Canção do Ver

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Choca-de-crista-preta Sakesphorus canadensis Participação especial de Heitor Castro Torres, 3 anos

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Manoel de Barros Canção do ver I

Por viver muitos anos dentro do mato moda ave O menino pegou um olhar de pássaro – Contraiu visão fontana. Por forma que ele enxergava as coisas por igual como os pássaros enxergam. As coisas todas inominadas. Água não era ainda a palavra água. Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal. As palavras eram livres de gramáticas e podiam ficar em qualquer posição. Por forma que o menino podia inaugurar. Podia dar às pedras costumes de flor. Podia dar ao canto formato de sol. E, se quisesse caber em uma abelha, era só abrir a palavra abelha e entrar dentro dela. Como se fosse a infância da língua.

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PrĂ­ncipe Pyrocephalus rubinus

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Tener pájaros en la cabeza Mariana Lopes Bretas Jornalista, professora e pesquisadora em Arte Contemporânea

Pássaros, já em sua diversidade, nos remetem a múltiplos sentidos e representações. De Hitchcock no cinema às cores e aos sons contados em prosa, música e poesia, esses seres alados fazem parte da realidade e do imaginário coletivos. Da observação da natureza e do ponto de encontro entre a arte e a ciência surge a Ornitologia, a ilustração científica de plantas e animais, que com seu rigor técnico tem uma grande importância para pesquisadores. Nas artes visuais o desenho, com uma variedade de técnicas ilimitadas, estabelece uma relação interessante com o real. O artista Antônio Torres busca aproximar o espectador de uma natureza exuberante e de difícil percepção. Há uma infinidade de aves

impressionantes e apenas no estado de Minas são centenas de passarinhos já catalogados, vivos ou extintos. Torres já possui uma coleção de ilustrações de passáros de nossa região que representa, mais que espécies singulares, o respeito pela liberdade e o entorno natural materializados no papel. O artista chama a atenção do olhar para o detalhe, para esse pássaro imóvel, sendo quase possível tocá-lo. Recupera a essência da cor, o sentido da preservação, a importância do movimento livre e a riqueza do meio ambiente. Eclético, ele nos mostra mais uma face de seu trabalho, sempre com a preocupação de resguardar uma memória da arte, da história, da paisagem e da vida mesma. 5


Entrevista com Antonio Torres Marcos Vinícius Meigre e Silva Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Viçosa

Por que o interesse em representar pássaros em suas obras? Não penso arte como produção de peças destinadas a uma classe. Compreendo que ser artista é um ofício como qualquer outro que deva cuidar da manutenção e promoção da vida. Sendo assim, pensei trazer os pássaros que, juntamente com as borboletas, as flores e os peixes, além de ser um mimo da natureza para o deleite do homem, são também os guardiões das cores na mais pura e intensa vibração primitiva. Pelas cores e formas e, se não bastasse, também pelo canto, pássaros são aquarelas e música que voam. Pela ganância humana, pássaros são cores e música em extinção. 6

Quando surgiu esse interesse? O interesse do artista surge das mais diversas formas. Nesse caso, surgiu da minha responsabilidade ambiental e, ao mostrar o colorido de alguns exemplares, não desejo somente a observação e o elogio contemplativo, mas, acima de tudo isso, quero te deixar sabendo que alguns pássaros retratados, estão agonizando sobre as erosões, sobre os lixões e nas margens devastadas das águas turvas dos rios. O processo de criação costuma levar quanto tempo? Quais as etapas do processo? Na verdade a coleção da exposição não é criação, uma vez que os desenhos não


Saíra-de-chápeu-preto Nemosia pileata

sofreram interferência pessoal num processo de estilização. Não desenhei como imagino, mas como realmente os vejo. Também não se podem considerar cópias fiéis, pois cada pássaro, ao ser retratado no habitat natural, suas cores sofrem alterações pelo ângulo da luz e pelo reflexo do seu entorno. O máximo que posso dizer é que os desenhos dos pássaros são uma interpretação minuciosa que consome 8 horas de trabalho para cada exemplar. O trabalho tem uma forma simples que começa com um desenho feito com ponta seca (incolor), e logo começo o colorido de cima para baixo, fazendo fundo e detalhes de uma só vez, por conta da sensibilidade das minas dos lápis que mancham facilmente. 7


Beneditode-testa-amarela Melanerpes flavifrons

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Gralha-do-campo Cianocorax cristatellus

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Soldadinho Antelosphia galeata

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Formigueiro-preto-e-branco Myrmochanes humileucus


Fim-fim Euphonia chlorotica 11


Trovoada-de-bertoni Drymophila rubricollis

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Soldadinho-do-araripe Antilophia bokermanni


Ariramba de cauda Ruiva Galbula rufucauda 13


Choca-de-crista-preta Sakesphorus canadensis

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Pipira-da-taoca Lanio penicillatus

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Pica- pau-do-parnaĂ­ba Celeus obrieni

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Tietinga Cissopis leverianus

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Antônio Torres nasceu em 1962 na cidade de Mutum, interior de Minas Gerais. Seu interesse pela arte surgiu ainda na infância por influência da professora, Dona Salvina. Após uma visita do pintor mineiro Inimá de Paula à Mutum começa o aprendizado de Antônio, que se define como um verdadeiro artista a luz dos ensinamentos do experiente pintor. Depois de deixar o ateliê de Inimá, Antônio começa uma jornada procurando o próprio estilo e encontra na colagem uma forma nova de se expressar. Porém isso não o impede de se dedicar a outros trabalhos e técnicas de arte. Paralelamente ao trabalho de colagem, Antônio tem se dedicado aos desenhos de pássaros feitos a lápis. Possivelmente o interesse inicial pela arte seja o que permanece no espírito do artista, já que passou a infância na zona rural rodeado pela exuberância das cores da natureza. Seu trabalho com os pássaros nos leva a pensar na permanência do instinto da criança de imitar tudo a sua volta. Talvez o artista tenha mantido em si o desejo da infância de retratar o que é bonito. Longe de uma tendência naturalista pensada e elaborada como um estudo sistemático dos pássaros, Antônio aprimora um desejo nascido na infância, desenvolvendo uma habilidade desejada pelo universo infantil: desenhar um passarinho que seja tão parecido com o que se vê, para que ele possa saltar do papel e brincar bem de perto com a criança que ainda vive na consciência do artista. Isabella Torres Mestranda em Estudos Literários na Universidade Federal de Viçosa

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João-pinto Icterus croconotus


Universidade Federal de Viçosa Nilda de Fátima Ferreira Soares Reitora Demetrius David da Silva Vice-reitor Gumercindo Souza Lima Pró-reitor de Extensão e Cultura Geraldo Leandro da Silva Filho Chefe da Divisão de Assuntos Culturais realização

Michele Micheleti de Mello Coordenadora da Pinacoteca da Universidade Federal de Viçosa Mariana Bretas Professora do curso de ComunicaçãoSocial/ Jornalismo da UFV

apoio

Magaly Resende Fotografia Rodrigo Castro Projeto gráfico

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