar no mundo da música, eu era (e ainda sou) apaixonado por aviação militar, então eu queria ser piloto

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Fotos: Pei Fon

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de qualquer forma. Mas aí a música me cativou e não teve mais volta. Qual foi a sua maior realização pessoal? Até agora foi tocar em um show lotado com o Warrel Dane em Istambul, na Turquia, numa das melhores casas de show de lá. Qual foi o seu pior momento? Gostaria de ter feito o disco “Better than Raw” do Helloween. Para mim, ainda hoje, é o disco com algumas das melhores linhas de bateria do estilo. O Uli Kusch, batera da banda na época, era um gênio, estava em seu auge, tanto como baterista, como compositor. Algumas das melhores músicas do Helloween da época são dele. Eu, particularmente, sou muito fã do Helloween dos anos 90, do “Master of the Rings” até o “The Dark Ride” (basicamente a época em que o Uli esteve na banda). E o “Better than Raw”, para mim, é o auge do Helloween. Qual cd você gostaria de ter feito? Fale sobre ele. Yngwie Malmsteen - Rising Force (1984). Para mim este álbum é a “Nona Sinfonia” da guitarra. O que te motiva? Me motiva o fato de que todo dia é uma coisa diferente, um novo desafio, um novo plano. Você trabalha toda hora, todo dia, e mesmo quando não está trabalhando de fato, você está pensando no que precisa fazer, treinar e etc. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Sim, acho que todo músico profissional passa 100


por isso sempre. Ainda mais tocando um estilo que no Brasil ainda é rodeado por amadorismo. Você é condicionado desde bem novo a pensar que as profissões relacionadas à arte não levam a nada, que você precisa ter uma profissão tradicional para ser feliz. Infelizmente, muitos músicos precisam trabalhar com outra coisa para continuarem tocando. Então, se você decide só viver disso, principalmente no começo, é uma luta constante entre desistir e continuar seguindo o sonho. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Helloween – Better than Raw – é um disco em que eles eram a banda mais original do estilo da época. Nevermore – Enemies of Reality – o disco em que eles estavam mais técnicos, agressivos e emocionais ao mesmo tempo. Meshuggah – Obzen – apesar de terem nascido várias bandas derivadas deles nos últimos tempos, ainda é a banda mais insana de todos os tempos. Não tem um batera que não se impressione com os arranjos de Bleed. Testament – The Gathering – sempre achei o Thrash deles diferenciado e, infelizmente, subestimado frente a outras bandas. Uma banda que sempre teve bateristas incríveis, junto ao vocal diferenciado do Chuck Billy. O The Gathering prova isso. Lamb of God – Sacrament – outra banda que tem sua trademark. Você escuta e sabe de cara que são eles. O Chris Adler tem algumas das linhas de bateria mais inspiradas do estilo no Sacrament. Diante de tantas dificuldades, o que te inspira a continuar na música? Simplesmente poder viver do que eu gosto todo dia. Isso é um privilégio tão raro hoje em 101


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dia, mas que todos deveriam ter. Você escolheu a bateria. Quem foi o seu ‘mentor’? Apesar de ter feito aulas com alguns professores, mentor no sentido de professor presencial eu não considero que tive. Meus mentores de fato foram os bateras dos discos que eu gastei de tanto ouvir, decifrando cada levada e virada. O principal deles, sem dúvida, é o Uli Kusch. Acho que não existe uma linha de bateria dele no Helloween que eu não escute e reconheça que seja ele. Como você poderia definir a vida de um baterista? Um eterno planejamento logístico. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Só os alongamentos e aquecimentos de sempre. Para o batera é muito importante, pois toda noite é praticamente um exercício de resistência. Com o Warrel em específico, ele sempre faz questão de tomarmos uma dose e fazermos um brinde com o Whisky preferido dele antes de subirmos no palco. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? A mania clássica de todo baterista: sempre estar batucando em tudo e todos. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! Eu que agradeço pelo espaço, uma honra dividir um pouco da minha vida com vocês. Obrigado por todo apoio e continuem apoiando quem luta para fazer música séria nesse país!

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