A CURA

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A CURA

Rodrigo Bergsleithner


O Autor Rodrigo Bergsleithner

N

atural de Santo Ângelo/RS, nascido em 07 de junho de 1977, de formação jornalista, escritor e adepto à literatura e a leitura desde a infância, com participações em jornais, revistas, projetos experimentais, folhetins e demais publicações a nível regional e nacional. Com sangue pela escrita e influência familiar: o avô paterno, o escritor austríaco Joseph Bergsleithner (in memoriam), nascido em Vienna; e o avô materno, escritor tradicionalista e militar José Nepomuceno Martin (in memoriam). Além da irmã, a doutora em Línguas Estrangeiras Joara Martin Bergsleithner, que estuda em Honolulu, no Hawaii (Estados Unidos). O escritor Rodrigo Bergsleithner é filho do decorados Rodolfo Ernesto Bergsleithner e da professora Marlene Madalena Bergsleithner (in memoriam). Rodrigo estudou nos colégios Pe. Diogo Hase, Colégio Marista Santo Ângelo e Colégio Estadual Missões, no período de 1981 a 1995. Ingressou no curso de Comunicação Social - Jornalismo, na Unijuí, em seguida, e também frequentou na Puccamp, em Campinas/SP. O autor admira as obras de diversos escritores (Fernando Pessoa, Shakespeare, Rimbaud, Kafka, José Saramago, Dostoiévski, Goethe, Macchiavell, Hemingway, Drummond, Arnaldo Jabor, Nietsche, entre outros.) e diversos gêneros musicais (Pink Floyd, The Cure, Led Zeppelin, Pearl Jam, U2, David Bowie, The Smiths, Alice in Chains, Bob Dylan, Neil Young, Rolling Stones, Smashing Pumpkins, Portishead, entre outros).


A todos os meus familiares que sempre acreditaram no meu antigo sonho. Dedicação especial à mãe Marlene (in memoriam), ao pai Rodolfo, à irmã Joara, à “mãe” Geneci e todos os demais parentes, amigos, conhecidos, namoradas, colegas, professores e vizinhos. Uma lembrança especial à Amanda Gabrielle.

“O meu mundo imaginário foi sempre o único mundo verdadeiro para mim”. (Fernando Pessoa)


I Tudo está confuso em minha mente... Deve ser o calor. Está tão quente que me sinto incapaz de pensar em outros assuntos. Meu cérebro arde em agonia. Desejava estar mais tranqüilo, para poder entender o que agora sinto. O que está acontecendo? Mas não tenho tanto tempo assim. Vivemos em uma época em que se contam os segundos. Lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. O desespero toma conta de mim e esqueço de sentir medo do medo. Esqueço do medo, apesar de estar morrendo de. Começo a abandonar um mundo do qual não terei mais abrigo. Ainda há uma chance de descobrir a realidade.


II Por enquanto não se pode ter, mas se pode imaginar. Todos gostariam de viver neste lugar. Aqui tem natureza, e a extinção é uma palavra extinta. Podemos conversar nos lares de todos. Todos têm lazer, mas tem obrigação também. Todos se autogovernam. Não há países e a raça humana se torna uma só. Ainda não sabemos viver em paz. III Se o muito é pouco para você... O nada é mais para alguém que ficou sozinho. Se tudo tinha, nada me deixastes. Sem nada fiquei, com tudo ficastes. Sem nada agora, penso no meu sempre que seria muito. A dúvida no lugar de cada certeza. Só restam lembranças e dissabores.


IV Trágica comédia de uma sociedade quase humana. Trágica massificação de mentes vazias. A pura e a mais nobre tendência de permanecer fiel a terra... Acreditar naquele que vos fala, falo de esperanças supra terrestres. Eis que surgem os envenenadores. Um vírus. Um vírus do mais nobre incógnito universo.


V Haverá um tempo em que o passado ecoará como uma bela canção... A brisa errante trará as marcantes lembranças de nós dois. Lembranças vivas em saudosismos desenfreados. Haverá um sorriso. Nem sempre uma lágrima escorre. Um motivo houve. Nada acontece por acaso.


VI Não temos luz própria. Este brilho que surge, este feixe de luz que não se paga em árduos desejos. Contrariando sempre à vela, que se apaga com a combustão na cera. Não deixemos nossos propósitos de lado Somos feitos para brilhar na inútil gleba larva Acompanhados de uísque barato e sensações passageiras. VII Por que buscar respostas para as nossas dúvidas? Será que tudo está ao alcance de olhos ferozes? Por trás da linha do horizonte, o sentimento se encontra em silêncio. Não há pânico, por ora vertigens. Nada pode refletir sobre a imensidão deste verde mar. Nenhuma dor comparada ao que sentimos ter. O silêncio amargo da ausência. E o corpo esfarelado em ruínas.


VIII Pensar em detalhes que possam lembrar da delicadeza de um sorriso teu. A sensibilidade e a angústia definidas no primeiro toque carnal involuntário. Lógica incerteza que corrói pedaços de diamantes. Árduo e insistente desejo e pudor. Sonhar nem sempre é preciso. Deusas existem... E aparecem.


VIII Pensar em detalhes que possam lembrar da delicadeza de um sorriso teu. A sensibilidade e a angústia definidas no primeiro toque carnal involuntário. Lógica incerteza que corrói pedaços de diamantes. Árduo e insistente desejo e pudor. Sonhar nem sempre é preciso. Deusas existem... E aparecem.


VIII Pensar em detalhes que possam lembrar da delicadeza de um sorriso teu. A sensibilidade e a angústia definidas no primeiro toque carnal involuntário. Lógica incerteza que corrói pedaços de diamantes. Árduo e insistente desejo e pudor. Sonhar nem sempre é preciso. Deusas existem... E aparecem.


IX Por abaixo as nossas defesas e se expor no mundo de fantoches... Vivendo e compreendendo o teatro social que muitos vivem... Somos submetidos a aceitar, calados. Abandonados por um antigo mundo de liberdade em que permanecíamos presos. Detalhes fazem a diferença. Acorrentados em leis e em capítulos mal escritos da vida dramaturga. Nunca fomos crianças de verdade. Os brinquedos de menino foram esquecidos em lares distantes. A doce inocência agora tem um sabor trágico.


X Rochas sedimentares que asilam o tempo, na natureza exalam belezas. Alegria contida em um passado lúdico. Olhos iguais aos seus que permanecem fechados. Gesto simbólico de agradecimentos oculta. Vozes, ao longe, se aproximam no intuito de querer dizer algo. Uma espécie de regressão me faz refletir o que sinto.


XI Eu aprendi a falar e andar... Eu tive um carrinho de brinquedo com controle remoto. Eu tive bonecos playmobill. Eu tive ferrorama e autorama. Eu tive bicicletas e uma bola de futebol. Eu tive tênis com e sem elásticos para segura-luz. Eu tive medo do escuro. Eu tive o primeiro beijo. Eu tive febre. Eu tentei aprender a tocar instrumentos musicais. Eu me apaixonei. Eu tive uma camiseta Hering e um tênis Nike. Eu cursei a catequese e freqüentei a Igreja. Eu me alistei no Exército. Eu tive namoradas. Agora percebo... Eu nada tive. Estou perdendo as raízes.


XII Nuca senti tanta falta das pessoas que me cercam, entre as quais você. Embora nos conhecemos há pouco tempo, pude perceber algo sincero em seus olhos. Nunca me senti tão perdido. Confuso, ansioso e intrigado começo a lutar contra o processo degenerativo. Nunca senti medo de mim mesmo por não saber controlar os meus impulsos. Nunca pensei em ser melodramático, por relembrar banalidades que deveriam estar esquecidas. Houve épocas em que o vício parece somente derrubar. Tudo ficou cinzento e angustiante. As lágrimas foram sinceras, porém covardes.


XIII Os olhos delas, quando fitados aos meus, simbolizam uma sensação única. Seus cabelos apelam ao toque e o formato da boca é misterioso, como o seu simples jeito de ser. Impossível descrever a perfeição dos seios e ancas, sem ausentar as magníficas pernas. Reunir tudo isso inibe a sensação de repetir o pressuposto.


XIV Pensei que o velho mundo fosse adaptar você a uma vida de mar e rosas. Pensei que os muros britânicos fossem cercar você em prisões do passado. Pensei no tempo que não foi perdido. Pensei nas possíveis substitutas que não deram em nada. Pensei em planos que se esvaíram. Pensei em noites que sonhei contigo. Pensei nas vezes que você ouviu o vinil mais nobre. Pensei em mentiras que geraram encontros. Pensei no dia que Deus tirou você de mim. Pensei demais.


XV Disquei para dizer verdades... Algo estava morto dentro de mim. Lembro de uma infância confusa. Será que eu assistira muita televisão? Os meus olhos acusavam outro ser perante o espelho? Eu disse a todos, o que não era para ser dito. Como uma criança chegou a pensar em suicídios. Basta um cartão postal para deixarmos pessoas felizes? Agora a casa está sozinha... Mergulho em passos sem direção, com as costas nos espinhos. Nem sempre o melhor remédio é de farmacologia.


XVI Os memoráveis dias de outono são repletos de chuvas cinzentas. Os espaços azuis do céu tornaram-se pálidos. Eu tive sonhos. E quando o tempo passou, os ventos sopraram fortes. Todo aquele conforto parecia justo. Ninguém lembrou que sonhamos ser o que nunca fomos. Somente nos alimentarmos parece o novo flagelo da humanidade. Todos adoram isso. Todos relaxam. Quando podemos firmar nossa nobre lucidez, uma bala de qualquer calibre atravessa nossos corpos.


XVII Noite após noite, quando tudo parece girar os sonhos surgem repletos de insanidade. As falácias permanecem. Um simples vírus. Noites de remédios. Não prestamos mais atenção ao nosso redor. Nada que um pouco de álcool não resolva. Por trás de olhos castanhos existem sombras. Mulheres aparecem... O resto é hipocrisia.


XVIII Um doce olhar... Capaz de sentir as vibrações do nado de um peixe. Não definiria este momento como algo presente. Voar e cair no oceano são fáceis. O difícil é saber voltar. Tão quanto a aprender a dirigir. Como crianças, fingimos tudo bem e não demonstramos medo de cães ferozes. Alguns preferem o frio, e todos têm o seu lado obscuro. Os nossos corações são diferentes? Todos escutam estórias antes de dormir? Todos gostariam de ser crianças, novamente? Desejos de fuga nos aprisionam no lado oculto do cotidiano.


XIX O sol surgiu em momentos de agonia, escondido na estrada. E eu pensei somente em bons momentos. Tive premonições sobre todos aqueles que me cercam. Suspiros confirmados de um holocausto que ainda está por vir. Virei-me para o lado e todos os caminhos mudaram de direção. Nenhuma voz e nenhuma face. Minhas defesas sumiram. Achei diamantes, mas perdi amigos.


XX Pássaros e mais pássaros no céu... Nenhum deles deseja cair. Em minha volta, vejo centenas deles. Sorrisos surgiram. O que eu não enxergava, já podia tocar.


XXI Eu jamais poderia ter um filho... Ao menos que fosse seu. Quem ama não deve viver junto. Quando vivem, o inevitável acontece. Ou deixam de se amar ou um enlouquece o outro. Fizemos o impossível O possível não foi suficiente. Se tiveres paixão, não diga à pessoa amada. Agora você tem alguém com quem conversar. Não vivas fantasias. Nem sempre fizemos o oposto do que nos pedem.


XXII Uma onda de calor invadiu o meu corpo. Toda a dor, ou sentimento de culpa se apagou. Não é tempo de ouvir psicologias baratas. Desejo permanecer em paz. Um pouco enjoado, mas tudo está bem. Não viverei assim para sempre, todavia válido poder tentar. Os amigos de verdade prevalecem.


XXIII Uns são ordinários e outros são honestos. Todos explorados, de certa maneira. Ninguém sabe o porquê disso tudo. Brancos, pretos, orientais e ocidentais. Alguns por cima, outros, estáticos, embaixo. Ordens são ordens... Leis são leis. Nossas atitudes mecânicas nos impedem de agir. Alguns crêem na fantasia de viver bem. Vamos comprar um automóvel novo? Vamos explorar, turisticamente, a Europa? Vamos vestir roupas de grifes famosas? Vamos encher o organismo com drogas destiladas e enlatadas? Vamos nos exibirmos em fotografias publicadas? Vamos fazer tudo isso com as costas para a miséria?


XXIV Como fugir de nossas indecisões? Nunca devemos sentir medo de reviver a infância. Ninguém carrega consigo um verdadeiro amor. Vivemos sem o prazer natural. Não sabemos decidir ou não temos poder de decisão? Dia após dia, a vida nos carrega de uma forma superficial e assustadora. Agimos por inércia. Balançando por uma vida insípida, eis aqueles que vivem em belos papéis de atores.


XXV Quando comecei a sentir sua presença... Não me senti como deveria ter sido. A noite girava, tudo parecia lentamente explodir. Cada segundo foi suficiente para tudo começar a se tornar um desejo. O que está acontecendo de errado comigo? XXVI Ter tempo é poder estar em todos os tempos. Podemos ser livres e nunca sentir a real liberdade. Sem chances de sorrir em uma noite como esta. Há poucas chances por perto. Podemos sentir o cortante frio na pele. Mas manteremos o nosso único segredo. Naquela noite de Abril.


XXVII Minhas reflexões e meus pesadelos estão face a face. Em sua face são notáveis meus sonhos e prazeres. Apenas anjos me cercam. É perigoso confundir crianças com anjos. Não levantei em cada fracasso. XXVIII O corte final chegou ocultando a dor e o sofrimento de ambos. O medo tatuado em nossas peles. Contra qual muro vivemos separados? Ainda vivemos no mesmo enredo. O silencio corrompeu o fruto do amor. Almas esquecidas em um passado distante.


XXIX Recrio o mundo em pensamentos de solidão. Finjo rir, mas continuo triste. Habituado a todas as noites visar o céu. O pôr-do-sol não é mais o mesmo sem você. Tenho-me sempre à margem de olhos castanhos. A antiga astúcia da agulha em um palheiro. Mesmo assim continuo sonhando.


XXX Gastei o dinheiro, o riso, o amor e a lucidez. Neste mundo tudo se gasta. Gastei o crĂŠdito, a pureza e a ingenuidade. Neste mundo tudo se gasta. Gastei o humor, o sorriso, o otimismo e a sanidade. Neste mundo tudo se gasta. Tentei ser lĂłgico e coerente, quis na medida exata. Gastei o tempo que passou. Neste mundo tudo se gasta.


XXXI O que há por trás do muro? Junto palavras e não consigo defini-lo. Desvendo o meu mundo por trás de paredes. Paredes enigmáticas. Amar é sofrer? Sofrer é amar? Estruturado em conhecimento, mas cercado de silêncio. Invento forças para prosseguir. Quando o sol surge... Reinvento os meus desejos.


XXXII Espero que tudo se cumpra. Os peixes no oceano e a natureza repleta em primaveras. A magia do inverno contenta. Espero que tudo se cumpra. Haverรก o tempo em que meus filhos poderรฃo enxergar o que eu vi. O sol robusto regado a rugas. E estrelas cadentes, luxuosas e raras. Dias londrinos em um bairro natal. Sem forรงas de apoio... Apenas sentimentos.


XXXIII É necessário entender quando caímos e não levantamos. O que está por trás de uma bala perdida? Palavras não confortam. Somos filhos de um mundo frio, um cubo de gelo perverso. Como traças, muitos roem na busca de dias melhores. O tempo de entendimento parece não mais existir. Entre a riqueza e a pobreza... Surgirá uma canção sacudindo os ventos.


XXXIV Talvez o lúdico psicotismo que invade a minha mente... Seja apenas a estória sensitiva da minha vida. Dias deprimentes foram comparáveis ao amor que insistíamos em ter. O rompimento fulgaz era necessário. Dias fúteis, como agora percebo. Vi minha vida passar, como um filme, ao seu lado. Não foi um tempo perdido. Apenas poderia não ter existido.


XXXV Límpidos gramados e a cena se repete. Um feixe de luz brilha, não acredito no que viso. Procuro revolucionar todos os problemas. Poucos observam o céu quando escuro. E muitos não percebem a existência Dele. O lugar onde as estrelas brilham.


XXXVI NĂŁo podemos explicar porque as felinas se escondem. Talvez por permanecerem no modo correto. NĂŁo ĂŠ o tempo de nos banharmos em mares emporcalhados. Deixamos de existir com os olhos fechados. Olhos fechados em feixes de luz que cegam a nostalgia.


XXXVII A sua vida parece estar ligada à minha e nos sentimos bem. Parece que nos conhecemos há muito tempo. Não precisamos entender isto. Estarás sempre presente em meus sonhos e quando viso o céu. Juntos apreciamos a chuva e sentimos frios. Ouvimos os nossos contos e relembramos de engraçados fatos. Vencemos as nossas dúvidas e rimos das coincidências. Mantivemos um importante segredo. Tudo tem o seu corte final. Vinte e sete dias de Novembro.


XXXVIII Muitos não acreditam em si mesmo. Nem todos crêem Nele. Uma explicação para tudo o que se entende. Criação de atrativos, por ora apelativos. Os pecadores não questionam mais nada.


XXXIX Que escuro observo no fundo do poço? Que vozes ouvem sem vida habitar? Que fundo é tal rio de desgosto! Por que o abismo é intenso? Ofegante é o sentimento de amar alguém. Angustiado, caio a despencar.


XL Por que viver sem amor? Se para onde eu for, tu vais encontrar o amor. Talvez seja esta a razão, que faz meu coração se entregar. Ou no fim do mundo, onde a luz possa estar. Onde ninguém possa socorrer quando quisermos gritar.


XLI Prevalece o egoísmo, mas quero respirar. Mais um dia de luta em vão. Mais um dia esperando pelo toque de suas mãos. Acostumar-me-ei com esta situação. Para desejar coisas impossíveis. XLII Arrependo-me do dia em que nasci... Por não saber o que viria a acontecer. Erros, inúmeros e incansáveis erros, que só mais tarde fui perceber. Fui crescendo e me desenvolvendo... Ficando voluntariamente cego, com atitudes idiotas. Ignorante, por não enxergar o que estava tão claro. Um milagre à minha volta. E como homem formado agora... Saio de minha inocência e enfrento novas barreiras. Como as de viver em abstinência. XLIII Entreguei-me de corpo e alma a ti. Não medi as conseqüências do nosso amor. Você estará no meu coração, onde quer que eu vá. Pois agora é hora de partir. Batalhei e perdi numa luta sem razão. Derrotado por minha própria paixão. Apaixonado sempre, pois as estrelas não somem dos céus.


XLIV Mergulhado em imensa clausura. Tudo o que vivi foi ilusão. Um romance criado por mim. Alimentando fantasias de uma vida a dois. Uma vida que iniciou sem nunca existir de um antes. E que agora chegou ao fim se um depois. Morri e enterrei-me por um longo tempo. Sufirado no inferno mais profundo. Chorando cada lágrima de meu lamento. Mas agora estou curado. Estou em paz comigo mesmo. Vejo meu passado como um capítulo mal escrito. A Cura. E meu futuro como algo inesperado. XLV Mesmo que tudo mude. Nem tão divertido é andar sem direção. Sem contar os passos... E o pensamento em constante brilho. Dias que se passam. Ao menos fui dormir. Fui dormir sem saber o dia de amanhã. Todos os sorrisos revelados. Sorrisos e flores de plástico. Nada tão real quanto o seu. Um mês destinado aos cães.


XLVI Luar com breve impressões de um olhar estranho e meramente plausível. Ácida sensação de não estar sozinho. Episódios em ruas escuras que refletem mistérios noturnos. E sua presença sempre marcante em cada entardecer. Fios e caracóis em perfeita sintonia com um jovial sorriso. Um olhar e um breve tremor. Nada fazia sentido. Tanto convite desperdicei antes de sua presença se exprimir. Colossal presença em boca uniforme. Nada mais belo que indefectível italiana de jeito simples. Noviça com talento. Libertando-se em doses homeopáticas em constantes mordidas repletas de insinuantes e reveladores desejos. Árduos desejos. Um retrato. O contato. O beijo. E uma estória não revelada. Típico conto para soar aos netos. Sem canções para dormir. A lua continua com dois lados.

o fim


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