BARREIRAS comunicacionais |estratégias de interface com o espaço público|
projeto de instalação de equipamentos de uso cultural em um espaço público na cidade de São Carlos - SP
Rodrigo Scheeren Orientador: Marcos Marchetti Arquitetura e Urbanismo UNICEP
BARREIRAS comunicacionais |estratégias de interface com o espaço público|
projeto de instalação de equipamentos de uso cultural em um espaço público na cidade de São Carlos - SP
Rodrigo Scheeren Orientador: Marcos Marchetti Arquitetura e Urbanismo Centro Universitário Central Paulista Trabalho de Graduação Integrado 2016
RESUMO
A proposta desse trabalho é investigar e apresentar estratégias de apropriação para a “ativação” de uma área pública na cidade de São Carlos – SP. A partir da relação entre os espaços públicos e privados, pretendese articular estratégias projetuais e interfaces materiais de apropriação socioespacial por meio de equipamentos de uso cultural comunitário em um local que se apresenta como uma área de terreno residual ou subutilizado. A concepção de projeto não se limita a um local específico, mas pode ser replicado em situações e territórios semelhantes, tanto na cidade escolhida, quanto em cidades com configurações e problemáticas semelhantes. Palavras-chave: Espaço público, arte-arquitetura, produção socioespacial, apropriação, espaço relacional.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
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01. INVESTIGAÇÃO TEÓRICA
10
01.1 Conceito e problematização 01.2 Espaços públicos x espaços privados 01.3 Justificativa 01.4 O território da cidade de São Carlos 01.5 Referências de projeto
11 18 19 20 26
02. INVESTIGAÇÃO PROJETUAL
38
02.1 Mapas temáticos 02.2 Fotos do local e do entorno 02.3 Memorial descritivo 02.4 Programa de necessidades 02.5 Diagramas de projeto 02.6 Modelo de estudo 02.7 Anteprojeto
38 43 49 53 54 58 60
CONCLUSÃO
83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
87
8
9
APRESENTAÇÃO
Este trabalho envolve uma longa trajetória acadêmica no curso de Arquitetura e Urbanismo. Ele consiste na síntese de uma investigação iniciada na disciplina “Pré trabalho de graduação interdisciplinar”, desenvolvida no “Trabalho de graduação Interdisciplinar I” e formalizada no “Trabalho de graduação Interdisciplinar II”, do qual este caderno representa o material resultante. A inquietação de apresentar uma proposta temática unusual, com a qual eu não havia me envolvido anteriormente, tornou-se um desafio a ser projetado. Ao longo das disciplinas de trabalho de graduação, o processo de investigação projetual foi caracterizado pela constante experimentação. Esta experimentação iniciou pela formulação teórica e abrangeu estratégias de projeto ligadas à arquitetura contemporânea, que se configura por um domínio de incertezas. Desse modo, agradeço o acolhimento da proposta e a confiança depositada durante o trajeto pelo professor orientador Marcos Marchetti.
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CAPÍTULO 01 Investigação Teórica
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01.1 Conceito e problematização O conceito, delimitado pela proposta elaborada no trabalho, é fundante para o desenvolvimento do projeto, pois embasa todos os princípios que guiam a composição das ideias e para a justificativa da proposta. Ele parte de uma intrincada relação teórica e de aplicação prática entre questões da filosofia, da psicanálise, da arquitetura, do urbanismo, e da arte. Tais relações reverberam na configuração espacial, no repertório formal, no programa delimitado e no território escolhido para a sua realização. O conceito de “barreiras comunicacionais” foi formulado segundo a noção de que são manifestas diversas formas de obstáculos físicos e fenomênicos na experiência da relação entre os espaços públicos e privados em diversas cidades brasileiras - crescentemente em cidades médias do estado de São Paulo, como São Carlos, nas quais essa prática se encontra em processo de ampliação. A noção emerge da percepção pessoal acerca da quantidade e da possibilidade de se efetuar muramentos para delimitar e restringir o acesso ao espaço privado - intransponíveis até mesmo para o olhar -, da intendidade da ocupação residencial, da setorização de atividades na cidade, dos lotes espremidos, da falta de permeabilidade e contato com o solo, do tráfego intenso que barra o deslocamento, da parca e fragmentada quantidade de áreas públicas
qualificadas para o uso comum, entre tantos outros fatores. O meu estabelecimento recente na cidade de São Carlos evidenciou a desconformidade desse tipo de relação com os diferentes espaços, o que destoa do contexto do qual tenho meu vínculo de nascimento uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul. Logo, ao perceber essa série de restrições implementadas, surgiu o questionamento sobre quantas relações humanas deixam de permear esses locais. O tema trata de reverter esse processo, por meio de um projeto com equipamentos de cunho cultural e usos diversos, que fomenta o uso comunitário dos mesmos, implementado em área pública configurada por um terreno residual ou subutilizado. A própria ideia de cultura, um termo bastante abrangente, é apropriada a partir de Eagleton (2000) como cultivo, seja de atividades, trocas, relações, produção, entre outros, vistos como positivos para fomentar a superação dessas barreiras de comunicação. Há uma variedade de fatores que determinam um contexto limitador para a promoção da diversidade cultural e da aproximação ativa entre as pessoas, que remetem a problematização esboçada adiante. Segundo as pesquisadoras brasileiras Maria Sposito e Eda Góes (2013, p. 9), a crescente decisão pelo enclausuramanto nos centros urbanos se deve a fatores como a sensação de violência e insegurança, além de processos
12 como a individualização da sociedade, a racionalidade econômica, o aprofundamento das diferenças e a ampliação das práticas orientadas pelo consumo. Essas características deslocam o interesse de valores relacionados ao compartilhamento, trocas e vínculos simbólicos para o cálculo e a relevância da materialidade, além do narcisismo individualista. A patologia das relações psíquicas que envolve o medo, a percepção da violência e do perigo, determinam a escolha dos “espaços para habitar”, tornando a cidade cada vez mais dispersa e fragmentada (SPOSITO; GÓES, 2013, p. 41). Nessa relação ampliada de tensões, limitações e divergências, a importância da esfera pública acaba sendo depreciada em virtude da esfera privada. Certas noções estão materializadas no espaço público – com seu caráter amplo, inclusivo e múltiplo – e no espaço privado – de caráter individualizante, restrito e fechado -, distinguindo-os. A natureza social, política e simbólica do espaço público necessita ser constantemente ressignificada e historicizada, para que não se perca no decorrer das gerações. Isso porque ele é capaz de sintetizar a identidade e a referência do local para a experiência dos usuários – algo que compreende valores de formação e de reconhecimento das ações em espaços comuns. O problema surge quando a percepção acerca do potencial do espaço público acaba perdendo relevância em virtude de práticas que enfatizam a dimensão controlada e particular dos eventos,
impedindo a livre apropriação coletiva dos espaços de forma a compatilhálo diversificadamente. Em decorrência desses fatores, os processos de produção e ocupação dos espaços públicos, acabam por receber menor relevância dos setores representativos da sociedade que deveriam se responsabilizar pelos mesmos. O Estado e as Instituições correlatas cedem o seu papel e capacidade de intervenção a terceiros ou se ausentam de criar e manter espaços de sociabilidade, levando ao encolhimento dos espaços públicos nas cidades. Logo, dada a sua relevância, é necessário pensar os seus limites e afirmar as suas potencialidades constantemente. O psicanalista brasileiro Christian Dunker analisa que a dimensão individual subjetiva é moldada num processo defensivo em virtude da sensação de perigo extraída do exterior. a gente pode entender o condomínio mais além da forma concreta de vida entre muros, como uma espécie de patologia das nossas relações com o outro e com o espaço social, no sentido de que os condomínios [físicos] proliferam no Brasil num momento em que o Estado se demite da função de organizar o espaço público. Ele entrega isso para iniciativas independentes que vão ter muita autonomia para definir quais são as regras e a maneira de habitar aquele espaço que não é mais exatamente público. É uma espécie de concessão (VELOSO, 2015).
13 O processo de concessão não se limita ao domínio da propriedade, mas contamina a dimensão das atividades e das relações interpessoais, induzindo à individualização. O recurso de significação do espaço público como “espaço público político” estende o seu valor da esfera de compartilhamento para a de formação, encontro, interação e realização da condição humana que, segundo a filósofa alemã Hannah Arendt, fomenta uma participação democrática e a oportunidade de sair do isolamento e evitar a alienação (ABRAHÃO, 2005, p. 3). Como consequência de um estado de desequilíbrio entre essas instâncias, podem ocorrer distorções na sociabilidade por meio da segregação, do isolamento entre setores e classes e a formação de limites virtuais que impedem mediações pessoais, pela construção de espaços intransponíveis, além de interfaces funcionais e culturais ausentes. Na cidade de São Carlos, percebemos esses elementos cotidianamente na área urbana, com muros, áreas fechadas, escassez de locais públicos qualificados para o seu uso, setorização da cidade e a crescente criação de “espaços residenciais fechados” (SPOSITO; GÓES, 2013, p. 4). Sposito e Góes (2013, p. 7) partem da hipótese de que “novas formas de produção do espaço urbano, que contribuem para o processo de fragmentação socioespacial, geram novas práticas socioespaciais”.
14 Isso se deve a fatores como a partilha territorial pemitida pelo Plano diretor e o Código de obras municipal – que permitem terrenos com um mínimo de 5m de testada, fragmentando demasiadamente as quadras -, além dos recuos de alinhamento das edificações, com altura menor a 6m, poderem ser de dimensão zero1. No artigo 3º do Plano Diretor Municipal2, que define que “a cidade cumpre suas funções sociais na medida em que assegura o direito de seus habitantes ao acesso”, o ponto VI assegura a ação de “criar pontos de atratividade com implantação de equipamentos e atividades de turismo, eventos culturais e científicos” – o que está em consonância com a proposta desse projeto. A ideia é a de “ativar” o espaço público não qualificado existente para que, através do programa, possam ocorrer eventos no local com maior frequência. Para que isso aconteça, a proposta deve seguir certas diretrizes que associem a dimensão simbólica do local às intenções de promoção cultural por intermédio da criação de artefatos que se encontram na fronteira categorial entre a arte e a arquitetura. O crítico de arte e historiador estadunidense Hal Foster (2011) comenta
que há uma crescente condição contemporânea de engajamento entre arquitetos e artistas na apropriação do espaço público, criando conexões estratégicas e de significado para os projetos: estratégicas em virtude da ampliação das possibilidades de inserção da proposta no espaço existente, e de significado ao ampliar a leitura da obra – seja ela artística ou arquitetônica - em relação ao sujeito que a usufrui.
1 Mais informações no Anexo I da Lei Nº 15.958/11 - Código de Obras e Edificações, a Tabela 2 – Recuos das edificações e distância das aberturas às divisas. <http://www. saocarlos.sp.gov.br/images/stories/legislacao_urbanistica_municipal/Tabelas%20-%20 Anexas%20Lei%2015958.pdf> 2 Plano disponível no site: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/pdf/ Lei_13691_05_Plano_Diretor.pdf>
Isso porque a arte contemporânea exige que seja experienciada na sua dimensão temporal, na abertura de um diálogo sem fim. É “a cidade que permite e generaliza essa experiência de proximidade: esse é o símbolo tangível e a base histórica do estado social” (BOURRIAUD, 2006, p. 160).
O curador e crítico de arte francês Nicolas Bourriaud aproxima a obra de arte ao espaço social, pensando na interação entre as pessoas e o seu contexto social pelo que denomina “arte relacional”, a partir da qual as obras enfatizam o espaço de encontro e trocas entre as pessoas: são capazes de nos tirar dos espaços privados de consumo. Segundo ele – e o que pode ser absorvido também em relação à arquitetura contemporânea -, o que está entrando em colapso é “simplesmente a concepção pseudo-aristocrática de como as obras de arte devem ser apresentadas” (BOURRIAUD, 2006, p. 160). Isso significa que as expressões artísticas devem ser deslocadas do seu estatuto erudito e disposto em um altar para poucos apreciadores, para o ambiente público e de fácil acesso.
15 A cidade é reconhecida como locus do encontro e do acontecimento que tem valor em si, potencializado pela arte que está relacionada com algo outro, concomitantemente sendo “um fator na sociabilidade e sendo sempre a base para o diálogo” (BOURRIAUD, 2006, p. 161). A investigação do trabalho converge por uma via de tipos de planejamento alternativo que sejam capazes de absorver o que emerge de cada local, providenciando epaços adequados para isso. O que se pretende conceber são critérios de consolidação de “formas de reorganização na escala local que reflitam uma nova atitude com relação à vida coletiva no meio urbano” (ROSA, 2011, p. 16). O que foi conceituado pelo autor como “microplanejamento” (ROSA, 2011), visa expandir os limites tradicionais da disciplina, constituído a partir de práticas sociais e culturais que conforma espaços abertos à intervenção. O objetivo desse tipo de intervenção é recuperar relações de vizinhança que foram degradadas ou empobecidas, por meio da rotina de atividade laboral, da mecanização geral das funções sociais que reduzem gradualmente o nosso espaço relacional e de ação. A obra e o artista começam a demandar a participação do público, criando um constante domínio de trocas. Assim, a obra pode funcionar como um dispositivo que cria relações e estabelece interfaces de comunicação entre os indivíduos: para que possam se olhar e se reconhecer em suas diferenças.
16 A intervenção, para além de um trabalho paisagístico que manipula o solo e o território, conformando uma paisagem, determina certa “montagem” (assemblage) (DELEUZE; GUATTARI, 2005) – a ideia da criação de uma rede de relações através do auto-ordenamento de materiais diversos que se entrelaçam - de um território particular em área residual urbana. Otilia Arantes (1998, p. 131-2) lembra que após o colapso da ideia de planificação da cidade como a mais acabada expressão da organização do espaço habitado coletivo, as intervenções urbanas vêm acontecendo de forma pontual e, por vezes, modestas. Contudo, segundo ela, não podemos recair no discurso que apenas substitui a ideologia do plano por outras, como a da diversidade e da identidade local, em que os conflitos e as incertezas estão escamoteados. O arquiteto e professor italiano Pier Vittorio Aureli (2015) aponta que recentemente – mais especificamente desde o período de crise econômica de 2008 - a cultura arquitetônica tem presenciado o aumento das práticas participatórias e de ativismo: uma nova onda de arquitetura socialmente interessada. Com a intervenção, a ideia é qualificar a área pública e torná-la apta a receber pessoas, para estabelecerem relações e encontros, motivando atividades e a criação. Segundo Betsky (2016), a arquitetura vai se desprendendo finalmente da sua obsessão pela eternidade ao lidar com o momento, através de estruturas temporárias e efêmeras, que
combinam diversão e seriedade, e colocam o fator social de volta à consciência arquitetônica. Além disso, essas estratégias envolvem o que denomina “área de ativismo social ou urbanismo tático”, distinguindo-se do planejamento social de estilo antigo em favor da ação direta, de baixo para cima: “o ponto é, para a arquitetura, se dissolver em nossa cultura popular tão rápido quanto possível” (BETSKY, 2016). Estratégias similares de intervenção no espaço público adotadas pelo mundo, e principalmente nos Estados Unidos, foram denominadas “tactical urbanism” (BERG, 2012), que aresentam estratégias para melhorar o ambiente urbano por meio de intervenções de pequena escala. Apesar da nova denominação, não há nada de original nesse tipo de intervenção, o que ocorre é um chamamento à participação mais ativa da comunidade em atividades como o fechamento de ruas para encontros, reforma de locais abandonados, a instauração de novos usos e programas de áreas degradadas, entre outros. Apesar de uma iniciativa que deve ser enaltecida, esse tipo de acontecimento terceiriza uma função que cabe ao Estado de gerir e qualificar esses espaços, impedindo uma apropriação que pode se tornar de cunho privado e individualizante. O trabalho compreende a intervenção em uma área pública residual na cidade de São Carlos (SP), com a finalidade de criar um equipamento de uso público a partir de um programa misto que ative o espaço,
17 permitindo a livre apropriação socioespacial, promovendo uma interface de comunicação entre os usuários e diluindo as relações entre o público e o privado. Os vários pontos apresentados convergem no que denomino “barreiras comunicacionais”, ou seja, elementos materiais, hábitos, causas históricas, entre outras, que determinam o efeito de limitar o convívio entre diferentes estratos sociais, extrapolando os limites da esfera privada. O problema do trabalho é pensar como superar essas “barreiras comunicacionais” através da criação de um equipamento arquitetônico de uso público. Tal prerrogativa se desdobra no desafio de conceber uma infraestrutura que promova uma integração pública, por meio de dispositivos fixos, móveis e até efêmeros. O desafio do projeto está em propor uma arquitetura de vertente contemporânea, que contemple fatores locais por meio de uma abordagem multidisciplinar. Englobar o ideário de uma arquitetura contemporânea se deve ao trabalho partir da contextualização e de uma proposta conceitual teórico-crítica que emergem da análise dos aspectos locais, focando no programa e nos eventos que possam surgir de uma articulação complexa. Só então a materialidade do projeto é montada, com base em uma linguagem múltipla e de construtibilidade acessível, gerando uma interface de integração com o entorno construído.
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01.2 Espaços públicos x espaços privados Concebemos o termo espaço público geralmente em oposição ao termo espaço privado. Segundo Delgado (2011, p. 17), antes de 1990, a concepção de “espaço público” era a de um termo utilizado pela teoria da cidade de forma genérica e sem nenhuma ênfase especial: definia os espaços abertos e acessíveis da cidade. Desse modo, a ideia de espaço público é, atualmente, concebida com um significado mais carregado, a partir do senso de um espaço de afirmação, com o qual os indivíduos, enquanto pertencentes a uma coletividade, possam se identifcar. O espaço público, legado para operações urbanísticas, “passa a ser concebido como a realização de um valor ideológico, local no qual se materializam diversas categorias abstratas como democracia, cidadania, convivência, civismo, consenso e outros valores políticos...” (DELGADO, 2011, p. 10). Os valores do espaço público - aberto, social, político, de encontro, de resistência -, em contraposição aos do espaço privado - fechado, nucleado, individualizado - permitem a liberdade de usufruir os direitos de uso em relação a cidade como um todo. Logo, as formas de uso do espaço público são distintas dos usos do espaço privado.
O espaço público emerge quando há um ambiente favorável para a expressão e manifestação, no qual os grupos e indivíduos podem tornar a si mesmos e as suas diferenças visíveis (MITCHELL, 2003, p. 33), ante um ideário de universalidade e homogeneização dos mesmos. Os espaços públicos, como espaços de representação, devem permitir as práticas da população e garantir o direito à reunião, ou seja, é o locus que possibilita a formação de comunidades políticas que visem a esfera da ação. Através dessas ponderações, a proposta de projeto que se buscou efetivar não desconsidera a importância do caráter privado de certos espaços, mas pretende evidenciar a relevância de criar estratégias, por vezes simples, para qualificar uma área pública e, assim, promover um ambiente adequado para a apropriação da população. O destaque dessa relação configura a base da discussão teórica que conformou a problematização teórica e a resposta projetual para o terreno de intervenção escolhido na cidade de São Carlos.
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01.3 Justificativa
Em virtude do crescente processo de enclausuramento que afeta de modo concreto as cidades médias – como São Carlos -, espaços públicos livres acabam sendo desprestigiadas tanto pelo poder público, em termos de investimento e manutenção, quanto pela população. A inserção de uma infraestrutura básica e dos equipamentos culturais por meio da proposta projetual experimental para se investigar a apropriação dos poucos espaços livres públicos, opera com o intuito de aproximar uma diversidade de usuários e práticas. Desse modo, permite a geração de uma série de ações como atividades físicas, contemplativas, lúdicas, artísticas, comunicativas, comerciais, entre outras. Além disso, a instalação dos equipamentos cria um território propício para a livre apropriação do espaço em feiras livres, encontros e eventos culturais que são frequentes na cidade, tais como o “Festival Contato”, o “Grito Rock” e outras atividades singulares que podem ser ativadas pelos “pontos de cultura” existentes na cidade. Outro ponto considerado relevante é que somente a partir da criação de determinados espaços que as demandas de uso e apropriação surgem.
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01.4 O território da cidade de São Carlos A cidade de São Carlos, fundada em 1857, se encontra no interior do estado de São Paulo, a 230 km da capital. O seu processo de formação está diretamente relacionado aos regimes de ocupação do estado durante os séculos XVIII e XIX, consolidado posteriormente através da expansão da cultura do café. A região começou a ser ocupada devido a descoberta de ouro na extensão que converge os atuais estados de Goiás e Minas Gerais, abrindo-se caminhos, aglomerados e entrepostos de passagem que ligavam São Paulo à região - o que ficou conhecido como “Picadão de cuiabá” (LIMA, 2007, p. 21). Nesse processo de passagem, as áreas de terra foram sendo ocupadas e, posteriormente, conformaram o território que originou a cidade. O significativo processo de expansão da cidade aconteceu na virada do século XX, com o auge da economia cafeeira (LIMA, 2007, p. 59). A rua Miguel Petroni, o eixo de expansão que se liga à região de domínio do território de intervenção, é um fragmento do traçado original do Picadão de cuiabá (LIMA, 2007, p. 86). O padrão urbanístico racionalista direcionou a organização dos centros urbanas de várias pequenas vilas que se elevavam ao status de cidades, não sendo diferente em São Carlos.
Percebemos aqui um signo de constante expansão para o oeste, em suas diferentes escalas e microescalas na cidade. A expansão para o oeste nos leva ao imaginário desenvolvimentista e de exploração do desconhecido, da expansão de fronteiras e criação sobre um território tabula rasa. Desse modo, da tabulação quadrangular encontrada na região central da cidade, difere-se no processo de expansão fragmentado que costurou uma morfologia urbana irregular ao longo da expansão territorial do restante da cidade. O terreno escolhido para a intervenção está situado no bairro Santa Felícia, a noroeste da cidade. O seu parcelamento foi realizado no ano de 1968, integrando a 3ª zona de expansão da cidade (LIMA, 2007, p. 130). São Carlos contou, nesse período, com um grande incentivo ao seu desenvolvimento tecnológico, industrial e educacional1. Isso se deve, em parte, a instalação das Universidades públicas como o campus da USP em 1953 e o da UFSCar na década de 1970. Tais fatos também implicaram em uma abertura para a diversidade cultural e atrairam pessoas de diversos pontos do país e do exterior para conformar a população que habitou e usufruiu a cidade ao longo das décadas recentes. Na sequência das imagens, visualizamos os limites da cidade e a sua morfologia, aproximando à área escolhida para a intervenção projetual. 1 Informações disponíveis em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/historia-da-cidade/115269-historia-de-sao-carlos.html>
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Avenida Miguel Petroni
Pista de skate do Jardim Santa FelĂcia SAAE Avenida Bruno Ruggiero Filho
Terreno escolhido
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Avenida Bruno Ruggiero Filho
Terreno escolhido
Sentido Shopping Iguatemi
24 O mapa, adaptado de Lima (2007, p. 130), mostra o avanço dos parcelamentos do solo no município de São Carlos, entre os anos de 1857 e 1977. A região central, delimitada pelo perímetro em vermelho, foi conformada durante um longo período, entre os anos de 1857 e 1929. O perímetro em azul, estabelecido em 1958, representa uma ampliação das bordas do centro estabelecida para todas as direções, de forma proporcional. Desse modo, a cidade ainda funcionava muito em torno de seu centro, ligando-se ao acesso pela rodovia ao norte. O perímetro em amarelo, estabelecido em 1962, representa pouca ampliação das bordas qo que estava estabelecido anteriormente, a não ser a grande área a nordeste que se encontra no limite da rodovia. Essa ampliação já demonstrava um esboço da criação das áreas periféricas, a fim de se distanciarem do centro, para adquirirem outros tipos de usos e ocupações. O perímetro em cinza, estabelecido no ano de 1972, amplia de maneira generosa a área urbana, no sentido da criação de zonas suburbanas, complementando a ligação com a rodovia. É nesse período de expansão que se encontram os loteamentos que compõem o território de intervenção do projeto.
25 O mapa ao lado mostra a diversidade morfológica adquirida ao longo da consolidação da cidade. O resultado é uma malha muito heterogênea, consolidada pelos diferentes loteamentos e formatos de terrenos ao longo dos anos, principalmente a partir do perímetro de 1962. Em destaque no mapa ao lado, a representação da malha quadriculada tradicional, originária na região central, e a malha retangular, estabelecida a oeste - no território de intervenção do projeto. As duas diferem não só no formato, mas em sua direção. Os loteamentos com quadras retangulares favoreceram segmentos muito extensos de conjuntos de terrenos, já que, nessa região, são compartimentados, em sua grande maioria, com testada curta. Já as quadras quadrangulares são compostas por conjuntos de terrenos com testadas que favorecem uma maior área de contato com o passeio e a rua.
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01.5 Referências de projeto
A sequência de projetos apresentados a seguir exerceram o papel de referências iniciais para o processo criativo. Advindos de diferentes contextos e determinados para escalas variadas, demonstram a quantidade de elementos que podem ser aplicados para se ativar espaços que estavam subutilizados ou não estavam qualificados para o uso público. Esses elementos se materializam de modo formal e programático, em configurações por vezes complexas, em outras, muito simplificadas. Estão elencados onze projetos dentre tantos outros que compuseram o quadro de estudos para a investigação do trabalho. A sua diversidade está expressa em propostas para micro intervenções urbanas, macro planos urbanos, requalificações de estruturas existentes, novas inserções de equipamentos públicos, espaços culturais e uma intervenção artística.
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Parc de la Villette
Bernard Tschumi Paris - FRA 1982 - 1998
Em relação a extensão da área apropriada pelo projeto, a referência ao “Parc de la Villette” - proposta ganhadora de um concurso -, em Paris, do arquiteto Bernard Tschumi, é primordial pela distribuição territorial dos diversos equipamentos, que criam marcações e referências nodais para o local. Além disso, a configuração projetual parte da estruturação das camadas de um programa amplo em relação aos eventos protagonizados em cada setor. As follies são peças de infraestrutura dispostas regularmente, abertas para apropriações e usos diversos, inseridas regularmente e criando uma malha regular abstrata no território, conferindo uma noção de escala para o conjunto. O projeto estabelecido em camadas, os vários equipamentos dispostos no território identificando uma malha e as múltiplas linhas de livre circulação exibidas pelos caminhos expõem a complexidade do projeto.
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The Playing Field
Assemble Southampton - ING 2014
O projeto “The playing field”, na cidade de Southampton na Inglaterra, do coletivo Assemble, instala um equipamento de uso público, aberto e de montagem simples, que permite uma série de atividades, como apresentações artísticas e até práticas desportivas. O dispositivo cria um cenário relacionado à cultura local que é convidativo para a apropriação da comunidade, que permanece aberto. O espaço abrange a possibilidade de descanso e contemplação, além da sua capacidade de receber múltiplas atividades, numa espacialidade acolhedora e convidativa. A estrutura e a materialidade são facilmente montáveis e transmitem uma atmosfera de conforto e trabalho artesanal através do uso da madeira e de elementos metálicos leves.
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Centro aberto: experiências na escala humana
Prefeitura Municipal de São Paulo São Paulo - BRA 2013 - 2014
A proposta de interveção “Centro aberto: experiências na escala humana”, no Largo São Francisco, desenvolvida pela Prefeitura de São Paulo, busca requalificar uma área pública já existente. Isso acontece por meio de estratégias simples como a construção de um deck de madeira - no qual as pessoas possam descansar e se encontrar -, instalação de iluminação pública, usufruto da empena lateral do prédio para projeções multimídia e a instalação de outros equipamentos de apoio. Mais do que um processo de reforma, a escolha dos elementos que conformam o espaço visam atrair pessoas para a apropriação do local, antes subutilizado, por meio de diversas atividades. Por mais simples que os materiais ou as estratégias possam parecer, elas denotam a preocupação do poder público com esse tipo de área residual na cidade.
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A cidade é para brincar
Coletivo Basurama São Paulo - BRA 2013
A singela interveção “A cidade é para brincar”, durante o evento “Virada Cultural” em São Paulo, no ano de 2013, pelo coletivo Basurama, instalou um playground aberto à uma apropriação incomum do Vale do Anhangabaú. Os balanços são convidativos para pessoas de qualquer idade usufruirem do espaço de uma maneira incomum ao seu uso cotidiano, que é meramente de passagem. A utilização de materiais reciclados comprova a facilidade em se criar novos equipamentos lúdicos para espaços já estabelecidos e que apresentam uma interface não favorável a esse tipo de apropriação. Mais do que uma simples brincadeira, a ideia se tornou um modo de criar uma outra espacialidade e temporalidade para o local.
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Urban Spa
PKMN [pac-man] architectures Chihuahua - MEX 2015
O “Urban Spa” consiste em uma instalação temporária em parque urbano que cria uma forma de centralidade em escala atrativa para as pessoas usufruirem. A intervenção, proposta pelo coletivo PKMN architectures, estabeleceu um local de encontro e descanso por meio da construção de decks de madeira parcialmente cobertos com elementos simples como restos de madeira e lonas, aberto ao uso cotidiano e que está circundando uma fonte de água. A estratégia de partir de estruturas metálicas leves erigidas verticalmente sinaliza o objeto no local, referência perceptível à distância. A espacialidade efêmera, que adota materiais reutilizados e objetos préfabricados, conforma ao local limites facilmente transponíveis, explora a ideia de um ambiente aberto e acessível.
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New York High Line
Diller Scofidio + Renfro Nova Iorque - EUA 2009 - 2011
A revitalização de uma antiga linha de trem elevada no subúrbio de Nova Iorque, transformou a pesada estrutura metálica em um parque linear. O espaço é aberto e convidativo para uma série de atividades, com locais para caminhada, contemplação, descanso e práticas culturais. A intervenção paisagística absorve elementos e tipos de plantas que já se encontravam no local, adaptando novos objetos às pré-existências. A iniciativa transformou uma infraestrutura obsoleta em um símbolo de identidade para a região, que é mantido pela comunidade local. As estratégias adotadas são estéticamente muito agradáveis, instalando bancos, pisos, iluminação e pequenas estruturas de arquibancada, além da vegetação.
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Superkilen
BIG + Topotek1 + Superflex Copenhague - DIN 2012
O projeto da praça linear apresenta uma configuração extremamente heterogênea em seu visual e em seu programa. A intenção foi a de agregar uma série de elementos e motivos que estão relacionados a dezenas de países pelo mundo, representado-os de forma simbólica ou com objetos implantados. A praça agrega locais para esportes e área de caminhada, além de uma série de equipamentos lúdicos e espaços para o brincar. O resultado formal destoa do entorno pelo uso de cores fortes e traçados contínuos, o que demarca uma intenção dos arquitetos de trabalhar pelo excesso e pelo choque. A configuração espacial representa uma grande bricolagem de peças, criando uma atmosfera particular para a região da cidade.
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The Nelson-Atkins Museum of Art
Steven Holl Kansas - EUA 1999 - 2007
A ampliação do museu de arte é composta por cinco volumes interconectados pelo subsolo, aflorando no terreno como ícones transparentes e luminosos que se fundem na paisagem. O caráter delicado das superfícies dos volumes expõe uma dimensão efêmera da intenção projetual, frente a construção existente. A proposta funciona como ícones de luz para o exterior e, ao mesmo tempo, como receptores de iluminação natural para o seu interior. O constante jogo entre o material e o imaterial confere ao projeto características dinâmicas e uma linguagem contemporânea de leveza, assimetria e continuidade. Apesar de não intaurar uma linguagem contextualista em relação ao existente, sua proporção caracteriza a obra como uma interferência comedida.
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Limmat Footbridge and Promenade Lift
Leuppi & Schafroth Architekten Ennetbaden - SUI 2007
O projeto de infraestrutura estabelece uma conexão entre dois vilarejos na Suíça. A verticalidade e linearidade da ponte conferem um conjunto uniforme por meio da estrutura metálica, além de um marco da intervenção humana na paisagem do local. O equipamento cumpre a função de criar uma infraestrutura segura para a travessia e também serve como um mirante para a observação do entorno, a partir do seu ponto mais alto. O resultado formal é singelo e a tonalidade ocre do material estabelece relação com a natureza na qual foi implantada. A composição das peças, com duas linhas horizontais e uma vertical de circulação, construídas em estrutura metálica, resolve o problema de forma simplificada e fornece uma referência construtivista ao projeto.
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Eco Boulevard
Ecosistema Urbano Madri - ESP 2007
A inserção de uma série de equipamentos em uma “praça seca” na Espanha, visa dinamizar a sua transformação através do tempo e criar centralidades para a apropriação diversificada da população local. A infraestrutura funciona como suporte tecnológico auto-suficiente, capaz de produzir a própria energia e como viveiros de árvores para serem utilizadas em processos de regeneração do próprio entorno. Os volumes se inserem de modo icônico na paisagem, com uma forma bruta que parte da estrutura aparente e a sua funcionalidade explícita, através dos diferentes elementos tecnológicos empregados. Além disso, os equipamentos funcionam como abrigos e locais de encontro para os moradores da região.
37
Portal Park Slice
Robert Irwin Dallas - EUA 1978
A escultura do artista estadounidense Robert Irwin é uma intervenção site-specific no território de uma praça consolidada no centro da cidade estadounidense. A lâmina de aço corten configura uma inserção geométrico que corta a topografia do terreno, estabelecendo um elemento contínuo que cria uma situação de barreira visual e espacial a ser transposta pelo usuário. O posicionamento da peça demarca a intervenção da técnica do ser humano sobre a natureza, em sua imensidão e materialidade. A barreira condiciona a orientação do sujeito e passa a sensação de algo intransponível pela sua massa e peso. Ao mesmo tempo, surpreende pela abertura de uma passagem que se aproxima da escala do usuário.
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CAPÍTULO 02
Investigação Projetual
02.1 Mapas temáticos
Ao longo do processo de investigação, uma série de dados e informações foram levantados para a compreensão do entorno imediato ao território de intervenção. A partir deles, foi possível estabelecer diretrizes projetuais mais objetivas em relação ao que já estava consolidado. A sequência de mapas apresentadas a seguir representa um levantamento efetuado no entorno próximo, de um alcance de 30 metros de distância do terreno de projeto. As informações foram compartimentadas em quatro mapas: dimensões do terreno, altura das edificações, uso do solo e fluxos das vias. No primeiro, percebemos a extensão do terreno e a suavidade da inclinação da topografia em suas cotas naturais. No segundo, mostra-se a predominância de construções de um pavimento, o que se modifica nas duas quadras a leste, com mais verticalização. No terceiro, prevalece o uso residencial, mas com presença consistente de comércio e a inusitada existência de indústria. No quarto mapa, evidencia-se uma importante via de tráfego, com um fluxo que se dispersa para dentro do bairro, convertendo-se em uma intensidade menor, apenas para acesso local às residências.
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DIMENSÃ&#x2022;ES DO TERRENO Escala 1/2000
40
1 pavimento
residencial
2 pavimentos
comércio / serviço
vias arteriais
3 a 4 pavimentos
industrial
vias coletoras
misto com habitação
vias locais
5 a 7 pavimentos
ALTURA DAS EDIFICAÇÕES Escala 1/2000
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1 pavimento
residencial
2 pavimentos
comércio / serviço
vias arteriais
3 a 4 pavimentos
industrial
vias coletoras
misto com habitação
vias locais
5 a 7 pavimentos
USO DO SOLO Escala 1/2000
42
encial
ércio / serviço
vias arteriais
strial
vias coletoras
o com habitação
vias locais
FLUXOS E VIAS Escala 1/2000
43
02.2 Fotos do local e do entorno
As fotos extraídas do local revelam uma grande área gramada com uma série de árvores de estatura média, que foram plantadas com distanciamento regular, formando uma grelha reticulada no espaço. Apesar de não existir nenuma barreira física, os limites virtuais do terreno são pouco ultrapassados pelos moradores da região em direção ao seu interior. Isso porque o espaço não é convidativo para ser livremente usufruído.
Não há nenhum equipamento ou infraestrutura conservada para o uso público na área. Além disso, podemos encontrar pontos de acúmulo de lixo em seu interior. Da área pública, são utilizadas principalmente as suas bordas, seja as vagas de estacionamento, seja a rua de ligação entre as duas praças para a feira do produtor rural. Também, a calçada é utilizada para caminhadas e passeios com animais. A “praça” recebeu formalmente o nome de “bosque dos ipês”, o que denota que o espaço foi inaugurado, mesmo sem alguma ação significativa, no ano de 2009. Tal fato apresenta a falta de manutenção e de um projeto apropriado, por parte do poder público, para o local.
44
45
46
47
48
49
02.3 Memorial descritivo
A ideia inicial era escolher 3 terrenos, de perfil semelhante, em áreas distintas da cidade – predominantemente residenciais e com características de enclausuramento dos perímetros privados -, para apresentar a possibilidade de instalação dos mesmos equipamentos nos diversos cenários. Contudo, escolhemos um único local, para que fosse possível nos concentrarmos na tarefa de absorver as características do contexto. O terreno escolhido para o projeto se encontra no bairro Jardim Santa Paula, na cidade de São Carlos. O terreno se encontra na Macrozona 2 (ocupação condicionada), com as seguintes diretrizes:
No entorno, predominam os terrenos com dimensões de 10x30m (segundo mapa de parcelamento do solo disponível no site da Prefeitura Municipal1), com algumas áreas desocupadas. A análise dos mapas mostra que há poucas áreas verdes na na cidade e, dentre elas, existem poucas áreas públicas no setor. Ao contrário do mapa da Prefeitura, que categoriza alguns espaços como sistema de recreio, apenas uma parte delas é efetivamente aberta ao uso – como no caso da sede da SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) e da Guarda Municipal, que se encontram em locais como esses mas são fechados, ambas situam-se próximas ao local inserido para a implantação do projeto -, diminuindo ainda mais as áreas disponíveis para lazer. Alguns desses espaços não estão qualificados para receber o público, seja pela falta de um tratamento paisagístico que o configure como praça, seja pela falta de um disposição de equipamentos. O fluxo principal de veículos está concentrado na avenida Bruno Ruggiero Filho, o que limita a travessia de pedestres em horários de pico no sentido bairro – praça. Ao lado leste do terreno, as ruas se destinam a ser quase todas vias coletoras e locais, o que acarreta um fluxo menor de veículos, facilitando o acesso por essas vias. 1 Informação disponível no site: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/habitacao-morar/154835-mapas-loteamentos-cidade-distritos.html>
50 Os lotes da região se desconfiguraram ao longo do tempo em relação ao projeto original, que tinham dimensões homogêneas em quase sua totalidade do conjunto. Ao longo dos anos, alguns lotes pequenos (300m²) foram desmembrados e outros foram remembrados para a implantação de edificações de uso industrial leve. As edificações do entorno apresentam tipologias bem variadas em relação às quadras nas quais estão implantadas. Em sua maioria, edificações retangulares estreitas que ocupam quase a totalidade do lote. Assim, utilizam o índice de ocupação em quase sua totalidade, fechando a edificação para o seu interior e não promovendo áreas verdes. A ocupação na região é majoritariamente residencial, incluindo alguns pontos comerciais e de serviço, principalmente na avenida Bruno Ruggiero Filho. Há ainda duas indústrias leves nas quadras próximas, contribuindo para um uso bastante diversificado do entorno. A altura das edificações é de um patamar baixo, em sua maioria térreos e algumas com dois andares. O fator de verticalização só é percebido nas edificações das indústrias leves. O padrão de acabamento das edificações é muito variável, desde residências sem acabamento externo até residências de padrão médio, relacionado ao nível de renda dos moradores que também é diferenciado.
Com base nos levantamentos e estudos efetuados, foram aplicados certos princípios e ideias que partiram da formulação conceitual na forma de estratégias diversas. A partir da localização das áreas públicas e praças nas regiões próximas ao local (ver Mapa de áreas públicas e praças nas regiões próximas ao local na seção 2.5) – que geraram um diagrama de manchas -, foram traçadas “linhas de força” que cruzam o terreno e das quais se fixam marcações no território e se elevam muradas ou projeções das mesmas. Desse modo, cria barreiras que remetem metaforicamente às ideias de separação e isolamento, mas ao mesmo tempo convida os usuários à experiência de transposição das mesmas. As demarcações que não se materializam em barreiras são a sua manifestação virtual, conferindo traçados e estruturas efêmeras no espaço. Os objetos e equipamentos alocados para o projeto seguem uma ideia de alfabeto: cada um remete a uma base tipológica específica criadas especificamente para o projeto. A série de objetos arquitetônicos representa, em conjunto com outros elementos espaciais, o programa estabelecido para o projeto. Há os quatro marcadores verticais que funcionam como elementos fixos de referência para os usuários, em conjunto com outros elementos fixos e alguns efêmeros.
51 A disposição do programa ocorre de forma setorizada e por camadas, ligadas por uma grande área de passeio. A área está organizada com os equipamentos abertos ao uso público livre, com acessos principais pelas quatro laterais - pela calçada da quadra que levam a um passeio centralizado ou indiretamente. A intenção de sua disposição no terreno foi a de proteger esses equipamentos e seus usuários do fluxo de veículos nas ruas do entorno. A partir do processo de expansão urbana da cidade (relacionada à expansão histórica da região para o oeste), a retícula quadrangular do centro se converteu em uma morfologia retangular, estirando o tecido territorial nessa direção. A formatação dos equipamentos e da projeção de seus setores segue essa diretriz, a fim de imprimir uma marca interna que projeta o entorno loteado. A extensão virtual das muradas , por meio de marcações no piso, pretende romper as proprias barreiras que os limites do terreno impõem, extrapolando-os para costurar a nova intervenção com o entorno existente. Também foram procuradas outras referências simbólicas da cidade para serem inseridas no projeto. Uma delas é a linha férrea, que corta o interior da praça, compondo parte da área do deck em madeira. Complementarmente, a disposição de dois espelhos d’água remetem ao vasto recurso hídrico existente na cidade, mas que não é percebido
na região próxima. As estruturas dos equipamentos, seus elementos e materiais remetem ao legado da indústria da cidade. Essa estratégia compõe um tipo de bricolagem. A montagem desses elementos se funde ao programa, acrescentando uma camada extra ao projeto. Para além das referências projetuais já apresentadas - que serviram para prover ideias formais, organizacionais e programáticas -, as estratégias de projeto foram extraídas de projetos e teorias, e dizem respeito a intervenções efetivas aplicadas ao projeto. Assim, a dimensão crítica da teoria soma-se à dimensão projetiva de uma proposta que intenta operar dentro das dinâmicas de funcionamento da sociedade local. Logo, contêm elementos abstratos e contextualistas, simultaneamente. O arquiteto Daniel Libeskind utilizou muito das linhas de força na criação de seus diagramas para o projeto do Museu Judaico de Berlim, no qual cruza uma série de antigos endereços de judeus na cidade, que se tornam as marcações para os volumes e circulações da edificação. Peter Eisenman (2001) já utilizava em seus diagramas, o que denominava como “escavações” para se criar num local a princípio em branco, referenciais simbólicos para o projeto a partir de referências externas ao contexto próximo. O arquiteto e teórico Josep Montaner (2016) relembra uma série de casos na arquitetura contemporânea nos quais os arquitetos pensaram nos projetos como “suportes” para receberem diferentes
52 tipos de materialidades e apropriações. A proposta é experimental no sentido de que não apresenta uma tipologia de programa comumente associada ao termo “cultura” - museu, centro de exposições, teatro, etc. - mas se propõe a convergir diversos fragmentos de elementos em uma composição que não é de fácil definição, pois alude ao espaço público e a uma série de equipamentos e tipologias reunidas. Um dos principais direcionadores da proposta é a qualificação do espaço por meio da utilização de materiais que não tornem a sua execução demasiado custosa, com a possibilidade de reutilização e reciclagem de material descartado pela indústria da construção e de trensformação. As luminárias verticais ocupam uma seriação que remete ao grid quadrancular de mudas de árvores existentes no terreno. Além delas, se pensou da disposição de iluminação em baixo dos bancos e na extensão das demarcações no piso referentes às linhas de força que demarcam as muradas. As árvores foram escolhidas em dois conjuntos: um para a calçada e outro para o interior da praça. As árvores plantadas já existentes seriam mantidas ou replantadas, de acordo com o projeto. Para a calçada, uma árvore de porte médio, como a Dama-da-noite (Murraya paniculata). Para
o interior da praça, poderiam ser plantadas árvores do tipo Ipê (Tabebuia sp), Alfeneiro (Ligustrum lucidum), Oiti (Licania tomentosa) e o Jasmimmanga (Plumeria rubra) com seu porte menor. As calçadas foram alargadas para gerar espaços de caminhada, com larguras de 8 metros a 5 metros (com pontos de passagem mínima de 3 metros). As áreas de estacionamento que invadiam a área da calçada foram rearticuladas em uma distribuição de forma linear, com as vagas dispostas paralelamente ao fio da calçada. Desse modo, se pretende que o projeto articule uma série de estratégias simples às propostas de projeto.
53
02.4 Programa de necessidades
[Lúdico] 01 Playground infantil (168 m²) 01 Área com equipamento para exercícios físicos (135 m²) 02 Caminho d’água (total 110 m²) 01 Quadra poliesportiva com arquibancada (590 m²) [Serviço] 01 Área de horta urbana (1.038 m²) 01 Bicicletário (paraciclo) (15 m²) 01 Estação de aluguel de bicicletas (15 m²) 01 Biblioteca comunitária (240 m²) [Descanso] 03 Platôs para descanso (total 115 m²) 18 Banco linear (total 150m²) 01 Área de deck (757 m²) 01 Torre de observação / mirante (25 m²) [Apoio] 03 Conjunto de banheiros – masculino e feminino (25 m²) 10 Estrutura para feira e comércio (25 m²) 01 Posto da Guarda Municipal (15 m²) 01 Estação de ônibus (42 m²)
[Artístico] 01 Espaço de anfiteatro (560 m²) 01 Área para instalações e apresentações artísticas (410 m²)
Diagrama do programa de necessidades, mostrando as proporções de cada área, agrupados segundo as relações funcionais e de relevância de cada equipamento. A prioridade da disposição de cada um dos elementos na espacialidade do projeto está expressa na proximidade ao centro.
54
02.5 Diagramas de projeto
Os diagramas de projeto foram dispositivos de representação importantes para o processo de concepção projetual. Neles, foram aplicados os princípios conceituais, organizadas as atividades e simuladas as relações entre as partes do programa. Essa estratégia foi aplicada em um momento inicial, a fim de evitar uma pré-determinação arquitetônica sem uma experimentação com o programa. Desse modo, foi possível perceber, antes de se materializar os equipamentos ou apontar características formais, a potencialidade das relações entre as diferentes partes. Os dois primeiros diagramas apresentam relações de uso e a disposição dos elementos do programa. O terceiro diagrama surgiu a partir do jogo entre a proposta projetual e a relação com as áreas públicas - praças, áreas de proteção permanente, sistemas de recreação e institucional - próximas ao local de intervenção. O diagrama traça “linhas de força” entre algumas dessas áreas, que passam pelo terreno, apontando para a sua existência e demonstrando que, apesar da distância entre elas não garante o estabelecimento de espaços qualificados. É com base nessas linhas que se constroem as muradas do projeto, que evidenciam a dialética entre público e privado.
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Diagrama 02: projeção da divisão setorial do programa
Diagrama 01: organização das atividades
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Faixa de proteção ambiental Sistema de recreio (Praça de skate)
Sistema de recreio e uso institucional (Parque linear e Cartódromo) Uso institucional e sistema de recreio Faixa de proteção ambiental e sistema de recreio
Uso institucional e sistema de recreio
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A partir do mapa ao lado, um recorte adaptado do mapa urbano das áreas públicas de São Carlos1, foi criado um diagrama que mostra as relações de proporção e distância entre áreas públicas importantes na região, por meio do traçado de “linhas de força”. Apesar da aparente quantidade, isso não significa a implementação de espaços qualificados para o uso público. As “linhas de força” demarcam o terreno de projeto e servem como guias para a implantação das muradas que expõem a dialética entre o público e o privado. 1 Disponível em: < http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/pdf/areas%20publicas%201-12500.pdf>.
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02.6 Modelo de estudo
Com base nos diagramas apresentados anteriormente, foi criado um modelo físico esquemático, para que se pudesse visualizar a relação tridimensional dos principais elementos do projeto com o restante do programa e com o entorno existente. Ao representar o local em escala, foi possível reconhecer os limites de ação projetual e identificar a conformação topográfica. O próprio modelo incorpora o processo diagramático em seu esquema compositivo, não pretendendo expor uma tridimensionalidade realista. O que interessava nessa composição, era compreender uma possível apropriação dos espaços e das relações que poderiam ser concebidas. Nesse momento, o programa de necessidades ainda não estava consolidado, assim, os elementos figurativos representavam temas de apropriação para cada setor do terreno. Isso contribuiu para não formalizar cada equipamento em uma tipologia prévia, mas permitir que a investigação formal se desenvolvesse de modo mais desprendido.
59
60
02.7 Anteprojeto
A versão do anteprojeto, apresentada a seguir, representa a proposta final do projeto. Após uma série de etapas intermediárias, o resultado sintetiza modificações que incluem desde a organização do plano geral para o conjunto, até as tipologias e a materialidade dos equipamentos.
O material compreende representações técnicas e esquemáticas em diferentes escalas, adaptando-se para a melhor visualização do que se pretende apresentar. A implantação, que apresenta uma vista aérea do projeto em conjunto ao entorno, e denota a situação dos elementos em relação à área. A articulação volumétrica do projeto por meio de esquemas tridimensionais. A planta geral, com os usos de cada equipamento e espaço. As plantas setoriais, apresentando em escala ampliada cada parte do projeto. Os cortes e as elevações, que evidenciam as relações de altura entre os elementos e equipamentos. Uma série de imagens tridimensionais, axonométricas e perspectivadas, que exibem a complexidade do projeto. Ao final, plantas, cortes e especificações materiais, além de de detalhes dos equipamentos do projeto.
61
IMPLANTAÇÃO Escala 1/1000
62
ARTICULAÇÃO VOLUMÉTRICA Axonométrica Sem Escala
63
08
14
13 15 06 09 12 10 11 07 08
03
(01) Biblioteca comunitária (02) Espaços gramados para descanso (03) Passeio (04) Anfiteatro / arquibancadas (05) Instalações e apresentações artísticas (06) Banheiros (07) Quadra poliesportiva (08) Estrutura para feira e comércio (09) Mirante / Guarda Municipal (10) Deck de madeira (11) Equipamentos para exercícios físicos (12) Playground infantil (13) Horta urbana (14) Platôs para descanso (15) Estação de ônibus
06 06 02 01
04
05 PLANTA GERAL Escala 1/750
64
ues
0,00
SEÇÃO DE PLANTA 01 Escala 1/200
65
A
Rua Nossa Senhora Auxiliadora
1,00
SEÇÃO DE PLANTA 02 Escala 1/200
. Br
SEÇÃO DE PLANTA 03 Escala 1/200
uno
Rug
gier o Fi
lho
66
67
SEÇÃO DE PLANTA 04 Escala 1/200 0,00
-1,00
68
-1,50
SEÇÃO DE PLANTA 05 Escala 1/200
-2,00
69
3 2
1
SEÇÃO DE PLANTA 06 Escala 1/200
5
70 B
-2,40
-2,50
SEÇÃO DE PLANTA 07 Escala 1/200
Rua Manoel José Serp
pa
4 3 2 1
-1,00
71 B
-3,50 -2,00
1 2 3 4 5
A
-2,00
SEÇÃO DE PLANTA 08 Escala 1/200
72
73
CORTE A Escala 1/250
CORTE B Escala 1/250
74
75
ELEVAÇÃO NOROESTE Escala 1/250
ELEVAÇÃO SUDOESTE Escala 1/250
76
PERSPECTIVA GERAL AXONOMÃ&#x2030;TRICA Sem Escala
PERSPECTIVA 01 Sem Escala
PERSPECTIVA 02 Sem Escala
PERSPECTIVA 03 Sem Escala
PERSPECTIVA 04 Sem Escala
77
PERSPECTIVA 05 Sem Escala 400x200
APOIO
BAN.
SALA DE ESTUDOS
RECEPÇÃO BANHEIRO
ACESSO
CIRCULAÇÃO 200x200
50 25 106.1
380.2
138.8
150
PLANTA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA Escala 1:200
250
78
PERSPECTIVA 06 Sem Escala
CORTE BIBLIOTECA COMUNITÁRIA Escala 1:200
400
15
79 200x200
SALA DE ATIVIDADES DIVERSAS
ESTAR
120
SALA DE ESTUDOS
ESTANTES LIVROS
400x200
600
600
430
ESTANTES LIVROS
400
0,10
15
400
200x200
15
602.5
15
812.5
25
165
80
500 100
SALA GUARDA MUNICIPAL
400
500
280
500 175.3
300
175
WC 01
500
500
500
PLANTAS SUPORTE MIRANTE / BASE GUARDA MUNICIPAL Escala 1:200
WC 02
500
PLANTAS SUPORTE BANHEIROS E INFRAESTRUTURA Escala 1:200
500
500
Vigotas concreto
675
675
81
Arremate metálico Viga conceto armado Cantoneira metálica Bloco concreto estrutural 14x19x39
10,10
10,10
DETALHE CONSTRUTIVO BIBLIOTECA Escala 1:20
475
475
1700
1700
Revestimento externo com telha térmica
5,10
5,10
Revestimento de telha translúcida Cantoneira metálica Arremate chapa metálica Revestimento interno drywall
475
475
Esquadria alumínio
0,10
CORTE SUPORTE BANHEIROS E INFRA. Escala 1:200
0,00
CORTE SUPORTE MIRANTE / BASE Escala 1:200
Faixa de iluminação LED DETALHE CONSTRUTIVO BANHEIROS Escala 1:20
82
83
CONCLUSÃO
Após a longa trajetória de trabalho, resistem alguns pensamentos e constatações. A ideia inicial do trabalho seria a de criar uma série de princípios, estratégias, normas, equipamentos e infraestrutura, numa espécie de catálogo ou manual, que poderiam ser aplicadas em qualquer tipo de espaço público residual da cidade. Contudo, ao longo da investigação, apesar de parte da proposta ser factível, percebeu-se que as muitas particularidades do contexto e do próprio terreno limitariam o simples processo de inserção e adaptação desse aparato. Desse modo, percebemos a necessidade de se pensar no projeto como algo desenvolvido especificamente para o lugar (site-specific), apesar de certas diretrizes poderem ser utilizadas como base para outros projetos em espaços similares. Por exemplo, estabelecer uma largura adequada de calçada, áreas de descanso e encontros, espaços para esportes e atividades físicas, estruturas para feiras, espaços para eventos artísticos, entre outros. Ao finalizar o trabalho, permanece a sensação de um processo sem término, que ainda está aberto a reconsiderações e alterações de propostas.
84
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