Rodrigo Honório - Monografia - Jornalismo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE JORNALISMO RODRIGO HONÓRIO DA COSTA

ELEMENTOS VISUAIS NO JORNALISMO IMPRESSO: Características Semelhantes à Web

BELO HORIZONTE 2010


RODRIGO HONÓRIO DA COSTA

ELEMENTOS VISUAIS NO JORNALISMO IMPRESSO: Características Semelhantes à Web

Monografia apresentada ao curso de Jornalismo, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, do Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Jornalismo, sob orientação de Eustáquio Trindade Netto.

BELO HORIZONTE 2010


Rodrigo Honório da Costa

ELEMENTOS VISUAIS NO JORNALISMO IMPRESSO: Características Semelhantes à Web

Monografia apresentada ao curso de Jornalismo, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, do Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Jornalismo, sob orientação de Eustáquio Trindade Netto.

_______________________________________ Eustáquio Trindade Netto (orientador)

_______________________________________ (avaliador – banca examinadora)

_______________________________________ (avaliador – banca examinadora)

BELO HORIZONTE, DEZEMBRO DE 2010


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por todas as possibilidades de caminhos a trilhar, à autonomia de escolher aqueles que prefiro e, mesmo assim, às chances de recomeçar. À minha família e meus verdadeiros amigos – vocês moram longe, sinto a falta de todos, mas são as pessoas mais presentes nesse percurso. Se vocês estão em minha vida, é porque existe algo realmente muito bom no mundo! À equipe com quem trabalhei/trabalho na CPJ e na Revista Star – especialmente Helô Costa e Amanda Corrêa, pelos ensinamentos e também pela paciência. E, é claro, ao orientador Eustáquio Trindade, que soube transmitir confiança e renovou minha vontade e fé em fazer esta pesquisa acontecer.


“Perdemos o hábito da leitura? Definitivamente não. Será que temos uma aversão ao conteúdo que cheira a velho, não tem consequências para nossa vida diária e repete o que já sabemos? Um sonoro ‘sim’.”

Mario Garcia


RESUMO

Esta pesquisa analisa os elementos visuais das páginas de quatro grandes jornais impressos brasileiros. Na análise, são considerados os resultados de estudos utilizando a tecnologia EyeTrack em relação às páginas da web – esta tecnologia permite gravar o caminho percorrido pelos olhos de um leitor durante a visualização de páginas. A partir das características visuais que privilegiem a interpretação das páginas, a análise busca apontar semelhanças entre a disposição gráfica dos elementos do jornal impresso e da Internet e quais delas são os recursos mais utilizados e os mais recentemente experimentados.

Palavras-chave: jornal impresso e web, diagramação, EyeTrack.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Banca de jornais: “Hoje no The Times: Mídia impressa não está morta! Vá ao nosso website para ler a história completa” .................................... 9 Figura 2 – Estado de Minas, 21/05, p. 6: blocos de texto em retângulos e foto abaixo ....................................................................................................................... 43 Figura 3 – Estado de Minas, 22/05: páginas internas com muitos espaços ...... 45 Figura 4 – Estado de Minas, 19/05, capa ............................................................... 47 Figura 5 – O Tempo, 18/05: espaço em branco na página 2 do Magazine ......... 51 Figura 6 – O Tempo, 24/05, capa: manchete na metade inferior – maior destaque para a chamada esportiva, mesmo em corpo menor .......................... 53 Figura 7 – Folha de S. Paulo, 19/09: infográfico acima do título da matéria ...... 55 Figura 8 – Folha de S. Paulo, 19/09: bigode com palavras destacadas no caderno Esportes .................................................................................................... 56 Figura 9 – Folha de S. Paulo, 19/09: espaços em branco na p. 3 do caderno Ilustríssima .............................................................................................................. 57 Figura 10 – Folha de S. Paulo, 19/09, p. A14: colunas nas extremidades .......... 58 Figura 11 – Folha de S. Paulo, capas dos dias 20/05 e 19/09 .............................. 60 Figura 12 – O Globo, 15/05, p. 26-27: falta de padrão nos títulos ....................... 63 Figura 13 – O Globo, 15/05, caderno Ela, p. 4-5: dente na 3ª coluna e continuação de matéria do caderno Ela confusa em página colorida – tendo começado em preto e branco................................................................................. 64 Figura 14 – O Globo, 15/05, p. 4: espaço em branco contornando os olhos cria dente e não alivia leitura do bloco de texto .......................................................... 65 Figura 15 – O Globo, 19/05, capa ........................................................................... 67 Tabela 1 – Páginas mais lidas de jornais impressos diários brasileiros ........... 19


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 JORNAIS IMPRESSOS ......................................................................................... 11 2.1 Contexto de mudanças .......................................................................... 11 2.2 Os selecionados ..................................................................................... 13 2.2.1 Estado de Minas.......................................................................... 14 2.2.2 O Tempo ..................................................................................... 15 2.2.3 Folha de São Paulo ..................................................................... 15 2.2.4 O Globo ....................................................................................... 16 3 INFORMAÇÃO VISUAL NA CONTEMPORANEIDADE ....................................... 17 3.1 Informação X Opinião/Entretenimento/Conhecimento ........................ 17 3.2 Impresso influenciado por outros meios.............................................. 20 3.2.1 Primeiras influências ................................................................... 20 3.2.2 Princípios básicos do design ....................................................... 21 3.2.3 Influências visuais ....................................................................... 21 3.2.4 Dinâmicas informacionais contemporâneas visualmente ............ 22 3.3 Convergência midiática excludente? .................................................... 24 3.4 Informação visual na Internet ................................................................ 26 3.5 Informação visual nas redes sociais..................................................... 27 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 29 4.1 Termos utilizados ................................................................................... 29 4.2 Definição dos operadores de análise .................................................... 33 4.3 Definição dos operadores de análise (Twitter)..................................... 38 4.4 Operadores de análise ........................................................................... 40 5 ANÁLISE ............................................................................................................... 42 5.1 Características Gerais ............................................................................ 42 5.1.1 Estado de Minas.......................................................................... 42 5.1.2 O Tempo ..................................................................................... 49 5.1.3 Folha de S. Paulo ........................................................................ 54 5.1.4 O Globo ....................................................................................... 61 5.2 Outras observações ............................................................................... 69 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 73


7 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 75 7.1 Referências Bibliográficas ..................................................................... 75 7.2 Referências Eletrônicas ......................................................................... 76 8 ANEXO .................................................................................................................. 80


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1 INTRODUÇÃO

A crise do jornalismo impresso é assunto recorrente nesta década, visto que há dados comprovando a queda em sua circulação1 e em arrecadação publicitária2. Por outro lado, é um meio de comunicação muito antigo e que já enfrentou várias mudanças tecnológicas, sociais e econômicas e, mesmo assim, continua sendo uma das referências quanto à credibilidade da informação. Ultimamente observa-se que, para driblar a crise, os jornais diminuíram de tamanho, e muitos seguem para o caminho de disponibilizar conteúdo exclusivo e interatividade em sua versão online, para onde tentam direcionar seu leitor. Mas não se sabe se o jornal impresso sobreviverá a esse direcionamento ou se as empresas estão apenas investindo em seu futuro, caso suas versões impressas deixem de existir.

Figura 1 – Banca de jornais: “Hoje no The Times: Mídia impressa não está morta! Vá ao nosso website para ler a história completa”

Neste estudo, quatro grandes jornais impressos brasileiros serão analisados, não em seu conteúdo editorial, mas em sua forma, nos elementos de suas páginas que também compõem a informação e “afetam” o modo de o leitor visualizar o conteúdo e interpretar essa informação. Estudos recentes, como os realizados pelo Poynter Institute com seu EyeTrack (equipamento em formato de óculos com câmeras acopladas, que permite aos pesquisadores gravarem o movimento dos olhos dos leitores ao percorrerem a página), demonstram que a 1 2

MOLINA, 2010, p. 5 NOBLAT, 2003, p. 14; TROYJO, 2009


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leitura de jornal impresso não é linear, ao contrário do que acontece na leitura de livros e até mesmo de conteúdo online. Nesta análise, será considerada a teoria de Mario Garcia (2010), para quem há leitores metódicos e “apressados”, sendo que uma mesma pessoa age das duas formas, visto que um “apressado” passa a ler de forma metódica assim que tem seu interesse despertado por algum elemento. Não havendo apenas um modo de ler jornais, o conteúdo deve ser, ao mesmo tempo, atrativo e completo para os diferentes tipos de leitura. É claro que não são todas as classes de pessoas que leem um mesmo veículo; por isso, as pesquisas de público e de seus hábitos de leitura são importantes para que os veículos definam a quem devem tentar agradar. Considerando esses perfis de leitores e o fato de o jornal impresso não ser consumido linearmente, percebe-se que boa parte (não toda) do dever de atrair o leitor mais apressado para uma leitura profunda, transformando-o em metódico naquele momento, cabe à disposição gráfica dos elementos da informação. Cabe também a responsabilidade de tornar a “leitura profunda” possível, agradável e não cansativa. A análise desses elementos e do formato editorial dos jornais impressos será feita sob a luz das características da comunicação na contemporaneidade. A Web 2.0 pode ser considerada como uma das representantes dessas características, porque a Internet já não é exclusividade de poucos. Segundo a pesquisa "Hábitos de Informação e Formação de Opinião da População Brasileira", encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), a Internet é utilizada por 46,1% da população brasileira, mesma porcentagem de pessoas que leem jornais diários ao menos uma vez por semana. Mesmo que essa parcela da população não utilize a Web 2.0 através de blogs e redes sociais – expoentes desta Web interativa –, ela deve ser considerada como agente modificadora dos (e modificada pelos) hábitos, métodos e formas comunicacionais contemporâneos. A interatividade própria dela, que tira os internautas do papel de leitores passivos e lhes dá o poder de produzir e disponibilizar conteúdo, também está na maioria dos sites, incluindo portais de notícias e de entretenimento.


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2 JORNAIS IMPRESSOS

Este tópico inicia a discussão sobre o contexto do jornalismo impresso no mundo e no Brasil, demonstrando as tentativas e dificuldades de renovação e sobrevivência desse meio nos últimos anos.

2.1 Contexto de mudanças

No jornalismo impresso, não é de hoje que se fala em crise. Muitos grandes jornais buscam se reinventar (mais uma vez), sendo o mais recente a Folha de S. Paulo, que no fim de maio de 2010 lançou um novo projeto gráfico e editorial, unindo as redações do online e do impresso (In: ANDRADE, 2010). Segundo pesquisa do IVC (Instituto Verificador de Circulação) publicada no jornal Valor Econômico de 19 a 21 de março de 2010, a média diária de circulação caiu em sete de nove grandes jornais brasileiros entre 1996 e 2009 – o líder de média, Folha de S. Paulo, vendia 519 mil exemplares diários em 1996 e, em 2009, registrou média de 296 mil. O Jornal do Brasil tentava se salvar desde 2001, quando foi vendido para o empresário Nelson Tanure, que assumiu o jornal com circulação diária de 76 mil exemplares e chegou a uma relativa recuperação a partir de 2003, atingindo o índice de 100 mil exemplares diários em 2007. Porém, em julho de 2010, Tanure anunciou que o JB sairia do papel em setembro para “entrar para a modernidade” (In. LOBATO, 2010), ou seja: o Jornal do Brasil, criado em 1891, deixou de ter sua versão impressa e continua apenas com assinaturas para o conteúdo online. Embora

não

embasados

em

pesquisas,

os

diretores

de

jornais

entrevistados pelo Valor Econômico não acreditam que a Internet tenha lhes retirado leitores. Briggs e Burke (2006, p. 15) lembram que, “ao se introduzirem novas mídias, as mais antigas não são abandonadas, mas ambas coexistem e interagem”.


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Com o surgimento das publicações, os manuscritos continuaram sendo importantes, como aconteceu com os livros e o rádio na idade da televisão. A mídia precisa ser vista como um sistema, um sistema em contínua mudança, no qual elementos diversos desempenham papéis de maior ou menor destaque. (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 15)

Além disso, a Internet ainda não é um meio confiável, conforme pesquisa realizada em 2009 pela Escola Annenberg para Comunicação e Jornalismo, da Universidade do Sul da Califórnia. A enquete mostra que 60% dos entrevistados acreditam que apenas metade das informações online é confiável (FITZGERALD, 2010). A credibilidade ainda é uma sustentação para mídias tradicionais. Segundo Righetti e Quadros, “os motivos da redução do número de leitores (...) são muitos e variam desde a concorrência de outros meios de comunicação mais ‘atraentes’, como a própria TV, à queda do hábito de leitura e seu não incentivo nas escolas”. Por outro lado, Marcos Palacios (In: ESCOLA..., 2010) argumenta que, mesmo no contexto de uma sociedade altamente informada, em que as pessoas podem tanto consumir quanto produzir informação em abundância, o papel intermediador do jornalista é importante até mesmo para filtrar notícias. O mesmo Palácios concorda com o sociólogo Dominique Wolton, quando este afirma que “ninguém quer assumir o papel de editor chefe a cada manhã”. O jornalismo e o jornalista, como um profissional, é parte desse conjunto de profissionais e desse conjunto de atividades sociais que são cada vez mais importantes no sentido de produzir uma filtragem, para que essa informação, que deixou de ser escassa e passou a ser superabundante, possa ser efetivamente utilizada, consumida no dia-a-dia das pessoas. (PALACIOS. In: ESCOLA..., 2010)

Para Meyer e Boczkowski (apud RIGHETTI; QUADROS), os crescimentos e quedas na circulação do impresso acontecem desde sempre. Por exemplo, entre 1950 e 1995, nos Estados Unidos, o número de leitores diários caiu de 35,6% para 23,4% da população, uma redução de 34% em 45 anos. Um dos mais antigos e tradicionais jornais mundiais, o The New York Times (TNYT), descobriu em 2001 (NOBLAT, 2003, p. 15) que seus leitores mais fiéis só liam 10% do jornal e, em 2008, (BARCELLOS, 2008) seu presidente, Arthur Sulzberger Jr., afirmou não saber se continuariam imprimindo o TNYT em cinco anos. Segundo reportagem da Gazeta Mercantil de 15 de abril de 2009, “o


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New York Times, maior marca de mídia impressa do planeta, perdeu 50% de sua circulação paga nos últimos cinco anos” (TROYJO, 2009). Há quem considere ainda outro fator contrário à continuidade da produção de conteúdo impresso: as questões ecológicas. Silvio Meira, doutor em computação pela Universidade de Kent, na Inglaterra, opina que o jornal impresso como existe hoje é um modelo de negócio insustentável: “Não digo que o jornal vai acabar, mas o modelo de negócio irá acabar. Os jornais não vão existir na mesma proporção que existem hoje. É ecologicamente insustentável” (in: VASCONCELOS, Izabela, 2009). No Portal do Meio Ambiente, o jornalista e educador ambiental Wagner Oliveira comentou a afirmação de Silvio Meira: O paradigma mudou e há muito tempo. Empresas insistem, mas o tempo vai moldando o antigo modelo de negócio movido a papel. E não adianta também a mídia impressa querer manter os lucros do passado que foi em cima de monopólios e da restrição imposta pela distância. No impresso só quem podia ter acesso ao papel tinha a informação e o impresso só chegava até um determinado limite na cidade, na zona rural, no Estado ou no país. E no outro dia virava lixo e muito lixo de jornal até mesmo jogado pelas ruas. O que ainda acontece. (OLIVEIRA, 2009)

A questão ambiental não é só um “grito dos excluídos” no campo dos veículos impressos. Prova disso é que o mercado da indústria gráfica já está se voltando para a economia sustentável. A ExpoPrint Latin América é a maior feira gráfica da América Latina. Durante os 7 dias de sua edição 2010, mais de 35 mil pessoas circularam pela exposição. O volume de negócios foi estimado em mais de 300 milhões de dólares segundo a organização do evento. Nos últimos anos, chegaram ao mercado tablets como o Kindle, da Amazon, e o iPad, da Apple. Versões digitais de jornais e revistas começaram a ser produzidas para essas plataformas digitais, em torno das quais há muita expectativa mas pouca certeza principalmente quanto à sustentabilidade financeira da mídia para tablets e à capacidade técnica dos jornalistas em lidar com a tecnologia necessária (BASTOS, 2010).

2.2 Os selecionados


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Foram

escolhidos

jornais

impressos

brasileiros

considerando

sua

circulação, tradição e pertinência regional (Minas Gerais): Folha de S. Paulo, O Globo, Estado de Minas e O Tempo. Não serão analisados jornais populares, mesmo com grande circulação e pertinência regional. A escolha é justificada por se encontrar, nesses grandes jornais, uma pluralidade de elementos da produção e veiculação da informação. Para se identificar as características, serão analisados sete jornais de cada (de domingo a sábado), para não excluir nenhum caderno. Suplementos que sejam veiculados mensal ou quinzenalmente e que estejam no corpus serão observados e podem ter características ressaltadas na análise, já que geralmente veiculam conteúdo considerado entretenimento com experimentações gráficas ou ao menos diferenciação em relação aos cadernos principais.

2.2.1 Estado de Minas

Edições analisadas: de 16 de maio (domingo) a 22 de maio (sábado) de 2010. Segundo pesquisa do Instituto Ipsos Marplan, realizada entre abril de 2008 e março de 20091, para os Diários Associados, grupo que comanda o Estado de Minas, o jornal tem 531 mil leitores na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH, que inclui a capital mineira mais 33 municípios, totalizando mais de 5 milhões de habitantes, segundo o IBGE). Apenas 2% de seus leitores são das classes sociais D e E, sendo a maioria (70%) das classes B e C – a pesquisa aponta que 48% da população de classe C lê o Estado de Minas. Apenas 21% dos leitores têm mais de 50 anos de vida, sendo a maioria do público (27%) constituída de jovens entre 20 e 29 anos. A tiragem média do jornal é de 73 mil exemplares nos dias úteis e 119 mil exemplares aos domingos.

1

Pesquisa consta no site dos Diários Associados: http://www.diariosassociados.com.br/home/veiculos.php?co_veiculo=29


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2.2.2 O Tempo

Edições analisadas: de 18 de maio (terça-feira) a 24 de maio (segundafeira) de 2010. O Tempo é o jornal diário da Sempre Editora, que também produz o jornal popular Super Notícia (um dos líderes em tiragem no Brasil) e faz parte do grupo SADA. Sua sede é em Contagem (RMBH), mas mesmo assim é um dos concorrentes do Estado de Minas. Entre os jornais analisados, é o único que deixou de ser Standard e adotou o formato compacto. Nas bancas, não fica dobrado ao meio e, por isso, seus cadernos ficam inseridos no meio do caderno principal. Segundo o diretor executivo Teodomiro Braga (TAVARES, 2010), pesquisa realizada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) aponta que a tiragem do jornal fechou 2009 com média superior a 47 mil exemplares e crescimento de 67,26%.

2.2.3 Folha de São Paulo

Edições analisadas: de 15 de maio (sábado) a 21 de maio (sexta-feira) de 2010 – projeto gráfico antigo. Também foi analisada a edição do dia 19 de setembro (domingo), já com o novo projeto gráfico e editorial. Como foi verificado que não houve mudanças visuais significativas, o novo projeto gráfico não teve mais edições analisadas. Há muito tempo, a Folha de S. Paulo é jornal brasileiro com maior tiragem. Em 2009, a média foi de 295 mil exemplares diários. No fim de maio de 2010, a Folha de S. Paulo lançou seu novo projeto gráfico e editorial, unificando as redações do impresso e do online. Apesar de o editor executivo Sérgio Dávila dizer, no documentário sobre as mudanças do jornal (ANDRADE, 2010), que o novo momento do projeto Folha se basearia no tripé “furos e informações exclusivas, textos sintéticos e analíticos em pouco espaço e num esforço colaborativo”, é possível observar que o cardápio (que contém os esquemas de possíveis disposições do conteúdo para as matérias) pouco mudou na maioria


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das editorias. Otávio Frias Filho, diretor de redação, diz ter procurado “estimular as pessoas que estavam empenhadas em fazer mudanças que pudessem arejar o jornal, modernizar o jornal”, e completa: “acho que tivemos algum sucesso nesse trabalho de coordenação, mas quem vai decidir isso, evidentemente, é o leitor”, demonstrando que a opinião do leitor não foi levada em conta antes das mudanças. Sendo assim, teria sido um palpite de especialistas?

2.2.4 O Globo

Edições analisadas: de 15 de maio (sábado) a 21 de maio (sexta-feira) de 2010. Segundo o IVC, teve a terceira maior média de circulação nacional, com 257 mil exemplares diários1. Fazia parte dos Diários Associados em seu início, mas depois foi comprado por Irineu Marinho. Hoje, faz parte das Organizações Globo, que ainda é presidido pela família Marinho. É um jornal em formato Standard e, entre seus suplementos, edita até revistas.

1

Pesquisa do IVC consta no site Portal Imprensa: http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/02/03/imprensa33560.shtml


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3 INFORMAÇÃO VISUAL NA CONTEMPORANEIDADE

Trabalhar com mídia de massa significa que o conteúdo veiculado será visto por várias pessoas, com interesses e formações distintos. Mas é verdade que, para sobreviver, os jornais precisam agradar seu público ou chamar atenção para venderem e se sustentarem. Ricardo Noblat afirmava, em 2003 (p. 17), que conteúdo é aquilo que vende jornal e “somente uma mudança radical de conteúdo, aqui e em qualquer outro lugar, será capaz de prolongar a lenta agonia dos jornais”. Já que esta pesquisa é sobre os aspectos formais do jornal impresso e de seus elementos visuais, mais adiante haverá uma discussão sobre como a forma e o conteúdo interferem mutuamente. Afinal, a qualidade de uma matéria jornalística é constituída pela soma das qualidades do texto, das imagens, cores e espaços que, juntos, devem chamar atenção, possibilitar uma leitura ampla e proporcionar concentração para a interpretação do conteúdo.

3.1 Informação X Opinião/Entretenimento/Conhecimento

Antes de abordar a informação visual, é necessário passar pelo conceito de informação na mídia. Há uma distinção entre conteúdos informativos, opinativos e de entretenimento que será observada no aspecto visual/formal, além de questões sobre o que pode ser considerado conhecimento. A discussão relacionando a redução no número de leitores ao hábito de leitura, levantada no tópico 2.1, citando Righetti e Quadros, sempre estará ligada a outras discussões. Entre elas, à diferença entre publicar o que é de “interesse público” ou o que é de “interesse do público”. Sobre esse tema, Briggs e Burke analisam o desenvolvimento da mídia na Grã-Bretanha, nas décadas de 1880 e 1890: O que aconteceu nas décadas de 1880 e 1890 foi que o ideal de um “público” informado estava dando lugar às realidades do “mercado”, tanto na mídia quanto na economia. A força do radicalismo diminuiu, e não eram somente os conservadores que falavam em “dar ao público o que ele quer”. Para alguns, as publicações impressas eram um negócio como qualquer outro. (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 198).


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Por outro lado, em 1922, John Reith foi designado gerente-geral da BBC e, cinco anos depois, tornou-se diretor geral. Segundo seu planejamento para uma grande mudança estrutural na empresa, em 1927, a BBC deveria fornecer “informação, entretenimento e educação”. “Usar o rádio simplesmente como meio de entretenimento, acreditava ele, seria ‘prostituí-lo’. Ele não desejava oferecer às pessoas meramente ‘o que elas queriam’” (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 220). Briggs e Burke (2006, p. 197) mostram que, na transição entre os séculos XIX e XX, a queda dos custos de impressão e o aumento da massa de leitores trouxeram junto o desenvolvimento e consolidação de jornais com “mais entretenimento e menos informação”, conteúdo que fazia com que esses jornais não se qualificassem como “jornais de qualidade”. Já Richard Cobden (In: BRIGGS e BURKE, 2006, p. 195) acreditava que a opinião importava ainda mais do que a informação. Para ele, no futuro, um jornal seria considerado “uma autoridade mais notável e confiável do que qualquer procurador geral ou censor oficial da imprensa” (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 195), relacionando o texto opinativo e o alcance popular midiático ao chamado “quarto poder”. Além do “entretenimento” e da “opinião”, Briggs e Burke (2006, p. 196) levantam outro ponto confrontante com a informação: conhecimento. “Muitos líderes da classe trabalhadora acreditavam que ‘conhecimento é poder’” (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 196). Para esses líderes, conhecimento também era entendido como mais do que informação. Hoje, vemos que os jornais diários trazem um pouco de cada coisa – informação, entretenimento, opinião e conhecimento –, uns mais que outros. Afinal, trabalham para um público amplo, com características, opiniões, preferências e hábitos distintos. Sem necessidade de uma análise profunda, sabe-se

que

as

seções

clássicas

dos

jornais

(Política,

Economia,

Internacional/Mundo, Geral/Cidades) trazem informação em forma de matérias e opinião em forma de colunas e editoriais, e que o entretenimento está presente em editorias como as de Esporte e Cultura, que também trazem informação e opinião. Observe na tabela a seguir que, entre as seções mais lidas nos jornais diários brasileiros, há conteúdo cuja característica primeira é informar (notícias


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locais, notícias nacionais, notícias internacionais, classificados, empregos) e conteúdo cuja característica primeira pode ser a de entretenimento (talvez Esportes, Arte/Cultura/Literatura, Guia de filmes/Cinema). Porém, sobretudo, deve-se atentar para o fato de que, talvez excluindo a seção de Classificados (cujo intuito é informar) e a Primeira Página, todas as outras seções são permeadas por mais de uma dessas características textuais: informação e opinião;

informação

e

entretenimento;

e

em

seções

como

a

de

Arte/Cultura/Literatura, pode haver de tudo: informação, entretenimento, opinião, conhecimento. Tabela 1 – Páginas mais lidas de jornais impressos diários brasileiros Página/seção

Porcentagem de leitura

Notícias locais

41%

Primeira página

39%

Notícias nacionais

35%

Esportes

27%

Notícias internacionais/do mundo

25%

Classificados

20%

Saúde/Medicina

20%

Empregos

18%

Arte/Cultura/Literatura

17%

Guia de filmes/Cinema

17%

Fonte: IBOPE. Elaboração Ministério da Cultura, 2009, p. 136.

Além de informação, entretenimento, opinião e conhecimento, Mario Garcia sugere uma nova definição de notícia: Houve uma época em que notícia era definida como “qualquer coisa que você descubra hoje e que você não sabia até ontem” [...]. Hoje, eu acredito que a definição deveria ser: Notícia é qualquer coisa que você 1 descobriu ontem e que você precisa entender hoje. (GARCIA, 2010 )

1

Texto original em inglês


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Assim, ele assume que as pessoas estão se informando, primeiramente, através de outros meios mais rápidos.

3.2 Impresso influenciado por outros meios

No início deste capítulo, foi exposta a afirmação de Ricardo Noblat (2003, p. 17), para quem conteúdo é aquilo que vende jornal e “somente uma mudança radical de conteúdo, aqui e em qualquer outro lugar, será capaz de prolongar a lenta agonia dos jornais”. Neste tópico, será explicado como a leitura, assimilação e mesmo a produção de conteúdo dependem diretamente da disposição dos elementos visuais da página, isto é: do projeto gráfico e da diagramação. Para chegar lá, convém expor como o aspecto visual dos jornais impressos foi influenciado por outras mídias em várias épocas ao longo de sua existência.

3.2.1 Primeiras influências

Edmundo Mendes Beningno Neto (2007, p. 1) acredita que o jornal impresso disputa a atenção de leitores com outros meios de comunicação e, por isso, tanto sofre influências quanto assume características de tais meios. Walter Teixeira Lima Junior (2009, p. 204) volta a 1873, quando houve a invenção do telégrafo e do código Morse, de sinais longos e curtos. Segundo o autor, esse novo estágio comunicacional impactou a sociedade dos séculos XIX e XX. A sociedade, então, passou a ter uma quantidade maior de informações, pois os jornais impressos começaram a utilizar essa tecnologia e as agências de notícias iniciaram uma nova configuração de modelo de negócio informacional. (LIMA JUNIOR, 2009, p. 204)

Benigno Neto (2007, p.4) aponta a influência de movimentos artísticos durante as três primeiras décadas do século XX. Tais movimentos – como o Art Nouveau, Art Déco, Dadaísmo e Construtivismo, entre outros – teriam, no


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entanto, “emprestado” suas características visuais apenas quanto à forma, à geometria, e não quanto à padronização tipográfica e à hierarquização do conteúdo.

3.2.2 Princípios básicos do design

Antes de continuar abordando o desenvolvimento visual dos jornais a partir da influência de outros meios de comunicação, será necessário observar que há quatro princípios básicos no design (WILLIAMS, Robin, 1995, p.14). São eles: proximidade, alinhamento, repetição e contraste. Pelo princípio da proximidade, itens relacionados entre si devem estar próximos, o que ajuda a organizar as informações e reduz a desordem; nada deve ser colocado arbitrariamente numa página segundo o princípio do alinhamento, já que a ligação visual entre os elementos cria uma aparência limpa, sofisticada e suave; com o princípio da repetição, observa-se que, para organizar, estabelecer e fortalecer a unidade visual de um projeto, devem-se repetir alguns elementos visuais que podem ser a cor, a forma, a textura e as relações espaciais como espessura, tamanhos e até espaços; já pelo princípio do contraste entende-se que elementos visualmente semelhantes que não tenham o mesmo nível hierárquico ou função devem aparecer com bastante diferença entre si.

3.2.3 Influências visuais

Retomando o caminho da influência exercida por movimentos artísticos sobre os jornais impressos, Benigno Neto (2007, p. 5) mostra que outros veículos de comunicação viriam a interferir no visual dos jornais. Cinema e TV evidenciavam e, ao mesmo tempo, despertavam o interesse das pessoas pela imagem. As fotografias ganharam mais espaço nas publicações impressas. Como se vê na afirmação a seguir, o princípio da proximidade começava a marcar o


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visual dos jornais, mas ainda sem haver repetição e, portanto, sem unidade e identidade visual: Havia uma proximidade entre os blocos de textos que se relacionavam e há até a inserção de fotografias em suas primeiras páginas comprovando o desenvolvimento de novas técnicas de impressão. Porém, não há ainda uma unidade visual. (BENIGNO NETO, 2007, p. 5)

A fotografia revigorou o jornal impresso, contribuindo para a credibilidade da informação: ela “proporcionou ao meio de comunicação impresso um dos mais valiosos atributos do Jornalismo, a veracidade” (LIMA JUNIOR, Walter Teixeira, 2009, p. 208). Ainda hoje, a fotografia é um dos elementos visuais mais importantes no jornalismo impresso. Mario Garcia (2010), responsável pela criação/reformulação de mais de 500 projetos gráficos de jornais em 26 países, faz algumas importantes considerações no site do Poynter Institute, entidade responsável pelas pesquisas EyeTrack, em que os participantes utilizam óculos especiais, equipados com duas câmeras: uma filma o olho do leitor, outra filma aquilo que ele está vendo. Ao combinar as duas imagens captadas, os pesquisadores sabem exatamente o caminho percorrido pelo olho do leitor nas páginas de um jornal ou website. Entre as conclusões do Poynter Institute na primeira pesquisa realizada com o EyeTrack, em 1990, Mario Garcia destaca duas relacionadas às fotografias. A primeira é que “os leitores entram em uma página impressa a partir da maior imagem na página”. A outra conclusão é que as “legendas sob as fotos são a terceira parte mais visitada da página”. (GARCIA, 2010, tradução nossa1)

3.2.4 Dinâmicas informacionais contemporâneas visualmente

Enquanto as imagens são a porta de entrada em uma página impressa, na Internet o que é visualizado primeiro são as manchetes e textos. As duas conclusões saíram do mesmo Poynter Institute, que realizou sua segunda 1

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pesquisa com o EyeTrack não em jornais impressos, mas em sites de notícia. Num primeiro momento da Internet, “muitos designers de impresso foram, naturalmente, aplicando as mesmas regras para os sites de notícia que eles projetaram” (GARCIA, 2010, tradução nossa1). Porém, hoje observa-se que a organização da informação online partiu para outro rumo e chega a fazer o caminho inverso, influenciando o meio impresso. Benigno Neto (2007, p. 8) afirma que, depois de considerar a TV como concorrente do meio impresso, “é necessário aceitar a Internet como influenciadora de hábitos de leitura quando se compõe a diagramação de um jornal”. Hoje a Internet tem uma identidade visual mais acertada – ou ao menos mais padronizada –, e quem ficou para trás foram os jornais. A rapidez e a impaciência são alguns traços marcantes no hábito de leitura contemporâneo, para os quais o jornalismo impresso está voltando sua atenção. Eu lembro claramente que, quando dávamos a primeira olhada, quando 'reconhecíamos', os olhos percorriam a página. Eram basicamente bons 30 segundos, antes de as pessoas decidirem aonde ir. Em 2000, já eram por volta de 15 segundos. E eu me arrisco a dizer que hoje, com leitores e usuários que são mais impacientes, que são completamente bombardeados por informação, cercados por tecnologia, leva aproximadamente 10 segundos. Em 10 segundos, os olhos vão encontrar um 'destino', ficar lá e sair de lá. (GARCIA. In: TOMPKINS, 2 2010, tradução nossa )

Mario Garcia (2010) faz questão de deixar claro que, apesar da impaciência e do tempo mais corrido, as pessoas não perderam o hábito de leitura. Segundo ele, há uma aversão ao conteúdo que “cheira a velho”, que não tem consequência para a vida diária e que repete o que já se sabe. O lado bom é que, “uma vez que o conteúdo e o estilo da escrita ‘seduzam’ o leitor, ele vai continuar a ler” (GARCIA, 2010, tradução nossa3). Ele termina dizendo que encontrar o conteúdo certo faz a diferença – afirmação parecida com a de Ricardo Noblat, mas Garcia deixa claro considerar o atrativo visual desse conteúdo. Essa sedução do leitor está ligada a uma das conclusões mais recentes das pesquisas do Poynter Institute com o EyeTrack. Há pelo menos dois tipos diferentes e bem demarcados de leitura de jornal. Os scanners são aqueles que

1

Texto original em inglês Texto original em inglês 3 Texto original em inglês 2


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correm os olhos pela página em busca de algo que os atraia, enquanto os metódicos são os leitores que se dedicam à leitura de um texto por completo, mesmo que não linearmente. Mas o mais interessante é que os pesquisadores observaram que todos agem como scanners, e se tornam metódicos assim que encontram algo que desejam ler. Um dos pesquisadores, Keith Woods, afirma que, “se você não tem como disponibilizar informações na forma como as pessoas leem e entendem, então está perdendo o seu tempo como jornalista”. O jornalismo, então, deve estar atento às modificações pelas quais a sociedade passa, e parte dos veículos têm voltado seus esforços na busca de soluções. Como nós podemos obter a atenção de pessoas que são bem informadas, provavelmente a geração mais bem informada de sempre, que ama 'gadgets', que é impaciente e que é tão difícil de agarrar pelo pescoço? [...] Não é fácil redigir uma manchete criativa. Você pode ter a mesma notícia lida por 40% a mais de pessoas se a manchete convencê-lo a chegar lá. (GARCIA, 2010; GARCIA. In: TOMPKINS, 1 2010 )

3.3 Convergência midiática excludente?

Walter Teixeira Lima Junior (2009, p. 205) afirma que as novas tecnologias de comunicação digital estão modificando o comportamento da sociedade e, com isso, “impulsionam o Jornalismo a evoluir seus processos e técnicas em função de atender a uma nova expectativa do usuário/consumidor de informações jornalísticas”. Como no caso do telégrafo elétrico, na contemporaneidade, as tecnologias de comunicação digital representam uma quebra de paradigma no campo da produção e distribuição de conteúdo informativo e de entretenimento, impactando a sociedade de diversas formas e intensidades. (LIMA JUNIOR, 2009, p. 204)

Para ele, a interação possibilitada pela Internet em computadores, celulares e até vídeo-games é modificadora da interação em sociedade. Além de permitirem novas formas de distribuição de conteúdo interativo multimídia, as 1

Texto original em inglês


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tecnologias de comunicação digital “proporcionam ao usuário/consumidor novas experiências de percepção e absorção de conteúdos”. (LIMA JUNIOR, Walter Teixeira, 2009, p. 207) Ou seja, além de (e por) modificarem a sociedade, tais tecnologias podem conter alternativas que funcionem para outros veículos, como o jornalismo impresso. Porém, é possível perceber que, durante as etapas da evolução do jornal, houve influências de outros meios de comunicação, mas sem haver convergência, isto é: cada meio continuou, de certo modo, independente. O que se vê hoje é que a convergência de mídias é uma realidade e até mesmo uma necessidade. Santos e Caparelli (2001, p. 257) apontam que o desenvolvimento tecnológico pós II Guerra Mundial gerou mudanças como a convergência de:  tecnologias de distribuição de dados, imagens e sons através da digitalização da informação;  equipamentos de comunicação, telecomunicações e informática;  modelos de consumo de informação, entre comunicação de massa e comunicação interativa;  produtos das indústrias culturais em um único produto multimídia; e,  economia das comunicações que agrupa dois setores distintos – telecomunicações e comunicação eletrônica de massa – mediados pela informática.

Nota-se que é difícil encontrar onde fica o jornal impresso em meio a tanto desenvolvimento tecnológico e convergência. A distribuição de informação muda; os equipamentos e veículos mudam; o consumo de informação também muda. Por último, a convergência dos produtos em um único produto multimídia não inclui um formato impresso, já que os setores distintos da economia das comunicações agrupados através da informática são os da telecomunicação e da comunicação eletrônica de massa. Os grandes jornais, geralmente, são também donos de portais de notícia e entretenimento na Internet. Neles, não se perde tempo em se aliar às novas tecnologias, como disponibilizar vídeos e interagir através de redes sociais.


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Nesses casos, a convergência é possível graças a uma característica em comum: os meios utilizados são conectados à Internet, no caso de sites e redes sociais através de computadores e celulares; ou então os meios se assemelham pelo uso de vídeo e pela possibilidade de interação em tempo real, no caso da TV e dos sites. Mas o jornal impresso tem alternativas mais restritas quando se pensa na convergência com outras mídias. Alguns utilizam redes sociais, outros até orientam para que o leitor acesse seu portal em busca de conteúdo alternativo, como um vídeo, ou de interação, como uma enquete. Mas será esse o caminho? A sociedade está se adaptando sozinha aos novos meios, às redes sociais e à informação em tempo real. Talvez ela precise reencontrar, no jornal impresso, a credibilidade e a análise profunda dos acontecimentos, baseando na opinião de Mario Garcia (2010) exposta anteriormente, em que ele assume que as pessoas estão se informando, primeiramente, através de outros meios mais rápidos e que a notícia de jornal deve ser aquilo que o leitor soube no dia anterior e precisa entender hoje. Esta talvez seja a grande questão para o formato impresso: combinar conteúdo analítico com a já habitual rapidez da leitura das pessoas de hoje – e de amanhã. E, para isso, a disposição dos elementos visuais devem privilegiar esses dois aspectos: rapidez de leitura e conteúdo aprofundado.

3.4 Informação visual na Internet

Até aqui, foi possível verificar que há características de consumo de informação diferentes conforme o veículo, e até a mesma pessoa não lê apenas de um modo – metodicamente ou não, por exemplo. Os princípios básicos do design, apresentados por Williams (1995), também podem ser observados na editoração de conteúdo online. Porém, há características que funcionam bem para um meio e que não podem ser simplesmente copiadas para outro. Philip Rhodes (2009) apresenta algumas conclusões sobre pesquisas com o EyeTrack, incluindo, além dos realizados pelo Poynter Institute, os de Jakob Nielsen (2010) e os da empresa em que trabalha, a fhios:brasil. Entre elas, há uma observação de que muitos usuários procuram elementos navegacionais nos


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sites, isto é: buscam formas de interagir, como menus e outros links em imagens e textos. Quanto a essas formas de interação, também foi concluído que a familiaridade do usuário com uma página interfere em sua performance ao utilizálas. A familiaridade está, por exemplo, na coluna da esquerda, comum em muitas páginas. A partir dos estudos de EyeTrack, Rhodes enumerou 20 pontos que podem auxiliar na melhoria do design de uma página da web. O aspecto gráfico de jornais impressos poderia ser orientado por tópicos como esses, desenvolvidos pensando-se na informação veiculada em sites? Não todos, mas grande parte sim. Os operadores de análise baseados no conteúdo da Web 2.0 para analisar os jornais impressos começam a ser definidos a partir desses tópicos.

3.5 Informação visual nas redes sociais

Juntamente aos operadores de análise definidos a partir do texto de Rhodes, serão observados aspectos ligados a características da rede social de maior visibilidade no Jornalismo nos últimos anos: o Twitter. Primeiramente, segundo Pedro Tourinho (2010), entende-se por rede social “qualquer instrumento com o qual as pessoas possam se conectar e compartilhar informação e conteúdo entre si”, seja sala de aula ou um jantar. Acontece que a Internet, como é comum, “ampliou esta perspectiva para o mundo, e estes horizontes para o infinito” (TOURINHO, 2010). O Twitter teve um crescimento absurdo desde 2008 – foi criado em 2006. É um serviço de microblogging, isto é: o usuário pode postar mensagens de texto com no máximo 140 caracteres. O conteúdo – excluindo-se a possibilidade de agregação de outros aplicativos para fotos, vídeos entre outros – se limita à postagem de texto sem formatação, mas contendo links. A principal virtude do serviço é a distribuição rápida de informação, completamente ligada aos novos padrões de comunicação contemporânea: saber mais e mais rápido. Vint Cerf, um dos pais da Internet e criador, em conjunto com Robert Kahn, do protocolo que move a rede, o TCP/IP, em sua mais recente visita ao Brasil fez a seguinte afirmação: “Pensávamos que possuir


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informação era ter poder. Temos de rever esse conceito: o poder não está em acumular informação, mas em distribuí-la!” (GETSCHKO, Demi. In: COMM, Joel, 2009, p. XII)

Entre os meses de fevereiro de 2008 e de 2009, o Twitter passou de 475 mil para 7 milhões de usuários – crescimento de 1382% (MARQUES, Pedro, 2009). Além disso, é uma das redes sociais mais utilizadas por veículos de comunicação, assim como por jornalistas.


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4 METODOLOGIA

4.1 Termos utilizados

A partir daqui, serão utilizados com frequência alguns termos ligados à diagramação de jornais. Como foi observado na bibliografia utilizada, uma mesma técnica pode receber nomes diferentes dependendo do teórico / da redação em que se trabalha. Portanto, tornou-se necessário padronizar os termos utilizados nesta pesquisa. Serão levados em conta os autores Rafael Souza Silva (1985) e Maria Rosane Ribeiro (que criou um glossário a partir do manual de redação do jornal O Globo para o programa “Quem lê jornal sabe mais”). Também fori levado em conta o sentido dos termos consagrado nas redações de mídia impressa e utilizados por professores durante todo o curso de Jornalismo.

Bigode Informação textual complementar ao título de uma matéria em que há mais caracteres do que neste. O tamanho da fonte (corpo) é maior do que no bloco de texto e menor do que no título;

Box/Quadro Texto (pode conter imagem) que aparece na página entre fios ou sobre fundo com preenchimento e pode apresentar formatação distinta;

Caderno Conjunto de no mínimo quatro páginas. Um jornal contém outros cadernos além

do

principal,

e

eles

podem

ser

lidos

separadamente,

simultaneamente por mais de uma pessoa – ver Suplemento;

Caixa alta e caixa baixa Letras maiúsculas e letras minúsculas, respectivamente;

Caracteres

até


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Um caractere é um elemento textual considerado unitariamente, isto é, sem agrupar. São caracteres: letras, sinais de pontuação, numerais, espaços que dividem palavras;

Chamada Resumo de uma notícia colocada geralmente na primeira página (ou nas capas dos cadernos) convidando o leitor à página em que há aquela notícia;

Coluna Divisões das composições gráficas no sentido vertical;

Colunagem falsa Todos os jornais analisados apresentam, como base, seis colunas verticais. A colunagem falsa ocorre quando uma página ou parte dela apresenta os objetos dispostos sobre um padrão diferente, geralmente de menos colunas, tornando as existentes mais largas;

Corpo Dimensão, em pontos gráficos, da altura dos caracteres. O ponto é uma unidade fundamental e que corresponde a aproximadamente 0,376 milímetros de altura;

Dente Quando um elemento (imagem, olho, box) invade o espaço de uma coluna de texto e ele segue com a largura menor do que a da coluna, há um dente;

Editoria/Seção Parte do conteúdo especializado em determinado assunto (esporte, política, economia, cultura etc.);

Editorial Texto com a opinião da publicação;

Encarte


31

Inserção de páginas soltas ou suplementos dentro da edição de uma publicação;

Fonte (fonte tipográfica) Padrão visual dos caracteres quanto ao seu desenho, a seus atributos gráficos. Exemplos de fontes: Arial, Calibri, Times New Roman etc.;

Formatação Preparação do texto quanto ao posicionamento (alinhamento), estrutura e realce. Ao se formatar um texto, define-se para ele: fonte, corpo, espaçamento, alinhamento (horizontalmente), posicionamento (verticalmente), efeitos (itálico, negrito, sublinhado);

Infográfico/Infografia Elemento

que

utiliza

recursos

gráfico-visuais

para

apresentação

de

informações. Contém imagens (gráficos, fotos e/ou ilustrações) e dados em texto;

Intertítulo (ou entretítulo) Pequenos títulos colocados no meio do bloco de texto;

Itálico Efeito aplicado ao texto que faz com que os caracteres fiquem inclinados;

Lead Primeiro parágrafo do bloco de texto que faz a abertura de uma matéria tradicional. Ver pré-lead;

Manchete Título principal que indica a notícia mais importante do jornal. É o elemento textual com maior destaque na página;

Negrito


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Efeito aplicado ao texto que faz com que os caracteres fiquem com seus traços mais grossos/encorpados;

Numeralha Elemento que destaca dados numéricos em uma matéria;

Olho Frase destacada. Geralmente, é um trecho da fala de um personagem da matéria;

Pré-lead e sub-lead O pré-lead é o lead com formatação que o destaque do restante do bloco de texto. Já o sub-lead é o parágrafo colado ao lead e que pode complementar as informações do primeiro, ao invés de ser o desenvolvimento do texto (com personagens etc.);

Retranca Uma matéria pode ter um novo título e bloco de texto separado para tratar especificamente de um aspecto daquele assunto. Esse título e bloco de texto são uma retranca;

Sangria Imagens ou cores que, colocados na borda da página, não apresentam contorno em branco, isto é: imagens com sangria são impressas até exatamente a borda da página;

Serifa Nas fontes tipográficas, são pequenos traços ou filetes que finalizam as hastes de alguns caracteres;

Side Elemento textual com formatação diferenciada em relação ao bloco de texto (ou dentro de um box) que apresenta um outro lado da reportagem;


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Sublinhado Efeito aplicado ao texto que faz com que os caracteres recebam um traço inferior;

Suplemento Caderno adicional ao material principal do jornal. Há suplementos publicados diariamente ou mais de uma vez por semana e outros com frequência menor: semanal, quinzenal, mensal etc.;

Versal Palavra ou termo (preferencialmente em poucas palavras) que ajuda a identificar o tema da matéria dentro de determinada editoria/seção. É um dos elementos superiores na página;

4.2 Definição dos operadores de análise

A partir dos 20 pontos que podem auxiliar na melhoria do design de uma página de web sugeridos por Philip Rhodes:

1. Texto atrai a atenção antes de gráficos Rhodes afirma isso quanto às páginas da web. Mas, segundo as pesquisas do Poynter Institute utilizando EyeTrack em jornais impressos, as imagens é que são a porta de entrada para a visualização de uma página. O tópico servirá como operador de análise “ao avesso”, ou seja, será transformado em “Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos”; 2. Não modifique as convenções só para ser “original” Um dos princípios básicos expostos por Williams (1995) é a repetição. A identidade, organização e unidade do projeto se devem a isso. Esse tópico ficará mais à frente entre os operadores, pois primeiro será observada a unidade para posteriormente checar características que fogem dela. Esse


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tópico será um operador de análise, mas ficará depois dos que tratam do uso de imagens e da formatação e posicionamento dos textos;

3. Leitores ignoram os banners Não há informações suficientes na bibliografia utilizada para concluir que a publicidade de jornal impresso seja ignorada assim como os banners, já que não é o intuito desta pesquisa estudar a visualização de anúncios – apenas a visualização do conteúdo editorial que, muitas vezes, é dependente da localização dos anúncios. Mesmo assim, quando se fala em uma geração cada vez mais bombardeada por informação, deve-se considerar não apenas a informação jornalística, mas outras como a publicitária que, ainda mais, faz de tudo para chamar atenção e disputar espaço;

4. Formatações e fontes extravagantes são ignoradas (unir aos tópico 6 e 18) Este tópico está incluído na análise dos tópicos 6 e 18, que formarão o terceiro operador de análise, o primeiro deles a tratar da formatação do texto;

5. Mostre números como números. Para os leitores considerados scanners, é muito mais fácil encontrar a informação numérica quando ela se distingue do restante do bloco de texto. Isso também vale para leitores metódicos que, porventura, voltem no texto procurando uma informação relacionada a números. Salvo pequenas diferenças entre projetos, convencionalmente jornais só grafam números por extenso quando são de zero a dez, quando são números redondos a partir de cem (cem, mil, um milhão etc.) e para substituir os zeros em casos como “70 mil”, “80 bilhões” etc. Percebe-se essa convenção ao se comparar o Manual de Redação da Folha de S. Paulo, atual referência no Brasil, e o Manual de Redação do Diário Carioca – instituído nos anos 50 por Pompeu de Souza e considerado o primeiro manual de redação da imprensa brasileira. Este é um tópico interessante, mas considerando-se a padronização neste aspecto dos manuais de redação, não será um operador de análise a ser observado nesta pesquisa;

6. O tamanho das fontes influencia o comportamento visual


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Rhodes afirma que fontes grandes encorajam o escaneamento da página, enquanto fontes menores aumentam o comportamento de concentração do foco visual. Este será o terceiro operador de análise, já que o primeiro aborda o uso de imagens, assim como o tópico 13, que será o segundo operador;

7. Usuários só lêem um subtítulo se este os interessa Certamente há elementos que são mais lidos que outros em uma página. Vimos que, segundo o Poynter Institute, no jornal impresso os elementos que costumam ser visualizados num primeiro momento são a imagem, a manchete e a legenda da imagem. Sendo assim, é nestes elementos que precisa haver algo que chame atenção do scanner. Este tópico será unido ao tópico 16 formando o quinto operador de análise, já que o quarto será composto pelos tópicos 9 e 17, que iniciam a questão do bloco de texto – só após abordar o texto é que serão analisados os elementos destacados do bloco de texto;

8. As pessoas normalmente escaneiam as partes baixas da página Assim como no tópico 3, não há informações suficientes na bibliografia utilizada para concluir que nos jornais impressos haja interesse pelas partes baixas da página;

9. Parágrafos curtos funcionam melhor que parágrafos longos Neste caso, há uma grande interrogação. O que se sabe é que o bloco de texto só será lido pelos leitores metódicos. Mas mesmo eles são leitores impacientes e que não têm todo o tempo do mundo, e Garcia afirma ser verdade que há mais leitura aprofundada na Internet, mesmo que as pesquisas de Jakob Nielsen preveem que a leitura online costuma se restringir aos dois primeiros parágrafos – pirâmide invertida. Ou os jornais acreditam que o bloco de texto só será lido por leitores metódicos e lhes aplica parágrafos grandes ou assumem que é melhor garantir que ao menos as primeiras informações cheguem aos leitores que, mesmo apressados, começaram a ler o bloco de texto. Este tópico, junto com o 17, será o quarto operador de análise, abrindo a questão sobre o bloco de texto, mas após as primeiras observações, a formatação do texto, incluindo títulos, bigodes e legendas;


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10. Formato de coluna única funciona melhor para a fixação de olhar do que o formato multicoluna Rhodes afirma que duas colunas podem desestimular a leitura por passar a ideia de excesso de informação. “Nossas pesquisas tem mostrado que usuários ficam menos tempo em conteúdos disponibilizados em múltiplascolunas”, afirma (RHODES, 2009). No caso do jornal impresso, em que não há barra de rolagem, o formato multicoluna continuará existindo e sendo lido. Também pode-se entender que a fixação do olhar no texto seja beneficiada pelo espaço em branco envolvendo o bloco de texto, o que confere contraste, um dos princípios básicos do design (WILLIAMS, 1995), responsável por chamar atenção e, no caso do espaço, por aliviar a tensão e a sensação de cansaço. Este tópico será unido ao tópico 19, que trata da utilização do espaço em branco, formando o sexto operador de análise;

11. Anúncios localizados próximos aos conteúdos mais importantes são vistos com maior frequência Como abordado no terceiro tópico, esta pesquisa não pretende estudar a visualização de anúncios;

12. Anúncios em texto são visualizados mais intensamente do que outros tipos de anúncios Como abordado no terceiro tópico, esta pesquisa não pretende estudar a visualização de anúncios;

13. Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar Rhodes argumenta que, apesar de as imagens abstratas ou artísticas serem interessantes, não ganham muita atenção. Uma fixação maior seria causada particularmente quando não são fotos de modelos, mas de personagens. Na bibliografia deste estudo não foi encontrada uma distinção entre o uso de fotos de pessoas ou outras imagens no jornalismo impresso, mas certamente haverá uma observação e possivelmente confirmação da preferência pela utilização de imagens assim nos jornais. Por outro lado, o editor de fotografia da Folha de S. Paulo Marco Aurélio Canônico (ANDRADE, 2010), opina


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quanto à utilização de outras fotos: “Se for olhar a capa do jornal de hoje, é uma bela foto em que a mãe não está olhando para o leitor, e não faria nenhum sentido ela estar olhando para o leitor, né? Ela tem que estar olhando para a criança, a notícia é isso: a mãe, que tinha tido a criança roubada, recebeu o filho de volta.” Este será o segundo operador de análise, dando seqüência ao primeiro, que também trata da utilização de imagens;

14. Cabeçalhos e títulos atraem a atenção (unir ao tópico 7) Segundo Rhodes, as manchetes e títulos são mais importantes em páginas internas do que na página inicial, em que há preferência por elementos como botões e menus. Entretanto, este tópico se assemelha ao número 7, ao qual será unificado para formar o quinto operador de análise; 15. Usuários gastam muito tempo procurando botões e menus – Análise da capa Não se aplica aos jornais. Porém, “botões e menus” podem ser substituídos por “chamadas de capa”. Este tópico será o último operador de análise; 16. Listas mantêm a atenção do leitor por mais tempo – Boxes, infografias e outros elementos destacados do bloco de texto mantêm a atenção do leitor Não há informações suficientes na bibliografia utilizada para concluir que listas mantenham a atenção do leitor de jornal impresso. Contudo, neste tópico será considerada a utilização de elementos como boxes e infografias. Mario Garcia, ao abordar a questão dos scanners, afirma que “leituras secundárias, boxes, aspas e outros pontos de entrada são todos elementos para informar o leitor” (GARCIA, 2010). Este tópico será incluído ao sétimo, formando o quinto operador de análise;

17. Grandes blocos de texto devem ser evitados O bloco de texto, mesmo que contenha muitas informações relevantes, constitui um elemento visual atrelado à impaciência dos leitores de atualmente. Este tópico está incluído no quarto operador de análise juntamente com o tópico 9;

18. A formatação pode atrair a atenção


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Rhodes aponta que a utilização de negrito, itálico, sublinhado, cores e letras maiúsculas podem auxiliar usuários no momento de escanear textos. Mas o exagero fará a página difícil de ler e pode espantar os leitores, além de fugir ao princípio básico da repetição – no caso, repetir a formatação para padronizar, fortalecendo a unidade. Este tópico será unido aos de número 4 e 6 para formar o terceiro operador de análise, o primeiro deles a tratar da formatação do texto;

19. Espaço em branco é bom Como explicado no tópico 10, quando o espaço em branco envolve o bloco de texto, confere contraste, responsável por chamar atenção e por aliviar a tensão e a sensação de cansaço típicas do leitor impaciente de atualmente. Estes dois tópicos formam o sexto operador de análise;

20. Ferramentas navegacionais funcionam mais quando colocadas no topo da página – Cabeçalho ou fio-data O argumento de Rhodes é o de que nem sempre um leitor entra num site através da página inicial e, portanto, os elementos navegacionais devem constar ali. No jornal impresso, a característica que permite ao jornal ser identificado mesmo fora da unidade é seu cabeçalho ou fio-data, que traz informações como a editoria, página e data. Este será o oitavo operador de análise, antes apenas das observações sobre a capa.

4.3 Definição dos operadores de análise (Twitter)

Serão observadas as seguintes questões juntamente a alguns operadores de análise definidos anteriormente:

T1. Padronização do formato e das fontes O Twitter preza pela padronização do formato (posicionamento dos elementos) e das fontes. Os perfis são diferenciados pelas cores e imagens


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de fundo. No jornal impresso, será analisado quais são os elementos em que há padronização do todo e em quais há padronização da editoria. Este tópico será observado nos operadores de análise que tratam do texto (3 a 5) e também no primeiro operador, onde será tratada a padronização no uso de imagens e na formatação das manchetes e textos;

T2. Padronização do tamanho do texto O desafio é escrever o necessário no curto espaço disponível. Técnicas de textos publicitários podem ajudar a criar uma frase de impacto? E uma boa manchete de jornal? Este tópico será observado nos mesmos operadores de análise do anterior, pois ambos tratam de texto, mas especialmente no quarto operador, segundo o qual parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados;

T3. Diferenciação pelas cores e imagens de fundo; Cada usuário pode personalizar sua página do Twitter pelas cores e pela imagem de fundo. Nos jornais impressos, a análise buscará identificar quais elementos se diferenciam entre as editorias e se isso compromete a unidade. Este tópico será observado nos operadores de análise 3 e 5, que tratam da formatação das fontes e de elementos destacados do texto, e também no último operador, em que as capas serão analisadas; T4. Não há contraste no texto do Twitter – capas dos jornais concorrentes Os únicos recursos permitidos são a caixa alta e os links (que automaticamente aparecem em outra cor). Neste caso, chamar a atenção depende de variáveis menos ligadas às características visuais. Nos jornais impressos, o contraste está nos elementos com diferentes níveis hierárquicos (manchete, bigode, olho, legenda etc.). Mas pensando na capa de um jornal que, em uma banca, está ao lado do concorrente, que também tem uma capa com níveis hierárquicos definidos talvez de forma semelhante: como chamar a atenção? Onde buscar contraste? Este tópico será observado na análise das capas, o último operador;

T5. Links para outros veículos;


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Grande parte das mensagens no Twitter contêm links para outros veículos, onde seja possível ler maior volume de informação sobre um mesmo assunto. Convém ao jornal impresso “linkar” seu conteúdo ao conteúdo de outros veículos, como ao sugerir um vídeo na Internet? Desviar o foco de sua leitura não seria arriscado? Assim como os tópicos propostos por Philip Rhodes que tratam da utilização de números e da visualização de anúncios, este tópico não será observado na análise. Neste caso, o motivo é que se trata mais de uma questão editorial do que visual/formal. Mas a Figura 1 (na Introdução) representa bem esta questão: se as pessoas já são bombardeadas por informação e desviam o foco de sua atenção facilmente, um jornal não pode esperar muito dele se der caminhos para isso. Todos os jornais analisados utilizam o recurso de “linkar” para seus sites. O Globo e Folha de S. Paulo são os que mais utilizam, geralmente para a visualização de vídeos ou galerias de imagens.

4.4 Operadores de análise

Definidos os operadores de análise segundo características visuais online, os jornais impressos serão analisados por seção, a fim de saber em qual editoria cada jornal utiliza mais de determinado recurso e por que esta característica seria mais bem aproveitada em uma seção do que em outra. Para facilitar, será utilizada a numeração a seguir:

1. Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos; T1 Padronização do formato e das fontes T2 Padronização do tamanho do texto 2. Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar; 3. Tamanho e formatação das fontes: grandes encorajam escaneamento, pequenas aumentam concentração; T1 Padronização do formato e das fontes T2 Padronização do tamanho do texto T3 Diferenciação pelas cores e imagens de fundo


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4. Parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados; T1 Padronização do formato e das fontes T2 Padronização do tamanho do texto 5. Elementos destacados do bloco de texto (intertítulos, boxes, infografias etc.) mantêm a atenção do leitor; T1 Padronização do formato e das fontes T2 Padronização do tamanho do texto T3 Diferenciação pelas cores e imagens de fundo 6. Espaço em branco é bom / coluna única melhora a fixação do olhar; 7. Não modificar as convenções só para ser “original”; 8. Cabeçalho ou fio-data; 9. Análise da capa – mais índice e menos textos; T3 Diferenciação pelas cores e imagens de fundo T4 Não há contraste no texto do Twitter – capas dos jornais concorrentes

Neste primeiro momento, será possível observar características visuais mais relacionadas aos leitores scanners, como nos operadores 1, 2, 3, 5 e 7. A mesma seção será verificada novamente, sendo observados os operadores que não tenham se evidenciado no primeiro momento. Em seguida, o mesmo veículo terá suas outras seções analisadas. Só depois é que começará a análise de outro veículo, seguindo o mesmo caminho descrito acima. Com esta análise em mãos, serão feitas algumas observações baseadas nos princípios básicos do design, nas conclusões das pesquisas EyeTrack do Poynter Institute e nas características visuais da web em relação a: 

unidade observada em cada jornal;

capas dos jornais;

seções, cadernos e suplementos (seguem a unidade ou não).


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5 ANÁLISE

5.1 Características Gerais

5.1.1 Estado de Minas

1 – Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos

No caderno principal, os elementos aparecem sempre nesta ordem: bigode, título, texto/foto. Nele, raramente (cerca de uma matéria por edição) apresenta foto acima do título (abaixo do bigode), como na página 11 (dia 18/05), numa matéria que usa cor de fundo em alguns elementos, exceto título e corpo de texto. Fotos também abriram uma matéria no caderno Gerais, pg 21 (17/05). Como é um jornal tamanho Standard, há bastantes fotos grandes, abertas vertical ou horizontalmente. As fotos têm um contorno preto grosso. É possível observar que as imagens são colocadas de modo a não interromper o fluxo do texto. Com isso, podem estar acima do texto ou até abaixo dele, ao lado ou precedendo uma retranca (como na página 6, dia 21/05). 2 – Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar

O Estado de Minas preza pela utilização de fotos de faces. As editorias que sempre utilizam essas imagens são as de Política, Internacional e EM Cultura, seguida pelo uso apenas constante em Economia e Nacional. Em Superesportes há o uso de fotos de corpo inteiro, geralmente dos atletas em movimento. Também são utilizadas ilustrações de pessoas, como políticos (p. 3, 16/05) e atletas (p. 8, Superesportes dia 19/05). 3 – Tamanho e formatação das fontes: grandes encorajam escaneamento, pequenas aumentam concentração;


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As fontes de títulos são fortes, em negrito e sem serifas, e variam muito no corpo conforme a matéria. Algumas utilizam destaque, com uma parte do título maior que outra (p. 11, dia 19/05; p. 2 Esportes, dia 19/05) ou então utilizando cor em algum trecho. Em algumas matérias, geralmente em especiais ou capas de caderno, o título está todo em caixa alta (p. 16, 19/05). As retrancas geralmente são com uma fonte mais fina, também sem serifas. Todas as legendas das fotos são em negrito. 4 – Parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados

Figura 2 – Estado de Minas, 21/05, p. 6: blocos de texto em retângulos e foto abaixo


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Os parágrafos costumam ser médios ou grandes, com no mínimo 8 (raramente) e no máximo 32 linhas (240 a 960 caracteres). O bloco de texto quase sempre está em um retângulo imaginário (verticalizado ou horizontalizado, conforme a foto), isto é, raramente há um texto que, em relação à posição da foto, forma um “L” ou “U”. Como comentado no tópico 1, há ocasiões em que o Estado de Minas abdica de usar uma foto no superior da página para não criar “dentes” no bloco de texto, respeitando assim os retângulos imaginários que organizam tais páginas. Há bastante fotos abertas vertical ou horizontalmente. Assim, a visualização geral do jornal dá a impressão de que cada coisa está em seu lugar e que nenhum elemento invade o espaço do outro, isto é, que não houve esforço para “fazer o texto caber”. Mesmo assim, ao começar a leitura do texto, pode acontecer algum cansaço, já que os parágrafos costumam ser longos e não há muitos intertítulos ou outros elementos para quebrar e dar descanso. 5 – Elementos destacados do bloco de texto mantêm a atenção do leitor

Nas maiores matérias há: um versal, em fonte fina e caixa alta, cercado por fios (como um pequeno Box) de cor fraca; abaixo, um bigode de duas linhas; título geralmente de duas linhas. O bloco de texto pode ter intertítulos, que são em negrito, caixa alta e com corpo maior que o do texto. São fáceis de se visualizar, apesar de não ocuparem uma linha exclusiva: antes de iniciar o intertítulo, há uma linha em branco, e na mesma linha dele segue o texto. Há um outro modelo de intertítulo, que não é de uma só palavra, ocupa uma ou duas linhas e é precedido de um quadrinho preto (p. 22, dia 25/05). Apesar do mesmo corpo do outro intertítulo, delineia melhor a hierarquia, por ter linhas brancas acima e também abaixo dele. Em algumas matérias de capa do caderno EM Cultura, o lead é destacado por ter espacejamento (espaço entre as linhas) bem maior que o restante do texto. Fora isso, o Estado de Minas é um dos jornais que utiliza menos elementos. Geralmente são olhos (fonte serifada, espaçamento grande, tom de cinza claro e aspas não tão maiores que o texto) e infográficos (não seguem um padrão, mas muitas vezes apresentam cor de fundo). Raramente são utilizados


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boxes (Gerais, p. 3, 19/05; Superesportes, p. 4 e 12, 18/05) ou informações em tópicos (EM Cultura, p. 10 e 16, 18/05). 6 – Espaço em branco é bom / coluna única melhora a fixação do olhar

Uma das ocasiões em que há espaço em branco é quando são utilizados olhos. Por seu corpo e espacejamento grandes e alinhamento centralizado, os olhos também deixam bastante espaço em branco (como na página 4, dia 18/05).

Figura 3 – Estado de Minas, 22/05: páginas internas com muitos espaços


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Mas principalmente, ao utilizar colunagens falsas (ou seja, fugindo do padrão do jornal de 6 colunas), os espaços entre colunas aumentam, principalmente quando utilizam 4 ou 3. Nesses casos, até a lateral da página ganha bons espaços, algumas vezes possibilitando o uso de imagens de fundo (p. 18, dia 19/05; p. 25 e 31, dia 16/05). O caderno Pensar (22/05), assim como o Ilustríssima da Folha de S. Paulo, utiliza tais espaços em branco, geralmente com títulos pequenos e texto em 3 colunas. Em outros casos, imagens recortadas ou ilustrações sem fundo nem contorno também propiciam mais espaço na matéria. Quanto à fixação do olhar devido ao uso de colunagem única, o Estado de Minas é o jornal analisado que mais privilegia o fluxo da leitura: raramente um bloco de texto flui para a metade inferior para depois voltar para a metade superior – como dito anteriormente, o bloco de texto não faz “zigue-zagues” e cada elemento está em seu lugar. Considerando-se que várias pessoas dobram o jornal ao meio para ler, esse tipo de diagramação funciona muito bem e dificilmente o leitor desviará sua atenção por ter que desdobrar e redobrar o jornal para recomeçar a leitura em uma coluna superior. 7 – Não modificar as convenções só para ser “original”

A frequente variação de colunagem entre as matérias do Estado de Minas demonstra que o jornal não se preocupa muito em manter um padrão. Isso é comprovado também na formatação dos títulos, que pode ter alterações quanto ao corpo, à cor e a utilizarem caixa alta, sendo então uma opção do jornal para dar mais destaque a uma matéria (p. 11, dia 21/05). Há uso menos frequente de olhos destacados com fundo (p.3, dia 21/05) ou contorno (p. 3, dia 22/05), mas todos os olhos sempre apresentam, logo abaixo, o nome e o cargo do autor da fala, além de geralmente estarem acompanhados da foto dele. Portanto, a utilização destes recursos é apenas uma opção de diferenciação estética e quase nunca são utilizadas. O nome dos cadernos costuma obedecer a um padrão, exceto pelo caderno de Esportes, que foi rebatizado de Superesportes pela fusão com o site de mesmo nome que também faz parte dos Diários Associados. 8 – Cabeçalho ou fio-data


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O fio-data é dividido em duas linhas. Na primeira, centralizada, toda em caixa alta, fonte sem serifa e corpo igual ao do bloco de texto, estão o nome do jornal (em negrito) e a data (com muito espaçamento entre os caracteres). Porém, dessa forma a data está muito menos visível do que o nome do jornal – é preciso chegar mais perto para conferir o dia do mês, mas não o nome do jornal. A segunda linha apresenta o nome da editoria (com a fonte do nome do jornal, texto centralizado, em caixa alta e com preenchimento de fundo que vai do canto esquerdo até as primeiras letras da palavra, geralmente três) e número da página (elemento facilmente visualizável, tem corpo grande, fonte sem serifa e negrito). 9 – Análise da capa – mais índice e menos textos

Figura 4 – Estado de Minas, 19/05, capa


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O nome do jornal, em azul e fundo branco, é o primeiro elemento e não divide espaço com chamadas. Há uma divisão com um fio cinza que contém informações como preço, páginas, fechamento e site. As manchetes do Estado de Minas são sempre em caixa alta e negrito – apenas em uma ocasião, no dia 21/05, foi utilizado o recurso de destacar uma palavra com negrito deixando a outra parte mais fina. Geralmente, ocupam toda a largura da página, mas pode ocorrer de haver uma coluna ocupada por uma ilustração ou outra chamada. Em apenas uma edição analisada, a do dia 17/05, a manchete foi o primeiro elemento após o nome do jornal. Nos outros casos, ela aparece abaixo de um quadro com chamadas geralmente com a cor de fundo de cada editoria. Nas edições de sábado e sexta-feira, houve uma grande foto que se abre na metade superior e se completa ao desdobrar o jornal. Nos outros casos, há uma grande foto na metade inferior. Nessa parte de baixo da capa, geralmente há chamadas sem cor de fundo. Ao contrário dos outros jornais, há bastantes espaços em branco entre as chamadas, principalmente na metade inferior. Com isso, há poucas linhas de texto. Dependendo da chamada, o texto aparece em um corpo maior (como no dia 17 de maio) ou em caixa alta (dia 18 de maio). Em muitas ocasiões, as chamadas apenas indicam a editoria em que se encontra a matéria, sem informar a página. A função indicial para o conteúdo interno praticamente não existe na capa dos cadernos. O nome da editoria é o primeiro elemento, bem grande e alinhado à esquerda, deixando espaço no canto direito para uma única chamada – exceto no caderno Informática, pois o nome da editoria ocupa toda a largura da página. Abaixo do nome, sempre há uma matéria. Nos cadernos Gerais, Bem Viver e Trabalho e Formação Profissional, predominam matérias especiais, com cores de fundo, moldura, fotos, infográficos e que, muitas vezes, continuam em outra página. Nos cadernos Superesportes, EM Cultura, Feminino & Masculino, Imóveis e Veículos, há apenas uma matéria, sem continuação interna. Nos três últimos casos, geralmente há um anúncio de meia página ou menor. Já nos cadernos Turismo e Informática, há uma foto de página inteira com título, legenda e chamada para a matéria.


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5.1.2 O Tempo

1 – Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos

No caderno principal, os elementos estão nesta ordem: bigode, título, texto/foto. Raramente (cerca de uma matéria por edição) há foto acima do título, como na página 14 do dia 18/05, seção Tecnologia. As maiores fotos não ocupam mais que 3 colunas de largura – salvo raras exceções, geralmente nas imagens que abrem os outros cadernos. No caderno principal, só na contracapa é utilizado título dentro da foto – esta página é, ao mesmo tempo, a capa de Esportes. Também há título sobre foto nas capas do Magazine e do Viagens. 2 – Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar

As editorias que mais se utilizam de fotos de faces são as de Política e Brasil. Em Esportes há o uso de fotos de corpo inteiro, geralmente dos atletas em ação. Fotos de rosto também aparecem nas outras seções, mas sem predominância. 3 – Tamanho e formatação das fontes: grandes encorajam escaneamento, pequenas aumentam concentração

As fontes de títulos e retrancas no caderno principal são fortes, em negrito e sem serifas. Nos cadernos Magazine e Viagens, são bem mais finas e serifadas, desencorajando o escaneamento. As legendas das fotos superiores e/ou maiores de todos os cadernos, com cerca de 3 colunas de largura, costumam ser precedidas de uma palavra-chave em negrito. 4 – Parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados


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Os parágrafos são curtos, entre 5 e 25 (raramente) linhas (125 a 625 caracteres). Mas o bloco de texto não é pequeno, incluindo aí o texto principal e a retranca, que têm a mesma formatação. Basta notar que as maiores fotos não ocupam mais que três colunas de largura. Além das imagens, toda a área das páginas contém algum tipo de informação e praticamente não há uso de espaços em branco. 5 – Elementos destacados do bloco de texto mantêm a atenção do leitor

Nas maiores matérias há: um bigode de uma linha (cuja primeira palavra é um versal, em negrito); um pré-lead de 4 linhas acima da primeira coluna. Conforme as matérias são menores, são excluídos, nesta ordem: o pré-lead (matérias no pé da página), o bigode (retrancas e notas) e o versal (notas de uma coluna, que têm apenas título e texto). No caderno Magazine, não há pré-lead em nenhuma ocasião, e o bigode está separado do versal, que dá um espaço em branco na parte superior do caderno, o que não ajuda muito a desafogar o bloco de texto. Excluindo-se as retrancas, que têm formatação igual à do bloco de texto, o que diminui a sensação de textos grandes é a utilização de elementos como infográficos (em metade das páginas de Política, de Economia e de Mundo), além de blocos de texto secundários e com estilo diferente, como olhos, boxes, tópicos, numeralha (dados numéricos) e sides (texto secundário que apresenta um outro lado sobre a reportagem e, no O Tempo, tem fonte destacada em negrito e fios superiores coloridos). Todas as páginas de matérias do caderno principal, do Magazine e do Viagens utilizam entre 1 e 4 desses recursos. Das 259 páginas de matérias (excluindo páginas em que há apenas colunas, informes, publicidades e a capa e contracapa do caderno principal): 87 páginas (33,6%) utilizam olhos (predomínio em Cidades e Esportes), 119 (45,9%) utilizam boxes (predomínio em Política, Economia, Mundo e Esportes), 104 (40,15%) utilizam tópicos (predomínio em Magazine e Esportes), 41 (15,83%) utilizam numeralha (predomínio em Tecnologia e Esportes) e 88 (34%) utilizam sides (predomínio em Política, Brasil e Cidades).


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6 – Espaço em branco é bom / coluna única melhora a fixação do olhar

O jornal O Tempo não utiliza espaços em branco no caderno principal. Raramente há uso no Magazine, como no dia 18/05 na página 2 (ao lado de uma coluna, com a utilização de olhos) e na página 5 (em que a entrevista da seção Esotérico é aberta com quadro cinza claro contendo foto e descrição do entrevistado alinhada à esquerda).

Figura 5 – O Tempo, 18/05: espaço em branco na página 2 do Magazine

7 – Não modificar as convenções só para ser “original”

No jornal O Tempo, as fontes dos títulos dos cadernos Magazine e Viagens são mais leves e serifadas. Porém, continuam sendo utilizados em alinhamento


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convencional, não dando mais movimento ou outro atrativo às páginas. Já no caderno Gastrô (21/05), de apenas quatro páginas, a fonte dos títulos é ainda mais fina, porém sem serifa. Nesse caso, há mais movimento, principalmente na matéria de página dupla, em que algumas palavras estão grafadas em corpo maior e com cor diferente. Há uma matéria (páginas 25 e 26, dia 24/05) em que há uma imagem emoldurando todo o conteúdo. O recurso é efetivo para demonstrar que é uma reportagem especial e lembra os hotsites que os portais desenvolvem em coberturas especiais. 8 – Cabeçalho ou fio-data

No fio-data do O Tempo, dois elementos são facilmente visualizáveis: número da página (no canto) e editoria (alinhada para dentro, em negrito e sublinhada com cor). Ao lado do número de página, há duas linhas contendo cidade/nome do jornal e data. Essas duas informações estão em corpo bem pequeno. 9 – Análise da capa – mais índice e menos textos A logo do jornal O Tempo é o segundo elemento da capa – abaixo de uma chamada de uma linha – e não se estende por toda a largura da página. Há um fundo verde escuro e as letras da logo são brancas. O espaço que sobra à direita é aproveitado para alguma chamada e, às vezes, um selo promocional. A manchete quase nunca está aberta em todas as colunas e sua posição varia bastante – aparece como primeiro elemento depois do nome do jornal; como segundo elemento, após algum quadro colorido com chamadas para outro caderno; e até mesmo aparece na metade inferior do caderno no dia 24/05. Nesse dia, uma segunda-feira, o destaque então está na chamada para as matérias de esportes em um grande quadro amarelo (cor da seção), mas caso o jornal esteja dobrado na banca, a manchete não será visualizada.


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Figura 6 – O Tempo, 24/05, capa: manchete na metade inferior – maior destaque para a chamada esportiva, mesmo em corpo menor

Os textos utilizados nas chamadas de capa são pequenos. Predominam os blocos preenchidos com as cores de suas editorias. Aliás, algumas editorias são identificadas com símbolos (Magazine tem o “m.” e Esportes tem o “e.”). Cada chamada é cercada por um box. Com isso, a capa fica cheia, sem espaços, mas considerando-se o tamanho reduzido das páginas do O Tempo em relação aos jornais diários tradicionais em formato Standard, é um recurso para que caibam mais elementos sem que um invada o espaço do outro. Todas as chamadas indicam a página em que aquele conteúdo se encontra. A numeração de páginas tem contagem própria nos cadernos Magazine, Viagens e Gastrô, apesar de eles virem inseridos no meio do jornal, já que o O


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Tempo não costuma ficar dobrado nas bancas e, desse modo, os cadernos não se perdem. As capas dos outros cadernos têm como principais características as cores diferentes, o nome no estilo do nome do jornal (fundo colorido e letras em branco, ou seja, vazadas) e uma chamada ao lado do nome. A capa então abre com uma grande foto e o início da matéria que continua internamente. Já a contracapa do jornal funciona como uma capa do caderno de Esportes, que é a última editoria. O estilo segue o padrão, mas a cor é o mesmo verde da capa e a foto tem apenas uma chamada. Não há o início da matéria como nos outros casos.

5.1.3 Folha de S. Paulo

1 – Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos

O caderno principal da Folha apresenta as matérias com os elementos nesta ordem: título, bigode, pré-lead e texto/foto. Há poucas imagens, pois em muitas ocasiões os anúncios ocupam mais de meia página. Já nos cadernos Cotidiano e Ilustrada e nas poucas matérias de Veículos, as imagens ganham mais destaque, algumas vezes ocupando mais espaço que o bloco de texto e, em outras, aparecendo como o primeiro elemento da página. Já no caderno de Esporte, que tem formato tabloide, as imagens predominam sobre o texto e geralmente aparecem no centro das páginas. Nas páginas B4 e C7 (dia 19/09) encontra-se exemplos de infográficos abrindo a matéria, acima até mesmo dos títulos. É uma utilização ousada, principalmente no caso da página B4, em que ela não é a matéria superior e o infográfico pode parecer pertencer ao conteúdo de cima (porém, no caso, é uma coluna que, por ter colunagem diferente e texto em itálico, ameniza um pouco o risco). De maneira semelhante porém menos arriscada, a matéria da página C4 abre com título em 2 colunas e, nas outras 4 colunas, está o infográfico.


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Figura 7 – Folha de S. Paulo, 19/09: infográfico acima do título da matéria

2 – Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar

Os cadernos em que mais se utilizam imagens (de modo geral) e imagens de faces são Ilustrada e Esporte. No caderno principal, há poucas imagens. Fotos de rosto também aparecem nas outras seções, mas sem predominância. Ou seja, exceto em Ilustrada e Esporte, parece não haver uma preocupação muito grande em utilizar imagens de faces. 3 – Tamanho e formatação das fontes: grandes encorajam escaneamento, pequenas aumentam concentração

As fontes de títulos e retrancas no caderno principal têm bastante negrito e são serifadas. O pré-lead é destacado e tem corpo menor do que o bigode mas, ao contrário deste, tem negrito tão forte quanto o do título, chamando muita atenção. Os intertítulos são em negrito, caixa alta e com uma linha em branco acima. São facilmente lidos, mesmo a uma considerável distância. Alguns títulos não têm negrito, como nas colunas, análises e raramente em matérias ou retrancas – nestes casos, o título perde muito peso e se destaca bem menos em relação ao bloco de texto. Em raras ocasiões o pré-lead não é utilizado (páginas com muitos anúncios e pouco espaço para a matéria, como na página 20 do dia 19/09).


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Nos cadernos de Esporte (páginas D6, D8 e D12), Cotidiano (C7) e Mercado (B8), o bigode aparece com algumas palavras destacadas, também privilegiando o escaneamento.

Figura 8 – Folha de S. Paulo, 19/09: bigode com palavras destacadas no caderno Esportes

4 – Parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados

Os parágrafos são bem curtos, entre 4 e 13 linhas (92 a 299 caracteres). O maior parágrafo encontrado, como exceção, tem 16 linhas. O bloco de texto não é grande. Um dos motivos é que grande parte do espaço é dedicada a anúncios, o que só não acontece no caderno Ilustríssima, que não tem nenhuma publicidade. Nas matérias em que há bastante espaço, seus elementos estão numa divisão harmoniosa (páginas A22 e B4, dia 19/09). Uma explicação é que não são utilizados muitos elementos em uma página e, portanto, eles não “brigam” por espaço.


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Já no caso do caderno de Esporte, as páginas têm a metade do tamanho em relação ao caderno principal e textos em 5 colunas. O tamanho reduzido faz com que haja menos matérias em cada folha. Apesar de os anúncios medirem no máximo 3,5cm X 2 colunas (sempre no canto inferior da página), as imagens são utilizadas em abundância e geralmente centralizadas, dividindo o bloco de texto. 5 – Elementos destacados do bloco de texto mantêm a atenção do leitor

Os intertítulos da Folha ocupam apenas uma linha. São grafados em caixa alta e negrito e, acima deles, há uma linha em branco. Assim, são facilmente visualizados. Retrancas e boxes não são utilizados em demasia e, por isso, são elementos que não se desgastam ao longo da leitura das páginas – quando surgem, são elementos realmente novos a serem observados. 6 – Espaço em branco é bom / coluna única melhora a fixação do olhar

A Folha utiliza muito pouco o recurso do espaço em branco. A grande exceção é o caderno Ilustríssima. Nele, o texto está distribuído em 5 colunas com bastante espaço entre elas. Além disso, suas páginas internas usam muito espaço acima do título e entre os elementos – imagens, olhos, boxes.

Figura 9 – Folha de S. Paulo, 19/09: espaços em branco na p. 3 do caderno Ilustríssima


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No caderno de Esporte, há espaço em branco quando utilizam fotos recortadas. Em relação aos outros cadernos, exceções são as matérias de página inteira – exemplos: A14 e C5, dia 19/05. Na primeira delas, o texto está nas duas colunas das extremidades, enquanto que as quatro colunas centrais abrigam uma grande ilustração que, inclusive, invade o espaço do título e inclui alguns dados, sendo então um infográfico sem cor de fundo. No outro caso, há duas fotos. A primeira está abrindo a página e fica nas 4 colunas centrais. O texto está nas 2 colunas laterais, mas não começa no topo – onde há alguns espaços. A outra foto, na parte inferior, ocupa duas colunas centrais, dando mais espaço para o texto e para um olho de cada lado. Entre as duas fotos, estão o título, o bigode e mais alguns espaços.

Figura 10 – Folha de S. Paulo, 19/09, p. A14: colunas nas extremidades


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7 – Não modificar as convenções só para ser “original”

Alguns cadernos da folha apresentam fontes diferentes para os títulos. Em Esporte, há uma fonte mais encorpada e em itálico, geralmente usada sobre fotos e/ou com preenchimento colorido. Nos cadernos Ilustrada e Veículos, alguns títulos não têm negrito e outros estão em caixa alta. Já em Ilustríssima, há um título em fonte menos encorpada e mais espaçada sempre seguido de um subtítulo grafado com fonte fina e sem serifa – neste caso, não há bigode. Os cadernos de Esporte e Ilustríssima têm como característica visual a diferenciação em relação ao resto do jornal, mas nos outros cadernos não é o caso. Ainda assim, é uma opção para dar mais movimento às páginas – nos cadernos Ilustrada e Veículos, os títulos grafados com fonte diferente estão dispostos de maneira não-convencional. Uma convenção modificada na Folha do projeto gráfico anterior para o atual é a utilização de cores de fundo no cabeçalho da abertura das editorias. Porém, quando isso acontece numa página interna em preto e branco, a leitura fica muito prejudicada, já que as cores de fundo e da fonte se transformam em tons de cinza bem semelhantes (página F5, dia 19/09). 8 – Cabeçalho ou fio-data

A Folha apresenta, no fio-data: número de página, editoria, três estrelas (que fazem parte da marca da Folha), data (dia da semana, dia, mês e ano) – alinhados à extremidade da página – e o nome do jornal – alinhado ao centro do caderno. Os elementos que mais chamam atenção são o número da página e o nome da seção, pois são os que têm o maior corpo – o nome da seção ainda está em negrito. Um diferencial da Folha é a identificação dos cadernos por letras: A para caderno principal, B para Mercado, C para Cotidiano, D para Esporte, E para Ilustrada e F para Veículos/Classificados. Assim, as páginas são numeradas com letra e número e facilitam posteriores localizações. Também são utilizadas na capa.


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9 – Análise da capa – mais índice e menos textos

Figura 11 – Folha de S. Paulo, capas dos dias 20/05 e 19/09: poucas mudanças

A Folha utiliza bastante texto em sua capa – cerca de 5 chamadas contêm texto com formatação igual à do bloco de texto das matérias. Geralmente, o primeiro elemento após o nome do jornal não é a manchete, e sim alguma imagem. Além disso, nem sempre a manchete ocupa todas as colunas, dividindo espaço com alguma chamada menor. Mesmo assim, é um elemento facilmente visualizável a distância, principalmente com a fonte reforçada do atual projeto gráfico – no anterior, a fonte mais fina perdia muito em relação às imagens. Outro elemento que costuma compor a maioria das capas é um bloco colorido com as cores da editoria correspondente e, dentro, apenas a chamada e a página da matéria. A utilização de cores, neste caso, é semelhante à utilizada por grande parte dos sites atuais. Por outro lado, algumas chamadas (geralmente com foto


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ou dentro de algum quadro colorido com o nome da editoria) não apresentam o número da página referente àquele conteúdo. As capas dos cadernos Mercado, Cotidiano, Veículos e Ilustrada são bem parecidas. Todas têm um anúncio de ao menos meia página e apresentam uma matéria, com texto e foto (exceto em Mercado, pois o anúncio é de quase página inteira, havendo então apenas texto). São matérias que continuam nas páginas internas. O cabeçalho de abertura das editorias tem o fundo em azul claro – cor padrão da Folha – e as letras preenchidas com a cor da editoria. À direita, dentro do preenchimento, há duas chamadas em texto para outras matérias, brincando com a inversão das duas cores. A exceção é Veículos/Classificados, em que as cores são invertidas – azul para a letra e laranja para o fundo. No lugar onde nos outros cadernos há duas chamadas, a Folha inseriu o símbolo de seus classificados, um ratinho. Com isso, o fundo laranja se estende por uma faixa vertical à direita, havendo então mais do que apenas duas chamadas. Os cadernos Ilustríssima e Esporte, como ressaltado anteriormente, têm como característica a diferenciação em relação ao restante do projeto. A capa do Ilustríssima tem uma imagem e um índice simples e direto de todo seu conteúdo, contendo apenas o número, o título e subtítulo e a página. Além disso, é o único caderno que apresenta seu nome fora do padrão dos outros cadernos – nem mesmo utiliza a cor azul clara. A capa de Esporte utiliza esse padrão, mas também não apresenta textos na capa, apenas pequenas chamadas. A capa é preenchida por fotos, outra grande diferença.

5.1.4 O Globo

1 – Imagem atrai a atenção antes de manchetes e textos

A ordem geral em que os elementos se apresentam é: título, bigode e texto/foto. Em algumas ocasiões, como nas matérias de Eleições ou em uma série especial (como sobre “infância atrás das grades”, nas páginas 14 e 15 do


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dia 16/05), há um versal acompanhado de uma frase (como um pré-bigode) acima desses elementos. Apesar de ser um jornal em tamanho Standard, não há muito uso de fotos grandes. No primeiro caderno, que varia entre 16 e 24 páginas, não há mais que duas fotos com largura maior que 3 colunas (O Globo é baseado em 6 colunas) e nenhuma foto abre a página ou se extende pelas 6 colunas. Quanto ao uso de imagens, o panorama muda um pouco no Segundo Caderno e completamente no caderno de Esportes, que abusa de fotos grandes, inclusive em sua capa e, internamente, com imagens na vertical. 2 – Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar

A predominância de fotos de faces está nas editorias O País, O Mundo e Esportes. Nas outras editorias, principalmente Economia, Ela (sábado) e Segundo Caderno, também há utilização de imagens em que o rosto aparece. Assim como no Estado de Minas, há ilustrações de pessoas, como políticos e atletas (capa do Prosa & Verso, dia 15/05; p. 12, dia 16/05). 3 – Tamanho e formatação das fontes: grandes encorajam escaneamento, pequenas aumentam concentração

Os títulos têm corpo grande nas matérias que abrem uma editoria, mas bem menores nas outras matérias (nestas, chegam a ter corpo menor do que os do jornal O Tempo, em que a largura das páginas é menor do que em O Globo). Neste segundo caso, comporta títulos de até 45 caracteres, enquanto que em O Tempo cabem 30 caracteres e, compensando-se a diferença de largura de 4,8cm e preservando-se o corpo, caberiam cerca de 35. Os títulos de O Globo também não apresentam padrão quanto à fonte: há uma serifada e outra sem serifas. Ambas são utilizadas tanto no topo da página quanto na retranca, não sendo possível definir que haja alguma regra quanto ao uso de uma ou outra, apenas que a regra seja variar entre elas, visto que em páginas duplas há ambas fontes variando entre todas as funções possíveis. Porém, no Segundo Caderno há mais padronização: as fontes são sempre sem serifa, só variando quanto a terem ou não negrito. No caderno de Esportes, a padronização de títulos é maior ainda: todas sem serifa, com itálico e negrito.


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Neste caderno, os bigodes também são diferentes: maiores (em corpo e caracteres), em itálico e com as primeiras palavras em negrito.

Figura 12 – O Globo, 15/05, p. 26-27: falta de padrão nos títulos

As legendas têm as primeiras palavras em caixa alta, mas o corpo pequeno (igual ao do corpo de texto) e a fonte fina não chamam tanta atenção quanto se estivessem em negrito. 4 – Parágrafos longos e grandes blocos de texto devem ser evitados

Os parágrafos são de tamanho médio, entre 4 (praticamente nunca) e 26 linhas (120 a 780 caracteres). O bloco de texto ocupa a maior parte da página, já que a fonte é a mesma para texto, box e colunas, sem a utilização de cores de fundo. A impressão é de que cada espaço será preenchido por algo, custe o que custar, visto que há dentes no texto para a entrada de fotos ou olhos (O Mundo, p. 45, 16/05). No caderno Ela (p. 4 e 5, 15/05), há uma matéria que começa na


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metade inferior da página esquerda, tem uma imagem ao lado do título e fazendo um dente no texto e, não bastasse isso, termina informando que “continua na próxima página”, mas é difícil estar seguro de qual parte da página 5 é a continuação, já que a matéria começou em preto e branco e, na continuação, está colorida. Enfim, é um tipo de fragmentação que não beneficia a fluidez da leitura.

Figura 13 – O Globo, 15/05, caderno Ela, p. 4-5: dente na 3ª coluna e continuação de matéria do caderno Ela confusa em página colorida – tendo começado em preto e branco

5 – Elementos destacados do bloco de texto (intertítulos, boxes, infografias etc.) mantêm a atenção do leitor

No geral, os intertítulos não chamam atenção: têm a mesma fonte do texto, porém em negrito (nesta fonte, o negrito não fica muito forte), geralmente com duas linhas e centralizados. Há pouquíssimas exceções, como na matéria de capa de Economia (16/05), em que há um intertítulo de duas linhas com fonte bem maior (semelhante ao bigode), sem serifa, com negrito e linhas em branco acima e abaixo.


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Quando há boxes, estes não possuem cor de fundo, apenas um contorno fino. Apenas na parte superior do contorno o fio é mais grosso, mas não o suficiente para diferenciar muito o box do bloco de texto. A fonte é a mesma do texto e o título é serifado em itálico, com corpo não muito maior que o bigode. O jornal O Globo utiliza poucos infográficos, mas eles geralmente têm fundo colorido e, em alguns casos, ocupam boa parte da página (p.3, 16/05). Podem aparecer “substituindo” fotos (isto é, sendo o único elemento que difere do texto em uma matéria), mas usa poucas ilustrações casadas com as informações. 6 – Espaço em branco é bom / coluna única melhora a fixação do olhar

Não há utilização de espaço em branco no que diz respeito a aliviar a leitura do bloco de texto. Ao contrário: o bloco de texto recebe “dentes” para a abertura de fotos (páginas 16, 40 e 41, dia 16/05) ou de olhos (p.4, dia 15/05). Em outros casos, o espaço em branco em torno das grandes aspas dos olhos apenas melhora a visualização deles mesmos (p. 38, dia 16/05/ p. 10, Segundo Caderno dia 16/05), também não aliviando o bloco de texto. Há algumas ocasiões em que é utilizada colunagem falsa. Nos boxes abertos em três colunas, seu texto é apresentado em apenas duas, mas o corpo do seu texto é o mesmo, assim como o espaçamento entre linhas e entre colunas. (p.4, dia 17/05).

Figura 14 – O Globo, 15/05, p. 4: espaço em branco contornando os olhos cria dente e não alivia leitura do bloco de texto


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7 – Não modificar as convenções só para ser “original”

Há ocasiões em que o O Globo utiliza imagens abrindo a matéria (Economia, p. 37, 16/05) ou sob título e bigode (Ciência/Saúde, p. 42, 16/05), mas nestes casos os recursos são alternativas que se apresentam bem. O que foge muito ao princípio da repetição no design do O Globo são as fontes de títulos – há dois padrões distintos, sem que seja possível identificar qual é utilizado para matérias mais importantes, pois ambos são utilizados para as primeiras matérias das editorias e para as retrancas – e também os títulos dos cadernos que, apesar de não serem vendidos separadamente, não apresentam semelhanças entre si (quanto a fonte, cores, tamanho), como se fossem produtos distintos. 8 – Cabeçalho ou fio-data

O fio-data é outro elemento que apresenta modificações dependendo de onde aparece. Sobre páginas de matérias, é formado por: número de página e nome da editoria (no canto, fonte serifada, em maiúsculas e corpo de mesmo tamanho); nome do jornal (centralizado, fonte sem serifas, em maiúsculas e corpo menor, do tamanho das legendas); e data (alinhado ao centro do jornal, mesma fonte e corpo do nome do jornal, maiúscula apenas no início da frase). Dividindo o fio-data do conteúdo, há dois fios em tons de cinza. Em páginas duplas, o nome do jornal e a data ficam centralizados. Na seção Opinião, em lugar dos dois fios está o nome do jornal (com a mesma fonte em que aparece na capa, corpo menor e fundo preto). No caderno principal, a abertura das editorias internas se apresenta com o nome dela sobre um fundo preto fixo e envolto pelos fios que separam o fio-data das matérias. A mesma estrutura é utilizada na capa do caderno Economia (que também é como uma continuação do caderno principal e contém outras editorias internas) e na capa do caderno Prosa & Verso (15/05) – porém, o nome deste caderno é escrito em corpo maior. 9 – Análise da capa – mais índice e menos textos


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O primeiro elemento das capas do O Globo é o nome do jornal. Na verdade, é um quadro colorido que começa com o site sobre fundo verde, depois alguns fios amarelos e o nome do jornal sobre fundo azul. Depois desse bloco colorido, está a data do jornal, centralizada, e o nome dos antigos presidentes, Irineu e Roberto Marinho, com suas datas de nascimento e falecimento (alinhados à esquerda e direita, respectivamente). Os nomes deles estão em negrito e são mais facilmente visualizados do que a data, que vem entre o nome da cidade e o ano/número da edição. Apenas no pé da página constam informações como preço e número de páginas, informações completamente separadas do cabeçalho.

Figura 15 – O Globo, 19/05, capa

As capas do jornal O Globo utilizam muito texto na capa. Essas pequenos blocos após as chamadas estão em corpo maior do que o dos textos das matérias. Na metade superior da capa, raramente há alguma imagem – se há, é pequena, e haverá uma maior na metade inferior. A manchete sempre está


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envolta por um quadro fino e apresenta ao menos dois textos separados como chamadas para matérias/colunas sobre o mesmo assunto – ou seja, a manchete sempre é dada sobre um tema abordado internamente em mais do que apenas uma matéria. As chamadas menores costumam aparecer na lateral esquerda ou no pé, sempre com texto e o título sempre variando o padrão: fonte serifada, fonte sem serifas e com negrito, fonte com serifas e itálico. Com a utilização de fios contornando alguns elementos, é comum o uso de colunagem falsa, o que é bem-vindo, considerando-se a fonte maior do que nas páginas internas. A capa do dia 16 de maio, domingo, está toda baseada em 4 colunas (as outras, em 6). Algumas chamadas são precedidas por um fio azul que contém o nome da editoria em que a matéria se encontra. Outro elemento que sempre está na capa é uma charge do Chico, com fundo branco mas envolta em um quadro de fio duplo. Todas as chamadas indicam a página – informação em negrito e fonte sem serifas, razoavelmente destacada. As capas dos outros cadernos apresentam poucas chamadas, abrindo com matérias e às vezes contendo anúncios de ¼ de página, no inferior. No caderno Economia, as capas são como páginas internas, com uma matéria. Como dito anteriormente, são uma continuação do caderno principal e até apresentam outras editorias internas. Não há chamadas nessa capa. No caderno de Esportes, sempre há uma grande foto com manchete enorme. Apenas no dia 19 de maio, quarta-feira, houve chamadas para outras matérias, também em fontes bem grandes. No dia 21 de maio, a imagem está sob o nome do caderno também. É o único caderno em que o seu nome não está sob o fio azul com o nome do jornal, mas sob um fio verde com a data – e o nome “O Globo” está dentro da letra “p” de “Esportes”. No Segundo Caderno, o nome da editoria está sobre fundo branco, fonte em caixa alta sem serifas ocupando toda a largura da página e abaixo do fio azul contendo o nome do jornal. Entre estes dois elementos, há duas chamadas com pouco destaque, em tons de cinza. Abaixo, uma matéria com grande foto e geralmente outros elementos (olhos, box, fotos menores). A matéria está em colunagem falsa (3 a 5 colunas, dependendo da edição, sendo que no dia 15 de maio a foto, o título e o bigode, todos com a mesma largura, fazem um dente no texto em 3 colunas. Algumas vezes, a matéria continua nas páginas internas). Já


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no dia 20, a foto está aberta em toda a página. Os elementos textuais são apenas título, bigode e um lead chamando para a matéria interna. Enfim, é uma capa com pouca padronização, a não ser pela utilização de grandes fotos e títulos e bastante liberdade para os elementos textuais. No sábado, 15 de maio, mais dois cadernos. Ela apresenta seu nome sobre fundo branco e com cada letra colorida com uma cor diferente, todas bem espaçadas e como se fossem pintadas a mão. Uma grande foto está aberta em toda a página, que também apresenta título, lead como chamada para matéria interna e mais duas fotos destacadas. Já o caderno Prosa & Verso tem seu nome grafado com a mesma fonte e cor do Segundo Caderno, mas sobre um fundo colorido (assim como em Economia). Dos dois lados há chamadas. Abaixo, uma matéria com uma grande ilustração e uma coluna larga de texto que continua nas páginas internas. Título e bigode estão em fontes bem maiores do que nos outros cadernos.

5.2 Outras observações

algumas

características

em

comum

entre

seções/cadernos

e

suplementos de todos os jornais analisados e que destoam do padrão visual de suas matérias. Iniciando pelas seções de Opinião/Leitor e Editoriais (onde também há colunas e artigos). Todos os jornais analisados apresentam estas seções com colunagem falsa (5, 4 ou 3 colunas) e podem também ter apenas um texto com ainda menos colunas. Não há utilização de fotos nos Editoriais, apenas ilustrações ou charges, na maioria em preto o branco. As páginas de entretenimento (Cultura, TV) contêm listas com a programação de cinemas, eventos artísticos (show musical, teatro, exibições de artes plásticas etc.) e televisão. Ao contrário da Internet, onde se pode preencher várias páginas e, com isso, dificilmente um conteúdo precisará ser espremido para caber, as páginas dos jornais apresentam essas listas em fontes bem pequenas e, muitas vezes, a massa de texto torna-se densa, não convidativa e difícil de ser lida – principalmente no jornal O Globo, onde chega a haver uma página dupla contendo apenas listas, sem imagem alguma.


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Fugindo disso, alguns jornais utilizam a opção de cadernos de TV e cadernos com a programação de eventos do fim-de-semana: caderno “TV”, do Estado de Minas; caderno “TV Tudo”, de O Tempo e “Revista da TV”, de O Globo – todos veiculados aos domingos; caderno “Divirta-se”, do Estado de Minas e caderno “Fim de Semana”, de O Tempo – veiculados às sextas-feiras. Nestes e em outros cadernos dedicados a assuntos de entretenimento ou a análises e matérias não factuais, os jornais fazem experimentações que não cabem nas editorias mais corridas, onde a dinâmica da informação mais recente necessita de recursos como o cardápio de diagramação – que contém os esquemas de possíveis disposições do conteúdo para as matérias. Estes cadernos são publicados no máximo uma vez por semana, e o tempo disponível permite que a informação seja trabalhada de forma singular para cada matéria. Além dos cadernos de TV e os de eventos de fim-de-semana (já citados anteriormente), há os que são dedicados ao público infantil/adolescente: na Folha de S. Paulo, o infantil Folhinha e o adolescente Folhateen (dias 15 e 17 de maio, respectivamente e, portanto, antes da reforma gráfica e editorial); no Estado de Minas, o infantil Gurilândia e o adolescente Ragga Drops (dias 22 e 20 de maio, respectivamente); e em O Globo, o infantil Globinho e a revista jovem Megazine (dias 15 e 18 de maio, respectivamente). As três modalidades de cadernos exploram, principalmente: utilização de imagens de fundo; utilização de cores e imagens com sangria (isto é, as cores e imagens podem ser impressas até as extremidades das páginas, ao contrário dos cadernos principais em que, geralmente, a impressão deve respeitar um contorno que ficará em branco – devido à tecnologia das impressoras mais rápidas); e textos ainda menores. Boa parte dos cadernos especiais tem a impressão e o papel de melhor qualidade, especialmente em O Globo – e exceto na Folha de S. Paulo. No jornal carioca, só o infantil Globinho é impresso em papel da mesma qualidade em relação aos cadernos principais – o jornal também tem os já citados Revista da TV e Megazine, além do Boa Viagem, dedicado ao turismo, e do Razão Social. Há também a Revista O Globo, do dia 16/05, em que a capa é de papel couché brilhante. Esse aspecto da mídia impressa, ao menos até agora, é um grande e importantíssimo diferencial em relação à mídia eletrônica, já que a possibilidade de explorar as imagens no fundo dos blocos de texto é bem maior.


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No Estado de Minas, o caderno Divirta-se tem papel jornal de melhor qualidade e impressão que permite sangria. Além dele e dos já citados Gurilândia, Ragga Drops e TV, também há os mais convencionais Agropecuário e Direito & Justiça, além do Hora Livre, que contém apenas passatempos – os três são do dia 17 de maio, segunda-feira. Os dois caderninhos de O Tempo (TV Tudo e Fim de Semana) são impressos em papel jornal igual ao do caderno principal, mas ao menos a capa tem sangria. Este recurso, aliás, é muito útil quando há seções identificadas por cor e essas cores podem ser vistas nas bordas das folhas, servindo como marcadores para o leitor – recurso que é explorado nos cadernos Divirta-se, do Estado de Minas, e Megazine, de O Globo, mas apenas o caderno mineiro apresenta o índice já com as cores. Os caderninhos de O Tempo também são os menores, e conseqüentemente seus textos também: as páginas têm ¼ do tamanho do caderno principal. A experimentação continua quando se trata do aspecto textual – mais uma vez, especialmente no jornal O Globo. Os cadernos Boa Viagem e Megazine são os únicos que realmente apresentam texto como em revistas, isto é: o texto de uma matéria continua em outras páginas, principalmente no caderno dedicado ao Turismo. Já o Razão Social, apesar de também ter as páginas em tamanho reduzido, privilegia textos grandes e, em relação aos outros cadernos especiais, há menos liberdade para as imagens e cores – apesar de, na matéria de capa, utilizar uma moldura com fotos coloridas. Também há alguns casos de experimentação nos cadernos convencionais dos jornais. A Folha de S. Paulo tem a Folha Corrida (“a semana em 11 frases”), uma seção de uma página que apresenta falas que marcaram a semana. É uma página com muito espaço em branco e algumas fotos – elementos dispostos com certa liberdade pela folha. No novo projeto gráfico, predomina o azul claro, cor escolhida como padrão para a maioria dos elementos. No pé da página estão também as manchetes da semana. Já no Estado de Minas, a metade inferior da segunda página é dedicada a uma continuação de chamadas de capa – e, na Internet, é raro algum espaço em que não haja chamadas. Outra experimentação – e esta está bastante relacionada à Internet – pôde ser observada em algumas páginas dos dois jornais mineiros. É um recurso parecido com a utilização de textos escondidos em um link ou uma imagem e que


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só aparecem ao se passar o mouse em cima – o texto geralmente é explicativo. No jornal O Tempo (Magazine, p. 5, 20/05), há termos no bloco de texto que estão destacados (negrito, cor e um símbolo antes do termo). Em uma coluna separada, há um texto sobre cada um dos três termos destacados. Não coincidentemente, esta é a página da seção “blogdepapel” – que, em julho, tornou-se “rededepapel”, assumindo como tema a Internet, de modo mais abrangente. O mesmo recurso foi utilizado de modo diferente pelo Estado de Minas no caderno Informática (p. 3 e 4, 20/05) e também no caderno Turismo (p. 3, 18/05). Um termo é destacado com uma cor como se tivesse sido riscado por um marca-texto e, dele, segue um fio levando para o texto que pode ser explicativo ou oferecer informações extras.


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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No tópico 5.2 da análise fica evidente que há experimentação nos jornais impressos e que, algumas vezes, são ideias que podem ser observadas na Internet – exemplo é o recurso de realçar alguns termos para que sejam explicados posteriormente. O conceito de link fica evidente neste caso, mas não é por causa da Internet que existem as chamadas de capa – que também são como links. Neste caso, apenas há semelhança quanto à função indicial. Isso porque esta pesquisa não analisa a influência da web no jornal impresso, mas as semelhanças na utilização e disposição dos elementos visuais. Porém, na análise do elemento que primeiro chama atenção, não era a intenção observar uma semelhança com a web, pois cada meio tem suas características e, ao menos neste caso, já é possível afirmar (considerando as pesquisas utilizando EyeTrack) que, enquanto as imagens são a porta de entrada na visualização de uma página impressa, no conteúdo online são os textos a serem visualizados primeiro. Com isso, o importante é que cada meio organize a disposição de seus elementos privilegiando o modo de leitura próprio dele. Neste aspecto, foi possível observar que são raras as páginas em que não há uma foto, ilustração ou infográfico com considerável destaque – a ordem em que são apresentados não parece ser o aspecto mais importante, segundo as pesquisas com EyeTrack. Também há de se destacar que, cada vez mais, os jornais utilizam poucas páginas (ou nenhuma) em preto e branco, demonstrando a importância das imagens e também das cores, que auxiliam na criação de uma identidade visual para os jornais ou para seções dentro de cada um deles. Os princípios da repetição e do contraste ficam evidentes nessa criação de identidade. Além disso, o constante contato das pessoas com tecnologias cada vez mais avançadas torna alguns recursos obsoletos. A diminuição no tamanho dos blocos de texto, muitas vezes atribuída à mudança no hábito de leitura principalmente das pessoas que utilizam a web, não ajuda apenas a atrair leitores considerados “preguiçosos”: também faz com que haja mais espaços e, consequentemente, o bloco de texto ficará mais bem


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distribuído, privilegiando a concentração na leitura. Tenham os textos ficado menores por influência da Internet ou não, pode-se comentar sobre a semelhança entre essa característica e a colunagem dos textos da web: a leitura linear, devido à coluna única padronizada para os textos online, ajuda o leitor a não desviar a atenção para outros elementos, o que acontece no jornal quando é preciso “correr os olhos” pela página procurando pela continuação de um texto assim que uma coluna chega ao fim. Neste caso, os sites e jornais utilizam o princípio da proximidade e do alinhamento no design das páginas, especialmente o Estado de Minas – mas raramente o jornal O Globo. Toda a pesquisa foi feita considerando-se os hábitos de leitura observados a partir das pesquisas com EyeTrack. Nelas, concluiu-se que uma mesma pessoa pode visualizar páginas de modos diferentes – escaneando a página para procurar algo de seu interesse e, ao encontrar, mudando para uma leitura metódica. Porém, se Mario Garcia (2010) acredita que o hábito de leitura mudou tanto em tão pouco tempo – ao argumentar sobre quanto caiu o tempo gasto para escanear uma página ao longo da última década – e sendo o hábito de leitura influenciável por vários aspectos – como observado no tópico 3.1, em que Briggs e Burke (2006, p. 198) apontam que a realidade de “mercado”, em evidência desde as décadas de 1880 e 1890, começou a dar ao público o que ele queria – é possível que a popularização dos tablets (como Kindle e iPad) influencie fortemente o hábito de leitura nas mídias impressa e online, já que, ao menos inicialmente e apesar da possibilidade de exibição de galerias de imagens e vídeos, são ferramentas que exibem eletronicamente uma informação com a cara do produto impresso.


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7 REFERÊNCIAS

7.1 Referências Bibliográficas

BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

COMM, Joel; BURGE, Ken. O poder do twitter: estratégias para dominar seu mercado e atingir seus objetivos com um tweet por vez. São Paulo: Gente, 2009.

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.

FRANÇA, Vera. Paradigmas da comunicação: conhecer o quê?. In: MOTTA, Luiz Gonzaga... [et al.]. Estratégias e culturas da comunicação. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 10ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

LEMOS, André. Comunicação e práticas sociais no espaço urbano: as características dos Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirredes (DHMCM). In: Comunicação, Mídia e Consumo / Escola Superior de Propaganda e Marketing v.4, n.10 (julho 2007). SP: ESPM, 2007.

MOLINA, Matías M. Otimismo apesar da queda. Valor Econômico. Sexta-feira e fim de semana, 19, 20 e 21 de março de 2010, ano 10, nº 491. Reportagem de capa, p. 4-11.

NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2003.

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WILLIAMS, Robin. Design para quem não é designer. 7ª ed. São Paulo: Callis, 1995.

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7.2 Referências Eletrônicas

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LIMA JUNIOR, Walter Teixeira. Tecnologias emergentes desafiam o jornalismo a encontrar novos formatos de conteúdo. In: Comunicação & Sociedade, Ano 30, n. 51, jan./jun. 2009. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/CSO/article/download/860/911>. Acesso: 19 set. 2010.

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TROYJO, Marcos. Qual o futuro dos jornais impressos? 21 abr. 2009. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=534IMQ005>. Acesso em: 05 maio 2010.

VASCONCELOS, Izabela. Especialista diz que jornal impresso é modelo de negócio insustentável. Comunique-se, 29 out. 2009. Disponível em: <http://www.comunique-se.com.br/Conteudo/NewsShow.asp?idnot=54043& Editoria=8&Op2=1&Op3=0&pid=151382468241&fnt=fntnl>. Acesso em: 19 set. 2010. VERDE – A INDÚSTRIA GRÁFICA RENDEU-SE À CAUSA ECOLÓGICA. Itu: Paulo Stucchi, edição 117. Disponível em:


79

<http://issuu.com/desktop/docs/desktop_117>. Acesso em: 14 set. de 2010.


80

8 ANEXO

EYE-TRACKING: AS INTERAÇÕES INCONSCIENTES DO USUÁRIO 02 de janeiro de 2009, 22:31 (http://webinsider.uol.com.br/2009/01/02/eye-tracking-as-interacoesinconscientes-dos-usuarios/)

Para melhores resultados, é importante entender que o olhar é atraído ou não em certas partes da página. Acompanhar o movimento dos olhos ajuda a analisar o comportamento do usuário.

Por Philip Rhodes

(...)

* 1. Texto atrai a atenção antes de gráficos.

Usuários não são atraídos apenas por imagens. Usuários casuais irão a um site procurando por informações, não imagens, e por isso, eles procurarão mensagens chave buscando comunicação clara.

* 2. Não modifique as convenções só para ser ?original?.

Usuários necessitam sentir confiança quando acessam o site, consequentemente, apesar do estilo mais autoral parecer interessante, o design não deve tentar mudar radicalmente os hábitos dos usuários se o site quiser ser bem sucedido.

* 3. Leitores ignoram os banners.

Os estudos tem demonstrado que os leitores ignoram banners, apenas focando neles por uma fração de segundos. Se o site se apóia em faturamento proveniente de venda de banners, necessita então ser criativo na localização ou no tipo de anúncio que insere. Nós temos visto que anúncios considerados


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“relevantes” ou “relacionados” ao conteúdo da página são normalmente mais bem sucedidos (em termos de tempo de fixação) do que aqueles incongruentes com o conteúdo.

* 4. Formatações e fontes extravagantes são ignorados.

Os estudos tem demonstrado que usuários tem dificuldade em encontrar informações em fontes com formato grande e colorido. O site deve ser enxuto e não “gritante”, ou importantes elementos poderão ser encobertos.

* 5. Mostre números como números.

É mais fácil encontrar informações objetivas quando os usuários visualizarem numerais ao invés de números literalmente escritos. Perceba que os usuários irão inicialmente escanear o site, então será mais fácil para eles encontrar o que precisam e se manter interessados.

* 6. O tamanho das fontes influencia o comportamento visual.

O tamanho da fonte afeta como os usuários olham para a página. Pesquisas demonstram que fontes pequenas aumentam o comportamento de concentração de foco visual, enquanto fontes maiores encorajam o escaneamento da página. Obviamente, textos muito pequenos não devem ser utilizados.

* 7. Usuários só lêem um subtítulo se este os interessa.

Apesar de subtítulos poderem ser úteis, nossas pesquisas tem demonstrado que usuários prestam pouca atenção neles. Os usuários irão focar atenção nos subtítulos apenas se estiverem interessados no conteúdo após escanear os títulos da página. A inclusão de palavras chave diretamente relacionadas ao conteúdo tem sido considerada útil para orientar os usuários.

* 8. As pessoas normalmente escaneam as partes baixas da página.


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Uma vez que os usuários estão em partes mais “profundas” do site eles visualizam o conteúdo como fazem com o topo da página (escaneando). Ressaltar certas sessões ou incluir listas com marcadores é particularmente útil para auxiliá-los a focar a atenção em certas áreas de conteúdo.

* 9. Parágrafos curtos funcionam melhor que parágrafos longos.

A informação deve ser desenhada para um período curto de atenção da maior parte dos usuários. Parágrafos e sentenças devem ser mantidos curtos, ao menos que o contexto imponha a se fazer diferente, como no caso de descrição de produtos em um site de e-commerce.

* 10. Formato de coluna única funciona melhor para a fixação de olhar do que o formato multi-coluna.

Duas colunas podem sempre desestimular usuários devido a excesso de informação. Manter as áreas de conteúdo simples é geralmente melhor. Nossas pesquisas tem mostrado que usuários ficam menos tempo em conteúdos disponibilizados em múltiplas-colunas.

* 11. Anúncios localizados próximos aos conteúdos mais importantes são vistos com maior frequência.

Apesar de anúncios serem geralmente ignorados, aqueles posicionados próximos ao conteúdo principal são visualizados por maiores períodos de tempo do que os próximos ao conteúdo a ser visualizado (escaneado). Isto é particularmente evidente se o anúncio é relacionado ao conteúdo principal.

* 12. Anúncios em texto são visualizados mais intensamente do que outros tipos de anúncios.

O usuário médio de internet geralmente não perde tempo olhando conteúdo dos anúncios. Este é o porquê de anúncios em texto funcionarem melhor do que anúncios gráficos ou animados.


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* 13. Imagens de faces (rostos) claras e limpas atraem mais o olhar.

Fotografias abstratas ou artísticas são interessantes, mas não vão ganhar muita atenção dos leitores. Fotografias de pessoas causam uma fixação um pouco mais longa, particularmente quando são de pessoas ?reais?, e não modelos.

* 14. Cabeçalhos e títulos atraem a atenção.

Leitores focam a atenção em manchetes ou títulos em páginas mais profundas no site. Perceba que as manchetes/títulos são menos importantes na homepage.

* 15. Usuários gastam muito tempo procurando botões e menus.

Links navegacionais necessitam de um design bem feito, destacado e imediatamente inteligível. Afinal, eles não apenas atraem a fixação, mas são um dos elementos mais importantes do site.

* 16. Listas mantém a atenção do leitor por mais tempo.

Listas fazem usuários focar a atenção no conteúdo, o uso de números ou bullets é também importante no momento de destacar as informações mais importantes do conteúdo.

* 17. Grandes blocos de texto devem ser evitados.

Estudos tem demonstrado que em média, o visitante na web não perderá tempo para ler e estudar grandes blocos de texto, não importa quanto informativo ou bem escrito isto possa estar. Destacar áreas específicas e utilizar bullets pode também ajudar a manter a atenção do usuário.

* 18. A formatação pode atrair a atenção.


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Utilizar negrito, letras maiúsculas, itálicos, cores e sobrescrito pode auxiliar usuários no momento de escanear textos, entretanto, estes estilos de formatação devem ser utilizados de maneira criteriosa, uma vez que o exagero fará a página difícil de ler e espantará os leitores.

* 19. Espaço em branco é bom.

Por mais que seja tentador colocar alguma coisa em cada parte da página, é melhor sempre deixar áreas do site livre de qualquer texto. Sites com muito texto desestimulam os usuários ? a regra é manter a página visualmente simples e permitir espaços visuais abertos para que os leitores descansem seus olhos.

* 20. Ferramentas navegacionais funcionam mais quando colocadas no topo da página.

(...)

Sobre o autor:

Philip Rhodes é Ph.D. em Information Design. Especialista em soluções centradas no usuário das áreas financeiras, educacional e telecomunicações. É diretor de Customer Experience Research & Design da fhios.


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