EDITORIAL Marketing (Non) estratégico Existe algum preceito de que o símbolo principal da propaganda de uma banda precisa explorar a sensualidade das mulheres? Cd’s, vestuário, dvd’s. Qualquer mídia? Tem? Não? Que o rock/metal é majoritariamente masculino isso ninguém duvida. Mas é preciso fazer uso da exposição feminina para chamar atenção? Não era para ser o som o atrativo maior? Pra quê usar mulheres? Não é difícil achar estampadas nas capas de Cd’s, partes de mulheres, seja foto ou desenho, dentro ou fora do Brasil. Se a banda vende peças de roupas destinadas à elas, é preciso mesmo que elas estejam em pose sensual para vender o produto? Acreditamos que não! Pior é ler comentários como ‘a legging vem junto com a mulher?’. Menos, por favor! A conduta é feminista, por isso não torça o nariz. É de assustar o que se vê nos perfis das bandas. O som deve ser o atrativo real e mulher não é parte de negociata. Quer mostrar como uma roupa cai bem? Veja como os sites de
roupas vendem os seus produtos. Simples assim! Muitos criticam as capas do Manowar, porque há homens mostrando seu perfil atlético. Não que seja um alento para o público feminino ver os músculos que saltam do corpo dos modelos. Mas são uma ilusão rasteira da força do macho alfa. Os caras da banda foram criticados. Mas, quando se usa mulher pode? É vista como a ‘boa’. Convenhamos que não passa de um marketing simplista. “Mulher gostosa, vende”. Até vende, mas também afasta a galera que exige qualidade e criatividade nos produtos que consome. Vai uma sugestão marota e de graça: querem chamar atenção com a arte gráfica? Contratem um designer que consiga sintetizar a ideia do álbum. Chamem profissionais da publicidade e do marketing para discutir estratégias de venda de produtos. ‘É caro!’. Ninguém disse que seguir na música seria barato. Tudo é um investimento. Seja inteligente e não mais do mesmo, copiando as coisas ruins.
TABLE OF CONTENTS 06 - News - World Metal 10 - Lapada - Metal, estupro, crimes 18 - Entrevista - King Bird 18 - Live - The Black Dahlia Murder 24 - Live - Mute 30 - Capa - Seven Days War 42 - Live - Primavera Club 2016 48 - Especial - Return to Roots 56 - Live - Aerosmith 62 - Entrevista - Tears รถf Rage 64 - Entrevista - Lethal Storm 70 - Perfil RM - Alexandre de Orio
Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn
Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo (Espanha) Maicon Leite Raphael Arízio CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net
Novo álbum
“Walk”
O power trio de hard/heavy Pop Javali iniciou oficialmente as gravações de seu novo álbum no Busic Produções em São Paulo sob a batuta dos produtores Andria e Ivan Busic, com quem o Pop Javali vem trabalhando desde “The Game Of Fate” de 2014. Ainda sem título definido, o novo álbum de estúdio do Pop Javali será lançado no início de 2017 e trará 11 faixas inéditas. De acordo com o grupo, as novas músicas “soam mais pesadas em comparação aos trabalhos anteriores”.
A banda BrightStorm lançou recentemente o videoclipe para a música “Walk”, primeiro single extraído do seu vindouro debut álbum “Through The Gates”, a ser lançado no Brasil através da MS Metal Records. O referido vídeo foi totalmente dirigido e produzido pela empresa OverSonic Music. Em paralelo, a BrightStorm continua em estúdio produzindo o referido álbum, que contará ainda com a distribuição da Voice Music e CD-Baby. Assista ao clipe, clique AQUI.
Este mês de novembro celebra 20 anos de existência da banda de Funeral Doom Metal HellLight, um de nossos principais representantes no estilo mundo afora. Para comemorar esta data tão importante, não apenas para a banda, mas para o Metal nacional, o HellLight está preparando algumas ações durante o mês, e a primeira delas é o lançamento de sua coletânea ‘XX Years of Doom’. O compilado traz músicas de todas as fases do grupo, passando por todos os seus cinco álbuns de estúdio e está disponível para download gratuito AQUI. Um show com entrada franca na cidade de São Paulo também está sendo preparado para o dia 26 deste mês no Espaço Som. Formado em 1996, com influências de bandas como Black Sabbath, Danzig e Bathory, o HellLight vem sempre em uma crescente, atingindo cada vez um número maior de pessoas pelo mundo com sua música complexa, melancólica, pesada, com intuito de transmitir os sentimentos e emoções mais profundos da humanidade. Infos - Facebook 06
Foto: Carol Pucci
“XX Years of Doom”
Foto: Silvana Paula/Weverton de Matos
‘Music Maker Day SP’
O “Music Maker Day - SP”, que será realizado no dia 19 de novembro, das 16 às 22h, no Wild Horse Music Bar, em São Paulo, terá uma programação especial de shows com grandes nomes da guitarra. O objetivo do festival é abrir um canal de divulgação para diferentes músicos mostrarem seus trabalhos autorais a fabricantes, lojistas, apreciadores de boa música e “players” de alma. Mauricio Cailet atua como parceiro de alguns fabricantes de equipamentos musicais e auxilia no desenvolvimento de produtos. Uma das mais renomadas ‘custom shops’ do Brasil, a Music Maker, desenvolveu os modelos M2C sob as especificações técnicas de Cailet. Confira o vídeo-demonstração dos modelos, com Cailet falando sobre as especificações das M2C desenvolvidas ao lado do luthier Ivan Freitas para a linha LTD Special da Music Maker. O guitarrista fará um “Workshow” com seu trio - composto pelo baterista Johnny Moreira (Madgator) e pelo baixista João Moreira (Tiago de Moura, Edu Ardanuy) - no dia 3 de dezembro às 17h no Estúdio e Espaço Cultural Plug & Play.
Mike Orlando
divulgado vídeos
O guitarrista do Adrenaline Mob e Noturnall, Mike Orlando, vem para o Brasil para se apresentar na turnê “Eletro Acoustic Tour” com o seu projeto solo ao lado da ANIE e do cantor Gus Nascimento. O início da turnê será em São Paulo com a gravação do 1º DVD do ANIE, com participações especiais de Thiago Bianchi e Alírio Netto, personagem principal do musical “We Will Rock You”, entre outros. A gravação acontecerá no dia 19 de novembro. Para mais informações, clique AQUI.
A banda Dudé e A Máfia realizou um show na calçada da Avenida Paulista.Essa apresentação causou repercussões das mais variadas nas redes sociais. O evento foi registrado em fotos e vídeos mostrando todo o clima descontraído que envolve tocar tão próximo ao público. Os vídeos a seguir foram feitos pelo casal Bolívia e Kátia Rock, locutores da web rádio Rock Nation e fotógrafos que participam dos mais importantes eventos do Rock And Roll paulistano. Assista AQUI.
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Novo álbum O novo álbum do Higher é aguardado sob grande expectativa, uma vez que o disco de estreia do grupo continua rendendo elogios calorosos da imprensa, mesmo depois de dois anos do seu lançamento. Em artigo publicado no blog Warriors Of The Metal, o jornalista Walker Marques declarou que o Higher é uma banda de “grande qualidade musical” e chegou a compará-los ao Carcass, sendo uma grande opção para quem quer ouvir som realmente pesado “sem precisar recorrer ao metal extremo”. Outra resenha publicada recentemente pela Rumors Mag afirma que o álbum de estreia do Higher é “cheio de várias candidatas a hits” e que é “um banquete aos apreciadores do bom Metal”. Outras publicações anteriores ainda incluem declarações como: “Nove canções perfeitas” (Metal Samsara); “Surpreendente” (Portal Reidjou); “Som único” (Galeria Musical); “Pesado e criativo, difícil de rotular” (A Música Continua A Mesma) e “Indispensável” (Metal Revolution).
Novo Vídeo
“Assorted Evils”
A banda pernambucana Terra Prima publicou em sua página do Facebook a versão ao vivo de “Wheels of Time”, como parte do lançamento de “Hellcife Live”. O álbum ao vivo, filmado e gravado no festival “Abril pro Rock” em abril de 2016, está disponível no canal oficial da banda no Youtube e nas principais plataformas digitais de streaming. O link para assistir ao vídeo de ‘Wheels of Time’ clique AQUI. A banda têm dois cd’s lançados. O mais recente é o “Second”.
A banda Vorgok disponibilizou seu álbum de estréia, entitulado “Assorted Evils”, nas principais plataformas de streaming e download (Youtube, Spotify, Deezer, Cd Baby, Itunes, etc.). A iniciativa marca o lançamento oficial do álbum e antecede seu lançamento em CD físico, o qual já se encontra em pré-venda através da página da banda no facebook. Para promover o lançamento do álbum, o Vorgok disponibilizou em seu canal no youtube um clipe para a faixa “Hunger”. Acesse AQUI.
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a vergonha nossa de todos os dias
Demorei bastante para escrever este texto, pois faltava inspiração, um tema que fosse. Mas como já disse antes, parece que o povo no cenário teima em ser idiota algumas vezes, e o pior: tende a ser malfeitor, na pior concepção possível do termo! Estava cá eu, escrevendo e pensando no meu feriado de finados, quando começam a pipocar na minha timeline do Facebook dois casos distintos, mas sobre o mesmo crime: tentativa de estupro! Um foi de José Ribamar das Neves Nascimento, da banda Ave Lúficer (MA), suspeito de estuprar uma criança de 3 anos (matéria AQUI), e o vocalista do Power From Hell (SP) e Anarkhon (SP), que pelo que se fala, atacou uma jovem de 17 anos. Existe um vídeo e testemunhas. Só peço que fique claro uma coisa: não sei até onde os membros das bandas discordam ou concordam com os atos deles, logo, não estou falando delas, mas apenas dos dois sujeitos.
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Isso me levou a uma reflexão profunda e, no final, eu me senti extremamente triste e envergonhado. O motivo é simples: o Metal é um pária dentro das subculturas musicais do Brasil. Sempre foi, e pelo visto (e pelo esforço de gente assim), a tendência é piorar cada vez mais. Sim, piorar. Caso os leitores estejam questionando os motivos, lembrem-se que podemos ter 1000 atitudes boas e que ajudam as pessoas,
mas uma desse tipo mancha a todos nós, joga qualquer esforço produtivo fora, suja o nome do cenário, e pode tornar tudo mais difícil, mais amargo, espaços podem fechar as portas. Pode parecer exagero, mas sempre que algum banger faz uma besteira dessas, a repercussão tem proporções absurdas. Ou seja: todo o trabalho de pessoas que estão no cenário, suando e dando duro por anos, é jogado no lixo. Nem imagino o que pessoas assim pen-
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sam, e no fundo, nem é preciso. Estupro é crime, assédio é crime, e só não denunciam isso no Metal porque o Brasil é um país em que machismo e crime andam de mãos juntas. E a vítima não tem apoio do poder público, só quando o evento ganha proporções absurdas! Não, eu não acredito em militâncias ou algo do tipo, já que não apoio movimentos estudantis vazios de sentido. Mas isso é a prova de que o Metal, meio de tanta gente que se acha o foda, o pica das galáxias, o bam-bam-bam, é só um estilo como qualquer outro. E
Foto: Getty Images
com pessoas capazes de crimes atrozes! E não, bando de filhos de uma p*** que acham normal uma coisa dessas, ou que defendem com frases como “a história tá mal contada”, “vai saber se o cara já não catava a mina”, “acho é que ele talvez estava com essa menina e brigaram”, “parece mais cena de mina que foi comida e não aceita certas coisas e o cara foi tentar conversar... Abraçar e simplesmente gritou”, isso não é aceitável ou justificável sob hipótese alguma! E estas frases foram tiradas de apologias no Facebook, de pessoas tentando limpar a barra de um músico do qual se é fã, ou se um amigo, ou do diabo que os carregue. Só um patife criminoso pode querer inocentar outros criminosos! Repito: pelo Código Penal Brasilei-
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ro, artigo 213 (na redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009), estupro dá de 6 a 10 anos de cana, e no caso do sujeito do Power From Hell, pode dar de 8 a 12 anos de prisão por ser menor entre 14 e 18 anos de idade. E apologia a crime, pelo mesmo Código, Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940, Art. 287, também é assunto sério: “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”, e dá detenção, de três a seis meses, ou multa. Pessoalmente, me sinto muito triste. Vivo no meio a 33 anos, sempre tive a ideia de que o Metal poderia fazer as pessoas serem melhores, de desenvolver a capacidade crítica/analítica das pessoas diante da realidade. Ou seja, poderia fazer as pessoas
melhores. Mas estava errado, e muito errado: entre o fã de Metal e o do funk, pagode, axé, sertanejo, não existem diferenças. São as mesmas coisas: massa de manobra de alguns espertinhos, iguais aos fanáticos religiosos que tanto adoram desprezar e trucidar com palavras. É preciso aprender a ter respeito pela vontade alheia, respeito pelas mulheres que estão em nosso meio e gostam da mesma música que nós, homens. Em plena era em que cada vez mais fica clara a questão de como as mulheres e homens possuem os mesmos direitos e deveres, e são iguais perante a lei, já era para termos saído da inércia e passado a respeitá-las como headbangers. Quem as vê de outra forma precisa ir mesmo pro banqui-
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nho da escola, ou do analista, ou do réu em um tribunal! Se souberem de algo assim, sejam úteis: denunciem os crimes pelo telefone 180, que pertence ao Disque-Denúncia para casos de violência contra a mulher. No mais, me sinto profundamente enojado, e se tudo isso for confirmado, está mais do que na hora de separar o joio do trigo, independente se você for fã ou não, amigo ou não. Pensem se gostariam de ver suas mães, irmãs, sobrinhas e filhas sendo vítimas desse tipo de coisa, e poderão sentir um pouco do que as vítimas sentem. E em nome de todo headbanger decente, peço às famílias das vítimas e a elas desculpas... É o mínimo que podemos fazer!
Por Alexandre Afonso Fotos: Pati Patah
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cenário brasileiro é um caso sério. Todo dia conhecemos algo novo e aqui trazemos o King Bird. Não tão novo assim, mas que para você seja e nada impede de conhecer. Por que não? Conversamos com o baterista Marcelo Ladwig sobre muitas coisas: cd, banda, influência. De tudo um pouco. Confira agora! Como foi formada a banda, e o nome da banda? De onde se originou? 14
Bem, o Silvio Lopes conhece essa história melhor que eu rsrsrs... Mas diz a lenda que na época da banda Sunflower, meio que uma pré King Bird. Um brother ia criar um selo com o nome King Bird pra lançar o primeiro álbum da Sunflower. O lançamento na época não aconteceu. A banda King Bird nasceu a partir de membros remanescentes da Sunflower, aí marcaram um show, mas a banda ainda não tinha nome. Resolveram então usar o nome porque acharam que era legal, que tinha a ver
com a força e a liberdade do rock’n’roll e claro, estavam bêbados (risos). Recentemente houve uma reformulação na banda, um novo vocalista entrou na cena. Conte-nos como isso ocorreu? Quando o João resolveu seguir outro caminho ficou uma certeza e uma incógnita: a certeza foi que seguiríamos em frente, e a incógnita foi “com quem”? Fizemos uma pequena lista de possíveis candidatos e o primeiro a ser cogitado foi o Ton. Por coincidência ele havia entra15
do em contato com o Silvio dias antes perguntando quando a King Bird iria se apresentar porque ele gostava do nosso trabalho e queria nos ver ao vivo. Resultado: ele viu de cima do palco (risos). Em relação ao primeiro álbum, “Jaywalker” e o segundo “Sunshine”, o que o novo álbum traz de diferente na sonoridade da banda? “Got Newz” segue na mesma proposta de “Jay-
walker”, rock com pé nos anos 70, porém há um intervalo de 10 anos entre eles e 3 membros diferentes, já que eu, Fábio e Ton não participamos das gravações do “Jaywalker”. Com influências diversas, naturalmente há um pouco de modernidade na sonoridade da King Bird. No “Got Newz” procuramos um som mais “orgânico” do que foi nos trabalhos anteriores. E ficamos plenamente satisfeitos com o resultado. Como vem sendo a aceitação do disco, desde o lançamento? Além do que esperávamos. Todas as resenhas até aqui foram muito positivas. Claro que te16
mos muito otimismo e acreditamos nesse álbum, mas em tempos de download é difícil um álbum vender bem logo de cara, e ele tem vendido muito bem, inclusive ficando entre os 5 mais vendidos na Galeria do Rock. Acreditamos ainda que com a frequência de shows essa aceitação venha a ser maior. O que mais influencia na sonoridade da banda? São as músicas e bandas que ouvimos. Cada um tem uma predileção, uma banda ou estilo que mais curte, mas todos têm o rock’n roll dos anos 70/80 como gosto em comum. Não ficamos restritos a isso, claro, mas Led, Sabbath,
Dio, Grand Funk, Free são bandas que todos nós gostamos. Uns gostam de Pink Floyd, outros de Black Label Society... Eu curto muito bandas de thrash metal e hardcore. Mas felizmente não temos problemas com nossos gostos na hora de trabalhar pelo King Bird, afinal o rock é o nosso estilo de vida.
Paulo aconteceu em setembro, no Sesc Belenzinho. Apresentações fora do Brasil são sempre especuladas. Obviamente que temos esse desejo, mas tudo depende de muitos contatos e interesses. Nossa expectativa é que esse álbum nos proporcione isso também, já que ele já está atravessando fronteiras.
E os shows, como esta sendo organizados, haverá apresentação fora do Brasil, vocês especulam algo neste sentido? Os shows estão começando agora. Já fizemos o primeiro desse novo álbum e foi maravilhoso. Temos várias datas pra divulgar ainda, e o show de lançamento oficial do álbum em São
Obrigado pela entrevista. Sucesso e deixe aqui o recado para nossos leitores. Nós que agradecemos à Rock Meeting pela oportunidade. E contem sempre com a King Bird. Esperamos todos os amigos nos próximos shows pra pagar a cerveja (risos).
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Texto e fotos: Marta Ayora
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banda norte-americana The Black Dahlia Murder, um dos nomes mais importantes do Melodic Death Metal, subiu ao palco do Clash Club em SP no último sábado 22/10, em uma turnê para promover o seu sétimo álbum, “Abysmal”, lançado este ano. Trevor Strnad (vocal), Brian Eschbach e Brandon Ellis (guitarra), Max Lavelle (baixo) e Alan Cassidy (bateria), interagiram com um público durante todo o show, que durou pouco menos de duas horas. A banda que conta com uma carreira de 15 anos e com sete álbuns lançados, tendo os últimos seis alcançado a Billboard 200 nos Estados Unidos ganharam totalmente a plateia que permaneceu agitada do início ao fim. Entre uma música e outra, Trevor Strnad “orquestrava” a plateia que vibrava enlouquecida cantando todas as músicas entre vários moshes e enérgicas rodas de dança, enquanto a banda deitava o cabelo em um death metal clássico de tirar o fôlego. O mais novo integrante da banda Brandon Ellis surpreendeu pela desenvoltura na guitarra, enquanto o baterista Alan Cassidy apresentou uma admirável velocidade. Por fim, a plateia incansável pede bis e recebe “Everything Went Black”, “Deathmask Divine” e “I Will Return”.
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Foi um show intenso, e sem dúvida, os americanos se envolveram com a energia do público brasileiro e retribuíram à altura. Set list do show: What a Horrible Night to Have a Curse Statutory Ape Abysmal Nocturnal Malenchantments of the Necrosphere Vlad, Son of the Dragon Receipt Warborn Threat Level No. 3 Contagion Unhallowed / Funeral Thirst Miasma On Stirring Seas of Salted Blood Bis: Everything Went Black Deathmask Divine I Will Return A abertura do show ficou a cargo de duas bandas de alto nível vindas do Rio de Janeiro, que fizeram a diferença no palco. A banda Siriun apresentou um som voltado para o thrash/ death metal tradicional, com a voz marcada de Alexandre Castellan em “In Chaos We Trust”, que mistura peso, agressividade, rapidez e passagens acústicas sombrias com letras de temas filosóficos, sociais e espirituais deixaram a plateia hipnotizada. Seguido pela banda Reckoning Hour, que mostrou um som de peso e melodia com muita energia e atitude que deixou a plateia aquecida para receber a atração principal da noite. Confira as fotos do show na nossa página no Facebook 22
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Mute
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Sala Rocksound, Barcelona. 25/10/2016 Texto e fotos: Mauricio Melo
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oites felizes! Definimos assim as noites de punk rock melódico em Barcelona. Uma noite com três bandas de estilos distintos uma das outras porém com o foco principal no punk rock do Mute. Pela primeira vez em Barcelona, o quinteto Landscapes tiveram a “difícil” missão de esquentar o público. Colocamos entre aspas porque o público, responsável pela plaquinha de sold out colada na entrada, chegou bastante cedo à espera de uma boa apresentação dos americanos e não se decepcionou.
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Quem também pisou no palco com um show avassalador e marcante foi o Sights and Sounds, banda paralela de Andrew Neufeld, atual vocalista do Comeback Kid, tendo iniciado suas atividades na banda como guitarrista. No Sights and Sounds, Andrew acumula as duas funções até mesmo porque a intensidade das apresentações não é a mesma. O Sights possui um som muito mais elaborado, com um tecladista criando umas atmosferas únicas nas músicas, Adrian Mottram com um leque de riffs nas guitarra junto a Andrew. Não foi a pri-
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meira vez que o também quinteto pisou em Barcelona e não foi difícil encontrar na linha de frente do palco, fãs com as letras na ponta da língua. Mas nada se compara ao que proporcionou os também canadenses (Quebec) do Mute. Que o público iria a loucura já era esperado, por tudo o que envolvia a noite como ingressos esgotados, intensidade das músicas, mas não se esperava tanto. Tanto banda como público e organizadores classificaram a noite como memorável e de longe a melhor da turnê até aquele momento e que dificilmente será superada. Apesar de terem tocado muitas músicas do recém lançado “Remember Death”, aquele tradicional espaço no setlist para os clássicos não faltou. Braços para o alto, stage dives, muito gogó e folego para aguentar até o final. 28
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Por Maicon Leite Fotos: Banda/Divulgação
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mbora seja uma banda relativamente nova, o Seven Days War, de Canoas, Rio Grande do Sul, tem em suas fileiras músicos já tarimbados do Metal gaúcho, mas com uma vontade imensa de continuar criando material novo e com uma proposta diferente do habitual, valendo-se de elementos mais contemporâneos para seu Heavy Metal, livre de rótulos. Jorge Santana (vocal), Guilherme Cunha (guitarra), Igor Casenote (guitarra, backing vocal), Josué Monteiro (baixo) e Juliano Santana (bateria) estão divulgando o recém lançado EP “A New Beginning”, que representa muita bem esta nova etapa em suas carreiras. Conversamos com a banda no início de novembro, discorrendo sobre assuntos que envolvem sua sonoridade, marketing e opinião sobre os rumos do som pesado. Confira! O Seven Days War é uma banda nova, mas vocês tem um background muito forte, tendo participado de diversas bandas desde as décadas de 1980 e 1990. Como foi chegar até o momento atual, com a criação deste novo capítulo em suas carreiras? Juliano: Acho que cada um teve um “porquê” que motivou o retorno para montarmos o Seven. Porém, de fato, o que todos queriam era aproveitar essa experiência para que as novas composições refletissem a nossa essência, mas buscando ao máximo uma sonoridade mais atual e mais abrangente. Acho que ain32
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da estamos buscando essa sonoridade. Apesar de nossas músicas terem muitas influências, acreditamos que o Seven Days War tem criado uma sonoridade própria. Para se ter uma ideia, temos trabalhado muito dentro do estúdio, testando bases, linhas de voz, bateria, descartando alguns materiais, reescrevendo outros. Queremos cada vez mais ter nossa própria identidade e atingir um público maior. Jorge - Existe também uma vontade consciente de romper com certos padrões do passado. Devemos muito à nossa escola original, respeitamos tudo que vivemos no passado, mas queremos fortemente criar algo diferente do que já foi feito. Fazendo um comparativo entre o que vocês vivenciaram neste período, e o que estão vivenciando agora, quais seriam as maiores diferenças? A experiência adquirida ao longo dos anos ensinou vocês a ser mais seletivos com algumas escolhas? Juliano: Sem dúvida. A experiência não só na música, mas como indivíduos, nos permite sabermos hoje o melhor caminho a seguir e termos mais clareza onde queremos chegar. Estamos tomando o máximo de cuidado possível (afinal somos 5 guerreiros que lutam 7 dias por semana, como todos lá fora) para que as coisas sejam feitas com o nível de qualidade que queremos e com o direcionamento correto dentro do conceito que foi desenvolvido para a banda. No âmbito de planejamento, encaramos a banda como uma empresa, onde temos um produto que requer toda uma área administrativa, marketing, merchandising, etc. Ainda estamos testando algumas coisas e aprendendo, mas, por exemplo, as camisas que fizemos, elas buscam ser mais criativas, fugindo do estilo Metal tradicional. 34
O EP “A New Beginning” reflete muito bem este recomeço. No release, o grupo se propõe a fazer uma guerra através da música. De onde surgiu este conceito dos “sete dias de guerra”? Igor: A ideia do nome surgiu na tentativa de representar nosso momento pessoal para além da banda: apesar de termos outras atividades que são nosso ganha pão, sempre reverenciamos a música pesada; e nessa jornada do dia a dia abrimos mão de muitas coisas e demos prioridades à outras, por imposição ou necessidade: a maior guerra é aquela que travamos com nós mesmos, sete dias por semana. Foi desse conflito interno que surgiu o nome da banda. Juliano: Estávamos buscando algo que refletisse a nós mesmos e ao conceito que foi traçado para a banda. Não queríamos algo que nos rotulasse ao Metal tradicional, apesar das músicas pesadas e dos bumbos duplos. As temáticas das letras também sofreram alterações se comparadas com nossos trabalhos anteriores. Temos um grito de guerra contra a repressão como em “M.I.A”, mas também temos outros temas que gostamos e são do nosso dia a dia, como o serial-killer retratado em “Blood On Canvas” (inspirado em filmes como “Silêncio dos Inocentes” e o seriado “Dexter”). Seven Days War foi o resumo da influência de toda essa atmosfera que buscamos, da construção de um conceito, representando o que somos ou queríamos ser 24h por dia. Acreditamos que muitas pessoas também se identificam com esse conceito dos “sete dias de guerra”. Produzido por Renato Osório, guitarrista do Hibria, “A New Beginning” levou cerca de três anos para ver a luz do dia, após muitos ensaios e com apenas com uma mudança na formação. O resultado final ficou como o esperado? 35
Juliano: Ficamos muito felizes com o resultado final. Primeiramente fizemos um trabalho de pré-produção com o Everton Acosta (Distraught) que iniciou a banda conosco. Ele nos ajudou a aparar algumas arestas e fortaleceu as composições antes de irmos para o estúdio. Já o trabalho com o Renato foi fantástico. Ele é um excelente produtor e como pessoa é simplesmente nota 10. A gente teve uma sintonia muito bacana com ele, o que fez o trabalho fluir e fortaleceu o resultado. Ele entendeu exatamente o que queríamos e conseguiu extrair o melhor de todos. Ajudou muito em diversos pontos, desde a composição da bateria até os vocais. A qualidade da gravação e a sonoridade têm muito da mão do Renato e da mixagem feita pelo Benhur Lima. É claro que 36
isso aumenta nossa responsabilidade na execução ao vivo e nas novas composições, já em andamento, tanto quanto numa gravação ainda melhor que a do “A New Beginning”. Essa é nossa expectativa para o próximo ano. A sonoridade das cinco faixas mostra-se pesada, dinâmica e empolgante. Embora englobem vários elementos em sua estrutura, nota-se uma preocupação em soar o mais original possível. Como foi trabalhar no processo de composição e conseguir reunir todas as ideias e influências de cada integrante? Juliano: Esse é um dos maiores desafios. O processo levou cerca de três anos porque até acharmos o caminho que queríamos foi mui-
to difícil, e ainda é, já que continuamos trabalhando no processo de composição das novas músicas. Chegamos a “jogar fora” músicas inteiras por acharmos que não carregavam a roupagem mais moderna e acessível que buscamos. Esse equilíbrio do som, que tenha nossas raízes, influências (que são diversas), que soe coeso, abrangente e original tem sido nossa busca constante. Cada um “tempera” as músicas com sua forma de tocar e influências. Igor: Eu acho que essa busca pela originalidade tem muita relação com nossas referências individuais: sem exagero, o ouvinte mais atento poderá ouvir influências desde o Hard Rock até o Black Metal, em passagens sutis, muitas vezes. Não somos músicos técnicos, então precisamos compensar criatividade e 37
inventividade. Um exemplo dessa postura é o uso de teclados e coros, um grande receio nosso no início das composições, mas que elevou a dramaticidade de “Tearing the Skies” e “Dark Sunrise” no nível que as temáticas das duas demandavam. Estamos muito empolgados com a próxima leva de composições, pois essa postura vai ser ainda mais perceptível. Juliano: O que facilita todo esse processo é o grau de maturidade e amizade que temos: as opiniões, principalmente as divergentes, e não aceitarmos o lugar comum é que têm nos levado a esse caminho. Se não tivéssemos essa maturidade e o mesmo objetivo de fazermos algo diferente seria fácil a banda não conseguir consolidar as ideias e compor as músicas, tamanha diversidade. Porém, tudo que se quer
fazer o melhor, o caminho é mais árduo. Essa é a convicção que temos, que nos mantém unidos e que resulta no trabalho do Seven Days War. Um dos diferenciais da banda até agora tem sido os locais onde vocês tem tocado. O primeiro show ocorreu em uma espécie evento que reuniu skate e gastronomia, e logo depois tocaram em uma barbearia. Este é o futuro, desbravar novos locais, não tão acostumados ao som pesado? Como tem sido a receptividade? Igor: O que tem sido intencional é fazer as 38
coisas de um jeito diferente. Ou pelo menos tentar. Claro que esse tipo de atitude muitas vezes exige recursos que não temos sobrando, como tempo e dinheiro, mas desde o início buscamos experimentar estratégias novas. Sobre esses dois shows, podemos dizer que a oportunidade de tocar em locais inusitados foi excelente. No dia seguinte ao evento de skate tivemos 20 assinaturas extras no Spotify. Como era um evento aberto, muita gente que ficou curiosa com o som que vazou para a rua entrou no lugar para ver quem era. Acho que o lugar nos possibilitou atingir pessoas que por iniciativa própria não teriam ido assistir a banda.
cio desconsideramos lançar o EP em formato CD, pois em outras bandas não tivemos boas experiências com o processo de registro, prensagem, e tudo mais que envolve esse tipo de mídia. Além disso, hoje há dispositivos que sequer contam com o drive de CD ou DVD, então essa iniciativa de lançamento apenas em formato digital também mostra uma banda atenta ao comportamento médio do consumidor de música. Há artistas que já mostram intenção em ir além, fazendo lançamento de músicas individuais ao invés de álbuns completos, então creio que o Seven Days War tomou uma decisão acertada.
Em tempos de streaming, “A New Beginning” só foi lançado no formato virtual, primeiro sendo disponibilizado no site da banda e depois em plataformas como o Spotify e Soundcloud. Pretendem manter somente na web ou acham que vale a pena lançar algo físico para os colecionadores? Igor: Neste exato momento estamos finalizando um box para a imprensa, que se encarregará de apresentar a banda e nossa música para a mídia especializada no Brasil e no exterior. Se conseguirmos uma boa procura pelo material, é possível que o lancemos para o público em geral. De qualquer forma, desde o iní39
Seguindo os passos de diversas bandas, foi lançada a cerveja “Dark Sunrise”, nome de uma das faixas do EP. O que mais podemos esperar em termos de merchandising e produtos relacionados à banda? Igor: Temos um químico e aprendiz de mestre cervejeiro na banda, que é o Guilherme (guitarra), o que facilitou a execução dessa cerveja. Como o processo é bastante artesanal, de fato, ainda não conseguimos finalizar a colocação da cerveja no mercado, mas já provamos e a cerveja é digna da banda. Bem, sobre merchandising, nossa principal barreira é o investimento financeiro. Como temos relativamente pouco material audiovisual, sempre ponderamos se vale mais à pena ter um bom estoque de merchandising, nesse caso, ou investir no lançamento de um novo EP em 2017, já que temos mais dez músicas em pré-produzidas em casa. Nossa ideia é investir sim em merchandising, quem sabe em produtos no nível do Mastodon, por exemplo, mas hoje nosso recurso é bastante controlado nesse sentido. Embora o EP tenha sido lançado há pouco tempo, os ponteiros do relógio cor-
rem... Vocês já nos disseram que estão trabalhando em novas composições, mas no que se diz respeito ao lançamento deste material, quais os planos daqui pra frente? Igor: Hoje o foco está em aumentar nossa agenda de shows. Estamos preparando o envio do já comentado material de mídia para São Paulo e outras capitais. Em paralelo, estamos lapidando as novas músicas em estúdio, já tentando enxergar aquelas que possuem mais potencial para levar a banda ao próximo nível. São músicas mais complexas que aquelas do “A New Beginning”, com algumas passagens experimentais, mas ainda com o nossa DNA. Nosso objetivo é iniciar 2017 fazendo os trabalhos iniciais com um produtor, ainda a ser definido, para já chegar no estúdio com linhas vocais, arranjos, efeitos e tudo o mais acerta40
do, para aí iniciar a gravação. Muito obrigado pelo papo! Por favor, deixem um recado para os leitores da Rock Meeting, que certamente estarão com vocês nesta guerra. Igor: O Seven Days War agradece a Rock Meeting pelo inestimável espaço na disseminação do nosso discurso. Aproveitamos para convidar os leitores a nos seguir no Spotify e nas demais redes sociais. Sempre estamos pensando em ações e promoções para os amigos da banda, então é importante ficar ligado no que estamos fazendo pela internet. Um grande abraço ao incansável público do Rock e do Metal brasileiro. Contatos: Site oficial | Facebook | Soundcloud | Spotify
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Minor Victories
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Lucy Dacus
Local: Sala Apolo 1 & 2 – Barcelona Datas: 21, 22 & 23 de Outubro, 2016 Texto e Fotos: Mauricio Melo
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omo de hábito, o irmão caçula do Primavera Sound visitou Barcelona por um ano mais. Uma visita que foi interrompida por um par de anos até que o festival, ou mini-festival, como queiram chamar, retornasse às suas origens, tendo como objetivo principal apresentar novos nomes, trazer em primeira mão e com exclusividade as primeiras apresentações destes nomes em continente europeu. Foi neste clima de novidades que fizemos o reconhecimento do terreno com Boys Forever, banda de Patrick Doyle, um antigo conhecido do público local e seguidores do festival. Patrick foi integrante da banda Veronica Falls e também teve um projeto com um dos integrantes do Franz Ferdinand. Sua música encaixa perfeitamente no perfil e na proposta do festival, temas fáceis de escutar como “Underground” e “Voice in My Head”. Quem também estreou território, e teve um massivo público na sala principal do Apolo, foi a cantora Lucy Dacus, considerada a nova voz do rock americano e ao que tudo indica está a ponto de entrar na faixa expressa. Sua voz forte e riffs pegajosos como “I Don’t Wanna Be Funny Anymore” já está na ponta da língua de muita gente, não foi difícil encontrar próximo do palco, pessoas cantando as letras como se um hit mundial se tratasse. Igualmente vindo dos Estados Unido e mais precisamente de Nova Iorque, o Public Access 44
Minor Victories
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Public Access T.V
Boys Forever
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Boys Forever
Public Access T.V
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T.V. também deixou boa impressão com seu indie rock bastante básico, quase punk. Direto da Nova Zelândia conferimos Yumi Zouma em seu último show da turnê europeia. Um quarteto eletro-pop onde seus integrantes, com exceção da vocalista, trocam e destrocam instrumentos a cada música apresentada, não fez nossa cabeça, mas vale o registro. Em nossa jornada final, nos aproximamos da Sala 2 e conferimos os holandeses do PAUW, um quarteto com pinta e som psicodélico. Não tivemos tempo de nos aprofundarmos no som da banda já que tínhamos que guardar lugar na sala principal para a banda mais esperada do evento, Minor Victories. O motivo de tanta badalação? A banda conta com integrantes como Justin Lockey do Editors no baixo, Rachel Goswell do Slowdive nos vocais e o gênio Stuart Braithwaite do Mogwai na guitarra. Uma formação dessas para os seguidores do Primavera é considerado mais do que um dream team. O som da banda tem uma proposta bem clara, misturar elementos das bandas mencionadas acima e se limitaram a tocar as dez músicas que figuram em seu único, recém lançado e auto intitulado disco. Destaque absoluto para “Give Up The Ghost” e os efeitos que Stuart colocou em sua guitarra, fez a sala levitar. O festival cumpriu com seu objetivo e o mais importante foi a adesão do público, a fome de devorar o desconhecido ainda que este seja previsível. Salas cheias, olhos e ouvidos bem atentos em bandas que, em breve, podem estar figurando como principais nomes dos grandes festivais
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Local: Sala Razzmatazz, Barcelona Data: 08 de Novembro de 2016 Texto e Fotos: Mauricio Melo
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os orgulhece poder antecipar ao público brasileiro o que os fãs irão encontrar dentro de um mês, quando então os irmãos Cavalera estiverem tocando na íntegra o disco de maior projeção daquela que um dia foi sua banda de origem, o Sepultura e o disco em questão, o Roots, ainda que este não seja o disco favorito de muitos fãs tanto no Brasil quanto aqui na Espanha. Lembro claramente de quando o mesmo foi lançado que, tanto críticos especializados quanto críticos de botecos, chegaram finalmente a um acordo e opinaram que metade do disco era nosso Sepultura de sempre e outra metade era para os intelectuais estrangeiros. Aquela batucada, berimbau e tal foram interessantes, mas nem tanto, pelo menos para os milhares de brasileiros acostumados com o som dos típicos instrumentos. Muito pelo contrario, na época teve gente (mais radical) torcendo o nariz para tal mistura. Porém, para o gringo que nem sabia que capoeira existia, aquele som foi dominador e misturado com o Thrash Metal nem se fala. Para um povo sem jogo de cintura como o europeu, aquilo foi o máximo. Por falar neles, é impressionante como são exigentes. Pagam para ver e terem autoridade de sair resmungando pelos cantos e de lá mesmo, dos cantos (da sala Razzmatazz), encostados nos bares, havia muita gente reclamando, dizendo que não era o mesmo ver Max e Iggor tocando o álbum do que ver o Se-
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pultura. Porra! É lógico que não é o mesmo e nem será, mas já é algo levando em consideração que há uma década, tal encontro entre os irmãos seria inimaginável. Já a grande maioria, concentrada na faixa central da pista deixou a felicidade tomar conta, bebeu, pulou, gritou, atendeu aos pedidos do Max para fazer moshpit e isso ele sabe comandar como poucos. Destacando que, mesmo antes do show principal, durante todo o show de abertura do Crisix e no intervalo entre os mesmos, pequenas rodas de pogo foram abertas por pura diversão, curtição top. O quarteto, com os mesmo integrantes do Cavalera Conspiracy, foi bem pontual. Ao pisar no palco Max recebeu a ovação calorosa da sala Razzmatazz. Um rápido agradecimento e “Roots Blood Roots” deu o tom da festa. É neste momento que compreendemos a importância que o Sepultura teve no metal mundial principalmente no período entre Beneath the Ramains e o disco em questão. Sabíamos da importância, mas não é o mesmo saber por revistas e vídeos do que vivenciar a experiência, ainda que a atual também não seja o Sepultura e, principalmente, a época dos acontecimentos. É como o próprio Max declarou que é o mais próximo que eles podem chegar de uma possível reunião até o momento. Tocando um disco na íntegra é dispensável relatar a ordem do setlist, mas podemos sim destacar o efeito que “Attitude” teve sobre o público. Foi insano ainda mais para nós fotógrafos por estarmos atrincheirados entre a galera e a banda na minúscula barricada da Razzmatazz, o mesmo podemos dizer em “Cut-Throat”. Outra que merece menção especial é “Breed Apart”, com muito mais peso que no disco. Igor continua um monstro na bateria, aquela pegada firme e inconfundível, suas baquetas por momentos parecem a Lucille que o personagem Negan utiliza para esmagar crâ53
neos na mais famosa série sobre zumbis da televisão. Poderíamos também economizar comentários para Marc Rizzo, mas o guitarrista é impecável como sempre, seus riffs, solos e postura no palco não dão espaços para críticas negativas. O baixista Chow, que apareceu caladão no CC há alguns anos, continua caladão, mas leva as quatro cordas com firmeza e estilo. Deram o álbum por encerrado com “Dictatorshit”, porém tocaram o cover “Procreation (of the Wicked)” do Celtic Frost, que também figura no disco no bis e incluíram dois covers a mais. Uma versão pra lá de punk-har54
dcore de “Polícia” (Titãs) que além de mais rápida do que a gravada na época, foi tocada somente por Max e Iggor, sem a presença de Marc Rizzo e Johny Chow, uma versão crua, porradona e nervosa. De volta como quarteto ainda tocaram “Ace of Spades” e uma versão quase grindcore de “Roots Blood Roots” para finalizarem a noite. Sinceramente, não podemos pedir mais a estas alturas do campeonato. É garantir o ingresso e correr para o abraço. Roots!
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Por Charley Gima Foto: Flavio Hopp
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Aerosmith fez um show memorável no Allianz Parque, em São Paulo, neste sábado 15/10. Ao final, era nítida a sensação de felicidade dos mais de 45 mil fãs do Aerosmith que foram ao show de São Paulo. Com um set recheado de hits, o Aerosmith já entra no palco com o jogo ganho, sendo o principal empecilho deSteven Tyler e cia a escolha dasmúsicas do show de São Paulo, já que vários hits do Aerosmith ficam de fora do show, para desespero dos fãs. Mas o Aerosmith entrou no palco decidido a desfilar suas obras primas, e boa parte do set do show de São Paulo foi composto por músicas dos anos 70 e 80. De mais recente somente as baladas radiofônicas que não podem ficar de fora. Desta maneira, para alegria dos mais velhos e saudosistas do Aerosmith, ouvimos no show de São Paulo “Draw The Line”, “Kings and Queens”, “Rag Doll” e os covers “Stop Messin´Around” e “Come Together”. Tivemos também a execução de um bom Rock N´Rollcom as músicas “Love in An Elevator”, “Eat The Rich”, “Livin´On The Edge”, “Dude (Looks Like a Lady)” e “Walk This Way”.
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As fãs mais novas e as apaixonadas devem estar se perguntando, “ah, mas e as baladas?” Não fique triste, as baladas do Aerosmithtambém fizeram parte do show de São Paulo, com “Cryin´”, “Crazy”, “Pink” e “I Don´t Wanna Miss A Thing”, que fez o estádio inteiro berrar o refrão! Agora o Aerosmith mostrou ser uma banda muito clássica e madura ao deixar para o bis “Dream On” e “Sweet Emotion”, dois petardos que não podem faltar nos shows dos bad boys de Boston e que encerraram a festa dos fãs e da banda, que agradeceu aos presen60
tes após uma chuva de papel. Os fãs mais críticos do Aerosmith irão reclamar que a guitarra de Joe Perry estava muito baixa, que por vezes o backing vocal estava mais alto que Steven Tyler e que faltaram hits como Toys in The Attic, Janie´s Got a Gun, Train Kept Rolling, Mama Kin, What It Takes e Jaded, entre outros. Sim, tudo isto é verdade, mas que o Aerosmith fez um belo show nesta noite de sábado em São Paulo, isso nem o mais crítico dos fãs pode negar! Parabéns a Steven Tyler, Joe Perry e toda a trupe do Aerosmith!
Por Gabriele Moura Fotos: Banda/Divulgação
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banda gaúcha Tears Of Rage é oriunda da cidade serrana Caxias do Sul, apresenta um Heavy Metal Tradicional com elementos diferenciados que acabam dando um destaque especial para a banda. A banda também está em processo de divulgação de seu álbum de estúdio lançado em dezembro de 2015. Confira entrevista que fiz com a banda que fala sobre seu álbum, ideologia e muito mais. A Tears öf Rage lançou no final de 2015 seu álbum de estreia. Desde o lançamento do disco o que mudou? Vocês sentiram que a banda passou a ser mais 62
respeitada e tida como mais profissional? Desde o lançamento do disco, a banda começou a ser tratada de forma mais profissional e adquiriu mais respeito por parte das outras bandas, blogs, ouvintes. Com certeza foi um passo maior rumo ao profissionalismo. São oito faixas que integram o “Tears Öf Rage”, nelas podemos notar a execução de um Heavy Metal tradicional com características diferenciadas que acabam trazendo certa qualidade especial para a banda. Quais as inspirações e influências para compor o disco? No que tange
tante complexas, nota-se que a banda não se deixou influenciar pela política conturbada de nosso país, que muitas vezes se torna tema e fonte de inspiração para as bandas. Vocês acreditam que a música tenha força suficiente para motivar as pessoas a buscarem condições de vida melhores e mais favoráveis? A música pode influenciar as pessoas de modo revolucionário? Com certeza a música interfere nesse processo, mas acho que de modo mais inconsciente, atuando no fundo do cenário enquanto a busca de alguém pelo que deseja vai evoluindo. Creio que a música não deve influenciar diretamente a algo, só provocar a reflexão, causar um movimento nos pensamentos.
às letras e o instrumental. As músicas para esse álbum foram compostas ao longo de cinco anos. Tivemos diversas influências, mas as mais fortes, principalmente reconhecível às vezes nas guitarras e vocais, são Iron Maiden e Judas Priest. No processo de composição acabou entrando algo dessas influências nos instrumentais. Quanto às letras, todas foram escritas com base na mente humana e sua complexidade, e os comportamentos que surgem diferentes em cada ser, tudo escrito utilizando metáforas em algumas partes. As letras que compõe o álbum são bas63
É de conhecimento geral que a cena do metal nacional está cada vez mais difícil. Sobreviver somente de música é uma atividade para poucos. Como a banda vê e enfrenta a desvalorização do metal no país? Realmente, fácil não é, mas também não é impossível. Por enquanto, o único que está tentando se manter só de música na banda sou eu, dando aulas, oficinas de música em serviços de saúde mental e tocando. Mas todos temos mais de uma atividade profissional, pois não é viável ainda arriscar viver só pela música. É uma questão que envolve ‘N’ pontos, como economia, cultura, até mesmo segurança pública, que é o motivo de muita gente não sair de casa para ir ver os shows. Estamos enfrentando do jeito que conseguimos, batalhando para divulgar a banda, conseguir bons contratos e etc. Outro problema que é nítido no metal é a falta de público em shows. Está cada vez mais difícil tirar as pessoas de casa, pois muitos optam por ouvir e ver a ban-
da online. A tecnologia pode ser um dos fatores que levaram essa diminuição do público? Vocês sentem que na cena de Caxias do Sul o público se acomodou? Não creio que seja só a tecnologia fez isso, na verdade ela ajuda muito mais do que atrapalha. Aqui em Caxias do Sul sinto que é mais culpa de outras questões, como má organização dos eventos, falta de segurança no retorno para casa, falta de bons lugares para a realização dos shows e até mesmo o desinteresse das pessoas em sair de casa por qualquer motivo que não sejam esses. Os fãs de metal mais antigos já têm outra rotina, e os novos preferem fazer baderna muitas vezes do que entrar nos locais e assistir aos shows. Todas as bandas possuem metas e sonhos. Quais as metas e sonhos da Tears Öf Rage? Nossas principais metas são alcançar uma projeção maior nacionalmente e internacionalmente e continuar gravando álbuns, e no futuro ver a gurizada 40 anos mais novos fazendo cover das nossas músicas e executando melhor que nós. (risos) 64
O nome da banda de vocês é bastante forte. De onde surgiu a ideia para nomear a banda? Qual a sua ideologia? Procuramos diversas combinações, ideias, mas nada parecia encaixar. Desde o começo minha ideia era algo que mostrasse duas coisas opostas, mas que de alguma forma se complementam. No meio da busca estava ouvindo um álbum do Primal Fear, que é uma banda que gosto muito, e estava na faixa chamada Tears Öf Rage. Achei perfeito para a proposta e combinou com o que eu queria, então ficou esse nome. Para finalizar agradeço pela entrevista, e gostaria de pedir para que deixem um conselho para músicos em início de carreira. Obrigada! Nós que agradecemos pela oportunidade! Um conselho que deixo para músicos no início de carreira é para que façam um trabalho honesto, ouça as críticas com tanta ou mais atenção que os elogios e nunca se dê por satisfeito com a sua técnica, sempre estude e busque evoluir mais.
Por Raphael Arízio Fotos: Banda/Divulgação
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ão Paulo sempre foi um grande revelador de grandes bandas no cenário da música pesada e o Lethal Storm não deixa dúvidas sobre isso. Essa banda de Campinas vem preparando o terreno para o seu primeiro disco “Manipulated Mind”. Recentemente lançou um lyric video para a faixa “Violence” e vêm recebendo um grande destaque no underground. Conversei com Haroldo Sanchez (baixo) e Douglas Mota (vocal) sobre o lançamento do seu primeiro full e algumas curiosidades sobre a gravação e clipes. A banda divulgou algumas fotos de seu próximo clipe para a faixa “Chemical Slave”. O clipe já tem data para lança66
mento? O que a banda pode dizer sobre ele? Douglas – “Chemical Slaves” retrata uma pessoa que teve um grande trauma na infância que ainda afeta até os dias de hoje. A pessoa se tornou um adicto e vive apenas em prol de drogas e curtição! Ainda não estipulamos uma data para o lançamento do clipe, pois estamos empenhados no lançamento do CD! Sanchez - O clipe, como todos os outros da banda, é totalmente produzido pelos integrantes da banda, e neste temos a intenção de demonstrar como seria a vida de uma pessoa viciada em drogas que no passado sofreu uma grande perda.
acrescentaram ao som? E por que a decisão de também participar da produção? Sanchez - Bom, quando entramos em estúdio a banda já tinha em mente o que queria. Já estávamos trabalhando há muito tempo nesse material, então a participação do Guilherme e do Yuri foi mais dando suporte técnico e nós ouvimos alguns conselhos deles e o resultado, em minha opinião, foi melhor do que imaginávamos. Douglas - Primeiramente só tenho a agradecer ao Guilherme, pois é um ‘puta’ de um produtor e me auxiliou com muito profissionalismo com ideias para agregar aos vocais! E recomendo o estúdio para todos que queiram um trabalho de qualidade. Os caras mandam muito bem!
O Lethal Storm está para lançar seu primeiro disco intitulado “Manipulated Mind”. Quais são as expectativas da banda para esse play? O que esperam alcançar com esse disco? Douglas - Com esse título esperamos alcançar não apenas um público específico na área do metal, mas o máximo de público possível, assim vai nos possibilitar a percepção da grande diversidade de influencias músicas agregadas a todas as músicas do CD, deixando assim nenhuma música parecida com a outra. O disco foi produzido por Guilherme Malosso e Yuri Camargo, juntamente com a banda. O que esses produtores 67
Foi lançado um lyric video para a faixa “Violence” recentemente. Qual foi a resposta para esse lançamento? Estava dentro das expectativas da banda? Douglas - O retorno que estamos tendo com o lyric video são muito bons, ainda mais por conta da “Violence” ser um dos primeiros sons gravados pela banda juntamente com a “Disorder”. Recebemos muitos elogios pela forma que reformulamos a música! Sanchez - O lyric video da “Violence” é mais um totalmente produzido por nós do Lethal. Em termos de visualização estamos dentro da média, comparado aos outros vídeos nossos. No novo disco estarão presentes novas versões para as faixas “Violence” e “Disorder”. Por que a banda resolveu gravar essas faixas ao invés de completar o disco com faixas inéditas? E por que a decisão de regravá-las? Sanchez - A decisão de regravar esses sons foi por causa da qualidade da gravação an-
terior, em comparação com a “Corruptos”, “Words of mankind” e “Blood storm”. Elas já estavam com a qualidade inferior e com certeza ficariam abaixo dos novos sons também e aí já aproveitamos e mudamos algumas coisas nelas. Douglas - São as músicas precursoras da banda, e nos sentimos obrigados a regravá-las melhorando os riffs. Pra ser sincero, o produtor da demo “Disorder” deixou muito a desejar! O nosso país passa por um momento bem ruim, com sua economia em crise e com grandes problemas políticos que parecem não ter fim. Esse momento brasileiro influenciou as letras da banda em algum sentido? Douglas - Não necessariamente. Desde sempre vemos um cenário político cheio de corrupção e a população sendo manipulada pela mídia! Então, com certeza, não foi o cenário atual do Brasil que nos influenciou, e sim o “BRASIL” que sobrevivemos todos os dias! Sanchez - Nas letras do Lethal Storm retratamos coisas que nós vivenciamos no cotidiano. Em relação à política, já fizemos uma música falando no assunto bem antes dos casos de corrupção vir à tona como estamos vendo agora, porque a podridão na política sempre existiu e infelizmente sempre irá existir. A capa do disco foi feita pelo artista Jean Michel. O que a banda queria passar com essa capa e como ela foi elaborada até chegar em sua versão definitiva? Douglas - Nós queríamos passar um ideia de uma pessoa totalmente manipulada sendo sugada até o último de si. E o Jean conseguiu expressar essa ideia com todo profissionalismo. Sanchez - A capa tem a intenção de mostrar como as pessoas têm suas mentes manipula68
das indiretamente, porque a mídia em si tem um poder imensurável. Ela pode tanto te jogar para cima ou pode te afundar de vez, então nem tudo que se vê nos meios de comunicação deve acreditar de primeira, tem sempre que buscar uma segunda opinião. Passado um tempo desde o lançamento do E.P “We Are”, o que a banda pode falar sobre sua receptividade? Quais os frutos alcançados com esse lançamento? Douglas - Com o lançamento do EP “We Are” conseguimos mostrar ao público o quanto a banda evoluiu musicalmente, misturando me-
lodia e peso com vozes diferenciadas em cada música, e claro os clipes ajudaram muito na divulgação do CD! A banda é de Campinas-SP. São Paulo sempre se mostrou o mais forte de nosso país se tratando de Metal. O que a banda pode falar sobre a cena da sua região? Sanchez - Aqui em Campinas temos ótimas bandas de metal, o que realmente falta ainda são alguns bares e o respeito em relação aos músicos. Nós sabemos que ninguém está nadando em dinheiro, mas agora ter a cara de pau de oferecer cerveja, porção de alguma coi69
sa como alguns fazem, aí já é demais. Douglas - A pior parte é falar sobre a “cena” do metal, pois passamos pelo mesmo drama que toda banda de metal autoral vive. Sabemos e vivenciamos os bares apenas abrindo as portas para covers e quando conseguimos um espaço, não ajudam as bandas com nada! Isso definitivamente precisa mudar! Espaço para considerações finais e agradecimentos. Sanchez - Agradecemos a oportunidade dada para que possamos expor nosso trabalho e para que o público venha conheça o Lethal Storm.
Apresente-se! Sou músico e professor de música, nascido em São Paulo. Comecei a tocar por volta dos 9 anos e nunca mais parei. Em relação a trabalhos realizados, fui guitarrista da banda Claustrofobia por 19 anos, no qual gravei 6 álbuns e um DVD. Sobre os projetos educacionais atuais, sou professor na Yamaha Music School e Dante Alighieri (colégio tradicional de SP). Sou integrante do Quarteto de Guitarras Kroma desde 2001. Estou com um projeto de Duo chamado DuAleto, somente guitarra e bateria, com o professor de bateria da Yamaha, Beto Ferrari. Estou com outro projeto de Duo, Gypsy Jazz Duo, com o guitarrista Marcus Almeida. Estou tocando em uma banda de Rock and Roll autoral. Ainda estamos preparando o material. Já possui 7 músicas e vamos gravar no começo do ano. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Comecei novo, então desde cedo sabia que me tornar músico era o caminho que seguiria. Lembro no colégio quando havia momentos de discussão sobre o que cada um iria ser e eu era o único na sala a falar que ia ser músico. Uma das coisas que posso dizer do antes e agora é que sempre fui estudioso, reflexivo e explorador no que diz respeito à música. Obviamente hoje em dia tenho muito mais consciência, conhecimento e experiência em relação ao começo da carreira. Estou muito mais bem preparado tanto como músico quanto professor. No começo da carreira também me preocupava mais com a parte do tocar em si, o que é normal, mas pouco a pouco fui dando importância também a outras coisas como realmente me aprofundar
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no estudo musical de fato, como Harmonia, teoria, percepção e etc; assim como história, estética, pedagogia e etc. Portanto hoje enxergo a coisa muita mais ampla do que apenas o tocar. Outro ponto é que no começo ouvia e tocava mais rock/metal e aos poucos fui aprendendo e desenvolvendo tanto tocar quanto ouvir outros gêneros e estilos. Eu digo sinceramente pra você que hoje curto tanto Pantera quanto Beethoven, Charlie Parker, Paulinho da Viola, Stevie Ray Vaughan etc. Já realizou todos os seus sonhos? Ainda falta algum? Já realizei muitos, mas com certeza não realizei todos, e dos sonhos que tenho hoje ainda faltam vários. Tenho muitos sonhos, então acho que sempre irão faltar (risos). Acredito que os sonhos muitas vezes são volúveis. Às vezes um sonho que gostaria muito de alcançar passa a não ter mais tanto “valor” e algo que às vezes nunca foi tão desejado passa a tomar forma e ter bastante valor. Apenas para citar um sonho que ainda gostaria de realizar é tocar com o Kroma fora do Brasil. Do que você tem medo? Algo mais voltado ao profissional, talvez de um dia não poder tocar ou ficar surdo. Mas fazendo uma reflexão relacionada com a pergunta anterior, possivelmente se isso acontecesse, alguns sonhos seriam trocados, por exemplo, iria trabalhar com pesquisas mais ligada à área de História da música ou educação, que é uma área que também tenho muito contato atualmente. Talvez um medo maior seria não ter mais a capacidade de refletir sobre música em geral, devido a algum Foto: Divulgação
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problema de saúde. Uma resposta de forma mais ampla seria ter medo de perder amigos, família ou sofrer algum tipo de violência. Quando era criança o que você dizia que iria ser? Quando tinha uns 7, 8 anos eu dizia que ia ser ginasta olímpico, pois fui ginasta nessa época e cheguei a ser campeão Paulista pelo Palmeiras, que era o clube que treinava. Treinava duro já nessa época, três a quatro horas por dia. Sempre gostei muito de esportes. A partir do momento que tive contato com a música e comecei tocar, a coisa mudou. Isso foi com uns 9 anos de idade. Obviamente o sonho então, passou a de querer ser um grande guitarrista de rock. Qual foi a sua maior realização pessoal? Essa resposta converge com a pergunta dos sonhos de certa forma. Não saberia responder “a maior”, mas algumas, como a de gravar os álbuns que gravei, tocar por quase todo o Brasil e fazer turnê fora do país. Ter tocado junto ou ter a participação de grandes ícones em alguns dos trabalhos realizados, como Andreas Kisser e Heraldo do Monte, só para citar dois exemplos. Outra grande realização foi escrever um livro. Saber que estudantes e professores, inclusive fora do Brasil, usam ou usaram o material, é muito recompensador. Ser reconhecido por grandes músicos, não quero dizer somente por pessoas “famosas”, mas grandes professores e músicos que fazem parte do meio. Assim como o reconhecimento de qualquer outra pessoa que vem falar comigo ou que envia mensagem. Sempre respondo a todos. Também diria a conclusão de algumas pós-graduações em música que fiz, que também não deixa de ser uma reali72
zação pessoal. Qual foi o seu pior momento? Não sei dizer exatamente o pior. Todo mundo passa por situações complicadas em diversos momentos e níveis. Tento sempre enxergar o lado positivo e tirar alguma lição quando ocorre. Qual CD você gostaria de ter feito? Nossa, difícil essa (risos). Pensando no Metal, seria o “Vulgar Display of Power” do Pantera. Acho esse álbum um divisor de águas, principalmente falando em riff e no som pesado e cortante da guitarra. Os riffs não são tão simples quanto parecem, há uns riffs síncopados, não tão comuns pro gênero na época. Acho esse álbum muito expressivo também, os solos de guitarra são muito marcantes. As músicas desse álbum possuem um baita groove, mas sem perder a agressividade. Assim como tem algumas músicas mais baladas, que são muito líricas, utilizando mais passagens harmônicas e ainda sim, conseguiram equilibrar muito bem com os riffs e o peso. Ouço esse álbum sem pular faixa.
Foto: Anderson Rodrigues
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O que te motiva? Em primeiro lugar tenho uma auto-motivação, que independe de fatores externos, acho que isso é algo importante. O simples fato de querer melhorar a cada dia e querer saber sempre mais, já é uma motivação. Uma coisa que tenho em mente é que não vim no mundo pra levar uma “vida morna”, pra citar o grande Cortella. Estou sempre buscando ir além. Então, num sentido maior, o que me motiva muito é de um dia poder deixar um legado, algo que inspire os outros, ser alguém que de alguma forma fez a diferença. As pessoas reconhecerem o valor não só do seu trabalho,
mas como pessoa. Escrever um livro como o “Metal Brasileiro” seria um dos exemplos. Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? NUNCA! Quais são as cinco bandas que você mais gosta? Cite um álbum de cada e fale deles. Bom, vou falar ligado ao metal/Rock, pois essas coisas são difíceis pra mim pelo fato curtir muita coisa diferente, tanto em gênero e estilo. Vamos lá: Pantera – “Vulgar Display of Power”. Já comentei. Metallica – Kill `em All. Curto muito esse álbum que é mais roots. Pra mim é tipo um Thrash Rock and Roll. As Harmonias, os riffs e solos são muito em cima da escala pentatônica, ainda utilizando muitas notas de passagens, como blue notes. Acho um ótimo disco como referência. Uma boa escola do gênero. Van Halen – “Balance” – Acho um álbum muito bem composto, bem equilibrado, ora com músicas pesadas, ora com baladas muito expressivas. Os solos como sempre muito bem construídos. Sepultura – “Arise” – Como todo headbanger brasileiro, esse álbum marcou. A sonoridade do álbum, a “paulada” das músicas com uma certa brasilidade é muito forte. Rage Against the Machine – “Rage Against the Machine” – O groove desse disco é sensacional e lembro que quando foi 74
Foto: Riba Dantas
lançado capturou todo mundo. Acho que ao mesmo tempo que é muito “groovado” ele também tem momentos de ser muito “no chão”, segurando forte o pulso, a batida reta. Acho interessante que a guitarra soa pesada, mas sem ser pesada como um som de guitarra de metal. Sem contar as experimentações que o Morello propõe. Um cara muito criativo, com muito bom gosto. Em algum momento você se arrependeu de ter feito algo? Ou de não ter feito? Realmente não sei, mas que eu me lembre não. Uma de suas atividades é lecionar. Era um sonho antigo? Na verdade não. Esse gosto foi surgindo conforme fui lecionando. Essa é uma das vias que pode seguir após a faculdade de música. Eu posso dizer que eu tenho a mesma paixão pelo tocar, performance, etc; como a de ensinar. Aliás, as duas pós-graduações que cursei foi mais por uma questão de obter conhecimento para crescer como educador e estar mais bem preparado. E atualmente, estou bem ligado a essa área de educação, lendo e estudando grandes Educadores musicais, inclusive tenho um pré-projeto de mestrado nessa área. Assim como escrevendo um livro voltado a isso também. Você escolheu a guitarra. Quem foi o seu ‘mentor’? Eu acho que não tenho “um mentor”, tenho vários porque todos tiveram uma importância em algum determinado período. Desde os primeiros professores de guitarra até os de fases mais atuais, como Omar Campos, Marcelo Gomes, Michel Leme, Fernando Côrrea, 75
Foto: Anderson Rodrigues
Marcus Siqueira Cavalcante, Jarbas Barbosa e Djalma Lima. Também tenho grandes mentores ligado a música de forma geral e não específico na guitarra. A maior delas é a professora de Harmonia Marisa Ramires, com quem estudei na faculdade, na pós e particular, além de ser praticamente um quinto elemento do meu quarteto de guitarras, o Kroma. Outros como Roberto Saltini, Abel Rocha, Yara Caznok, Leonardo Martinelli, Celso Mojola, Sidney Molina, Ricardo Rizek entre outros. Existe algum tipo de ritual antes de subir ao palco? Não. Apenas gosto de aquecer por um tempo pouco antes de subir no palco. Todo mundo tem uma mania, qual a sua? Talvez de deixar sempre pra depois coisas
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que não estão ligadas ao trabalho ou a música. Deve ter mais, mas não lembro agora (risos). Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Primeiramente, muito obrigado Pei Fon e toda equipe da Rock Meeting! Estou sempre acompanhando as edições. Parabéns pelo trabalho! Obrigado também a todos os leitores e todos que me acompanham nessa trajetória musical! Deixo aqui um convite para me seguir nas mídias sociais, estou sempre atualizando, postando infos do mundo musical e interagindo com as pessoas, sempre que possível. Um grande abraço a todos. Links - Site | Metal Brasileiro | Facebook | YouTube | Snap alexandredeorio | Instagram