Mais cultura, por favor! Quando a turnê do Amon Amarth e Abbath chegou ao Brasil, todos queriam saber se o ex-líder do Immortal era a figura engraçada que se vê em muitos memes na internet. Muito disso se confirmou: Abbath é, sim, uma pessoa carismática. Porém, outro assunto tomou conta da timeline da galera do rock/metal. Uma matéria tendenciosa, coisa de sensacionalista querendo promover o caos, criou uma discussão ridícula a cerca da visita do quinteto sueco ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. O título da tal ‘matéria’, típico de ‘Contigo do Metal’, diz algo do tipo: “Para você que vai ao show, eles foram ao Cristo”. Amon Amarth tem a temática nórdica como inspiração. Cultura, crença e história são descritas em suas letras, vestimentas, adornos e etc. Cantando em alto e bom som por Odin, o cara não poderia visitar um ponto turístico cristão? Onde está o respeito pela cultura? O cara pode até ir para um país e não visitar o ponto turístico mais conhecido daquele lugar, mas, a meu ver, é o mesmo que
não ter ido. É um registro importante e, que certamente, ficará na memória deles, afinal, para quem já esteve no Cristo Redentor sabe que tem uma vista belíssima da cidade. Mas os radicais não veem desse modo. Aculturados! Quem é que vai para as pirâmides do Egito rezar para Osíris? Ou na Índia para Kali. Você iria à Suécia pedir por Odin? Quem saber ir no Partenon, em Atenas, e pedir uma ajudinha para Zeus? Cultura, gente! Você que é ateu, agnóstico, religioso ou sei lá no que acredita, visitar igrejas ou monumentos religiosos não é nenhum ato profano. Igreja, antes de religião, é história, arquitetura, influência cultural. Quantas igrejas por aí têm influência gótica, árabe, romana, grega... Por favor, mais razão e menos extremismo. E para sites ‘Ti ti ti do metal”, sejam mais informativos. Não é nada bonito “colocar fogo no circo”. É desnecessário. Ganhar fama assim não é lá grande coisa.
06 - News - World Metal 10 - Lapada - Cavalera vs Sepultura 16 - Entrevista - Apophanous 24 - Entrevista - CanĂĄbicos 38 - Live - Madball 46 - Live - Belvedere 50 - Capa - Maximus Festival 2017 62 - Live - Hellcifest 2017 72 - Entrevista - Psychotic Eyes 80 - Skin - Pontilhismo 86 - Live - Primavera Sound 100 - Entrevista - Rastro de Ă“dio
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Expediente Direção Geral Pei Fon Capa Alcides Burn Jonathan Canuto Colaboradores Jonathan Canuto Marcos Garcia Mauricio Melo (Espanha) CONTATO contato@rockmeeting.net
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Foto: Desirée Galeotti Foto:Pei Fon Foto:Annamaria DiSanto
pesado, instigante, desafiador
Antecipando o lançamento de seu novo, e ansiosamente aguardado, álbum ‘The Beloved Bones: Hell’, o Dark Avenger disponibilizou o trabalho para alguns veículos da mídia especializada. ‘The Beloved Bones: Hell’ está previsto para ser lançado no dia primeiro de agosto e pode ser considerado o mais ambicioso da carreira do grupo. O álbum segue uma linha conceitual, em que o interlocutor conversa consigo mesmo em uma jornada para dentro do EU, em um embate entre o emocional e racional, passando por onze estágios mentais de quem atravessa um período de insatisfação e infelicidade. ‘Better Off Dead’
O selo britânico Secret Service Records apresenta o novo videoclipe da banda alagoana Autopse, mais uma grande revelação do metal brasileiro. A música escolhida leva o título de ‘Better Off Dead’ e faz parte do vindouro novo álbum do grupo. O clipe foi dirigido por Lello Cunha, com áudio por Lamenha Neto e apoio do Studio Poker. ‘Insanity’, é o novo álbum da banda com lançamento via Secret Service Records com previsão para setembro deste ano. O trabalho é sucessor do álbum ‘Descontrole Mental’, de 2011. Mais informações serão apresentadas em breve. Assista agora o vídeo de “Better off Dead”. ‘SAIL AWAY’
Para quem estava ávido para ouvir algo do novo álbum do Armored Dawn, ‘Barbarians In Black’, chegou o momento! O grupo acaba de lançar o primeiro single do material. A música escolhida é ‘Sail Away’, emocionante balada que conta a história de um guerreiro que perde sua amada. A mixagem ficou por conta de Kato Khandwala e a masterização por Ted Jensen. ‘Barbarians In Black’, sucessor do aclamado ‘Power Of Warrior’ está mais pesado e com muitos riffs e melodias oitentistas, além de trazer a temática Viking, desta vez em todas as músicas. Ouça o single “Sail Away” -6-
novo baixista
Após um período de testes e ensaios, finalmente o Panzer tem um novo dono dos graves. Será o músico Daniel Corvo, que já vem tocando com a banda há algum tempo e agora está oficializado como membro do Panzer. Novamente completo, o Panzer segue divulgando o novo álbum, ‘Resistance’, lançado no ano passado e detentor de várias citações como um dos discos de 2016. O trabalho foi publicado no Brasil em versão física pela Shinigami Records. O novo disco também é encontrado em versão digital, confira alguns links: iTunes | Spotify. “Cadeia”
Sendo reconhecidos como uma das principais forças do Harcore/Thrash Metal do país, a banda Anguere após liberar seu novo trabalho de estúdio, o EP Cadeia no último dia 17 de maio através das redes sociais do grupo, informa que a prensagem do material físico já foi finalizada e já está à disposição do público para aquisição.O EP Cadeia possui três faixas, todas possuem temáticas que vão abranger críticas a sociedade e a violência descomunal que o cidadão sofre no dia a dia, músicas cantadas em português que se diferenciam pela técnica individual de cada integrante do grupo. Escute AQUI. “ Purple Blaze”
Abraxas, em parceria com a Zoom Discos e a A Ride Ancient Waves Records, lança o compacto “Purple Blaze”, da Pantanum. A banda, de Curitiba, executa desde 2014 um denso stoner doom psicodélico com sonoridade única na cena nacional. O novo material está disponível tanto nas principais plataformas de streaming e em versão física, num compacto de 7 polegadas. “Purple Blaze” é o resultado de dois anos de produção da Pantanum, formada por Francisco Gusso (baixo e voz), Alexandre Stresser (guitarra) e Bruno Silvério (bateria). O disco físico pode ser adquirido pela loja virtual da Zoom discos. -7-
Foto: Pedro Henrique
em turnê
esalmado e Surra, duas grandes potências D da música extrema nacional, uniram forças para a turnê conjunta “Reação e Resistência 2017” que passará por 14 cidades de São Paulo a partir de julho. Desalmado promete levar na bagagem seus 13 anos de experiência no grindcore e o Surra, com cinco anos de estrada, apresentará o peso do thrashpunk a partir de 1 de julho, em Piracicaba. Surra continua a promover o álbum ‘Tamo na Merda’ (2016) e Desalmando prepara caminho para lançar um novo disco de inéditas previsto para o segundo semestre deste ano. Assista Desalmado – Hidra e Surra – Tamo na Merda ‘Better Off Dead’
Em breve os headbangers paulistas poderão conferir todo o poderio de uma das grandes revelações do Metal nacional nos últimos anos, os cariocas do Affront. A banda passará pelas cidades de Avaré, Marília e Botucatu no mês de julho, nos dias 7, 8 e 9 respectivamente. Todos os detalhes de cada apresentação estão na fanpage oficial do grupo no Facebook. O Affront visita o estado para divulgar seu novo álbum, ‘Agry Voices’. Trabalho que entrou nas famosas listas de melhores do ano! A banda foi citada como revelação de 2016 pelo site Metal Samsara. Algumas faixas foram disponibilizadas em vídeo AQUI. “Stay”
A banda Seven Spires acaba de divulgar a nova música “Stay”, faixa do álbum de estreia “Solveig”, que será lançado no Brasil em agosto de 2017 pela gravadora Hellion Records. “Na história do álbum, Stay é a primeira vez que vemos o personagem Demon mostrando a capacidade de se importar – um primeiro vislumbre de um lado mais humano, talvez. Ironicamente, essa música também marca a primeira aparência distinta da minha voz mais extrema em Spires”, disse a vocalista Adrienne Cowan. O álbum Solveig” teve produção de Sascha Paeth (Avantasia, Kamelot, Epica, Rhapsody). Conheça a música “Stay”. -8-
E
m linhas gerais, este autor que vos escreve não gosta de tretas dentro do Metal. Delas, nunca sai algo bom, é sempre chato e tem um preço alto. Por mais que alguns imbecis nunca percebam, nosso estilo paga o pato. Mas tem uma picuinha dos infernos que já deu no saco de todos nós, uma eterna novela mexicana que Puta que pariu, já deu: a eterna “O Direito de Amar” entre os irmãos Max e Iggor Cavalera com o Sepultura. Já repararam que não passam seis meses sem que ter um capítulo dessa novela? E que me perdoem fãs, empresários, assessorias de imprensa, mas isso já deveria ter acabado há muito tempo. Mas não, as malditas “cenas dos próximos capítulos” nunca cessa, é um oceano de choro e dor de cotovelo que ameaça afogar todos nós. Refrescando a memória de todos: conforme narram as mil e uma versões do assunto, o cerne da questão se deu porque Andreas, Paulo e Iggor não queriam mais ter a Glória Cavalera (esposa de Max) como empresária. Ok, entendido. Mas Max não aceitou isso e saiu da banda em 1996. E isso chegou a virar - 10 -
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que as músicas que ajudou a compor aparecessem nos discos do Metallica. Mesmo que legalmente ele tenha esse direito, não é justo. Pode ser legal, mas não é moral. Se assim fosse, Andreas poderia ter vetado as bandas de Max de usar músicas que ele ajudou a compor, mas isso, até onde eu sei, nunca aconteceu. Segundo: que pai odeia tanto o filho assim? Sim, pois em “My Bloody Roots”, Max fala do Sepultura como seu filho. Então, por que fazer isso? Raivinha de Andreas e Paulo? Só que quem pagará por isso são os fãs, e além do mais, óbvio que ele e Iggor iriam ganhar royalties de direito de imagem e direto de cessão da obra autoral. O fã se lasca e o cara dá risadas (nem vem que não tem, pois qualquer explicação não consegue tirar o odor disso do ar). Terceiro: acho que todos já sabem que o próprio Max propôs uma tour da formação clássica da banda por grandes festivais. Nada contra a ideia (embora eu veja isso como viver de passado), até acho muito válida. Mas não rolou, logo, bola para frente e segue o jogo, oras. Me perdoem pela sinceridade, mas a ideia que fica clara em minha mente é que Max (com ou sem Iggor) se sente um perdedor sem o Sepultura. E não é para isso, pois basta ele pôr o nome em algo e vira preciosidade. E como faço, acompanho o trabalho das 3 bandas e vejo cada coisa fantástica deles após “Roots”. Caralhos, discos como “Enslaved”, “Pandemonium” e “Machine Messiah” são obras-primas em termos de criatividade em um momento em que a clonagem dos
uma carta em matéria de revista e tudo. Pronto: mais revista de fofocas impossível! Não pretendo falar de quem acusa quem, pois está em revistas e livros, logo, não me prenderei a esse tipo de coisa escrota e que não edifica ninguém. Hoje, 21 anos depois de tantas tretas, o mundo tem 3 bandas excelentes: o Sepultura, que foi adiante sem Max e com Derrick nos vocais; o Soulfly de Max e seus convidados; e o Cavalera Conspiracy, onde Max e Iggor tocam juntos. Mas volta e meia, Max (sozinho ou com Iggor) solta algo na imprensa. Estes dias, saiu a mais recente: Max e Iggor vetaram o uso de músicas dos tempos deles no Sepultura para o documentário sobre a banda. Caralhos, que porra é essa? Primeiro: como já esclareci acima, ele saiu da banda. Seja como for, o fato é que ele saiu, não foi despedido ou expulso. Ele saiu em solidariedade à sua esposa (por favor, sem comparações com Yoko Ono, mesmo porque Glória Cavalera é uma ótima empresária), e por não saber lidar com a morte do enteado Dana Wells. O Sepultura resolveu ir adiante sem ele. Não faz sentido em fazer isso. Nem Dave Mustaine, no auge dos bate-bocas com o Metallica, deixou de aparecer no vídeo-tributo a Cliff Burton (o famoso “Cliff ‘Em All”) ou vetou sua presença no vídeo, ou mesmo - 13 -
Foto: Gabriel Wickbold
anos 70 e 80 está comendo solta e sem limites! São sopros de vida em um cenário que está desgastado! Querem saber de uma coisa? Sem dar piruada em assuntos que não são meus, acho que a banda deveria fazer uma reunion tour com a formação clássica, mais Derrick e Eloy. Pronto, paz selada, problemas encerrados, todo mundo feliz, e vamos adiante! Ah, sim, ao bando de babaquaras que compram estas brigas como se fossem times de futebol: vão à merda, porra! Não quero saber se você ama o Sepultura com Max, se ama sem Max, pois uma coisa é clara: não se deve fazer previsões do futuro, mas garanto que o Sepultura clássico nunca mais faria um “Ari-
se”, um “Beneath the Remains”, um “Chaos A. D.” ou um “Roots”. Eles nunca se repetiam, e o que poderia vir no futuro não iria satisfazer os fãs da banda mais antigos (aqui no Brasil, até hoje, “Roots” é um disco que desperta amor e ódio, diferente do que ocorre no exterior). Posso estar errado, poderia vir algo maravilhoso, mas o fato é que não seria como o que haviam feito antes. Finalizando, deixo uma frase para todos, e espero que me entendam: “Esqueça o passado, não pense no futuro, mas concentre-se apenas no presente” (Buda). Mas já sei que em breve, lá vem mais um capítulo dessa “Os Ricos Também Choram” à lá Brasil. - 14 -
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Por Aline Pavan | Foto: Banda/Divulgação
Primeiramente gostaríamos que você nos contasse um pouco sobre a história da banda e a transição desde o início até os dias de hoje. Também gostaríamos de saber por que vocês escolheram “Apophanous” como o nome para a banda. Vitor - A banda surgiu em meados de 2015 quando o Fabio (baterista) e eu resolvemos sair de uma banda de covers que fazíamos parte para tentar um trabalho autoral. Colocamos um anúncio na internet e o primeiro a responder foi o Tiago (guitarrista) recém-chegado em SP e à procura da mesma ideia. Fizemos um primeiro ensaio e nele já saímos com um embrião do que viria a ser a música “Bright Evil Eyes” que integra nosso EP. Na época, o Fabio e eu trabalhávamos na mesma empresa e foi lá que conhecemos o Álvaro (baixista) que, também no seu primeiro ensaio, já demonstrou bastante entrosamento, competência e seriedade. Tivemos a sorte de ter todos com as mesmas vontades e ambições em relação à banda. Assim, o entrosamento foi rápido e os trabalhos de composição das músicas rolaram com bastante naturalidade. Sobre o nome, “Apophanous” tem origem no termo “Apofenia” que refere-se a um tipo de psicose onde há uma propensão a ver padrões e conexões onde aparentemente não há nenhuma. O nome dá o tom da principal - 18 -
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Aproveitando o tema, vamos falar sobre o seu primeiro EP intitulado “Obliteration has Come”. Como foi a gravação do mesmo? Onde foi feita? O EP foi gravado no IMF (Instituto Musical Falaschi) com a captação e mixagem feita pelo Tito Falaschi. A produção das músicas foi feita pela própria banda. Foi num processo que o Tito chama de “Fast”, gravando e mixando tudo no mesmo dia, uma música por dia. Foi um trabalho muito interessante, para alguns de nós era nossa primeira experiência com gravação de músicas e o desafio era grande. No final valeu a pena o resultado, a qualidade do EP e o aprendizado que tivemos.
temática da banda que é a psique humana e distúrbios psicológicos. Nós da banda costumamos dizer que é “A tentativa do ser humano de explicar aquilo que desconhece”. Como funciona a parte composicional da banda? Todos participam de tudo, ou alguns focam na parte lírica enquanto outros na parte instrumental? O processo de composição da banda é horizontalizado. Todos participam da construção da parte instrumental. Nós temos uma “receita” daquilo que há em comum na estrutura de nossas músicas e procuramos sempre inovar nas novas criações, mas carregar a essência daquilo que já fizemos. A parte lírica geralmente eu escrevo a letra inicial e todos opinam e modificam para se encaixar melhor com o instrumental e com o clima que queremos criar.
Vocês lançaram este EP apenas no formato digital, certo? Como foi a recepção do público para este trabalho? E vocês - 20 -
pretendem lançá-lo no formato físico? Exato. O EP foi disponibilizado para download gratuitamente via Bandcamp e disponibilizado para streaming em diversas plataformas digitais (Spotify, Deezer, Apple Music, Groove Music, etc.). A recepção foi ótima, recentemente o EP completou um ano de seu lançamento e alcançou aproximadamente 1500 reproduções nos serviços de streaming. Em breve pretendemos lançar o EP em formato físico para integrar o merchandising que estamos preparando. Tem algum estado em particular que vocês notaram uma recepção mais positiva em relação ao trabalho do grupo? Além de São Paulo tivemos uma ótima recepção no Nordeste, principalmente no Ceará. Uma curiosidade interessante é que o EP foi,
de alguma maneira misteriosa, pirateado e disponibilizado para download em um fórum ucraniano! Quais são as influências que permeiam ao som do Apophanous? Pode comentar um pouco sobre elas? A banda possui diversas influências desde Pantera até bandas mais novas como o Gojira. No nosso DNA também é possível encontrar influências de Megadeth, Nevermore, Machine Head, Lamb of God e até de Arch Enemy. Muito se discute sobre o futuro do metal. Você vê novas bandas brasileiras se destacando. Quais? O Brasil tem mostrado ótimas bandas novas e até mesmo bandas de muito tempo de estrada se reinventando e surpreendendo como foi o - 21 -
caso do Torture Squad. Das bandas mais novas posso citar o Kamala de Campinas (SP) e o Chaos Inc. do ABC (SP) que trazem um ótimo som e possuem muita qualidade. Recomendo!
atrair novas pessoas e de estar em contato com o público. Aos poucos o público e as bandas estão cada vez mais aceitando esse recurso e usufruindo de todas as facilidades que isto traz. Hoje você pode acompanhar, por exemplo, um ensaio ou uma gravação de uma banda através de uma live, interagir e fazer parte daquela experiência, antes restrita. Nós gostamos e pretendemos fazer cada vez mais uso da internet para aproximar o público da banda nos momentos em que não estamos no palco.
Tendo vista o formado de lançamento do “Obliteration has Come”. Vocês acham que a internet também ajuda a formar mais público para as bandas? Como você vê a importância desse recurso dentro do cenário atual? Vitor- A Internet é uma excelente forma de - 22 -
Quais os planos da banda para o segundo semestre de 2017? Alguma gravação a vista? Nós estamos trabalhando em músicas para o nosso primeiro álbum, já temos algumas prontas e outras em fase de composição. Acreditamos que o EP ainda tenha bastante gordura pra queimar e temos muitos lugares para mostrar nosso trabalho ao vivo tocando as músicas que integrarão o álbum. Para o segundo semestre pretendemos tocar mais, trabalhar nas músicas do play e entregar para os fãs um
material físico como camisetas, etc. Obrigado pela entrevista e esteja à vontade para falar aos fãs da Apophanous. Gostaria de agradecer a oportunidade e agradecer a todos que vêm apoiando a banda. Vocês são a obliteração! Por fim, convido todos a conhecerem nossa fan page no Facebook e ouvirem nosso EP. Está disponível nas principais plataformas digitais e no YouTube. Wake up! It’s not a dream \m/
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Por Susi Santos | Fotos Eduardo Sampaio
O Canábicos é mais uma banda oriunda do Triângulo Mineiro. A região tem sido muito prolífera no que compete a revelar artistas de grande talento. Uganga, Krow, Lava Divers, Scourge, Project Black Pantera, entre outras bandas de grande relevância são aí da área. Há algo especial no pão de queijo do Triângulo Mineiro? (risos) Estaríamos diante da Seattle brasileira? Murcego González - Realmente a cena musical do Triângulo Mineiro é muito forte atualmente, existem várias bandas lançando material novo, fazendo tours, organizando festivais e circulando pelo Brasil. Temos exemplos como o movimento “Cena Cerrado” de Uberlândia, e a “Caravana do Rock”, em Araguari, que ajudam bastante na circulação e divulgação desse aglomerado de artistas. Pode se dizer que é a “Seatlle” brasileira sim (risos). Quanto ao pão de queijo, depende do recheio (risos). Vocês gravaram três discos em três anos. Se isso fosse há 10 ou 20 anos atrás, seria uma média incrível, considerando que a indústria fonográfica demandava material inédito com grande frequência. Na atualidade, onde não se vende mais músicas em série como antes, de que forma vocês - 26 -
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acharam que disponibilizar uma quantidade de material dessa forma teria resultados positivos para os Canábicos? Murcego - Sem sombra de dúvidas nosso forte é o processo criativo. Eu e o Clandestino temos uma obra bem extensa que já vem bem antes dos Canábicos. É algo que acontece naturalmente com agente e espero que isso não pare nunca! Estamos tentando nos cercar de todos os meios possíveis de divulgação, como material físico, plataformas de streaming, jornais, revistas físicas e virtuais, etc. Creio que o meio virtual facilita bastante a assimilação dessa grande quantidade de material e a recompensa vem com os shows e o reconhecimento público, é claro. André Clandestino - Na verdade a gente só registra o que ta acontecendo mesmo, que são diversas composições que surgem a todo momento. Muitas músicas se perdem se não são registradas, se não são gravadas. Já perdi diversas assim. Não dá pra depender só da memória, e como nosso processo de composição é acelerado, a gente acaba lançando muita coisa. Como descrito pelo vocalista Clandestino, “Intenso” tem músicas de todas as fases da banda e que remetem mais ao Hard Rock. Como surgiu essa vontade de se orientar para o rock mais pesado? Alguma influência do fato do guitarrista Murcego Gonzalez ter entrado também para o Uganga, que é uma banda de Thrashcore? Murcego - Já havíamos produzido e gravado algumas músicas mais pesadas no nosso primeiro disco “La Bomba”. Realmente foi nosso objetivo fazer um disco mais pesado aproveitando a “veia” do mestre Gustavo Vazquez (Rock Lab) que foi essencial pra garantir tal peso! Eu e o Clandestino já havíamos tocado - 28 -
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também em uma banda cover do Black Sabbath, que acredito ser uma das nossas principais influências! Ter entrado no Uganga com certeza foi importante pra minha evolução como guitarrista, tanto em termos técnicos como nas composições dos riffs, timbres mais pesados e algumas outras artimanhas (risos). Clandestino - Acredito que esse fato não fez muita diferença no “Intenso”, porque pra fazê-lo nós “pescamos” dentro de todo o nosso repertório, que é bastante extenso e variado, as músicas nessa pegada mais hard. Acho que o fato do Gustavo Vazquez produzir teve mais - 30 -
peso nessa nossa decisão para esse disco. Agora, daqui pra frente, aí poderemos ver como o fato do Murcego no Uganga poderá influenciar no som da banda. Os assuntos abordados nas letras, que são escritas em bom português, são bastante interessantes. “Rotina”, por exemplo, como explica Clandestino, é uma “uma crítica a essa forma de viver controlada por horários, calendários e lugares, a vida previsível”. Como se livrar das amarras do politicamente cor-
reto: crescer, estudar, escolher uma profissão, casar, ter filhos, trabalhar, trabalhar, trabalhar... até o túmulo... e nesse intervalo, se der tempo, almoçar na casa dos pais aos domingos? Clandestino - A ideia central de “Rotina” é bem essa mesmo! “Sabemos que ontem é o seu amanhã”, então a vida fica muito previsível, obedecendo a horários, sempre nos mesmos lugares, de casa pro trabalho, horário comercial, fim de semana. Te colocam numa sistema que você não consegue nem sequer se imaginar fora dele, formatam o seu dia, formatam a sua
vida. E isso só pode se justificar se o homem for realmente o lobo do homem, porque, preso nesse sistema, você não fará mal a ninguém. Murcego - Eu penso que, pra se viver bem e ser feliz nessa intensa correria do mundo atual, o importante é fazer o que gosta independente de retorno financeiro. Assim tudo dá certo no final (risos). “Lei do Cão”, como explica a banda no release, é a letra política da banda, uma “crítica ao capitalismo”. No Brasil e no mundo nunca vivemos antes uma pola- 31 -
rização política tão grande como agora. O que deveria ser um bom sinal, se não fossem os discursos inflamados, cheios de ódio que tem resultado em casos de violência, especialmente a verbal, através das redes sociais. Frente a situação, há os que defendem “política e religião não se discutem”. Na opinião da banda, como discutir política sem perder a razão? Murcego – Primeiramente, deve haver respeito entre as pessoas que devem aceitar as diversas opiniões da melhor forma possível mesmo que não concorde com elas. Talvez
seja o foco: as pessoas carregam bandeiras de partidos políticos como torcedores fanáticos de times de futebol e se esquecem que hoje o maior problema não são elas mesmas e sim seus governantes! A coisa toda só vai melhorar quando o povo se unir, sem bandeira de partido, de direita ou de esquerda, em prol do fim da corrupção, de igualdade e direitos melhores para todos! Nós, como banda, procuramos não levantar bandeira alguma de partido ou de religião, e sim nos manifestar contra o que há de errado em toda essa merda! Clandestino - As pessoas hoje têm a necessidade de rotular as coisas. Mesmo na músi- 32 -
Foto: Banda/Divulgação
ca, surgiram diversos nomes de estilos, todo dia tem um novo, e você necessariamente se vê obrigado a entrar em um deles ou vai viver uma parada sem rumo. Necessidade insana de definir tudo, de engessar as pessoas e suas personalidades. E isso é o que divide as pessoas, as separam umas das outras, as afastam. Dentro do rock existem centenas de estilos, e isso divide o público. Na política, você é esquerda ou direita. Que m... é essa? É simplismo pensar assim, é grosseiro, e coloca uns contra os outros. Sou contra rótulos porque acredito nas pessoas, eu acredito na possibilidade da evolução pessoal. Mas infelizmente
vivemos esse momento estranho de bipolaridade política, o que acaba nos afastando um pouco desse tema, por duas razões: primeiro que, inevitavelmente, emitir uma opinião política nos dias de hoje no Brasil é a certeza de desagradar pelo menos metade das pessoas do seu convívio; a outra razão é que gostávamos de falar sobre política quando ninguém falava, pois hoje, como todo mundo fala de política o tempo todo, ficou meio batido esse tema pra nós. Mas não é porque não estamos escrevendo letras políticas que concordamos com tudo o que vem acontecendo no país hoje, apenas não estamos focando nosso material em torno - 33 -
disso, mesmo porque já tem muita gente nesse barco.
Foto: Banda/Divulgação
Falando mais especificamente sobre capitalismo, esse é o sistema dominante no mundo ocidental atualmente. Aliás, o capitalismo está embaraçado ao neoliberalismo, onde o Estado passa a ser mínimo, a privatização é recorrente e há uma desenfreada mercantilização das coisas e das relações sociais. Tudo passa a ter preço, tudo pode ser comprado e vendido, tudo é reduzido a mercadoria. Contextualizando ao mundo da música, há bem pouco tempo atrás, assinar com um grande selo era a fórmula de sucesso: discos vendidos, turnês ao redor do mundo, tudo o que um músico sonha quando monta uma banda. Todavia, esse “sonho” era às custas do sistema capitalista-neoliberal, descrito acima. O sonho dos Canábicos tem preço? Murcego - Acho que tudo na vida tem preço! Nosso sonho não (risos). Nosso sonho é o que estamos vivendo! Batalhamos a cada dia pra fazer melhor o que mais gostamos de fazer! Hoje é quase impossível obter grande sucesso, vender milhões de cópias, etc. É claro que seria ótimo se isso acontecesse (risos). Mas existem muitas opções, digo, muitas bandas de excelente nível num mesmo seguimento e todo material disponível gratuitamente nas mídias. Os selos ajudam na divulgação e na venda do material das bandas, mas são poucos os consumidores de material físico, tipo “porque comprar se esta disponível nas redes”? Gastamos algum dinheiro em prol do que gostamos de fazer, mas a recompensa vem em shows, viagens, amizades e reconhecimento. Pra nós é um excelente investimento em qualidade de vida! Clandestino - Não tem preço! Poder gravar - 34 -
uma música que surgiu de uma pequena ideia e vai se transformando no produto final altamente elaborado não tem preço! Subir num palco, fazer o seu som com entusiasmo e sentir a energia do público retribuindo a sua arte não tem preço! Conseguir fazer o seu som transpor fronteiras não tem preço. Os Canábicos não são muito mercantilistas, a gente não foca na grana pra fazer o nosso trabalho. Na verdade, se fosse só pela grana nenhum de nós ainda estaria aqui! Vocês sabem que a atual realidade da música, em geral, é totalmente diferente de anos atrás em termos financeiros, não tem nem como comparar, porque não existe mais venda de discos e cds. Antes o artista ganhava com vendas e shows, e hoje o retorno se resume apenas a shows. Mas não existe show sem público, e a formação desse público é bastante difícil e onerosa. A coisa toda hoje é bem mais complicada. Ainda segundo Clandestino, há algo de simbólico entre o título do disco e a faixa de mesmo nome: “A faixa título fala sobre a morte, imprevisível e inevitável. Por mais planejada que possa ser uma vida, a qualquer momento tudo pode mudar, o que pressupõe viver intensamente cada momento, já que pode ser o último”. O “viver intensamente” de vocês, dos Canábicos, estaria, de alguma forma, alinhado a lei de Thelema do “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”? Clandestino - Eu sou totalmente alinhado a essa Lei “Faze o que tu queres”, ainda mais num país onde o legislativo é uma piada, literalmente. Essa música, “Intenso”, fala de não ficar muito preocupado com o futuro, pensando muito nas coisas que podem acontecer, enquanto o momento passa, e é ele, o momento, o mais importante, pois o futuro é incerto. Ou- 35 -
tro detalhe dessa letra é que eu quis usar a palavra “coração” de uma maneira mais literal, como um órgão, uma bomba muscular de sangue para o restante do corpo, que te mantém vivo, e não da forma figurada que geralmente o “coração” é usado, de uma forma mais ligada ao sentimento, de amor, paixão, essas paradas mais sertanejas. Murcego - Quanto ao título “Intenso” para o álbum, vale completar que ele foi escolhido durante as gravações. Foi inspirado nos acontecimentos e no modo como foram gravadas as faixas do disco no estúdio. Mas isso não posso contar, é segredo. (risos) Canábicos é um nome que vai além do sugestivo. Não obstante, além de tratar sobre o tema das drogas em suas letras, a banda assume uma postura favorável a descriminalização das drogas. O assunto é contemporâneo, bastante importante, e necessita de debate. Vocês são a favor da descriminalização apenas da maconha ou de todas as drogas? Por quê? Clandestino - Está passando da hora do Brasil abrir os olhos para esse tema, essa discussão e essa regulamentação são fundamentais para a resolução de inúmeros problemas que enfrentamos hoje em nosso país. O problema é a barreira moral que envolve o tema. Nossos governantes são pessoas idosas, e não conheceram um mundo que interagisse de forma racional com as drogas. A repressão é burrice, mas os caras só agora conseguem perceber porque tem gente com coragem nesse mundo, tem gente que topa sair da caverna e enxergar a verdade do mundo, fora do paradigma ordinário, comum, medíocre. Aproveito para homenagear Pepe Mujica. Sobre a legalização de - 36 -
Foto: Banda/Divulgação
todas, sim eu sou a favor porque essa barreira criada pela criminalização do tema apenas agrava a situação. Murcego - Sou a favor da descriminalização de todos as drogas. Se não for o momento para legalizar todas, a maconha seria um bom primeiro passo. A descriminalização da maconha ou das drogas não requer apenas mudanças na legislação, mas, sobretudo, culturais. O nível cultural atual permite, mesmo aos mais conservadores, conviver bem com o consumo de álcool nas ruas, por exemplo. Um trabalhador que, ao sair do serviço, com seu uniforme e mãos sujas de graxa de tanto trabalhar, compra e abre uma lata de cerveja e a toma enquanto espera o ônibus no ponto de ônibus, poderia, para muitas pessoas, significar uma situação de contemplação positiva: “Trabalhou tanto, ele merece, coitado”, diriam. E se o mesmo trabalhador acendesse um baseado? Clandestino - Não existe nada que descredencie a maconha frente ao álcool e ao cigarro, apenas uma legislação atrasada e ineficaz. Para terminar: Sexo, Drogas ou Rock ‘N’ Roll? Se para viver a vida intensamente só fosse permitido escolher uma das três premissas, qual seria? Clandestino - Sexo, com certeza! Porque é a melhor opção de todas! Murcego – Teria que escolher as três, mas seguindo aquele velho provérbio que diz que tudo feito ou usado em excesso é o que faz mal. Informações: Facebook | Gravadora - 37 -
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Sala Razzmatazz 2, Barcelona, 05 de maio de 2017 Texto e Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots
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uito se falou desta data. Antes, durante e acreditamos que continuaremos falando por algumas semanas. Foi a primeira grande data do ano, aquela que, quando anunciada, foi considerada a data do ano, mas na verdade foi só a ponta do iceberg considerando o que teremos adiante como Suicidal Tendencies com Ratos de Porão, Hatebreed com D.R.I. e Burning Heads tocando do outro lado da rua nada mais acabar o show anterior, o festival Barna N Roll, etc, etc. Foi uma noite com cinco bandas, tendo integrantes de umas participando em músicas de outras, uma grande festa que começou com Katran, que deu um exemplo de profissionalismo e tocou como se às seis da tarde, com meia dúzia de gatos pingado, fosse o horário nobre e a casa estivesse lotada. O croata Filip Bartol foi destaque absoluto e já naquele momento da tarde/noite tínhamos a primeira participação especial no palco, o guitarrista do Ignite tocou uma das músicas. Com mais presença do público e atuando em casa, o Anal Hard não teve dificuldades de dominar seu set e, de quebra, apresentar - 40 -
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músicas do disco novo, “Alta Gama”, além de alguns temas clássicos. “Perros Viejos” e “Barcelona 92” foram algumas das mais celebradas junto a indiscutível “3º 4ª”. Também vale destacar que faltou um pouco de punch vindo do público com relação a algumas bandas. É claro que o Madball era o dono da noite (como sempre foi), mas visto a intensidade da galera para com o H2O (ainda tendo viva na memória o impacto que o show da banda teve há alguns anos no compacto Estraperlo Club del Ritme), posso afirmar que tivemos uma audiência bastante tímida. É óbvio que para aquela ocasião os melódicos novaiorquinos eram os donos da noite e desta vez foram apenas coadjuvantes. Nada que diminua a impecável apresentação do quinteto, Toby Morse e sua trupe vem driblando o tempo e provando que, apesar da barba grisalha, ainda mantém em alta o ritmo de seus shows. Abriram a noite com “Everready” de “Thicker Than Water” que, por sinal, está completando vinte anos. Com “One Life One Chance” o público começou a se animar como água fervente, aquela ebulição visível, borbulhante com “Family Tree” e que ferveu de vez com “Skate”. Visivelmente mancando, tivemos um Adam Blake menos saltitante desta vez, Pistachio sempre discreto segurando as seis cordas e o segundo vocal. Um dos pontos altos da noite foi a participação de Freddy Cricien em “Guilty by Association” antes de entrar em reta final com “199%”, “Nothing to Prove” e provocar o caos absoluto com “What Happened”. O Ignite sabia que não poderia deixar por menos e abriram o set com “Poverty for All” e pegou um público não só com as articulações alongadas, mas também aquecido depois do H2O. Visitaram discos mais antigos com “Veteran” e o refrão tomou conta quase que por obrigação e “Nothing Can Stop Me” - 42 -
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deu voz ao disco mais recente, “A War Against You”, lançado em 2016. Ainda assim, nenhuma sequência de músicas do Ignite consegue superar os temas do disco “Our Darkest Days”, lançado há mais de uma década, definitivamente um marco na carreira e para muitos um dos melhores discos de punk rock melódico da década. E aí somos obrigados a mencionar “Know Your History”, “Let it Burn” e toda a emoção que a letra provoca no povo. “Fear is Our Tradition” e mais adiante com “Live For Better Days” que foi dedicada a uma amiga presente no palco por estar passando por um grave problema de saúde antes de finalizar o set com “Bleeding”. Havia uma grande presença de amigos com seus pequenos filhos no palco, um ambiente que mostra com perfeição aonde o hardcore de nossa geração chegou, com letras positivas, construtivas e presença familiar. A participação especial do set ficou por conta de Filip Bartol do Katran no cover “Sunday Blood Sunday”, U2. Quem acha que a noite já havia tido seu ponto mais alto se equivoca por completo. Madball é sinônimo de loucura, de stage dives, mosh pit e otras cositas más. O alto nível e reputação que atingiu o quarteto é imenso, é banda grande de maneira definitiva. Abriram a noite de maneira perfeita com “Hardcore Lives”, deram aquela pincelada porradona com “Smell The Bacon” e riffs mais pesados e trabalhados com “We The People”. Casca grossa total com dois temas seguidos do disco “Set it Off”. “Get Out” fazendo com que a sala estremecesse no gogó com o berro Madball e abriram as portas para stage divers com a música título do álbum mencionado. Freddy se sente totalmente em casa quando visita Barcelona, por amigos que fez ao longo de sua carreira que vão desde promotores até fãs da Bulgária que sempre comparecem nos shows da banda quando está passa pela cidade condal. Em um de seus curtos discursos comentou que já há material para disco novo e quando passou a palavra a Hoya, nosso gordinho favorito falou o de sempre “marijuana”. Para finalizar a noite das participações especiais, tivemos Zoli mandando nos vocais de “Pride”, unindo de vez as duas costas americanas e dando o tom de festa. Freddy deu um sincero abraço no vocalista do Ignite, daqueles apertados que simbolizam uma sólida amizade. Por fim tivemos “Doc Marten Stomp” e “Hardcore Still Lives”. Acabou? Não, claro que não! Ainda tivemos o hip hop do Skam Dust (DMS Family) do outro lado da rua como um after show. Um hip hop bem hardcore e à altura da família DMS. Perfeitos! - 44 -
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Por Pei Fon | Fotos Pei Fon
Sala Razzmatazz 3, Barcelona Texto & Fotos - Maurício Melo
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esmo sendo uma primavera mais fria do que de hábito, a segunda-feira 24 de abril deu uma pequena mostra do que viria adiante. Uma avalanche de shows previstos, festivais recheados com grandes nomes e bandas que não pisam em território espanhol há mais de década com datas marcadas ou, como no caso dos canadenses Belvedere, única apresentação em todo o país. A noite começou bem com os locais do Melting Fest, ou pelo menos foi o que pareceu quando chegamos na sala já em final de apresentação devido a uma greve de metrô ou
melhor definindo, uma redução no serviço. O suficiente para nos tirar da jogada com a banda de abertura. Com o ambiente cheio, o Belvedere só precisou fazer o dever de casa, oferecer os hits que o insano público queria e apresentar novos temas com aquela velha malandragem, novos temas abrem o show porque toque o que tocar o público anima e numa sala pequena como a Razzmatazz 3 tudo jogava a favor. Pois abriram com “Shipwreck” e “Hairline”, ambas de seu último disco “The Revenge of the Fifth” e a galera deu inicio aos stage dives, as caras - 47 -
de felicidades delatavam tudo. Com os riffs na introdução de “Two Minutes for Looking So Good” e a sala veio abaixo, a banda interagia por completo com a linha de frente e em especial o guitarrista Josh. Entre as músicas mais celebradas e cantadas podemos destacar “Subhuman Nature”, “Quicksand” e “Excuse me, Can I Use This Chair?”. Finalizaram o intenso set com “The Bostom Line” e “Distress” e pouco antes confirmaram popularidade com “Closed Doors” e “Brandy Wine”, ambas com destaque para a introdução do baixista Jay Sinclair. Para os curiosos de plantão, nenhuma música do “This is Standoff” foi tocada.
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Texto Charley Gima | Foto Marta Ayora
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Maximus Festival tem tudo pra ser o melhor festival de Rock e Heavy Metal do Brasil, contando com atrações icônicas, medalhões e bandas jovens. Entre as bandas medalhões podemos citar Slayer, Pennywise e Böhse Onkelz, banda alemã ainda desconhecida no Brasil, mas que tem um uma enorme legião de fãs na Alemanha e países que falam alemão, língua na qual suas músicas são cantadas. Como ícone temos Rob Zombie, que arrebatou os bangers na década de 90 com o White Zombie, criando um estilo único e próprio. Entre as bandas para os jovens estão Five Finger Death Punch, Prophets of Rage e, a contar pelas camisetas vistas no autódromo de Interlagos, Linkin Park. Chegamos ao Maximus Festival de trem, e após uma considerável caminhada, entramos no autódromo de Interlagos. O autódromo de Interlagos, pela sua localização na cidade de São Paulo, não é o melhor lugar para shows, sempre fui um pouco reticente a este local, mas devo dizer que o Maximus Festival me surpreendeu! Uma ótima infraestrutura foi montada, com três palcos e setores distintos e bem localizados de bar, banheiro e uma área ampla para compra de - 52 -
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produtos e alimentação, saindo do trivial, pois era possível encontrar desde temaki até comida mexicana e pizza nos food trucks. Show As primeiras bandas já haviam começado, com Nem Liminha Ouviu dando o pontapé inicial no palco Thunder Dome do Maximus Festival. Em seguida, no palco Rockatansky, o Oitão entrou em cena com seu hardcore nervoso e eficiente. O vocalista do Oitão é o famoso chef Henrique Fogaça, um dos apresentadores do Masterchef Brasil, e isso atrai muito a atenção sobre a banda, que manda muito bem ao vivo! No palco não tem nada disso de “menos é mais”, e o Oitão manda muita porrada na orelha! O Deadfish foi outra atração do palco Thunder Dome, que ficava distante dos palcos principais, estes um ao lado do outro. A primeira atração do palco Maximus foi o Red Fang, que com um Hard Rock / Stoner Rock deu conta do recado! Os músicos do Red Fang haviam me dito um dia antes que seria estranho tocar no Brasil com o Sol na cara, já que ouviram que o povo brasileiro é mais de baladas noturnas, mas nem banda e nem o público do Maximus Festival pareceram se importar com a luz do Sol no show do Red Fang! Terminado o Red Fang começa o Hatebreed, que agitou muito no palco e empolgou a galera que entrou no clima da banda! O Hatebreed mostrou a que veio e não decepcionou seus fãs! Veio então o Böhse Onkelz, que, de cara, conquistou a galera! Com uma pegada forte e muita energia fez com que, mesmo desconhecida de grande parte do público do Maximus Festival, a galera curtisse as músicas! Tem letra em alemão? No problem, os brazucas curtiram e agitaram do mesmo jeito! Ao fim do show do Böhse Onkel, a banda alemã pareceu - 54 -
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ter curtido também sua primeira experiência em terras tupiniquins. O Flatliners entro no palco e, como ninguém é de ferro, aproveitamos para encher o tanque, afinal andar de um lado pro outro cansa e dá fome! Aproveitamos pra conhecer e ver um pouco mais do Maximus Festival que dispunha de uma boa variedade de comida, venda de LPs, parede de escalada e até uma barbearia!Depois do pit stop, vimos um pouco do show do Ghost. O Ghost não fez um show à altura, é um tipo de música que parece ter melhor resultado em casas fechadas, em um Festival Open Air, com luz do Sol, não funciona direito… Já Rob Zombie funciona muito bem! O cara agita muito no palco e a banda de Rob Zombie manda muito bem! No meio de seu show, Rob Zombieperguntou pra galera se alguém já havia sido abduzido e jogou dois ETs infláveis pro pessoal agitar e jogar pra cima, participando da bagunça e da festa de Rob Zombie! Rob também não parece ser um cara diurno, fazia de tudo pra se proteger do Sol, usou chapéu, boné e pediu até óculos de Sol no microfone. Acabou que não usou óculos escuros mas fez um belo show! Infelizmente o Pennywise tocou no mesmo horário e não pudemos ver este show, coisa de festival… Five Finger Death Punch, Rise Against e Prophets of Rage (ou seria Rage Against The Machine cover?) fizeram a alegria da molecada e jovens rockers, que curtiram estas três bandas com muita energia e empolgação, enquanto os mais velhos aproveitavam para comer e beber, a espera do Slayer. O Prophets of Rage ainda mandou “Killing in The Name“, uma música que funciona muito bem ao vivo, e fechou seu show com esta música, deixando a galera pronta pro Slayer! Pelo que vimos no Maximus Festival o Rock já tem a próxima geração garantida! Era hora de uma das atrações mais espe- 56 -
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radas do Maximus Festival: Slayer!!! A figura de Tom Araya é inconfundível! Araya empunha o baixo e manda ver nos vocais. Apesar de uma certa esbranquiçada na barba, mostrando os efeitos do tempo, Tom Araya continua mandando bem no vocal, e usa o microfone como desculpa pra não se movimentar muito no palco. Kerry King com sua careca e as tatuagens é outra figura inconfundível! Os fãs do Slayer curtiram o show do começo ao fim, mas os fãs do Slayer também mudaram! Poucas rodas foram formadas e os bangers curtiam o show sem empurra empurra, apenas cantando e bangeando. Sem dúvida alguma o Slayer fez o melhor show do Maximus Festival! Veio o último show do Maximus Festival, Linkin Park. A produção do Festival passou um número estimado do público entre 35 e 40 mil pessoas presentes, mas foi nítida a ausência de muito destas pessoas no show do Linkin Park. Muita gente foi embora depois do show do Slayer, mas quem ficou curtiu um bom show do Linkin Park! Tá certo que a banda fez um show mais pop do que Rock mas os fãs do Linkin Park nem se importaram e curtiram o show, que contou com os hits dos primeiros álbuns, músicas novas, inclusive que ainda não foram lançadas, como “Battle Symphony“, próximo single de “One More Light“, álbum que sai no dia 19 de maio, e até um semi acústico do hit “Crawling“, apenas com teclado e voz. O Linkin Park ainda agradou os fãs ao dizer “que é sempre bom tocar no Brasil, porque assim eles podem se lembrar dos melhores fãs do mundo!”. Pelo que vimos nesta edição do Maximus Festival como escolhas de bandas, público presente e toda a produção que envolve o festival, a terceira edição do Maximus Festival deve ser realizada com certeza!
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Texto e Foto Pei Fon
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omingo, 4 de junho de 2017. Poderia ter sido um dia qualquer, mas aconteceu a segunda edição do Hellcifest na capital pernambucana. Desta vez, o evento contou com as bandas Amon Amarth e Abbath. Era a primeira vez dos nórdicos no Recife e eles não tinham qualquer noção do que os esperavam. Aquele burburinho clássico com o anúncio desse show foi inevitável, trazendo muita expectativa, uma vez que a edição de 2015 foi sucesso total. Só lembrando para quem não foi: a dupla do Death e Thrash Metal, Cannibal Corpse e Testament, respectivamente, estiveram no ‘Hellcife’. Havia caravanas de várias cidades nordestinas. Natal, João Pessoa, Caruaru, Arapiraca, Maceió e Aracaju marcaram presença, todos buscando a mesma experiência, já que era a primeira vez de muitos e a ansiedade estava presente. A produção do Hellcifest é a mesma do Abril Pro Rock, então seguiram a risca o horário. Às 19h30 a banda pernambucana Pandemmy começou os trabalhos. Apresentando sua nova formação (que só tem o guitarrista da formação original), a banda, que agora tem uma mulher nos vocais, tocou músicas - 64 -
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do novo álbum. O retorno para o público não estava muito legal e não dava para entender muito o que a vocalista cantava. Mas os trinta minutos destinados para o show foram bem aproveitados, e ainda deu tempo para uma participação especial. Wilfred Gadelha, jornalista e vocalista, deu o ar da graça nos palcos. Em seguida, mais uma banda nordestina no palco. Foi a vez do quarteto da Paraíba, a galera do Warcursed. Também apresentando sua nova formação, os caras não decepcionaram no som. A novidade, ao menos para essa que vos escreve , foi o guitarrista Richard Senko
nos vocais. O ponto ruim ficou por conta da iluminação dos caras, talvez por uma proposta da banda, eles ficaram totalmente contra a luz, ou seja, você não enxergava as feições dos músicos, apenas o contorno de seus corpos e a extensão do instrumento. A banda tem uma presença de palco bastante relevante para se ‘esconderem’ na luz. Mais luz, por favor!
#SomosTodosAbbath Dentro do tempo estabelecido, o cara mais engraçado da cena Metal mundial estava
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prestes a começar seu show. Contextualizando um pouco, Abbath surgiu com o Immortal, banda de black metal da Noruega. Com uma presença de palco singular, ele logo chamou a atenção para a banda e para o som que fazem. Depois fundou a banda com seu próprio nome. Ícone, muitos desejavam ver sua performance solo nos palcos. Não distante da proposta de sua antiga banda, teve cara pintada, sim, adornos, caras, bocas e línguas, dancinhas, irreverência e um show de ficar com o queixo caído. Impossível não ser impactado com a presença de palco
do cara. Mesmo com problemas técnicos no início de seu show, Abbath não se ‘abbatheu’, fez sua reclamação, mas não permitiu que isso afetasse sua performance. Brincou com as dificuldades. Afinal, a galera não tem nada a ver e estava ali para ver o melhor dele. Tocando músicas próprias e do Immortal, agora cover, finalizou com “All Shall Fall”. Por sinal, a tão aguardada a dancinha do videoclipe não rolou. Rolou algo no meio do show, mas foi quase que uma versão em slow motion. Abbath, sem dúvida, é um cara que todos querem conversar, rir bastante e tirar muitas
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fotos. Deixou ótimas impressões por onde passou. #SomosTodosAbbath VIKINGS Finalizando a noite, os suecos do Amon Amarth subiram ao palco com o clássico dos clássicos: “Pursuit of Vikings”. Os nórdicos levantam a bandeira da mitologia nórdica em suas canções com muitas referências aos vikings e suas crenças. Asgaard, Odin, Thor, Loke e os horns, claro, estavam lá. A turnê apresenta o recente álbum “Jomsviking”, e a banda não decepcionou de jeito nenhum. Antes da apresentação, alguns fãs lamentavam que músicas dos quatro primeiros álbum ficariam de fora do setlist, tendo apenas uma desse período. Mas depois do que viram, não devem ter nem lembrado mais disso. Mesmo sem os adornos que costumam levar nos shows pela Europa, o que aumenta bastante a experiência sensitiva, a turnê brasileira, com oito apresentações, não ficou abaixo da média. Casa cheia, galera cantando alto e participando. A cara de satisfação do vocalista Johan Hegg era nítida e não escondia sua felicidade. No último show da turnê, Hegg agradeceu bastante e desejou voltar mais uma vez.
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Por Pei Fon | Fotos Banda/Divulgação
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Por Pei Fon | Fotos Pei Fon
e um dia alguém te disser “Death Metal acústico”, O que vai pensar? Improvável, não? Soa estranho de certo modo, convenhamos. Mas uma dupla mostra que é possível. Psychotic Eyes faz sim esse som agressivo em algo mais ‘sublime’, para contemplação. Bater cabeça em ‘slow motion’. A parte acústica nasceu de uma adversidade da banda. Quando ainda era um trio, um convite para show surgiu e o baterista saiu. Alguns declinariam. Mas Dimitri e Douglas aceitaram o desafio e apresentaram um som extremo sem as batidas da bateria. Confira essa entrevista bem legal com o guitarrista da banda.
Dimitri Brandi - O Psychotic Eyes foi formado em 1999. Lançamos o álbum de estreia em 2005, e nosso segundo, “I Only Smile Behind the Mask”, em 2011. Atualmente, desde 2015, estamos trabalhando num álbum acústico, agora em fase final de produção. Nosso som já foi rotulado das maneiras mais diversas e imagináveis. O que eu posso dizer, para explicar, é que têm vocais guturais, alguns berros mais rasgados, letras em inglês e agora em português, instrumental bem trabalhado com referências diversas, de todos os estilos de metal e da boa música, aí incluídos jazz, rock, MPB e umas outras maluquices.
Primeiro ato. Por favor, apresentem-se para nossos leitores.
O som da banda recebe muitas influências musicais, porém a literatura tam- 73 -
bém está presente. As artes devem conversar entre si. Como tudo surgiu? Com certeza as artes devem conversar entre si. Escrever uma letra de música não é fazer literatura, mas é quase como escrever um poema. Uma boa letra, aliás, funciona como um poema. Além disso, álbuns vêm em pacotes que têm imagens, capas, panos de fundo. Não há música sem artes plásticas, também. O meu gosto por literatura precede o gosto por música. Eu comecei a ler antes de começar a ouvir música por prazer. Claro, antes eu ouvia música “por osmose”, mas eu virei um aficionado mesmo depois do Rock in Rio, quando assisti ao Iron Maiden pela televisão. Nessa época eu já era viciado em literatura. Quando comecei, muitas décadas depois, a escrever minhas próprias letras para o Psychotic Eyes, foi natural buscar na literatura a inspiração. Primeiro nas histórias de terror. No nosso primeiro álbum estão a do Frankenstein e a do filme “Sinais”. No segundo álbum comecei a contar pequenos contos, como o da faixa título. O último trabalhado lançado foi “I Only Smile Behind The Mask”. Quem seria esse personagem? Seria uma pessoa que vive duas vidas distintas? Sim. Todos nós usamos máscaras. No caso da faixa título, imaginei um personagem que teve o rosto desfigurado em um acidente. Ele se culpa por isso, achando que foi imprudente. Como não tem coragem de exibir sua face mutilada, só se sente à vontade, e feliz, quando pode usar uma máscara, quando está fantasiado. Isso acaba sendo uma metáfora, só somos realmente felizes quando podemos ser nós mesmos, só que mostrar nosso verdadeiro eu para os outros exige coragem, pois podemos ser muito feios no fundo. Como medo de mostrar o monstro, colocamos máscaras, disfarces e fingimentos, que nos protegem, mas também - 74 -
nos ocultam. “Life” realmente é bastante interessante diante da proposta que é falar da vida, fim de relacionamento. Porém, o que ecoa na cabeça é “leave me alone”. Serve para tantos outros sentimentos, não é? A letra de “Life” fala sobre o amor, mas em seu momento mais doloroso, que é o fim do relacionamento. Isso acaba servindo para todos os sentimentos de perda, dos quais o mais forte é o luto, também tratado em “Dying Grief”, na qual conto a história da morte do meu pai. Idealizar uma pessoa que se foi, seja pela morte ou porque o amor acabou e seguimos separados. Essas são as sensações que nos torturam no processo de aceitar a perda, e que inspiraram as figuras que menciono na letra, tais como as telas vazias, as lágrimas pingando no chão, a progressão de acordes repetitiva. Antes um trio, hoje uma dupla. Como estão se virando para compor? Sentem algum tipo de dificuldade? Nada, ficou mais fácil! Eu e o Douglas temos muita facilidade em compor juntos. Eu faço minha linha e ele a dele, e vamos alterando e adaptando cada parte conforme as ideias do outro. No final, se ficou satisfatório para ambos, está aprovado. Death metal acústico. Como foi isso, gente? Conta pra nós. Tudo começou quando perdemos nosso baterista, Alexandre Tamarossi, que parou de tocar metal. Ficamos um tempo procurando um substituto e nunca achamos. No meio tempo, houve o lançamento de uma coletânea, organizada pelo grande artista Luiz Carlos “Barata” Chichetto. Não poderíamos tocar no evento de lançamento sem um baterista, então tivemos - 75 -
a ideia maluca de apresentar nossas músicas no formato acústico, só com dois violões. No dia ficamos apavorados. Mas deu tudo certo, o público adorou e esse foi o nosso show de melhor repercussão até hoje. Você pode conferir no Youtube, o vídeo ficou bem legal! Ainda sobre o acústico, vocês pretendem seguir na mesma linha? Devem inserir a bateria em algum momento ou esse é um caminho inovador para o estilo? Não tenho a menor ideia. Como músico de death metal, eu gosto mesmo é de barulho, então adoraria voltar a tocar com uma banda completa. Mas não nego que o formato acústico é inovador e surpreendente. Estamos criando um novo estilo, algo que nunca foi feito antes. Isso é importante e me deixa muito empolgado. Sobre composição, como está o processo do novo play? O que pode nos adiantar? No disco acústico temos duas músicas inéditas e regravações de obras antigas. As inéditas têm letra em português, outra novidade pra mim. Nunca consegui compor na nossa língua. Para tanto contei, de novo, com o Barata e a literatura, pois ele cedeu dois poemas geniais para que usássemos como letra. O instrumental está muito mais trabalhado e emotivo do que o normal. As melodias se entrecruzam e se completam. Colocamos linhas melódicas mais bonitas do que agressivas, desta vez, aproveitando a sonoridade dos violões, da guitarra limpa e dos pianos. Alguns poderiam torcer o nariz para a MPB. Por que descontruir uma música de Chico Buarque? O que a Música Popular Brasileira tem a ensinar para o - 76 -
Heavy Metal? Primeiro, a escrever boas letras, que tratem da vida humana em todos os seus aspectos. Isso é algo negligenciado por muitas bandas de rock e metal, no Brasil e no mundo. Embora tenhamos excelentes letristas no rock e no metal, também temos muitas letras simplórias ou que simplesmente não acrescentam nada à vida de ninguém. Outra contribuição importante da MPB é a versatilidade harmônica. Os compositores e arranjadores conseguem trabalhar em várias tonalidades, às vezes na mesma música, modulando e mudando a harmonia. Isso é algo que os músicos de metal muitas vezes não exploram, até por desconhecimento. Algumas bandas compõem sempre nos mesmos tons e acordes, e é possível fazer coisas muito pesadas em cima de harmonias inusitadas e diferentes, inspiradas no jazz ou na bossa nova (que é uma harmonia de jazz tocada num violão de nylon, na maioria das vezes). Top 5. Quais as bandas que inspiram o Psychotic Eyes? Fale um pouco sobre cada uma. Death: a maior influência de todas. O que vou dizer agora eu já disse umas mil vezes e não canso de repetir: Chuck Schuldiner foi o maior músico do século XX, e só não é reconhecido como tal porque tocava metal extremo. Ninguém antes dele criou harmonias, melodias e estruturas rítmicas tão complexas, mas que soam, ao mesmo tempo, naturais, emotivas, melódicas, pesadas, agressivas e épicas. Ninguém. Só tem precedentes na música clássica, nos grandes compositores e arranjadores. No rock, talvez nos trabalhos dos Beatles, mas eles eram uma equipe com um gênio chamado George Martin como produtor. Chuck era só ele. Slayer: eu e o Douglas tocamos juntos no Slaytanic. Ele foi o fundador, eu fiquei uns me- 77 -
ses. Mas compartilhamos a inspiração na banda que tem o melhor baterista de metal de todos os tempos, que soube expandir os limites do estilo, levar a agressividade às últimas consequências. Influência eterna, música do mal para bons corações. Quem não se arrepia com a introdução de Rainning Blood? Rush: a maior banda de todos os tempos. Um trio perfeito. O melhor letrista que o rock já produziu, que por coincidência é o melhor baterista também. Um guitarrista genial e um baixista extraordinário que canta com uma voz que ninguém gosta. Não tenho palavras pra elogiar esses caras. Além disso, nunca lançaram um disco ruim. O pior momento do Rush coloca no bolso a discografia inteira de muita gente... Motörhead: Lemmy é inspiração pra vida. Esse cara era o símbolo do metal. Música pesada, sem meias palavras, sem jamais trair o estilo, sempre inovando. Faz muita falta e é insubstituível. Queen: Não é uma banda de metal, mas é um exemplo de música da mais alta qualidade, com arranjos primorosos e o melhor cantor de rock de todos os tempos. Os solos harmonizados do Brian May são uma eterna inspiração para mim como guitarrista. Também tocaram no Rock in Rio e marcaram os corações de uma geração. Depois disso ainda teve a tragédia do Freddie com a AIDS, aquele show emocionante em sua homenagem com a participação do Tony Iommi. Eles merecem nossa eterna admiração, no mínimo pela coragem que sempre tiveram em fazer boa música.... sem se prender a nada, explorando todas as sonoridades que estavam ao alcance. De novo, quem não se arrepia com “Show must go on”? Por fim, o que podemos esperar do Psychotic Eyes para 2017? Sucesso e muito obrigada! Neste ano lançaremos “Olhos Vermelhos”, primeiro disco de death metal acústico da história. Letras em português e capa da genial artista Nua Estrela. Espero que o álbum tenha a melhor repercussão possível, pois estamos inaugurando um novo estilo. Quem sabe ele nos permita realizar o sonho de fazer uma turnê pelo Brasil, tocar em grandes eventos, conhecer os headbangers de todo nosso país. Eu que te agradeço pelo espaço, pela entrevista e pelo trabalho em prol da música underground! Infos: Site | Twitter | Facebook | Youtube - 78 -
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Por Samantha Feehiy e Iúri Cremo (Wonder Girls )
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arte, bem como a vida, é feita de ciclos, e após a febre das tattoos em aquarela, chegou a vez das tatuagens em pontilhismo ganharem destaque no universo da tinta na pele. Originária do Japão e popular por lá, está em alta em muitos países, o grande destaque é que a técnica artística é feita com a ponta de uma agulha, como se fosse desenhada com um lápis. Em outras palavras: Procure um bom profissional para fazê-la! O realismo da tatuagem dá um dinamismo e a impressão de que a imagem ganha, até, movimento. “Gosto muito da suavidade e o detalhamento que o pontilhismo proporciona na tattoo. A dificuldade está em deixar os pontos uniformes e sem estourar. Não classifico a notoriedade do pontilhismo na tattoo como moda. Nas artes plásticas, foi uma técnica amplamente utilizada e assim como a aquarela acabou sendo adaptada à tattoo”, diz Claudia Baht, tatuadora do Inkuts Tattoo Art.
Engana-se quem pensa que é uma tatuagem reta e que não possibilita uma versatilidade, o importante nesse estilo é a execução perfeita e, inclusive, é ideal para todas as partes do corpo, inclusive dedos e partes difíceis de serem marcadas. Por ser muito trabalhosa e exigir bastante precisão, esse tipo de tatuagem pode levar muito mais tempo para ficar pronta do que um desenho feito por uma técnica mais comum. Uma tatuagem média leva, pelo menos, 3 horas para ser finalizada. “Para melhor aproveitamento da técnica, escolha alguns contrastes e degradês. Percebe-se mais a aplicação de pontilhismo em desenhos geométricos, porém acredito que dê para adaptar a técnica a quase todos os tipos de desenho. O efeito que esta técnica proporciona é único. Você pode suavizar os degradês, texturizar, detalhar e colocar pequenos detalhes nas composições” explica Claudia Baht. “O que me atraiu no pontilhismo foi a delicadeza e simetria, me sinto focada e co-
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Camila Takeuchi2
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nectada em um micro universo quando estou em criação. Uma das grandes diferenças entre essas e outras tatuagens também é a sua produção. Por ser feita ponto a ponto eu levo em média de dois a três dias com produção finalizada no papel”, observa Thaina Souza, tatuadora e modelo Wonder Girls. A inspiração dos tatuadores especialistas nesse procedimento vai desde a arte tribal até a arte fractal, mesclando efeitos visuais com diversos elementos, do 3D ao geométrico e maori. Atualmente, o japonês Kenji Alucky é considerado o maior especialista em tatuagens com pontilhismo do mundo, tanto que serve de inspiração para diversos profissionais. Outro tatuador famoso é o francês Alexis Calvié, seus desenhos carregam uma genialidade impressionante e nem parecem reais. Nem precisamos lembrar que tatuagem é praticamente algo para a vida inteira, por isso você precisa pensar bem antes de fazer e escolher o melhor local/tatuador. Além disso, o desenho precisa ficar lindo e incrível para fazer toda a diferença em seu estilo. “Gosto muito desse estilo, quase todas minhas tatuagens são feitas com a mesma pessoa, e um dia enviei a ideia do pontilhismo, ela sabia fazer e topou. Peguei algumas referências de tattoo da Grace Neutra e demos apenas alguns toques diferenciais. Meu amor pela tatuagem veio da minha mãe, ela também tem algumas tatuagens e quando pequena me levava junto nas sessões dela, e a ideia de poder marcar algo em sua pele é incrível, desde então tenho um grande amor pela tattoo, conta Camila Takeuchi, modelo Wonder Girls.
Thaina Souza
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Claudia Baht
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Para quem tem medo, Claudia Baht já adianta, “como qualquer tatuagem o pigmento ao longo dos anos tende a espalhar, por isso a procura por um bom profissional é fundamental. Não há empecilho de local para tatuar, o importante é saber que alguns locais pede um pontilhismo mais suave e delicado e outros locais se adequam melhor os pontos maiores e mais grossos”, admite. Como são vários pontinhos distribuídos pela pele, é possível formar um jogo de cores muito bonito na tatuagem. A escolha do desenho junto ao tatuador ocupa um papel importante, pois somente ele poderá saber se a ideia do cliente poderá ser adaptada para a técnica. “Precisamos ouvir com clareza o desejo do cliente, e dizer ao certo o que funciona ou o que não funciona, por exemplo, acredito que não há nexo em fazer um tribal com pontilhismo, pois é completamente preenchido de preto. No geral acredito que tenha como adequar o desenho à técnica de pontilhismo. Mais uma vez, é preciso ter confiança no artista escolhido.”, observa Claudia Baht. E não é uma tatuagem restrita, pode ser sombreada, colorida ou para quem quer dar apenas um toque especial ao desenho. É possível fazer a tatuagem com o traço comum e escolher algum detalhe da figura para acrescentar o pontilhismo. O efeito é incrível e o resultado inspirador, para ninguém botar defeito! Procure um bom profissional, pesquise bem e escolha um desenho que tenha tudo a ver com você. Inspire-se em artistas como Marina Knup, Adina Wolftown, Camila Fragazi, Xnazax e Jondix. “No momento é um estudo que desenvolve a capacidade de concentração e equilíbrio pessoal, pretendo criar cada dia mais. Minha inspiração é Grace Neutral que faz trabalhos fantásticos com a tatuagem hand poker com pontilhismo e geometria”, finaliza Thaina Souza, modelo Wonder Girls. - 84 -
Claudia Baht
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Texto: Ana Paula Soares e Mauricio Melo Fotos: Mauricio Melo & Snap Live Shots
DIA 1 Em nossa décima participação neste que é, atualmente, um dos maiores festivais de música do mundo, fomos brindados com um cartaz feito à medida para nosso perfil. É claro que, em edições passadas fomos mais ativos, visitamos mais palcos, fotografamos mais e nos divertimos também. Com o passar dos anos, nos sentimos como aqueles jogadores de futebol que com o avanço da idade e da experiência, mudam sua posição em campo no intuito de correr menos e manter a efetividade em alta. Nada mais chegar em casa e olhar a lista de shows fotografados ou apenas assistidos e percebemos que a lista diminuiu na quantidade, mas não na intensidade, pois tivemos momentos memoráveis para relatar nas linhas abaixo. Os números não deixam para menos, um público estimado em 200 mil pessoas (somando os três dias), mais de 125 países participantes entre bandas, imprensa e profissionais do “music business” e ingressos esgotados desde janeiro, considerando que o festival revelou cartaz dois meses antes. Entre as atrações desse ano, a que mais chamou atenção foi a Unexpected Primavera, que contou com um show supresa, dentre eles um palco aberto e com visão a 360 graus que contou um show quase surpresa do Arcade Fire, um dos grandes nomes do evento. - 88 -
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Digo quase surpresa porque a notícia vazou minutos antes. Abrimos a edição 2017 visitando o palco Primavera e conferindo de perto o quarteto Cymbals Eat Guitars, os novaiorquinos não decepcionaram o bom público que se aglomerava diante do palco às 17h40 de uma quinta-feira. Músicas como “Have a Heart” e “Warning” foram algumas que figuraram no setlist. Entre um show e outro passamos na área de imprensa e demos de cara com Elza Soares. Nossa diva oferecia ali uma coletiva para os jornalistas, muitos deles portugueses. Mais adiante fez um dos shows mais marcantes do festival no Auditório Rockdelux, um palco mais luxuoso para um público mais exigente, arrancou aplausos, emocionou quem estava na linha de frente e fez dançar quem estava na linha de trás, foi aplaudida de pé. Suas letras sempre marcantes, independente do ritmo e do estilo que por sinal, elementos eletrônicos em suas composições deram um upgrade em seu estilo e vale destacar, apesar da idade e de se locomover em uma cadeira de rodas, sua voz esteve impecável. Temos que destacar também os músicos que a acompanham. Elza sentada ao centro do palco, num vestido que formava uma cascata, combinando com o fundo do mesmo. O sorriso fácil na face dos gringos foi a prova absoluta que ali estava uma estrela e um momento histórico, para eles e mesmo para ela, apesar de ter se apresentado em diversos palcos mundo afora, o Primavera é único. Como mesmo diz a letra de “A Mulher do Fim do Mundo”, “eu quero cantar, me deixe cantar até o fim…”. Sim Elza, pode cantar sempre e obrigado pela presença. Quem também passou pela sala de imprensa e logo em seguida conferimos no formato plugado foi o Broken Social Scene, fizeram o fim de tarde mais bonito, o pôr do sol ao som de “Hug of Thunder” foi perfeito. Depois - 90 -
de misturar samba com indie rock, chegava o momento de acender o pavio com Gojira, não se espantem com um nome metal no meio de tudo isso, mais adiante detalharemos o porque. Os franceses pisaram forte na tarde/noite de quinta-feira dando início ao set com “Only Pain”, “The Cell” e “Backbone” finalizaram apresentação com pouco mais de uma hora e o público saiu satisfeito com o que viu. Dando aquela quebrada de asa entre um palco e outro e, antes de conferir o grande nome do dia, passamos no palco Ray Ban e pedimos um aperitivo junto ao The Afghan Whigs apresentando seu novo disco “In Spades” e abrindo com “Birdland” e “Arabian Heights” as mesmas que abrem o trabalho de estúdio. Agora sim aquela explicação que ficamos devendo parágrafos acima. A participação de bandas de Metal, defina como preferir, no festival. Quando Slayer foi anunciado como um dos destaques do cartaz, muitos pontos de interrogação surgiram de um lado e de outro, mas se analisarmos friamente, e para quem frequenta o festival a praticamente uma década, o espanto passou longe. Em edições anteriores tivemos Motörhead, Neurosis, Napalm Death, Venom, Mayhem, OFF!, Trash Talk e muito mais e nunca foi tão chocante quanto o anúncio do Slayer, banda essa que há muito era um objetivo dos organizadores, quase obsessão e que virou até piada, a cada ano alguém perguntava: “E o Slayer, quando vem?”, pois aí temos o quarteto da Bay Area. Completamente enganados os que acharam que Tom Araya e sua turma iriam tirar o pé por se tratar de um festival indie, ou que meia dúzia de gatos pingados estariam diante do palco. Nada disso aconteceu, o que vimos foi uma das melhores apresentações do Slayer em anos, sem exageros. Nem podemos dizer que não temos ponto de comparação considerando que facilmente assistimos a banda pelo menos - 91 -
uma vez ao ano, quando não duas vezes. Não que tenham apresentado um setlist com novidades, na verdade é o setlist mais decorado dos últimos anos apenas abrindo espaço para uma única novidade, “Repentless” que abriu a noite e representou o último álbum. No mais, “The Antichrist”, “Disciple”, “War Esemble” e o tridente final com “Reign in Blood”, “South of Heaven” e “Angel of Death”. Algo vem chamando atenção em nossas últimas coberturas do Slayer e em especial no Primavera Sound, onde muitos fotógrafos não curtem as bandas, só estão ali para registrar imagens de músicos “famosos” e dar as costas para o palco e correr até o próximo. Bem, já está na hora de tratar Gary Holt como um integrante definitivo da banda, já não é mais o músico convidado que substitui Jeff, já não é uma participação e vem fazendo um excelente trabalho na banda. Ver fotógrafos se acotovelando em frente a Kerry King e abandonar Holt quando o mesmo está destruindo nos solos de guitarra do outro lado do palco é o pior que posso ver. O som esteve impecável, as bandeiras de fundo com uma iluminação perfeita e um bom público compareceu. Mas ainda não acabou, tínhamos dois encontros a mais antes de finalizar nossa jornada. Uma delas com o The Damned liderados pelo Captain Sensible, reivindicando notoriedade após quatro décadas. Sim, os Pistols levaram a glória, mas o Damned foi quem primeiro emplacou com “New Rose”. Entre as mais celebradas também tivemos “Melody Lee” e “Neat, Neat, Neat”, levantando a galera do punk da melhor idade, quem diria. Para finalizar a noite com chave de ouro conferimos o Converge. Jacob Bannon e sua turma não decepcionaram, abriram a noite com “Dark Horse” de maneira demolidora, seguiram com “Aimless Arrow” e deram respiro com a lenta e berrada “You Fail Me”. Finaliza- 92 -
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ram com duas do celebrado disco “Jane Doe”, “Comcubine” e a música que dá titulo ao disco. DIA 2 Nem sempre quantidade significa qualidade e essa regra se fez valer no segundo dia. O cansaço começava a aparecer no horizonte e começamos a economizar pernas afim de chegar inteiros no final do evento. Apesar disso chegamos cedo para conferir It’s Not Not, uma banda local que há muito não tocava no evento e que foram um dos repensáveis de abrir a tarde. Por outro lado, o Shellac de Steve Albini, que marca presença anualmente e que por muitas vezes encerrou o evento, tocou sob luz do dia, às 8 da tarde, sim é assim que nos referimos na Espanha ao horário das 20h00. Não é necessário detalhar a apresentação, “My Black Ass”, “Squirrel Song” e todas as demais que tocam ano após ano figuraram no setlist, tipo aquele filme clássico que o cidadão já assistiu duzentas vezes e tem até as falas decoradas, o mesmo acontece com Shellac e assim como nos filmes, não nos cansamos de assisti-los. Para o Descendents, o objetivo número um foi o de ser o primeiro a entrar no fosso dos fotógrafos, claro que como brincadeira, como piada, mas ao mesmo tempo reivindicando nosso posto. Abriram com “Everything Sux” e foi até difícil de manter a concentração, estar entre o quarteto e um insano público que cantava tudo, foi relaxar e abrir o sorriso. Tão insano quanto rápido foi o tempo que tivemos no fosso, num piscar de olhos e após “Rotting Out” já estávamos saindo enquanto “On Paper” estava sendo tocada. Só deu tempo de abandonar o equipamento e correr para o abraço, em um minuto já estava no tumulto, no seguinte suando pra burro, no terceiro debruçado na grade com aquele sorriso e de lá não sai até o final. Há muito não me arriscava tanto mas valeu à pena, foi um repasso na carreira e sem pontos negativos, as músicas novas funcionaram à perfeição e apesar da idade, o nível se mantém em alta. Chegamos aos finalmentes do segundo dia com a dupla Sleaford Mods, um hip-hop/punk proveniente de Nottingham. Perguntei a um fotógrafo se ele sabia do - 95 -
que se tratava e foi bem resumido em sua resposta, um cidadão que fala rápido no microfone e outro que coloca o pen drive no computador e toma cerveja. É mais ou menos isso, considerando que são duas figuras, que suas letras são ácidas e uma critica a sociedade, com refrões fáceis e que fazem rir. Mas nem tudo saiu a perfeição, problemas no som logo na primeira canção fez com que algumas garrafas fossem arremessadas no palco, gerando assim um mal estar entre a dupla e a mesa de som, algo que considerando comentários feito pelo vocalista, esses problemas já vinham desde a passagem de som. Muito estranho por certo já que se trata de um microfone e um computador, algo simple. Entre as músicas mais relevantes podemos destacar “TCR” e “Tied Up in Nottz”, foda! DIA 3 Iniciamos nossa terceira jornada um pouco mais tarde do que o habitual. Logo de cara conferimos o ex-Sonic Youth, Thurston Moore, apresentando seu novo trabalho, Rock N Roll Consciousness. Chegar diante do palco e ver um violão e uma bateria e pensar que ali o mestre da distorção e efeitos atmosféricos poderia extrair algo à mais foi sensacional. Como de hábito, o cidadão não falha e lá estava o alto e desengonçado Moore, com cabelos longos o suficiente para esconder o rosto, abrindo com seu novo single “Cease Fire” e deixando em êxtase um publico nostálgico. Do anterior álbum ofereceu “Speak to the Wild” e o mestre continuava a tirar proveito de seu violão, nem baixo, nem Fender arranhadas, apenas um violão e pedais, quem precisa de mais? Por ser um show num palco especial, o Hidden Stage, a apresentação foi curta, apenas 45 minutos. O suficiente para abrir a jornada, o suficiente para dizer que ele ainda é o cara. Ao sair do Hidden, demos uma conferida rápida no palco Adidas e na apresentação do Jardín de la Croix, banda espanhola com um som instrumental de alto nível, impossível não gostar. Enquanto torcedores do Real Madrid e do Juventus disputavam espaço diante do telão para a final da Champions League, o Te- 96 -
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enage Fanclub marcava presença no palco Primavera dando boas vindas com “Start Again”, que também abre Songs From Northern Britain, lançado há vinte anos. Rebuscaram mais ao fundo com “Don’t Look Back” do aclamado Grand Prix e finalmente apresentaram o último lançamento, Here, com “Hold On”, puro Indie. Uma grande expectativa pairava na arena aonde se encontrava o palco Ray Ban, Seu Jorge apresentaria The Life Aquatic Studio Sessions, um tributo a David Bowie. O que muitos não sabiam é que as versões seriam apresentadas em português quando na verdade muita gente achou que veria um lindo set cantado no puro ingles. Mesmo assim o publico não arredou pé, conferiu de perto e cantou, em inglês é claro ao mesmo tempo que Seu Jorge cantava em nosso bom português, uma combinação bonita, principalmente em “Starman (Astronauta de Mármore)” e “Queen Bitch”, responsável pelo encerramento. No mesmo palco que Caetano se apresentou há dois anos, Seu Jorge também foi ovacionado, bom de ver. Estava claro que ficaríamos de fora na sessão de fotos para o Arcade Fire, uma barricada limitada a 30 fotógrafos e com duas horas de antecedência já havia gente fazendo fila, guardando lugar para tentar mudar de vida porque um dia fotografou a banda canadense. Como já fizemos isso e nossa vida seguiu como se nada tivesse acontecido, nos contentamos em assistir à distancia. Show do Arcade é e sempre será bom, bonito de assistir e cantar desde a abertura com “Wake Up”, colocando o publico para dançar em “Everything Now” e “Haiti” de Funeral. Não seria necessário dizer que “No Cars Go” e “The Suburbs” foram dois grandes momentos da apresentação. No mais, tudo pensado e executado à medida para que o nome em letras grandes no cartaz do evento - 98 -
confirmasse favoritismo. Não foi a primeira vez que o Against Me! colocou um ponto final em nossas participações de grandes festivais, há uns dois anos foi assim no Hellfest e desta vez também deu o tom de despedida. O quarteto está solido, preciso e afinado com Inge Johansson (ex-INC) no baixo, Atom Willard na bateria, James Bowman nas guitarras há bastante tempo e é claro Laura Jane Grace nos vocais, formação que se mantém estável há quatro anos. Abriram o set com “I Was a Teenage Anarchist”, “Transgender Dysphoria Blues” e “333”, esta última do disco mais recente, Shape Shift With Me. Também vale destacar “Dead Friend” e “Pints of Guinness Make You Strong”, considerada já um clássico da banda. Fecharam a apresentação em alta com True Trans Soul Rebel. Foi o ponto final perfeito em nossa participação no Parc del Fórum mas não a do evento. Para finalizar a edição de 2017, naquele domingo com cara de chuva e não muito o que fazer, demos uma esticada até a sala Apolo para o encerramento com Shellac e Sleaford Mods. Apesar de termos assistido dois dias antes, a grande curiosidade era saber como o Shellac, que visita Barcelona anualmente para participar do evento, funcionaria numa sala fechada e podemos afirmar, talvez tenha sido a melhor apresentação do trio dentro do evento, talvez por ser num cenário distinto ao que estamos habituados ou mesmo porque a atmosfera era mais poderosa, foi destruidor. O mesmo podemos dizer dos britânicos, que repetiram setlist mas não é o mesmo tocar num evento aonde entre o publico e o palco tem um fosso de tres metros do que tocar num palco aonde o publico está debruçado no mesmo, loucura absoluta e diversão garantida. Fim. - 99 -
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Por Pei Fon | Fotos Banda/Divulgação
O
primeiro cd não será esquecido, tampouco o tempo que levou para ser gerado. Diante disso conversamos com Cleuber Toskko sobre o primeiro full da banda Rastro de Ódio. E não preciso que ‘ódio’ é o tema principal. Mas não apenas no apenas no âmbito do sentimento, mas do que vem acontecendo no país, ao nosso redor. De uma forma bem clara, falamos desse novo play, de política e inspirações. Acompanhe! Olá pessoal. Segue a entrevista e só peço que se sintam à vontade e não meçam as palavras. Eu agradeço novamente a oportunidade de estar nas páginas dessa grande revista. Cinco anos na ativa e história para contar. Como se sentem em lançar seu primeiro álbum? Depois de muita luta, alívio. Foram quase três anos preparando esse álbum. Apresente para nós “Escravos Modernos”. Escravos Modernos é um disco muito mais agressivo do que os nossos dois CD-EP’s anteriores. Acredito que chegamos na fórmula - 102 -
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que queríamos. Esse álbum, além de ter uma sonoridade muito mais brutal, voltado para o Death Metal, mesclando com a sujeira Punk que já fazíamos anteriormente, é também um disco um pouco mais técnico. Fizemos doze músicas com a alma e é esse registro que importa, músicas verdadeiras com letras fortes que fazem o ouvinte refletir sobre o mundo atual que estamos fadados. Desde o último CD-EP ‘‘Bem -Vindos Ao Brasil’’ de 2014, a banda passou por várias mudanças na formação e consequentemente na pegada sonora, mas vejo como algo natural e até importante, porque hoje temos integrantes que realmente gostam e se dedicam ao propósito do Rastros De Ódio. A gravação levou seis meses e o resultado ficou excelente. Foi cansativo para nós as mudanças de integrantes, mas deu tudo certo. Outro processo que foi muito cansativo foi a criação dos metrônomos, eu e o Marconate (batera) sofremos por três meses com isso (risos), além de ensaiarmos três vezes por semana no estúdio e mais uma ou duas vezes na minha casa mexendo nos metrônomos e depois indo para o estúdio fazer a pré-produção. Durante a semana, sempre a noite, e finais de semanas, o dia inteiro, nossas vidas foram tomadas por esse disco, por quase três anos. Foi uma felicidade enorme e também um grande alívio o disco ter sido lançado. Esse álbum representa muito mais que apenas um disco. Já o conceito visual, capa e encarte, eu já tinha desenvolvido há muito tempo, antes mesmo das gravações. A capa, por exemplo, já estava pronta a uns dois anos atrás. Ela resume tudo que se passa nas músicas contidas nesse disco. Imagino que exista um personagem em “Escravos Modernos”, quem seria? Fala um pouco. Escravos Modernos somos nós. O personagem, ou os personagens, somos nós mesmos. - 104 -
Foto: Cleia Neres
A escravidão não acabou ela apenas se modernizou. Continuamos acorrentados, continuamos recebendo chibatadas, ainda somos obedientes aos nossos ‘‘senhores de engenho’’, ainda somos leiloados em grandes feiras. Se você não é um escravo competente você é descartado pelo mercado de trabalho, então ‘‘leiloam’’ outra pessoa. As correntes hoje não são mais argolas de aço, e sim cartões de crédito, carteira de motorista, de trabalho, CPF, RG. As pessoas vivem uma falsa felicidade, estão sempre apressadas para o trabalho, calculando cada segundo. Somos simples marionetes mercantis. A diferença do escravo antigo para o moderno é que, hoje você é quem escolhe quem deverá servir. Os governos tentam amedrontar as pessoas com o tal ‘‘desemprego’’, mas na minha visão, o desemprego não existe, ele é apenas mais uma ferramenta assustadora do capitalismo para fazer você agradecer pelo trabalho escravizado que tem. Hoje estamos comprando e pagando a credito nossas vidas miseráveis. Até a forma de pensarmos e vivermos em sociedade foi industrializada, o individualismo é muito maior hoje que anteriormente. A ordem mundial é: Individualismo. As grandes companhias trabalham para isso. Note que hoje as pessoas estão conectadas umas às outras, através das redes sociais, porém, nunca se houve uma geração tão individualista e isolada como esta. É como se o governo mundial tivesse clonado nosso DNA e criado uma geração de escravos que não pensam, não reagem, apenas trabalham, consomem e engolem tudo que é fabricado. Antigamente na Roma os imperadores compravam a submissão das pessoas através de pão e jogos, hoje as pessoas são compradas com tecnologias. Aparelhos de telefone, Tv’s, etc. Uma nação escrava e alienada, que tem uma falsa abundância, que acredita ter a opção de escolha. - 105 -
A faixa título do play é marcante. Têm palavras que, acredito, resume bastante o álbum. Alienação, resignação, obedecer, respeitar, ilusão. A história do Brasil tem sido bem dessa forma, não é? Sim essa faixa tem a letra mais condensada e direta. Ela sintetiza todas as outras letras do álbum. É um prólogo do que o ouvinte vai escutar no decorrer do disco. Por isso é a primeira faixa. E não falamos apenas da atual história do nosso país e sim da história do mundo hoje. O mundo está em estado de óbito. A política mundial está em uma nova fase que muitos acreditam ser um colapso financeiro, porém esse ‘‘colapso’’ é algo muito bem arquitetado e planejado, não é algo inesperado como eles querem que acreditamos. Os grandes poderes mundiais estão jogando com nossas vidas, e no momento, eles estão numa nova fase, virando a mesa, fazendo grandes mudanças políticas, climáticas e territoriais. É o jogo do capitalismo e quem sofre com isso são as pessoas de países menos favorecidos, onde terão seus governos tomados, suas culturas destruídas, sua educação minguada, suas rendas reduzidas para logo depois implorarem por emprego. Assim formando novos escravos modernos. Veja a nossa própria situação política, totalmente instável, assim como a situação da Palestina, da Síria, dos países do sul da África, da América Latina em geral, da atual França, Grécia, etc. É um grande jogo de xadrez jogado pelos poderosos do mundo. As letras são diretas, sem rodeios, como deve ser. Diante disso, a mensagem está chegando onde pretendem? Esperamos que sim. A música sempre teve um forte potencial de influenciar, comover e mover gerações. Esperamos que as pessoas possam ler nossas letras e refleti-las, e não apenas bater cabeça com nosso som. A música é - 106 -
Foto: Iana Domingos
Foto: Iana Domingos
uma forma da nossa banda lutar, essa é nossa bandeira e muitas pessoas compreendem e apoiam o que fazemos. São 12 faixas, porém trilíngue. Por que ter letras em português, inglês e espanhol? Nesse disco temos uma música em espanhol e outra em inglês, justamente para que nossas ideias possam ser compreendidas por outras culturas e idiomas, que não compreendem nossa língua. Com isso participamos em duas coletâneas chilena e tivemos nossos dois CD-EP’s relançados nos EUA. Não fazemos isso para conseguirmos lançar algo no exterior, se quisemos lançar algo lá fora poderíamos estar fazendo isso independente de nossas mensagens, pois hoje o intercâmbio é muito mais fácil que há vinte anos atrás. Mas fazemos músicas em ambos idiomas para que as mensagens cheguem até eles e não apenas o som. Quero continuar gravando em outros idiomas nos próximos álbuns, quero gravar músicas em Tailandês, em japonês, em Árabe, etc. É um esforço que vale a pena para mim. Passeando pela discografia, o ‘ódio’ ao que tem acontecido no Brasil está presente. O que vocês pensam a respeito da atual situação política? Não tem como estar feliz pelo que está acontecendo aqui. O Brasil nunca foi um país estável, onde a população pudesse gozar de uma vida controlada e tranquila. O Brasil é um ‘‘puta’’ país lindo, o que ‘‘fode’’ isso aqui são esses corruptos, esses políticos que só pensam em seus próprios benefícios. Esses merdas recebem um dos maiores salários do mundo e ainda assim nos roubam. Não podemos ficar em casa assistindo a tudo calado, temos que continuar indo para as ruas e lutar por nossas vidas e por nossas gerações futuras. - 107 -
Foto: Piedade Araújo
Enquanto músicos, formadores de opinião, vocês costumam se posicionar sobre os assuntos da atualidade ou não querem expôr? Acho que nossas letras já são uma forma direta de expor sobre o que pensamos sobre o Brasil e o mundo. Não somos partidários e nem nacionalistas. Lutamos por um mundo igualitário, onde todas as pessoas possam ter o direto de viver como e onde quiserem. Onde as pessoas possam retirar da terra seu próprio sustento. Estamos todos no mesmo planeta, um planeta frágil, que merece cuidados. Quando todos os recursos minerais acabarem aí sim vamos dar conta que uma nação não tem nada de diferente da outra, que somos apenas seres humanos, sem pátria, sem língua, sem religiões. Estaremos todos em busca de comida e água, e todo o resto será resto. Top 5. Quais as inspirações da banda?
Cite uma banda e fale um pouco sobre. Influências musicais cada integrante tem a sua. É um misto sonoro. Mas o que realmente nos inspira são as pessoas. Infelizmente, enquanto houver a miséria, a escravidão, e exploração de todas as formas, estaremos inspirados a escrever. Porque nossa música não é feita para se curtir, mas sim para se revoltar e reagir contra essa máquina impiedosa chamada Capitalismo. Por fim, o que podemos esperar da banda para 2017? Sucesso e muito obrigada! Continuaremos fazendo nossa parte, levando nossas músicas e ideias para as pessoas. Esperamos poder ter saúde para continuarmos tocando por aí. Em nome de toda a banda eu agradeço o espaço cedido e para quem quiser conhecer nosso trabalho deixo aqui o link do nosso site.
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