Relatos
Pesquisa busca o destino do jornal Junho/2008 número 29
RP Rodrigo Cogo Conrerp SP/PR 3674
rodrigo@mundorp.com.br
Reunião de Novos Membros da ABERJE Resultado de uma combinação de rigor jornalístico e metodologia acadêmica na análise de um dos fenômenos mais fascinantes da comunicação social, o livro “O Destino do Jornal: a Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo na sociedade da informação”, lançado pela Editora Record, foi apresentado pelo jornalista e escritor Lourival Sant'Anna no encontro de novos membros da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial/ABERJE (www.aberje.com.br), realizado no dia 19 de junho de 2008 no Hotel Tryp Higienópolis em São Paulo/SP. O diretorgeral Paulo Nassar deu boas-vindas destacando a evidência do franco processo de internacionalização da comunicação nas organizações brasileiras e dos esforços já estabelecidos com a Europa e Estados Unidos pela entidade na orientação das empresas e dos profissionais. Afinal, o jornal impresso diário vai acabar? Se ele sobreviver, em que condições isso acontecerá? Sant'Anna registra na obra, resultado de sua dissertação de Mestrado na USP em 2007, e fala na palestra sobre a situação dos grandes jornais brasileiros num momento histórico para o meio, que sofre uma crise sem precedentes em várias partes do mundo devido à presença da internet. Mais do que oferecer conclusões definitivas sentenciando desfechos categóricos como a morte do jornal ou sua eternidade, o autor faz uma mediação entre profecias extremas; entre leitores, jornalistas e publicitários; entre pesquisadores, gurus e diretores de redação, coletadas e estruturadas por meio de dados quantitativos, pesquisa qualitativa, revisão de literatura e entrevistas. Três fatos estruturais são identificados, em torno dos quais ele gravita: o acirramento da concorrência, a mudança nos hábitos de leitura e a inovação
tecnológica. Além de vasculhar as tendências internacionais e a realidade nacional, revela o pensamento dos leitores brasileiros e dos editores dos três maiores jornais do país sobre tais questões: Rodolfo Fernandes, de O Globo, Otavio Frias Filho, da Folha de S. Paulo, e Sandro Vaia, que foi diretor de redação de O Estado de S. Paulo até outubro de 2006. Além disto, mantém uma conversa aberta com especialistas do porte do norteamericano Nicholas Negroponte e do espanhol Ramón Salaverría. O jornalista aponta que cai o número de leitores de jornal no país, tendo como base pesquisa da ANJ/XLV Estudos Marplan, com índices de 37.060.000 leitores em 2001 e 35.853.000 em 2003, com quedas em qualquer dia da semana. Além do mais, traz o Ibope Monitor e sua análise de tempo dedicado a ler ou folhear um exemplar de jornal, evidenciando que cai de 64 minutos (2001) para 45 minutos (2006) de segunda a sábado. Ainda assim, admite que a circulação diária de jornais está crescendo, embora muito motivada por periódicos populares de menor porte ou ainda dos jornais gratuitos
Integração com novos sócios inicia por palestra
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Pesquisa busca o destino do jornal lidos praticamente no período de estada no transporte público (ônibus e metrô). Outro dado interessante é o paralelo produzido pela ANJ e IBGE entre crescimento do PIB e circulação de jornais, mostrando que quanto maior o aumento da renda média, maior a compra de jornais em patamar até superior ao percentual de crescimento do PIB. Sant'Anna elenca as vantagens do meio, como aprofundamento de notícias, reunião de diversas informações no mesmo local, visão mais crítica da realidade e possibilidade efetiva de formação de opinião, credibilidade e portabilidade. De outro lado, não deixa de listar os “defeitos” detectados em suas pesquisas, como a impressão de baixa qualidade fazendo soltar tinta nas mãos, o formato desconfortável para manuseio, a linguagem tida como rebuscada e um certo exagero no posicionamento ideológico. “Em geral, as pessoas acham que o jornal é completo, informativo, crível e diversificado, porém redundante e difícil de entender”, arremata, comentando que o fato de ter sempre notícia do dia anterior, muitas vezes já veiculada por outros meios como rádio, televisão e internet, seja desabonador. Seus estudos na obra do espanhol Alfonso Sánchez-Tabernero ainda acrescentam outras desvantagens, como as possibilidades expressivas limitadas, por estar restrito a texto e imagem estática. Todavia, vantagens também são somadas, como o alto poder aquisitivo dos leitores, o prestígio repassado para a marca, a segmentação geográfica e a detenção de um banco de dados completo do
perfil do leitor. SAÍDAS - A decisão sobre nacionalizar um jornal, via circulação e cobertura conseqüente, é mais ligada a valores intangíveis, como prestígio e influência, do que à racionalidade das planilhas orçamentárias. Afinal, somente 25% da receita média do meio advém da venda em banca e de assinaturas. De outro lado, qualquer intimidade maior com o setor comercial é rechaçada segundo uma visão de independência. O único vínculo admitido seria a transferência de idoneidade do veículo para seus anunciantes pelo convívio dos dois tipos de conteúdo.
Jornais devem oferecer análise e contexto
Sobre a internet, a opinião é controversa. Há necessidade de integração entre os canais, não simplesmente migrando do papel para online os mesmos conteúdos mas sim aproveitando o caráter multimídia da rede -, contudo ele vê alguma restrição na produção pulverizada de materiais informativos, sob o ponto-de-vista da confiabilidade. Na internet, haveria uma euforia sobre a democratização da notícia, sua geração e hierarquização, desfazendo a importância do jornalista. De outro lado, Sant'Anna aponta que precisa haver critério do cidadão sobre a veracidade do que é veiculado pelos usuários, dado não estar sujeito à regulação já existente na imprensa convencional. Uma boa saída para os jornais seria a interpretação, a contextualização, a análise e a narração dos conteúdos, de maneira não realizada por
outro canal e portanto numa posição vantajosa. Em termos de opinião, ele até acredita que o espaço mais adequado sejam realmente os blogs. A nova geração, ajustada neurologicamente para a luminosidade da tela do computador exercitado desde as brincadeiras com vídeo-games até o contato com a própria televisão -, acaba avaliando o jornal como opaco e antiquado. Seu senso de imediatismo também afasta o grupo de uma leitura mais densa, e portanto mais demorada. Além disto, há muitas demandas do usuário e um costume e uma disposição em participar e interagir em alto grau. Para estas pessoas, este formato de alguém que escolhe as notícias e as edita parece não ser apropriado. A informação está disponível numa disposição horizontal em larga escala. “Não podemos mais fazer jornais como estamos fazendo agora. A informação está tomando uma conotação diferente e outros meios estão preenchendo os novos espaços”, alerta. Para ele, talvez o jornalismo sobreviva exatamente da capacidade de seleção de conteúdos, como “uma nova ordem para o caos”. AGENDA - No dia 26 de junho de 2008, a Reserva Cultural na Avenida Paulista recebe o início dos trabalhos do Comitê ABERJE de Relações Governamentais, com a participação do professor Luis Raul Matos, diretor da Graduate School of Political Management da George Washington University, que lança na ocasião o Programa Internacional em Relações Governamentais, primeiro no País, numa parceria da sua instituição com a ABERJE e o Jedi Group. Já no dia 27, estão marcados o Café Temático do Capítulo Campinas da
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Pesquisa busca o destino do jornal Associação, na sede da CPFL, e também o curso “Comunicação de Riscos como vantagem competitiva: O papel e a responsabilidade das empresas e instituições”, com o consultor Eduardo Prestes, na sede da entidade em São Paulo/SP. Mais informações da agenda pelo 11-3662-3990.
AUTOR - Lourival Sant'Anna, graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás e mestre na área pela USP, começou a trabalhar no jornal O Estado de S. Paulo em 1990, entrando como redator da Editoria Internacional. Antes disso, trabalhou durante um ano como repórter na Agência Folha. Em 93, foi para Londres trabalhar no Serviço Brasileiro da BBC, onde ficou durante dois anos atuando também como correspondente do Estado. Voltou a São Paulo em 95, assumindo o cargo de editorialista do Estado, onde três anos depois tornou-se repórter especial. Ficou nesse cargo até o início de 2000, quando assumiu as funções de editorchefe do jornal. Em outubro do mesmo ano, foi para a CNN, onde ficou apenas três meses. Voltou para o Estado em janeiro de 2001, reassumindo a função de repórter especial, na qual continua até hoje. Mantém o site www.lourivalsantanna.com, com reportagens e artigos publicados no jornal "O Estado de S. Paulo" desde 1990. Além de dados sobre os países e temas e os bastidores das reportagens.
Santanna analisa cenário dos jornais
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