Edição nº2 Março 2014
CAPA Balanço da Época 2013/2014 Esperas Nocturnas Como preparar um cevadouro Calibres para esperas SurfCasting
Mossberg 100 ATR
4ª Caçada aos Tordos em S. Cristóvão
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Indice
Pág. 18
Dicas de SurfCasting
Índice ……………………………………………... 3 Caça Balanço da Época 2013/2014 ……………………. 6 Preparação de um Cevadouro ………..………... 10 Equipamento Melhor calibre para esperas …………………..... 12 Mossberg 100 ATR ……………………………… 14 Legislação Legislação e Defeso ……………….……………... 16 Cães de Caça Saúde Animal ………………………………….… 18 Pesca Surfcastin ….……………………………………... 20 Convívio 4ª Caçada aos Tordos em S. Cristóvão ................. 26 Cultura Vida e Morte de um Cão de Caça……………..… 32 Estórias A Pesca vista por Elas…………………………… 36 Na Cozinha com… Pombo Bravo à moda de Málaga ………..……… 38 Ensopado de peixe com frutos do mar ….……... 39 Galeria Fotos ……………………………………………... 40 Parceiros Parceiros KaciPesca ………………………..……. 42
Pág. 24 4ª Caçada aos Tordos em S. Cristovão
Será desta? Com o término de mais uma época de caça esta é a pergunta que deixo no ar. Será desta que vamos ganhar coragem e começar a fazer algo pelo sector em vez de o criticar? A época que agora terminou deixou indícios bastante fortes do que podemos esperar nas próximas épocas. A enorme mortandade na população de coelhos por falta de cuidados profilácticos na prevenção das doenças, pela nossa parte, por parte das zonas de caça e da tutela que se mantém pelas intenções há muito apregoadas e a escassez de aves migratórias fez desta época a pior das últimas décadas. Está na hora de deixar de criticar todo o sector sem lhe dar sequer uma hipótese, está na hora de começarmos a fazer mais pelas nossas zonas de caça, está na hora de deixar um legado venatório benéfico às futuras gerações de caçadores, inclusive aos nossos filhos. É este o momento de inverter o ponto da situação e fazer o “trabalho de casa”, preparar a próxima época para que possamos obter resultados satisfatórios e positivos nas nossas caçadas. O período de descanso é o mais importante e crítico de todo o ano. Ao contrário do que muitos pensam caçar não é só pegar na arma e ir para o campo, ajudar a associação em trabalhos de campo, construir bebedouros, comedouros ou simplesmente dar ideias ou debater assuntos é o dever de qualquer caçador, é a diferença entre uma boa época ou mais uma péssima. A mudança de mentalidades por parte de todos é cada vez mais importante para o bem-estar do sector. Cumprir limites, cumprir calendários e prazos de abate, fazer ver aqueles que só têm gosto em disparar que a caça é uma paixão pela Natureza e por todas as espécies que nela habitam é obrigação de todos os verdadeiros caçadores. Será desta? Rogério Alferes
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Um excelente ano de safra, com bolota por todo o lado, deu um mau ano d KaciPesca Digital Caça aos pombos terem encontrado muitos sítios para se alimentarem sem serem Mais uma vez bateram mais a sul que nunca, e por lá ficaram durante qua
De considerar também, que anos de muita chuva (por norma maus em migratórias, e que, os resultados são sempre mais KaciPesca — Diverte-te por cá ;) 4 dias com condições para se caçar os mesmos. Dias de chu Este ano, por exemplo, foi do pior que pode haver para que poucos dias em que a meteorologia permitiu condições para n
de caça, em resultados, devido KaciPesca Digital m incomodados. ase toda a época.
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a correspondem a uma temperatura média mais elevada) são habitualmente escassos devido à falta de pássaros, e mesmo que os haja, devido à5 falta de KaciPesca — Diverte-te por cá ;) uva e nevoeiro, por norma são maus dias de caça aos tordos e pombos. em caça a negaçar, tendo havido em Dezembro, Janeiro e Fevereiro, muito negaçar.
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Caça Balanço da Época 2013/2014
Sou caçador à 15 anos e esta é das piores épocas que me recordo. Não me lembro de outra tão ruim como esta. A época venatória 2013/2014 começou com a abertura às rolas, onde estas continuam a teimar em não nos brindar com a sua presença como era habitual em tantas outras épocas, talvez a ausência de alimento, o clima ou alteração das rotas de migração faz com estas ave cada vez se aviste em menor numero.
Na caça geral, as lebres e perdizes também fizeram notar a sua ausência em algumas zonas, mas penso que a nível nacional ainda houve muito boas caçadas e avistamentos, principalmente de perdizes. Temos no nosso Portugal zonas de excelência e com óptimas condições para que estas duas espécies nos continuem a alegrar com lances fantásticos, basta uma fácil gestão no terreno e um bom controlo de abates, sem excessos.
A doença das lebres, principalmente a Tularémia, esteve presente em cerca de 20% dos cobros, pelo menos na zona raiana da beira Interior. Neste período, em muitas zonas o pombo torcaz foi o salvador de muitas jornadas de caça. Começa a haver um numero considerável de efectivos a procriar no nosso País, tornando esta espécie quase sedentária.
" tularémia, também conhecida como febre do A coelho, é uma doença infecciosa rara causada pela bactéria francisella tularensis, que tanto pode afectar seres humanos como animais, sobretudo roedores, como coelhos e lebres. Em Portugal, até ao momento, não há nenhum caso humano conhecido." O grande ausente da época geral, infelizmente por maus motivos, foi o coelho-bravo. Continua a ser bastante afectado pelo vírus da Doença Hemorrágica Viral (DHV). Este foi um dos piores anos, houve uma grande mortalidade e decréscimo nas sua população, obrigando muitas zonas de caça a antecipar o término às suas caçadas.
O pombo torcaz começa a ser uma das espécies mais desejadas e procuradas na caça de Verão.
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A nova estirpe da DHV mostra-se altamente mortal.
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Caça
Texto: Rogério Alferes Fotos: Google Para colmatar a fraca temporada até ao momento, chegou a altura das migratórias de Inverno que não nos magoaram o ombro com excelentes manhãs de tiros. Em Novembro já se notava a falta de "salpicadinhos" nos nossos campos, adivinhava-se um ano muito fraco de tordos, facto que se confirmou com a abertura em inícios de Dezembro na maior parte das nossas zonas de caça. Apenas em algumas zonas do País se conseguiram realizar algumas boas caçadas a esta pequena ave, como é o caso do Algarve.
assim alimentar-se de forma tranquila. Em alguns pontos ainda proporcionou excelentes caçadas, deliciando os amantes da arte de negaçar, arte esta que não está ao alcance de todos.
Na caça maior encontramos cada vez mais "adeptos", talvez porque se começam a organizar mais montarias de forma séria e competente. Penso que tenha sido mais uma boa época monteira. Agora é tempo de limpar a arma, dar uns tiros aos pratos, preparar a próxima época, avaliar o que podemos melhorar e criar condições para que no final possamos avaliar de forma positiva. O pombo-torcaz que esteve presente no Verão, e que teve grande numero de entradas em fins de Outubro e inícios de Inverno, "desapareceu", ou melhor, espalhou por algumas zonas do País, não formando aqueles grandes cordões que víamos ao amanhecer ou durante a recolha para a dormida. Talvez devido à abundância de comida e também devido às enormes zonas de terreno onde não são caçados, conseguindo
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Este método de caça sem dúvida que é a minha grande paixão na vertente de caça maior. Estar no campo ao entardecer, escutando os pássaros na ida para a dormida, ouvindo os primeiros pios das aves nocturnas, ficando enovelado pelo entardecer, com todos os sentidos alerta, é algo único. De noite os sons propagam-se com maior eficácia e chegam mais longe, por isso o órgão mais importante de um caçador de esperas é o sentido da audição. Para mim este tipo de caça é do mais puro que há, a noite é do javali, ele tem todos os trunfos do seu lado, o ar da noite traz-lhe os cheiros, os ruídos, é onde ele é “REI”. Por isso quando uma espera é bem-feita, todos estes trunfos são contrariados por nós, temos de ser parte da natureza, estar embrenhados no campo em perfeita sintonia com todos os elementos e conseguir superar assim quem é feito para sobreviver neste meio, é sinal de que o trabalho foi bem feito e que conseguimos superar o “REI”. Claro que estar de noite nos campos traz também uma certa nostalgia e para alguns poderá criar algum receio, por isso não é recomendável fazer este tipo de caça em solitário ou pelo menos evitar ao máximo, isto claro por todos os perigos que acarreta andar á noite por montes e cabeços, mas às vezes o vício é muito e acabamos por abusar. A serenidade da noite também tem o dom de nos acalmar, acalmia essa que certamente será quebraKaciPesca — que Diverte -te por cá ;) o da pelo primeiro estalido se ouvir no mato, pau a partir a fungadela do porco, um guincho de um listado e os grunhidos das porcas a meter os bácoros na ordem, tudo isto faz o coração andar a mil á hora.
Caça
É desta adrena trabalho posto n vestígios das vi O momento de pontaria, estabil estabi O tiro parte o j vos, e passados 8 melhor, senão Tudo que acont esfolar O petisco da oc não é só caçar, o
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Caça Texto: José Reizinho Foto: Google
alina que eu vou á procura, o momento em que do mato sai o animal, o respeito do momento, todo o naquele cevadouro, ou a aposta feita naquela parcela de aveia, onde tínhamos durante o dia visto os isitas nocturnas, faz com valha a pena sair de casa e enfrentar o frio e as terríveis melgas. e encarar a arma é algo que até arrepia, colocar na mira o animal, ter a calma suficiente para fazer ilizar lizar a arma, ter fé de que o tiro sairá de forma perfeita e cobrarmos o nosso querido troféu. javali cai redondo, sinal de bem atingido, recarrega-se a arma, respira-se fundo, aclamam-se os neruns minutos vamos finalmente observar o nosso troféu, se for o tal javali dos nossos sonhos tanto Pesca — -te por ;) o, resta-nosKaci repetir a Diverte experiência e cánunca desistir, o tal dia há9-de chegar. tece depois da espera também é feito com o devido respeito que devemos ter pelos animais cobrados, o animal e aproveitar a sua carne. casião fazem parte da tertúlia que no final da espera fazemos com o nosso grupo de amigos, porque o convívio também faz parte e é salutar.
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Caça
Como preparar um cevadouro? Muito se tem escrito acerca deste assunto e muito mais se irá escrever, contando que todos nós, esperistas, temos uma palavra a dizer sobre o assunto, contamos então com inúmeras opiniões, todas essas opiniões têm a sua validade, saibamos pois tirar proveito do melhor que há em cada uma. Por isso eu também tenho uma opinião formada acerca do assunto e que até aos dias de hoje tem dado alguns trunfos, portanto alguma coisa terá de válido para quem quiser aproveitar. Sabendo da querença dos porcos e aproveitando um estudo prévio que faço na observação das passagens, escolho uma zona para colocar o cevadouro. Não devemos ficar muito perto de caminhos, e das casas, pois podemos ter pessoas a deambular por esses caminhos até tarde, principalmente no Verão a fazer caminhadas, que agora estão tanto na moda. Tenho também em conta o vento
observando de onde sopra normalmente, e procuro colocar a espera de modo a não entrar ar no cevadouro. Sabendo que os javalis gostam de entrar com a luz da lua por detrás, penso que se fizermos um abrigo onde a lua não incida directamente sobre nós, o factor vento será o mais importante para não sermos detectados. Normalmente a espera é feita ao nível do solo, ou se houver um relevo natural que me dê alguma altura, será aí que coloco a espera, mas nunca a mais de 20, no máximo 30 metros da comida, de noite todos os gatos são pardos e todas as sombras nos parecem javalis, quanto mais perto mais confiança teremos na hora de disparar. A comida começo por deitá-la no chão, pois passado algum tempo os próprios javalis se encarregam de fazer a eira, desconfiam menos e não deixamos sinais quase nenhuns da nossa presença, tenho é o cuidado de retirar todos os obstáculos
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que impeçam de ver bem o que entrou á comida, por exemplo, algumas giestas ou estevas mais altas, mas sendo por exemplo o cevadouro feito num campo de aveia, onde os javalis têm ido comer, basta acamar um bocado a aveia e começar a colocar a comida no sítio escolhido e não se preocupamos com mais nada e não ser abastecer se possível todos os dias o cevadouro com comida nova, isso sim é muito importante. Tenho alturas em que se vai lá por comida durante 15 ou 20 dias, a comida vai sendo consumida uns dias, outros não, e só quando ela começa a desaparecer todos os dias é que se vai fazer a espera. Nunca por muita comida, só o suficiente para os manter por ali uns dez ou quinze minutos no máximo, quando formos esperar, aí sim começamos uns dias antes a colocar mais um pouco, mas nunca grandes quantidades, cerca de um quilo no máximo dois, no caso do milho.
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KaciPesca Digital A ceva normalmente é milho, só que este ano foi adoptada uma nova estratégia, foi o de colocar no milho leite condensado e digo-vos que foi um sucesso, os bichos gostam daquilo que se pelam, ao ponto de um navalheiro ter entrado ao cevadouro ainda de dia e com vento nas minhas costas, só parando quando afocinhou no milho, vinha a roncar de zangado por me sentir, achei também que foi um abuso e não deixei que provasse o petisco naquele dia, podia-lhe fazer mal, coisa que nunca mais ele pode apreciar, tadito. Um petisco que também resulta bem na minha zona, lá para o final de Setembro, são os figos, principalmente os figos pretos já quase em passas, os javalis perdem-se por aquilo. Como no campo ainda vão havendo algumas figueiras e a comida começa a escassear, pois as vinhas já estão vindimadas, a procura dessas figueiras passa a ser uma rotina para os javalis, mudase a espera para os cevadouros dessas zonas e carregam-se de figos, muito bom. Nas receitas do que se deve por ou não nos cevadouros, vale um pouco de tudo, eu digo que tudo aquilo de que nós gostamos será bom para por num cevadouro, os javalis são omnívoros e portanto topam a tudo. Nos montes não é fácil andar todos os dias á procura de comida para enganar o estômago, por isso um petisco oferecido é sempre bem-vindo, pondera sempre o bom senso como é óbvio. Como podem ver há uma série de coisas que temos de ter em conta e somente com a observação e o conhecimento rigoroso do campo onde se vão fazer os cevadouros, darão a confiança necessária e a certeza de haver sucesso. Mas nem sempre isso acontece, pois os dias em que se vai ao campo e que as esperas saem goradas são mais do que os dias que correm bem.
Caça Um animal no seu meio natural tem todos os trunfos do seu lado e será muito difícil de contrariar. Os cheiros, os ruídos tudo está contra nós e a favor deles, devemos compreender que fazer entrar um grande navalheiro ao cevadouro é difícil, esse “menino” antes de entrar dará umas quantas voltas ao terreno procurando indícios que nos denunciem, e acreditem que basta uma fungadela ou até um arrastar de pés no chão que sejam pressentidos por um desses animais, que ele nessa noite preferirá ficar sem comer ou andar mais uma dezena de quilómetros á procura de comida, do que entrar num sítio onde pressinta que à risco para a sua sobrevivência.
Mas a adrenalina que se sente quando nos entra um bicho grande no cevadouro, ou mesmo quando nos ficamos por ouvir roncar e bufar dentro do mato aquele porco já batido, valem por tudo, é isto que me faz sair de casa às seis da tarde no Verão, quando podia estar a beber uma cerveja gelada com os amigos, e é sem qualquer dúvida a minha caça de eleição caça maior.
Convém cobrir sempre o nosso cevadouro dos olhares alheios, principalmente de outros animais que possam existir na zona.
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Boas esperas! Texto: José Reizinho Fotos: Google
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Equipamento
Calibres para Esperas
Muito se tem escrito sobre o assunto, uns com base em tabelas outros com experiências no campo. Eu vou tentar com a minha “pouca” experiência e conhecimentos balísticos ajudar a escolher um calibre que faça o trabalho sem problemas. Já li em muitos artigos que para esperas serve desde o 243 Winchester até ao 375 H&H, o que não deixa de ser verdade, mas dentro deste intervalo à sempre os que são “melhores” e os que não se enquadram tão bem. Por exemplo, acho que o 243win não deveria ser utilizado na espera, sim vão dizer que chega, mas chega se o tiro acertar em zonas mortais e mesmo assim a morte do animal pode não ser rápida como convém, ou seja falta-lhe energia e diâmetro para um bom trabalho. O mesmo não se pode dizer do 375, têm muita energia e diâmetro, mas na minha opinião é um calibre
demasiado para o nosso cantinho europeu. E porquê? Este tipo de calibre para a espera tem bastante inconvenientes; o recuo, quantos caçadores já ficaram com o sobreolho em sangue ou negro, mas isso nem é o mais grave, grave é o efeito psicológico que vem depois ao puxar o gatilho, creio que muitos que estão a ler entendem o que estou a escrever. Depois também neste tipo de calibres, há o preço das munições, o ser mais difícil de ter um leque de escolha de pontas e o estragar muita carne, sei que alguns dizem se quero carne vou ao talho, mas acho que a carne da caça deveria ser mais respeitada que o troféu, não podemos esquecer que a caça é alimento.
Faz-me impressão a forma como hoje em dia os caçadores tratam as carcaças dos animais, tiramlhe a cabeça por causa dos dentes ou armações e depois…
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KaciPesca Digital Na verdade, penso que a grande maioria dos caçadores tem o calibre ideal para a espera, porque ele não é só um, mas vários; 270win, 7-64 brenneke, 7mm rem magnum, 308win, 30-06spr, 300 win mag, 8-57 js (r), 338 win mag, 9,3-62 ou 9,3-74 R, ou seja entre 7mm a 9,3 mm e entre 3800 joules e 5200 joules. Portanto não é preciso andar sempre com dúvidas do calibre a utilizar, a preocupação deveria ser outra, o treino, a afinação e a escolha do projéctil (ponta). O treino porque muitos caçadores não têm experiência com bala e dominar o tiro de precisão, o controle de gatilho a respiração são elementos essenciais para o êxito do tiro. A afinação; quantos deixam a arma no armeiro para afinar, depois passam muito tempo sem ver se a arma está afinada, só depois de vários erros é que se lembram de ver a afinação. É geralmente na afinação que se detecta erros como por exemplo o das montagens
Equipamento que não estão fixas, e também pode ser na afinação que se detecta problemas no material óptico. A escolha do projéctil (ponta); requer algumas experiências em analisar a carcaça do animal, o rasto que fez de sangue, o agrupamento que faz na carreira de tiro, etc… (talvez um próximo número). Poderia escrever mais sobre calibres, tabelas balísticas e outros, mas acho que em nada iria ajudar, por achar que todos ou a grande maioria está bem servido. Não, não me esqueci do calibre 12 da nossa espingarda, ele é bastante bom e efectivo, mas apenas dentro de uma distância adequada, portanto não vale apena descrever o que todos nós sabemos…
Durante a noite, nunca atire sem certezas!!
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Texto: José David Fotos: Google
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Equipamento
Mossberg 100 ATR A carabina Mossberg 100 ATR está disponível no nosso país em vários calibres. É uma arma low-cost onde os preços iniciam nos 500€, tornando-se assim numa opção viável em tempos de crise.
Especificações Fabricante: Mossberg País: Estados Unidos da América Modelo: 100 ATR Tipo: Carabina de ferrolho Calibres: .243, .270, 30-06 e .308 Peso aprox.: 3.100g Preço: Desde 500€
Ferrolho de acção curta para um rápido recarregamento
Carregador 4+1
Calha tipo weaver de fábrica
Será que vale a pena?
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Gatilho ajustável
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Equipamento
Nos tempos que correm, comprar uma carabina para O ferrolho não é “manteiga” mas faz bem a função e a prática cinegética da caça maior tornou-se imperati- acredito com a rodagem fique a trabalhar muito bem, vo. ou seja, sem prisões e com bastante suavidade. Neste pequeno texto vou descrever um pouco sobre a carabina Mossberg 100 ATR. Devo dizer que não possuo a referida carabina, mas já fiz tiro com várias para afinação, portanto a minha opinião é um pouco supérflua e diz mais respeito a aspectos mais técnicos e não a outros como por exemplo o uso intensivo. A arma tem o espirito americano, sintética e fosca, sinceramente não gosto muito do toque porque acho-o muito plastificado, o cano tem boa precisão e fiz bons agrupamentos com elas, apenas um senão, aquece demasiado rápido e ao fim de meia dúzia de tiros convém deixar arrefecer para não prejudicar a precisão (isto para afiná-la, em situação de caça é mínimo). Com várias (Mosserberg 100 ATR) consegui entre 1,5 a 2 cm entre 3 tiros a 100 metros. Sinceramente penso que esta carabina tem uma óptima relação preço/qualidade que dificilmente se pode pedir melhor, uma bela opção para as esperas.
Sim! Vale a pena. O gatilho desta arma também não é do melhor, mas sempre é bem melhor que as semi-automáticas que existem no mercado, ele tem um pouco de arrasto e é preciso um pouco de adaptação para conseguir bons agrupamentos, portanto quem quiser utilizá-la em aproximações, treine um pouco na carreira de tiro e em casa a seco com uma munição de “mola” para não estragar.
Texto: José David Fotos: Google
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Legislação Legislação e Defeso
L
onge vão os tempos em que terminada a chamada época de caça, para muitos logo no fim de Dezembro, depois da “geral”, se arrumava o ferro e restantes atavios até agosto. Iniciava-se então o defeso ou veda e o comum dos caçadores aguardava até à tradicional abertura das rolas, sem mais atividade cinegética que não fosse nos coutos ou coutadas, o trabalho dos “bicheiros” na sua guerra contra a bicheza e dando uma mãozinha no acasalamento das perdizes, desfazendo algum triângulo amoroso pela eliminação de um dos perdigões em competição. Desafiando as regras, ia-se apanhando algum orelhudo com os ferros, que sempre servia de unto para alegrar as batatitas na mesa dos filhos, ou para valente petisco na taberna ou na adega com os amigos mais chegados. Outros mais afoitos, tratavam dumas peles de variados e odiados predadores, que todas valiam dinheiro, por processos pouco ortodoxos, ou arriscavam umas esperas às raposas, cuja pele chegou a valer na minha lembrança 500 escudos, quando um trabalhador ganhava 50 por dia, quando havia trabalho. Uns e outros, comiam o que podiam, mas sabiam calar-se. Não rebentavam se não se gabassem, como os gabarolas de agora quando cobram um tordo a mais... Estes “transgressores” acabavam por fazer um grande trabalho de correção da densidade das espécies e de controlo dos predadores, transmitindo ainda de geração em geração, profundos conhecimentos da terra e da natureza, da preservação, criação e hábitos das espécies e da arte da caça. Nesses tempos, difíceis mas saudosos, a legislação da caça era bem
mais simples, pouco mais que “o que não é proibido é obrigatório” e estava tudo dito em tempo de ditadura. Com a democracia e com o estado de direito, veio o ordenamento e a complexidade da legislação da caça e da pesca é hoje uma realidade que afeta parte significativa da população. A burocracia, a incompetência, o desconhecimento do meio rural e da realidade destas atividades e a obsessão natural dos nossos governantes, para complicar e sacar, em nada contribuem para que possamos, como outros com menos recursos naturais que nós, tirar partido, desfrutar e valorizar o que devia ser de todos, criando riqueza para um país que teima em não saber governarse. Mais do que criticar a complexa legislação e a sua justeza, é importante nesta altura do ano conhecêla. Desse conhecimento pode depender uma boa preparação da próxima época nas nossas zonas de caça e a continuidade de atividades de caráter venatório, como sejam o controlo de predadores, esperas, largadas, treino e repovoamentos. Desde o início do ordenamento e da lei 30/86 à atual 173/99 e às suas sucessivas regulamentações, que as medidas legais possibilitam ações sobre as espécies e o meio, em boas práticas de fomento e exploração, com atividades permitidas todo o ano e todos os dias, mantendo acesa a chama, o entretenimento e o convívio, alguns postos de trabalho importantes e uma atividade com algum peso, que poderia ser muito maior, na economia nacional. O controlo de predadores, como a raposa, o saca-rabos, a pega-rabuda (Pica pica) e a gralha-preta (Corvus corone), pode e deve ser feito em simultâneo com as jornadas de caça da “geral”. Sendo o período venatório da pega e da gralha, de agosto a
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Fevereiro, de salto, espera e cetraria e como constam do calendário venatório atual, é pena que nos esqueçamos sempre destes corvídeos, quando ditos caçadores ainda atiram a poupas, tentilhões e cotovias que deixam no terreno... No fim de Fevereiro não acaba a possibilidade legal de corrigir a densidade de predadores. Terminada a sua caça regular, é tempo de requerer ao ICNF a correção por meio de caixas-armadilha ou esperas, que pode ser concedida a título excecional até 31 de julho, com deferimento tácito ao fim de 5 ou 10 dias, conforme a zona de caça se encontre em área classificada ou não (Art.º 113.º do DL 202/2004, na sua redação atual dada pelo DL 201/2005). Com as largadas e jornadas de convívio e de “caça” nos campos de treino, surgem também as dúvidas habituais. Aos confrades dados a estas atividades convirá lembrar que os campos de treino devem estar devidamente autorizados, sejam permanentes ou provisórios, que neles se podem exercer durante todo o ano atividades de caráter venatório sobre espécies cinegéticas criadas em cativeiro, nomeadamente largadas, o treino de tiro com armas de fogo classificadas como armas de caça, arco ou besta, treino de cães de caça e aves de presa, a realização de provas de cães e de Santo Huberto, ou outras similares, a formação e avaliação de candidatos à carta de caçador e provas desportivas. Que as espécies utilizadas devem ser acompanhadas por guia de transporte desde a sua origem, bem como depois de abatidas e que nas largadas o seguro é obrigatório e podem ser utilizadas variedades de pombos domésticos (Columba livia), nos termos da alínea q) do art.º 2.º do DL 202/2004 e observando-se a obrigatoriedade de vacinação contra
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a doença de Newcastle. Nos campos de treino de caça são exigíveis todos os documentos de caçador, armas e cães, com exceção da licença de caça. As espécies mais utilizadas são a perdiz-vermelha (Alectoris rufa), o coelho-bravo (Oryctolagus Cuniculus algirus) e a codorniz-comum (Coturnix coturnix). A falta de criadores com alvará para a criação de codorniz para utilização em campos de treino e consequente baixa oferta e elevado custo, em relação a outras muito semelhantes, mais baratas e fáceis de adquirir, como a codornizjaponesa (Coturnix japonica), de produção de carne e ovos, tem gerado polémica e problemas, a evitar por caçadores e zonas de caça. Se dum par de codornizes compradas em qualquer mercado, para um treino do nosso aprendiz, não virá grande mal ao mundo, o mesmo
Legislação
não se pode dizer de umas dezenas ou centenas utilizadas numa solta de qualquer evento, por vezes em jornadas pagas. Para além do cumprimento da legislação, nomeadamente as portarias 464/2001 e 465/2001, condicionando as atividades nos campos de treino e sujeitando estas espécies a medidas especiais, é nosso dever e das entidades gestoras e titulares das zonas de caça, colaborar na defesa e preservação da pureza genética da fauna silvestre que sustenta a continuidade da nossa atividade venatória, como ainda a conhecemos. Nesta altura, será ainda oportuno alertar os nossos amigos pescadores lúdicos para a recente portaria 14/2014, de 23 de janeiro, que vindo regulamentar o DL 246/2000, na sua atual redação, vem acrescentar mais confusão e dificuldades para o setor, que se desejava simplificado e incentivado. Sem prejuízo de
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mais e melhor análise, de realçar apenas que as águas interiores não marítimas, são no âmbito da portaria e para todos os efeitos, as que se encontram sob jurisdição de autoridade marítima e não as águas doces e interiores de um modo geral. E enquanto a Natureza cumpre a sua função e aguardamos a magia de noites mais amenas para o encanto das esperas, desfrutemos com regras, semeando e fomentando para poder colher, como homens e caçadores conscientes e primeiros interessados na conservação e preservação das espécies.
Texto: plingrino Foto: KaciPesca
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Cães de Caça
Principais cuidados com a Saúde do seu Cão
A saúde do seu fiel companheiro é algo que tem de ser cuidadosamente vigiada. Tal como no ser humano um dos principais factores para a saúde do seu animal é a alimentação, assim como as visitas ao veterinário são também muito importantes senão em muitos casos fundamentais.
Nesta edição vamos abordar algumas das doenças caninas mais frequentes. Cinomose – Trata-se de uma doença viral multisistémica. Esta é altamente contagiosa, mas não para as pessoas. Alguns dos sintomas são febre, bronquite, pneumonia, alterações no sistema nervoso e gastroenterite. A cinomose é particularmente grave se o cão tiver um sistema imunológico debilitado, pois além da disseminação do vírus, o animal pode sofrer de infeções secundárias causadas por bactérias oportunistas, podendo levar à morte.
Coronavírus – Esta é uma doença contagiosa aguda, geralmente obtida através do contacto com fezes e outras excreções de animais infectados. O principal sintoma é a diarreia, podendo ocorrer também vómitos e falta de apetite. Tenha especial atenção à presença de sangue nos vómitos e nas fezes, pois podem ser um forte indicador da presença do coronavírus. Dermatofitose - Doença provocada por fungos, que provoca lesões redondas com peladas no corpo do cão. Uma boa alimentação e uma boa secagem do pêlo do cão após cada banho ou molha, ajuda a prevenir o aparecimento desta doença. Dirofilariose - Também conhecida como verme do coração, a dirofilariose é provocada por um parasita (Dirofilária), transmitido através de picadas de mosquito. Atinge cães, gatos e até seres humanos. Esgana - Esta doença infecciosa, provocada por um vírus, atinge principalmente os pulmões, o trato intestinal e o sistema nervoso dos cães, apresentando uma
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KaciPesca Digital taxa de mortalidade muito elevada (apenas a raiva tem uma taxa de mortalidade superior). A febre é o primeiro sintoma e o quadro clínico piora quando o animal sofre infecções secundárias provocadas por bactérias que aproveitam a situação de fragilidade do animal, originando sintomas variados como perda de apetite, febre, pneumonia e diarreia. Cerca de metade dos animais infectados vem a sofrer também de problemas nervosos, como ataques epilépticos, convulsões, perda de coordenação e paralisia. Tratando-se de um vírus, não existem antibióticos ou outros fármacos capazes de travar a progressão da doença, pelo que o único método eficaz de evitar a esgana é através da vacinação.
Cães de Caça tospirose requer tratamento urgente no veterinário e pode ser transmitida para seres humanos. Obesidade – Esta é uma doença que afeta cada vez mais os animais, devido a uma alimentação desadequada. Não existem sintomas concretos. Basta olhar para o seu amiguinho. Uma dieta equilibrada e saudável resolve o problema.
Otite – Também conhecida como inflamação de ouvido. Os sintomas mais comuns desta doença são o seu cão balançar muito a cabeça e coçar demasiado as orelhas. Manter os ouvidos do cão limpos, protegê-los durante o banho e tentar evitar o contacto com outros cães que tenham o problema são importantes medidas Giardíase – Esta doença, causada por parasitas que de prevenção desta doença. atingem o estômago e os intestinos, causa má absorção e digestão. Os seus principais sintomas são a desidra- Parvovirose – Esta é uma doença altamente contagiotação, diarreia, perda de peso, dor abdominal, flatulên- sa, provocada por um vírus. Alguns dos sintomas são cia, perda de apetite e vómitos. É necessário o cachor- febre, apatia, vómitos, perda de apetite e diarreia. A ro tomar medicação antiparasitária prescrita pelo mé- taxa de mortalidade é elevada, sobretudo em cães com dico veterinário. menos de cinco meses de idade e o internamento é frequentemente necessário para tratamento do animal. Hepatite viral canina – Esta doença atinge principalmente os rins e o fígado dos cachorros. Alguns dos Raiva – A raiva é uma das doenças mais frequentes sintomas clínicos incluem febre, diarreia, apatia, vómi- nos cães (podendo atingir todos os mamíferos, incluintos e em alguns casos dá-se também a alteração na cor do o Homem), 100% fatal, sendo por isso considerada dos olhos (geralmente reversível). O risco de mortali- uma enfermidade infecto-contagiosa aguda. Esta doendade não é elevado. ça caracteriza-se por comportamentos nervosos e / ou agressivos. A raiva pode passar para o ser humano Insuficiência Renal – Esta doença está directamente após a mordidela de um cão. ligada com os rins, ou melhor dizendo, com o seu mau funcionamento. Alguns dos sintomas são a perde de Tosse dos canis – Esta doença respiratória propaga-se apetite e de peso, beber muita água, xixi muito claro e facilmente em todos os tipos de cães, particularmente frequente, vómitos e diarreia. em zonas onde são mantidos muitos animais juntos, como lojas, associações e canis (daí a origem do noLeishmaniose - Doença infecciosa grave, que se pode me). Alguns dos sintomas são tosse seca, vómitos, revelar fatal. É causada por um protozoário chamado febre e falta de apetite. A tosse dos canis apresenta leishmania, transmitido aos cães (e a outros mamífe- uma maior taxa de mortalidade entre cachorros e cães ros, como o Homem), através da picada de mosquitos. idosos. Evitar que o cão esteja sujeito a mudanças As lesões nos cães iniciam-se na pele e depois espa- bruscas de temperatura ou em locais muito húmidos lham-se pelos órgãos internos, originando peladas, ajuda a prevenir, no entanto a maior fonte de contagio perda de apetite, emagrecimento, vómitos, diarreia, são outros cães contaminados. É necessário tratamento hemorragias nasais, feridas no corpo, aumento da sede com antibiótico adequado, prescrito pelo médico vetee da urina. O tratamento consiste em tentar controlar a rinário. doença, proporcionando ao animal a melhor qualidade de vida possível e tentando evitar recaídas, pois assim que adquirida, torna-se uma doença crónica. Leptospirose - Trata-se de uma doença provocada por uma bactéria, transmitida através da urina e que pode infetar os cães através de feridas abertas, bem como de comida ou bebida contaminada por urina infetada. Inicialmente o cão apresenta febre, perda de apetite e letargia, mas num estágio mais avançado podem surgir úlceras na boca e na língua, vómitos e diarreia. A lep-
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Bruno Soqueiro
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Pesca
Surfcasting
Por tradução temos que o surf casting será a pesca efectuada nas ondas. Mas na sua essência tratatrata-se simplesmente de pesca ao fundo, uma das mais antigas formas de pescar e que sofreu várias designações à medida que foi sendo praticada em diversos terrenos: falésias, pontões, praias e rochedos. Nesses diferentes cenários há apenas uma questão de adaptação ao terreno porque o princípio é o mesmo: projectar uma iscada com recurso a uma chumbada. As Canas Outrora em cana-da-índia ou bambu, mais ou menos elaboradas, até aos dias de hoje em carbonos e kevlar, de alta sofisticação, as canas são a “alma” da pesca de fundo. Marcas como a Damyll e a Sportex eram de imediato associadas a grandes jornadas e fizeram escola. Foram de facto rainhas dos areais de norte a sul do País. Características de uma cana de fundo • Leveza • Rigidez • Sensibilidade • Robustez São características que só uma grande investigação e inovação ao nível dos materiais proporcionaram e actualmente temos canas com performances impensáveis de há uns anos a esta parte. A necessidade do uso de fios cada vez mais finos, assim como o apare-
cimento de novas fibras e materiais, levou a que as actuais canas só se assemelhem às antigas na sua forma. A acção das canas Quanto à sua acção, as canas dividem-se em três categorias: • Rígida ou de ponteira • Semiparabólica • Parabólica
Acção rígida ou de ponteira Trata-se de uma cana que trabalha essencialmente de ponteira. Por norma nos comprimentos de 4.10 a 4.50m, corpo rígido, marca muito bem as picadas e é indicada
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para lançamentos de impacto brusco como o “groundcast” e o “pêndulo”. Acção semi-parabólica Cana polivalente, de acção progressiva, com boa marcação de picada, muito cómoda em lançamentos progressivos como o “frontal a partir do chão” ou o “frontal em suspensão”. Com a sua acção absorve a energia do impacto do lançamento não a transmitindo às iscadas. Acção parabólica Actualmente em completo desuso, eram varas muito macias, excelentes a matar o peixe mas muito pouco lançadoras. Apenas me lembro de uma excepção: a Sportex inteiriça. Mas isso é outro campeonato. Os Carretos Longe vão os tempos dos velhinhos Luxor, Breton, Mitchell, entre outros e dos saudosos Sofi e Rocha, orgulhosamente portugueses.
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Características de um carreto de surfcasting • Leveza • Precisão • Robustez • Fiabilidade O moderno carreto de Surfcasting é construído em ligas metálicas extremamente leves e resistentes e constituído por mecanismos dinâmicos e de balanceamento bem equilibrados e fiáveis. As características deste carreto passam por uma capacidade de linha rondando os 250m de 0.40, bobines de baixo atrito normalmente cónicas, ratio (número de voltas do tambor por volta de manivela) que oscila entre 4.5:1 e 5.2:1 e ainda mecanismos móveis bem apoiados em rolamentos que se pretendem de materiais não ferrosos e de preferência estanques. As linhas Dantes uma linha tinha de dar para tudo. Actualmente temos ao dispor uma vasta gama de linhas de excelente qualidade e com uma especificidade tal que temos uma linha para cada modalidade e nestas, soluções para cada troço das várias montagens. Características de uma linha Linha do carreto: • Suavidade • Resistência à abrasão • Baixo coeficiente de atrito • Boa capacidade de carga de rotura • Baixa memória Madre da montagem: • Rigidez • Resistência ao nó • Boa capacidade de carga de rotura • Memória nula Estralhos: • Suavidade • Resistência à abrasão • Resistência ao nó • Grande capacidade de carga de rotura • Invisibilidade
Pesca
Nós de união de duas linhas
Os anzóis Mais importante que o aparecimento de novos modelos, a evolução dos anzóis passou sem dúvida pela introdução de novos elementos como o carbono e o tungsténio, que os tornaram mais resistentes e mais finos, e por um alto poder de penetração, em resultado de novas técnicas de afiação. Nós de empate de anzóis
As chumbadas Neste capítulo não houve grandes alterações, salvo o aparecimento de novos formatos fruto da aplicação de conceitos de aerodinamismo. Pelas leis da física temos que a forma mais aerodinâmica que existe é a “gota de água”, logo quanto mais as chumbadas se aproximarem deste formato maior será a distância de lançamento. Há contudo um outro factor que entra nestas contas, a fixação da montagem ao fundo. A chumbada tem portanto duas características a conciliar, aparecendo assim vários tipos: • Torpedos (Beach bomb) • Pirâmides • Esféricas • De pêra • De garras • Furadas
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Características de uma chumbada: • Torpedos (Beach bomb) - Grande coeficiente de penetração no ar - Pouca capacidade de fixação no fundo - Pouca “pega” em fundos com pedra • Pirâmides - Bom coeficiente de penetração no ar - Boa capacidade de fixação no fundo - Muita “pega”em fundos rochosos • Esféricas - Grande coeficiente de penetração no ar - Muito pouca capacidade de fixação no fundo - Muito pouca “pega” em fundos de pedra • De pêra - Bom coeficiente de penetração no ar - Pouca capacidade de fixação no fundo - Grande mobilidade da montagem • De garras - Baixo coeficiente de penetração no ar - Grande poder de fixação no fundo • Furadas - Bom coeficiente de penetração no ar - Grande sensibilidade da montagem - Apresentação natural da montagem - Pouca pega em fundos de pedra
Chumbadas de todos os tempos
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Pesca Os Acessórios
O Tripé Existentes em diversos materiais e formas, os tripés tem várias vantagens. A primeira, será a de concentrar no mesmo local duas ou três canas, o que representa ao fim da noite uns bons quilómetros não andados na praia. A segunda vantagem, para os tripés com dois posicionamentos de suportes, é o facto de podermos elevar a posição da cana em altura, o que em certas situações pode fazer toda a diferença. A terceira e última, é o facto de as canas estarem elevadas da areia. No caso de um “enchio” repentino as mesmas estarão salvaguardadas.
Os suportes de canas Está completamente fora de questão passar toda a noite com uma cana de surfcasting nas mãos. Existem para o efeito, os suportes de canas que não são mais que bases com que se fixam as canas na areia de um modo seguro. Em tubo de alumínio ou PVC ou em cantoneira de alumínio ou plástica, o importante é que sejam leves, resistentes, práticos e que proporcionem uma boa fixação.
O carrinho de Surfcasting É um acessório de grande utilidade já que concilia a facilidade de transporte de todo o material de pesca com a função de base de apoio personalizada. Tem contudo um inconveniente: não é todoterreno e há pesqueiros em que não é possível a sua utilização. O exemplo abaixo é de concepção pessoal. Além da função de transporte, ele tem instalados: a mesa porta iscos, a bancada e o suporte de montagens e ainda o panier.
A mesa de iscos De vários formatos e materiais, é um acessório de extrema importância já que permite ter os vários tipos de isco separados e preparados para a iscagem. Serve ainda de suporte para a reparação das montagens assim como ter à mão os vários utensílios necessários.
As montagens Outrora os estralhos e anzóis derivavam directamente da linha do carreto que por norma variava entre o 0.45 e o 0.55. Com a necessidade de lançar cada vez mais longe e por influência directa da pesca de competição, a tendência do uso de linhas cada vez mais finas e o aumento de rigidez
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das canas obrigou-nos a descobrir uma solução: o shockleader. Com esta segurança na fase critica do arremesso, vulgarizou-se a utilização de linhas com diâmetros até aí impensáveis. De inovação em inovação, uma montagem de surfcasting é algo quase imprescindível na pesca dos nossos dias. Permite-nos pescar “em simultâneo” com vários tipos de apresentações, espessura e comprimento de estralhos e tamanho de anzóis variados, pesos e formatos diversos de chumbadas e tudo isto com o simples abrir de um clip. Nomenclatura de uma montagem de Surfcasting
Legenda: 1 – Linha do carreto; 2 – Nó de ligação; 3 – Shockleader; 4 – Missanga; 5 – Destorcedor; 6 – Clip de união da montagem; 7 – Estralho do anzol; 8 – Anzol; 9 Stopper; 10 – Destorcedor com alfinete; 11 – Chumbada Elementos de uma montagem: • Clip de ligação • Destorcedor • Zip swivel • Rotor omega • Missangas • Crossbead • Pérolas e lantejoulas • Flutuador • Stoppers Clip de ligação Peça fabricada em arame de aço inox. Acoplada a uma manga plástica móvel que impede a linha de sair do clip. Serve para permutar de um modo rápido e seguro as várias montagens. Destorcedor Peça em metal com dois terminais que giram em eixos não solidários, tornando possível deste modo que dois troços de linha ligados entre si possam girar em sentidos contrários, evitando desta forma o inevitável enleio.
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KaciPesca Digital Zip Swivel Peça com os mesmos princípios da anterior mas com outro conceito de construção. Rotor Outro acessório anti-enleio de duas linhas com uma concepção muito própria e eficaz ao nível da camuflagem da montagem. Missangas Pequenos artefactos que são utilizados para tornar a montagem mais móvel. Estas peças actuam entre o nó de travamento ou similar e o destorcedor reduzindo assim o atrito. Servem ainda para travar os rotores, sendo neste caso coladas. Crossbead Acessório para ligação do estralho à madre da montagem. À semelhança do destorcedor, actua também como peça anti-enleio e tem a vantagem de ser quase invisível. Pérolas e lantejoulas Acessórios que tem como função tornarem as iscadas mais apelativas em termos de reflexos de luz e cor. Flutuador Acessório por norma construído em esferovite, tem como função elevar a iscada do fundo. Stoppers Servem para fixar os acessórios porta-estralhos (rotor, destorcedor, crossbead e zip swivel) na madre da montagem e podem ser dos seguintes tipos: Mangas metálicas: Pequenas mangas de metal mole que através de aperto sujeitam o destorcedor em determinada posição (não permitem deslocação de posição depois de apertados). Nós de travamento: Nós de correr que seguram o destorcedor na posição, depois de devidamente apertados (permitem pequenas correcções de posição de montagem). Stoppers de borracha: Pequenas peças em borracha furadas interiormente que fixam os destorcedores (permitem modificar a configuração da montagem ao longo da jornada). Missangas coladas: Outro método de fixar o destorcedor; neste caso,
Pesca depois de identificadas as posições correctas, colam-se as missangas à madre para efectuar o travamento. Montagem directa Montagem executada directamente no shockleader com a colocação de destorcedores ou rotores travados por Stoppers. Apresenta como vantagens o facto de não haver pontos fracos do shockleader no impacto do lançamento e sempre que se pesque em locais onde é necessário içar um exemplar de maior porte podermos utilizar toda a força que uma linha mais grossa proporciona. A desvantagem é que não se pode trocar por outro tipo de montagem em acção de pesca.
Montagem com clip de ligação Trata-se da moderna montagem de surfcasting. A ligação com clip permite utilizar um sem número de montagens e ensaiar diferentes tipos conforme as condições do pesqueiro forem variando. Tudo isto sem perdas de tempo, bastando abrir o clip e trocar a montagem por outra, iscada e pronta a ser lançada.
Montagem de correr Sempre que as condições de pesca se apresentem difíceis, esta é uma das soluções. Esta montagem consiste em fazer passar a madre por dentro de uma chumbada furada longitudinalmente, ficando deste modo a trabalhar de um modo “solto”. Isto permite que a iscada evolua ao sabor da aguagem de um modo natural.
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A rabeira Mais uma montagem específica que requer uma corrente lateral (paralela à praia) para “trabalhar” com eficácia. Pelas suas dimensões necessita de algum cuidado no seu manuseamento. Naqueles dias difíceis em que o peixe se mostra relutante em atacar as montagens convencionais, a rabeira é uma hipótese a considerar. Trata-se de uma montagem que coloca as iscadas no pesqueiro com uma grande amplitude de movimento e de um modo bastante atractivo.
Os tipos de fundos Quem olha para uma praia, imagina de imediato um fundo submerso à semelhança do que vê em terra firme. Por vezes até é assim mas existem diferentes tipos de fundo, cada qual com a sua especificidade. Fundo plano Trata-se de um relevo com pouca assimetria em relação a terra, com uma cota de profundidade baixa e mantida ao longo de uma grande distância.
Nestas condições a acção de pesca deverá situar-se na longa distância passando à média distância à medida que a maré se aproxima da cota máxima. Fundo em declive Trata-se de um tipo de fundo em que há uma variação abrupta do relevo da praia.
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KaciPesca Digital Neste tipo de fundo convém colocar uma montagem a média distância e outra a curta distância, de modo a ter-se a percepção da zona onde anda o peixe. Fundão Um fundo a ter sempre em conta. Trata-se de um local onde as correntes depositam a comedia, factor fundamental para a existência de peixe.
Neste caso, se se colocar uma montagem no declive e outra no fundão, estar-se-á a postos para a entrada de peixe no local. Fundo de lajão Um fundo deveras interessante, já que a existência de um lajão submerso dá origem à concentração de marisco, crustáceos, anelídeos, o que leva a que as espécies mariscadoras frequentem a zona com regularidade.
Deve-se ainda procurar perceber se o peixe marisca em cima ou na orla do lajão. Fundo entralhado Fundo com características semelhantes ao anterior, apenas com uma forma de pescar diferente. Num pesqueiro deste tipo há que perceber onde estão as pedras mariscadas, se mais encostadas ou mais afastadas. Devem-se usar chumbadas de formato redondo (com pouca pega) e nunca arrastar a montagem para evitar prisões.
Pesca a rebentação. Coroa Um local de excelência para os predadores. Devido à pouca profundidade e à presença de espuma proveniente da rebentação é um cenário por excelência para emboscadas e camuflagem. Também a permanente movimentação de areias atrai espécies mariscadoras. Deve-se pescar na cetomba Através do entendimento destes da coroa e em cima desta quando dois princípios de dinâmica, ao chegar a qualquer pesqueiro, conseficar coberta de água. gue-se decifrar a localização de coroas, baixios e fundões, condição fundamental para que possamos fazer evoluir as nossa iscadas de modo a procurar o peixe onde este por algum motivo se está a alimentar. Outro ponto de interesse para o pescador de praia são os agueiros. Saber ler o Mar Um tema quase “tabu” em que Sempre que o mar avança praia nem sempre se explica tudo ou se acima sob a influência das marés e das ondas o recuo dá-se por vezes entende quase nada. Para decifrar o mar temos de perce- numa zona que toma o nome de agueiro. ber a “mecânica das ondas”. São elas e o seu comportamento Trata-se de um fundão em forma de que nos transmitem os sinais que canal perpendicular à praia por onnos permitem situar as variações de toda a água “sai”. É um local perigosíssimo para os banhistas dos fundos num pesqueiro. Para esta análise, interessa-nos so- pelas fortes correntes “mar adentro” bretudo a última fase de uma onda: que ali ocorrem. Mas para nós, pescadores, pode a da chegada a terra. tratar-se de um pesqueiro de eleição uma vez que toda a comedia das áreas limítrofes vai aí concentrar-se por acção das correntes e o peixe por certo não irá ignorar essa possibilidade.
Sempre que a onda atinge fundos com cotas iguais à sua altura, a base sofre um abrandamento devido ao atrito do fundo e a parte superior, que mantêm a velocidade, precipita -se para a frente dando origem à rebentação da onda. Quando uma onda entra em fundos baixos (iguais ou superiores à sua altura), tende a formar rebentação. Já quando entra numa zona mais funda dá-se o fenómeno contrário, o atrito do fundo atenua, a base sofre uma aceleração e a onda cessa
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A aguagem É outro factor a ter em conta quando chegamos ao pesqueiro. Dela depende o ângulo de lançamento ou a área a bater com as nossas montagens. Trata-se de correntes paralelas à linha de praia que tanto podem evoluir para Norte ou para Sul (Costa
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KaciPesca Digital Ocidental). Se de dia podemos ter a percepção da sua direcção, de noite essa aferição torna-se mais complexa. Há contudo um método quase infalível desde que se trate de uma praia sem obstáculos laterais: observe as ondas a espraiar na areia e repare na sua escoa, por norma tem a mesma direcção da aguagem. Os Sinais Ao chegarmos a uma praia que desconhecemos temos ao dispor uma série de sinais que podemos e devemos observar e que nos podem ajudar na jornada. Vestígios de jornadas anteriores Repare ao redor e procure estes vestígios, eles dar-lhe-ão pistas quanto a locais mais “quentes”. Procure restos de iscos utilizados e ficará com uma ideia do que utilizar no início da jornada. Pode e deve ao longo da mesma ir alternando com outros e assim ficar com uma ideia em termos de eficácia deste ou daquele isco. Linha de maré Deve ser a primeira coisa a fazer antes de começar a montar o material. Observe esta linha, ela será o ponto mais alto a que chegou a ultima maré e conforme se trate de marés a subir de amplitude ou a baixar, identifique o seu ponto de segurança em termos de alcance de um enchio. Estas linhas também podem contribuir para lhe dar uma ideia sobre os iscos a utilizar. Por norma, todo o corpo não solidário ao fundo é arremessado na praia pelas ondas. Daí que se detectar presença de mariscos ou bivalves na praia significa que nos fundões e partes mais fundas esses mesmos “detritos” se encontram presentes. Só tem de adequar as iscadas e os resultados por certo aparecerão. Presença de limo Antes de dar o pesqueiro por escolhido, observe as linhas de maré e áreas limítrofes no sentido de encontrar vestígios de limos. Se por vezes não se podem evitar, dias há em que esse contratempo fica mais atenuado se percorridos mais uns
Pesca metros. Observar as aves Outro sinal a não descurar. A actividade destes pescadores alados deve ser por nós interpretada enquanto actividade subaquática e, se houver coroas ou fundões ao alcance das suas montagens, é aí mesmo que as deve colocar. As marés Maré Cheia
Maré Vazia
Quando a maré está no seu ápice chama-se maré-alta, maré cheia ou preia-mar. Quando está no seu menor nível chama-se maré baixa ou baixa-mar. Em média, as marés oscilam num período de 12 horas e 24 minutos. Doze horas devido à rotação da Terra e 24 minutos devido à órbita lunar. As condições meteorológicas Um tema controverso e que varia muito de pessoa para pessoa. Um dia soalheiro, quente e com mar espelhado, será bom para tudo menos para pescar “de terra”. Temos de nos colocar “na pele” dos peixes e pensar o que os levará a aproximar de terra e em que circunstâncias. Por norma duas coisas podem levar o peixe a encostar a terra: alimentação e reprodução. Um mar tempestuoso com fortes ventos do quadrante sul devem ser encarados por nós como uma oportunidade a não perder. Por um lado, a ondulação desaloja anelídeos, bivalves e crustáceos do fundo e das pedras; por outro, os ventos do quadrante sul tendem a descascar areia das praias, contribuindo desta
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forma para o aumento de comedia na orla costeira. Se queremos condições óptimas de pesca temos de estar nesse local na queda do mar, por certo o peixe encostará à procura dessa comedia desenterrada e lançada para as praias. Outra ocasião a não perder será a altura que antecede uma viragem de mar, o peixe ao “sentir” essa aproximação tende a encostar a comer. Para prever este acontecimento temos ao dispor diversas previsões de tempo de vários organismos assim como a consulta de um barómetro: uma queda da pressão atmosférica por norma traduz-se num agravamento das condições meteorológicas. Um mar mexido tende sempre a “tapar” a água, tal como um dia nublado escurece a luminosidade ambiente. Estes dois factores contribuem para que o peixe se sinta mais camuflado e se aproxime de terra e ainda que as nossas montagens passem muito mais despercebidas. Uma noite limpa e com lua cheia causará “ardentia” na água e qualquer objecto que se movimente nesta será de imediato detectado pelos peixes. Logo uma noite tapada ou sem lua será a desejável. Um tempo a ameaçar trovoada com brisas do quadrante sul é um momento mágico e tem proporcionado grandes noites de pesca. Mas com as modernas canas de carbono é extremamente perigoso fazê-lo derivado à sua condutibilidade eléctrica.
Na próxima edição falaremos sobre: • Os Peixes • Os Iscos • Segurança
Texto e fotos por: Mário Batista
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4ª Caçada aos Tord
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dos em S. Cristóvão KaciPesca Digital
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4º Caçada aos Tordos em São Cristóvão O 4º convívio do Fórum KaciPesca aos Tordos em São Cristóvão (freguesia do conselho de Montemor-o-Novo ) realizou-se no dia 15 de Fevereiro da época de caça 2013/2014 coincidindo este ano com os “últimos cartuchos” da época venatória vigente, como já vem sendo tradição verificou-se uma excelente afluência por parte de todos os foristas. Não fosse este convívio já tradição e onde muitos fazem questão de participar. O dia iniciou-se cedo com a concentração no clube, cumprimentos, beber café e a boa disposição por parte dos foristas evidenciou-se imediatamente. Chega a hora do sorteio das portas e todos atentos para ver quem seriam os seus parceiros do lado, estavam todos curiosos, pois esta seria mais uma jornada especial do fórum KP. Por volta das 7h30 da manhã já se encontrava cada um na sua porta, para avistar os primeiros tordos do dia, algo receosos pois esta época não estava a ser muito abundante em tordos. Mesmo assim fomos surpreendidos com mais uns tordinhos que aqueles que estávamos à espera, não fossem os maganos virem tão altos possivelmente ter-se-ia cobrado mais uns quantos, mesmo assim permitiram uns tirinhos jeitosos por parte da maioria. Ás 13h30 tocou a reunir para o almoço, na sede da Associação de Caçadores e Pescadores de São Cristóvão, no qual fomos brindados por uma feijoada divinal da autoria do nosso companheiro e amigo, João Gil. A refeição chegou na altura certa, pois a barriga já dava horas. Regada com um bom vinho e seguida de umas belas sobremesas foram minutos maravilhosos sentados à mesa na companhia dos amigos. Este ano, tive-mos a atribuição do prémio para o melhor atirador do dia, que foi da iniciativa do nosso companheiro j.henriques e que desta forma brindou o amigo António Nascimento. Podemos fazer um balanço extremamente positivo de mais um dia de convívio e camaradagem por parte de todos os foristas participantes. São momentos simples na companhia de amigos que nos fazem levantar cedo ou por vezes nem dormir. É de salientar a amabilidade do Presidente da Junta de Freguesia de São Cristóvão, Telmo Filipe Marques Caldeira e do nosso companheiro Alexandre Candeias em oferecer uma lembrança a todos os foristas que participaram nesta jornada, o nosso muito obrigado por tudo.
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Texto e fotos por: Ruben Mestre
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Cultura Vida e Morte de Um Cão de Caça
Aos entusiastas da verdadeira caça com cães, que os tratam e ensinam, que por montes e vales se esfarrapam com eles para levar caça às armas dos companheiros. A todos os que gostam verdadeiramente dos bichos, que chegam ao ponto de se porem a pensar no que irá na cabeça e na “alma” destas criaturas admiráveis, enquanto se aguardam novas jornadas e agora que as armas e os cães já vão descansando, aqui lhes deixo e aos nossos companheiros mais felpudos uma pequena homenagem. Mas primeiro, ao seu autor nosso confrade, de seu nome Adolfo Correia da Rocha, ao Homem, ao escritor e ao poeta, ao humanista e ao Caçador, ao amante da Natureza e dos bichos, da rudeza da terra, das serras e dos matos transmontanos onde foi buscar o seu nome literário: Torga, da raiz da urze, Miguel Torga. Não saberia nunca escrever melhor a minha própria vida... Nero Sentia-se cada vez pior. Agora nem a cabeça sustinha de pé. Por isso encostou-a ao chão, devagar. E assim ficou, estendido e bambo, à espera. Tinha-se despedido já de todos. Nada mais lhe restava sobre a terra senão morrer calmo e digno, como outros haviam feito a seu lado. É claro que escusava de sonhar com um enterro bonito, igual a muitos que vira, dentro dum caixão de galões amarelos, acompanhado pelo povo em peso... Isso era só para gente, rica ou pobre. Ele teria apenas uma triste cova no quintal, debaixo da figueira lampa, o cemitério dos cães e dos gatos da casa. E louvar a Deus apodrece, a dois passos da cozinha! A burra nem sequer essa sorte tivera. Os seus ossos reluziam ainda na mata da Pedreira. Chuva, geada, sincelo em cima. Até um lebrão descarado se fora aninhar debaixo da arcada das costelas, de caçoada! Ah, sim, entre dois males... Já que não havia melhor, ficar ao menos ali. No tempo dos figos, pela fresca, a patroa viria consolar a barriga. Gostava de figos, a velhota. E sempre se sentiria acompanhado uma vez por outra. Não que fizesse grande finca-pé naquela amizade. Longe disso. A menina dos seus olhos era a morgada, a filha, que o acariciara como a uma criança. A velha toda a vida o pusera a distância. Dava-lhe o naco de broa (honra lhe seja), mas borrava a pintura logo a seguir: - Ala! E ele retiravase cerimoniosamente para o ninho. Só a rapariga o aquecera ao colo
quando pequeno, e, depois, pelos anos fora, o consentira ao lume, enroscado a seus pés, enquanto a neve, branca e fria, ia cobrindo o telhado. O velho também o apaparicava de tempos a tempos. Se a vida lhe corria e chegava dos bens de testa desenrugada, punha-lhe a manápula na cabeça, meigamente, e prometia-lhe a vinda do patrão novo. Porque o seu verdadeiro senhor era o filho, um doutor, que morava muito longe. Só aparecia na terra nas férias de Natal. Mas nessa altura pertencia-lhe inteiramente. Os outros apenas o tratavam, o sustentavam, para que o menino tivesse cão quando chegasse. Apesar disso, no íntimo, considerava-se propriedade dos três: da filha, do velho e da velha. Com eles compartilhara aqueles longos oito anos de existência. Com eles passara invernos, outonos e primaveras, numa paz de família unida. Também estimava o outro, o fidalgo da cidade, evidentemente, mas amizades cerimoniosas não se davam com o seu feitio. Gostava era da voz cristalina da dona nova, da índole daimosa da patroa velha e da mão calejada do velhote. - Tens o teu patrão aí não tarda, Nero... O nome fora-lhe posto quando chegou. Antes disso, lá onde nascera, não tinha chamadoiro. Nesse tempo não passava dum pobre lapuz sem apelido, muito gordo, muito maluco, sempre agarrado à mama da mãe, que lhe lambia o pêlo e o reconduzia à quentura do ninho, entre os dentes macios, mal o via afastar-se. Pouco mais. Com
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dois meses apenas, fez então aquela viagem longa, angustiosa, nos braços duros dum portador. Mas à chegada teve logo o amigo acolhimento da patroa nova. Festas no lombo, leite, sopas de café. De tal maneira, que quase se esqueceu da teta doce onde até ali encontrava a bem aventurança, e dos irmãos sôfregos e birrentos. - Nero! Nero! Anda cá, meu palerma! A princípio não percebeu. Mas foi reparando que o som vinha sempre acompanhado de broa, de caldo, ou de um migalho de toucinho. E acabou por entender. Era Nero. E ficou senhor do nome, do seu nome, como da sua coleira. Principalmente depois que o patrão novo chegou, sério, com dois olhos como dois faróis. Apareceu à tarde, num dia frio. Fora-o esperar na companhia da patroa nova. É claro que nem sequer lhe passara pela ideia a vinda de semelhante figurão. Seguira-a maquinalmente, como fazia sempre que a via transpor a porta. Habituara-se a isso desde os primeiros dias. Com o velho não ia tanto. E com a velhota, então, só depois de ter a certeza que se encaminhava para os lados da Barrosa. Na cardenha do casal morava o seu grande amigo, o Fadista. De maneira que o passeio, nessas condições, já valia a pena. Enquanto a dona mondava o trigo, chasquiçava batatas ou enxofrava a vinha, aproveitava ele o tempo na eira, de pagode com o camarada. Mas, se ela tomava outro rumo, boa viagem. Com a nova, sim. A farejar-lhe o rasto, conhecera a terra de lés-a-lés. Até
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KaciPesca Digital missa ouvia aos domingos, coisa que nenhum cão fazia. Aninhava-se a seu lado, e ficava-se quieto a ver o padre, de saias, fazer gestos e dizer coisas que nunca pôde entender. Foi a seguir a uma cerimónia dessas que o doutor chegou à terra. Todo muito bem vestido, todo lorde. Quando viu aquele senhor beijar a rapariga, atirou-lhe uma ladradela, por descargo de consciência. E o estranho, então, olhou-o atentamente, deu um estalo com os dedos, a puxar-lhe pelos brios, e teve um comentário: - O demónio do cachorro é bem bonito! Envaideceuse todo. Mas o homem perdeu-se logo em perguntas à irmã, em cumprimentos a quem estava, sem reparar mais nele. E não teve remédio senão segui-los a distância, num ressentimento provisório. Ao chegar a casa, foi direito ao cortelho. E ali esteve uma boa hora à espera, a morder-se de ansiedade. Por fim, o recém-vindo chamou do fundo da sala: - Nero! Venha cá! Era a posse. Havia naquela voz um timbre especial que o fez estremecer. Pela primeira vez sentia que tinha realmente um dono. Contudo, lá arranjou forças para se deixar ficar enroscado na palha, salamurdo, a fingir que dormia. Mas a ordem voltou logo a seguir, mais forte, mais imperativa: - Nero! Ergueu-se. Subiu os degraus da loja e, humilde e desconfiado, apresentou-se. O fulano acabara de jantar, No prato onde comera, jaziam, apetitosos, os restos do frango pedrês que a patroa velha degolara de manhãzinha. Apesar de o desgraçado ser seu amigo (até em cima do lombo se lhe empoleirava), sentia crescer a água na boca só de ver aqueles ossos descarnados. Misérias... O hóspede, porém, em vez de lhe acalmar a gula pecadora, pôs -se a fazer-lhe festas, a apalpar-lhe a cabeça, a admirar-lhe a grossura do rabo, a examinar-lhe as patas, e rematou a vistoria desta maneira: Não há dúvida nenhuma: é um lindo bicho!... Rosnou, insofrido. Outra vez a
Cultura mesma conversa de há bocado! Se guardasse o paleio e lhe desse o esqueleto do seu compadre calçudo, melhor fazia! Deu-lho, e a seguir despediu-o com uma ordem seca, de quem gostava de ser obedecido. No dia seguinte é que voltou à carga, e de que maneira! Não o largou durante uma hora! Começara o calvário da educação. Correu a princípio ao lenço enrolado, a cuidar que se tratava de uma brincadeira. Mas depois viu que o negócio era a sério, que o sujeito tinha lá qualquer coisa encasquetada. - Vá buscar, Nero, vá lá... Fez-se desentendido. E o sacripanta, depois de insistir, de se cansar a ver se o convencia por bem, largalhe uma vergastada rija! A primeira que apanhou... Seguiu-se uma semana triste. Até que num sábado de madrugada saíram ambos para os montes, ainda enevoados e cobertos de sincelo. Nunca deixara o ninho tão cedo. Gostava das manhãs na cama, mornas, a dormitar. O galo acordava-o sempre ainda o sol sonhava, a cantar-lhe mesmo ao pé, quase ao ouvido, uma lengalenga parva, estridente, sempre igual. A princípio resmungou. Depois acostumou-se ao fadário e até estimava o despertador, só para ter o prazer de saborear os lençóis. Mas naquele dia foi o doutor que lhe bateu ao ferrolho. Andavam quase de mal desde a última lição. Mandara-lhe buscar um ovo, e quebrara-o nos dentes, sem querer. E vai logo um puxão valente de orelhas, sem dó nem piedade! Apesar de ressentido por semelhante injustiça, ergueu-se. Comeu a broa e partiu atrás dele. De repente, já nos montes do Pioledo, ouviu um ruído de coisa que levanta voo, seguido de um estrondo de estarrecer. Que ricos tempos! Fugira tão espavorido, tão desvairado, que batera de encontro à cepa duma giesta! Cheio de paciência, e até com certa ternura, o dono, en-
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tão, chamou-o, acarinhou-o, incutiu -lhe confiança: - Não tenhas medo, maluco! Sossega, que ninguém te faz mal! Depois mostrou-lhe no chão um passarolo morto. - Nero, boca lá, boca!... Era para ir buscar aquilo, pelos vistos... Desconfiado, chegou-se ao pé. Traz cá!... O bicharoco estava realmente defunto. Deitou-lhe os dentes. O que era a inocência! Tinha cócegas na boca!... De repente, um cheiro forte, penetrante e doce, inundou-lhe as ventas, o estômago, o corpo inteiro! Foi a primeira grande hora da sua vida... Depois disso é que os montes começaram a dizer-lhe coisas que até ali nem de longe poderia suspeitar. Só então ficou a saber que por eles a cabo, nas manhãs doiradas e calmas de Janeiro, era um louvar a Deus de perdizes... E que não havia nada melhor no mundo do que senti-los frios e firmes sob as patas, quando o sangue fervia nas veias e o instinto pedia asas ao vento. Colado àquela dureza gelada, a rastejar e a tremer de emoção, a vida sabia-lhe à maior das venturas. Talvez que em certas ocasiões devesse caçar doutra maneira. Ser mais despachado. Mas sentia as malvadas à frente do nariz, e sumia-se no chão, nem sabia se a esconder-se, se a prolongar o prazer. Porque a princípio ainda cuidou que conseguiria assim agarrar alguma. Depois, não. Finas como órgãos, no melhor da festa punhamse na alheta. E perdeu as ilusões. Apesar disso, nunca deixara de se encolher, de tentar disfarçar o corpo sempre que as farejava perto, e, muitas vezes, tão estacado ficava, que era preciso o dono empurrá-lo com a ponta da bota grossa. - Entra, Nero, entra lá... Deita fora! Não arrancava. Continuava pregado ao terreno, a namorar a imagem adivinhada, a encantá-la com os olhos ávidos e, sobretudo, a fruir
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KaciPesca Digital aquele gozo de sentir o coração pulsar de encontro às fragas. té que uma ordem mais impaciente lhe dizia que eram horas. Dava a pancada. E ficava-se depois a olhar a manhosa erguer-se apressada, rumorosa, e cair daí a pouco, já passada ou feita num molho. Entrava de novo em acção. Num pronto, entregava a pobre ao dono, tal como a encontrava caída - viva ou morta. Nunca um gesto sequer de piedade. Disso pesava-lhe agora a consciência. Se estavam de pontade-asa, as desgraçadas fugiam, gemiam, quase tinham voz de gente a pedir compaixão. Nem a alma lhe bolia. A esse respeito, fora sempre surdo e cego. Muitas vezes pensava se não seria por essa razão que lhe acontecera a desgraça do Soitinho! Ninguém as faz que as não pague... Bem que desconfiara logo do outro caçador. Aquele jeito de pegar na arma não lhe merecia confiança, não. Mas mandava quem podia... Segue-se que estavam ainda praticamente a sair de casa, quando um cheiro a perdigão lhe entrou em faca pelo nariz. Estacou ali mesmo, no meio da estrada, voltado para a ribanceira. Ainda se lembrava perfeitamente de ter ficado com a pata direita no ar, paralisada. Depois, a tirar de ventos, foi andando cautelosamente. Até que se encontrou a dois palmos do seu velho conhecido. Era um patriarca manhoso, de esporões em rosário pelas pernas acima, que há anos lhe moía a paciência. Três vezes - em três épocas sucessivas - o pusera a tiro ao patrão, sem valer de nada. O velhaco abria as asas, deixava o chumbo passar, e, sem ninguém mais a afligi-lo, ficava à larga, a criar unto. Desta feita, porém, a coisa fiava doutra maneira. Iam dois, e pudera preveni-los a tempo e horas. E estava então com o focinho em cima do excomungado, quando o parvo do caçarreta lhe manda um tiro à cabeça! Ficou ali como morto, e ainda por maior desgraça a ouvir a risada escarninha do albarrão, ao dobrar o
Cultura cerro, são e salvo! Trinta anos que durasse, não se esqueceria nunca daquela hora. Todo o caminho ao colo do doutor, depois de lhe ouvir dizer: - Uma estupidez destas, só tinha uma resposta... Duas semanas de molho, e, digase a verdade, também de ternuras, de cuidados, de comidinha da boa. Por fim lá arribou, e a brincadeira ficou-lhe de emenda. Nunca mais correu a foguetes. Quem quer que fosse, podia chamar e assobiar à vontade. Nem se mexia. Às vezes, rilhadinho de vício. Mas não ia. Esperava pelo dono, que atirava quando devia, e vamos indo! Errar, todos as erravam, infelizmente. Ainda estava para nascer o primeiro que se pudesse gabar do contrário. Pelo menos à sua frente... Pexotices de uma pessoa se benzer! Mas, enfim, o dono não era lá dos piores, e largava o tiro na altura própria, honradamente, quando elas repenicavam as castanholas no ar. Por isso, aguardava que viesse. Nem as lerias do Fadista o comoviam, a sugerir-lhe outras caçadas de menos risco que poderiam fazer juntos pela freguesia... Era um cão que se respeitava, que tinha dignidade. Borgas dessas eram lá com rafeiros, com jecos do fado e do mundo. O que não quer dizer que fosse nenhum maricas! Tratava de arranjar a vida (a sua vida particular) sem dar nas vistas e sem acompanhamentos, que acabavam sempre em cenas desagradáveis. Não que tivesse medo a qualquer dos rufias que costumavam aparecer nessas ocasiões. Se acontecia ver-se metido nelas, batia-se ali como um homem, até que as coisas ficassem esclarecidas. Tocava a quebrados, dava a matar. E nunca ficara do lado dos vencidos! Pelo contrário. Procurava, contudo, afastar-se de rixas e contendas. E dissera sempre que não ao amigo, por sinal um belíssimo animal, apesar da baixa extracção. Morrera há um ano, o desgraçado. Que razia! A guarda
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espalhou as bolas, e foi a eito. Valeu-lhe a ele estar à argola nessa data. Senão, era uma vez um Nero. Que, para chegar à miséria presente, antes tivesse morrido também. Ao menos, deixava saudades. Assim, acabava de velhice, podre por dentro, a meter fastio a toda a gente. Se então o levasse o diabo, não haviam de faltar lamúrias e lágrimas naquela casa. Agora, lia nos olhos de todos o desejo de que partisse o mais depressa possível para dar lugar a outro... E quem seria o felizardo que lhe herdaria o ninho? Quem viria ouvir as longas conversas à lareira, no inverno, quando a chuva escorregava dos beirais e o vento norte soprava? Tanto pensara no filho, no seu Jau, para o render ali! Mas o raio herdara os defeitos da mãe: mau nariz e um pouco de sofreguidão. Não se aguentava com elas ao pé. Lá no abocar e trazer à mão, saíra ao lençol de cima: nem sequer o ovo da educação quebrara. Uns dentinhos de veludo. A alegria que tivera a primeira vez que o viu amarrado junto de si! Deitou-lhe o canto do olho, e o pequeno parecia uma estátua: teso, esticado, o rabo como uma seta... Nos montes da Queda, lembrava-se bem. Iam a mata-cavalos num rasto, quase sem tomar respiração. A prever já o resultado da correria, tentava deitar água na fervura: - Mais devagar, rapaz, mais devagar... Mas o demónio tinha os nervos da mãe. Puxava como um dragão pela encosta acima. E ele seguia-o no andamento, a tentar encobrir o estabanado. Calma! Calma! Nada! Aquele cheiro arrastava-o, endoidecia-o. - Isto não vai a matar, homem de Deus... Até que chegaram perto do bando. Fez-lhe sinal, estacou, e o garoto ficou-se também. Mas, as perdizes saltaram e, quando o dono chegou, deu com o nariz no sedeiro. À noite, uma grade às costas, coisa que
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KaciPesca Digital não acontecia há anos. E ao cabo de mais três ou quatro dias de experiência, o doutor deu-o a um aldeagante de Jurjais. Viera vê-lo uma vez, pelo S. Miguel. Pediu-lhe a bênção e contou. Até fominha! Depois lá se foi, coitado. E podia estar ali a receber-lhe o último suspiro e a herdar-lhe o ninho de musgo. Sempre era ter alguém da família ao lado. Assim, morria sozinho, tristemente. Nem o ordinário do galo, com quem tanta paciência tivera, nem esse vinha! Andava pelo quinteiro, muito asno, muito parvo, como se mesmo a dois passos não estivesse a acontecer aquela grande desgraça. É certo que também ele, Nero, vira morrer o gato, um sem número de frangos e galinhas, e cada ano seu porco, sem o menor estremecimento. A verdade acima de tudo. Mas, desta vez, o caso mudava de figura: finava-se um cão, um cão de caça, um navarro legítimo! Ingratidões... Porque, apesar de perdigueiro, quem tinha ladrado aos lobos, à raposa e à doninha, quando na capoeira parecia a semana santa?! Ele. Ele, Nero, que entregava a alma ao Criador, ali, desdentado, com as urinas em sangue, cego duma vista... E o que ele fora na mocidade! Ágil, asado, até mesmo toleirão... Os enganos do mundo! Lá dentro frigiam carne. Ouvia bem o chorriscar da gordura na sertã. Dantes, seria o bastante para lhe correr a baba pelas barbelas abaixo. Agora, só a lembrança de torresmos dava-lhe volta ao estômago. Uma perfeita ruína! Estava podre por dentro e por fora... Raio de vida! E o malandro do galo a galar uma galinha! Tivesse ele procedido doutra maneira, quando o parvo era franganote, e já então cheio de proa, e não estaria agora o demo a fazer-lhe macaquices. Mas era feio um navarro dar um apertão num frango. Saiba um homem respeitar-se. Que grande dor de cabeça!... Que peso medonho na arca do peito!... E
Cultura o
corpo mole, sem acção... Aí vinha a patroa nova observar o andamento daquilo... Fechou os olhos. Sempre gostava de ouvir o que diria quando o visse como morto... Ela chegou-se e ficou silenciosa. Por uma fresta das pestanas espreitou-lhe a cara. Chorava. Desceu novamente as pálpebras, feliz. E à noite, quando o luar dava em cheio na telha vã da casa, e os montes de S. Domingos, lá longe, pareciam ter já saudade das suas patas seguras e delicadas, quando o cheiro da última perdiz se esvaiu dentro de si, quando o galo cantou a anunciar a manhã que vinha perto, quan-
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do a imagem do filho se lhe varreu do juízo, fechou duma vez os olhos e morreu.
Os Bichos—Contos Miguel Torga 1940
Texto: plingrino
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Estórias A Pesca Vista por Elas
A D. Lurdes e a D. Otília, vizinhas de recente data, descobriram na sala de espera do Centro de Saúde da zona que os respectivos maridos tinham uma paixão comum: a pesca. - Sra. D. Otília, em boa ora o meu marido arranjou esse bendito entretém! - Acha que sim Sra. D. Lurdes!?… - Acho. Ai, faz-lhe muito bem!… Acalma-o e distrai-o. Mesmo em casa, pois anda por lá todo entretido a empatar anzóis e a fazer aquilo que ele chama de montagens, ou lá o que é… Olhe enquanto está entretido não me chateia, não se mete nas minhas coisas, não implica. - Pois, D. Lurdes, eu maldigo a hora em que o meu marido decidiu dedicar-se à pesca. Nunca mais saiu comigo ao Domingo, passa os Sábados enfiado na loja da pesca e durante a semana anda nas nuvens, à espera que chegue a pescaria e ocupado nessas coisas das montagens, ou lá o que é… - Ora, mas isso é um descanso… - Qual descanso, é um corte quase total de comunicação. Olhe, é pior que o futebol! - Não diga isso! Olhe que a pesca faz muito bem… - Faz, faz… Olhe, o meu marido está cheio de artroses, por passar os Domingos sentado à beira rio, de cana na mão. E tem a coluna que é uma miséria, por causa da francesa… - O quê, ele tem uma francesa?… Não será brasileira, ucraniana… - Por amor de Deus, D. Lurdes, não é nada disso!… É por causa da pesca à francesa, que é feita com varas de 13 metros. Um exagero, um disparate, uma maluquice. - Pois, quanto a isso, o meu Adérito, às vezes, queixa-se das costas, mas eu acho que é mais culpa de passar a semana alapado à secretária… - O quê, não me diga que ele e a secretária… - Não, não… Quero dizer sentado, sentado à secretária…
Ah… - Seja como for, eu acho que a vida ao ar livre faz muito bem. A pesca, faz muito bem. - Faz, faz… E então à carteira!!! Se visse a tralha de pesca que o meu Herculano tem…. Acho que gasta mais do que se tivesse uma francesa, brasileira ou ucraniana de carne e osso. - Ora, D. Otília, os homens têm que se entreter. - Sim, sim, mas porque é que ele não vai correr ou fazer cicloturismo ou natação, que são coisas saudáveis. E, assim, até eu ia com ele. Isso, sim, isso são desportos. Agora a pesca, por amor de Deus… - Ora essa, tanto que é desporto que o meu marido até é federado. E todos os anos tem de arranjar uma declaração médica a garantir que está apto a praticar esse desporto. - Desporto, a Sra. está a chamar desporto a um… a um… vício!!! - Olhe, se é vício, sempre é melhor que o tabaco ou a bebida! - Sorte a sua, pois o meu Herculano não só pesca, como bebe e fuma. Pfff… como é que assim sendo se pode considerar desportista. - Ai vizinha, não me diga nada que o meu Adérito também fuma que nem uma chaminé… A partir daqui, a conversa deixou a pesca e encaminhou-se para o rol de riscos tabágicos, incluindo os vários cancros possíveis e imaginários. E acabou com a chamada da D. Lurdes para a consulta. Eu, infelizmente, ainda tive que esperar mais de meia hora para ir mostrar ao médico as radiografias das minhas costas miseráveis. Por causa da francesa… Como diria a D. Otília.
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Texto: jmet
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Estórias
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Na Cozinha com... Pombo Bravo à moda de Málaga
Ingredientes 4 pombos bravos 3 cebolas médias 2 dentes de alho espetados com 1 cravinho 2 folhas de louro 3,5dl de azeite virgem extra 4,5dl de vinho branco seco 1dl de vinagre de vinho 50g de chocolate preto Sal e pimenta q.b. Preparação Corte a cebola em meias luas muito finas, descasque os alhos e espete-lhes os cravinhos. Limpe muito bem os pombos e corte-os ao meio. Num tacho largo e de fundo grosso faça uma cama com a cebola, o alho e o louro e coloque os pombos por cima. Tempere de sal e pimenta e regue com todos os líquidos. Leve a estufar bem tapado e muito lentamente até os pombos estarem tenros. Se as peças forem mesmo de caça demora bem mais de uma hora. Retire os pombos para um prato fundo e aquecido, onde vão ser servidos. Com o tacho ainda ao lume, junte o chocolate preto ao molho e mexa muito bem até estar completamente dissolvido. Coe o molho com um passador fino e regue os pombos. Sirva a gosto podendo acompanhar com cogumelos salteados, espargos, ervilhas, arroz basmati ou puré de batata. O vinho deve ser tinto e de alguma complexidade. Esqueça os vinhos muito jovens.
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Na Cozinha com...
Ensopado de peixe com frutos do mar Ingredientes 4 colheres (sopa) de azeite de oliva 1/2 kg de filé de cação cortado em pedaços regulares 300 g de camarões médios limpos 1 xícara (chá) de caldo de peixe 1 maço pequeno amarrado de ervas frescas 300 g de vôngoles com as conchas 300 g de marisco com as conchas 1 colher (sopa) de molho de molho de ostras sal a gosto Preparação Aqueça numa panela a metade do azeite e frite os pedaços de peixe, aos poucos. Retire o peixe do fogo e reserve. Aqueça o azeite restante e frite os camarões. Retire-os do fogo e reserve. Na mesma panela, coloque o caldo de peixe, o maço de ervas e o sal e cozinhe até o volume reduzir à metade. Junte os vôngoles, os mariscos e o molho de ostras, tampe a panela e cozinhe até os vôngoles e os mariscos abrirem (elimine os que não abrirem). Em seguida, descarte o maço de ervas, adicione o peixe e os camarões reservados, acerte o sal e misture. Assim que ferver, retire do fogo. Sirva em seguida, com alho-poró assado e decore com cebolinha francesa.
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Galeria
CAÇADA AOS TORDOS EM ALCANEDE 19-01-2014 Vitor Santos, Hugo, Mário Ferreira, JViana, João Paulo
Caçada aos Pombos e Gansos na Bélgica * Hélder Silva KaciPesca — Diverte-te por cá ;)
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Galeria
Caçada aos Torcazes * Pedro Castro
Caçada aos Pombos na Bélgica * Pedro Castro KaciPesca — Diverte-te por cá ;)
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Parceiros
Espingardaria Silva Rua da Malva nº6/8 7470-030 Cano Tel 268549104
Fotografia Digital, Valter, Rosado & Anão, Lda. Av. 25 de Abril, Condomínio Vila Augusta Loja 4 7160-221 Vila Viçosa Telef: +351 268 889 441 Móvel: +351 966 744 693Fotografia Digital
RP CM - Restauração, Lda Portela de Mauncas – Guerreiros 2670-379 Loures Tel/Fax. 219 844 592 E-mail: rpcmrestauracao@hotmail.com
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Parceiros
Matercouço, Lda Azinhaga da Pasmada s/n 2100-305 Couço
Armeiros Couto & Couto - Espingardaria Safari Praça da República nº 11 2130-037 Benavente Tel: 92 654 54 54/263 589 227 armeiroscoutoecouto@sapo.pt
Nabo & Nabo—Caça e Pesca Avenida Gago Coutinho, 39 7050 Montemor o Novo naboenabo2011@gmail.com
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A Caça sem mim, não é Caça!
FINAL
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Criar bebedouros Construir comedouros Limitar quotas de abate
São procedimentos simples para a recuperação do coelho-bravo!