Romanização

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Filipa Martins – Nº12 Rodrigo Cardoso – Nº22 Sol Duarte – Nº25

Novembro 2016

ESGP

A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA


Índice Introdução.........................................................................................................................2 Definição de romanização.................................................................................................3 Preexistências indígenas....................................................................................................3 Conquista militar...............................................................................................................4 Estabelecimento de um novo modelo político e administrativo.......................................5 Divisões administrativas da Hispânia............................................................................5 Organização política local..............................................................................................6 Sistema de comunicações.............................................................................................6 Novas leis.......................................................................................................................7 Difusão do Latim............................................................................................................8 Economia...........................................................................................................................9 Exploração dos recursos económicos............................................................................9 Generalização do uso da moeda.................................................................................10 Urbanização e mundo rural...................................................................................11 Urbanização............................................................................................................11 Mundo rural.............................................................................................................12 Organização social...........................................................................................................13 Os cidadãos..................................................................................................................13 Os escravos..................................................................................................................13 Os libertos....................................................................................................................14 Transformações nos hábitos quotidianos........................................................................14 Arte..................................................................................................................................15 Religião............................................................................................................................16 Crenças e práticas funerárias...........................................................................................17 Conclusão........................................................................................................................18 Bibliografia/Sitografia......................................................................................................19 Sitografia de imagens......................................................................................................20

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Introdução Roma começou a afirmar-se como uma nova potência a partir dos finais do século IV a.C., num processo de expansão progressivo e lento, e por isso seguro. O Império Romano garantia o controlo das regiões conquistadas, não através das armas, mas por meio de um longo processo de aculturação, que estabeleceu os modos de vida mediterrânicos em diferentes regiões. A essas regiões pertencia a Península Ibérica, o território no qual nos focaremos neste trabalho, que abordará as principais inovações e transformações decorrentes do domínio romano (que durou mais de seis séculos).

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Definição de romanização Romanização é a denominação dada a um processo de aculturação complexo, em que populações autóctones são cingidas ao molde da cultura romana. Na Península Ibérica, o processo de Romanização constitui, no essencial, a passagem de um mundo indígena diversificado, de poderes repartidos e frágeis, para uma realidade provincial de um vasto Império, crescentemente uniformizado nos seus traços mais característicos.1 Os efeitos da romanização não se difundiram de forma homogénea. Enquanto nalgumas áreas a Romanização se enraizou profundamente, noutras o seu impacto foi mais superficial, e as formas de cultura indígenas tenderam a persistir. Paralelamente, a influência dos povos nativos sobre os romanos também foi notória, tendo estes aprendido muitas técnicas com diversos povos, entre eles os Ibéricos.

Preexistências indígenas Os povos indígenas da Ibéria eram de etnias e graus de desenvolvimento diferentes. O Sul e Sudeste já tinham sido expostos a Roma por um longo período de tempo, e antes disso à Grécia, à Fenícia e a Cartago. Isto levou a que os povos do Sul fossem heterogéneos culturalmente e mais abertos a mudanças. Devido aos contatos com os povos do Mediterrâneo oriental, o sul da península pôde manter um comércio ativo, trocando matérias-primas por produtos fabricados. “Os turdetanos, em particular os que vivem nas proximidades do Betis [Guadalquivir], converteram-se perfeitamente ao modo de vida dos romanos e nem sequer recordam já a sua própria língua. A maioria converteu-se em latinos e receberam colónias romanas, de modo que pouco lhes falta para que todos sejam romanos” Estrabão (geógrafo) As comunidades do Norte, pelo contrário, tinham sido influenciadas pelas culturas da Europa Continental, tendo por isso as cultuas pré-romanas persistido mais fortemente. 2 Tinham uma economia precária que consistia no pastoreio de porcos e cabras, uma pobre agricultura e também se dedicavam a algumas práticas recolectoras. A região do Norte foi a que ofereceu maior resistência e a última a ser incorporada ao Império. “Há nos confins da Ibéria, um povo que nem se governa nem se deixa governar” Júlio César 1 FABIÃO, Carlos – Mundo indígena, romanos e sociedade provincial romana: sobre a percepção arqueológica da mudança. Era-arqueologia, nº 3. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p. 108-31. 2

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Conquista militar Os Romanos começaram a conquista da Península Ibérica no ano 218 a. C., durante a Segunda Guerra Púnica, entre Roma e Cartago, em que as tropas comandadas por Cneu Cipião desembarcaram nas Ampúrias. Durante vários anos lutaram contra o domínio dos Cartagineses, acabando por expulsá-los da Península em 206 a.C., com a conquista de Cádis. Passaram assim a dominar o litoral mediterrânico. Seguiram-se as lutas contra os povos peninsulares. A partir de 194 a. C. há notícias dos primeiros confrontos entre Lusitanos e Romanos, sendo que entre os chefes Lusitanos sobressaíam Viriato e Sertório. Os Lusitanos acabaram por sofrer sucessivas derrotas durante os anos seguintes, reforçando a presença romana nessas regiões. No entanto, a primeira grande campanha romana no atual território português só se efetuou em 138 a. C.. A iniciativa desta investida esteve a cargo do novo governador da província Ulterior, Décio Júnio Bruto. Este fixou o seu quartel-general junto à cidade de Morón, no vale do Tejo, e fortificou Olisipo (atual Lisboa), possibilitando assim um fácil abastecimento às tropas em campanha por via marítima. Júnio Bruto avançou em direção ao norte, contornando as regiões montanhosas do interior e evitando desta forma difíceis confrontos com as populações das montanhas. Tudo leva a crer que o grosso da campanha se tenha desenvolvido ao longo da faixa litoral portuguesa, traçando o percurso que mais tarde iria dar origem à estrada que ligaria Olisipo a Bracara.

Figura 1 - Estátua de Viriato em Viseu

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Estabelecimento de um novo modelo político e administrativo A nova ordem político-administrativa decorria da criação de um vasto sistema de centros urbanos que capitalizavam as diferentes regiões e que por sua vez se enquadravam numa ampla entidade política: o Império. Para que esses diferentes órgãos do Estado pudessem comunicar, foi necessário um bom sistema de comunicações e, não menos importante, uma língua comum – o Latim.

Divisões administrativas da Hispânia A primeira divisão administrativa criada pelos invasores romanos na península Ibérica repartiu este território em duas províncias [figura 2]: Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior. Depois, Octávio César Augusto dividiu, na sua reforma administrativa, a Península em três províncias [figura 3]: a Lusitânia, com capital em Emerita Augusta (Mérida); a Tarraconense, com capital em Tarraco (Tarragona); a Bética, centrada em Figura 2 - 1ª Divisão provincial Corduba (Córdoba). Estas províncias eram por sua vez subdivididas em da Hispânia, 197 a.C. Conventus (distritos), que tinham a função de assembleia e designavam as reuniões anuais conjuntas de romanos e indígenas, auxiliando também o governador na administração da justiça. Durante a época romana tardia, o Império Romano vivia constantemente Figura 2 - 2ª Divisão provincial sob ameaças externas e internas. A fim de reduzir o poder dos da Hispânia, 69 d.C. governadores provinciais, o imperador Diocleciano reduziu o tamanho das maiores províncias em dioceses (unidades geográficas mais importantes da organização territorial da Igreja). A Diocese da Hispânia [figura 4] foi uma diocese subordinada à prefeitura pretoriana da Gália e compreendia as cinco províncias peninsulares (Bética, Galécia, Lusitânia, Cartaginense e Tarraconense), as Ilhas Baleares e a Mauritânia Tingitana. Figura 4 - 3ª Divisão provincial da Hispânia, 298 d.C.

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Organização política local Cada província romana compreendia algumas comunidades de estatuto diferente. Na Hispânia, tal como no resto dos territórios da República Romana e posterior Império Romano, as cidades partilhavam das mesmas formas de governo herdadas de Roma. Para adotá-las, as cidades deviam previamente receber o estatuto de municípios, que podiam ser administrados por funcionários próprios, bem como ter algumas leis próprias. Para alcançar o estatuto municipal, a cidade deveria preencher uma série de requisitos relativos ao nível de urbanização, como contar com adequados serviços públicos, devidamente adaptados aos costumes e estilo de vida romano. A política local assentava sobre as magistraturas que, segmentadas em vários níveis e de vigência de um ano, eram encarregadas do governo local. Assim, existiam os questores, encarregados da coleta de impostos, os edis, encarregados da segurança pública e respetivas sanções, bem como da organização dos jogos e regulamentação dos mercados, e os duoviros (ou quattuorviros), que detinham o máximo poder executivo e se encarregavam de elaborar os censos, da designação de juízes, da administração das finanças e do cumprimento dos preceitos religiosos da cidade. As magistraturas locais eram eleitas anualmente por sufrágio entre os cidadãos, sendo eleitos dois magistrados para cada uma delas em que um deles, em algumas ocasiões, dispunha do direito de veto sobre as decisões do seu colega. Por outro lado, o acesso à magistratura encontrava-se limitado aos cidadãos cuja capacidade económica permitia suportar a "summa honoraria", um valor estipulado por lei que deveria ser investido na organização de jogos, bem como noutras atividades municipais, como a organização de espetáculos lúdicos, ou a construção de templos e outros edifícios públicos.3 Para além do município, havia a colónia romana, uma comunidade autónoma criada de novo (ou totalmente reformulada) e localizada num território conquistado por Roma, no qual os cidadãos romanos se estabeleciam. Era uma cidade de Direito Romano e representava o patamar mais elevado de cidade. O estado ou comunidade estipendiária, por sua vez, representava o patamar mais baixo e comum de cidade e comunidade local sob governo romano, tendo de pagar um pesado imposto (o stipendium).

Sistema de comunicações O sistema de comunicações assentou num controlo de todas as regiões costeiras, numa boa rede portuária e na constituição de uma completa e eficaz rede viária (pavimentada com grandes lajes de pedra, pontuada por marcos miliários [Figura 6] e complementada pelas pontes romanas [Figura 5]). As vias dividiam-se em Viae Publicae, que formavam a rede principal que interligava todo o Império Romano, 3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hisp%C3%A2nia (consultado em 24-11-16)

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correspondendo atualmente às nossas estradas nacionais, as Viae Vicinales, estradas secundárias que ligavam os povoados às grandes vias, e as Viae Privatae ou Agrari, caminhos agrícolas ou de acesso privado. Os Itinerários da rede viária romana [Figura 7] são em grande parte incertos, devido a fatores como a vastidão e dispersão geográfica da rede viária, a incerteza quanto à origem destas calçadas devido às sucessivas reparações por que passaram, o abandono e a destruição, entre outros. Apesar disso, é possível localizar certas vias através de manuscritos (como o Itinerário de Antonino) e de outros vestígios diretamente relacionados com a via, como: miliários; villae (que necessitavam de vias de escoamento para os seus produtos, quer para as cidades, quer para portos a fim de serem exportados); necrópoles (que eram frequentemente localizadas ao longo da estrada romana, contíguas às vias que saíam das cidades, para que estivessem longe dos vivos o suficiente para assegurar a salubridade pública, mas mantendo o mundo dos mortos em permanente contacto com o mundo dos vivos); castros romanizados; explorações mineiras (apoiadas por uma rede complexa de vias secundárias que permitiam o escoamento do minério até às vias principais ou, o que é mais provável, seguindo por uma via secundária para o porto fluvial mais próximo, onde seria embarcado e transportado rio abaixo até ao litoral, onde finalmente era exportado para todo o império).4 Contudo, em distâncias grandes, as redes de estradas nunca tiveram mais importância que as ligações por via marítima e fluvial, mais rápidas e económicas, o que só era possível porque a partir do século I a.C. os Romanos conseguiram que a pirataria se encontrasse praticamente erradicada da bacia do Mediterrâneo.

Novas leis Adriano (imperador romano de 117 a 138 e originário da península Ibérica), conhecendo o inconveniente, para os cidadãos, da diversidade de leis e de direitos, definiu princípios jurídicos imutáveis e perpétuos, tanto para Roma, como para as

Figura 5 - Ponte de Alcântara sobre o Figura 6 - Miliário Figura 7 - Mapa das estradas no Campo do romanas da Hispânia Tejo, 104 d.C. Gerês 4 http://www.viasromanas.pt/vrinfo.html (consultado em 24-11-16)

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províncias. Depois, o imperador Antonino Bassiano concedeu a cidadania romana a todos os habitantes livres do império - com poucas exceções – levando à aplicação generalizada do direito romano na justiça civil da Península Ibérica. Em 212 d.C. o direito romano passa a ser o único oficial e teoricamente produz-se um aniquilamento dos direitos particulares ou indígenas ainda em vigor. Contudo, nunca terá havido na Hispânia jurisconsultos e órgãos judiciais que pudessem assegurar uma aplicação sistemática do direito romano em toda a sua pureza. O sistema jurídico hispânico, nas vésperas das invasões germânicas, encontrava-se portanto longe da perfeição do direito romano clássico. Vigorava o chamado direito romano vulgar, que possuía uma estrutura menos complexa e cuja disciplina resultava da interferência de elementos autóctones5. O direito romano garantia ordem e segurança, tornando possível a manutenção da pax Romana na península durante a maior parte do período entre o primeiro e o quarto séculos d.C.. Os dois primeiros séculos, principalmente, foram um tempo de paz contínua e de prosperidade na Hispânia.

Difusão do Latim Os povos ibéricos, antes da chegada dos romanos, tinham línguas e alfabetos diferentes. São os contactos com o exército, a administração e as atividades comerciais que levam em boa parte à difusão do latim, sendo por isso em ambientes urbanos que mais cedo se afirma esta importante componente cultural da presença romana. O contacto com o latim fez com que, após um período de bilinguismo, as línguas locais desaparecessem quase integralmente, dando lugar à língua da qual, mais tarde, derivariam as línguas latinas (nomeadamente o Português).

5 http://ispia.webnode.pt/cursos/inesid/historia-do-pensamento-juridico/ (consultado em 27-11-19)

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Economia Exploração dos recursos económicos Ao longo da existência do Império Romano, assistiu-se ao desenvolvimento de uma nova organização económica: afirmou-se a produção de bens destinados ao mercado; verificou-se uma especialização regional na exploração de certos recursos, destinados a abastecer amplas áreas do Império; surgiram grandes explorações em regime intensivo (nas villae, estabelecimentos rurais dispersos à cabeça de um domínio [figura 8]), quase de monocultura (como as do vinho ou do azeite), que vieram substituir a economia de subsistência das tribos primitivas; surgiu o conceito de “indústria” para certas produções (como as cerâmicas finas ou a mineração). E apesar de nenhum destes domínios representar uma inovação Romana, o vastíssimo espaço geográfico do Império Romano permitiu níveis de exploração até aí inimagináveis. A Lusitânia exportava frutos da terra (como o trigo ou as cerejas), minérios (como o ouro, que foi explorado sobretudo na segunda metade do século I e no século II d.C.), animais (como presunto, ostras, cavalos e conservas de peixe) e tecidos, para além de garum (um género de condimento feito à base de peixe salgado, muito apreciado na Antiguidade, principalmente na Roma Antiga.) O garum, por sua vez, demandava o desenvolvimento da extração de sal, das atividades de construção naval e ainda da indústria cerâmica, para o fabrico de ânforas. A atividade agropecuária localizava-se maioritariamente ao Sul do rio Tejo, sendo a terceira maior região produtora de cereais, a seguir à africana e às italianas.

Figura 8 - idealização da zona geográfica na qual se encontrava a villa

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Generalização do uso da moeda As moedas romanas, em circulação durante a maior parte da República e do Império Romano do Ocidente, incluíam o áureo (aureus, em latim), de ouro; o denário (denarius), de prata; o sestércio (sestertius), de bronze; o dupôndio (dupondius), de bronze; e o asse (as), de cobre. A única moeda de prata cunhada foi a Miliarense. Estas denominações foram utilizadas de meados do século II a.C. até meados do século III d.C.. O áureo, que, devido ao seu alto valor, funcionava mais como unidade de conta do que como moeda de troca, valia 25 denários. Estima-se que, por volta do fim da república e do início do principado, um denário equivalia ao salário diário de um trabalhador. Um denário valia 5 dupôndios ou 10 asses (em 118 a.C., o valor do denário foi reajustado para 16 asses). Um dupôndio valia 2 asses; 1 sestércio, 4 asses. Sabe-se que durante o século I d.C., um asse comprava o equivalente a meio quilo de pão ou um litro de vinho barato. Durante o século III d.C., o denário foi substituído pelo denário duplo, também conhecido como antoniniano (antoninianus), o qual, por sua vez, foi extinto pela reforma monetária de Diocleciano, que criou denominações tais como o argento (argenteus, "de prata") e o follis (bronze prateado). Após as reformas, as moedas em circulação passaram a ser, basicamente, o soldo (solidus), de ouro, e algumas denominações menores de bronze, até o fim do Império Romano do Ocidente.

Figura 9 - Denário, 136 a.C.. De um lado, a cabeça com capacete da deusa Dea Roma. Do outro lado, os Dióscuros.

Figura 10 - Soldo de Arcádio

Figura 11 - Áureo de Tibério. Cunhada em Lyon. Mostra no verso a inscrição PONTIF MAXIM (pontifex maximus) e Lívia Drusa como Pax, segurando um cetro e um ramo de oliveira.

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A autoridade para cunhar moeda pertencia, primordialmente, ao governo central em Roma, que emitia moedas de metal precioso. As províncias romanas podiam cunhar moedas de bronze (de menor valor, portanto). Algumas províncias orientais cunhavam moedas de prata, mas apenas para circular no seu território e para atender a uma necessidade

local.

O conteúdo de metal precioso nas moedas romanas variou ao longo da história, geralmente para baixo. O mesmo ocorreu com o valor corrente da moeda. A abundância de moedas encontradas na península Ibérica, sobretudo as de valor mais pequeno, prova que o uso monetário esteve amplamente aplicado no quotidiano. De facto, grande parte da economia estava estruturada em torno da moeda.

Urbanização e mundo rural A romanização ficou marcada pela eclosão e persistência de um estilo de vida urbano, constituindo, no meio de vastos descampados, importantes focos de civilização.6 A civitas era a unidade-base de organização do Império. Ocupava um território composto por duas unidades – oppidum (núcleo urbano) e ager (espaço rural).

Urbanização Nas cidades da Península Ibérica, especialmente naquelas que passaram a dispor do estatuto jurídico-político de municipium, notou-se um grande desenvolvimento, através de uma política de monumentalização das cidades e de obras públicas, orientadas para a vida religiosa, o uso coletivo e a utilidade prática. Foi nas construções públicas que os romanos melhor expressaram o seu engenho e técnica. Salientaram-se grandes obras de engenharia civil com caráter prático e utilitário, as estradas, as pontes e os aquedutos. A cidade romana ideal devia obedecer a um padrão rígido de urbanismo. Este modelo só podia, porém, ser implantado em centros urbanos criados de raiz num terreno regular. De outro modo, tinha de se sujeitar à topografia local e ao aglomerado urbano pré-existente.

6 http://home.uevora.pt/~mosantos/download/Alentejo_Passado_25Jul11.pdf 20/11/16)

(consultado

em

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Em Évora, a municipalização poderá ter-se verificado no último quarto do séc. I a.C. Alguns investigadores defendem uma data anterior ao ano 27 a.C., durante a estadia de Augusto na Península Ibérica. Independentemente da data exata, a construção de edifícios públicos foi a mais imediata forma de afirmação do poder político dos novos senhores e também o meio mais eficaz para aculturação dos povos indígenas. Na Ebora Liberalitas lulia (Évora) estas obras foram: um grande fórum com o seu templo, possivelmente consagrado ao culto do imperador divinizado (figura 12); termas (figura 13); uma rede viária; e haveria com certeza outras obras, que ainda não foram, porém, encontradas.

Mundo rural A cultura romana sempre exaltou os valores da ruralidade e a criação de uma exploração rural fazia parte do ideal de vida de muitos romanos. Na península Ibérica, a exploração agrária segundo os métodos romanos coincidiu com

Figura 12 – Templo Romano em Évora

Figura 13 - Termas Romanas em Évora

a instalação das primeiras colónias, altura na qual se dividia o território envolvente da colónia em parcelas, distribuídas pelos colonos num processo a que se chamava “centuriação”. Conhecem-se vestígios de grandiosas moradias rurais (villae) um pouco por todo o Alentejo e Algarve e, apesar de mais raras, também no Norte do País.

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Organização social Apesar da escassa quantidade de dados relativos à constituição das sociedades hispânicas, há algumas generalidades que podemos referir neste tópico. A sociedade romana dividia-se em três grandes categorias:

Os cidadãos Os cidadãos (homens livres) eram hierarquizados segundo a fortuna pessoal, que era registada nos censos e que podia variar desde a extrema riqueza até à extrema pobreza, havendo por isso cidadãos de baixíssima condição. O exército republicano que conquistou as regiões que viriam a formar o Império Romano era constituído por cidadãos, possuindo por isso os soldados reformados que se instalaram na Península Ibérica a cidadania romana. À parte dos antigos soldados, estabeleceram-se na Hispânia, durante os primeiros tempos da conquista, cidadãos romanos que imigraram suscitados pela exploração dos recursos mineiros, principalmente. Estes cidadãos, que se estabeleceram nos territórios conquistados, eram portadores e, portanto, difusores da cultura romana, representando assim um importante agente de romanização. Alguns indígenas que prestassem serviços relevantes para o Império podiam adquirir a cidadania romana, considerada um privilégio. Mais tarde (com César e Octaviano), passou a ser concedido o direito latino (entre a cidadania e o direito dos povos estrangeiros) a alguns povoados indígenas, o que facilitava a aquisição da cidadania às elites locais. Alguns hispanos chegaram até ao Senado, e outros (como Trajano e Adriano) chegaram a ser imperadores. O privilégio da cidadania difundiu-se rapidamente e finalmente, em 212 d.C., Caracala concedeu a cidadania romana a todos os súbditos do Império. A conceção de cidadania aos povos conquistados é mais um ato de romanização, sendo um reconhecimento legal de que aquele grupo de pessoas está suficientemente integrado na cultura romana para que lhe seja concedido esse direito, que lhe permitirá ter acesso a cargos públicos e a magistraturas, bem como à participação ativa na vida pública através do voto.

Os escravos Os Romanos (que viviam numa sociedade esclavagista) não foram os introdutores da escravatura na Ibéria. Contudo, o número de escravos aumentou durante a conquista, com os prisioneiros de guerra e as populações submetidas, todos reduzidos à escravatura quando não eram estabelecidos tratados com Roma.

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No entanto, os escravos não eram, genericamente, vistos como mão-de-obra indiferenciada e sujeita a permanentes maus tratos (contrariamente ao que acontece no regime esclavagista contemporâneo). Assim, a relação de alguns escravos com os amos era quase uma relação familiar: o escravo podia enriquecer com a ajuda do amo, que podia até ocupar-se da sua educação e havia escravas que se casavam com os amos.7

Os libertos Essa relação levou à existência de uma categoria intermédia, a dos libertos. Estes, antigos servos que alcançaram a liberdade através da compra ou por benesse do seu amo, podiam desempenhar funções importantes, mas sempre numa situação de dependência entre homem livre e “patrono”. Nos séculos II e I a.C. (durante a já referida época da corrida às riquezas mineiras da Hispânia), há evidências de que muitos libertos estiveram na Península Ibérica, a tratar dos negócios dos “patronos”. Os libertos ocupavam ainda funções administrativas, como por exemplo os cargos da administração provincial.

Transformações nos hábitos quotidianos O processo de assimilação cultural (a romanização) teve grande impacto nas práticas e hábitos quotidianos das populações locais. As roupas mais usadas pelos romanos eram as togas, muito semelhantes ao himation usado na Grécia Antiga. Possibilitavam a identificação do grupo social do portador através do tamanho, forma ou cor. Por baixo da toga vestia-se uma túnica. Os escravos, os soldados e os plebeus costumavam usar apenas uma túnica sobre o corpo. Entre as mulheres existia o hábito de cobrir-se com um manto comprido que chegava aos pés. As viúvas utilizavam o rinicio, uma espécie de xaile. Sobre a roupa interior pouco se sabe. As mulheres utilizavam uma faixa de tecido no peito chamada fáscia peitoral e o subligáculo, uma faixa de tecido colocada à volta dos rins. Esta última peça era também usada de início pelos homens, mas foi deixada.

7 FABIÃO, Carlos – A romanização do actual território português. Mattoso, J. (dir.) História de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, 1992, p. 203-99.

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As crianças usavam uma toga que possuía uma faixa lilás. A partir dos 17 anos, os rapazes vestiam a toga viril, momento cerimonial que significava a entrada na vida adulta. As raparigas usavam a estola a partir do momento em que se casavam. As opções de alimentação dependiam da condição social ou de classe, das crenças religiosas, do género e do grupo étnico. Os cereais eram a base da dieta trazida pelos romanos, juntamente com o azeite, o vinho e os legumes secos. A carne de porco e de vaca, os produtos lácteos e o peixe continham proteínas animais, mas o acesso a estes produtos era limitado, pois a disponibilidade da proteína animal variava em função da idade, região e estatuto social. Por outro lado, os romanos gostavam de alho, cebola, nabos, figos, romãs, laranjas, peras, maçãs e uvas. A primeira refeição do dia era o jentaculum e continha pão, queijo, ovos e leite. O pão podia ser embebido em vinho aquecido ou então regado com azeite e esfregado em alho. Por volta do meio-dia tomava-se, geralmente em pé, o prandium. Poderia incluir restos da comida do dia anterior, carnes frias, frutas e queijo. Não se tomava vinho durante esta refeição, pois ela era consumida no período de trabalho. E, por fim, a cena era a principal refeição do dia e iniciava-se à décima hora, o que corresponde às quatro da tarde. A cena dividia-se em três partes: gustatio e prima e secunda mensa. O gustatio era composto por uma série de aperitivos: comiam-se cogumelos, saladas, rábanos, couve, ovos e ostras. Para beber, tomava-se o mulsum que servia para abrir o apetite e ao qual se atribuía a capacidade de prolongar a vida. A prima mensa era composta por vegetais e carnes e a secunda mensa consistia na sobremesa, na qual se serviam frutas ou bolos.

Arte A romanização implicou mudanças civilizacionais profundas com repercussões em várias áreas e a arte não foi exceção. Os edifícios religiosos ocupavam lugares importantes na geografia das cidades, destacando-se os templos, os altares e os santuários. Os templos (figura 12) eram de planta retangular, geralmente com uma só cella, e erguiam-se sobre um estrado que possuía um único acesso. Normalmente não tinha peristilo e era falsamente períptero, sendo que as colunas e o entablamento eram apenas decorativos. As aras ou altares eram contruídos em forma de mesa onde se concretizavam sacrifícios e oferendas aos deuses. Os santuários eram constituídos por anfiteatros virados para a paisagem e rodeados de arcadas.

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Na arquitetura de lazer destacam-se os teatros, que seguiram os gregos na forma, mas baseando-se num sistema construtivo totalmente diferente. Os anfiteatros, exemplos muito importantes da arquitetura desta época, tinham uma planta circular e uma altura de 3 a 4 andares, sendo descobertos. As termas ou balneários, que cumpriam uma função de encontro social e de comércio, tinham muitas decorações revestidas em mármore, mosaicos e estuques. Quanto à escultura (figura 15), pode dizer-se que revelou desde sempre características realistas, centradas na personalidade de cada indivíduo. Eternizava a memória dos retratados, evidenciando o seu caráter e a sua psicologia. A pintura e o mosaico foram as formas artísticas mais utilizadas para decorar quer edifícios públicos quer privados (figura 14). A pintura era praticada nas paredes interiores e tinha a função de proteção e embelezamento. As temáticas mais usadas eram as cenas históricas ou mitológicas, a paisagem e a natureza morta. Os retratos foram bastante utilizados nas habitações. Eram executados sobre vários suportes, usando diferentes técnicas. Estas pinturas tiveram funções alegóricas, simbólicas e decorativas. Figura 14 Reconstituição de parte de uma villa romana da Boca do Rio, Budens, Lagos. As paredes eram revestidas com estuque pintado e os pavimentos atapetados por mosaicos.

Figura 15 Fragmento de uma escultura Romana do século I d.C. representando as vestes ondulantes de uma dançarina. (Museu de Évora)

Ligado à pintura, o mosaico era concebido com pequenas tesselas e com materiais de diversas cores, aplicado sobre argamassa que cobria os locais de suporte.

Religião Vários deuses foram adorados na Península Ibérica: Júpiter, Juno, Minerva, Marte, Mercúrio, Vénus, Neptuno, Apolo, Diana, Líber, Libra. Nestas províncias ocidentais, as aras consagradas a Júpiter situam-se essencialmente nas áreas militarizadas. Em ocasiões especiais erguiam se altares em honra de Júpiter, sendo que no território português estas honras eram mais comuns no norte, nomeadamente na região de Chaves e Vila Real. Foi também adorado sem epítetos em locais como Braga, Sintra e Marvão, tendo sido em ocasiões venerado com nomes diferentes como Maximus e

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Optimus. Relativamente aos outros deuses, podemos observar que o culto a Juno esteve presente na região de Guimarães. Marte foi adorado em São Salvador de Gundor. Mercúrio não foi muito popular em Portugal, conhecendo-se somente 7 inscrições. Vénus foi bastante adorada em Miróbriga, onde se encontram as ruínas de um templo que lhe foi dedicado. Minerva foi consagrada em memória de Carísia Quintila, no Valado. A Apolo foi-lhe prestado culto em Conímbriga e Balsa. Sobre Neptuno conhece-se uma única inscrição, em Badadela. De Diana, sabe-se ter tido culto em Loulé, Silves e em Olisipo. Existiam ainda divindades da saúde e aquáticas. Mais tarde, com a adoção do Cristianismo como religião oficial do império, esta religião implanta-se progressivamente nas comunidades da Península Ibérica. A primeira referência cristã neste território surge numa carta aos romanos de São Paulo, em que o apóstolo expressa a sua intenção de visitar a península, mas acaba por nunca o fazer. Encontram-se as primeiras e mais numerosas comunidades cristãs nas cidades ibéricas mais romanizadas (as da Bética e do litoral da Tarraconense e da Cartaginense). A partir do século III, pode dizer-se que o cristianismo estava disseminado por toda a Península Ibérica.

Crenças e práticas funerárias O tipo se sepulturas e artefactos encontrados sugere que, antes da romanização das práticas, a influência egípcia nas crenças funerárias era forte. Os Romanos introduziram uma série de práticas que refletiam as crenças numa nova sociedade, na qual os indivíduos “publicitavam” os seus novos estatutos sociopolíticos (cidadania e ofícios administrativos) e económicos. Mesmo na morte, essa mensagem social era transmitida, através da escolha do ritual e monumento funerário. Algumas das mudanças estavam também relacionadas com crenças religiosas e leis romanas, como a Lei das 12 Tábulas, que proibia cremação e enterramento dentro das muralhas da cidade. Até finais do século II d.C., a cremação foi o mais comum ritual de enterramento, apesar de ter convivido com uma grande diversidade de crenças e práticas funerárias. Refira-se que mesmo na Itália havia uma variação considerável nas crenças relacionadas com a morte e o além.

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Conclusão O processo de romanização na Península Ibérica, à semelhança do que aconteceu noutros territórios, enquadrou as diferentes sociedades heterogéneas numa matriz cultural comum. Isto só foi possível através de uma língua comum, um bom sistema de comunicações, uma eficaz organização político-administrativa, uma economia moderna e um novo conjunto de crenças religiosas. A Romanização implicou uma profunda transformação dos modos de vida – material e cultural – dos povos da Península Ibérica e teve influências bastante perenes. Essa influência foi notória em campos muito diversos. Podemos destacar a língua, através da difusão da língua latina, falada e escrita, da qual derivou a língua portuguesa; a religião, primeiro com o culto a uma grande diversidade de Deuses e depois com a disseminação do monoteísmo cristão; a cultura, com a introdução de um novo estilo de vida que acompanhou o aparecimento de teatros, anfiteatros, estádios, termas, balneários públicos e fóruns; a arte, com a divulgação de novas arquiteturas, decorações e representações; a economia, com a introdução de novas culturas, como a oliveira e a vinha, a introdução de uma economia comercial e monetária e o Figura 16 – vestígios desenvolvimento de atividades ligadas à exploração mineira, à da romanização na pesca e à indústria conserveira; a administração política, pela Lusitânia imposição de um sistema de governo similar ao nosso, com divisão de cargos que se organizam em torno do parlamento (o Senado); a sociedade, com uma nova hierarquia; e, finalmente, os hábitos quotidianos, onde se pode destacar o facto dos romanos da antiguidade comerem 3 a 4 vezes por dia ou possuírem um calendário semelhante ao atual. As influências da Romanização foram tão profundas que muitas dessas transformações são ainda hoje efetivas.

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Bibliografia/Sitografia ALARCÃO, Jorge de – Portugal Romano. Lisboa: Editorial Verbo, 1973 FABIÃO, Carlos – A romanização do actual território português. Mattoso, J. (dir.) História de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, 1992, p. 203-99. FABIÃO, Carlos – Mundo indígena, romanos e sociedade provincial romana: sobre a percepção arqueológica da mudança. Era-arqueologia, nº 3. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p. 108-31. FIGUEIREDO, Álvaro – Death in Roman Iberia: Acculturation, resistance and the diversity of beliefs and practices. Era-arqueologia, nº 3. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p. 90-107. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lusit%C3%A2nia (consultado em 23-11-16) https://pt.wikipedia.org/wiki/Hisp%C3%A2nia (consultado em 23-11-16) http://www.viasromanas.pt/vrinfo.html (consultado em 24-11-16) https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_estipendi%C3%A1rio (consultado em 27-11-16) https://pt.wikipedia.org/wiki/Caracala (consultado em 27-11-16) http://ispia.webnode.pt/cursos/inesid/historia-do-pensamento-juridico/ em 27-11-19)

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Sitografia de imagens Figura 1 http://www.historiadeportugal.info/historia-de-portugal/imagem-da-estatua-de-viriato-emviseu-816x1024.jpg

Figura 2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Provincias_de_la_Hispania_Romana_(197_a.C.).svg

Figura 3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Provincias_de_la_Hispania_Romana_(Augusto)-pt.svg

Figura 4 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Provincias_de_la_Hispania_Romana_(Diocleciano)pt.svg

Figura 5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hisp%C3%A2nia#/media/File:Bridge_Alcantara.JPG

Figura 6 http://www.wikiwand.com/pt/Estrada_romana

Figura 7 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hispania_roads-pt.svg

Figura 8 https://es.wikipedia.org/wiki/Villa_romana_de_AlmenaraPuras#/media/File:Valladolid_villa_Almenara_maqueta_03_2004_lou.jpg

Figura 9 http://1.bp.blogspot.com/-3dqTZ3c-ROo/UoXw8jCahI/AAAAAAAADUU/SasyHAKEmSQ/s1600/Lucretia1.jpg

Figura 10 http://4.bp.blogspot.com/_foWcjLUwjY/UoXxJIoNIqI/AAAAAAAADUk/h937ksGxVbg/s1600/Tiberius&Livia_Aureus.jpg

Figura 11 http://1.bp.blogspot.com/5cWFeM2HQdg/UoXxDwlqniI/AAAAAAAADUc/pEShSqpDBNQ/s1600/Solidus-ArcadiusRIC_1205.jpg

Figura12 - Foto de autor Figura 13 - Foto de autor Figura 14 http://3.bp.blogspot.com/izcX3CEjVTk/URJ1S0hU3zI/AAAAAAAAK_E/ynnnUbVh244/s1600/Boca+do+Rio.jpg

Figura 15 http://museudevora.imc-ip.pt/pt-PT/coleccoes/coleccoes %20esculturaromana/ImageDetail.aspx?id=136

Figura 16 https://www.academia.edu/12167808/Lusitania_en_el_contexto_de_la_globalizaci %C3%B3n_romana._In_%C3%81lvarez_Mart%C3%ADnez_J._M._Carvalho_A._Fabi %C3%A3o_C._Eds._Lusitania_Romana._Origen_de_dos_pueblos_Lusit

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%C3%A2nia_Romana._Origem_de_dois_povos_Cat%C3%A1logo_de_Exposi %C3%A7%C3%A3o_._M%C3%A9rida_2015_p._201-205

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