Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem

Page 1

IGREJA ABACIAL DO MOSTEIRO DA VIRGEM Claudio Pastro


Equipe Editorial

Direção de arte Cristiana Serpa Assistentes de arte Rodolpho Lopes, Américo Buono Filho, Antonio Bacci Neto e Fabio Hideki Revisão Julia de Lucca

IGREJA ABACIAL DO MOSTEIRO DA VIRGEM Av. Ipiranga, 555. Petrópolis, RJ/Brasil CEP: 25610-150 Tel: (24)2242.2394 Fax: (24)2242.2286 mv.petropolis@bol.com.br


IGREJA ABACIAL DO MOSTEIRO DA VIRGEM Claudio Pastro

Todo espaço sagrado é um microcosmos em si, que transfigura os elementos da própria natureza, dando ao local uma conotação do novo, separado, puro. O espaço da celebração dá-nos a possibilidade de recomeçar... de renascer. Petrópolis, RJ/Brasil


PLANTA

4


Introdução

M

adre Maria Eugênia, preocupada porque a área de que dispunha era demasiado pequena para a construção do Mosteiro, ficou por algum tempo em silêncio. Em seguida, se voltou para o Claudio e perguntou: “– Você acha que se conseguíssemos o terreno ao lado esse problema estaria resolvido?”. Diante da resposta afirmativa, teve um gesto inusitado: pegou uma medalhinha de São Bento, lançou-a através do muro em direção à casa vizinha e anunciou: “– São Bento vai nos ajudar! Amanhã mesmo telefono e peço para ser recebida; farei uma oferta pelo terreno”. Eis que no dia seguinte, logo cedo, ela recebe um telefonema. Coincidência ou não... era justamente a vizinha convidando-a para um chá! No horário combinado, lá foi a Madre para o encontro. Intimamente contava com a ajuda de S. Bento para sensibilizar a vizinha – e não apenas para o acolhimento da proposta como, também, para o da oferta que lhe era possível fazer. Passadas algumas xícaras eis que finalmente o tom da conversa começa a tomar o rumo aguardado pela Madre ,cuja atenção, agora redobrada, estava alerta para a primeira oportunidade favorável à apresentação da sua proposta. Assim, ouve pacientemente

a senhora, recém viúva, explicar que, no intuito de lhe proporcionar uma condição de vida segura, o marido, anos atrás, havia formalizado a sua vontade em documento próprio. Tal disposição incluía a lista dos bens que ela deveria colocar à venda. Foi então que, com indisfarçável tristeza, a Madre Maria Eugênia ouviu da viúva que a casa de Petrópolis não constava dessa lista. De fato – explicou a senhora – por determinação do marido essa propriedade jamais deveria ser vendida, e, sim, doada. Perguntou então ela à ansiosa Madre: “– Estaria a senhora interessada?”.

São Bento não poderia ter sido mais explícito em demonstrar ser vontade do Céu oferecer ao mundo o Mosteiro da Virgem! 5


Hist贸ria do mosteiro

A

gna feugiam zzrit velit irit, susto od essequatie volorem vendips uscilit etumsan vel dolore tatue magna faccum zzril exero ea feu feugiam eu feugait nonsectem ad et ea atio odit in ectet, conullaore veliquisit ilit utat lorper alis nim in volore tatinis nibh es andrercilit luptatue veliquisim vel incincilit lorem ipis amet verostrud modit venim el del ut loreet ut amet, veliscidunt ipsummo bh eratuer ostrud tio odo od tiscili quipissi tat dolore veniatio conullandio eu faci tat delit venisl diat nullaor se dolumsandio od ccumsan volor at il ut velisit nisim quat. Ut num dunt lutpatu erosto dolluptate magna commodio ex ex et, cons exeriurem dio digna augiamc onsenisisi blan henis nos duipis et adit, consecte tatisisl dolore el utatuer ipit iure magna ad magna facidui bla faciliquamet velendit iure estrud elit nisl dolorer adit lo commy nos adipit lum velTamproruropul condam sulto consum sum tatustebatum actodientiam inclut Catum nem patum terum re cerorip terma, ut pristur. Sp. Do, quam ma, orbemnonuncla actusat uderibus ciae mum silicondam consissupio Cuppl. etre alica.At patures Catilne at, opopubli ince prore compro, tusupio hae caet quis, ses conferi octatiumuni se acrio, quastris et rec tebena, Patil

6

ut audam moventem diem auctuam stam mo int. Simoltum ad ac f mendum sestiam. Bonsulius inc rehenat iconsum fecit, stiaeque tissita ne conclut alarbem orsulto et vissuliis consulem fatquemus culoc, nihiliu stabem adem pro horus hor publis habefaude prit Castus ertatem iam ia? At Casdam int? issolincla et; nost forum, acia niciem fac mandit. Optiactatim quernim enatilicur is. Ex noratum in tala nonc ficepoena nihilissa L. Ifecremus et quam pervilis hocrio voltum tas iae ta diem Romne intris. Si conunumunt. Hil ublinc terfica udacipse anum inum re quos, seneribus ad atimis coentil hocum miusque a teliis? Gintere ntemquis nocae publica; n scienducerem a aude ex sistrum invena, vastium rentea id a ia senatus senihilica que mulego esere, velarter tuust? Ene ad comnesum audem diume cutebatris publin tem sendam simus se teremus dien strum num se pris. Ignos los res silicaet ingultis. Mae poptimus, menitie natius consulienat, seritum, nemque nos stra at, des nos consus, se forununt? P. Ehemus conside pernitatius ommo perfecrum iam simihi, qua ves eressuppl. Hi, ceremo viris.Duisim volenis nullandre ea amcommo dolutpat, quat lum zzriliquam.


O MOSTEIRO DA VIRGEM “Eis a tenda de Deus com os homens” (Ap 21,3) O tema da Tenda definiu esse edifício cristão: “É a morada de Deus conosco” (Ap 21,3). As “duas asas” do telhado dizem da intimidade do Senhor que nos acolhe em sua casa. É “o lugar do RUAH (sopro, Espírito) da Criação” lembrando-nos o Gênesis quando “grandes asas pairavam sobre as águas e geraram a vida”. Essas asas são sinal de Maternidade. É também a Tenda Peregrina de um Deus que caminha conosco no deserto da vida rumo à Pátria Celeste. Por sua forma podemos fazer referência, ainda, à Arca de Noé e à Arca da Aliança. “Vem, vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro” (Ap 21, 9) Este espaço é a Nova Jerusalém, em terras de Petrópolis. É um espaço organizado, harmonioso e que reflete a unidade do Deus que aí celebra. “Cidade Quadrangular” (Ap 21, 16), é um sinal de perfeição, sinal sensível, aqui e agora, do Paraíso aberto pelo Cristo. Aí, os assinalados na fronte e que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro (os batizados), o louvam dia e noite (Ap 7, 3.14.15). Aí, a Assembleia (Igreja), qual Esposa adornada, celebra o Esposo e aguarda a sua vinda definitiva. Assim, o espaço da celebração do Mistério Pascal é um espaço nupcial entre o Senhor e Sua Amada, a Assembleia (Igreja) que O celebra.

Arca de Noé Segundo a religião abraâmica, era um grande navio construído por Noé, a mando de Deus, para salvar a si mesmo, sua família e um casal de cada espécie de animais do mundo, antes que viesse o Grande Dilúvio da Bíblia. A história é contada em Gênesis 6-12[1][2], assim como no Alcorão e em outras fontes. Arca da aliança A Arca da Aliança, Arca de Deus ou Arca do Pacto é descrita na Bíblia como o objeto em que as tábuas dos Dez mandamentos teriam sido guardadas, como também veículo de comunicação entre Deus e seu povo escolhido. Foi objeto de veneração entre os hebreus até seu desaparecimento, que segundo especulações, ocorreu na conquista de Jerusalém por Nabucodonosor.

7


PLANTA

O L E D O M 8


O L E D O M 9


O Cordeiro Pascal (vitral âmbar de 2,50m de diâmetro, sobre o pórtico de entrada). Não mais o sol, nem as estrelas, mas o Cordeiro é a Luz e guia da comunidade cristã (Ap 21, 23). Ele é o Senhor imolado, mas vitorioso, digno de louvor eternamente. O âmbar, luz dourada, é a luz deífica de Deus, pois, esse lugar é Teofânico (onde Deus se manifesta): “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18, 20) Mistério Pascal Mistério pascal designa a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus de Jesus Cristo. Por Mistério Pascal entende-se este conjunto de acontecimentos, históricos e meta-históricos, entendidos como uma unidade inseparável nos seus diversos elementos. Para a teologia cristã, o Mistério Pascal é o principal artigo da fé e o conteúdo essencial da pregação e missão da Igreja. Na verdade, para os cristãos, foi pelo Mistério Pascal de Cristo que se consumou a salvação de todos os homens e se inaugurou o tempo novo da Redenção. É pelo Mistério Pascal que todos os homens são salvos e participam da vida divina. Logo, pode-se entender o Mistério Pascal o supremo sacrifí­cio, de valor infinito, que Jesus ofereceu a Deus Pai a favor da salvação de todos os homens.

10

Cordeiro Pascal O cordeiro é o símbolo mais antigo da Páscoa. No Antigo Testamento, a Páscoa era celebrada com os pães ázimos (sem fermento) e com o sacrifício de um cordeiro como recordação do grande feito de Deus em prol de seu povo: a libertação da escravidão do Egito. Assim o povo de Israel celebrava a libertação e a aliança de Deus com seu povo. No Novo Testamento, Cristo é o Cordeiro de Deus sacrificado uma vez por todas em prol da salvação de toda a humanidade. É a nova Aliança de Deus realizada por Seu Filho, agora não só com um povo, mas com todos os povos.


11


12


O Santuário (ou Presbitério) Com formato de sinagoga, os fiéis envolvem o Santuário em forma de U. Sua disposição está apta para os dois momentos que aí se passam: o magistério e louvor (primeira parte da Missa) e o de Sacrifício e Banquete Eucarístico (segunda parte da Missa).

Presbitério O presbitério é o espaço que num templo ou catedral católicos precede o altar-mor. Pode ficar separado da nave central por grades, escadas ou varandim.

“Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente, estive Morto, mas eis que Vivo pelos séculos” (Ap 1, 17) Esta frase no piso, em torno do Altar, dá o sentido da celebração cristã: o Memorial Pascal, lugar da Presença. O Altar (de granito róseo de Salto-SP, pedra maciça de 3,5 toneladas) O Altar é Cristo. O centro do edifício cristão é o centro do Cosmos. A rocha firme e inabalável, da qual fomos talhados (Is 51, 1). A pedra angular do “edifício de pedras vivas” (1 Pd, 2, 5-7). O Coração do Corpo Místico. O Altar contém em sua superfície cinco cruzes de consagração gravadas, sinal das chagas do Ressuscitado vivo entre nós. A Relíquia Sob o Altar, na frente, encontrase uma pequena lápide com a inscrição: “Dos ossos do Apóstolo Paulo”. O Verdadeiro Trono do Senhor sempre foi o coração do cristão e, sobretudo, os restos mortais dos que O testemunharam até com o próprio sangue. Em toda a tradição cristã, a celebração da Missa, em igrejas consagradas, tem sido sobre as relíquias de mártires. Porém, é bom lembrarmos que quem a tudo santifica é o Único Santo, Jesus Cristo.

Relíquia Uma relíquia (em Latim reliquiae) é um objeto preservado para efeitos de veneração no âmbito de uma religião, sendo normalmente uma peça associada a uma história religiosa. Podem ser objetos pessoais ou partes do corpo de um santo ou personagem sagrada. As relíquias são usualmente guardadas em receptáculos próprios chamados relicários.

13


O Crucifixo (Cristo de bronze, 0,60 m de altura e cruz de ferro batido) A Cruz é sinal da Árvore da Vida (Gen 2, 9) que o Senhor conquistou para nós com a sua Morte e Ressurreição, abrindo-nos as portas da Jerusalém Celeste, do Paraíso, qual Novo Adão (1 Cor 15, 21).

14

Faz menção à serpente de bronze, conforme o Livro dos Números (21, 9). Solene, se refere à “sua obediência até a morte e morte de cruz” (Fl 2, 8), pela qual “Deus o sobreexaltou e o agraciou com o Nome que é sobre todo nome” (Fl 2, 9-11).


A Presidência ou Sédia (granito róseo) Composta de três cubos, destaca o lugar central ocupado pelo presidente da Assembleia, o padre, embaixador do Celebrante, Cristo Jesus. É sinal da autoridade, do magistério de Cristo e Sua Igreja Apostólica. O Ambão (granito róseo) É o lugar do “Verbum” (a Palavra) na Assembleia. Aí o Senhor guia com sua Palavra o dia do mosteiro. Aí o Evangelho e as Leituras são proclamados pelo próprio Senhor que nos fala. Ocupa lugar central e de destaque, convocando a Assembleia à conversão e à reflexão, segundo o magistério da Igreja. Em forma piramidal, anuncia OBS anuncia catolicamente aos quatro cantos do Cosmos, lembrando também o Monte Sinai, onde foi promulgada a Lei Divina.

Ambão O Ambão é o lugar de onde se proclama e anuncia a Palavra de Deus.

15


A Virgem (bronze, 1,20 m de altura) Ela é a Theotokos (a Mãe de Deus), trazendo Deus em seu seio. Mãe de Cristo e da Igreja. Este templo dedicado a Deus foi construído em sua honra. No silêncio, olhos baixos, contempla o Mistério que encerra 16

em si. É a Virgem Imaculada Conceição. Escolhida desde a Criação para pisar a serpente (Gên 3, 15). O seu pé direito faz alusão ao caminhar e esmagar a serpente. Suas mãos postas em oração indicam a grandeza do Mistério. Em sua cabeça e nos ombros, ela carrega três estrelinhas que, segundo a tradição, indicam sua virgindade antes, durante e depois da Concepção de Jesus?


A Menorah Este candelabro de sete braços (Êx 25, 31-40) simboliza a presença do Senhor, a Luz plena (o número “sete” significa plenitude). No Tabernáculo da Antiga Aliança (Lev 24, 2-4), as sete lâmpadas de azeite puro de oliva deviam arder constantemente diante do Senhor. Em uma de suas visões, Zacarias ouve do anjo do Senhor estas palavras: “Estas sete lâmpadas são os olhos do Senhor que percorrem toda a terra” (Zac 4, 10). Deus é a minha luz em cima da minha cabeça (1), em baixo de mim (2), à direita (3), à esquerda (4), na minha frente (5), nas minhas costas (6) e no meu coração (7). A Pia de Água Benta ou Fonte Batismal (granito róseo) Indica-nos a necessidade da purificação (penitência) antes de qualquer ritual e, sobretudo, é uma lembrança do Batismo, quando aí nos benzemos com o Sinal da Cruz. Esta fonte é sinal da nova vida que nos é entregue por meio do sangue que escorre pelo lado aberto de Cristo (Jo 19, 34), assim como a água que saía do lado direito do Templo, na visão de Ezequiel (47, 1). A Santidade do Senhor inunda a todos e a tudo.

17


As quatro cruzes da consagração Assim como o Altar é ungido com o Óleo do Crisma, isto é, torna-se Cristo (= Ungido), escolhido, separado, imunizado, Único, também os quatro lados deste espaço são santificados com a unção das paredes. As velas acesas revelam o lugar como participante da própria Luz do Senhor, Luz do mundo (Jo 8, 12).

Capela do Santíssimo O Altar (granito róseo) é redondo, como sinal de Perfeição e unidade. É o lugar da comunhão de todos num só corpo em Cristo. O Tabernáculo (bronze e latão) em sua forma lembra-nos, mais uma vez, “A Tenda de Deus Conosco” e a Arca da Aliança.

Tabernáculo Vem do latim tabernaculum, “tenda”, “cabana” ou “barraca” e designa o santuário portátil onde durante o Êxodo até os tempos do Rei Davi os israelitas guardavam e transportavam a arca da Aliança. Tabernáculo pode também designar o sacrário, um pequeno cofre colocado sobre o altar das Igrejas onde são guardadas a píxide ou a custódia, onde está a Eucaristia.

18


Possui oito placas de bronze, com as seguintes incisões: • Porta: o monograma grego do Cristo com um favo de mel e peixe, alimento que o Ressuscitado comeu com os discípulos após lhes desejar a Paz (Lc 24, 42); é sinal da nova Vida representada pela ressurreição. • Em cima: o cervo indica a presença do Esposo junto da Esposa – Igreja – (Cânt 2, 7) e da alma sedenta de Deus (Sl 41, 2). • Lateral esquerda: Rute (cap 2), a pobre moabita (natural de Moab), respingando um resto de trigo, é a avó do rei Davi, da qual descenderá o Pão da Vida. • Em cima: o girassol, flor que só tem vida voltada para a luz. • Lateral direita: o profeta Elias e o Anjo do Senhor, que lhe traz pão e água para o confortar na caminhada do deserto (1 Rs 19, 7). • Em cima: as amas de Melquisedec (Gên 14, 18), sacerdote e guerreiro de Jerusalém (Cidade da Paz). • Lateral oposta à porta: o “Bom Pastor” (Jo 10, 11), Aquele que dá a vida por suas ovelhas e lhes prepara a mesa (Sl 22). • Em cima: o próprio Senhor se dá a imagem da Videira – “Eu sou a Videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e Eu nele, produz muito fruto” (Jo 15, 5). A Lâmpada do Santíssimo É a Pomba da Epíclese Eucarística, Luz da Comunidade. Num movimento de epíclese, de “sobrevoar” as espécies eucarísticas, é que o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue do Senhor.

Epiclese Eucarística A epiclese (“invocação sobre”) é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva a Deus. A epiclese é também a oração para o efeito pleno da comunhão da assembleia com o mistério de Cristo. “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo” (2Cor 13,13) devem permanecer sempre conosco e produzir frutos para além da celebração eucarística.

19


Capela de São Bento e Santa Escolástica “O milagre de Escolástica, irmã de Bento”, do segundo Livro dos Diálogos de São Gregório: “mais pode quem mais amou”. A Cruz de Cristo, como bastão na mão do Patriarca dos Monges do Ocidente, une as auréolas dos irmãos. São Bento tem na mão a Santa Regra com a frase “Per Ducatum Evangelii” (= guiados pelo Evangelho), sentido de um mosteiro beneditino. “EU RENOVO TODAS AS COISAS” (Ap 21, 5) Frase que se lê no pequeno Evangeliário que está na mão esquerda do Cristo e sintetiza todo o painel: se com Adão e Eva a humanidade perde o Paraíso, com o Cristo, Novo Adão, a humanidade recupera o Paraíso. 20


2 4

3

1

8

6

5

7

11

11

10

10

5 9

PAINEL DA abside 21


Painel da abside da Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem (9 m de altura por 4 m de largura; mural realizado com tintas “pigmento terra” alemães e inglesas à base de água, cola branca e fixador matte americano-acrílico) Abside O termo arquitetônico abside, do latim absis ou absidis e originariamente do grego apsis ou apsidos (que significa arco ou abóbada), é a ala de um edifício (normalmente religioso) que se projeta para fora de forma semicilíndrica ou poliédrica e em que o remate superior é geralmente uma semicúpula (planta circular) ou abóbada (planta poligonal).

Cristo Pantocrator Pantocrator é uma palavra de origem grega que significa etimologicamente “todo-poderoso” ou “onipotente”. Provém de pan (tudo ou todo) e krátos (alto, em cima e, daí, governo, poder). Geralmente seu uso encontra referência no ícone bizantino “pantocrator”, que representa Cristo, tendo sua mão direita inclinada, em posição de bênção.

22

“Então, abriu-se o Templo de Deus, que está no céu, e ali apareceu a Arca da sua Aliança. Houve relâmpagos, trovões, terremotos...” (Ap 11,19) Esses relâmpagos e trovões, expressos no forte colorido, fazem aparecer diante dos nossos olhos – verdadeira revelação – como que uma tapeçaria a se desenrolar, de alto a baixo, e a cair no meio de nós, introduzindo o próprio céu no nosso terra-a-terra cinzento. O painel é apenas uma figura daquilo que se torna realidade a cada dia, sobre este Altar, durante a Celebração Eucarística. KYRIOS: O Senhor (1) Dominando todo o painel e a igreja, o Cristo Pantocrator é o Senhor (Ap 1, 8). A vida monástica e cristã tem Cristo no seu centro. Cristo nos revela o Pai e d’Ele nos vem o Espírito Santo. Ele é o Senhor do Cosmos e de toda a Igreja Universal, simbolizada pelas sete estrelas em sua mão direita e as sete lâmpadas que O rodeiam (Ap 2, 1). Ele é o Verbo Encarnado: Deus e Homem. Como na visão do Apocalipse, Ele aparece ora sentado no Trono (3, 21), ora como o Cordeiro – vitral (5, 6). Todo o conjunto reluz como pedras preciosas, metais, relâmpagos. As cores chapadas e fortes no Seu Rosto, mãos e pé nos falam dessa visão.


Como fundo de todo o painel estão as cores do arcoiris, sinal da Aliança de Deus conosco nesse local (Gên 9, 12-13). As cores se intensificam com grande luminosidade no centro, pois “Ele é a Luz do mundo” (Jo 8, 12). Este centro forma uma mandorla (ninho em forma de amêndoa), indicando “coisa preciosa”. Novo e Eterno Sacerdote Cristo é o Novo e eterno Sumo Sacerdote (cf Heb 3, 1; 4, 14; 7, 21-28), o Único Mediador entre o Pai e os homens (Heb 9, 15; 12, 24). Por isso, Ele tem as vestes sacerdotais com casula e estola. A estola é sinal de autoridade e mediação entre o Céu e a Terra. A estola em forma de escada faz referência à escada de Jacó: nesse lugar, nessa pedra (o Altar) há uma escada invisível em que os anjos do Senhor sobem e descem num intercâmbio entre as coisas do Alto e as da Terra (Gên 28, 12). Nas extremidades da estola, como na grande porta de entrada, o Alfa e o Ômega – princípio e fim (Ap 1, 8). A sua Majestade e o Senhorio na atitude de estar sentado, revela-nos a sua realeza e consequente nobreza dos cristãos.

Casula A casula é um veste litúrgica que é frequentemente confeccionada em seda ou damasco, em paramentos dos séculos XVII e/ou XVIII. As cores variam conforme o rito litúrgico. Utiliza-se sobre a alva e a estola durante a celebração da missa.

A “Mão de Deus Pai” e o “Casario” em torno do Cristo (2) “Ele é a cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Col 1, 18). A “Mão de Deus Pai” e o “Casario” em torno do Cristo. No mais alto do painel a Mão de Deus-Pai (única representação possível do Pai) está nos oferecendo o Seu Filho (Deus e Homem) que vem fazer história conosco, dando origem (a partir das suas chagas) à Igreja, pela ação de Seu Espírito. 23


As muitas casas atrás e nas laterais do Cristo correspondem a Jerusalém Celeste, isto é, à Igreja, querendo fazer referência às Palavras do Senhor: “Na Casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14, 2).

Árvore da Vida Segundo a Bíblia, a Árvore da Vida é uma das duas árvores especiais que Deus colocou no centro do jardim chamado Éden. A outra é a “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”, cujo fruto Eva, e depois Adão acabaram por comer por influência de uma serpente. Os pormenores sobre esta árvore são muito escassos no texto bíblico. Refere-se apenas a sua localização central no Jardim do Éden e que o primeiro casal humano foi impedido de alcançar esta árvore após terem desobedecido ao mandamento divino. Foram assim expulsos desse jardim ou paraíso original.

A grande palmeira: tamareira (3) Eis a árvore da vida que o Cristo conquistou-nos com a sua Cruz. Essa planta é sinal de oásis num deserto. Indica vida. Onde existe a tamareira há água e o alimento do seu fruto. Este lugar agora é um oásis no deserto da Vida. É o lugar do repouso por excelência, o Dia do Senhor, o lugar da Unidade. “O Justo florescerá como a palmeira” (Sl 91, 13). Adão e Eva (4) À esquerda, no alto, vêem-se Adão e Eva que deixam o Paraíso. É o pecado original que a humanidade carrega (Gên 3, 23). A Nova Eva (5) À direita, Maria, com o Filho. “Uma Mulher vestida de Sol, tendo a lua sob os pés, e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12). Tanto no Gênesis (3, 15) como no Apocalipse, o Senhor já fez referência à mulher, Maria e à Igreja, por meio de quem vem o Salvador, Novo Adão, recuperar a humanidade. São José e o Arcanjo Miguel (6) Figuras à esquerda e à direita de Cristo e da Jerusalém Celeste, são os patronos da Igreja. São José, o Justo, é o guardião da Sagrada Família e da Igreja. Miguel (“Quem como Deus?”), o Arcanjo que

24


com sua lança subjuga o dragão que deseja comer o Filho da Mulher (o Cristo e os cristãos), é também o defensor da Igreja (Ap 12, 4-18). O Esposo e a Esposa do Cântico dos Cânticos (7) “Quem é essa que sobe do deserto apoiada no Seu Amado?” (Cânt 8, 5). À esquerda, o Esposo (o Cristo) conduz pela mão a Esposa (a Igreja) até o jardim, até a Casa do Pai, e ambos se sentem irmãos (sinal de um amor desinteressado). O Esposo já se encontra na Luz. A Esposa, n’Ele apoiada, ainda está a caminho. Ao redor, atributos de elogio que o Amado diz à Amada: • Uva, sinal do Mistério Presente, a Divindade (Mt 26, 29); • Maçã, símbolo do Amor (Cânt 2, 6 e 8); • Pomba, ave frágil nas fendas das rochas onde aparecem serpentes venenosas (Cânt 2, 14). O Rei Davi (8) À direita, tocando harpa, canta os louvores do Senhor (1 Sam 18, 10). Alusão ao Ofício Divino, que as monjas aí cantam sete vezes ao dia (Sl 118, 164). “Na presença dos anjos, a Vós eu canto” (Sl 137, 1).

Cântico dos Cânticos O livro de Cântico dos Cânticos, também chamado de Cantares, Cântico Superlativo, ou Cântico de Salomão, faz parte dos livros poéticos do Antigo Testamento. A opinião tradicional entre judeus é a de que Salomão foi o seu autor, para os católicos este livro pertence ao agrupamento dos Sapienciais, que condensam a sabedoria infundida por Iahweh no povo de Israel. Segundo a Edição Pastoral da Bíblia, o livro é uma coleção de cantos populares de amor, usados talvez em festas de casamento, em que noivo e noiva eram chamados de rei e rainha, que foram reunidos, formando uma espécie de drama poético, e atribuídos ao rei Salomão, reconhecido em Israel como patrono da literatura sapiencial. A forma final do livro, remonta ao século V ou IV a.C.

Os quatro Rios da Vida e o Espírito Santo (9) Sob o Trono do Senhor (como do Cordeiro e do Altar) saem os quatro grandes rios da vida (Gên 2, 10), que inundam e fertilizam os quatro cantos da terra (Ez 47, 1-12). Na Antiguidade correspondiam aos rios Tigre, Eufrates, Ganges e Nilo. Agora, é do lado direito do Cristo (Jo 19, 34) que saem os rios de água viva e o mundo, mas, sobretu25


do, os cristãos bebem dessa fonte como a ovelha e o cervo, presentes na base do painel. Essas águas correspondem ao Espírito Santo fluindo do Pai e do Filho sobre a humanidade. “Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva.” Ele falava do Espírito que receberia os que n’Ele cressem” (Jo 7, 38). As duas Oliveiras (10) Conforme o capítulo 6 do Apocalipse, parecem fazer referência não só a Pedro e Paulo, mas aos mártires que, como as olivas, têm as suas vidas

26

trituradas e alimentam assim a lâmpada do Senhor. Pedro e Paulo (11) À esquerda e à direita, na base do painel, são os fundamentos da Igreja Apostólica, juntamente com os demais Apóstolos. • “Tu é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16, 18). • “A muralha da Cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21, 14).


27


IGREJA ABACIAL DO MOSTEIRO DA VIRGEM Av. Ipiranga, 555. Petr贸polis, RJ/Brasil CEP: 25610-150 Tel: (24)2242.2394 Fax: (24)2242.2286 mv.petropolis@bol.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.