Perfil Luis Carlos Miele - TCC Jornalismo

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MÚSICA

CINEMA

LIVROS

ARTES

VISUAIS

TEATRO

DANÇA

o melhor da cultura em novembro de 2012 www.bravonline.abril.com.br • R$ 14,90

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produtor de sucesso se torna ator aos 70 anos

Luiz Carlos

miele Especial Sucesso na MPB e nos musicais

Lado M

O lado pouco conhecido de Miele

Bossa Nova

Tudo sobre este importante movimento



ESPECIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Universidade Anhembi Morumbi em 2012 sob orientação da Professora Cristina Almeida

o melhor da cultura em novembro de 2012

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Da Bossa ao Mundo de OZ. Em nossas páginas toda a trajetória profissional do showman Luiz Carlos Miele.

Redatores Maiara Tortorette, Merillyn Reis, Rodrigo Svrcek e Thiago Jacintho Editor de Arte Rodrigo Svrcek Editor de Fotografia

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Na trilha do Mago. Preparamos um infográfico com os momentos mais importantes da carreira e da vida do Miele.

Rodrigo Svrcek Reportagem Maiara Tortorette, Merillyn Reis, Rodrigo Svrcek e Thiago Jacintho Fotografia Maiara Tortorette e Merillyn Reis Revisão

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Lado M. Histórias de bastidores, momentos pessoais. Um lado deste artista que você não conhece.

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aspas

Cristina Tortorette Diagramação Rogério Loconte Redação e correspondência Rua Álvaro Carvalho, 179, Centro, São Paulo, CEP 01050-070, tel. (11) 22223333. Publicidade São Paulo e informações sobre representantes de publicidade no Brasil e no Exterior. www.tccmiele.com.br BRAVO! 183 (ISSN 0000-000Z), 14/n° 183 é uma publicação mensal da Editora Abril S.A. Edições anteriores: Venda exclusiva em bancas, pelo preço da última edição em banca + despesa de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. Distribuída em todo país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. BRAVO! não admite publicidade redacional. Serviço ao Assinante: Grande São Paulo (11) 2222-3333. Demais localidades: 0800-000-000www.tccmiele.com.br Para assinar: Grande São Paulo (11) 22223333. Demais localidades: 0800-000-000 www.tccmiele.com.br impressão AlphaGraphics Centro Comercial - Alphaville Barueri, 06453-053 (55 11) 4193 6100


CARTA DA REDAÇÃO

Bravo! E os mistérios do Mágico de OZ A carreira, os personagens e a vida fora dos palcos. Tudo sobre Luiz Carlos Miele Se você já teve a oportunidade de assistir a montagem de “O Mágico de Oz”, adaptação de Claudio Botelho e Charles Möller, deve ter percebido que, entre os atores do espetáculo, existe um que chama a atenção por sua peculiaridade. A voz grave e o bom humor, marcas registradas de Luiz Carlos Miele que dá nova vida a esse mítico personagem, que não poderia ter caído em melhores mãos. Afinal, assim como essa indecifrável figura, Miele também guarda muitas histórias e truques. Nesta edição da revista BRAVO!, você vai conhecer um pouco da trajetória que fez esse diretor de estúdio sair de São Paulo, aos dezenove anos, e recomeçar a vida no Rio de Janeiro, em busca de novas aventuras em uma cidade em transformação, no momento em que surgia a Bossa Nova. Com mais de sessenta anos de carreira, “o mago” foi diretor, produtor, cantor, dançarino, apresentador e mestre de cerimônias, experiências que fazem dele um verdadeiro showman, embora rejeite tal rótulo, talvez o único da atu-

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alidade, como afirmam seus amigos e colegas de profissão. Nas próximas páginas, estão registrados alguns dos principais momentos da trajetória profissional desse “faz-tudo”, como bem define o cantor Simoninha, filho de Wilson Simonal. Histórias únicas, desde as produções feitas por ele no famoso Beco das Garrafas, os pocket shows e sua importância no show business nacional, chegando a sua passagem da coxia para os palcos, bem como sua experiência nos últimos anos, reinventando-se como ator. Para tentar ordenar os fatos de uma vida tão intensa e pouco cronológica, a revista traz uma linha do tempo com passagens marcantes da vida de Miele. Seus trabalhos mais reconhecidos, as produções na TV e nos palcos e o voo solo que mudou, significativamente, sua carreira, redescoberta por autores e produtores de cinema e séries, que o levaram a realizar o seu maior sonho: atuar à frente de um grande musical. Após percorrer todos os caminhos

de sua vida profissional, os bastidores não poderiam ficar de fora. Você saberá como foi o convite para o personagem do Mágico de Oz, seus anseios antes do abrir das cortinas, o convívio com artistas que produziu e trabalhou e o relacionamento com a família, principalmente com as irmãs, Regina e Eliana. No último capítulo desta viagem através do tempo, há uma entrevista com Carlos Alberto Afonso, dono da livraria e espaço cultural carioca “Toca do Vinícius” e profundo conhecedor quando o assunto é Bossa Nova, traçando um panorama sobre o surgimento, evolução e fama internacional desse ritmo tão brasileiro, identificado também pelos personagens fundamentais que escreveram essa história. A revista BRAVO! convida você a entrar neste balão e viajar pelas próximas vinte páginas do nosso especial. Venha descobrir e se encantar com o talento e a intimidade da história de Luiz Carlos Miele, o nosso Mágico de Oz.



Profissional

Da Bossa ao Mundo de Oz A trajetória de Luiz Carlos Miele, produtor de sucesso na década de 60, que se reinventa como ator de musicais aos 70 anos Por Maiara Tortorette e Rodrigo Svrcek

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inte e três de Setembro de 2012. Um domingo nublado e nada carioca no Rio de Janeiro. 14h45min. e a entrada do Teatro João Caetano, no centro da cidade, abarrotada de pessoas ansiosas para assistir à nova versão do musical O Mágico de Oz. Assinada por Charles Möeller e Claudio Botelho, a montagem conta com atores televisivos, imediatamente reconhecidos pelo público, como Lúcio Mauro Filho e Maria Clara Gueiros. Mas, no papel do personagem título da peça, experiente, impecável e a bordo de um terno multicolorido, aparece alguém menos comum para a maioria dos jovens que ali o assistem: Luiz Carlos Miele, uma figura que se destaca pela desenvoltura e bom humor, suscitando perguntas do tipo: Quem é ele? Há quanto tempo atua? Qual é a história por trás do mágico? Essa história tem início mais de meio século antes de os diretores pensarem em produzir o espetáculo. Tudo começa no verão carioca de 1958, quando Miele, com 19 anos de idade, deixa a capital paulista, onde trabalhava desde os 11 anos como locutor das rádios Excelsior, Tupi e Nacional. Desembarca numa cidade que vivia grandes transformações, graças ao plano desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, além de uma efervescência cultural que partia da classe média carioca, localizada nos bairros de Ipanema e Copacabana. O mágico aportou no Rio de Janeiro para trabalhar como diretor de estúdio na TV Continental, função que já desempenhara na rádio Nacional. Mas precisou utilizar muitos truques para driblar o baixo salário que recebia e a falta de uma moradia fixa. Roberto Menescal, produtor e amigo, que conheceu Miele em 1959, no Beco das Garrafas reduto boêmio carioca localizado em Copacabana – conta um dos primeiros diálogos ocorrido quando eles se conheceram na noite carioca: “Estou morando muito bem, passo a maior parte das minhas noites aqui no aterro do Flamengo, em frente ao mar”, Menescal re-

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Num beco sem “saída conheci

Luiz Carlos Miele e, sem de leve pressentir, estava conhecendo um irmão. E, neste beco sem saída, encontramos a saída e soldamos um destino

Ronaldo Bôscoli, parceiro por mais de 30 anos

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Fronteira. Nascia ali a dupla Miele & Bôscoli, uma parceira de sucesso que mudou definitivamente a vida de ambos e os colocou como referência na produção de pocket shows – formato de show importado dos Estados Unidos, apenas com a presença do cantor e uma pequena banda ao fundo que foi adaptado aos pequenos espaços das boates do Beco das Garrafas, com público de no máximo 60 pessoas, durante o movimento Bossa Nova. Miele também foi responsável pelo formato, popularmente conhecido, como o banquinho e violão. “O pessoal da Bossa Nova fez uma apresentação em um lugar onde havia um sofá, que não era muito confortável Miele com o elenco do espetáculo “O Mágico de Oz” para tocar violão. Miele levou um banquinho para eles se senbate “É, no apartamento de quem?” e Miele res- tarem e, assim, começou essa história. Ele é o ponde “Não, nos tubulóides (sic). Eu durmo nos pai do banquinho e do violão”, conta o cantor e produtor musical João Marcelo Bôscoli, filho do tubulões (sic). que são mais fresquinhos”. Por cerca de um ano Miele “morou” debai- casal Elis Regina e Ronaldo Boscôli. A contribuição de Miele na consolidação da xo de marquises, entre tubulações e outros luBossa Nova vai além de criar esse novo conceito gares a céu aberto, que a noite carioca oferecia. Após esse período difícil, Daniel Filho, que hoje de shows no Brasil. Enquanto Bôscoli tinha as é produtor e diretor de filmes e novelas, e que ideias e escrevia os roteiros, ele era o responna época trabalhava com Miele na Continen- sável por cuidar de todos os detalhes dos shows, tal, emprestou-lhe um apartamento para morar como iluminação, figurino, posição dos músicos temporariamente. A partir daí, a sorte do mago no palco e postura dos artistas. “Quem começou a conceituar o show, com intervenções para começou a mudar... valorização dos músicos foram eles”, observa o produtor musical Simoninha, filho de Wilson Parceria com Bôscoli Simonal. e sucesso na noite carioca Frequentador assíduo da noite carioca, ainda em 1959, Miele conheceu, em uma de suas A descoberta de novos artistas Um dos principais nomes na produção de muitas idas ao Beco das Garrafas, o jornalista e shows no Rio de Janeiro, entre o final dos anos escritor Ronaldo Bôscoli, que viria a se tornar seu parceiro e amigo inseparável. “Num beco 50 e a primeira metade dos anos 60, Miele foi sem saída conheci Luiz Carlos Miele e, sem de responsável pela descoberta de diversos artisleve pressentir, estava conhecendo um irmão. E, tas em início de carreira. Entre esses músicos, neste beco sem saída, encontramos a saída e sol- que posteriormente tornaram-se conhecidos, esdamos um destino”, conta o próprio Bôscoli em tão Wanda Sá, Claudette Soares, Baden Powell, sua biografia “Eles e Eu – memórias de Ronal- Wilson Simonal e Toquinho. Até o final dos anos 60, a dupla Miele & Bôsdo Bôscoli”, lançada em 1994, pela editora Nova


coli trabalhou na produção musical de diversos programas nas principais emissoras da época. Na TV Rio; na TV Excelsior, e, na TV Record, em 1967, produziram as últimas edições do programa “O Fino da Bossa”, a pedido da então apresentadora Elis Regina. Tratando desse período, o músico e compositor Toquinho, destaca a importância do mago na música brasileira: “São raros os artistas que não trabalharam com ele. Bastaria lembrar os espetáculos de Elis Regina, produzidos e dirigidos por Miele & Bôscoli, e já estaria perpetuada sua importância no cenário musical brasileiro”, conta. Wilson Simonal foi outro nome que começou a ficar conhecido dentro do show business após ser descoberto por Miele & Bôscoli, quando atuava como crooner de uma famosa boate, a Bottles. Segundo Simoninha, a carreira do cantor não seria a mesma sem a intervenção da dupla. “Quando Miele & Bôscoli o levam para o Beco, o show é do Wilson Simonal. Ali ele começa a se transformar de fato em artista”, afirma. O cantor e compositor Roberto Carlos, também contou o trabalho da dupla. Após participar do “Festival de San Reno”, na Itália, em 1968, decidiu contratá-los para consolidar uma nova fase em sua carreira. Com a experiência que tinham em produzir pequenos shows, além de serem os primeiros a levar as apresentações das boates para os grandes teatros cariocas, Miele & Bôscoli foram, durante dez anos, os produtores exclusivos de todos os shows do “Rei”, participando da transformação do antigo ídolo da Jovem Guarda, em uma das referências da música brasileira. O talento de Elis Regina também não passou despercebido pela dupla, que a produziu no início da carreira no Beco, em teatros cariocas e para a TV Record, com destaque para a apresentação realizada no “Olympia de Paris”, em 1968, atingindo um sucesso de público que garantiu sua reapresentação naquele mesmo ano, o que nunca ocorrera antes na sala de espetáculos musicais mais antigos da capital francesa. Miele também fez a produção dos programas especiais de Elis que foram levados ao ar pela TV Globo no começo da década de 70. Elis, por sua vez, foi a responsável por trazer o “mágico” dos bastidores da produção para frente dos palcos. Durante os ensaios do show que Elis faria com Bôscoli no teatro Praia, um

dos integrantes faltou e Miele foi convidado para se apresentar com eles. Foi então que ele pôde mostrar seu talento como cantor, dançarino e contador de piadas. O show “Elis com Miele & Bôscoli” foi um sucesso, e, a partir dali, o mago passou a acumular as funções de produtor, mestre de cerimônias e contador de piadas, um showman. O trabalho na televisão

O programa “Praça da Alegria”, criado pelo humorista Manuel de Nóbrega, foi ao ar pela primeira vez em 1957, na antiga TV Paulista (atual TV Globo). Quase vinte anos após a estreia, em homenagem ao ator, que havia falecido, a Rede Globo retomou a produção do programa, que chegou a ser exibido pela TV Record. A princípio Chico Anysio deveria ser o apresentador desse novo formato, mas ele já estava no comando do Chico City. “O Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho] iniciou uma sequência de testes para escolha do substituto e o último foi comigo. Quando me chamaram, o Lúcio Mauro, grande amigo meu, que era diretor de humorismo da emissora, foi contra, por achar que eu não tinha a ver com aquele programa”, conta Miele. Mas Boni, diretor de programação e produção da TV Globo, manteve sua decisão e Miele estreou a Praça, com o mesmo cenário do programa original. Em 1978, o programa foi regionalizado, e juntaram-se a ele, que permanecia no Rio, Carlos Alberto de Nóbrega, em uma praça de São Paulo, e Aldemar Paiva, em Recife. Sob seu comando, a atração permaneceu no ar pouco mais de um ano. Nos anos seguintes, Miele retornou ao trabalho que sempre foi o carro-chefe de sua carreira, a produção de espetáculos de artistas. Dentre eles, estava Sérgio Mendes, com quem já havia trabalhado no Beco das Garrafas. A grande diferença é que na época da primeira produção não havia tanta tecnologia, o improviso era a principal ferramenta de trabalho. Na década de 80, por sua vez, o cenário já era bem diferente. As produções contavam com a tecnologia nos palcos e os efeitos especiais tomaram conta dos shows. De 1981 a 1983, atuou como apresentador nos festivais de música “MPB 80” e “MPB Shell 81”, ao lado de Sandra Bréa, Edwin Luisi e Zezé Motta, no “Show do Mês”, musical dirigido por

“Quando Miele &

Bôscoli o levam para o Beco, o show é do Wilson Simonal. Ali ele começa a se transformar de fato em artista

Wilson Simoninha, cantor, produtor e amigo.

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Augusto César Vannucci e no programa “Batalha dos Astros”, dirigido por Oswaldo Loureiro. Em 1985, Miele deixou a TV Globo, algo que a esposa Anita não se conforma até hoje “Loucura absoluta. Não gosto nem de ouvir”, lamenta. Já na TV Manchete, no final dos anos 80, apresentou os programas “Miele & Cia.” e “Ele & Ela”, com Leila Richers. De acordo com Miele, no livro “Poeira das Estrelas” (2004), Leila era uma profissional muito competente, tanto como jornalista, quanto como âncora de telejornais. “Infelizmente, a emissora tinha uma audiência muito baixa no Rio e nenhuma em São Paulo. Mas foi uma grande alegria trabalhar com ela”, afirma.

Miele sabe “como ninguém aproximar o artista do público

Marcel Powell, violinista e filho do compositor Baden Powell.

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Uma época nada boa para recordar...

Se há um arrependimento que Miele assume, foi ter sido apresentador do extinto programa “Cocktail”, transmitido pelo SBT. Após sua saída da Globo, recebeu a proposta de comandar o programa em uma edição especial criada pela emissora paulista para comemorar seu 10º aniversário. Inicialmente, Miele acreditou que se tratava de uma ideia semelhante à da revista Playboy, “que explora a nudez e a sensualidade das mulheres, mesclando essas seções com um conteúdo de extrema qualidade, reconhecido mundialmente”. Baseado nessa crença, antes de iniciar as gravações, fez diversas alterações no roteiro e chegou até a gravar o programa piloto do modo como queria. No entanto, Silvio Santos, dono da emissora, vetou as mudanças quando recebeu o script totalmente modificado. Segundo Miele, o que Silvio queria era fazer um programa nos moldes do “Colpo Grosso”, exibido na Itália, em que acontecia um jogo entre dois participantes, um homem e uma mulher. Durante a atração, as garotas denominadas “tim-tim”, cada uma representando uma fruta, exibiam os seios de acordo com a brincadeira realizada no programa naquela noite. Para não perder a oportunidade de trabalho e certo de que não teria como pagar a altíssima multa imposta pela emissora, caso cancelasse o contrato, Miele acabou estrelando a atração, que estreou em 23 de agosto de 1991. Considerado avesso aos padrões morais da família brasileira, o programa ganhou repercussão inesperada, principalmente entre o público masculino, que chegava a sair de casa para poder assisti-lo. Em

cidades mais interioranas, chegava a ser exibido em praças públicas. Sentindo-se constrangido com a situação, Miele passou a recusar os convites para fazer shows com as mulheres seminuas país afora. Em pouco tempo, ficou popularmente conhecido como “apresentador das mulheres com os seios de fora”, uma marca nada positiva para futuros trabalhos como mestre de cerimônia, uma de suas mais reconhecidas especialidades profissionais. “Miele sabe como ninguém aproximar o artista do público”, avalia o violinista Marcel Powell, filho do compositor, e também violinista, Baden Powell. Apesar da considerável audiência, “Cocktail” foi transmitido por curto período, sendo exibido pela última vez em 20 de agosto de 1992. Para Miele, de quem algumas pessoas ainda hoje se lembram pelo programa, a experiência não deixou de positivo nada além de uma grande lição e histórias para contar. De acordo com Rogéria, transformista e amiga de Miele “era notável que ele estava feliz por conta do sucesso e dos altos pontos no IBOPE, no entanto não era o tipo de trabalho que o deixava satisfeito”. Em 1994, ele perde seu grande parceiro de carreira e vida, Ronaldo Bôscoli, com quem trabalhou por mais de 30 anos. No livro “Ela é Carioca” (1999), Ruy Castro conta: “quando Ronaldo morreu, o companheiro enxugou as lágrimas e tocou para frente”. A partir daí, a vida e os trabalhos seguiram, mas tudo muito mais vazio, como se pode entender quando o assunto é comentado com Miele, que enche os olhos de lágrima ao lembrar esta época. O trabalho aliado à experiência

Nos últimos anos, atestando o crédito na versatilidade de Miele, alguns produtores começaram a investir no seu talento como ator. Em 2005, a convite do produtor André Monteiro de Barros, estrelou a série “Mandrake”, escrita por José Henrique Fonseca, Felipe Braga e Tony Belloto. A produção alcançou tanto sucesso em seus dezesseis episódios que a HBO contratou, novamente, a equipe inteira para, em 2013, rodar mais duas partes de um especial que transmitiria a série. De acordo com Monteiro, Miele “é uma pessoa fácil para se trabalhar, não reclama e colabora ao máximo com as filmagens, repetindo


Miele e seus diversos parceiros durante a carreira

as cenas quantas vezes forem necessárias”. Nesse mesmo ano, o showman se apresentou com Roberto Menescal e Wanda Sá, no espetáculo Bênção Bossa Nova. Em 2010, Miele surpreendeu-se com o convite da atriz Fernanda Torres para atuar, ao seu lado, na série “A moral da história”, uma produção adaptada das fábulas de Millôr Fernandes a ser exibida no canal Multishow. Para ele, que nos anos 90 já havia gravado um LP com essas crônicas, foi uma grande honra. Em uma coluna na revista “Veja Rio”, intitulada “Eu amo o Miele”, Fernanda explica com carinho e admiração a sua escolha: “Millôr e Miele nasceram um para o outro. Apesar de insistir em que não é ator, Miele tem o dom raro e invejável de não fazer esforço para representar”. Mais recentemente, ele participou dos longa metragens “As aventuras de Agamenon, o repórter”, do diretor Victor Lopes lançado no início de 2012 e “Os Penetras”, dirigido por Andrucha Waddington, com estreia prevista para o final de novembro. Nesse mesmo ano, em janeiro, atuou na minissérie “O Brado Retumbante”, escrita por Euclydes Marinho e, em julho, fez uma participação na série “Tapas e Beijos”, de Cláudio Paiva, ambas da TV Globo. De junho a outubro de 2012, Miele atuou no musical O Mágico de Oz. “Um dia, imaginando quem poderia fazer o mágico, Charles pensou nele, que é um cara cujo talento fez muita coisa acontecer nas artes brasileiras, um verdadeiro

mago”, afirma Claudio Botelho. O empenho em contar com a presença de Miele no espetáculo levou os produtores a criarem uma canção que não existe na história original, para que ele pudesse cantar e dançar, dando assim maior expressão ao seu personagem. Para Miele, o trabalho tem sido um grande desafio. Acostumado a improvisar, não foi fácil adaptar-se à rotina da produção, decorar textos, obedecer ao roteiro, sujeitar-se à agenda de compromissos e ensaios. “Tem que ter uma disciplina que eu não tenho. Então, eu sofro. Vou para o ensaio decorando no carro”, revela. Segundo o ator e humorista Lucio Mauro Filho, que vive o papel do leão covarde no musical, o “mágico” tem surpreendido a todos que não acreditavam que alguém da boemia pudesse cumprir horários: “Além disso, Miele diverte a todos nos bastidores, contando suas histórias e piadas, que não poderiam ficar de fora”. Enquanto aguarda a reestreia do espetáculo, prevista para o primeiro semestre de 2013, em São Paulo, Miele não perde tempo, retomando, ao lado do cartunista Chico Caruso e da transformista Rogéria, o show “Homenagem à Trois”, produzido por sua assessora Vânia Barbosa. O trio chegou a fazer o espetáculo aos finais de semana, no mês de abril, antes de Miele iniciar o musical. “O Homenagem trata da velha guarda, das velhas músicas. É realmente uma homenagem a tudo isso e a muitos que já se foram”, esclarece Rogéria. Paralelamente, o artista também trabalha na produção de dois projetos culturais ligados à Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, um para as Olimpíadas e o outro para a Copa do Mundo, ambos com atrações musicais. “É maravilhoso ver o Miele sendo convidado para tantas coisas, no cinema, teatro e TV”, diz Vânia. “Fico orgulhosa e feliz percebendo que as pessoas estão respeitando e reconhecendo a terceira idade não como sinônimo de velhice, mas, sim, de experiência”.

É um cara cujo talento fez muita coisa acontecer nas artes brasileiras, um verdadeiro mago

Claudio Botelho, produtor do espetáculo “O Magico de OZ”.

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linha do tempo

Na trilha do mágico Conheça fatos marcantes da trajetória de Luiz Carlos Miele

1938 Nasce em São Paulo Luiz

Carlos D´Ugo Miele. Filho da cantora Irma D´Ugo Miele e Dinovaldo Nascimento Miele

1950

Rádio: Estreia aos 12 anos, ao lado da mãe, no programa “Meu Filho, Meu Orgulho” na rádio Excelsior

1958 TV: Chega ao Rio de Janeiro para trabalhar como diretor de estúdio da TV Continental 1959

No Beco das Garrafas conhece o jornalista Ronaldo Bôscoli. Forma-se então

uma parceira de sucesso, Miele & Bôscoli, responsável pela produção de shows dos principais artistas de Bossa Nova e MPB

1960 Junto com Bôscoli cria um

1967 TV: Substitui o hoje novelis-

1961

1970

A dupla recém-formada é responsável pela descoberta de diversos artistas da Bossa Nova e da MPB, como Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Sérgio Mendes, Elis Regina, entre outros Conhece no Beco das Garrafas o furacão Elis Regina

Miele dirige seu primeiro show para a TV. O Programa Noite de Gala na TV Rio

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tratados pela TV Globo para produzir e dirigir uma série de programas, entre eles, “Alô Dolly” e “Dick e Betty 17”

novo conceito de shows no Brasil, os chamados pocket shows, formato com banquinho e violão característico na Bossa Nova

Torna-se o principal produtor de shows e dos programas da ”pimentinha”, como “Elis Especial” em Paris para a Record, o antológico show no Teatro Praia em 1969 e os especiais para a TV Globo anos mais tarde

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1965 TV: Miele e Bôscoli são con-

ta Manuel Carlos, assumindo a direção de “O Fino da Bossa”, apresentado por Elis Regina & Jair Rodrigues

Show Miele & Bôscoli – Produção e direção exclusivas dos shows de Roberto Carlos

1971/72 Produção de TV: Especiais Elis Regina, Rede

1973

Produção de TV Miele & Bôscoli – musicais do programa “Fantástico”, na Rede Globo

1977/78 TV: Apresentador de “A Praça da Alegria”, Rede Globo, concebido e apresentado originalmente na TV Record pelo já falecido Manoel de Nóbrega


1985 Deixa a Rede Globo de Tele- 2004 Lança o livro autobiográfico 2011 visão; TV Manchete – Apresentador dos programas “Miele & Cia” / “Ele & Ela”, ao lado de Leila Richers

“Poeira de Estrelas: histórias de boemia, humor e músicas”

1991 TV: Apresentador do progra- 2005 ma “Cocktail” no SBT

1994

Morre o amigo e parceiro Ronaldo Bôscoli

TV: Minissérie “Mandrake”, produção HBO

Cinema: “As Aventuras de Agamenon, O Repórter”

2012 TV: Minissérie “O Brado Retumbante”; Teatro: “Homanagem à Tróis”, com Rogério e Paulo Caruso; Musical “O Mágico de Oz”

1997 Estreia no cinema: “O Homem Nu”, de Hugo Carvana

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pessoal

Miele e Anita no minibar de sua casa em S達o Conrado, Rio de Janeiro

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Um homem.... muitas paixões Luiz Carlos Miele é um homem cujas paixões se misturam. A música, os amigos, as profissões. Tudo aparece no mesmo lugar. Vindo de uma geração em que os profissionais do show business dispunham de poucos recursos tecnológicos, Miele se transformou em um artista que não via e, ainda hoje, não vê limites impostos por essas condições. Ele se adaptou e, assim, passa pela vida, conhecendo gente e se emocionando muito, sempre com os sentimentos à flor da pele.

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om a gentileza dos antigos, Luiz Carlos Miele, 74 anos, nos recebeu em sua casa, um imóvel grande com ares do campo, em um condomínio fechado, no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro. O caseiro, de chinelo de dedos e jeito de caboclo, daqueles que guarda todos os segredos, nos recepcionou no pequeno portão e, passando pelo deck, nos deparamos com uma estátua do Miele, que ficava na frente da Casa de Cultura Estácio de Sá, com a programação nas mãos. Após a demolição do local, sua esposa, Anita Miele, pediu para buscá-la e o presenteou. Miele, trajado com uma camisa polo preta, de mangas curtas, calça e meias bege, e sapatos pretos, nos cumprimenta perguntando o nome de cada um, e vai nos acomodando em sofás brancos da sala de estar. Anita Miele veste um estilo marinheiro, camisa listrada azul e branca e calça azul. Mostram-se um casal elegante, habituado a confraternizar. Miele se desculpa por não ter empregada em casa naquele sábado de maio, mas logo pede ao Batista, o caseiro, para providenciar um café.

Por Merillyn Reis e Thiago Jacintho A entrevista começa e a cronologia dos fatos é logo colocada de lado, à medida que uma história se mistura as outras, alinhavadas por nomes que aparecem em várias situações. E quando perguntamos sobre datas, a resposta é direta: “eu não sei, porque fiz essa barreira por conta da minha idade e eu não quero saber de ano”. Surpreso com nosso roteiro, repleto de perguntas, apesar de solícito, Miele vai logo dizendo que está tudo no livro. O livro a que se refere é o “Poeira de Estrelas - Histórias de Boemia, Humor e Música”, de sua autoria, lançado em 2004, e, como ele mesmo afirma na introdução, sem nenhum tipo de edição ou textos profissionais. Trata-se da história de sua vida, mas traz somente algumas passagens, por isso optamos por declinar de sua sugestão e não aceitamos a obra como autobiografia. Nascido em 31 de maio de 1938, filho de Irma D’Ugo Miele e Dinovaldo Nascimento Miele, o paulistano foi o único menino de três filhos. As duas irmãs mais novas, Regina, 65, e Eliana, 66, nasceram quase dez anos depois e, por isso, “Miele foi o primeiro filho, primeiro neto,

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Anita “acompanhou

muito bem o Miele e, talvez, seja por isso que não tenham tido filhos, senão ficariam para alguém cuidar

Regina D’Ugo Miele, irmã do mago

Regina e Eliana Miele. Dez anos mais novas, veem no irmão a figura do homem da casa

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primeiro sobrinho, primeiro primo, primeiro homem, paparicado pela família inteira até hoje”, afirmam as irmãs. A mãe, de nome artístico Regina Macedo, a quem Anita se refere como “maravilhosa”, trabalhou em rádio, cinema e TV, foi produtora e musicista, talento múltiplo herdado pelo filho. Aos 57 anos, D. Irma foi fazer faculdade, por conta da obrigatoriedade para lecionar música na Sociedade Brasileira da Eubiose – síntese de filosofia, religião e ciência. São quatro templos no Brasil, onde se praticam a caridade e o estudo de todas as religiões. Apesar de nascida na Rua Direita, centro de São Paulo, mudou-se para um templo na cidadezinha mineira, Maria da Fé, onde residiu por mais de 20 anos. Os filhos iam sempre visitá-la, embora Miele considerasse que ela havia escolhido a cidade mais distante e difícil – “... não existe um táxi sequer!” – ele dizia para exemplificar a tranquilidade do lugar.

“Ele não se permite mostrar fraqueza, dor. Nem mesmo quando mamãe morreu. Olhava para ela e segurava [o choro]”, afirma a irmã Eliana. Em 11 de fevereiro de 2010, Miele subia para o segundo andar de um sobrado na Vila Clementino, em São Paulo, e, para que ninguém percebesse a sua dor, gritava sozinho. Era assim que ele exprimia seu pesar pela morte da mãe, embora seja uma pessoa sensível, que se emociona facilmente ao lembrar de uma bela música ou espetáculo.

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Com um sentimento oposto, não muito claro, Regina e Eliana nos contam um pouco sobre o pai que trabalhava na estrada de ferro Sorocabana e era muito ausente na vida deles. Quando Miele partiu para o Rio de Janeiro, aos 19 anos, Dinovaldo já havia falecido, aos 48 anos. Eliana afirma... “ele quase não fala do meu pai mesmo, deve ter uma magoazinha”, e Regina concorda. O casamento de Miele e Anita não aconteceu na igreja, mas a portuguesa, nascida em Lisboa, conseguiu manter nesses 46 anos de matrimônio, o apelido carinhoso: “paixões”. É assim que um se refere ao outro, seja para repreender ou para um afago. Um amigo de Miele namorava Anita e sempre enumerava todas as qualidades da moça. Quando Miele a conheceu, marcaram de sair no mesmo dia, como afirmaram Eliana e Regina, e, até hoje, continuam listando as qualidades um do outro. À sogra, D. Irma, Anita sempre expressa um carinho especial e diz que ela “foi a pessoa mais importante na vida deles”. Eles se conheceram na praia, mas a memória de Miele, demonstrada em outras ocasiões, nos permite constatar que não é por não se lembrar dos detalhes do namoro que ele muda de assunto, mas por não querer contá-los.

Apesar de viver cercado de pessoas, a discrição de Miele é patente, quando diz respeito à família ou, até mesmo, pessoas do show business. João Marcello Bôscoli, produtor musical, filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, diz que “ele é um cara que sabe guardar muito bem segredos, conviveu e convive há décadas com Roberto Carlos e nunca se soube de rigorosamente nada através dele. É muito discreto também. [...] Algo muito raro nos dias de hoje. Mesmo quando escreve suas memórias, é muito cuidadoso”. Anita veio de família abastada, enquanto Miele, como afirma o músico e amigo Roberto Menescal, vivia pedindo “cinquinho”. Ela trabalhava no Cerimonial do Palácio do Rio de Janeiro e Miele vivia no Beco das Garrafas. Entretanto, nada disso atrapalhou o casal, que chegará às bodas de ouro daqui a quatro anos. Os dois optaram por não ter filhos, o que é explicado, com simplicidade, por Regina: “Anita acompanhou muito bem o Miele e, talvez, seja por isso que não tenham tido filhos, senão ficariam para alguém cuidar.”


O início da carreira e a admiração por Elis Regina

Mesmo tendo iniciado a carreira com a sua mãe na Rádio Excelsior, em São Paulo, parece que o tempo passado na cidade ficou esquecido e a sua vida só começou quando foi para o Rio de Janeiro, em 1958. O programa em São Paulo era “Meu filho, Meu Orgulho”, em que ele representava, aos 11 anos, como radialista, a história de grandes brasileiros como Santos Dumont e Olavo Bilac, pois relatava a história desses personagens desde criança, fazendo esse papel na fase infantil. “Foi fácil, porque eu era bem moleque no colégio, era o engraçadinho da escola.”, diz Miele. Quando dá início a sua história, demonstra cansaço ao ser inquirido sobre a Bossa Nova e Beco das Garrafas, o celeiro da geração bossanovista nos anos 60. Ele quer falar do presente. “No fim dessa minha geração, com a idade que tenho, só agora fui participar de uma coisa total em termos de espetáculo. Sempre tive que fingir as coisas. Piano, baixo e bateria. E, chego lá no “Mágico de OZ” e é tudo verdade.” Neste sentido, o ator Antônio Pedro Borges de Oliveira ressalta que “ele conhece muito de musicais da Broadway, conhece detalhes. E é engraçado, porque o Miele sempre gostou de musicais, sempre cantou em Inglês, mas nunca havia sido utilizado para isso. Essa é uma coisa para ser examinada, porque ele canta bem mesmo.” Só que quase sem perceber, ele sempre volta ao passado e, invariavelmente, se emociona ao tocar no nome de Elis Regina, para ele a melhor artista, não só cantora do Brasil. No livro “Poeira de Estrelas”, 2004, Miele afirmou: “Elis Regina foi a única artista cujo talento eu não me acostumei. Meu entusiasmo chegou ao limite numa entrevista que dei ao jornal ‘O Globo’, quando a repórter perguntou quais eram as três maiores cantoras do Brasil, eu respondi: Elis Regina. A garota do jornal achou que eu não havia entendido, mas eu confirmei. (....) Essa declaração me deu a maior dor de cabeça, pois eu dirigia outros espetáculos.” A relação dos dois sempre foi intensa, assim como a personalidade de Elis, mas Miele se refere ao divórcio dela e Ronaldo Bôscoli, com algum ressentimento e diz que: “até admito que essa coisa do Ronaldo, de ter feito muita coisa, sobrou pra mim”. A filha de Elis, Maria Rita, não quis manter vínculo com ele e, em algumas situações em que esti-

Recortes do grande espetáculo que foi a vida de Luiz Carlos Miele

veram juntos, não demonstrou grande apreço. Uma vez “perguntaram se ela queria fazer uma matéria comigo e ela disse...” nem morta.” Ela queria mesmo distância. Não queria ficar batendo na tecla Elis...Elis...” Nunca perdeu o glamour

Em sua casa no Rio, na parte do bar, enquanto prepara um drinque, ele canta e dança. Pode ser bolero ou bossa. Movimentando-se com leveza, sempre mexe as mãos, levanta os óculos e enxuga as lágrimas de quem aprecia uma boa música ou de quem se recorda de histórias incontáveis. “Coloca Bye Bye, Brasil”, Anita pede a ele, que se confunde com tantos CDS. Lá não tem mp3 ou qualquer outro aparelho digital. Mais um gole no uísque. Algumas vezes, as músicas engasgam de tanto uso, embora os cantores sejam reconhecidos por ele na primeira nota. E Miele canta. Começa a enumerar as palavras tidas como desconhecidas à época da composição da canção Nós, na voz de Leny Andrade, do artista Johnny Alf que faleceu em 2010. As pessoas conversam e Miele protesta. Quer que todos estejam atentos àquela composição. Anita pede de novo, com

“detentor de vários

tentáculos artísticos, Miele foi incorporando tanto o Rio de Janeiro quanto o mundo musical que renascia e se impunha na década de 1960

Toquinho, compositor e amigo

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Sala de estar da casa de Miele

O que “importa éo glamour, e isso, Miele nunca perdeu

Rogéria, artista que trabalha com Miele na peça Homengem a Tróis

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o cenho cerrado, “Bye Bye, Brasil”. (O amigo Menescal não entende essa paixão de Anita,

mas sempre que faz shows e ela está presente, executa a canção para homenageá-la). Miele encontra a música e Anita suaviza a expressão, bebendo mais um pouco do vinho branco. O bar, aliás, foi pagamento ao comercial que fez da lâmina de barbear Chic 2. O único momento da vida em que se viu Miele sem barba. Já o piano preto de cauda, que ornamenta o bar, foi um presente do amigo Ricardo Amaral. Miele se orgulha do espaço e diz “o bar está aqui e a barba também!”. A música permeia a vida dele, que conheceu de perto tantos artistas, nacionais e internacionais. A maioria das crianças cresce cantando “atirei o pau no gato, pois a primeira canção que decorei foi ‘Long Ago and Far Way’”, diverte-se. Talvez venha daí a capacidade de exercer as diversas atividades que conseguiu ao longo de sua carreira. Uma herança da mãe, DNA abençoado. Ou talvez, seja coisa do céu, das estrelas... Ele viu o início da carreira de artistas como a de Nara Leão, Elis Regina e Carol Saboya. O primeiro compacto de Carol Saboya, filha do produtor e músico Antônio Adolfo, foi cantando com Miele. “Os músicos vinham para o meu pai fazer os arranjos e dentro disso apareceu a ideia do Miele, que já o conhecia há muito tempo ‘A menina e a TV’”. Também viu muitos deles partirem. Emociona-se cada vez que fala de Elis, mas também lembra com bastante carinho das cantoras Leny Andrade e Liza Minelli. “Liza escreveu, em um jornal de Nova York, ‘Eu me considero uma profissional do show business, não exatamente uma cantora. Cantar faz parte das minhas performances, de uma profissional do show business. Se eu fosse cantora, queria ser

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Leny Andrade’”. Miele, com a voz embargada, diz que isso é espetacular. Miele está fazendo um “show muito engraçado agora, com a Rogéria e o Chico Caruso, o ‘Menáge a Tròis’, mas morreu tanta gente ao longo da temporada - Billy Blanco, Wando, Pery Ribeiro, Chico Anysio, Millôr Fernandes - que o espetáculo se transformou em Homenagem”, conta a assessora Vânia Barbosa. Ele chega a dizer no show que está pensando em abrir um bar em frente ao cemitério, porque não sai de lá. Já tem até nome, ‘A Saideira’. “Vai começar no [cemitério] São João Batista, mas depois tem franchising. O nome [do bar] é do Jaguar. Para nós mesmos, os grandes artistas da minha geração, quando chegar a hora, é só atravessar”, afirma Miele. Apesar do sucesso vivenciado pelo showman em seus anos de produtor de Bossa Nova, o dinheiro que ganhava nunca foi de fato contabilizado. Ele jamais soube exatamente quanto ganhava. “Depois chegou [a enriquecer], mas não era o objetivo de jeito nenhum. A gente nem visualizava a possibilidade de ganhar dinheiro com aquilo”, diz Menescal. A transformista Rogéria concorda: “O que importa é o glamour, e isso, Miele nunca perdeu.”

Apegado ao dinheiro ou não, a verdade é

Miele & Bôscoli, dupla que fincou as primeiras raízes do show business brasileiro


que Miele, até hoje, faz questão de dar mesada às irmãs. Todos os carros que Eliana teve, desde os 18 anos de idade, foram financiados por ele. Os dois, Eliana e Miele, também são parceiros na arte de consumir comida de rua, de cachorro quente e esfirra, a qualquer outra coisa que esteja disponível em um botequim. E, segundo Regina, o prato preferido dele é arroz com dois ovos. Por isso, nos jantares sofisticados para os quais é convidado, Miele passa um pouco de sufoco, como reconhecem todos os seus amigos. Geminiano nato

Os astrólogos afirmam que o geminiano é um ser indeciso, que se interessa por tudo e por nada ao mesmo tempo, faz diversas coisas muito bem, mas tem dificuldade de concentrar em algo, aprofundar-se. Boêmio, como toda sua geração, é um dos poucos sobreviventes da “turma da Bossa Nova”, gênero que ajudou a difundir e, simultaneamente, criar uma linguagem musical-teatral, os chamados pocket shows. O nome, Miele afirma, não foi criado por ele e Ronaldo Bôscoli, mas batizou os shows que apresentavam canções e piadas sob o comando de um mestre de cerimônias. Esse formato consagrou-se e, até hoje, é utilizado, como mostram as apresentações de Roberto Carlos. Apesar de ter tido uma parceria longa e especial amizade com Ronaldo Bôscoli, tem tantos outros amigos, de diferentes temperamentos e histórias de vida, que é impossível não traçar um paralelo disso com seu versátil lado profissional. Anita olhou uma fotografia, na qual estava com Ronaldo, e disse “nessa foto até parece que o Ronaldo gosta de mim não é, paixões? A gente brigava muito, porque ele queria exclusividade do Miele.” Amigos esses, aliás, que ele fez na estrada da carreira e teve a felicidade de tê-los na carona de seu carro ao longo dela. O amigo Toquinho, Antônio Pecci Filho, cantor e compositor, diz: “detentor de vários tentáculos artísticos, Miele foi incorporando tanto o Rio de Janeiro quanto o mundo musical que renascia e se impunha na década de 1960. E ele foi surgindo em minha vida como surgiu na vida de tantos outros compositores e cantores, produzindo, dirigindo ou mesmo protagonizando espetáculos memoráveis”.

Na série “Mandrake”, exibida pelo canal fechado HBO, Miele interpretou Leon Wexler, que funciona como um ombro amigo, um conselheiro para Mandrake, o protagonista, vivido por Marcos Palmeira, que entende o lado imoral dele, mas o indica sobre formas melhores de agir. O papel é semelhante ao que ele é, afirma um dos diretores da série, André Monteiro: “você não consegue encontrar alguém que fale mal do Miele, porque representa a figura do amigo. Nunca o vi reclamar ou entrar no set emburrado, o que seria normal”. Onde então Miele e o signo de Gêmeos se encontram? No mesmo Não fala com pobre, não lugar. Miele é o geminiano nato. dá a mão pra preto não Interessou-se e exerceu inúmeras carrega embrulho... funções, mas não manteve o foco e, Pra que tanta pose, embora não tenha, ainda, sido protadoutor? gonista em nenhuma delas, brilhou Pra que esse orgulho? em todas igualmente. Menescal ponA bruxa que é cega dera que “tem a mesma capacidade esbarra na gente e incapacidade do Miele. IncapaciE a vida é estanca dade de ser uma coisa só. Eu sou o O enfarte lhe pega, doutor que hoje? Sou um produtor de disco, E acaba essa banca. arranjador, sou um guitarrista, sou compositor, faço shows. Então, eu A vaidade é assim, põe o tenho uma coisa paralela ao Miele, bobo no alto porque agente desenvolveu, talvez E retira a escada pela dificuldade em certos momenMas fica por perto tos, desenvolvemos essas possibiliesperando sentada dades, o que veio a ser muito bom”. Mais cedo ou mais tarde O destino, perverso que é, reserele acaba no chão. vou ao “paulistano carioca da gema” Mais alto o coqueiro, o papel mais difícil que alguém da maior é o tombo do coco estirpe de Luiz Carlos Miele pode afinal. representar: o de coadjuvante, numa Todo mundo é igual história onde o protagonista é ele quando a vida termina mesmo. Descrito como uma pessoa Com terra em cima e na agradável, bondosa, calma, dedicada horizontal aos amigos e “aos prazeres da vida”, elegante, fino, entre outros adjetivos que caberiam no alfabeto inteiro, Miele é, sem “Banca do Distinto”, de Billy Blanco. Miele dúvida, bem sucedido. É o destaque. presenciou a cena de O minibar de sua casa, com uma carta de be- racismo que motivou a bidas de alegrar qualquer visitante e fazer jus composição da letra. à vida boêmia que levou, é o símbolo máximo do que é Miele em seu âmago. E, talvez, o seu âmago, explica porque o Miele profissional é tão pessoal e o Miele pessoal é tão profissional. Uma coisa leva à outra, ligadas por um cordão umbilical indestrutível.

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entrevista

BOSSA NOVA É A MONALISA Quase vinte anos atrás, para materializar sua paixão por um dos maiores letristas da música popular brasileira, Carlos Alberto Afonso criou a livraria e espaço cultural “Toca do Vinícius” e, com ele, o Centro de Referência da Bossa Nova. Profundo conhecedor do que define como “uma forma de execução musical”, o ex-professor de literatura compara o ritmo à arte renascentista. E explica por quê.

Por Maiara Tortorette e Merillyn Reis

O

bairro, não por coincidência, é Ipanema e a rua leva o nome, nada insuspeito, de Vinícius de Moraes. Nela, sob o número 129 C, está instalada desde 1995 a Toca do Vinícius, onde se preserva e manifesta-se não apenas a memória artística do “poetinha”, mas também o melhor da produção musical carioca em Choro, Samba e Bossa Nova. Quando ainda professor de literatura, Carlos Alberto Afonso, sessenta e dois anos, conheceu e se apaixonou pela obra de Vinícius. Pesquisou, reuniu material e lançou em 1991 o livro “ABC de Vinícius de Moraes”. Dois anos depois, criou a Toca. Junto com ela, fundou o Centro de Referência de Bossa Nova, cuja principal razão de existência é “a esperança de despertar potenciais para a música”. Numa tarde de meados de setembro, Afonso nos recebeu na Toca para traduzir a sua versão do que é a Bossa Nova. Melodias, harmonias e arranjos dão musicalidade às palavras que evocam João Gilberto, o Beco das Garrafas, os trios, Miele & Bôscoli, entre outros elementos que compõem a história de um gênero

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acima de tudo contemplativo, “feito não para dizer, mas simplesmente para ser”, como a Monalisa. BRAVO!: Dá para dimensionar a importância da Bossa Nova no cenário musical brasileiro? O Brasil tem uma quantidade de ritmos excepcional, é altamente musical, uma orquestra. É um país grande, uma sociedade diversificada, com culturas diferentes e, consequentemente, com formulações musicais também diferentes. No quadro da MPB, a Bossa Nova entra como grande música, como uma linguagem rica, com uma quantidade incrível de possibilidades harmônicas, de arranjos. A maior das dificuldades é não se colocar essa música em contato com aqueles segmentos da sociedade que não a acessam de forma natural. O objetivo da nossa cruzada é permitir esse acesso. A Toca é um instrumento de ação política e não existiria se não houvesse a expectativa desse tipo de retorno. BRAVO!: Geralmente se fala da Bossa Nova como se não tivesse parti-

do de lugar nenhum, como se fosse uma invenção. É isso? A Bossa Nova segue o mesmo princípio do Choro e do Jazz, os três são formas de execução. O choro e o Jazz estão até conceitualmente mais próximos entre si, porque são formas de executar qualquer ritmo, em qualquer lugar do mundo. Choro executa Beatles, Samba, que a gente chama de chorinho, e por aí vai. O Jazz faz a mesma coisa. Já a Bossa foi originalmente formulada por João Gilberto, que está entre nós, em atividade e dinâmico como sempre, para executar um ritmo exclusivo, o Samba. Entendida dessa forma, ortodoxamente, e não como o mercado procura sugerir para vender, a Bossa Nova é o acorde novo, o intimismo vocal, o minimalismo instrumental, as harmonias, os arranjos. Aí está o conjunto de mecanismos musicais que constituem exatamente uma forma específica de executar. BRAVO!: Muita gente gosta da Bossa Nova por associá-la a letras que falam do amor, do Rio dos anos 50 e 60, das coisas simples e belas. Pou-


cas pessoas valorizam suas harmonias ou seus arranjos. Não seriam as letras indispensáveis à sustentação da Bossa Nova? A pergunta é: as letras têm uma relação estrutural com a forma Bossa Nova de executar? Não, senão não existiriam músicas instrumentais. É claro que as letras valorizam as canções, trazem beleza e ajudam a popularizá-las porque, a partir do momento em que a canção tem letra, passa a ser cantada, e é o que o povo gosta de fazer. Quando permite essa relação participativa, de cantar junto, a canção passa a ser uma referência. Mas nós sabemos que a letra mantém relação acessória com a bossa. Se a música tem letra, ótimo. Se não tem, sem problemas. A bossa está lá, na execução instrumental, às vezes até mais livre. BRAVO!: Miele nos disse em entrevista que a Bossa Nova, assim como o Jazz, nunca será um hit. Você concorda com ele? A Bossa Nova não é popular por uma questão muito simples: para a percepção do que interessa e que forma a sua essência – as harmonias, os acordes, os arranjos –, é preciso estabelecer uma relação contemplativa, tem que prestar atenção. Quem gosta realmente da Bossa é aquele cara que percebe um acorde inédito, o tempo da voz, o tempo do violão. As canções mais frequentemente executadas pela forma bossa nova de tocar são sensacionais, com melodias belíssimas e letras incríveis. É muito fácil as pessoas gostarem delas. O problema é que a Bossa Nova não é a canção como a sociedade pensa que é, ela é a forma de executar a canção. João Gilberto, “o Deus”, nos ensinou tudo isso, o tempo todo. BRAVO!: A Bossa Nova pode, então, ser considerada um movimento musical? A Bossa Nova é uma formulação cultural, especialmente musical, que tem seu momento de ebulição. Muitas formulações têm princípio, meio e fim naquilo que chamamos de mo-

vimento. A Bossa Nova é muito can- cal, Tom Jobim, João Gilberto. tada, contada, mas pouco pensada coletivamente. A obra barroca pode BRAVO!: E como essas atividades ser comparada ao Samba tradicional de primeiríssimo nível foram parar da mesma forma que a obra renas- no Beco? centista pode ser comparada à BosHavia dois produtores principais sa Nova. A arte renascentista busca dos shows no Beco, que cuidavam de a beleza como símbolo da perfeição tudo. Eram dois gênios, Miele e Bôsatravés da simplicidade. Isso é pre- coli. Sem nenhum exagero, Bôscoli cisamente o que a Bossa Nova faz. estaria para a operacionalidade da Não é emoção, é pensamento, elabo- Bossa como a literatura sobre a Bosração. Quando você olha uma pintu- sa está para Ruy Castro e como a forra, impassível, não fala e fica à mercê mulação musical da Bossa está para do seu olhar sobre ela, sempre bus- João Gilberto e Tom Jobim. João fez cando o traço perfeito por meio do a Bossa ser, Bôscoli fez acontecer. E simples, pode se lembrar da Bossa como Ronaldo trabalhava? Em dupla Nova. Na minha cacom Miele, o maesbeça, a Bossa é a Motro, que fazia o meio A arte nalisa, porque ela não de campo entre os renascentista diz nada, ela não foi bastidores artísticos busca a beleza feita para dizer, mas e a plateia, porque como símbolo da sim para ser. ninguém chega ao perfeição através público como ele. BRAVO!: O que era da simplicidade. Isso exatamente o Beco BRAVO!: Parece é precisamente o das Garrafas e qual existir em torno da que a Bossa Nova a importância dele figura de Miele uma faz. Não é emoção, para a Bossa Nova? unanimidade extreé pensamento, Agora mesmo, em mamente positiva. elaboração 22 de março de 2012, É possível explicar foi o cinquentenário esse consenso? do Tamba Trio. Era um De 1969 até trio instrumental genial, a grande hoje, na Calçada da Fama de Ipanemarca dos trios, que foram muitos na ma, já foram gravadas cento e três Bossa Nova, e que tocou junto, pela placas. Quando eu gravei as mãos do primeira vez, com esse em uma boa- Miele numa delas, a rua ficou inteite chamada Bottle’s, que ficava em ramente lotada. Ele não representa um lugarzinho de Copacabana que apenas uma liderança entre artistas, recebeu o nome de Beco das Gar- também reúne, por tudo o que tem rafas. Antes de virar um beco sem feito durante a vida, seguidores de saída, era uma viela que ligava a todas as idades e é simplesmente Rua Duvivier à Rua Rodolfo Dantas. amado. Ele consegue sintetizar diverDepois que fecharam a Rodolfo Dan- sas características que dificilmente tas, quatro imóveis dentro do beco se encontram em uma só pessoa. foram ocupados por boates, três de Tem talento e vontade, uma química música, Bottle’s, Bacará e Little Club, básica na vida de quem quer cone uma de promiscuidade, essa cha- quistar qualquer coisa e tem legitimimada Magrife. A Bossa, lá no Beco, dade para fazer o que quer que queidurou um tempo muito curto, não ra fazer, porque ele é o homem que teve um fôlego extraordinário, porque se fez. Ou seja, Miele tem um acervo era inviável mercadologicamente. histórico do qual foi sujeito, personaNão havia bilheteria para manter a gem central, além de uma legião de apresentação de uma pessoa depois seguidores que o reconhecem de tal que fazia sucesso. Mas foi lá, só para forma que se dispõe a passar quem é citar alguns nomes, que apareceram ele, o que fez e o que faz para as noSergio Mendes, Carlos Lyra, Menes- vas gerações. Ele é um abençoado.

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aspas

O QUE FALAM SOBRE MIELE

“Era a primeira vez que eu fazia alguma coisa em forma de auditório. As pessoas gostaram e eu fiz mais dois programas. Foi aí que eu conheci o Miele, e desde então nós nos tornamos amigos”

“Ele não é carinhoso assim de pegar, abraçar, mas é de um coração do tamanho do mundo” Regina Miele, irmã de Luiz Carlos Miele.

“Contracenar com o mago, tem sido um ensinamento diário, não só na peça, mas para a vida”

Wanda Sá, cantora que conheceu Miele no programa Dois no Balanço.

Malu Rodrigues, atriz que interpreta Dorothy no espetáculo O Mágico de OZ.

“O Miele é muito Brasil... É a sofisticação e ao mesmo tempo muito popular dentro de uma mesma pessoa. É uma coisa rara hoje em dia ou você é muito popular ou é muito sofisticado” Simoninha, cantor, filho de Wilson Simonal.

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“O Miele na televisão fica um pouco duro, porque ali você tem um papel que não pode improvisar muito. A vida dele é um improviso! Eu não acho muita graça dele na televisão não, mas ele numa mesa é a melhor coisa que tem” Roberto Menescal, cantor, pianista e produtor.

“A impressão que fica é que a vida de Miele é um palco constante onde prevalece o bom humor, a elegância e a inteligência astuta e nobre exteriorizada por aquele doce olhar de generoso matador...” TOQUINHO, COMPOSITOR, VIOLINISTA E COMPOSITOR DE MPB.




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