Relatos
Rituais e comunicação estimulam pertencimento Maio/2008 número 23 A
RP Rodrigo Cogo Conrerp SP/PR 3674
rodrigo@mundorp.com.br
Reunião do Conselho Consultivo da ABERJE Num mundo “liquidificado” e sem rituais da globalização, tudo fica muito igual. É preciso fazer um contínuo contraste entre rotinas (trabalho, dever, obrigação) e ritos (festa, prazer, devoção) para viabilizar o sentimento de pertença das pessoas, em qualquer tipo de organização. Esta é a opinião do antropólogo Roberto DaMatta, empossado como membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (www.aberje.com.br) em sua primeira reunião do ano realizada no dia 30 de maio de 2008 no Hotel Sofitel Ibirapuera em São Paulo/SP. Entre os participantes, em sessão presidida por Rodolfo Guttilla, estavam Paulo Nassar, Oded Grajew, Maria Alice Lindenberg, João Rodarte, Eugênio Bucci, Carlos Vogt, Rubens Naves e Sidnei Basile. Manifestando sua satisfação por integrar um grupo que prima pela diversidade, DaMatta - que desde muito jovem estudou comunidades tribais e suas cerimônias faz duas reflexões fundamentais: sua enorme desconfiança frente ao pensamento linear evolucionista e o encolhimento do mundo abrindo espaço para os ressurgimentos locais, em que todos assumem altos patamares de importância. “Sempre me preocupa muito esta visão negativa que temos de nós mesmos”, comenta. Ele é ensaísta de Cultura, professor doutor da Universidade de Notre Dame (EUA), articulista do jornal “O Estado de São Paulo” e doutor pelo Peaboy Museum da Harvard University (EUA). É autor de diversos livros, como “A Casa e a Rua”, “O que faz o brasil, Brasil?” e “Carnavais, malandros e heróis”. Com o entendimento de que nunca se falou tanto em ética nas relações pessoais e de trabalho como hoje, aponta o
questionamento do capitalismo vitoriano e fordista, mais pragmático e sem limites de consumo e produção vigente ainda nos Estados Unidos, diante da finitude dos recursos naturais. Um redesenho nas práticas vem sendo exigido, e bons exemplos surgem em várias nações. E completa: “a periferia devolve ao centro, em todos os níveis, algumas lições melhores”, trazendo este redimensionamento de relevância e interação. Contrariando autores dos séculos XIX e XX, que alegavam que ritos, rituais e cerimônias iam acabar, DaMatta assinala que nunca viu tantos simbolismos, e que é necessário pro comunicador entender os mecanismos de ritualização presentes em situações diversas, como viagens e burocracia de visto e passaporte e na construção de determinadas ordens sociais no âmbito corporativo (promoção de cargo, treinamentos empresariais, ações de motivação). O mundo dos esportes seria uma grande fonte de rituais de consumo, porque leva às camadas mais pobres a um instante de prazer e enlevo em suas vidas cotidianamente sofridas, assim como as festividades de Natal, Ano Novo,
DaMatta, Guttila e Nassar dão início aos trabalhos
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Rituais e comunicação estimulam pertencimento datas nacionais e Carnaval. Para o pensador, as marcas (onde ele inclui os programas sociais) representam novos simbolismos, não trazendo somente uma dimensão utilitária mas também uma dimensão moral do produto, que tem sido chamado de branding. Afinal, segundo ele, a base dos ritos de consumo não é adquirir algo, mas ser reconhecido como ser social. IMPRENSA - Os debates da reunião estiveram centrados na instituição de uma Lei de Imprensa. Sidnei Basile acredita que a regulação desejada já esteja contemplada nos códigos Penal e Civil. O posicionamento é compartilhado por Eugenio Bucci, que acredita que uma lei punitiva própria seria uma maneira de constranger a liberdade. O suposto predomínio da mídia na vida dos cidadãos como argumento vem sendo revisado e relativizado, e não justificaria uma lei regulamentadora. “Criouse, na verdade, um ritual que parece que a lei resolve tudo. Mas isto não acontece”, acrescenta Carlos Vogt. O evento aconteceu sob chancela também da Associação Brasileira de Comunicação Organizacional e Associação Brasileira de Branding.
Marcas representam novos simbolismos
Conselho Consultivo normatiza entidade
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