Rock Meeting Nº 89

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EDITORIAL

Chamar atenção O ano começou com polêmica no mundo do Metal. Não poderia ser diferente. Só assim para ‘movimentar’ a cena no país. A ordem da vez veio com o anúncio do Heaven Shall Burn sobre o show do King Diamond no Liberation Festival. A galera conservadora pirou à cabeça com a notícia, que só fez reclamar. Nada que surpreenda. O fato do festival ser privado e deixar de fora um bocado de gente (só vai quem pode pagar), tem gerado burburinhos. A dica é simples: vale fazer aquela ‘vaquinha’, economizar uma grana, para ver quem tanto idolatra. Mas, reclamar porque a banda, que não tem nada a ver com o King Diamond, vai tocar? Amores, temos que mudar o olhar. Não esqueçam dos festivais da Europa, onde o line-up são mais variados que as cami-

sas que veste. Então, não tem porque essa choradeira toda. Ainda mais sabendo que foi uma ‘ordem’ do próprio King de ter bandas ‘diferentes’ no cast. Mas não vams falar desse assunto mais. Estamos aguardando os outros anúncios para saber a lapada que vem por aí. Afinal, os mesmos que reclamam hoje, estarão nos circlepits do Heaven Shall Burn e depois, claro, vão chorar assistindo o King Diamond. Enfim, o Heavy Metal é pluralidade e não há necessidade dessa picuinha. Quando dizemos o que o próprio fã de Rock/Metal é o que mais desune, não é exagero. É fato! E estamos fartos disso tudo, sabe? Quem é que ganha com isso? Vamos trabalhar que é melhor. Se depender destas opiniões nada acontece.


TABLE OF CONTENTS 07 - News - World Metal 10 - Lapada - Entre camisa pĂłlo e sapatĂŞnis 15 - Entrevista - Coletivo La Migra 20 - Entrevista - Aske 28 - Live - Can Keep us Down 38 - Entrevista - Torrencial 44 - Capa - Uganga 58 - Entrevista - Northern Lines 64 - Entrevista - Hellish War 72 - Entrevista - Louder 80 - Live - Four Year Strong 86 - Live - Me First & Gimme Gimmes 92 - Entrevista - New Band


Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn

Colaboradores Alex Chagas Jonathas Canuto Marcos Garcia Marta Ayora Mauricio Melo (Espanha) Raphael Arízio Sidney Santos CONTATO contato@rockmeeting.net RockMeeting.Net



Foto: Michel So

BRAZIL METAL TRIBUTE

“Trinity of Decay”

A MS Metal Agency Brasil confirmou as duas primeiras bandas que farão parte do Brazil Metal Tribute. A banda goiana Bellaa Utopia foi confirmada com a clássica “Mate o Réu” do Stress, já o Ivory Gates, de São Paulo, se fará presente com “Náufrago” do Harppia. O projeto consiste no lançamento de um álbum, nos formatos físico e digital, em homenagem aos grandes ícones do Metal brasileiro, através de releituras dos grandes clássicos de bandas como Angra, Viper, RDP e outras.

A banda austríaca de Post/Doom Metal, Anderwelt, lançou seu mais novo vídeoclipe. A música escolhida foi “Trinity of Decay”. O vídeo foi dirigido por James Quinn. A banda foi formada em 2013, na cidade de Linz, na Áustria, por Markus Steinberger e Alexander Dornstauder. Seu début “Schattenlichter” foi lançado em 2015 e estão em turnê pela Europa e trabalhando no segundo álbum. Acesse a página da banda no Bancamp e conheça um pouco mais. Assista “Trinity of Decay”.

“From The Dephts ov Mind” Apesar de muito recente, a banda Viletale, possui energia e preparo de sobra, tendo suas atividades iniciadas em 2016, o grupo lançou no mesmo ano de seu surgimento o EP “Initiation” e agora no início de 2017 disponibiliza em seus canais de streaming o novo EP” From The Dephts ov Mind”. O novo EP apresenta o grupo mais coeso em suas linhas harmônicas e destilando técnica e precisão em seus quase 30 minutos de duração, calcado no Death Metal, a banda também explora uma visão de Horror Show em suas letras, incluindo todo o processo em suas vestimentas e apresentação ao vivo. From The Dephts ov Mind terá sua produção física e distribuição feitas a partir do segundo trimestre de 2017, os músicos já se encontram a disposição de produtores de todo o Brasil para negociar a venda dos shows, garantindo ao público uma verdadeira aula de Death/ Horror Metal. Escute o novo EP “From The Dephts ov Mind” AQUI. 07


“The Unpleasant Reality” A banda Alekto, mais nova potencia do heavy metal brasileiro, finalmente acabou com o suspense. O grupo revelou, em sua página oficial no Facebook, a capa de “The Unpleasant Reality”, tão aguardado debut álbum do grupo. Toda arte foi idealizada pelo ilustrador romeno Costin Chioreanu, da Twilight13Media Studio. O designer é um dos mais concorridos e requisitados do mercado, com trabalhos para bandas como At The Gates, Arch Enemy, Napalm Death, Arcturus, Darkthrone, Mayhem and Ulver, entre outros. om pouco menos de um ano de existência, o supergrupo formado por Cauê de Marinis (baixo), Jhoka Ribeiro (bateria), Woesley Johann (guitarra) e Will (vocal) aprimorou seu estilo e suas composições, entrou em estúdio e logo gravou o debut álbum “The Unpleasant Reality”, que já tem pré-venda disponível nas principais plataformas digitais como Amazon, Apple Music, deezer, Google Music, iTunes, Napster e Spotify. O lançamento oficial está agendado para o dia 10 de março via Atração Fonográfica. Veja a capa AQUI.

“Wings Seven”

“Occult Wisdom”

Os goianos da tradicional banda de Hard Rock brasileira, Sunroad, disponibilizaram ao público um teaser promocional com samples das faixas do novo álbum “Wings Seven”. O álbum será lançado oficialmente dia 18 de fevereiro com distribuição nacional e internacional, uma das principais novidades do sétimo disco da carreira do grupo é a estreia do vocalista André Adonis, que de imediato impressiona pela sua vocalização muito similar as lendas Sebastian Bach e Axl Roses.

Depois de dois anos de produção e gravação, a banda de Melodic Death Metal sergipana Silent Vanity lançou a versão digital do seu álbum de estreia, “Occult Wisdom”. O álbum contém 14 faixas, sendo três delas instrumentais. A sabedoria oculta, citada nas letras do álbum, é uma referência direta aos ideais filosóficos do Hermetismo, especificamente às leis herméticas expressas no livro “O Caibalion”. Você pode escutar o álbum no Spotify da banda AQUI.

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“Stages of Death”

Foto: Fernando Martins

A primeira etapa da gravação do novo álbum do Warcursed, intitulado “Stages of Death”, foi recentemente concluída, com a participação do baterista Marsell Senko, que fechou em tempo recorde todas as suas sessões do instrumento. Através das redes sociais da banda, já foram divulgados alguns pequenos trechos da gravação, que conta com a produção de Victor Hugo Targino que já produziu os álbuns anteriores do grupo, além de ter trabalhado com outros artistas do cenário brasileiro, tais como: Soturnus, Forahneo, Necrosis e Necrohunter. O disco terá como tema os estágios da morte, fazendo uma associação de cada estágio com a manipulação da sociedade atual. Este será o primeiro álbum com a nova formação, contando com Richard Senko nos vocais. Mais informações em breve poderão ser vistas nas redes sociais do conjunto e no seu site oficial. O novo álbum da banda será lançado no primeiro semestre de 2017 através da Eternal Hatred Records

‘World’s Hypocrisy’

Segundo álbum

Já com seu novo petardo, ‘World’s Hypocrisy’, lançado no mercado nacional, o Gestos Grosseiros anuncia uma data especial para o show de lançamento do disco. A festança já tem data e local: dia 12 de março, no Espaço Som, na cidade de São Paulo (Rua Teodoro Sampaio, 512, Pinheiros, próximo à estação Clínicas do metrô). O evento acontece com o apoio da empresa Absolute Master, que também masterizou o novo álbum da banda.

A vocalista Daísa Munhoz da Vandroya, disponibilizou um depoimento falando sobre o segundo álbum da banda, que ainda não possui título definido e será disponibilizado no primeiro semestre de 2017. “Como todos vocês sabem, terminamos as gravações do nosso segundo álbum em 2016. Sei que sou suspeita pra falar, mas o álbum está demais. As harmonias criadas pelo Marco são fantásticas, realmente cativantes!”. Acompanhe o trabalho da banda AQUI.

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mais polêmicas desnecessárias E eis que estamos em 2017, e no apagar das luzes de 2016, lá vem mais tutruísmo chato. Acho que já é de domínio de todos que um músico do meio Metal no Brasil falou sobre a questão do uso de camisas pólo e sapatênis. Pelo que tive acesso de fontes confiáveis, ele foi mal interpretado. Mas a comoção na internet foi enorme, e o Facebook passou mais de dias com fotos de músicos e bangers usando camisas pólo e/ou sapatênis. Mas isso levantou um pensamento interessante: qual o motivo das pessoas, mesmo dentro do cenário, terem a mania de querer usar camisas de banda, calças compridas e coturnos pesados (ou tênis de cano longo)? A verdade é simples: o banger nacional continua absorvendo demais “regras” que existiram nos anos 80, mas que já deixaram de fazer sentido há mais de 20 anos. Antes de tudo, o cenário não é escola, trabalho ou força armada para uso de unifor-

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mes. Não há sentido nisso. Também gosto de usar camisas de banda e me sinto bem de calças jeans. Mas uso roupas assim quando o clima permite, e sem obrigatoriedade alguma. Já assisti a shows de bandas internacionais de bermudas, sandálias de dedo e camisa azul com estampa de urso na frente. Aliás, quem conhece bandas como Anthrax, Obituary, Pantera, Hypocrisy, Sepultura e outros já puderam ver fotos dessas bandas usando bermudas em seus shows. Isso os tornou bandas ruins? Nunca!


Aliás, quem defende isso em prol de banda que se emperiquita de couros, correntes e tarraxas igual a uma drag queen grosseira deveria ver ser realmente possui algum neurônio ainda não tomado pelo mofo anos 80... Se é que tem cérebro! Por experiência própria, já contei que me lasquei em Natal (RN) por estar de camisa preta e querer retornar ao hotel onde estava hospedado a pé (pois eu gosto de caminhar para conhecer as cidades que visito). Por pouco não tive problemas de desidratação.

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O Metal não exige isso de ninguém, e muito menos possui regras. “Ah, mas na Europa eles usam”. Mas na Europa, meus caros, o clima é outro, e em geral, as médias de temperatura não alcançam 30º C nem mesmo no extremo verão. E no Outono e Primavera. Estou olhando as médias da Espanha, um país com o clima mais quente, no exato momento em que escrevo estas linhas. Só as da Grécia atingem valores acima de 30º C, e olhe lá. Ou seja: é mais fácil usar roupas pe-


sadas na Europa, em que 6 meses as médias não passam dos 17-20º C do que aqui, onde em 7-8 meses, temos temperaturas elevadas e sensações térmicas sufocantes! Deveriam lembrar que couro, correntes e spikes entraram no Metal de duas formas: influência do Punk Rock de um lado, e o fato de Rob Halford do Judas Priest ter tido a ideia de usar estes aparatos pesados após ir a uma loja de artigos de sexo. Em termos de sapatos, nunca entendi bem o motivo de termos que usar botas, coturnos, sapatos ou tênis de cano longo. Nos 80 era porque muitos dos músicos usavam estes, mas como já citei antes, não faz mais

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sentido. Aliás, por conta da polêmica que menciono no texto, comprei dois pares de sapatênis, que são leves e confortáveis para aguentar o dia-a-dia puxado. Óbvio que alguém pode falar “falso”, mas sinceramente: com 34 anos de Metal nos ombros, acha que eu vou dar a mínima para sua opinião? Já tive minha quota de radicalismo nos anos 80, e o arrependimento de ter sido pateta chega a doer em certos momentos. Dói porque eu poderia ter sido muito mais feliz e aproveitado muitas coisas boas (em especial, o Hard Rock californiano) se eu não desse bola para um bando de idiotas cujo único sentido na vida deles era ser clones do


Kerry King ou do Cronos! E isso sob um Sol escaldante de 40º C nos cornos! Aliás, o radicalismo é algo tão tosco que me lembro de uma edição da revista Metal de 1986, em uma reportagem sobre o Slayer. Nela, havia fotos de Kerry King e do finado Jeff Hanneman de bermudas tipo surfista e camisetas de mangas comuns. Meus caros, os apupos dos radicais chegaram a dar inveja ao personagem Vera Verão, do finado ator no finado Jorge Lafond: EPPPPPPPPPPAAAAA AAAAAAAAAAAAAAAA! Acusaram a revista de montagem e tudo! E para encerrar: Lemmy, mestre da

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pancadaria e uma das maiores celebridades do Rock’n’Roll possui fotos usando um shortinho de jeans que põe qualquer orgulho Metal no chão. Ou a célebre foto do Motorhead vestidos de zoeira com a Páscoa? Fechando: quer ser radical e usar roupas pesadas com este verão absurdo no Brasil? Ok, a saúde é sua, logo, foda-se! Quanto a mim, sapatênis, blusas claras e outros, pois não preciso provar nada para um bando de fantoches. Questionem, pensem, e talvez consigam ser mais felizes...



Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Foto: Coletivo/Divulgação

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ocê já deve ter ouvido falar de coletivo, porém deve ter se perguntado o que eles fazem, como funciona. Indo para uma questão gramatical da palavra, coletivo significa “Que é capaz de abranger um grande número de pessoas e/ou coisas”, “Que pode pertencer a um grande número de pessoas: trabalho coletivo”. O adjetivo é antônimo de individual. Mas aqui vamos falar de um coletivo de dois homens. Soa estranho, mas o trabalho é uma parceria com muitos outros. Batemos um papo com Sidney Santos, fundador do Coletivo La Migra. Acompanhe! 15

É costume aqui a apresentação. Por favor. Pois bem vamos lá. Sou Sidney Santos fundador do projeto underground brasileiro Coletivo La Migra, colaborador do Blog Chama do Metal, do Site Portal do Inferno e do Programa Samhain da Dark Radio. Como nasceu o Coletivo La Migra? O Coletivo La Migra nasceu oficialmente com a missão de realizar a união entre os subgêneros do Rock And Roll dentro do país, promovendo um grande circuito entre as bandas par-


ticipantes, buscando nesta interação a troca de contatos, shows, divulgações e principalmente informações sobre novas oportunidades e novas parcerias. Por que apoiar? Você já teve banda, os amigos tiveram? A cena é mal divulgada...? O intuito aqui é busca a promoção das bandas autorais de forma voluntária, porém buscar dia após dia, transmitir esse trabalho com base mais efetiva e principalmente profissional, no passado já participei de diversos projetos musicais e tive a experiência na pele de como uma banda nova sem estabilidade financeira, sofre para multiplicar o seu trabalho e principalmente conquistar o seu espaço em shows. Referente a cena e suas divulgações, acho que não, em nenhum momento é mal divulgada, o que eu busco na maioria das vezes é facilitar esse encontro, é fazer com que a banda que não tenha contato, não tenha grana, chegue aonde queira chegar. Esse é o meu maior foco. De notícia a produção de eventos. Estas são as duas frentes de trabalho do coletivo. Como funciona? Sempre quis fazer algo que valorizasse o trabalho das bandas autorais e principalmente os meios de comunicação, a questão dos eventos é linha mais forte do projeto, pois o carro chefe do Coletivo é dar espaço as bandas novas e bandas que estão em busca desta oportunidade, os eventos do Coletivo La Migra são feitos em conjunto, um colaborando com o outro, já na questão das notícias e das atualizações do mundo underground, é uma ação justa, para que as demais bandas não participantes do projeto, também tenham a mesma visibilidade, pois o projeto não se fecha, pelo contrário, apoiamos todas as bandas da cena como no geral, independente se faz parte do Coletivo ou 16


não. Acreditamos que sem visibilidade nenhuma banda consegue se erguer. Com foco no Metal e Hardcore, como está sendo a resposta das bandas? O objetivo está sendo alcançado? Sim, objetivo sempre é concretizado, sempre no término e início de cada ano (dezembro e janeiro) o Coletivo La Migra pára suas atividades, fecha literalmente suas portas. Alinhamos os resultados do ano anterior e começamos a planejar o próximo ano, sempre eu e Max Oliveira, assim conseguimos fazer com que todos os projetos sejam concluídos de forma assertiva, pois todo projeto La Migra é muito tímido, muito pequeno, assim conseguimos tomar atitudes com muito, mas muito pé no chão. Desde que iniciaram o trabalho, o que tem sido difícil ou trabalhoso? Tudo! (risos) A dificuldade em se fazer qualquer coisa dentro do underground é enorme, pelo menos na minha opinião. Eu prefiro trabalhar. Eu aprendi a não reclamar. Aprendi a fazer o que tenho que fazer porque gosto de fazer, independente se as pessoas vão seguir ou deixar de seguir. No começo eu era muito preocupado se as coisas estavam dando certo, muito preocupado se as pessoas estavam fazendo aquilo que foi prometido fazer, hoje já não ligo mais, isso me fez uma pessoa ainda mais forte e por incrível que pareça, os trabalhos começaram a fluir melhor. Se hoje eu pudesse descrever duas coisas extremamente difíceis no projeto, eu seria muito óbvio, pois mencionaria aqui dinheiro e tempo! O resto é organização e disciplina, pois esses fatores interferem e muito no bom andar de qualquer projeto underground. O que você acha da cena underground no Brasil? Existe apoio? Resistência? 17


Você acredita que quem mais desune são os próprios usuários da cena? Em minha opinião a cena underground no Brasil é extremamente forte, possui muito, mas muito apoio e sim, é unida. Acredito que em 2016 foi um dos anos que mais visualizei pessoas trabalhando para o underground, pessoas produzindo shows, pessoas produzindo novas bandas, não acredito em resistência, não acredito em desunião, o que acredito é que existem pessoas que não possuem uma visão ampla da cena. Precisamos deixar de tratar a cena underground como a cena mainstream mascarada, pois existe muitas pessoas que tratam o underground como um pequeno mainstream, isso na minha opinião está errado, pois temos aqui duas visões totalmente diferente. O Brasil é bastante grande em sua territorialidade, o que vocês conhecem do Norte e Nordeste? Fale um pouco. Sim, faço parte de dois destes, um atuando diretamente no processo como colunista e multiplicador dos trabalhos e no outro apenas como multiplicador dos trabalhos realizados, estou falando do blog Chama do Metal do Piauí, projeto idealizado pelo grande amigo Fábio José do Nascimento e da rádio cearense Cangaço Rádio Rock, projeto idealizado pelo amigo Cristiano Borges, ambos atuam de forma diferente, porém com muito apoio e disseminação da cena underground local e nacional. Além disso, recentemente tive a oportunidade de participar de um grupo chamado Hear N Rec, onde tive o privilégio de conhecer um pouco mais dos trabalhos realizados nos programas Insana Harmonia, da Arena Metal (PE), programa Pesado de Pernambuco, Infernal Rádio do Maranhão, programa Bate Cabeça que é transmitido na rádio Tropical FM para toda região de recife entre outros que não vou lembrar por agora. Isso sem contar com o enor18


me time de bandas que essas regiões possuem, que tornam ainda mais a nossa cena metal extrema, por exemplo, muito mais forte. 2017 iniciou e qual a perspectiva que o coletivo tem para este ano? Começamos o ano com planos bem ousados, no começo tudo deu muito errado (risos), pois o nosso principal projeto foi por água abaixo, logo no dia 1º de janeiro. Porém nos mantemos fortes, e continuamos. As atividades do Coletivo foram paralisadas em agosto de 2016, pois passamos por uma enorme formalização pessoal, voltamos mais fortes do que nunca, todos os projetos de antes voltam a ativa para 2017, vamos realizar um total de 10 eventos no mínimo neste ano, entre os meses de fevereiro a novembro, iremos produzir no mínimo 10 coletâneas com as bandas participantes dos eventos, estamos em parcerias com outros países da América do Sul, assim iremos promover algo não realizado antes dentro do projeto que é a confecção de coletâneas entre países, fora o projeto quem somos, as entrevistas, as resenhas e muito, mas muito mais ainda está por vir. Para finalizar, o que podemos esperar do Coletivo La Migra? Sucesso. Muito obrigada! Poxa podem espera o que sempre pregamos, estamos de portas abertas para as bandas, programas, rádios, sites, blogs, revistas, assessores, todos os meios de comunicações que queiram agregar e somar forças para que assim possamos movimentar ainda mais o poder e a grandiosidade desta nossa maravilhosa cena nacional. Gostaria de agradecer, imensamente o espaço aqui cedido, e fiquem de olho no nosso site e na nossa página do Facebook, pois muita, mas muita coisa ainda está por vir. Obrigado de coração! 19


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Por Aline Pavan Fotos: Glauber Oliveira

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om um repertório focado em composições próprias, a banda de Death Metal, Aske, foi formada em 2009 na cidade de São Carlos – SP por Paulo Roberto (vocais) e Filipe Salvini (baixo), onde iniciaram a compilação dos primeiros materiais. Esses materiais chamaram muito a atenção do público e também da mídia especializada, e no ano de 2017 a banda começou a traçar caminhos e objetivos ainda maiores. Hoje conversaremos um pouco com Filipe Salvini, baixista e compositor, para sabermos mais sobre os projetos do grupo para esse ano que se inicia. Confira! Promovendo o atual full-length, “Once...”, vocês liberaram o clipe “Übermensch” para visualização. Como foi a recepção deste trabalho perante a mídia e público? Filipe Salvini: Tivemos a melhor recepção possível! Tanto das pessoas que, assim como nós, apreciam o Metal Extremo quanto dos que, normalmente, não se interessariam pelo gênero musical e esse foi o maior sinal que poderíamos ter de que estamos no caminho certo. Ainda sobre o videoclipe, vimos que vocês abordam alguns temas super interessantes nas letras. No fundo, qual é a grande mensagem para as pessoas que gostam da banda? Bem, música é inspiração e seu estilo musical é como a roupa que você veste porque se sente bem nela. É assim com o Metal Extremo: nós 22


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nos identificamos com a maneira com que podemos abordar os temas. Claro que existem temas que podem, de certa forma, ser “desconfortáveis” por relatarem questões morais – e acredito que estas questões sempre farão parte da nossa música: procuro falar sobre o que aprendemos; o que vivenciamos; as lições que podemos tirar das situações. Procuramos fazer uma música sincera, que retrate nosso aprendizado e que, ao mesmo tempo, nos sirva para continuar aprendendo. Veja a mensagem por trás do videoclipe da música “Übermensch”. O nome Aske. De onde ele surgiu? E como foi pra a banda, para chegar nessa formação mais consolidada e definitiva? No início, quando éramos o Paulo e eu, sempre tivemos o hábito de ouvir música juntos e de compartilhar sobre o que lemos, etc. e Cinzas nos pareceu um bom nome de batismo. Foi por mero acaso que descobrimos, posteriormente, que a palavra Aske (já conhecida dentro do gênero musical) é o seu correspondente no norueguês. Isso nos agradou. Sobre a formação. Talvez a escolha de não termos outros membros na banda, no início, foi o melhor que poderíamos ter feito, pois isso influenciou, posteriormente e de forma direta, na escolha dos músicos: ficar apenas entre amigos. Como você deѕcreveria a forma do Aske tocar? Me vêm algumas palavras na cabeça, mas, talvez a mais adequada seja “honestidade”. Tocamos de uma forma honesta com nós mesmos; sabemos até onde conseguimos ir, mas sabemos que sempre podemos ir um pouco além. Acredito que este seja um dos fatores que nos mantém na estrada. Vocês planejam um novo material para 24


2017? Sim. Estamos produzindo um EP para este 1º semestre. Um EP? Legal! E qual será seu conceito, a ideia principal? Já possui um nome? É claro, se puder revelar de antemão. Já temos todas estas coisas prontas e divulgaremos detalhes em março. Adianto, de antemão, que as novas músicas estão com uma qualidade superior do disco “Once...” e, desta vez, traremos um cover. Quem sabe não soltamos, também, uma prévia do som que está por vir. Março. Ainda falando neste EP: por que apenas um EP, e não um disco inteiro? Bem, quando produzimos o disco “Once...” éramos apenas o Paulo e eu, na banda, foram nossas primeiras composições. Agora temos uma banda, entende? Compus as músicas pensando na banda, com certa maturidade musical. Aprendemos muito nestes anos e este será o primeiro trabalho do Aske com a formação. Estamos animados para saber o que está por vir e um EP é, sem dúvida, a melhor escolha porque podemos ser sinceros conosco mesmo, dar tempo ao tempo para que consigamos trabalhar em um 2º full-lenght realmente digno de todo nosso esforço. E as letras? Quais serão os temas que usarão? E, aproveitando o gancho, de onde surgem as ideias para a composição lírica e musical? As letras do Aske estão diretamente relacionadas com o que falávamos no início da nossa conversa. No disco “Once...” o Paulo escreveu cerca de 80% das letras, enquanto fui o maior responsável pelos arranjos, mas tudo reflexo das nossas conversas, da construção de nossa amizade, do conhecimento. Neste EP, acredito 25


que tenha um significado mais pessoal, para mim: escrevi 100% das letras, de forma extremamente pessoal, e fui responsável por toda a composição, tendo ajuda do guitarrista Lucas Duarte nos arranjos. É curioso como cada vez mais me envolvo nas composições e no que a banda faz. É minha vida, de certa forma. É onde deposito todas as coisas da minha cabeça, tudo o que aprendo. Mas o mais importante são as companhias, os amigos com quem partilhar as coisas. Sabemos da crise financeira que assola o país e como resultado são as baixas nos shows. Conte-nos, nesse sentido, como andam as coisas. Não creio que isso seja algo desmotivador. Claro que, para uma banda, tocar é realmente importante! Mas são nos tempos difíceis que 26

passamos pelas provações e, nelas, mostrar que a vontade de fazer nossa música é muito maior que qualquer crise financeira. Ainda falando sobre os shows, vimos um cartaz recente de uma apresentação, como headliner, em um evento que terá nada mais nada menos que os ícones do Death Metal nacional Oligarquia. Para vocês qual é a sensação de ver um feito desses? Este show ocorrerá em São Paulo, em março, logo após publicarmos sobre nosso futuro EP. Confesso que isso é algo que nos deixou sem reação, por um instante. Posso afirmar que é um momento único para nós! Não tem como ouvir Oligarquia e ficar parado! “The Pain That Never Ends” ao vivo deve ser algo surreal!


No metal temos muito divisionismo. Como conviver com todas essas diferenças estilísticas? Honestamente, vejo isso como algo bom! Cada banda fazer o possível para transparecer o que tem de pessoal. É isso que faz com que nunca caiamos na mesmice e tenhamos sempre um cenário musical rico. Além do EP, quais são os planos futuros da banda? O que mais podemos esperar para 2017? Esse é um tema que tem tirado nosso sono (risos). Passamos 2016 produzindo nosso videoclipe e, quando eu não estava trabalhando nisso, eu estava compondo. Mal nos reunimos e queremos muito passar mais tempo juntos, de preferência em cima do palco. É nisso que estamos canalizando nossas atenções: lançar 27

esse material e nos dedicar mais em apresentações, algo voltado para a banda. Bem, chegamos ao final da entrevista. Agradecemos demais pelas palavras e paciência, e desejamos todo sucesso do mundo a vocês. Por favor, deixe sua mensagem final aos leitores.Chegamos à pior parte para mim: finalizar o assunto... Nos últimos meses não tenho feito outra coisa senão trabalhar no Aske e espero muito poder ouvir bandas novas. Quem sabe não tocar junto? Quero agradecer, em nome de toda a banda, a Rock Meeting; Patrick Souza e a Sangue Frio Produções; Eugenio Stefane, do 1979 Estúdio; os amigos e as pessoas que gostam da nossa música (vocês são nossa maior motivação!). Enfim, todos que, de alguma forma, tornam tudo isso possível. Meu muito obrigado!


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27 e 28 de janeiro, Barcelona, Catalunya Texto e Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

Dia 1 Assim como o Hellfest, Xtreme Fest, Primavera Sound, Sorrofest e muitos outros, o CKUD também é data obrigatória em nosso calendário. Uma grande oportunidade para ver de perto boas bandas do punk/hardcore underground, não só as do território espanhol como também boas mostras britânicas, alemãs, suecas, etc. Oportunidade de ouro para assistir ao vivo bandas que promotores convencionais raramente incluem em suas agendas, oportunidade também de comprar aqueles souvenires que nunca estarão numa vitrine de loja, seja ela a mais underground da cidade ou a mais comercial. Enfim, Can’t Keep Us Down, porradão para todos os lados, público insano, comportamento consciente e sem preconceito independente dos estilos e das posturas. Para a primeira noite chegamos muito em cima da hora e, considerando a fila para entrar, acabamos perdendo a primeira banda da noite, o Get Lost. Porém uma vez dentro, não foi difícil escutar elogios sobre os iniciantes. Já bem posicionado e com vista privilegiada pudemos conferir a apresentação dos alemães Night Force, num set bastante curto devido a pouca quantidade de músicas da banda, porém bastante intenso com canções como “The Final Stand”.

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Minority of One 31


Implore

Na sequência tivemos o trio Hello Bastards. Formado no Reino Unido (território), porém com integrantes de três países distintos: Polônia, Argentina e, é claro, Brasil. Nosso país muito bem representado pelo guitarrista Jefferson Pinto (Bolão) e um hardcore bastante powerviolence/crust/straight edge vegano que não deixou pedra sobre pedra, com boas músicas do autointitulado álbum lançado em 2014, com capa dupla, um encarte pra lá de descente e com o luxo do vinil transparente. A banda, assim como todas que figuram neste texto, possui uma página Bandcamp e merece mesmo uma visita. Mais uma banda alemã, Domain. Esta Insist

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possui alguns membros que também militam na Night Force, comentada anteriormente e com um perfil bem parecido, porém com um estilo mais cru, um set bastante curto. Não coube dúvida que a banda mais expressiva da noite seria o Implore. Death Metal, Grind, Crust, tudo misturado neste trio formado em Barcelona e com um pé na Alemanha. Como de hábito, o guitarrista Petro demonstrou o porquê de ser um dos guitarristas mais solicitados do território quando alguém quer formar um novo projeto com riffs matadores e atitude de palco. O baixista e vocalista Gabriel não deixa a bola baixar em nenhum momento e Arnau é sólido, rápido e destruidor como um baterista


Minority of One

do estilo deve ser. Apresentaram músicas dos lançamentos anteriores, o LP “Depopulation” e um EP recente “Thanatos”. A banda assinou com uma gravadora de respeito recentemente e já aguardamos lançamento. Para finalizar a primeira noite, tivemos o post-punk da banda Belgrado. Altamente influenciada por Bauhaus, é uma das melhores expoentes do estilo no território. Há duas edições já haviam fechado uma das noites com bastante êxito e desta vez não foi diferente. A galera hardcore não arredou pé até o último acorde. Dia 2 Hello Bastards

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Abrimos nossos trabalhos com Teething, de Madrid. Muchachos e Muchachas, aqui não há brincadeira. Já havíamos conferido o quarteto anteriormente e corremos para não perder este set. Podemos dizer com autoridade que a Espanha está recheada de excelentes bandas de grindcore e o Teething é uma delas com vasta discografia e juntarmos EPs, LPs e discos Split. Outra banda habitual no evento é o Minority Of One que desta vez veio apresentar seu segundo disco. Para a galera que curte um punk melódico, eis uma das melhores bandas da safra. Deixaram atrás o nome Truth Trough Fight, banda hardcore straight edge e embarcaram (mesmos mem-


bros) de cabeça na melodia para rapidamente ganhar notoriedade. Já excursionaram mundo afora com suas letras PMA, temas políticos e até sobre surf, um estilo de vida. O público veio abaixo, muito participativo e em total integração com a banda. Fede Edge mandando muito bem nos vocais e decolando como sempre, seus saltos já são marcas registradas. Os britânicos do Insist foram outros que repetiram visita. Estiveram no festival ano passado e desta vez apresentaram músicas novas e que estarão no tão esperado LP, com previsão de lançamento este ano. Esperávamos um set mais longo este ano, o que realmente não aconteceu mas a intensidade de suas músicas continua a mesma. Antes das onze da noite chegamos ao ápice da festa, um dos momentos mais aguardados e anunciados do evento, o show de despedida do Col.lapse, a banda mais “Detroit” do território. O quarteto sempre foi considerado um dream team da Catalunha com membros de bandas como The Gundown, Cinder e o brilhante guitarrista Jaume Orriols que já figurou em várias bandas nacionais e que agora mesmo pertence ao Decibelios. Havia uma mistura de emoção e nostalgia no ar, mas quando os primeiros acordes de “Altre Cop” foram tocados, cada minuto oferecido pela banda foi aproveitado, tanto por quem tocou quanto para os que assistiram. Não seria necessário dizer que além de “Altre Cop”, “No T’ha Servit de Res” e “No Importa” também figuraram no setlist, porém o motivo do destaque foi o impacto que tiveram no público, principalmente o terceiro título citado, que fechou a apresen-

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Night Force Hello Bastards


Implore

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Belgrado


Domains

Col.Lapse

Teething

Wild Animals

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tação do grupo de maneira habitual ao longo dos anos e que não foi diferente desta vez, com massiva invasão de palco e com o vocalista Joan Cinder elevado nos braços da galera enquanto berrava “Sé qui sóc, on vaig la resta no m’importa” (Sei quem sou, aonde quer que vá, o resto não me importa). Muito coração, muito orgulho nesse momento. Ao final da apresentação, integrantes das bandas estrangeiras aplaudiam boquiabertos ao conferirem de perto o impacto que a banda local proporcionou. Diante de tudo, a pergunta que fica no ar é por quê? Simples resposta: compromissos pessoais e profissionais desconectaram a banda de maneira natural, e quando não há química, não há música. O festival já indicava seu fim, mas pelo pequeno palco do Ateneu Nou Barris ainda passaram nomes como Wild Animals (Madrid), um trio com um bom punk, hardcore melódico com pitadas de indie. Também tivemos Higher Power, uma formação de Leeds e os andaluzes La URSS com seu punk old school e músicas como “El Silencio”, “Ataudes de Plastico” e “Manifesto Futuro”. O show poderia ter sido melhor se os problemas com o som fossem resolvidos, melhor ainda se tocassem com o som ruim e se preocupassem em tocar de qualquer maneira, muito mimimi para quem se declara punk. Enfim, num balanço geral o saldo sempre será positivo.

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Por Pei Fon com Sidney Santos (Coletivo La Migra) Fotos: Mayra Biajante

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indo da cidade de Itapevi-SP, a banda Torrencial, o quarteto paulista se mantem vivo a mais de dez anos praticando o verdadeiro Thrash Metal rápido e destruidor com elementos muito bem encaixados do Hardcore. Como uma chuva devastadora e com a agressividade que os poderosos moradores do underground possam ter, a banda se mantém ativa e viva como uma das grandes potências thrasher paulistana. O Coletivo La Migra em parceria com a Rock Meeting, tiveram o prazer de entrevistar o grande amigo e parceiro Luciano Machetti. Confira agora como foi esse grande bate papo cheio de informações importantes e novidades. Olá pessoal! Primeiramente é uma honra poder fazer esse bate papo com vocês, então vamos ao que interessa? Falem um pouco para os nossos leitores como foi o início do projeto Torrencial. Quem teve a ideia? Quando isso aconteceu e como surgiu? O Torrencial surgiu após o fim da banda Samsara B.C (também de Itapevi), em 2006. Eu não que39


ria ficar sem tocar, então chamei uns amigos e ex-integrantes da Samsara e do Impacta, e começamos a trabalhar os sons. O que significa torrencial? Quem teve a ideia? No início agradou a todos da banda? Qual é a proposta do nome e o que ele representa para vocês? Buscar um nome pra uma banda não é uma tarefa fácil, um dia lendo um livro vi sobre uma chuva torrencial que apareceu do nada e destruiu toda a cidade, procurei se havia alguma banda com esse nome e pra minha sorte não havia, e então escolhi esse, pois é assim que queremos ser nos palcos “rápida e destruidora”. Sempre quando falamos de bandas underground, visualizamos várias idas e vindas dos músicos, muitas delas são por falta de ou de pessoas dedicadas. Como é esse assunto dentro da Torrencial? A banda já passou por muitas formações? Posso afirmar que essa formação está sólida? Mudanças, tanto necessárias ou inesperadas, sempre são um atraso, tivemos muitas formações que atrasaram e muito os planos da banda, mas agora estamos com um time forte, e espero continuar assim. (risos). O Thrash Metal vem se destacando dia após dia. O Torrencial faz uma sonoridade muito bem executada, utilizando elementos do Hardcore. Como a banda se achou nesta mistura? Foi uma pretensão chegar nesta sonoridade? Somos uma banda calcada no Thrash, tanto 80’s como o moderno e também carregamos influências do Hardcore. Isso é o resultado da união dos estilos de cada integrante, e adoramos. “Nação em Fogo” têm 10 sons e nenhum 40


se parece com o outro. Falando um pouco do que a banda prega, me digam quais são os temas abordados em suas letras, o que hoje a banda apresenta aos seus fãs? Quem escreve? Existe alguma inspiração? Nossas letras são o retrato do mundo caótico em que vivemos, guerras por poder, escravidão, religiões, política, e temas pessoais como a letra de “Suicídio”, escrita após uma amiga minha ter se matado. A banda foi formada na cidade de Itapevi-SP. Fale um pouco sobre a cena local. Existe algum evento regional? Algum local que abre as portas para as bandas novas? Itapevi (Itahell) sempre teve bandas fodas e uma galera insana por shows, mas devido à falta de espaço e apoio está difícil ter algo. Recentemente a banda se apresentou em Minas Gerais no já conhecido evento “Aneurose Fest”, como foi essa convocação? Viajamos mais de 1200 km, e posso dizer que foi uma experiência incrível. O pessoal de MG é insano, valeu cada esforço para chegar lá, graças ao Wallace da banda Aneurose. Esperamos poder voltar um dia. Continuando com foco nas apresentações como anda os shows da Torrencial? Hoje existe uma facilidade para shows de Thrash Metal? Como anda a agenda de shows para esse ano de 2017? Estamos fechando alguns shows, mas devido à crise está muito difícil fechar shows fora de SP. Hoje se vê os muitos produtores de ban41


das falando da ausência da galera em shows. Agora falando no público como é esse relacionamento da banda? Como lidam com isso? A galera está comparecendo nos eventos? É uma bola de neve, produtores não conseguindo honrar seus contratos mesmo com ingressos muito baratos, casas de shows fechando por falta de público, bandas tendo que tocar sem ajuda de custo, e infelizmente há aqueles que só gostam de rolê “Tributo”. Como anda o processo de finalização e lançamento do disco físico para “Nação em Fogo”? Já tem data para o lançamento? Por que o longo espaço de tempo entre os plays? Foi algo proposital? 42

O disco sairá em março de forma independente, pois os selos estão com muitos discos para lançar e sem grana. E o intervalo entre os lançamentos foi devido a mudança na formação, mas já estamos trabalhando em novos sons. A arte da capa de “Nação em Fogo” ficou espetacular, o que de fato ela representa? Qual é a mensagem que a banda pretende passar? Qual foi o artista que a produziu? A capa foi desenvolvida pelo Jean Michel da Designations Artwork, que soube captar os pontos fortes das letras e transferir para a capa. Muitas bandas na hora de gravar um disco em estúdio possuem diversos pro-


blemas e dificuldades. Como foi o processo de gravação de “Nação em Fogo”? Podemos considerar que a banda possui uma facilidade nas composições? O disco foi produzido por Rafael Augusto Lopes e pela banda. Não houve muitas mudanças nos arranjos, o que mais dificultou foram as agendas das participações especiais e da própria banda. O disco “Nação em Fogo” já está rolando na internet há algum tempo. Essa estratégia ajudará a banda na venda do material físico? Como interpretam esse mundo internauta onde o consumo de música virtual só cresce? Hoje ,querendo ou não, toda banda precisa 43

de algum material na rede, e vemos isso como uma coisa normal, colocamos algumas músicas em nosso canal no SoundCloud. Pois bem pessoal, fico muito feliz que tenham participado desta entrevista e muito feliz de estarem conosco, aqui deixo o espaço aberto para vocês obrigado! Um muito obrigado a você e a revista pelo espaço, e a todos que nos seguem, compram nosso merchandising, e que colam em nossos shows, vocês movimentam a roda chamada Underground. Acompanhe a banda - Soundcloud | Reverbnation | Facebook


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Foto: Eddie Shumway

Por Pei Fon com Susi dos Santos Fotos: Mayckon Pacheco

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e tem uma coisa que gostamos muito é conversar com as bandas justamente no período que lhes são tão emblemáticos. 20 anos de estrada não é para todo mundo. Uganga é uma banda mineira que já excursionou bastante pela Europa, tocando em muitos festivais e dividiu palco com bandas de renome no cenário. Conversamos com Manu ‘Joker’ Henriques e Marco Henriques sobre um pouco de tudo na história da banda. Leia já! Vocês estão prestes a lançar o primeiro DVD da banda, “Manifesto Cerrado”, em comemoração aos 20 anos de banda. Pelo que sabemos, o DVD vai incluir um documentário de longa-metragem e um show gravado no Triângulo Mineiro. O que mais podem nos adiantar sobre esse trabalho e toda sua produção? Manu “Joker” Henriques - Estamos muito orgulhosos deste lançamento. Foi um trabalho monumental, mas finalmente terminamos. Como você disse, ele consiste em um longa que celebra a trajetória da banda nesses mais de 20 anos, e um show de 2014. O longa, porém, tem um foco maior no período que antecedeu as gravações do nosso álbum mais recente, “Opressor”, ali pro final de 2012, até hoje. Inicialmente esse seria um lançamento para 2015, mas inúmeras coisas aconteceram nesse período, coisas boas, coisas ruins, e a história foi sendo moldada ao sabor desses fatos. O Eddie (Shumway) da Travesseiro Discos fez um trabalho incrível com uma visão única e muito real do Uganga. Ele realmente entende a banda.

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Me sinto honrado pela oportunidade de tê-lo ajudado com todo esse material. Foi um trabalho estafante, mas muito prazeroso. O show trata-se de uma apresentação na Estação Stevenson, um prédio histórico que fica na zona rural de Araguari. Foi gravado enquanto o Christian estava afastado dos palcos por problemas de saúde e o Murcego estava dando uma força pra gente ainda sem ser efetivado. Vejo aquele como um momento particularmente complicado para cada um de nós e ao mesmo tempo vejo como nosso renascimento, onde reafirmamos nossa união. Tocamos em círculo cercado por algumas pessoas mais próximas, familiares, amigos, parceiros de estrada... Pessoas que estão acostumadas a ver o Uganga, que fazem parte do nosso dia-a-dia e que estavam lá não para se matarem no mosh pit, mas para mergulharem nessa viagem interna conosco. Foi um momento bem especial e acredito que todos vão perceber isso ao assistir o 46

DVD, tanto o longa quanto a apresentação. “Manifesto Cerrado” será disponibilizado na internet, gratuitamente, um mês antes de seu lançamento físico, pela Sapólio Rádio. Alguns anos atrás essa estratégia seria um suicídio comercial. Qual o objetivo com esse planejamento? Marco Henriques - O principal objetivo é divulgar a banda ainda mais e contar um pouco do que rolou nesses 20 anos, desde a primeira formação. E a Internet é o melhor meio de divulgação atualmente. Então, por que não lançar na net? E o lançamento será feito em partes, primeiro o show e depois o documentário. Somos bem pés no chão quanto a isso, sabemos que a venda de CDs e DVDs não passa pelo seu melhor momento, então estamos focando em espalhar ainda mais o Uganga pelo país e pelo mundo. Esse é o objetivo. Manu - O lançamento físico será coisa para


fãs, teremos uma arte legal, brindes, vai ser um pacote foda! E serão somente 500 cópias numeradas a mão. Quem curtir a ponto de querer o material vai comprar um produto bem acabado e com preço justo. Quem quiser só conhecer mais sobre o Uganga, pode assistir na net. Em 20 anos de carreira, quais foram os altos e baixos e qual o segredo para se manter uma banda ativa, ininterruptamente, por tanto tempo? Manu - Tudo se resume a uma palavra: Amor. Nós realmente amamos a música, em especial a nossa música, e sentimos um prazer imenso em poder seguir fazendo isso independente dos percalços que, com toda certeza, aparecem. Não consigo ver pontos baixos na trajetória do Uganga, acho que tudo foi aprendizado, mas por volta de 2000/2001 creio que estávamos bem perdidos musicalmente e totalmente 47

desunidos. Outros tempos, enfim... Acho que o melhor momento até agora é hoje. Durante essas duas décadas vimos o Uganga evoluir e transformar-se musicalmente. O Uganga de “Opressor” está bem distante daquele de “Atitude Lótus”. A versão que vocês disponibilizaram de “Couro Cru” – regravação do primeiro disco – é um exemplo. Ainda assim, é possível perceber um mesmo DNA transitando por entre todos esses anos. Como você explicaria isso? Manu – “Atitude Lótus”, apesar de ter sido composto em sua maioria pela formação anterior, da qual eu e o Christian fazíamos parte, teve uma grande participação do Marco e do Ras que entraram no meio das gravações e trouxeram seu background hardcore. Isso foi após mais um dos vários rachas que tivemos naqueles dias (risos). Dias de caos! Esse mo-


mento fui muito importante, pois passamos de uma banda onde cada um queria fazer um tipo de música para uma banda que se entendia musicalmente e que basicamente voltava às suas raízes. “Atitude Lótus” encerra uma fase e começa outra, mas trata-se da mesma banda, ao menos em tese (risos). Creio que por isso a essência daqueles dias ainda é sentida nos nossos trabalhos mais recentes. Outra coisa é que tanto naquela época quanto hoje eu fui o responsável pelas letras e isso ajuda na conexão. Aliás, Manu, se remontarmos as suas origens como ex-baterista do Sarcófago e também da banda crossover Angel Butcher, o que o Uganga faz hoje está muito mais relacionado historicamente com o seu passado do que com o som que o Uganga explorou em “Atitude Lótus” e “Na Trilha do Homem de Bem”. Olhando para trás o Uganga viu o futuro? Manu - Creio que sim, mesmo que de maneira não planejada. O começo do Uganga, ainda com nome de Ganga Zumba, foi mais pesado. Era algo mais hardcore mesmo, porém não tão rápido. Com as mudanças de formação e obviamente de alguns dos compositores, a música foi se fundindo com outros estilos como ska, funk metal, reggae e rap. Não somos radicais, ouvimos muita coisa, mas acho que naquela época nós perdemos um pouco a mão nessa mistura. Hoje temos uma unidade forte e sólida e sabemos onde estamos e pra onde queremos ir. Com exceção do Murcego, que mesmo assim já está na banda há quase três anos, o resto já vem tocando juntos há 10 e isso fortalece em muito nossa química. Somos seis pessoas indo na mesma direção. Como disse na resposta anterior, “Atitude Lótus” representa outro momento musical da banda, 48

um momento que faz parte da nossa história, nos orgulha, mas ficou pra trás. Já o “Na Trilha Do Homem De Bem”, a meu ver, é a transição entre uma fase e outra, um disco difícil de ser gerado e uma banda que se definiu no “Vol. 03 Caos Carma Conceito”. Nesse álbum definimos nosso estilo. Voltando a falar de “Couro Cru”, em 1999 o Uganga - na época Ganga Zumba - tocou no programa Ultra-Som, da MTV. Era mais difícil conseguir um espaço para se apresentar na MTV e atingir um público em massa ou atrair a atenção das pessoas para assistirem a um vídeo postado no Youtube hoje?


Manu - Acho que sempre foi difícil, só mudaram os caminhos... Porém somos daquelas bandas que não ficam só nos planos. Seja por correio ou via internet, trabalhamos forte nossa música, nos dedicamos no palco e sempre pegamos estrada. Trabalhando, os resultados aparecem, mesmo que demorem. Ainda seguindo no mesmo raciocínio da pergunta anterior e fazendo uma paralela com o álbum “Opressor” que versou sobre os poderes opressores que a humanidade tem que enfrentar, você acredita que as pessoas querem mesmo a liberdade, e a consequente responsabilidade pelos seus atos e pensamentos, 49

ou preferem viver irresponsavelmente sob as sombras de poderes superiores, e opressores, reais (políticos) ou imaginários (religiosos)? Manu - Eu acho que grande parte das pessoas que vivem nesse planeta querem a coisa mastigada, por isso o mundo está essa merda. Ego, ego, ego... E acomodação. Tudo ‘fodidamente’ padronizado ou caoticamente desestabilizado, equilíbrio zero. A máxima do Império Romano do “pão e circo” nunca esteve tão presente, assim como a ânsia de apontar o dedo na cara das pessoas em nome de uma “verdade absoluta”, como na época do Terceiro Reich. Acredito de verdade que em certos segmentos das artes, seja na pintura, na poesia ou na música,


Foto: Eddie Shumway

ainda temos ilhas de inquietação e liberdade. “Manifesto Cerrado” foi Financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Araguari/MG. Recentemente a banda também foi patrocinada pelo programa estadual Música Minas para uma turnê pelo Nordeste. Seus álbuns anteriores também sempre trazem algum tipo de financiamento através de leis de incentivo. O Uganga parece ser uma das bandas de metal que melhor trabalham com políticas públicas de cultura. Esse é o caminho do futuro para a música? Marco - Há vários projetos destinados à Música e Cultura, e nada mais justo que aproveitarmos disso para produzir e levar a banda 50

adiante. A realidade de uma banda independente de som pesado no Brasil requer muita ralação, trabalho e, muitas vezes, gastos do bolso. Iniciativas como o Música Minas e PMIC (Araguari/MG) ajudam artistas a crescer, evoluir e ter melhores condições de produzir seu trabalho. O fato de termos aprovado mais de uma vez é um reflexo do que viemos fazendo ao longo dos anos, do nosso corre e da bagagem que acumulamos. E agora, juntamente com a Som Do Darma que nos empresaria, estamos conseguindo dar passos maiores e consequentemente aproveitar projetos melhores. Falando mais sobre essa recente turnê pelo Nordeste, como foi? Vocês que nesses mais de 20 anos de carreira tocaram com mais frequência na região


sul e sudeste do país, e até no exterior, o público do Nordeste oferece mesmo uma recepção especial? Marco - Foi demais, curtimos muito! Dessa vez fizemos dois shows, em Mossoró e Campina Grande e em ambos a receptividade foi acima do esperado. Voltamos praticamente sem merchandise. Já temos convites para retornar e fizemos vários amigos. O saldo foi bem positivo. E o público do Nordeste é super receptivo, fomos muito bem recebidos. Esperamos voltar em breve. Manu - Um salve aos nossos irmãos nordestinos, espero que em breve a gente se reencontre, pois realmente foram dias incríveis! Ainda sobre shows, há um ano vocês dividiram o palco com o Exodus em Curi51

tiba. Vocês afirmaram que a banda de Gary Holt é uma das principais influencias do Uganga. Quais outras bandas vocês gostariam de tocar ou excursionar? Marco - Nossa, pergunta difícil. Tem tanta banda que seria um sonho dividir o palco. Felizmente já tocamos junto com alguns nomes que são fortes influências, como Sepultura, Ratos de Porão, Olho Seco... Mas se pudesse escolher cinco nomes do mainstream que ainda estão na ativa, ficaria com Slipknot, Slayer, Lamb Of God, Mastodon e Rancid. Nada mal né?(Risos) Manu - Não só Gary Holt, mas todo o Exodus são parte das nossas referências mais básicas. Tocar com Exodus, Coroner, Cathedral, Macbeth e várias outras bandas fenomenais é mais que aprendizado, é a realização de um


sonho. E já que é pra sonhar, abrir um show do Black Sabbath seria o maior deles, ou fazer uma jam com Paul MacCartney e Ringo Starr (risos). Sendo um pouco mais pé no chão, fazer uma tour com o Discharge seria incrível! Outro projeto recente também merece destaque, o “Uganga - Oficinas Musicais”. Vocês estão oferecendo oficinas gratuitas de guitarra, baixo, bateria e até estética/métrica vocal e produção, tudo baseado nas experiências reais vividas pelo Uganga. É interessante como o Uganga está indo além em termos de produção, quando bandas e músicos pensam em apenas gravar discos e fazer shows. Como surgiu esse projeto e até onde pretendem levá-lo? Marco - A ideia surgiu como uma contrapartida do nosso projeto aprovado pelo Música Minas. Poderíamos escolher algo mais fácil e cômodo, mas por sugestão do nosso manager Eliton Tomasi, pensamos em fazer uma atividade que realmente agregasse algo ao histórico da banda. E daí vieram as Oficinas. Serão três dias, um com as guitarras, um com bateria e baixo, e o terceiro com vocal e produção musical. No encerramento faremos um pocket show, tocando alguns sons novos. É um projeto pequeno, número limitado de inscritos por oficina, e o intuito é trocar uma ideia com o público, falar da nossa experiência, das influências de cada um, trajetória na música, equipamentos... E pensamos em continuar com esse projeto, levando para outras cidades, visitando escolas públicas... O retorno tem sido muito legal, as oficinas já estão praticamente lotadas e estamos bem ansiosos pra ver o resultado. Paralelamente ao lançamento do DVD “Manifesto Cerrado” e de todos esses 52


outros projetos, o Uganga já está em avançada fase de pré-produção de seu novo álbum de estúdio. O que pode nos adiantar? Manu - Já temos 70% do álbum fechado, será nosso primeiro trabalho com três guitarras e estamos todos muito empolgados com esse material. Devemos começar a gravar em abril novamente no Rocklab em Goiânia com o mestre Gustavo Vazquez. Creio que é uma evolução do “Opressor”, é um álbum guiado pelo thrash metal e pelo hardcore/punk, mas com toda a essência do Uganga e com arranjos mais bem elaborados. Como você disse, esse será o primeiro disco a ser gravado com três guitarristas. Há alguma pressão para justificar a presença de uma terceira guitarra numa banda de thrashcore? Manu – Nenhuma! Até porque não somos uma banda de thrashcore convencional. Esse é um termo que ajuda a nos posicionar na cena, mas que, particularmente, acho que nos limita um pouco. Em todo caso, a entrada do Murcego foi mais um momento onde a banda não teve medo de apostar, de experimentar e estamos plenamente satisfeitos com o resultado. Quando o álbum sair cada um poderá tirar a sua própria conclusão. O Uganga realizou duas turnês europeias para promover seus dois últimos discos de estúdio. Pretendem voltar ao velho mundo após o lançamento do novo trabalho? Se sim, farão algo diferente se comparado às turnês anteriores? Manu - A Europa já faz parte da nossa trajetória e com certeza voltaremos em breve. O “Opressor” será lançado lá esse mês pela Defense Records da Polônia e isso ajuda a nos 53


manter vivos numa cena tão competitiva como aquela. Quanto a uma terceira tour por lá, definitivamente faremos assim como pretendemos fazer também nosso primeiro giro pela América Latina. Mas antes devo ir com o Eliton pra Europa daqui pro final do ano para negociar o lançamento do próximo álbum por lá, assim como fortalecer os contatos para a próxima tour, buscar espaço em festivais, etc. Já temos muita coisa em vista e será uma viagem para promover o Uganga e abrir novas frentes para que cada tour seja melhor que a outra. Trabalhamos com os pés no chão, com planejamento e sempre buscando o crescimento da banda. Falando em velho mundo, movimentos de extrema direita parecem ganhar força por lá depois da crise imigratória e dos recorrentes ataques terroristas. Vocês acham possível que o holocausto e os horrores da segunda guerra tenham perdido seu efeito na memória da população europeia? A música “O Campo”, do Uganga, baseada numa visita que vocês fizeram a Auschwitz, reflete justamente sobre a importância de se lembrar de fatos históricos para conduzir a consciência vigente a um nível mais seguro: “Algo para nunca se esquecer, na mente preservar. Lembrança do que aconteceu, pra nunca mais voltar.” Esquecemos e está voltando? Manu - Vivemos tempos difíceis, no mundo todo. Nos EUA temos um maluco no poder, na Rússia outro, a Europa está assustada e se armando, o Oriente Médio está em chamas. Lembra muito o período da Guerra Fria, mas com o radicalismo dos primeiros dias do nazismo, aquele radicalismo velado. Nesses momentos a coisa toda fica mais vulnerável e é onde ideias extremas, como dos grupos de ex54


trema direita ou de extrema esquerda, ganham voz. Onde assassinos como o ISIS conseguem atrair jovens desiludidos do mundo todo. Aqui no Brasil a corrupção chegou ao cúmulo do insuportável, vivemos num estado criminoso enquanto a população fica brigando entre si escorada nos estereótipos de Bolsonaristas e Lulistas. Que se fodam! O gigante é uma porra de um sonâmbulo! É sempre importante lembrar-se dos erros ao olhar para o futuro, e nunca se esquecer da tolerância. Eu não consigo dissociar o lado espiritual disso tudo, e isso não tem nada a ver com religião. Acredito que enquanto os governantes não levarem esse lado em consideração também, enquanto o que nos guiar for somente a luta pelo poder e pelo capital, nós estaremos fodidos! No outro extremo, através de movimentos de esquerda, parecem surgir tendências de “super proteção” a minorias. Um grande senso de censura tem se instalado invisivelmente na consciência das pessoas, no que tem se tornado “a praga do politicamente correto”. Traço agora um paralelo com a música “Fronteiras da Tolerância” onde o refrão, enfaticamente, diz: “Ninguém vai te salvar, a não ser você”. Entre esquerda, direita e centro, que o individuo escute sua própria voz? Manu - Com toda certeza sim! Que o indivíduo estude mais, se informe e não seja somente um servo, seja de si ou dos outros. Pense livre, pois a sua verdade está dentro de você. Não é necessário um templo cheio de luxo, uma porra de um partido político ou um livro para se guiar. Valorizo os mestres, o conhecimento, mas principalmente o direito de discordar. Não quero pagar de senhor da verdade, não sou exemplo pra ninguém além de mim, mas é nisso que acredito. 55


Ainda seguindo no mesmo raciocínio da pergunta anterior e fazendo uma paralela com o Alice In Chains, que acredito ser uma influencia do Uganga... Eles têm uma música chamada “Voices” que versa sobre nossas vozes interiores, que por vezes pode ser uma ou 13 (uma analogia usada por eles para exemplificar a pluralidade de personalidades). Como ouvir nossa própria voz, mas a correta? Há uma correta, afinal? Manu - Grande Alice In Chains! Realmente é uma unanimidade dentro da banda a ponto de Jerry Cantrell ser o guitarrista preferido do Christian. Quanto a sua pergunta, eu diria que uma pessoa quando soca outra, o faz sabendo que aquilo não é bom, porém, dentro da sua ótica, pode ter sido necessário. Não estou fazendo apologia nenhuma à violência, só citando um exemplo extremo. Quando somos intolerantes, sabemos que aquilo é errado, que foi fraqueza, em especial quando o fazemos com 56

as pessoas que mais amamos. Acho que as pessoas que ao menos reconhecem essas falhas e procuram mudar, estão alguns estágios a frente daquelas que acham que sempre estão certas. Essas estão no fim da fila, estão ferradas! Parar um pouco, olhar pra dentro de si e não só pra merda de uma tela de celular, também ajuda. Assim como aprender a ouvir. Eu mesmo às vezes tenho dificuldade em ouvir. Para muitas pessoas a meditação é uma saída, pois nos tira do bombardeio de lixo que é a vida na dita sociedade moderna contemporânea. Ouvindo a voz coletiva do Uganga formada pelos seus seis integrantes, qual a mensagem que a banda deixaria, para finalizar? Manu - Seja você, lute pela sua verdade e boa sorte! Mais Informações: Site | Facebook | Youtube | Twitter | Sapolio Radio




Por Pei Fon (peifang@rockmeeting.net) Tradução: Guilherme de Alvarenga

Foto: Banda/Divulgação

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onhecer bandas é a nossa sina. A edição de fevereiro está cheia destas bandas, além das bandas históricas, que não pode faltar. No momento, fomos até o país em formato de bota. Estou falando da Itália que tem um pé na arte... Os dois pés, vai! Conversamos com a galera do Northern Lines. Um trio autoral que mostra que sabe tocar, têm raízes e muito feeling. Escutamos o seu segundo cd, o “The Fearmonger”, lançado em 2016 e debatemos um pouco sobre ele com os caras. Acompanhe! Por favor, apresentem-se para os nos59

sos leitores. Olá a todos. Nós somos o Northern Lines da Itália, e nós tocamos algum tipo de “faça qualquer coisa que lhe pareça música”. Northern Lines traz uma proposta autoral, instrumental e progressiva. Como surgiu a banda? A banda nasceu em 2013 devido à necessidade por liberdade musical que nós 3 buscávamos desesperadamente. Tocando de três a quatro anos em uma banda pop fará isso por vocês também.


O som da banda é bem ancorado nos anos 70 com pitadas mais modernas. O que levou a buscar essa referência para o som? Bom, esses clássicos dos anos 70 e o rock progressivo são os gêneros que moldaram nossas identidades musicais em sua maior parte. Essa pegada moderna que você menciona, que você diz que colocamos, se deve ao fato que não criamos música na década de 70, então tudo que escutamos hoje em dia seja rock, prog, jazz ou pop contribui de alguma maneira com nossa música. Diante da proposta que vocês executam fica até difícil imaginar como seria com voz. Já pensaram em agregar letra e voz às canções do Northern Lines? Não, nunca imaginamos. Desde o começo nós sabíamos que tínhamos que ser uma banda instrumental. As letras precisam da música para serem efetivas, enquanto a música é totalmente independente da letra, gostamos de criar músicas que cada um possa assimilar de seu próprio modo, sem aquela de coisa de rotular e dizer às pessoas “essa música fala desse tópico”. A música por si própria é extremamente poderosa, ela não precisa de palavras. Recentemente lançaram seu segundo álbum de estúdio. Como está sendo a resposta do “The Fearmonger”? Até agora muito boa! Ele estará disponível desde o dia 28 de janeiro e as pessoas que o escutaram até agora gostaram muito, então estamos com bastante expectativa. A temática desse álbum é a morte. Fale um pouco sobre o conceito do seu segundo play. O conceito do álbum que temos em nossas cabeças é na verdade bastante preciso para 60


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ser sincero. A verdade é que sem letra não há muita necessidade de tentar “esfregar” esse conceito na cara das pessoas. Digamos que o conceito básico seja a história de um homem que descobre que possui apenas poucos dias de vida e como ele lida com essa revelação. Engraçado dizer, mas não sinto esse medo todo em “Nightwalk”, por exemplo. Acho uma canção bem amistosa para esse sentimento. Diria que ‘alegre’, com tanta variação musical. Com toda certeza, falar sobre (ou neste caso tocar sobre) a morte não significa que você precise ficar constantemente depressivo, tris62

te ou com raiva dela. A morte é só mais uma coisa que acontece com todos e encarar isso de forma menos dura deve ter seu lugar também, ao menos para nós! Impossível não falar das influências. Led Zeppelin, Pink Floyd, Deep Purple. Alguns nomes. Dentre eles, qual o cd que vocês gostariam de ter gravado? Fale sobre ele. Se tivéssemos a chance, seria o Zeppelin sem hesitação alguma, ao menos para dois de nós, o terceiro é mais “pink floydiano”. “Machine Man” tem um toque latino,


depois surf music, variedade sonora muito interessante. Sinto como se fossem as várias fases que o homem vive na vida. Quem seria esse ‘homem máquina’? “Machine Man” é o único dos títulos das músicas no álbum que explicitamente dá alguma dica sobre o conceito original. É o protagonista, que ao menos nas nossas cabeças, depois dos primeiros dias que ele sabe que morrerá em breve, decide fazer um ‘faxinão’ em sua casa meio que tomado por um frenesi muito louco. Brasil. O que vocês conhecem daqui? 63

Fale um pouco. Bom, sabemos que vocês são incrivelmente bons com futebol, isso é um fato! Sabemos também que amaríamos ir aí tocar para pessoas que estiverem desejosas de nos escutar. Por fim, o que podemos esperar para 2017. Sucesso e muito obrigada. Estamos atualmente ensaiando para que possamos tocar o álbum da melhor maneira possível ao vivo, e então esperamos entrar em turnê, provavelmente lugares no norte da Europa! Muito obrigado por essa entrevista, um cheiro bem gostoso para a galera do Brasil!


Por Pei Fon com Susi dos Santos Fotos: Eliton Tomasi

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á estamos em 2017 e não vai ser difícil contabilizar as bandas com, pelo menos, 10 anos de existência. Com 20 anos de estrada, a banda Hellish War falou conosco sobre seus álbuns e clássicos, lógico. Mas não só disso foi falado, afinal, passado, presente e futuro se chocam constantemente e não há como fazer um contraponto com o que era antes, o que é hoje e o que pode ser amanhã. Conversamos com Vulcano, JR e Daniel Person sobre alguns assuntos. Acompanhe!

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“Defender Of Metal” não é apenas um clássico do Hellish War, mas do metal nacional e até mundial. E ter um clássico na discografia seja, talvez, o que qualquer banda almeje. Todavia, esse é um fenômeno que simplesmente acontece, nenhuma banda decide “vamos gravar um clássico”. Qual era o sentimento e a intenção de vocês durante o processo de composição e gravação de “Defender Of Metal”? Vulcano – Este álbum foi feito inspirado no


metal oitentista! Procurávamos compor músicas com refrões marcantes e riffs que lembram o bom e velho estilo daquela época. Queríamos mostrar que o heavy metal clássico ainda poderia ser resgatado e tocado de maneira simples, mas com paixão. E porque “Defender Of Metal” é um clássico, na opinião de quem o compôs? O que “Defender Of Metal” tem como diferencial se comparado a “Heroes Of Tomorrow” ou a “Keep It Hellish”? 65

Vulcano – O primeiro álbum de uma banda, com o tempo, sempre tende a se tornar clássico. Mas este, em particular, tem uma sonoridade mais crua e foi gravado em apenas uma semana! Lembro-me de tocarmos sem medo de errar durante as gravações. Isso deu um espírito diferente para este primeiro álbum. Ter um clássico na discografia faz com que a banda, de certa forma, torne-se refém dele para o resto da carreira. Por mais que Maiden e Metallica te-


nham lançados ótimos novos disco, os fãs ainda querem ouvir “The Trooper” e “Whiplash”. Vocês podem gravar e lançar um disco sensacional como o “Keep It Hellish”, mas o “Defender Of Metal” continuará sendo sempre o preferido dos fãs. Como vocês lidam com isso? Vulcano – Acho natural essa reação do público. Vejo isso como uma forma de escolha e identificação dos fãs, mas isso não tira o mérito, a meu ver, dos outros três álbuns que também podem ser clássicos, cada um a sua maneira. Daniel Person - Esse é um ponto interessante. É o típico problema bom, que toda banda gostaria de ter. A gente percebe que a base de fãs do Hellish War cresceu muito nos últimos anos por conta do “Keep it Hellish”, que curiosamente serviu como uma porta de entrada para que um público mais novo conhecesse o “Defender of Metal” mais de 10 anos depois de seu lançamento. O curioso disso tudo é que a gente percebe que, hoje, não existe uma unanimidade entre “qual o melhor disco do Hellish War”. Alguns preferem o som mais cru e visceral do “Defender”, outros preferem o “Heroes of Tomorrow” que contem algumas das músicas mais pedidas nos shows, enquanto muitos fãs vêem o “Keep It Hellish” como o “disco perfeito” da banda, com seus refrões fortes e o peso, sempre fiel às raízes da banda. Isso é muito legal, e reforça a forma de se trabalhar do Hellish War: dificilmente seremos uma banda com 20 lançamentos em nossa discografia; podemos levar um tempo entre um álbum e outro, mas cada lançamento do Hellish War com certeza sempre apresentará o nosso melhor. A complexidade da questão acima desdobra-se até a formação da banda. O line-up que gravou um clássico do gru66


po tende a ser o preferido também dos fãs. No caso do Hellish War, o baterista Daniel Person e o baixista JR consolidaram-se ao longo dos anos como importantes integrantes do Hellish War, mesmo que tenham se juntado ao grupo após o lançamento de “Defender Of Metal”. Entretanto, no que se refere a vocalista, Roger Hammer não só foi quem gravou o clássico álbum como sempre foi o vocalista da formação clássica do Hellish War, se podemos dizer assim. Bil Martins poderá, um dia, tirar esse fardo das costas? Vulcano – Tenho certeza que Roger Hammer foi muito importante na carreira da banda. Fez os dois primeiros álbuns com garra e raça, mas precisou parar por motivos pessoais que o impossibilitaram de gravar o terceiro álbum, “Keep It Hellish”. Bill, entre tantos candidatos, nos deu a segurança que precisávamos para um substituto à altura do Roger, o que não foi fácil. “Defender Of Metal” foi lançado numa época (2001) de alta para o metal brasileiro. A Megahard Records, responsável pelo lançamento, à época era um selo quase que exclusivamente dedicado às bandas nacionais. Havia também mais casas e festivais voltados à música pesada autoral. Em São Paulo tínhamos a Fofinho, Led Slay, Blackmore, Black Jack, etc. O interior de SP era muito forte para o metal nacional também! Por que tudo está diferente hoje, na visão de vocês? JR - É difícil entender onde tudo realmente mudou. Mas a internet tem muito a ver com isso. Ficou tudo muito fácil e de interesse momentâneo. Isso é bom, mas não acredito que saibamos como realmente usar isto a nosso fa67


vor, a favor da humanidade. Outro fator são as bandas cover. Virou fonte de renda e todo mundo começou a fazer, a promover e ganhar uma grana em cima. Com isso shows e festivais autorais foram morrendo. São poucos os que temos hoje e, quando temos, apenas os fãs mais devotos comparecem. Falta espaço.

gura de seu líder, Joey DeMaio, alguém tão devotado que, segundo suas próprias palavras, “chegaria a morrer pelo metal”. Vocês, do Hellish War, também morreriam pelo Metal? JR - Morrer não. Viver sim! E já estamos fazendo isso há mais de 20 anos! (risos)

Durante o fim da década de 90 e começo dos anos 2000, convencionou-se rotular como True Metal toda e qualquer banda com conceitos parecidos ao do Hellish War: sonoridade geralmente voltada ao metal tradicional/speed/power metal associada a letras de devoção ao metal. Obviamente que o grande mentor desse movimento foi o Manowar, tendo na fi-

Os elementos da cultura nórdica/medieval também se fazem presentes conceitualmente na proposta do Hellish War. Há uma grande discussão sobre a legitimidade de bandas europeias – em sua maioria escandinavas – escreverem sobre esses temas que são comuns e inerentes à sua história, enquanto que para uma banda como o Hellish War,

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formada por brasileiros, acabam sendo temas muito distantes da nossa cultura, que tem raízes indígenas, e não vikings. Como ser tão verdadeiro, a esse respeito, como o Amon Amarth? JR - Nós apenas arranhamos a superfície destes temas. Em muitas vezes o utilizamos apenas como metáforas. Esta cultura, apesar de distante de nosso cotidiano, acaba por nos fascinar. Por isso acabamos fazendo essas referências em algumas de nossas letras. Mais especificamente no “Defender Of Metal” isso ocorreu. Falando em cultura europeia, o Hellish War parece ser um daqueles casos onde sua base de fãs no exterior é maior ou 69

tão grande quanto a base de fãs em sua própria terra natal. Vocês já excursionaram duas vezes pela Europa e lá tocaram em festivais de respeito como o Swordbrothers, Back To Rock e Razorblade. Por que isso acontece, na visão de vocês? JR - Temos uma boa base de fãs tanto na Europa como no Brasil. Na Europa existe um revival constante do estilo de bandas de Metal dos anos 80, tanto que existem festivais direcionados somente a estes fãs, como é o caso do Swordbrothers. Desde o início houve uma exposição do Hellish War na Europa e em um destes momentos caímos nas graças do Volker Raabe, produtor do SB. Ele foi a porta de entrada para excursionarmos por lá.


Aliás, vocês já pensaram em largar tudo aqui no Brasil e mudar para o exterior, a exemplo do que fez o Sepultura nos anos 90 quando se transferiu para Phoenix, nos EUA? No caso do Hellish War, vocês largariam tudo no Brasil pela banda e se mudariam para a Europa, se vissem lá uma oportunidade única? JR - Nunca falamos sobre isso, de realmente se mudar para lá. Até porque estamos bem estabilizados e temos muitos compromissos e responsabilidades pessoais aqui no Brasil. Isto dificultaria um pouco esse lance de fazer como o Sepultura. Mas acredito que se uma oportunidade única e promissora aparecesse, não descartaríamos esta ideia. Mas seria necessária uma boa estrutura e certeza de que poderíamos ganhar a vida desta forma. Apesar das celebrações aos 15 anos de “Defender Of Metal”, o Hellish War tem um trabalho recente que é o ótimo “Keep It Hellish” de 2014. Três anos já se passaram... Já planejam voltar aos estúdios? JR - Apesar do “Keep It Hellish” já ter três anos, ainda pretendemos promovê-lo um pouco mais. A qualidade do álbum não condiz com a exposição que ele teve desde seu lançamento. Queremos focar em uma gravadora/distribuidora maior. Após isso iremos focar em um novo álbum. Temos algumas ideias já, mas tudo ainda em estado experimental. Não começamos, de fato, a escrever novas músicas. Mas definitivamente iremos lançar material novo no futuro próximo. Mais Infos - Facebook | Twitter | Youtube

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Por Pei Fon com Rômel Santos Fotos: Ton Müller

O Louder foi uma grata surpresa de 2016, provando que o sul do país não sobrevive apenas do metal extremo. Conte-nos sobre o início das atividades até o lançamento do EP de estreia “Take One”. Felipe Saretta: O sul do país tem bandas com estilos diversos e o Rock é muito bem representado por todas elas. O Louder iniciou como um projeto para fazer música autoral e também mescla covers que representam a sonoridade da banda. Formada por um grupo de amigos que tem afinidade há bastante tempo. Ao longo dos ensaios, jams e até acampamentos, surgiram às músicas que compõem o nosso primeiro EP. Particularmente classifico o Louder como uma banda de Heavy Rock, mesclando vários estilos, como Heavy Metal, Hard Rock e Rock Progressivo. Falem um pouco sobre as influências e inspirações musicais. Os integrantes da banda vêm de várias escolas, desde o Blues, passando pelo Rock Clássico, até o Heavy Metal. Cada um traz no seu instrumento as características do estilo que o influencia, buscando uma sonoridade em comum com o que o Louder representa. A banda é democrática? Como é dividida a participação de cada integrante no processo de composição? Quando escolhemos o repertório dos shows, 74


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todos opinam sobre as músicas que gostariam de tocar e, ao final, algumas são escolhidas por todos os integrantes. Obviamente acontecem algumas discussões internas sobre o repertório, mas no final existe um consenso sobre o que vamos tocar, sempre pensando no resultado que a banda gostaria de atingir. No processo de composição não existe uma regra, por vezes um integrante já tem o esqueleto de uma música, outras são compostas durante jams e algumas foram compostas até em um acampamento da banda com este propósito. Mas o som vai surgindo naturalmente e cada um dá a sua contribuição. 76

Comente sobre a primeira experiência em estúdio com o Louder para as gravações do EP “Take One”. Gostaram do resultado final? Nossa experiência em estúdio foi fantástica, todos participamos ativamente de cada etapa de produção apesar do curto espaço de tempo. Como o estúdio fica na nossa cidade, ficou mais fácil para acompanhar o processo, que foi conduzido com maestria pelo Maninho que, além de ser um excelente músico na sua área, é também um entusiasta do processo de gravação e tem um estúdio na sua casa. Mesmo


assim, após o trabalho ser finalizado, a gente sempre acha que existem alguns pontos que podem ser melhorados, porém, o resultado final foi extremamente satisfatório. O EP tem obtido excelente retorno da imprensa especializada através de resenhas, inclusive sendo apontado como um dos melhores EPs do metal nacional em 2016. Como vocês avaliam a repercussão do trabalho até o momento? Estamos muito felizes e gratos com a repercussão, não imaginávamos que o EP seria tão bem recebido pela crítica como está sendo. Este re77

torno nos deixa com muito orgulho do nosso trabalho e confiantes com o futuro da banda, que parece estar no caminho certo. O Top 5 Rock Meeting é tradicional em nossas perguntas. Faça um top 5 dos artistas que influenciam seu gosto musical e comente sobre cada um. O Iron Maiden é para mim a principal influência, inclusive, temos um tributo chamado “Powerslave”, no qual sou um dos guitarristas, juntamente com o Maurício e o Kid, respectivamente guitarrista e vocalista do Louder. O Led Zeppelin também é uma das bandas que


Foto: Gean Ghellere

me influenciaram, gosto bastante da sonoridade clássica deles, com músicas muito bem compostas. O AC/DC que é um exemplo perfeito de um excelente Rock and Roll direto e de qualidade. Também o Black Sabbath, uma das bandas que me levou a escutar e apreciar, além do Rock and Roll, o Heavy Metal. Não poderia deixar de citar o Green Day, que na adolescência, com aquela rebeldia tradicional desta fase, me fez gostar também de Punk Rock e a banda me chamou a atenção por ser simples e direta no seu conteúdo. A banda irá produzir um videoclipe em divulgação ao EP? Se sim, qual a previ78

são de lançamento? Nosso clipe, produzido pelo Tom Muller, já está pronto, em breve será lançado, provavelmente em fevereiro. A música “No More”, foi escolhida para ser representada no vídeo clipe, ela é a primeira composição da banda e tem todos os elementos que definem o é o Louder hoje. O Louder e outras bandas de Veranópolis/RS criaram o Movimento Verarock. Como surgiu o projeto? Qual o objetivo? Estão conseguindo êxito? O Verarock surgiu por uma demanda na cidade para as bandas locais terem oportunidade


de mostrar seu trabalho. Existem bandas de todos os estilos e todas estão se ajudando no processo de consolidação do Movimento, que culmina, além de shows e eventos de menor expressão, com o Medi In Rock, que neste ano contou com 25 bandas de Veranópolis e região. O Movimento Verarock está conseguindo atingir seus objetivos e as bandas se respeitam e frequentam todos os shows, o que é raro em outros locais, com bandas de determinado estilo não apoiando as demais. É justamente esse tipo de união que o Rock and Roll precisa para se fortalecer e conseguir bater de frente com estilos de música mais populares no Brasil, como o sertanejo universitário, por exemplo. 79

Já há planos para um álbum completo? Shows fora do Rio Grande Sul? A banda tem a ideia de produzir um álbum completo sim, porém não sabemos quando isso acontecerá, gostamos muito do resultado do EP e queremos fazer um trabalho ainda melhor. Sobre os shows fora do estado, seria muito interessante para a banda. O mercado de shows é restrito, e as casas de show hoje preferem bandas cover, que também merecem ter seu espaço, do que bandas autorais, isso é normal no mercado, mas estão surgindo cada vez mais oportunidades para bandas como o Louder de mostrar seu trabalho e abrir portas em todos os lugares do país.


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Data: 30 de Janeiro de 2017 Local: Sala Razzmatazz 3, Barcelona. Texto e fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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entaremos ir direto ao assunto, como sempre deve ser, ainda que às vezes sejamos obrigados a detalhar mais as coberturas por culpa dos ‘figuras’ que nos rodeiam. Para quem acompanha de perto nossas coberturas em Barcelona, não seria necessário dizer que a banda em questão não faz muito nosso perfil, mas quando o convite cai do céu e sem grandes esforços, uma recusa poderia acarretar problemas futuros. Então, fizemos nossa cara de paisagem e assumimos o compromisso. Fomos conferir de perto o bom show do Four Year Strong, a qualidade da banda não pode ser negada, gostemos dela muito ou pouco. O quarteto deu início a tour europeia e celebração (10 anos) de seu primeiro disco, “Rise or Die Trying”. O que chamou verdadeiramente a atenção foi o fato da banda passar de tocar em salas bem maiores a tocar na Razzmatazz 3, com capacidade para 156 pessoas e ainda assim não lotar o espaço. Alerta muito maior considerando que a princípio o show estava marcado para a sala 2, com pelo menos três vezes a capacidade da atual e numa data comemorativa, o que normalmente atrairia mais público. A desculpa pública foi que o quarteto queria reunir apenas os verdadeiros fãs, tornar a noite mais intensa e com maior proximidade das pessoas.

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Talvez não, o que realmente passa pela cabeça é que estas bandas têm um tempo de vida útil e que é verdadeiramente estranha a defasagem de idade entre os integrantes e os “verdadeiros” fãs que lá estavam, pela faixa etária dos mesmos, deveriam ser crianças há dez anos. Mas... Ficaremos aqui só malhando a situação? Não, já elogiamos a capacidade musical da banda acima, também vale destacar que o jovem público estava realmente animado e ansioso por vê-los tão de perto e de terem a oportunidade de escutar o disco em questão, ser tocado do início ao fim e ainda um punhado de canções como “Find My Way Back” e “Who Cares?” incluído no setlist. Até.

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Sala Apolo, Barcelona, 10 de Fevereiro de 2017. Texto e Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots

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alar de Me First and The Gimme Gimmes é falar de festa, curtição à toa e sem pretensão. Porém queremos bem tocado, porque senão perde a graça e foi exatamente o que aconteceu, não a perda de graça, mas sim o bem tocado. Há pouco mais de três anos a superbanda de covers pisou em Barcelona e esgotou entradas, ficou aquele sabor de quero mais. Sim, para os desavisados o Gimme Gimmes é um grupo de cover, tocando (à sua maneira) hits dos anos 50, 60, country, pop, folk e o que mais vier pela frente ou passar pela cabeça. O quinteto formado por integrantes do Lagwagon, Face to Face e atualmente Bad Religion, já que Jay Bentley substitui Fat Mike (NOFX) no baixo, veio antecipar o lançamento do “novo” disco “Rake it In: The Greatest Hits”. Não decepcionaram e nem saíram decepcionados já que o público deu um show à parte. Abriram a noite com “Summertime”, originalmente composta em 1934 e que figura no segundo disco da banda, deram sequência com “Who Put The Bomp (in the Bomp, Bomp, Bomp)” e levantaram a galera em definitivo com “All My Lovin’” dos The Beatles, sim os

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rapazes de Liverpool continuam na boca do povo e o que dizer de “Sloop John B” dos Beach Boys misturados riffs de Teenage Lobotomy? Riso fácil, stage divers, head surfers, suor e alegria. Destacamos outros pontos altos da noite, a execução de “Country Roads” (originalmente Take Me Home, Country Roads) e também “I Will Survive”, clássicos em qualquer idioma e em qualquer versão. Chamou bastante atenção a maneira de como Jay Bentley curte estando na banda, como se estivesse de férias com seu bigodão, camisa estampada, calça e sapatos brancos. Tivemos músicas com Ukelele e já no final a participação no saxofone de um integrante do Los Mambo Jambo, banda bastante conhecida por aqui. Para encerrar, retornamos ao inicio da noite e damos destaque também para Masked Intruder, a banda de abertura, com um pop punk bastante aceitável e seus integrantes mascarados que nunca revelam identidade, veremos até quando. Num geral a banda defendeu bem seu disco e atraiu atenção do público.

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Por Luiz Harley Caires Fotos: Banda/Divulgação

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á tempos que se discute o fato de que as grandes bandas estão se aposentando e nossos ídolos estão morrendo, então qual será o futuro da cena metal? A resposta para tais questionamentos podem vim da renovação do underground, bandas que reconhecem suas influências e mantém a cena viva. Entre elas destacamos a New Band uma das forças representantes do sempre prolífico metal nordestino. Conversamos com o Diego Guimarães, vocalista e guitarrista. Acompanhe a entrevista abaixo. Inicialmente, muito obrigado pela entrevista. Para começar nosso bate-papo gostaria de saber sobre o início da banda. A página no facebook indica que o grupo vem de 2010, então conta para nós como foi o “embrião” da NB e se a proposta sempre foi calcada no Thrash Metal? Saudações a você e a todos. Nós que agradecemos a oportunidade de falar um pouco sobre o nosso trabalho. Como você já citou, nossa banda originou-se no ano de 2010 através da iniciativa do nosso frontman, Diego Guimarães, que convidou para parceria o nosso baterista Eduardo Silva. O projeto sempre foi voltado para o estilo Thrash Metal e nossas inspirações e referências são de origem do movimento da bay Area. 94


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Confesso que achei uma grande sacada batizar a banda como New Band. De quem foi essa ideia de fugir dos clichês tão comuns? afinal já temos muito death, angels e destroyers por aí, não é mesmo? Bem, o nome da nossa banda é um tanto polêmico, porém não é algo que nos incomoda pra sermos francos. Ser uma “nova banda” é querer trazer uma novidade. Fugir do já existente, e não nos referimos apenas ao instrumental, porém da proposta como um todo. Com este nome queríamos passar uma nova perspectiva dentro do que já se tornou comum, uma nova esperança dentro do que já não se acredita. Ele nos faz lembrar o porquê começamos 96

e qual era nosso objetivo: “nova banda” para fazer a diferença na história. Nosso frontman a batizou e nunca nos sentimos atingidos pelas críticas. O que há por trás disto apenas nós sabemos. Recentemente vocês tiveram uma troca de formação. Sendo assim apresentem-se para nós a atual formação da New Band e quais as influências que os músicos trazem para a banda? Sim, recentemente o músico Gleysson Soares deixou o projeto e no seu lugar no baixo está o nosso amigo Alex Oliveira. Alex foi escolhido por seu talento não só com o instrumento como em outros assuntos. Sendo assim, sua


experiência e técnica vieram para somar ao projeto. Cada qual tem sua particularidade, claro, mas o que faz com que todos nós nos entendamos dentro da música é a referência forte na raiz do Thrash Metal. Atualmente nossa formação é composta por Diego Guimarães nos vocais e guitarra, Eduardo Silva na bateria, Gustavo Edny na guitarra solo e, agora, Alex Oliveira assumindo o baixo. A sonoridade de vocês me remeteu ao thrash metal feio nos anos 80, tal estilo ganhou um revival na cena mundial com banda como a Violator, Havok, Suicidal Angels, Fuzilador entre tantas outras. Em tal cenário quase são os diferenciais 97

que a NB vem apresentar para os bangers? Ironicamente, o nosso diferencial é ousadia em tentar trazer o antigo para o contemporâneo, tendo como inspiração o movimento da bay Area que até hoje nos presenteia com seu legado por meio de bandas como Slayer, Testament, Exodus. Tentando dar continuidade a isto e nos dedicando a melhorarmos com o passar dos anos. Quem conhece o NB desde o início sabe da evolução instrumental que passamos e isto é algo que quase toda banda enfrenta. Estamos achando o nosso lugar. Depois da demo “Paraíba World” e o lançamento do single “Fire Falls Of The


Sky”, a NB está próxima de lançar o seu début. O que pode nos adiantar sobre esse trabalho? Existe uma cobrança interna por parte da banda? Afinal de contas todo o material lançado até agora foi bem recebido pela mídia e público... Nós estamos em estúdio a pouco mais de um ano. Existe toda uma cobrança por parte de nossos fãs, nossa empresária, parceiros, produtores, e tudo isto é compreensivo. Várias razões arrastaram o tempo mais que o previsto sejam elas pessoais ou burocráticas. O fato é que o álbum está semi pronto e todas as músicas foram minuciosamente trabalhadas. Não queremos falar muita coisa a respeito, porque queremos sentir a surpresa de forma positiva por parte de nosso público, mas adiantamos que a música “Paraíba World”, por exemplo, vem modificada de maneira muito mais insana. Queremos dar o nosso melhor por vários motivos, então, usando o velho clichê “a pressa é inimiga da perfeição”, aguardem mais um pouco e esperamos que o álbum faça jus ao desejo de nossos fãs. Conheci a banda com o videoclipe de “Paraíba World”, que mostra imagens da cidade e a banda tocando ao vivo. Como foi a repercussão? E na visão de vocês ainda é pratico lançar vídeos para promover o trabalho de bandas undergrounds? Bom, a repercussão foi a melhor possível. Até hoje ao subirmos no palco, independente do lugar, “Paraíba World” é coro nas vozes e bocas de nosso público. Tornou-se nosso hino, representação de nosso legado, uma homenagem ao nosso amado estado, e uma forma de assumirmos com orgulho nossas raízes. Tivemos uma intenção ao lançarmos esta música e conseguimos: ultrapassá-la além das fronteiras paraibanas e cantar para todos a história 98

de luta do nordestino. “Paraíba World” é nosso orgulho conquistado e sempre será. Sobre a questão de lançar vídeos achamos apenas que é uma forma a mais de chegar até o público. É uma forma positiva porque diferente de uma música que podemos alterar, o clipe é um registro. Registro esse que representa um tempo, uma história, que serve como parâmetro de comparação evolutivo, então, provavelmente continuaremos a usar deste meio. A música brasileira regional é muito rica e abre infinitas possibilidades, não é raro encontramos bandas de metal que buscam nessa bagagem musical influen-


cias para suas composições. “Roots” do Sepultura e “Holy Land” do Angra são as provas vivas dessas influências. No trabalho da NB existe espaço para tais linguagens musicais? Possibilidades no meio musical sempre são algo a ser analisado para vê se realmente cabe. É importante ver o que é compatível com o estilo no qual já nos dedicamos, a história por trás daqueles novos instrumentos a serem utilizados e inseridos, o cuidado em escolher algo certeiro e a cautela no que se refere ao recebimento do público. Por hora, neste nosso álbum, por exemplo, a ideia não foi conside99

rada. Porém, em trabalhos futuros, podemos levar em consideração para talvez uma melhoria musical, de acordo com a repercussão de nosso público que é nossa prioridade. Quando falamos em metal no Nordeste a cena extrema é muito forte. Impossível não se lembrar de bandas como Headhunter DC, JackDevil, Obskure entre tantas outras. Já no estado da Paraíba me vem a cabeça Warcursed e Soturnus. Além destas que banda vocês indicam e como é o cenário para bandas autorais aí na região?


Existem ótimas bandas em nosso cenário paraibano que ainda não tiveram o destaque merecido ou a oportunidade certa para expor seus trabalhos. New Band possui o apoio de bandas parceiras e sempre que temos a oportunidade em nossos shows levamos seus nomes, usando suas camisas para nos apresentarmos, levando seus cd’s para vender junto de nosso material, adesivando nossos instrumentos com suas logos, etc. O NB faz a sua parte dentro da cena fazendo valer a palavra união na prática e não deixando se perder apenas em teoria, quem nos acompanha de perto sabe desta realidade. Não citaremos umas para desmerecermos outras. Todo trabalho é um trabalho 100

de seus esforços. Quanto ao apoio ou não as bandas autorais aqui em nossa região, cremos que a dificuldade não seja exclusivamente da Paraíba. Atualmente, o setor musical enfrenta uma crise que na verdade não é recente e, infelizmente, bandas que não conseguiram algum destaque possuem mais dificuldade para alcançar o que almejam. De certo modo, até quem já conseguiu destaque de alguma forma, passa sim por dificuldades. Cremos que estamos todos no mesmo barco, porém o que mantém a vela ao alto é o sonho de chegar onde se almeja. Infelizmente ainda não tive a chance de


ver a banda ao vivo. Como vocês descrevem uma apresentação live da NB? Costumam tocar alguns cover ou se concentram em sons autorais? O foco em nossos shows são as músicas autorais. É importante que as bandas confiem mais em seus trabalhos e exponham suas composições para que assim somem ao cenário e deem continuidade ao legado do gênero. O NB faz shows com suas músicas próprias e quando toca algum cover é para atender pedido de algum fã ou para homenagear alguma de nossas referências, num momento de descontração, não de obrigação.

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Obrigado pela entrevista, gostariam de mandar um recado para os bangers que estão acompanhando a entrevista? Nós que agradecemos a você o convite e esperamos repetir isto num futuro breve. A todos que acompanham e apoiam o nosso trabalho reafirmamos a nossa gratidão eterna. Tudo que fazemos é na intenção de orgulhar o nosso público, seguindo nossos ideais de maneira honesta, humilde e verdadeira. Esperamos que vocês continuem conosco! Este ano de 2017 promete muitas novidades, então fiquem de olho em nossas redes sociais. Forte abraço da família NB. Estamos juntos!



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