Revista Panorama - edição 42

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Sumário 11 Entrevista Enrique Iglesias, o ex-presidente do BID, aponta o papel dos livros no desenvolvimento da América Latina e faz uma defesa apaixonada das livrarias nas pequenas cidades.

22 Retratos da Leitura Maior estudo sobre comportamento leitor da população mostra que o Brasil é um país e leitores jovens. Isso tem um lado bom e outro nem tanto. 27 Socialmente Responsável No rastro dos negócios do grupo espanhol na América Latina, a Fundação Santillana chega ao Brasil disposta a ampliar as ações de responsabilidade social das suas editoras.

30 Mercado & Tendências A fusão entre a Saraiva e a Siciliano agita o mercado e reacende o debate sobre os rumos do varejo do livro no Brasil. 39 Rotas Literárias As dicas para fazer turismo pelo mundo dos livros e da literatura em agosto na cidade que recebe a Bienal e reserva boas surpresas para quem gosta de ler.

59 Perfil Um dos intelectuais mais brilhantes da sua geração, o mestre Antonio Candido chega aos 90 anos disposto a abraçar uma nova causa: a defesa do direito humano à literatura.

8 Palavra de Leitor As cartas do mês 10 Boa Leitura A mensagem do mês da presidente da CBL 15 Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro 16 Acontece O que é notícia no mercado de livros 20 Bastidores Oswaldo Siciliano, o candidato 26 Boa Idéia A rebelião dos sem-livro no Maranhão 38 Ponto de Vista Sônia Machado Jardim 43 Prêmios & Concursos O maior de todos os Jabutis 44 Empresa Amiga do Livro A C&A e o prazer de ler 45 Outras mídias O livro é pop 46 Pelo mundo afora O Reino Unido dos livros 47 Calendário Um mês de grandes eventos do livro 48 Todo mundo lê Zuenir Ventura, Cleo Pires e Bruno Chateaubriand 49 Radiografia Cristovam Buarque 50 Cinema & Livros O Ensaio da Cegueira segundo Meirelles 52 Livro sobre livros Carlos Fuentes e a Geografia do Romance 53 Como me apaixonei pelos livros Fausto Silva 56 Vitrine O que há de novo nas prateleiras 64 Gente que lê Os livros na vida de Lima Duarte 66 Imagem Panorâmica Um momento de ler

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28 Políticas públicas Apex e CBL anunciam um plano para desbravar novas fronteiras e ampliar a presença da literatura e da cultura brasileira lá fora. 33 Reportagem de Capa Bienal Internacional do Livro de São Paulo chega à vigésima edição mais madura e suscitando uma nova questão: para onde vão as megafeiras do livro?

Capa: Foto: Fanca Cortez Arte: Wagner Luiz Santos



Palavra do Leitor Bienal no Anhembi

Apoio à literatura

Fiquei sabendo que, neste ano, assim como aconteceu em 2006, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo será no Anhembi. É uma escolha correta da Câmara Brasileira do Livro. A cidade não possui um lugar tão adequado quanto esse para receber um evento do porte da Bienal. O Anhembi ainda tem problemas que devem ser resolvidos, mas continua à altura de um evento do porte da nossa Bienal.

Tomei contato com a revista da Câmara Brasileira do Livro ao visitar a Casa das Rosas, na Avenida Paulista, em São Paulo. Nesse lugar tão agradável, com espaço para a poesia, encontrei exemplares da revista distribuídos gratuitamente. Essa publicação mensal é um importante apoio à literatura e contribui para ampliar o conhecimento do público sobre o mundo dos livros.

Itamar Cardin, jornalista São Paulo, SP

Dalmo Fernandes, estudante São Paulo, SP

Leitura no Brasil Agora, quando o Brasil começa a ser identificado como futura potência mundial, preocupa-me a carência cultural de nosso povo. Com certeza, esta tentativa da Câmara Brasileira do Livro, com a capacidade profissional de todos vocês, por meio da revista e da Bienal do Livro, há de desencadear a maravilhosa sensação de uma boa leitura, quiçá um dos únicos instrumentais passíveis de criar uma sociedade mais justa. Parabéns a todos vocês. Ricardo Carneiro Giraldes, advogado São Paulo, SP

O peso das bibliotecas

Literatura infantil

O peso da história se revela presente, 2047 anos após a abertura da primeira biblioteca de Roma, na existência de bibliotecas que sucumbem diante da agonia de carências múltiplas, diante do desprezo por sua manutenção, sem bibliotecárias, sem espaço, sem cuidado, sem verbas de manutenção e sem livros. Mas sempre surge algum Júlio César, algum Asínio Pólio, dos tempos áureos romanos, para revigorar esperanças: o livro e a biblioteca são necessários como a memória da cultura, para além da fragilidade dos indivíduos, e assim permanece o conhecimento de um povo, assim desperta a potência transformadora dos cidadãos. Maria do Socorro Sampaio Flores, livreira e presidente da Sociedade de Amigos da Biblioteca Pública do Estado do Ceará Fortaleza, CE

O Brasil tem uma longa lista de escritores voltados para o público infantil. E algumas editoras fazem um belo trabalho com essas obras. Crianças e jovens são os grandes leitores de amanhã. Há inúmeros pais e escolas que incentivam a leitura por parte dos garotos, mas o consumo de livros infantis deveria ser ainda maior. Maria de Fátima Guedes, professora Belo Horizonte, MG

Preço do livro Vivem dizendo que, no Brasil, o livro é caro. E que isso é obstáculo para a ampliação do número de leitores no País. Por que a maioria das editoras brasileiras não faz como nos Estados Unidos, onde são lançadas versões de enorme tiragem de livros de capa mole e papel simples por um preço relativamente baixo? Sérgio Monte Alegre, publicitário São Paulo, SP

O livro e a internet Em meu Estado, Roraima, no extremo Norte do País, é possível perceber o quanto o avanço da tecnologia contribui para a comunicação e para a globalização. Internet e TV reduzem as distâncias dentro do Brasil. Mas ainda é por meio do livro de papel que a cultura se espalha a partir de cidades grandes, como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, até as remotas aldeias indígenas da Amazônia. Livros e internet não são inimigos, mas sim aliados. Fernando Quintella Ribeiro, advogado Boa Vista, RR

Mande a sua carta

Os leitores podem enviar cartas e e-mails para esta seção de Panorama com suas opiniões e sugestões. Por carta: Agência de Notícias Brasil que Lê, Rua Fradique Coutinho, 1139, São Paulo-SP CEP 05416-011. Por e-mail: cartas@brasilquele.com.br

Câmara Brasileira do Livro Presidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro, Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri, Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro Macera Rua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br

Agência de Notícias Brasil Que Lê Fundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.br Rua Fradique Coutinho, 1139 Tel. (11) 8185-0003 CEP 05416-011 São Paulo SP www.brasilquele.com.br

Conselho Editorial Bernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Macera e Rosely Boschini Diretor Geral Galeno Amorim (galeno.amorim@observatoriodolivro.org.br) Editor-Chefe Luiz Carlos Ramos (editor@brasilquele.com.br) Diretor de Arte Wagner Luiz Santos (arte@brasilquele.com.br) Editor de Fotografia Fanca Cortez (fotografia@brasilquele.com.br) Redação (redação@brasilquele.com.br) Alexandre Malvestio, Elisabeth Lorenzoti (especial), Litiane Klein, Marla Cardoso e Ricardo Costa, Jô Ribes Comunicação (especial) Revisão Rosália Guedes Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica (producao@brasilquele.com.br) Administração (administracao@brasilquele.com.br) Pré-Impressão e Impressão Gráfica Posigraf

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Boa Leitura

É tempo de celebrar! A Bienal Internacional do Livro de São Paulo, um dos maiores eventos do livro no mundo, chega, este mês, à sua 20ª edição. O que é motivo de festa para todos nós. De festa, porém de muito trabalho. Afinal, organizar uma megafeira como essa exige muito esforço e dedicação de muita gente. Mas a tarefa é gratificante. O Anhembi foi cuidadosamente preparado para acolher centenas de milhares de pessoas. Quem já esteve em uma Bienal sabe muito bem da sua importância para ajudar a formar novos leitores e aumentar a paixão pelos livros. Se a Bienal e sua rica programação paralela, como é o caso do Congresso Ibero-americano de Editores, não poderia deixar de ser assunto de destaque nesta edição, imagine então o novo comportamento leitor da população que, como se viu, está em franco processo de mudança. Ao que parece, os brasileiros, conforme mostrou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, já estão lendo mais. No entanto, não é motivo para nenhuma euforia: as deficiências ainda são enormes e há muito para se fazer. Os leitores vão perceber, nesta edição, algumas mudanças no estilo de Panorama. Com novo projeto gráfico e editorial, a revista estréia novas seções, colunas e editorias. A partir deste número, a publicação passa a ser editada por uma parceria entre a Câmara Brasileira do Livro e a agência de notícias Brasil que Lê. Uma nova equipe de jornalistas assume a produção editorial e as novidades não vão parar por aí, estendo-se também à área comercial e à distribuição, que estão sendo reforçadas. Ao mesmo tempo em que saudamos a chegada do parceiro, da nova equipe e as mudanças cuidadosamente planejadas, agradecemos à Veredas Editorial, que respondeu, com zelo e competência, pelas edições anteriores da revista. Esperamos que gostem da nova Panorama. E, para celebrar, nada melhor do que uma boa Bienal.

Rosely Boschini

Boa leitura!

Presidente da CBL (diretoria@cbl.com.br)

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Entrevista

Enrique Iglesias Foto: WILSON PEDROSA/ AE

Sociedade da informação exige do cidadão a capacidade de ler, diz o expresidente do BID

Enrique Iglesias, espanhol da região de Astúrias, naturalizado uruguaio, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, durante quase 18 anos – de 1988 a 2005 –, vê no livro um modo de evolução dos países mais pobres e também dos emergentes. Em entrevista exclusiva à Panorama, ele respondeu às perguntas de personalidades do mundo do livro do Brasil e defendeu a leitura como um recurso para a evolução dos povos latino-americanos: “A sociedade da informação exige dos cidadãos capacidade de leitura para processar a crescente quantidade de dados e conteúdos que surgem em jornais, revistas, internet, livros...” Iglesias elogia a existência de planos nacionais do livro e leitura nos países, mas lamenta a escassez de bibliotecas e livrarias na maioria das cidades de pequeno porte da América Latina. Ministro de Relações Exteriores do Uruguai de 1985 a 1988, ele é formado em economia e administração pela Universidade do Uruguai. Especializou-se nos Estados Unidos e na França. Em 1982, ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias de cooperação internacional por sua condição de professor universitário, funcionário internacional e excepcional condutor da cooperação entre os povos ibero-americanos e a comunidade internacional. Após deixar o BID, três anos atrás, ele assumiu a Secretaria Geral Ibero-Americana, com sede em Madri, na Espanha, que proporciona assistência técnica e coordena as conferências anuais e de cúpula ibero-americanas. A seguir, as perguntas feitas por convidados e as respostas de Iglesias.

Marco Acco, ex-secretário nacional de Articulação Institucional do Ministério da Cultura: Quais os vínculos que o senhor identifica entre o desenvolvimento sustentável e a leitura? Ou, em outros termos, qual o lugar da leitura numa economia política do desenvolvimento sustentável? Iglesias – Veja, creio que a nova visão do desenvolvimento busca satisfazer as necessidades das gerações presentes, sem comprometer as possibilidades das do futuro. Precisamos de cidadãos informados, que sejam conscientes de suas possibilidades e tenham sentido crítico. A leitura é, certamente, um fator essencial para a formação deste tipo de cidadão. A sustentabilidade do planeta transcende as fronteiras dos países: é um problema que afeta a Humanidade inteira. Para colocar em prática o desenvolvimento sustentável, precisamos – insisto – de informação, conhecimento e critério… Não me

ocorre melhor maneira de consegui-lo que não seja por meio da leitura. Acco: Em sua opinião, quais as razões pelas quais a leitura ainda não conquistou o status de política pública ou privada de primeira grandeza em inúmeras sociedades? Seria este um dos sintomas mais contundentes do subdesenvolvimento, amplificado neste contexto em que o conhecimento é central? Iglesias – Me parece importante ressaltar que na América Ibérica não só se lê cada vez mais como também a leitura ocupa uma posição de destaque na agenda das políticas públicas. Este fenômeno ganhou força especial a partir de 2003, ano em que a XIII Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo aprovou o Plano Ibero-Americano de Leitura, com o qual a maioria dos países da região adotou planos e políticas nacionais de fomento do livro e da leitura. O Brasil definiu o próprio plano e, em 2005, sob o slo-


Entrevista

O ex-presidente do BID, notóri papel dos livros no desenvolvim defesa apaixonada das bibliotecas gan VivaLeitura, registrou cerca de 100 mil atividades de promoção da leitura. Quase todos os países ibero-americanos contam com um plano ou uma política nacional de fomento do livro, mesmo aqueles países com menores índices de desenvolvimento. Creio que as exigentes condições impostas pela globalização e pela sociedade do conhecimento pressionarão cada vez mais os responsáveis pelas políticas públicas para favorecer o desenvolvimento de sociedades leitoras. Acco: Neste contexto, quais as leituras (no sentido de tipos de leitura: funcional, pragmática, humanista, artística etc.) que são absolutamente indispensáveis para que os indivíduos possam se relacionar de forma proveitosa com este mundo em constante transformação? Iglesias – A sociedade da informação exige dos cidadãos uma capacidade de leitura para processar a crescente quantidade de dados e conteúdos que surgem em jornais, revistas, internet, livros... em diferentes formas. Os cidadãos devem ter a capacidade de fazer diversos tipos de leitura. A oferta é imensa. Assim, creio que é preciso deixar que cada um escolha o que mais lhe convenha num determinado momento. Acco: O senhor sempre foi um construtor de instituições, com especial interesse por aquelas voltadas ao desenvolvimento sustentável. Deste ponto de vista, o que as instituições internacionais de desenvolvimento têm feito e podem fazer pelo fortalecimento da leitura no Brasil e no mundo, em particular para os países em desenvolvimento? Iglesias – Os organismos internacionais têm tido um papel muito importante para impulsionar e promover um maior compromisso com a leitura. Em pleno auge dos temas do desenvolvimento, nos anos 1970, vários organismos internacionais, como o Banco Mundial (Bird), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Unesco, apontavam para uma relação direta entre o desenvolvimento econômico e a presença dos livros. As sociedades que apresentavam maiores avanços nos indicadores econômicos eram aquelas nas quais a população tinha maior acesso aos livros. Isto ajudou a fazer investimentos consideráveis em educação e em preparação de livros escola12 Panorama

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res. A partir da Unesco, incentivou-se a criação de órgãos especializados que pudessem apoiar os países no desenvolvimento de políticas e programas de fomento do livro e da leitura. Em nossa região, foi criado, no começo dos anos 1970, o Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc). Entre os programas de Cooperação da Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib), organismo que represento, há vários relacionados com o

“As exigentes condições impostas pela globalização e pela sociedade do conhecimento pressionarão cada vez mais os responsáveis pelas políticas públicas para favorecer o desenvolvimento de sociedades leitoras.”

livro e a leitura, como o Programa Ibero-Americano de Cooperação em matéria de Bibliotecas Públicas (PICBIP), ou o Repertório Integrado de Livros à Venda na América Ibérica, que é uma espécie de catálogo com cerca de 1,8 milhão de registros, em línguas espanhola e portuguesa. Horácio Piva, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) e expresidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp): O senhor tem uma visão com dimensão regional. Entende as diferenças e suas conseqüências econômicas e políticas. Sabe de nossas possibilidades, e, especialmente, dada sua experiência, de nossos desperdícios ao longo destes anos. A história dos países e seus relacionamentos, ou é desconhecida, ou mal interpretada. A educação, como a melhor “régua” de ajuste e equiparação num padrão superior, ainda é tema mais de diagnóstico que de realização. Não seriam os livros um atalho para o upgrade das sociedades? Como posi-

cioná-lo, na mente das pessoas e nos projetos de organismos multilaterais? Iglesias – Insisto que, num mundo caracterizado pelos fluxos de informação, os livros e a leitura adquirem, sem dúvida, um significado estratégico. Apesar de se constatar ações surgidas a partir de vários cenários públicos, é preciso reiterar a importância de se aprofundar e fortalecer o compromisso das instituições públicas para avançar na construção de sociedades leitoras e abertas à inclusão. Valter Kuchenbecker, presidente da Associação Brasileira de Editores Universitários (ABEU): Não há quem duvide que o livro e a leitura ocupem um papel relevante e fundamental para a formação de um povo culto, educado e desenvolvido. Se isso é realmente verdadeiro, por que ainda se tem tanta resistência para colocar isso em prática, seja através de políticas públicas para o livro e a leitura, seja através de investimentos privados? Será que governo e sociedade acreditam mesmo nisso? Iglesias – É provável que sejam requeridos maiores graus de desenvolvimento institucional para pôr em marcha essas políticas. Em alguns países da América Latina, essa base institucional permanece muito frágil: não há responsáveis claramente identificados no momento de se coordenar a execução desses planos; os sistemas ou redes de bibliotecas têm baixíssimos graus de desenvolvimento; os recursos são escassos. Há dois setores fundamentais das políticas públicas: educação e cultura. Mas não tem sido fácil articular ações entre esses dois setores. E tanto a formação de leitores como a promoção da leitura e das bibliotecas requerem um alto grau de coordenação entre os ministérios da Educação e da Cultura. E temos, além disso, o problema de que, uma vez definidos os planos e políticas, sua execução se vê truncada por falta de financiamento. Não se incluem nos orçamentos dos recursos suficientes para leválos adiante. Vitor Tavares, presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL): Por ser um objeto tão encantador e admirado por todos, o livro, de forma geral, tem estado presente na formação das grandes nações


a figura internacional, aponta o ento da América Latina e faz uma e livrarias nas pequenas cidades do mundo. Ao mesmo tempo, no entanto, os livros têm sido insistentemente deixados em segundo plano especialmente nos países não desenvolvidos. Há alguma esperança de que, algum dia, sejam criadas nesses países políticas públicas que, envolvendo dos escritores às livrarias, sejam capazes de mudar esse círculo vicioso? Iglesias – O senhor aponta um dos pontos mais frágeis das políticas do livro e leitura: o relacionado com as livrarias. Nas estatísticas que se conhece sobre o comportamento do leitor, pode-se verificar que cerca de 50% ou mais das pessoas com hábito de leitura recorrem a livros comprados nas livrarias. Entretanto, o número de livrarias na América Latina é muito escasso. Dessas poucas livrarias, há uma grande concentração delas nas metrópoles, enquanto as pequenas e médias cidades não contam com tais estabelecimentos. Nas grandes cidades existe até uma tendência de concentração das livrarias em determinadas zonas. É preciso insistir que as livrarias são um espaço essencial para garantir a diversidade na oferta de livros, algo que tem sido chamado de “bibliodiversidade”. E aqui quero manifestar apoio às livrarias de toda-a-vida, a livraria da esquina, a livraria do bairro, esta que sofre diante do enfrentamento dos supermercados e dos armazéns de livros. Alfredo Weiszflog, presidente do Conselho de Administração da Editora Melhoramentos e ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL): A América Latina ainda tem um grande contingente de pessoas de baixo poder aquisitivo. Nos últimos anos, os governos da região têm feito uma política consistente de distribuição de livros didáticos nas escolas com financiamentos internacionais. As recentes pesquisas, porém, demonstram que essa política cobre tão somente o lado informativo, deixando de lado a formação cultural e humanística do indivíduo. Não chegou a hora de voltarmos essas políticas para a formação consistente de bibliotecas que realmente dêem acesso ao saber a quem não tem recursos financeiros para adquiri-los de outra maneira? O senhor estaria disposto a ajudar a abrir as portas dos organismos internacionais para projetos dessa envergadura? Iglesias – Parece que a maior parcela de

leitores se concentra entre os 8 e os 25 anos de idade. Ou seja: na população estudantil. As bibliotecas escolares talvez sejam, sob o ponto de vista da leitura, os investimentos de maior rendimento. Por isso é tão importante dotar as bibliotecas com material que ofereça aos jovens informação sobre os temas que os inquietam. Essas bibliotecas devem tender a ser centros de recursos de aprendizagem que apóiem o trabalho dos professores e ofereçam

“Sou um leitor obsessivo de informação e das matérias de opinião sobre os acontecimentos do dia-a-dia. Isso não surge apenas de revistas e jornais. Surge dos livros, e das publicações que nos dão a temperatura do que a sociedade sente e necessita, o que eleva o papel da leitura ao mais alto nível.” canais de informação, de conhecimento e de diversão. Seria ótimo se existissem bibliotecas com uma diversidade ampla de materiais de leitura e acesso à internet nos centros educativos para populações pobres. Bibliotecas bem dotadas e bons professores. São dois pilares essenciais para fomentar o hábito de leitura e o desenvolvimento do ser humano. Sérgio Machado, presidente do Grupo Record e ex-presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel): Como fazer para o livro vir a ser o mesmo instrumento de ascensão social como o pandeiro e a bola? Como a educação pode vir a ter a mesma importância social da musica e do esporte? Iglesias – Acredito que, nesse campo, os meios de comunicação têm um papel muito importante. Não se trata apenas de os atores e estrelas da televisão sugerirem, por meio de mensagens publicitárias, que ler é bom e divertido. Creio que se requer um trabalho mais profundo para que os veículos da mídia

apóiem campanhas por um significado mais rico ao exercício da leitura. Roberto Feith, presidente da Editora Objetiva (Grupo Santillana) e vice-presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel): Existem muitos estudos indicando a relação entre o nível educacional e da leitura com o desenvolvimento econômico e social dos países. O senhor acha que o conhecimento de obras literárias de cada cultura poderia provocar nos nossos jovens um efeito distinto àquele gerado pelo conhecimento dos livros escolares e mais técnicos? Iglesias – São formas diferentes de se aproximar da leitura. Porque ler oferece um imenso horizonte para a formação de seres humanos sensíveis e criativos. Mas os textos escolares e os livros técnicos também se aproximam do conhecimento. É provável que o âmbito escolar tenha privilegiado de modo desproporcional o material educativo de tipo técnico, deixando de lado a imensa riqueza que oferece a literatura. É preciso dar às crianças e aos jovens uma leitura que lhes pareça emocionante e atraente. Muniz Sodré, presidente da Fundação Biblioteca Nacional: Seria viável a criação de uma espécie de “mercado comum” latino-americano voltado para perspectivas estratégicas sobre o livro e a leitura? Como pontos problemáticos, vale levantar a ausência de políticas públicas para a tradução de obras essenciais (espanhol-português e vice-versa), assim como a falta de subsídios para o barateamento dos preços das edições. Quanto à leitura, valeria a pena cogitar de um plano de incentivo continental? Iglesias – A verdade é que foram dados passos importantes para a construção de um mercado comum do livro na América Ibérica. Já nos anos 1970, o livro avançava na redução de impostos e na remoção de barreiras alfandegárias. Hoje, contamos com uma situação relativamente favorável para a circulação do livro, pois praticamente não há taxas de importação e temos condições que facilitam sua circulação. Quanto à difusão de autores latinoamericanos, especialmente entre o Brasil e os países de língua espanhola, não há dúvidas de Agosto 2008 Panorama 13


Entrevista que uma política mútua de traduções impulsionaria o conhecimento e a difusão da produção intelectual entre esses dois contextos lingüísticos ibero-americanos.

Acco: Como presidente do BID, o senhor liderou uma série de inovações no banco, tais como o oferecimento de linhas de finan-

desenvolvimento, como o apoio à modernização do Estado, a promoção da transparência na gestão pública e a redução da violência e do crime. Estas e outras iniciativas lhe valeram o Eduardo Portella, ex-mijusto epíteto de inovador. O se“Sou um leitor assíduo dos grandes clásnistro da Educação: nhor associa de algum modo sicos da literatura ibero-americana, tão rica e O livro, desde sempre deesta sua trajetória pessoal de variada. Os nomes são muitos e todos bem positário da qualidade, deve constante busca de inovações conhecidos, mas tenho uma especial preevitar uma guerra sem causa à leitura? dileção pelos livros de História. Nos últimos entre a página escrita e a mídia Iglesias – Nessas instituitempos, tenho seguido toda a literatura vincueletrônica. O que temos feito e ções, a inovação é fundamenlada com 1808, entre as quais a apaixonante o que podemos fazer para estal. E isso é o que fiz em meus travessia da Corte portuguesa rumo ao Brasil, treitar esses laços de cooperaquase 18 anos no BID. Para com todas as suas conseqüências. Li os livros publicados no Brasil e fora do país sobre como ção? inovar, é preciso ter informação o império vai à deriva. Igualmente me seduz a Iglesias – Creio que não há e sensibilidade. Isto é proporbrilhante literatura dos jovens espanhóis. O caexiste uma guerra entre o acescionado por uma leitura variatalão Carlos Ruiz Zafón me parece estupendo. Mas devo confessar que so aos meios de comunicação da e constante. Sou um leia febre histórica da lembrança dos 500 anos de Dom Quixote me levou e as tecnologias de informação. tor obsessivo de informação e a reler essa obra pausadamente nas estupendas edições saíram. E devo Ao contrário, as pessoas com também das matérias de opiadmitir que, nesta altura da vida, muitos anos depois de ter lido o Quixote maior exposição nos meios de nião sobre os acontecimentos pela primeira vez, encontrei nessa obra um livro apaixonante. Na forma e comunicação e mais acesso às do dia-a-dia. Isso não surge no fundo. Para descobrir uma filosofia de vida que tem atualidade e vigência por sua capacidade de calar fundo na natureza humana. Tem sido o tecnologias da informação são apenas de revistas e jornais. meu grande redescobrimento dos últimos tempos.” as que mais lêem. A leitura est Surge dos livros, e das publiá tendo grande transformação cações que nos dão a tempeem novos suportes e de modo ratura do que a sociedade sendiferente. Para as políticas públicas, busca-se ciamento direto a empresas privadas sem a te e necessita, o que eleva o papel da leitura sempre evoluir e ampliar o acesso à informa- necessidade de garantias governamentais ao mais alto nível. Nessa matéria, a intuição, ção, à cultura, ao conhecimento para toda a e a atuação em áreas nada convencionais sozinha, não basta. É necessário estimulá-la, população, sem diferenças sociais e culturais. para um banco, mesmo para um banco de lendo, informando-se permanentemente. P

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Cadeia Produtiva Snel

Editores e livreiros sem IPTU no Rio

Abrelivros

Parceria quer 500 títulos em braille por ano

Nem bem assumiu o Sindicato Nacional de Editores de Livros, no lugar do editor Paulo Rocco, a presidente do Snel, Sônia Machado Jardim, comemorou, em seu primeiro mês de mandato, uma bela conquista dos editores e livreiros cariocas. A prefeitura do Rio de Janeiro anunciou a ampliação da isenção do IPTU para todos os editores e livreiros da cidade. A medida já vigorava para quem era proprietário do imóvel ocupado – agora, passa a beneficiar também as empresas que estão em prédios alugados. O Snel vinha lutando desde 2003 pela extensão do benefício. Agora, vai prestar assessoria aos associados que quiserem entrar com pedido de ressarcimento dos valores pagos nestes cinco anos.

A Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) vai completar, em 2008, dois anos de funcionamento do convênio mantida com a Fundação Dorina Nowill para subsidiar a adaptação e transcrição de livros para o sistema braille. O objetivo da parceria, segundo o presidente Jorge Yunes, é chegar à produção de 500 títulos por ano, que é o número demandado atualmente pelo Ministério da Educação para seus programas de aquisição de livros. A Abrelivros está investindo R$ 1 milhão no projeto, que prepara técnicos da fundação para a produção das obras. Os livros produzidos na Dorina Nowill, instituição criada há 62 anos para promover a inclusão das pessoas com deficiência visual, são usados por estudantes de todo o Brasil.

Abeu

Asec

A Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu) lança em setembro um catálogo eletrônico com toda a produção acadêmica existentes no País. As informações ficarão disponíveis para consulta no site da entidade (www.abeu.org.br) e, além de assegurar o acesso dos leitores a uma importante produção cultural, também deve contribuir, de acordo com o presidente Valter Kuchenbecker, para alavancar os negócios do segmento. O projeto é um antigo sonho do setor, que não dispõe de uma ferramenta de consulta ao acervo das suas editoras. A associação também pretende anunciar, em breve, o DataAbeu, um instituto que produzirá pesquisas e estudos sobre o livro universitário no Brasil.

A Associação de Editores Cristãos (Asec) empossou, em junho, a nova diretoria da entidade. Marilene Terregui, diretora executiva da Editora Hagnos, é a nova presidente da Asec, que reúne 60 empresas e está comemorando, em 2008, 20 anos de existência. Além de seminários e cursos de aperfeiçoamento para o segmento, a associação é responsável pela realização do Prêmio Areté de Literatura, que premia livros e autores de obras da área. O novo coordenador executivo é Sinval Filho, que substitui Whaner Endo.

Livro universitário terá catálogo virtual

Abigraf

Gráficas terão prêmio de responsabilidade ambiental

O alemão Alfried Karl Plöger é o novo presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e assumiu no lugar de Mário César de Camargo. A nova diretoria, eleita para a gestão 2008-2011, anunciou a intenção de criar um prêmio nacional de responsabilidade sócio-ambiental, a ser implantado em 2009. Plöger lidera um mercado de 19.550 empresas empregam 20 mil trabalhadores. Em 2007, o setor faturou R$ 17 bilhões. O novo presidente recebeu, em junho, o título de cidadão paulistano e foi homenageado por seu trabalho social, em especial na educação, como o incentivo à leitura. À frente da seção paulista da Abigraf, ele patrocinou a criação de 12 bibliotecas no interior.

Editores cristãos elegem nova diretoria

ABDL

Estudo vai mostrar evolução do porta a porta

A Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) vai divulgar, em outubro, sua pesquisa sobre os negócios do livro porta a porta no Brasil. A entidade espera um aumento na receita do segmento, que em 2005 movimentou R$ 780 milhões – 15% das vendas diretas do setor livreiro naquele ano, incluindo a internet. Nas periferias das grandes cidades e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde a presença de bibliotecas e livrarias é menor, tem sido mais intensa a atuação dos 30 mil profissionais do ramo. A idéia era divulgar os resultados em agosto na Convenção Nacional dos Difusores de Livro, marcado para 12 e 13 de agosto, no Hotel Holiday Inn do Anhembi, em São Paulo. No entanto, a greve dos Correios, que durou quase um mês, impediu o envio dos questionários aos 200 associados e acabou atrasando o cronograma.

ANL

Livreiros comemoram 30 anos da associação

A Associação Nacional de Livrarias (ANL) vai comemorar em grande estilo os 30 anos de sua fundação. A festa será na 18.ª Convenção Nacional de Livrarias, que acontece de 11 a 14 de agosto, em São Paulo. O evento reunirá livreiros de todo o País para discutir questões que vão da segmentação do varejo aos impactos esperados pela chegada do livro eletrônico e das novas tecnologias para as livrarias. Este ano, o tema será A Livraria como centro de entretenimento e cultura. Na abertura, será apresentado o resultado do Anuário de Livrarias 2008, que confirmará o aumento no número de pontos de venda no Brasil. A lei do preço fixo também estará na pauta. A convenção será no Hotel Holiday Inn do Anhembi, ao lado da Bienal do Livro.

Regionais Câmara do Livro do RS

Porto Alegre abre caminho de livros

nOs consumidores de livros e os ama do esta Sul, do de tes da leitura do Rio Gran os nas famoso pelos bons índices obtid agora r, leito nto ame port com de as pesquis ncia vivê con de terão um espaço semanal dia do ir part A tura. litera com as obras e a lo, hue Riac Rua da o trech um sto, 9 de ago uma ar abrig no centro de Porto Alegre, vai uma feira de livros permanente, que terá de es dad ativi rsas dive com programação beu o rece que to, proje O ra. leitu à ulo estím ltado de nome de Caminho do Livro, é resu dense Gran Rioara Câm da uma parceria e do part faz e a eitur pref a com do Livro ral cent área da programa de revitalização da cidade. Câmara do Livro do DF

Público escolhe pat rono da Feira do Livro eral

A Câmara do Livro do Distrito Fed ital do está convocando os leitores da Cap Feira 27ª da ono patr o lher País para esco os entre e ntec aco que ília, Bras de do Livro sho no o mbr dias 29 de agosto e 7 de sete feita é ção vota A il. Bras pping center Pátio m.br) no no site (ww w.camaradolivrodf.co dez de es nom do evento, que já indica os , livro do área na e aqu profissionais de dest é já lha esco A DF. no as otec leitura e bibli s movitradição em Brasília e todos os ano res, edito res, ado menta escritores, pesquis . feira da res ado üent livreiros e freq


Acontece

Imprensa Oficial edita Retratos da Leitura

Rocco aposta em novos canais de venda

Positivo tem novo diretor comercial

Novo diretor de marketing na Abril

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro com o apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), será publicada em forma de livro pela Imprensa Oficial de São Paulo. O lançamento será na Bienal do Livro. Hubert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa Oficial, elogia a obra. Haverá uma tiragem inicial de 2 mil exemplares, além de edição para prefeitos e secretários de cultura e de educação dos Estados.

Com um apelo mais comercial e maior flexibilidade em relação a projetos especiais, inclusive para receber patrocínio de empresas privadas, a editora Rocco anunciou seu novo selo, o Prumo, que ficará sediado em São Paulo. Se pela Rocco não saíam livros corporativos nem obras mais populares, caberá à nova editora garantir lançamentos em todos os segmentos, além de atuar nos chamados coffee table books – livros patrocinados por empresas. Em seu primeiro mês de atividade, a Prumo já colocou seis obras no mercado.

Após 12 anos de atuação na Editora do Brasil, onde exercia a função de gerente de vendas, Ricardo Tavares foi contratado pela Editora Positivo para ser diretor comercial da divisão de Livros e Periódicos. Sua principal meta é fortalecer ainda mais a estrutura comercial da editora que, entre outros produtos, produz o dicionário Aurélio. A Editora Positivo é empresa do Grupo Positivo, maior corporação do segmento de educação e tecnologia do País. No início do ano, Emerson Santos, ex-Abril, assumiu a direção-geral da editora.

Depois de três anos, o executivo Eliseu Urban está de volta à Abril. Ele é o novo diretor de marketing da Abril Educação, responsável pelas editoras Ática e Scipione. Urban, que em 2005 deixou o grupo após 23 anos, retorna para ocupar a vaga de Emerson Santos, contratado pela Positivo. Além das ações para a área de livros didáticos e paradidáticos, a Abril Educação reforçará o apoio ao Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e ao Sistema de Ensino SER, lançado em 2007 pelo Grupo Abril.

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MD investe em linha de papel editorial

Blucher publica obras para o exterior

Ampliação do acesso ao livro em Salvador

Lei sobre direitos autorais é revisada

Líder na América do Sul na produção de papéis especiais para vários segmentos industriais, a MD Papéis assumiu, no final de 2007, a gestão das fábricas da Ripasa em Limeira, no Interior paulista, e em Cubatão, na Baixada Santista. Com Cubatão, a MD passou a contar também com a linha de papéis Chamois, criada especialmente para livros, na sua produção. Na Baixada, a MD fabrica papéis em dois acabamentos: Chamois Fine, disponível em diferentes gramaturas, e Chamois Bulk, para publicações com poucas páginas.

Depois de 50 anos de atuação no mercado livreiro brasileiro na área técnico-científica, a editora Blucher começou sua trajetória internacional publicando livros na Europa e na América Latina. O primeiro lançamento foi Historia del Diseño en América Latina y el Caribe, coletânea de artigos coordenada por Silvia Fernández e Gui Bonsiepe. O selo lançará outros títulos internacionais. Edgard Blucher, fundador da editora, diz que a intenção é ampliar no exterior a divulgação do conhecimento técnico-científico brasileiro acumulado.

Depois de instituir, em 2007, o Ano Municipal de Incentivo à Leitura, Salvador passa a ter sua primeira Lei Municipal de Incentivo ao Livro e à Cultura da Leitura. A idéia dos responsáveis pela iniciativa, que vem se proliferando cada vez mais pelas cidades do interior do País, é dar maior institucionalidade às políticas públicas do livro e leitura e criar as condições necessárias para formar novos leitores. De acordo com a nova legislação, que já entrou em vigor, a prefeitura deve apoiar mais o acesso ao livro e incentivar os autores locais.

A revisão da legislação brasileira sobre relações contratuais de direitos autorais é uma das propostas apontadas no caderno de diretrizes do Plano Nacional de Cultura (PNC), lançado pelo Ministério da Cultura. De acordo com o texto, o objetivo é equilibrar os interesses dos criadores e dos investidores e estabelecer critérios transparentes de arrecadação e distribuição de direitos autorais no País. O coordenador-geral do PNC, Gustavo Vidigal, disse que o Ministério da Cultura estuda formas de reduzir os preços das obras.

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Editora Positivo


DM9 É DDB

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Bastidores

Quase lá I

Presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) por dois mandatos, Oswaldo Siciliano é o candidato das entidades do livro do Brasil à presidência do Grupo Ibero-americano de Editores (GIE).

Quase lá II

Tradicional livreiro que chegou a ter sob seu comando, até recentemente, quatro selos editoriais, Siciliano tem o apoio do atual do presidente do GIE, o colombiano Gonzalo Arboleda. Também contabiliza o apoio da maioria dos dirigentes da indústria do livro na região. Caminha para ser candidato único.

Avante, para trás I

Entidades do livro querem aproveitar o período de Bienal para fazer um apelo ao Ministério da Cultura para que recrie a antiga Secretaria Nacional do Livro e Leitura. Ela foi extinta logo após a morte do poeta Waly Salomão, seu último ocupante. Figurões da pasta admitem ter sido um erro fechá-la.

Avante, para trás II

A idéia, que tem simpatia em diversos escalões da Cultura, é que as ações na área do livro no Mais Cultura, a modernização das bibliotecas e o Fundo Pró-Leitura, se ele vier a ser criado, passem para a dita secretaria. O pessoal do teatro começou a fazer o mesmo barulho há mais tempo.

Liberdade já

Editores e alguns dos mais renomados escritores de biografias do País desembarcam este mês em Brasília para um périplo pelo Congresso. Eles vão pedir ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, para acelerar a tramitação do projeto do deputado paulista Antônio Palocci que autoriza a publicação de biografias não-autorizadas.

De novo a desoneração

Editores e livreiros querem aproveitar a presença do parlamentar, que preside a Comissão de Reforma Tributária, no Congresso Ibero-americano de Editores para saber o que passa pela cabeça dos deputados sobre a desoneração dos livros. E, de quebra, querem pedir apoio para sua ampliação para os micros e pequenos.

Sinal amarelo

Acaba de ser protocolada, na Câmara, uma proposta do deputado Henrique Afonso para acabar com a imunidade tributária das revistas de sexo. Há no mundo dos livros quem veja nisso um sinal de alerta. É que, em 2004, alguns parlamentares pretendiam excluir do benefício fiscal livros que fossem considerados pornôs.

De baixo pra cima

A Imprensa Oficial planeja apoiar uma série de ações na capital e no interior paulista para chamar a atenção das prefeituras para a necessidade de se criar planos municipais do livro e leitura. Deve começar com o envio para cada prefeito eleito em 2008 e seus secretários de educação e cultura um exemplar do livro Retratos da Leitura no Brasil, recém publicado em co-edição com o Instituto Pró-Livro, que encomendou a pesquisa do mesmo nome.

Bibliotecas turbinadas

O Ministério da Cultura e o Ministério das Comunicações estão fechando um acordo para a instalação de telecentros em todas as bibliotecas municipais do País. Se tudo der certo, a experiência começa com as 400 unidades que o MinC promete revitalizar ainda em 2008.

Lan pública

O plano do governo é instalar em cada biblioteca brasileira 11 computadores, banda larga para acesso à internet, impressora e projetor multimídia. A meta é revitalizar 4 mil delas até 2.010. Esses telecentros estão dentro da conta de R$ 55 mil que o MinC anuncia que gastará com cada uma delas.

Leitura comunitária

Às vésperas de deixar o governo, o então ministro Gilberto Gil garantia estar tudo pronto para instalar 500 pontos de leitura até dezembro. A idéia dele é distribuir um kit básico com 500 livros, almofadas, tapete, uma estante pequena e um computador. Tudo por edital público. Agora, a conferir.

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Foto: Rubens Ribes

Espaรงo para leitura da Livraria Cultura no Conjunto Nacional em Sรฃo Paulo

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Retratos da Leitura

Um país de leitores jovens Maior estudo feito até hoje no País, Retratos da Leitura mostra que o brasileiro está lendo mais, mas ainda falta muita lição de casa para ser feita por governo e sociedade Por: Karla Dunder Uma das revelações mais surpreendentes da pesquisa Retratos da Leitura no do Brasil, divulgada em maio pelo Instituto Pró-Livro, é que o brasileiro já está lendo mais. A melhor de todas é que, ao contrário do que se supunha, as crianças e adolescentes lêem bem mais do que os adultos. Mas, ao mesmo tempo em que traz algumas boas notícias para o mundo do livro, a segunda edição do estudo, aplicado pelo Ibope Inteligência com uma metodologia inovadora desenvolvida pelo Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc/Unesco), escancara os buracos que impedem o avanço da leitura no País. A mais grave das conclusões, sem dúvida, é o fato de nada menos do que 77 milhões de pessoas engrossarem o contingente de nãoleitores do Brasil, a maior parte deles adultos com mais de 30 anos. Os índices de leitura – que atingem 4,7 livros lidos por habitante/ ano, sendo que 3,4 são leituras feitas a partir de indicações originadas ou obrigatórias nas escolas – reduzem drasticamente em função da região onde vivem os leitores, sua classe social, renda familiar e, sobretudo, grau de escolaridade. A especialista mineira Maria Antonieta Antunes Cunha, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da PUC-MG, destaca a evolução dos índices, mas adverte contra qualquer euforia. “Houve um avanço geral que foi resultado do esforço de muitos e demonstra que, atuando em qualquer ponto da cadeia da leitura, houve uma evolução”, diz ela. E acrescenta: “Mas há muito chão pela frente até atingir níveis decentes de leitura no País. E

uma convicção: o melhor que está sendo feito ainda é insuficiente.” Maria Antonieta assinala que os números apontados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil confirmam a necessária e estreita relação entre leitura e educação. A escola é encarregada da alfabetização e do letramento, diz: “Esse vínculo natural torna-se imperativo num país com as desigualdades sociais nos níveis existentes em nosso país, onde a família não exerce o papel de primeira e mais importante definidora do valor da leitura.” A pesquisa mostra que é a escola quem impulsiona a leitura no Brasil. É a partir dela que os brasileiros entram em contato com o processo da leitura e, por meio dela, acessam os livros, independentemente de sua classe social. A escola pública forma a maioria da população – 85% dos entrevistados. É lá que a maioria das crianças e jovens tem acesso ao livro e é também por causa da escola que se lê – e não só para atender às tarefas escolares, mas também por prazer. A professora é, logo depois das mães, a principal incentivadora da leitura, confirmando o papel central da escola nesse processo. No entanto, como nota Maria Antonieta, a leitura decresce muito entre os adultos. “Podemos supor que a escola não tem formado leitores para a vida inteira, talvez por práticas pouco sedutoras e obrigatórias, das quais o não estudante procura se livrar assim que ultrapassa os limites da escola”, observa. Ela defende ações de promoção da leitura que a liguem verdadeiramente à vida e tornem os materiais de leitura mais próximos dos alunos. E cita alguns: ultrapassar os muros da esco-

Foto: José Filho

Maria Antonieta Cunha da UFMG e PUC-MG

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Foto: José Filho

Seminário Retratos da Leitura realizado em maio, em Brasília

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la, visitar de forma planejada, conseqüente e prazerosa ambientes onde se criam jornais, revistas e livros; conversar com os atores de cada uma das cadeias de criação e produção desses materiais; conhecer sites que enfocam a leitura; e ir a feiras de livros. “São estas ações que ajudam a inserir a leitura no universo dos sujeitos, sobretudo dos mais novos.” Por outro lado, é clara a progressiva valorização da leitura na medida em que avança a escolarização dos 5.011 entrevistados pelo Ibope em 311 municípios brasileiros: em suportes diferentes, como livro, revista, jornal ou internet, os leitores de nível superior são os que mais lêem. Na outra ponta, o número de não-leitores diminui de acordo com o nível de escolarização, a renda familiar e a classe social. Na classe A, por exemplo, há apenas 5% de não-leitores. Não há como negar que a associação entre escolaridade e poder aquisitivo, privilégio das classes mais altas, acaba sendo significativa para o desenvolvimento de leitores assíduos. No ensino superior, há apenas 2% de nãoleitores, notou a professora Lucília Garcez, da Universidade Federal de Brasília (UnB). A maior parcela de não-leitores está entre os adultos: 30 a 39 anos (15%), 40 a 49 anos (15%), 50 a 59 anos (13%) e 60 a 69 anos (11%). Embora não seja a única linguagem, o livro continua a ocupar lugar central na sociedade

moderna. “É por meio dele que se desenvolve a leitura e, sem ela, as portas para outras linguagens e para a informação não se abrem”, afirma o sociólogo argentino Jorge Werthein, que foi representante da Unesco no Brasil. O acesso à leitura, observa ele, depende da capacidade de decodificar e interpretar. E, sem essas habilidades, o indivíduo não se insere plenamente no mundo do trabalho e na sociedade, como também não desenvolve sua autonomia e capacidade inventiva. Para ele, esta é uma questão estratégica e fundamental para qualquer nação que almeja superar a condição de país em desenvolvimento. O sociólogo, atualmente à frente da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla), um organismo internacional que busca estimular maior acesso ao mundo digital, argumenta que, embora a pesquisa tenha mostrado que 72% dos brasileiros associam a leitura a valores positivos e o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) informe que 67% dos brasileiros têm interesse em ler, a verdade é que até pouco tempo não havia uma única biblioteca em 1.300 municípios do País. Em 89% das 5.564 cidades brasileiras, destaca ele, também não há livrarias. Jorge Werthein lembra que o governo federal, os Estados e as diversas instituições que atuam na área têm promovido ações para fornecer livros, informações e alcançar o brasi-


Retratos da Leitura

leiro que está na ponta da linha em áreas menos desenvolvidas. “É um tremendo esforço que envolve pesada logística. Não é fácil. Os resultados estão chegando. Poderiam ter mais velocidade. Porém, é inegável que a situação de hoje é melhor que a de ontem.” Além do analfabetismo, Lucília Garcez destaca outras dificuldades enfrentadas para a não-leitura: lêem muito devagar, 16%; não compreendem o que lêem, 7%; não têm paciência para ler, 11%; não têm concentração, 7%. Todos esses problemas, alerta a professora, dizem respeito a habilidades que deveriam ser desenvolvidas no processo educativo e indicam que o leitor ainda não domina os procedimentos necessários para a decodificação rápida dos signos lingüísticos. Para superar essas dificuldades, segundo Lucília, seria necessário um esforço significativo por parte do poder público na formação e aperfeiçoamento de professores de língua portuguesa e mediadores de leitura, de forma que assegurassem resultados mais efetivos no processo de domínio da leitura e da escrita junto aos alunos. “A ênfase do processo pedagógico deveria voltar-se para as práticas de leitura e de escrita e não para a memorização de nomenclatura gramatical”, diz ela. Ao contrário do que costuma apregoar o senso comum, diz o coordenador da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura, os jovens e os adolescentes são os principais responsáveis pelos maiores índices de leitura no Brasil. Em certas faixas etárias, observa, esses números chegam a ser três vezes maiores do que entre os mais velhos. Ocorre, no entanto, um fenômeno altamente preocupante: conforme aumenta a idade, os leitores simplesmente vão deixando de ler. Na opinião do escritor Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras, falta um pouco mais de encanto. “A casa da leitura tem muitas portas, e a porta do prazer é das mais largas e acolhedoras”, filosofa ele. E diz mais: ”Em se tratando de leitores jovens, é melhor apresentar a leitura como um convite amável, não como uma tarefa, como uma obrigação, que, ao fim e ao cabo, solapam o próprio simbolismo da leitura, transformada num trabalho árido, quando não penoso.” Lucília Garcez faz coro: “O interesse pela leitura é desenvolvido de acordo com as oportunidades de leitura prazerosa surgidas durante a vida. É necessário que a leitura seja uma experiência gratificante, que o leitor descubra que a leitura responde a um desejo interior. Essa experiência pode ser estimulada pelos pais, quando lêem histórias para as crianças, pela escola e pelo professor, quando proporciona situações de leitura interessantes, por

indicação de alguma outra pessoa leitora que exerce influência sobre o jovem, ou pelo ambiente em que a leitura é valorizada.” A pesquisa aponta que a leitura aparece só na quinta posição da preferência dos braFoto: José Filho

Jorge Yunes, presidente do Institudo Pró-Livro sileiros, depois da televisão, do rádio, de ouvir música e de descansar. Ao mesmo tempo, a falta de tempo, com índices de às vezes mais de 50%, é a alegação mais comum dos entrevistados para justificar o não envolvimento com a leitura. Mas o acesso ainda aparece como uma questão bastante séria: não por outra razão somente 10% da população diz que vai com freqüência a uma biblioteca. E os empréstimos de livros entre amigos e familiares já aparecem, ao lado das livrarias, como o principal canal de acesso aos livros na atualidade. Os especialistas defendem políticas públicas capazes de estimular a criação e, sobretudo, a sobrevivência das livrarias, em especial aquelas instaladas em pequenas e médias cidades do interior do País. E, principalmente, uma política mais vigorosa de apoio às bibliotecas públicas, a exemplo dos programas governamentais de aquisição de livros existentes nas escolas públicas. “O Brasil não pode demorar mais para ter uma ampla política para as bibliotecas públicas”, defende o presidente do Instituto Pró-Livro, Jorge Yunes. A outra frente da batalha está nas mãos do Ministério da Educação e das escolas: incluir o contingente constituído por dezenas de milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever, ou que por fazer isso tão mal nem se atrevem a pegar um livro nas mãos, para mergulhar nesse enP cantado reino das palavras. Agosto 2008 Panorama 25


Boa Idéia

A revolta dos sem-livro Artistas invadem o velho prédio da biblioteca fechada há cinco anos em Imperatriz (MA) e recriam no local um centro de leitura e artes Por: Marla Cardoso e Litiane Klein Os sem-livro de Imperatriz, segunda maior cidade do Maranhão, com 240 mil habitantes, à beira do Rio Tocantins, estão perto de uma solução para reativar por completo a Biblioteca Pública Municipal Professor Oswaldo Carvalho, fechada pela prefeitura há cinco anos. Em maio, o movimento Ocuparte, formado por várias entidades da comunidade local, invadiu o prédio abandonado e instalou lá um improvisado centro cultural, com uma sala de livros e uma variada programação com artistas locais. A prefeitura, por sua vez, reagiu: dois meses depois, anunciou planos de retomar o imóvel, restaurá-lo e fazer finalmente com que volte a funcionar ali uma biblioteca à altura da crescente sede de leitura dos moradores do lugar. A cidade maranhense, a 640 quilômetros de São Luís, sabe que há muito por fazer. A biblioteca foi fechada em 2003. A prefeitura mandou tirar os livros das prateleiras e anunciou o projeto para a reforma do prédio. O tempo passou, e nada das obras. Aos poucos, moradores de rua fizeram dali o seu refúgio. O edifício foi rapidamente se deteriorando e, por um bom tempo, serviu de abrigo para algumas famílias de sem-teto. A primeira luz só surgiria três meses atrás durante uma reunião plenária do Fórum da Cultura de Imperatriz. Na ocasião, o Ocuparte, um movimento integrado por grupos e ativistas culturais da cidade, propôs uma medida mais radical, que logo receberia a adesão de outras entidades: já que a prefeitura não levava adiante as obras, a própria comunidade deveria assumir a dianteira e pôr mãos às obras. E partiu para a ação: poucos dias depois, eles conseguiram encaminhar os sem-teto para outros locais e limparam, literalmente com as próprias mãos, o prédio, que ainda carece de uma boa reforma. Mas deu para entrar. Como num passe de mágica, as salas receberam livros doados pela população e logo elas já estavam novamente com gente e vida inteligente. Os artistas passaram a freqüentar o local e foram organizados debates sobre poesia, oficinas de arte, apresentações culturais e exposições. Estudantes de escolas 26 Panorama

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e universidades foram convidados a engrossar o movimento e artistas de diversas áreas toparam se apresentar sem cachê e engordar o calendário de atividades para garantir uma programação cheia de atrações. Agora, os organizadores da ocupação planejam montar uma biblioteca comunitária, abrir oficinas de contadores de histórias e buscar novas maneiras de promover os escritores locais, inclusive com a promoção de palestras e debates. Já houve por lá até um simpósio sobre poesia, organizado para os estudantes de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A pergunta que mais se faz na cidade, agora, é se o movimento e os seus muitos planos terão futuro. Maria Lilia Silva Diniz, membro da coordenação do Ocuparte, garante que sim. “Já estamos em campanha de arrecadação de livros para a biblioteca e recebemos algumas doações”, afirma com entusiasmo. Segundo a professora de história, Maristela de Sousa Rosa, do Centro de Cultura Negro Cosme, a idéia é não só devolver à cidade sua antiga biblioteca, que há um bom tempo necessitava de um espaço maior para atender à demanda por livros existente na cidade. É necessário, observa, assegurar a criação de um espaço vivo de leitura,

onde ocorram as mais diferentes atividades ligadas aos livros e à literatura. “Queremos ter, paralelamente, um centro cultural sólido, com atividades diversas no campo das artes”, acrescenta ela, que decidiu transferir a própria sede da ONG para uma das salas do prédio. No entanto, para que essas idéias sejam colocadas em prática Maristane diz que precisam conseguir o tombamento do prédio junto ao poder público e legalizar a própria posse do imóvel. “A Biblioteca Pública é um referencial de leitura e tem um grande valor simbólico para a cidade”, defende ela, que ajudou a encaminhar o documento com o pedido das

ONGs às autoridades locais. Enquanto o imbróglio não se desfaz, as entidades se mexem com o objetivo de consolidar a ocupação e torná-la irreversível. “Já providenciamos a pintura do prédio e a colocação de novas grades para dar mais segurança ao local”, informa José Geraldo Costa, que é vice-presidente da Associação Artística de Imperatriz e membro da Academia Imperatrizense de Letras, duas entidades que ajudaram a liderar a rebelião dos sem-livros. Quem não gostou nada dessa história foi a prefeitura de Imperatriz, que já se manifestou oficialmente contra a invasão do prédio e prometeu reassumir seu controle e devolver à população a biblioteca exigida. O prefeito Ildon Marques rebate as críticas e explica que as obras só não foram feitas antes por falta de verbas. Agora, garante ele, já será possível levar adiante a reforma. Os funcionários da prefeitura estão pedindo para que os integrantes do movimento deixem o local para facilitar o trabalho dos operários contratados para a obra. As ONGs ainda resistem à idéia. Elas temem que tudo não passe de alguma jogada política em um ano de eleições municipais. Seja lá qual

for o desfecho, uma coisa é certa: a velha biblioteca já deixou de ser somente um prédio vazio e esquecido. Disputas entre prefeitura e organizações da sociedade à parte, quem já ganhou a briga foi a cidade e seus leitores. Afinal, em breve, ali os livros vão voltar P à vida.


Socialmente Responsável

De corpo e alma Grupo Santillana abre fundação no Brasil para intensificar as políticas de responsabilidade social empresarial de suas editoras no país Com uma forte atuação na Espanha e em alguns países da América Latina, a Fundação Santillana, braço das ações de responsabilidade social do grupo do mesmo nome, acaba de desembarcar no Brasil. É bem verdade que o Grupo Editorial Santillana, controlado pelo também espanhol Grupo Prisa e detentor por aqui de importantes selos editoriais (como a Moderna, líder no segmento de didáticos, a Objetiva, de livros gerais, e a Salamandra, de infantis), já vinha desenvolvendo inúmeras iniciativas na área e, de certa forma, preparando terreno para sua chegada. Agora, no entanto, tudo indica que essa atuação vai se expandir e ganhar ainda mais robustez. Além de buscar consolidar os conceitos de responsabilidade social corporativa nas empresas do grupo desde que aportou no país, em 2001, a Santillana decidiu, a exemplo do que faz nos países onde está presente, manter o foco nas áreas de educação e cultura. “A educação é a via mais firme para avançar no desenvolvimento de pessoas”, justifica o presidente da Fundação Santillana, Ignacio Polanco, que também dirige o Grupo Prisa. “Abrem-se nas linhas as páginas do mundo”, emenda a escritora Nélida Piñon, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras e convidada a integrar o Conselho Consultivo da instituição no Brasil. De fato, todas as ações desenvolvidas até aqui, antes mesmo da chegada oficial da fundação, estão claramente voltadas para esses temas. Um bom exemplo disso é o Prêmio Vivaleitura, que a cada ano procura identificar e reconhecer boas práticas de fomento à leitura no país. Instituído pelo Ministério da Cultura e Ministério da Educação, com apoio da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), o prêmio tem a cooperação da Fundação Santillana desde 2006. O prêmio já catalogou 7 mil boas práticas de leitura em bibliotecas, escolas, organizações sociais, prefeituras, universidades e empresas e rapidamente se tornou o maior prêmio dinheiro (R$ 90 mil por ano) para projetos de leitura. Nas palavras do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, é um bom

exemplo de PPP (Parceira Público-Privada) Cultural. Aliás, deu certo que o modelo, desde o ano passado e com autorização do governo brasileiro, passou a ser exportado para outros países da América Latina. A Argentina foi a primeiro a aderir e, em seguida, a premiação deve ser estendida também ao México e a Colômbia. Outra bem-sucedida iniciativa da fundação é o Congresso Internacional de Educação, que reúne anualmente, nas principais capitais brasileiras, milhares de professores para ouvir grandes especialistas mundiais. Na sexta edição, que aconteceu, em maio, em Recife, estiveram presentes 4 mil educadores. Outra boa experiência é o Seminário de Outono, que reúne grandes conhecedores de temas ligados à educação para aprofundar discussões em busca de soluções para questões que podem provocar grandes transformações no dia-a-dia das escolas. Na mesma linha, o projeto Escola de Valor busca descobrir e, em seguida, difundir, por meio de exposições fotográficas e publicação de livros, práticas inovadoras em escolas que possam ajudar outros estabelecimentos a superar, a partir de soluções simples e multiplicáveis, suas dificuldades. Em todas as ações planejadas até agora, o objetivo é claro: cooperar para a melhoria das condições de ensino, especialmente nas escolas públicas. A próxima novidade será um estudo, em parceria com o Observatório do Livro e da Leitura, sobre o impacto das políticas públicas do livro e leitura no desempenho dos 200 melhores e piores municípios no Ideb (Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico). “Só com essas parcerias entre o setor público e o privado que poderemos criar uma sociedade melhor”, afirma a diretora de Relações Institucionais do grupo no Brasil, Mônica Messenberg, que responde pelas ações da fundação. Ela defende a necessidade de as empresas participarem de forma mais ativa das soluções dos grandes problemas nacionais. “O futuro do País depende da ação e da vontade de mudar”, diz ela. A julgar pela boa experiência internacional acumulada, as primeiras movimentações

no Brasil e a seleção de personalidades convidadas a integrar seu conselho consultivo – além de Nélida, fazem parte do grupo nomes como os ex-presidentes da República Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e os ex-ministros da Educação Cristóvam Buarque e Paulo Renato de Souza, entre outros – muiP ta coisa boa ainda vem por aí. Foto: Fanca Cortez

Nélida aconselhou investimentos em educação

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Políticas Públicas

Além da fronteira

A Apex e a CBL dão início a uma operação em conjunto para desbravar novos mercados e fincar de vez a bandeira do livro brasileiro lá fora Nos últimos anos, os números e as notí- talação de estandes as principais internaciocias nos cadernos de economia dos jornais nais. Ao contrário do que ocorre nos principais brasileiros só têm confirmado os avanços do países que produzem e exportam livros, levar setor produtivo nacional e o vigor de sua es- autores, obras e essa faceta importante da tratégia voltada para o exterior. No ano pas- cultura nacional que é a literatura a conquissado, para se ter uma idéia, as exportações tar espaço além das fronteiras acabou sendo, brasileiras alcançaram o total recorde de US$ por aqui, uma responsabilidade quase exclu160,6 bilhões. Um crescimento de 16,6% em siva do setor privado. relação a 2006. E os números não param de Foi justamente para tentar acabar de vez crescer. Neste ano, até junho, o Brasil já havia com essa deficiência crônica do negócio exportado mais de US$ 90 bilhões. do livro no Brasil que a Agência Brasileira de Sobre os negócios com livros ou direitos autorais dos escritores brasileiros lá fora, ainda não há, no entanto, estatísticas oficiais. O próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior não consegue apontar quanto dos US$ 30 milhões faturados em 2007 na categoria que engloba de obras, dicionários e enciclopédias a impressos e brochuras são de fato livros. Tampouco é possível dizer quanto dos US$ 319 milhões que entraram naquele mesmo ano nos cofres do Banco Central como recebimento de royalties (nos quais também estão incluídos direitos sobre outras obras artísticas ou científicas, patentes, marcas, projetos e concessão do uso de equipamentos) são Frankfurt, Alemanha: livros made in Brazil realmente direitos sobre livros. Já a pesquisa Produção e Vendas do Setor Edi- Promoção de Exportações e Investimentos, torial Brasileiro, da Câmara Brasileira do Livro a Apex-Brasil, e a CBL assinaram, em julho, (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores o Projeto Setorial Integrado (PSI) do Mercado de Livros (Snel), mostra que a exportação de Editorial, um convênio bem ambicioso. “O livros em 2006 foi de cerca de US$ 8,5 mi- Brasil tem uma literatura de qualidade, possui lhões, 49% mais do que no ano anterior (US$ escritores altamente respeitados lá fora e sua cultura e o modo com que trata as coisas des5,6 milhões). Lideranças do setor são unânimes ao afir- pertam grande interesse nos outros países”, mar que esses valores só não são maiores assegura Alessandro Teixeira, que comanda o simplesmente porque nunca houve políticas órgão do governo federal que cuida das estraconsistentes para fomentar os negócios do tégias e incentivos às exportações. O acordo, que começou a ser costurado livro lá fora. Com isso, a participação brasileira no mercado internacional sempre se deveu em 2005, por ocasião das comemorações do muito mais ao esforço individual de alguns Ano Ibero-americano da Leitura, o Vivaleitura, editores e agentes literários. Ou, ainda, do fi- prevê uma atuação em conjunto para apoiar nanciamento de entidades do livro para a ins- as editoras interessadas em vender no exte28 Panorama

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rior. “Há nichos específicos como os livros religiosos, de história, os técnico-científicos e os de literatura infanto-juvenil com alta demanda, mas a produção editorial como um todo desperta o interesse”, acrescenta Teixeira. “Tem lugar para todo mundo nesse mercado”, afirma o diretor da editora Melhoramentos, Breno Lerner, um especialista no tema. “Mas sozinhos não vamos chegar muito longe”, adverte ele, ao lembrar que o mercado internacional vem passando por importantes transformações nos últimos anos. Foto: Arquivo CBL Poder contar com o know-how de uma agência como a Apex, especializada tanto em inteligência quanto planejamento e estratégias internacionais, fora o próprio apoio físico e financeiro, aumenta muito as chances dos brasileiros. Além disso, acrescenta, dispensa a necessidade de elevados investimentos próprios. Uma das grandes entusiastas do projeto é Miriam Gabbai, que comanda a editora Callis, de São Paulo, especializada em literatura infantil. Desde as primeiras reuniões com Apex, Miriam se tornou uma ardorosa defensora da parceria entre o governo e a indústria do livro. Com cerca de 270 títulos no catálogo, a Callis abriu, nos últimos anos, uma pequena frente de batalha no front mundial. Após uma experiência inicial na Feira de Londres, anos atrás, ela passou a freqüentar os principais eventos mundiais do livro e já conseguiu vender direitos para diversos países. Escolhida como uma das coordenadoras do comitê gestor do projeto, Miriam Gabbai está convencida de que essa união de forças permitirá que as editoras garantam, além de estrutura de divulgação e venda no mercado mundial, uma melhor participação em feiras internacionais. “Com uma ação individual limitada, eu, por exemplo, demoro muito mais tempo para conseguir expor meus livros”, revela ela. Uma das primeiras a partir, há 40 anos, em


Foto: Arquivo CBL

busca da expansão de mercado no exterior, a Melhoramentos já experimentou diversas formas de atuação. Começou vendendo serviços gráficos, depois passou para produtos, coleções e criações. Com o dólar desvalorizado frente ao real, a empresa passou, nos últimos anos, a apostar mais na venda de direitos autorais para as estrangeiras. Um dos entraves nesse tipo de negócio, alerta Guadalajara, México: daqui para o mundo Breno Lerner, são as margens de lucro menores, o que torna praticamente inviável atuar isoladamente lá fora. títulos oferecidos – um índice que deve subir para 20% no ano seguinte. Por enquanto, 30 Cinco anos empresas participam, mas a idéia é subir para O objetivo principal do convênio entre Apex 40 em dois anos. O investimento será de R$ e CBL é justamente procurar promover um di- 2,8 milhões, metade de cada uma das partes, álogo mais constante entre o setor e o mer- e a idéia é, já nos primeiros dois anos, gerar cado externo. O primeiro passo é aumentar o R$ 1,5 milhão em negócios. “Insisto, porém, número de editoras preparadas para exportar que nesse caso o retorno esperado vai muito seus serviços com um cronograma claro para além dos resultados puramente financeiros”, expandir esses negócios no futuro. Para isso, afirma o presidente da Apex. serão oferecidos desde acompanhamento e A Apex planeja trazer ao País executivos de pesquisas de mercado até consultorias per- editoras estrangeiras, agentes literários, orgasonalizadas e planejamento estratégico aos nizadores de feiras e jornalistas para que cointeressados. nheçam melhor o mercado nacional. A idéia é, Além de ajudar a incrementar as receitas sempre que possível, criar as condições nedas editoras locais com os novos nichos, a cessárias para que parte dos negócios já seja Apex sabe que o setor é estratégico para aju- fechada por aqui mesmo. Mas ela pretende dar a consolidar a presença da cultura brasilei- estimular a criação de uma marca própria para ra nos outros países. “Estamos trabalhando a o livro brasileiro, a exemplo do que fizeram alconsolidação da marca Brasil lá fora e a litera- guns setores exportadores. tura é fundamental para isso”, reconhece AlesOs alvos iniciais da ação serão Alemasandro Teixeira. “Exportar a cultura brasileira é nha, Espanha, Inglaterra, México, Argentina, aproximar o mundo do Brasil e dos outros 70 Peru, Chile e os países do Leste Europeu. “Os outros setores exportadores”, emenda ele. chineses, por exemplo, após a abertura do O acordo, previsto inicialmente para dois regime, têm interesse enorme em conhecer anos, mas podendo ser renovado, tem como a cultura de vários países”, diz o presidente meta vender, já em 2009, pelo menos 15% dos da Apex. Na França, acrescenta ele, há um

grande mercado para livros religiosos, em especial os espíritas, enquanto a Alemanha, por seu alto grau de desenvolvimento, é um potencial comprador de livros científicos e técnicos. Consideradas importantes vitrines para o negócio do livro, as próximas edições das feiras de Frankfurt, Guadalajara, Bologna e Londres, entre outras, já terão estandes com a marca do projeto. Esses espaços ficarão disponíveis para as editoras participantes do convênio negociarem seus produtos. “Antes, essas empresas iam sozinhas tentar o mercado internacional”, afirma Christiano Braga, escalado para gerenciar os negócios do livro na Apex. “Agora, a partir de uma atuação organizada e ações de inteligência, vamos qualificar e facilitar a entrada delas nesse negócio”, explica. Os resultados, segundo Miriam Gabbai, devem aparecer aos poucos. Mas já serão suficientes para fazer as editoras aparecer mais. “Não é muito dinheiro em jogo, mas, sim, prestígio”, avalia. No caso da indústria gráfica (ver box abaixo), a mesma estratégia tem rendido milhões de reais a cada ano. “Decididamente, não será o nosso caso”, admite Miriam. O primeiro resultado concreto do acordo CBL-Apex já se deu em julho. O consultor alemão Frank Jacoby-Nelson, um dos maiores especialistas em direitos autorais do mundo, esteve no Brasil para ensinar, num workshop de dois dias no Instituto Goethe, em São Paulo, as melhores práticas do mercado internacional para negociar a publicação de obras além das fronteiras nacionais. Foi um bom P começo.

O exemplo da indústria gráfica Enquanto o mercado editorial aquece seus motores, a Associação Brasileira da Indústria Gráfica já renovou, por mais dois anos, sua parceria com a Apex. Em 2003, a Abigraf estabeleceu com a agência um projeto de incentivo à exportação de produtos e serviços gráficos denominado Graphia (Graphics Arts Industry Alliance). O objetivo inicial era fazer

prospectar, potencializar e facilitar as transações comerciais com o mercado externo, como agora pretende fazer o mercado editorial. De lá para cá, o Graphia já gerou nada menos do que R$ 410 milhões em negócios realizados com 12 países das Américas e do Caribe. Além disso, já aconteceram várias missões comerciais e a presença das gráficas

nacionais nos mais importantes eventos nos quatro cantos do mundo. Nos próximos meses, está prevista a participação em 11 feiras internacionais. Outras 18 missões comerciais serão mandadas ao exterior e pelo menos duas missões com clientes estrangeiros já estão programadas para visitar o Brasil e participar de rodadas de negócios por aqui. Agosto 2008 Panorama 29


Mercado & Tendências

Os rumos do varejo do livro Fusão da Saraiva com a Siciliano deu origem a uma rede com 99 livrarias e reacendeu uma questão: para onde caminha, afinal, o varejo do livro no Brasil? No início de março, ao anunciar a compra da rede de livrarias Siciliano por R$ 60 milhões, a Saraiva se transformou na maior empresa em faturamento do varejo do livro no Brasil, e na segunda maior em número de lojas, com um total de 99 livrarias, só ficando atrás da rede de franquias da Nobel, que possui 170 unidades. Comemorada por uns e temida por outros, a megafusão, que há meses era ansiosamente aguardada pelo setor, fez ressurgir uma velha questão, recolocada com alguma insistência nas últimas semanas no mercado: o que muda de agora em diante e, principalmente, para onde caminha o varejo do livro no Brasil? Quase cinco meses após a concretização do negócio, pouco se sabe ainda sobre os planos da Saraiva para a sua antiga rival. A mudança mais evidente até aqui foi exibida por ocasião da reinauguração, em maio, da loja da ex-Siciliano no Shopping Jardim Sul, em São Paulo. Já sob a bandeira da Saraiva, a livraria abriu suas portas com prateleiras e gôndolas abarrotadas de artigos de informática, eletrônicos, CDs, DVDs e livros importados. O que já indicava, segundo experientes executivos do mercado, uma clara e substancial mudança no posicionamento mercadológico da livraria. O portfólio tradicional da Siciliano, como se sabe e ainda pode ser visto nas lojas que permaneceram, por enquanto, com a antiga cara, tem nos livros basicamente seus únicos produtos. A primeira loja aberta pela Saraiva depois de encerrada a transação é apontada pelos executivos do próprio grupo como uma espécie de projeto piloto para testar as reações dos consumidores e avaliar como deve ser o processo de substituição da marca. Ao que parece, isso deve ser feito loja por loja, até que seja abandonada de vez a antiga marca da Siciliano. A própria Saraiva, no entanto, evita dar maiores detalhes. Segundo o executivo João Luís Ramos Hopp, que responde pela direção financeira e pelas relações com os investidores do grupo, o processo de integração entre as duas redes ainda vai demorar para ser concluído. Ele próprio imagina que não termine em menos de um ano. Embora identifique os sinais de ansiedade emitidos pelo mercado quan-

to aos rumos do novo negócio, Hopp prefere agir com cautela. E não dá nenhuma pista sobre os próximos passos. O que se sabe, e o próprio Hopp confirma, é que uma medida imediata é a implantação gradual nas novas lojas das mesmas estratégias de compra da Saraiva. Isso já começou a acontecer e, segundo ele, deve ser acelerado até atingir todas as 51 lojas próprias e as 11 franquias que foram incorporadas. Outra novidade será a chegada dos produtos que tradicionalmente são oferecidos nas lojas Saraiva, como é o caso dos artigos de informática. Afinal, as vendas desses itens na internet e nas 36 lojas físicas então existentes tiveram, no primeiro trimestre de 2008, um crescimento de nada menos do que 175% em comparação com o mesmo período no ano passado. Isso só não acontecerá, segundo Hopp, nos locais onde o tamanho das lojas não permitir mesmo. O bom desempenho dos negócios da livraria se deveu em boa parte, de acordo com o executivo, tanto em decorrência do sucesso do varejo eletrônico – cujo aumento nas vendas foi de 85% – como das próprias lojas físicas, que registraram um incremento na ordem de 42,9%. Como a Saraiva não divulga separadamente os números por segmento de produtos, não dá para se saber qual foi Foto: Divulgação

João Luis, da Saraiva 30 Panorama

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exatamente a participação dos livros para a obtenção desses bons resultados. A fusão entre as duas marcas não deve levar, na opinião de João Luís Hopp, a um processo de concentração do negócio do livro no varejo. Mesmo após união das duas, diz ele, a participação da Saraiva no mercado varejista de livros no País é considerada pequena. Nada indica, acrescenta o executivo, que esteja em curso qualquer movimento que leve à concentração nesse elo da cadeia produtiva. “O número de livrarias espalhadas pelo Brasil tem crescido bastante e muitas delas vêm se especializando em determinados nichos do mercado”, observa ele. O processo sobre a compra da Siciliano pela Saraiva ainda se encontra sob análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, órgão do Ministério da Justiça responsável por autorizar operações desse porte. O tema já está em fase de instrução, o que compreende análises feitas por outros organismos do governo. O procedimento é normal, explica um conselheiro, ao revelar que as autorizações emitidas pelo Cade nesses casos costumam demorar, em média, 150 dias para serem expedidas. Concentração De acordo com dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL), existem, atualmente, cerca de 4 mil pontos de venda de livros espalhados pelo País. Se contar somente lojas cujos estoques são permanentemente atualizados e os livros respondem por, no mínimo, metade das receitas, este número cai para 2.676. Por isso, na opinião do presidente da ANL, Vitor Tavares, a fusão das duas redes está longe de significar um aporte à concentração no mercado. Ao contrário, diz, esta foi uma boa notícia para o negócio do livro no Brasil. Seu raciocínio é simples: havia, segundo ele, um sério risco de a Siciliano simplesmente fechar as suas portas em função do acúmulo de problemas administrativos e das dificuldades financeiras. “Isso levaria a uma expressiva redução do número atual de livrarias, com conseqüências trágicas tanto para os diversos elos da cadeira do livro, de fornecedores a funcionários, como para a própria sociedade”, analisa o dirigente.


Foto: Marcos Ramos

Marcus Gasparian, da Argumento

Segundo Vitor Tavares, está em curso um processo que levará, nos próximos anos, a uma profunda modificação no perfil desse negócio e dos próprios empreendedores da área. Já há uma maior profissionalização da atividade, nota ele. “Cada vez mais, percebemos que os livreiros românticos e defensores da causa do livro são seres que caminham para a extinção”, afirma. Para o empresário Samuel Seibel, proprietário da Livraria da Vila, com quatro lojas em São Paulo, eventuais mudanças provocadas pela fusão da entre a Saraiva e a Siciliano dependerão muito mais da política comercial que vier a ser adotada pela nova rede. “Se ela for baseada na oferta de best-sellers e lançamentos com descontos como principal fonte para a atração de clientes, considero um perigo para as pequenas e médias livrarias que, obviamente, terão aí muitas dificuldades para competir”, adverte ele. Embora diga que os livros com menor apelo comercial são importantes para ajudar a firmar o conceito de livrarias como a sua, Seibel não tem dúvidas, por outro lado, sobre o que representam para elas os best-sellers. “São eles que garantem a sobrevivência do negócio”, atesta o livreiro. Ele acredita que deve ressurgir com força o movimento entre seus colegas pela adoção no País de uma lei do preço fixo, capaz de coibir, como acontece em países como a França, o México e a Argentina, os grandes descontos que as redes maiores dão em lançamentos e que dificilmente podem ser acompanhadas pelas pequenas. “É preciso que se tenha uma certa igualdade na competição entre grandes redes, hipermercados e as pequenas livrarias”, defende Samuel Seibel, um intransigente defensor da medida, que, em agosto, será rediscutida na Convenção Nacional de Livreiros, em São

Paulo. “A competição deve se dar em outros campos que não exclusivamente o do preço baixo”, emenda ele. Marcus Gasparian, tradicional livreiro carioca e dono da Livraria Argumento, também não acredita que a fusão Saraiva-Siciliano ou mesmo a diversificação do mix de produtos, na linha em que a nova rede é uma forte expoente, vá representar uma nova tendência para o mercado. Livrarias como a sua, fundada há 30 anos e atualmente com três unidades no Rio de Janeiro, e a de Seibel, em São Paulo, diz ele, têm outra proposta de negócio e acabam desempenhando um papel fundamental na formação de novos leitores. Por mais que as livrarias de bairro abram filiais ou se transformem elas próprias em pequenas redes, argumenta Gasparian, elas vão continuar, sempre, a ter uma atuação regional e, além disso, prezam, acima de tudo, a prática de um atendimento diferenciado e o contato mais pessoal com os seus clientes. Ele acredita que também em função da própria variedade e a qualidade dos seus acervos, essas livrarias continuarão a ter uma capacidade de gerar negócios por metro quadrado muito maior do que as grandes redes. No ano passado, a Argumento vendeu em suas três lojas 1,5 milhão de livros. Já a rede mineira Leitura – com 29 lojas em quatro estados do Sudeste e Centro-Oeste, inclusive no Distrito Federal – comercializou, no mesmo período, algo em torno de 2 milhões de exemplares. Eles responderam por 50% dos negócios. A Leitura foi, ao lado da Saraiva, uma das empresas interessadas em adquirir, na época, o controle da Siciliano. Mas ele não desistiu de expandir. Agora, segundo Marcus Teles, um dos sócios, a rede está à procura de livrarias independentes ou mesmo de pequenas redes para comprar pelo Brasil afora. Com duas lojas programadas para serem abertas em 2008, a Leitura planeja avançar na direção de outras regiões. Teles está convencido de que está em curso um processo que levará, inevitavelmente, à concentração P no varejo do livro no Brasil.

Operando em silêncio

Enquanto antigas e novas redes de livrarias partem em busca de novas fatias do mercado consumidor de livro no País, um outro movimento cresce, quase em silêncio, numa direção oposta. São os chamados pontos de venda alternativos, que ganham um terreno cada vez maior pelo interior do país e, aos poucos, se entronizam principalmente nas cidades de pequeno porte. Em regiões como o Norte e o Nordeste, tradicionalmente desabastecidas de livrarias, essa tendência é ainda mais clara. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (leia mais na página ...), encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope Inteligência, é cada vez maior a presença dos sebos e das igrejas como pontos de venda de livros. O estudo mostra que 9% dos 36 milhões de compradores de livros no País os adquiriram, ultimamente, nos brechós de livros usados. Outros 6% informaram obter adquirido obras novas em alguma igreja, das mais diferentes religiões. Para se ter uma idéia disso, basta lembrar que editoras como a FEB, da Federação Espírita Brasileira, vendem sozinhas 1 milhão de exemplares por ano – e a maioria desses livros em pontos alternativos. A FEB não sabe dizer exatamente quantas livrarias espíritas existem no País, mas desconfia que haja pelo menos um ponto de venda em cada um dos 11 mil centros espíritas espalhados pelo Brasil. A proliferação dos pontos de venda nas igrejas, especialmente as evangélicas, também tem sido apontada como uma das causas do bom momento dos livros religiosos nos últimos 10 anos no Brasil. A Associação de Editores Cristãos (Asec), que reúne 65 editoras, registra um crescimento médio de 25% ao ano. “Tem acontecido uma profissionalização cada vez maior e veremos, nos próximos anos, muitos movimentos de aquisição, expansão e entrada de novos agentes”, prevê o diretor-executivo da Asec, Sinval Filho. Na mesma linha, editores ligados à Igreja Católica também apontam crescimento nas vendas. *A pesquisa considerou leitor quem declarou ter lido pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses (55% da população estudada ou 95,6 milhões de pessoas). Fonte: Retratos da Leitura no Brasil 2008

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Bienal do Livro, em busca da perfeição

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A megafesta do livro no Brasil chega à 20ª edição com maturidade e já pensando como evoluir no futuro em busca de mais leitores

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Foto: Arquivo CB

Anhembi, 2006: uma vitrine gigantesca

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Em que direção caminharão no futuro as megafeiras como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, uma das maiores e melhores do mundo e que chega, em 2008, à sua vigésima edição? E até que ponto a grande festa do livro no Brasil ainda conseguirá evoluir e inovar para continuar levando às últimas conseqüências sua histórica missão de, ao mesmo tempo, servir de vistosa e elegante vitrine para alavancar negócios e ajudar a desenvolver o mercado consumidor de livro no País também chamar a atenção para a questão da leitura, contribuir, assim, para fortalecer e estimular esse hábito entre os brasileiros? Essas perguntas vão percorrer, neste mês de agosto, os imensos corredores do Parque de Exposições do Anhembi com seus 350 estandes de expositores nacionais e estrangeiros, e os salões de entrevistas, autógrafos.e debates, onde ela acontece pela segunda vez consecutiva. É lá que editores, livreiros, distribuidores, escritores e todos aqueles que militam em torno da questão do livro no País, de fabricantes de papel e gráficos a bibliotecários, de leitores e educadores às autoridades do governo e gestores de políticas públicas, têm um encontro marcado entre os dias 14 e 24. Se a Bienal de 2006 atraiu 811 mil visitantes, a deste ano foi cuidadosamente organizada para superar essa marca. Afinal, 2008 é um ano de grandes celebrações para a literatura e a própria indústria do livro, que comemora seus 200 anos no Brasil. É o ano dos centenários da morte de Machado de Assis, o genial criador da Academia Brasileira de Letras, e do nascimento do não menos genial Guimarães Rosa. Também é o tempo de se comemorar os 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro – fato que levou ao início da indústria gráfica e do livro, à criação da imprensa e à fundação da Biblioteca Nacional – e os cem anos do início da migração japonesa. Serão, ao todo, 60 mil metros quadros transformados em um grande templo do livro. “Desta vez, investimos ainda mais em promoção e esperamos receber um número recorde de visitantes”, afirma Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que promove a Bienal, com a organização da Francal Feiras. Ela não tem dúvidas de que o caminho natural desse evento é, como, aliás, tem sido desde o início, uma permanente evolução. Na opinião dela, esta vigésima edição pode vir a ser um fiel retrato do amadurecimento do seu modelo, que atribui a todos que estiveram presentes em diferentes momentos nos 38 anos de história das Bienais. Embora já seja uma das maiores do mundo, avalia a presidente da CBL, a Bienal Inter-

nacional de São Paulo não vai parar tão cedo de evoluir. “Este atual grande momento vivido pelo mercado de livros no País comporta um novo estágio de crescimento”, acrescenta ela. Rosely destaca a importância, ao lado da venda de livros, de iniciativas como o tradicional Salão de Idéias, o Espaço Universitário, o Espaço Literário e o Livro de Todos (ver quadro), criado este ano. Além disso, a boa presença de numerosos autores do Brasil e de outros países mais as atividades para o público infanto-juvenil têm o propósito de chamar a atenção para a importância da leitura e também estimular a formação de novos leitores. “As crianças e os jovens estão entre nossas principais metas, com o objetivo de estimular o hábito de leitura no País”, explica ela. “Nós, da CBL, tratamos disso com muito carinho. Para as crianças, haverá um pavilhão específico, um centro de atividades culturais. Uma Bienal tem mesmo de ser uma festa do livro. Muita gente que comparece a eventos desse tipo já tem o freqüente hábito de ir a livrarias, mas é válido insistir na idéia de que, ao atrairmos um público maior de jovens e crianças, estaremos fomentando ainda mais a paixão pelos livros.” Na opinião da presidente da CBL, o Anhembi é o recinto ideal para uma feira do porte da Bienal de São Paulo. “Em 2006, a conquista desse espaço já foi muito importante. Agora, tentamos melhorar ainda mais. E a busca da evolução tem de continuar em 2010, em 2012...” Bernardo Gurbanov, livreiro e um dos dois vice-presidentes da Câmara, mergulhado na organização de um evento quase simultâneo em São Paulo, o Congresso Ibero-Americano de Editores (ver box), tem uma explicação para o otimismo com que a entidade espera a Bienal: “Sempre trabalhamos com a expectativa de que São Paulo terá, mais uma vez, uma boa Bienal, uma Bienal ainda melhor que as anteriores. E é possível, com base na experiência acumulada em outras Bienais e em tantos outros eventos culturais. Estamos sempre tentando o melhor.” Alfredo Weiszflog, que foi presidente da CBL nos anos 1980, destaca o atual local da Bienal como uma conquista a ser ressaltada: “Desde o belo Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, usado na pioneira Bienal do Livro de São Paulo de 38 anos atrás, sempre tivemos bons espaços para esse evento. Mas o crescimento tem levado a mudanças necessárias. O prédio do Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer, foi válido, assim como os outros recintos que vieram depois, o Expo Center Norte e o Centro de Exposições Imigrantes. O Anhembi, porém, era um antigo sonho de todos nós, que virou realidade em 2006 e está mantido neste ano. Isso contribui para a


Bienal de 2006 sua editora superou o movimento alcançado em 2004 e deverá ir além neste ano. Mas ele ressalta que o mais importante do evento não é vender: “É mais interessante ver um monte de crianças com livro na mão, em convívio com professores e autores”, diz ele. Já o editor Milton Mira Assumpção, da M. Books, de São Paulo, diz que costuma viver intensamente a Bienal e explica as vantagens desse evento: “Para editores em geral, a Bienal é uma oportunidade de termos a maior livraria do mundo, disponível para os leitores de São Paulo e para quem visita a cidade. Nós, editores, conseguimos colocar à disposição do público todos os livros que constam dos catálogos. As livrarias, em geral, não têm condições de fazer isso e acabam mostrando apenas as obras mais pedidas, as mais procuradas.” Outro detalhe citado por ele: “Numa Bienal, os editores funcionam como na coxia de um teatro, cara a cara com o público. Nas livrarias, quem faz esse papel é o balconista. Assim, o editor que monta estande na Bienal e comparece ao Anhembi deve não só contratar pessoas para trabalhar em nome de sua empresa, mas, principalmente, atuar por conta própria, ouvindo sugestões do público. É um verdadeiro laboratório, que se prolonga por dez dias. Em alguns casos, isso permite ao editor até mesmo mudar sua linha editorial a partir de palpites do leitor.” A história da Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou bem antes da edição número 1, realizada em agosto de 1970 no Ibirapuera. Já em 1951, houve um evento pioneiro, a Feira Popular do Livro, organizada pela CBL na Praça da República com inspiração em feiras de rua da Europa. Em 1956, a mostra tomou conta do Viaduto do Chá, um dos cartões-postais da cidade. Nos anos seguintes, entre 1961 e 1965, houve as Bienais do Livro e das Artes Gráficas, numa ação da CBL com o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que, então, funcionava na Rua Sete de Abril, no Centro. Criado o modelo da Bienal do Livro, as edições de 1970 a 1994 foram todas no Parque do Ibirapuera, que, no entanto, ficou pequeno para o evento, transferido em 1996 para o Expo Center Norte, local em condições de receber um número maior de expositores e visitantes. Em 2002, a mudança foi para o Centro de Exposições Imigrantes, junto à Rodovia dos Imigrantes, local mantido na edição seguinte. O Parque de Exposições Anhembi, ponto de encontro dos apaixonados pelo livro em 2006 e que se repete em 2008, surgiu no início dos anos 1970, por iniciativa do publicitário Caio de Alcântara Machado. Em 1954, impressionado com o sucesso da Feira Inter-

qualidade do evento e para atrair um número sempre maior de visitantes.” Weiszflog, que é presidente do Conselho de Administração da tradicional Companhia Melhoramentos, de São Paulo e presidente da Fundação Dorina Nowill para Cegos, lembra o fato de o Anhembi, além de ser amplo, ser de fácil acesso por parte do público: “A Bienal de São Paulo faz um esforço para melhorar sempre. O objetivo deve ser o crescimento constante, mas sem perder a qualidade. E aquele recinto permite isso. Trata-se de excelente oportunidade para despertar crianças e jovens para a leitura. Neste ano, o lançamento da Bienal Criança é mais uma iniciativa interessante, um espaço para as crianças e os livros.” A Bienal de São Paulo serve não apenas de imensa vitrine, mas também é uma oportunidade para a formação de jovens leitores, na visão de Alfredo Weiszflog. Ele lembra que esse evento atrai livreiros, autores e também o público leitor. Apesar de o número de visitantes crescer a cada nova edição, seu universo é diferente, por exemplo, na opinião de Wiszflog, ao da Bienal do Rio, que acontece nos anos ímpares, em revezamento com a de São Paulo. “Uma vez que o Rio, embora muito evoluído, carece de livrarias, a Bienal de lá leva um tipo de público que vai atrás das obras para conhecê-las e comprá-las. Já em São Paulo, com tantas livrarias boas e grandes, situadas em shoppings e outros locais, o mercado consumidor está bastante acostumado a procurar os lançamentos diretamente nos locais fixos de venda. De qualquer modo, a Bienal contribui para uma grande efervescência entre os paulistanos e surge como atração para quem vem de outras cidades.” Weiszflog lembra que as características da Bienal Internacional de São Paulo são diferentes da famosa Feira de Frankfurt, na Alemanha, onde a comercialização de direitos autorais ocupa destaque. Para ele, as feiras de livro de Buenos Aires, na Argentina, Leipzig, na Alemanha, e Guadalajara, no México, são as que mais se aproximam do modelo de São Paulo: “Hoje em dia, nossa Bienal supera as feiras de muitas cidades européias, como Madri, por exemplo.” A vantagem da capital espanhola está na possibilidade de se poder optar entre grandes recintos para exposições: o Parque Ferial Juan Carlos I, composto de oito grandes pavilhões, perto do Aeroporto Internacional de Barajas; a Feria de Madrid, na mesma região, e os pavilhões da Casa de Campo, todos bem servidos por linhas de metrô, além de as cidades espanholas estimularem as feiras de livros em praças e avenidas. Bruno Lerner, diretor da Melhoramentos, também elogia o Anhembi e comenta que na

8ª Bienal no Ibirapuera: período importante da história

Fotos: Arquivo CBL

A Bienal nunca deixou de evoluir nas últimas décadas

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Editores da Ibero-América se reúnem em SP nacional do IV Centenário de São Paulo, no recém-inaugurado Parque do Ibirapuera, Caio baseou-se em experiências dos Estados Unidos e da Europa ao lançar, no fim dos anos 1950, num dos pavilhões do próprio Ibirapuera, a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit) e o Salão do Automóvel. Depois surgiram várias outras feiras, que cresceram e inspiraram Caio a construir o complexo do Anhembi, na década de 1960: lá haveria um enorme Pavilhão de Exposições, um grande auditório e um hotel. Com o tempo, o empresário passou o local para a Prefeitura de São Paulo, que hoje controla o Anhembi por meio da empresa São Paulo Turismo (SP Turis). Caio Luiz de Carvalho, presidente da SP Turis, ex-ministro do Esporte e do Turismo, vê com entusiasmo a realização de feiras como a Bienal do Livro no local e defende a ampliação do complexo do Anhembi: “São Paulo merece algo muito maior, como os pavilhões de Madri, por exemplo.” Ele defende um projeto para modernizar o parque de exposições, contando também com a possibilidade de ser usada parte da área em que hoje se situa o antigo Campo de Marte. O tema será certamente retomado por quem vier a ocupar a Prefeitura de São Paulo a partir do próximo ano. Nesta Bienal, o Espaço Universitário surge como ocasião ideal para o encontro de alunos do ensino superior com mestres das principais universidades do País e também com profissionais experientes. Assim, são organizados debates sobre as questões atuais do mundo acadêmico, os rumos do ensino e os desafios do mercado de trabalho. O Salão de Idéias é uma maratona literária em forma de bate-papo de duas horas entre leitores e grandes nomes da literatura nacional e internacional. Entre outros, já estão confirmados: o italiano Vincenzo Cerami, que fez com Roberto Benigni o roteiro do filme “A Vida é Bela”, Yuri Felshtinsky, russo, crítico do comunismo, radicado nos Estados Unidos desde 1978, Mário Sérgio Cortella, Marçal Aquino, Marcelino Freire, Márcia Tiburi, Ângela Lago e Eva Furnari. O Espaço Literário, em formato de bistrô, concentrará personalidades de destaque do cenário cultural paulistano para discutir sobre temas relacionados às suas respectivas áreas, em dois encontros diários. Alguns nomes confirmados: Laurentino Gomes, Mary Del Priore, Lília Schwarcz, Isabel Lustosa, Rogério Dezem e Cláudio Murilo Leal. Uma vez que estão sendo esperados na Bienal mais de 5 mil educadores de escolas públicas e particulares, vindos de vários Estados brasileiros, o espaço “Fala, Professor!” vai oferecer cursos de formação e atualização profissional ministrados por professores quaP lificados.

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O livro, a leitura e a construção da cidadania é o tema do 7º Congresso Ibero-Americano de Editores, que vai reunir em São Paulo, de 11 a 13 de agosto, empresários do mercado editorial e livreiro dos países de língua espanhola e portuguesa. Eles debaterão as novas tecnologias, os direitos dos autores e a expansão do mercado editorial latino-americano no processo de crescimento das nações no século 21. Entre os conferencistas estarão vários ministros dos principais países latino-americanos, de Portugal e da Espanha. É a primeira vez que o congresso – que, há dois, na Espanha, teve na programação o primeiro-ministro José Luis Zapatero e o Rei Juan Carlos – acontecerá no Brasil. “Este é um momento especial em que o livro, de modo geral, tem evoluído muito no Brasil e o idioma espanhol vai ganhando espaço no País”, afirma o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Bernardo Gurbanov, da organização do evento. “Aumenta o número de pessoas interessadas em aprender espanhol, língua que passa a ser ensinada também nas escolas brasileiras”, observa. Uma vez que a Espanha é um dos paí-

ses homenageados na Bienal do Livro de São Paulo, o ministro da Cultura espanhol, César Antonio Molina, já confirmou a presença nos dois eventos. Ele é autor de mais de 30 livros, a maioria de ensaio, prosa e poesia. Pelo Brasil, estarão várias autoridades do governo federal e de governos estaduais. Também estão confirmadas as vindas do CEO do Grupo Santillana, Miguel Ángel Cayuela, da Espanha; do presidente da Câmara Colombiana do Livro, Moises Melo; do presidente da Câmara Chilena do Livro, Eduardo Castillo; da presidente da Câmara Argentina de Publicações, María Pía Gagliardi; da presidente do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc/Unesco), Isadora de Norden; da presidente da International Publishers Association, Ana Maria Cabanellas; do presidente da Federação de Sindicatos de Editores da Espanha, Jordi Ubeda; do diretor geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas do Ministério da Cultura da Espanha, Rogelio Blanco; e do presidente do Grupo Ibero-Americano de Editores (GIE), Gonzalo Arboleda. Todos os principais dirigentes de entidades do livro no Brasil também confirmaram presença.

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Um li


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Ponto de Vista

O diferencial das Bienais Sônia Machado Jardim

FOTO DIVULGAÇÃO

A cada edição da Bienal Internacional do Livro a gente se pergunta: dá para melhorar? Como renovar um evento de tamanho sucesso? Este é o desafio que tanto a CBL como o Snel, organizadores das maiores feiras de livros deste país, enfrentam ao preparar uma Bienal. Pelo visto, os altos índices de visitação apontam que estamos no caminho certo. No entanto, não podemos descansar. O que fazer para continuar trazendo o leitor, o que podemos oferecer de diferente de uma ida ao shopping? Como despertar o interesse da imprensa e garantir uma cobertura de mídia para o nosso evento? O investimento numa programação cultural diversificada, interessante, antenada nos temas mais atuais é o diferencial que faz da Bienal muito mais que uma feira de livros. É um evento imperdível para qualquer faixa etária. Do ponto de vista dos expositores, também a cada edição os estandes se superam. Enormes showrooms das editoras, verdadeiras livrarias são montadas para os dez dias de evento, onde fica exposto o que há de melhor da nossa produção editorial, com uma programação extensa de lançamentos. Um verdadeiro oásis para os amantes do livro. E para nós, editores, este contato direto com o leitor também é uma experiência muito rica. Durante o ano inteiro, dentro de no ssas empresas, ficamos distantes daquele personagem que é o mais importante do mercado. Hoje, com tempo tão escasso, submetido às inúmeras outras solicitações modernas como a internet, TVs a cabo e videogames, o que desperta o interesse desse leitor? Vale a experiência de ficar parado no seu estande, ou no do seu concorrente, vendo o olhar do consumidor passear pelos títulos expostos e se deter em um livro específico. É uma verdadeira pesquisa de mercado! E aí vai uma dica. Na pesquisa realizada

durante a última Bienal do Rio de Janeiro, 52% dos visitantes foram à Bienal para comprar! Nos tempos atuais, em que as livrarias existem dentro da casa de cada consumidor via internet, ainda não há substituto para o prazer do passeio pelas prateleiras, da descoberta do livro esquecido ou desconhecido, de encontrar uma promoção. Todos esses perfis de consumidores estarão circulando pelos corredores, prontos para exercerem o seu direito de escolha. Há, ainda, o papel social que a Bienal desempenha. Quantas crianças correm pelos corredores que, normalmente, não teriam acesso a um programa cultural, esbanjando alegria por estar no meio dos livros e de seus autores prediletos? Este ano teremos um espaço específico dedicado a elas, uma biblioteca montada com recursos do Instituto Pró-Livro. O Instituto é uma entidade sem fins lucrativos. Criado em 2006 em conjunto pelo Snel, CBL e Abrelivros, é mantido com a contribuição voluntária dos integrantes da cadeia produtiva do livro, como uma contrapartida pela desoneração do PIS e COFINS, concedida pelo Governo Lula, e tem patrocinado algumas importantes iniciativas em prol do livro e da leitura, como a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. É gratificante ver como a contribuição de todos os elos da cadeia do livro pode reverter em projetos importantes para o desenvolvimento do nosso setor e transformar P de fato o Brasil em um país de leitores. Sônia Machado Jardim é presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros(Snel) e diretora do Grupo Record

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Foto: Fanca Cortez

Rotas Literárias

Estação da Luz, na capital paulista: prédio que abriga o Museu da Lingua Portuguesa, parada obrigatória do turismo dos amantes dos livros

A São Paulo dos livros A cidade que este mês abriga a Bienal Internacional do Livro tem uma rota charmosa e variada para quem estiver disposto a fazer turismo literário Por: Luiz Carlos Ramos São Paulo, a cidade que serve de palco para a Bienal Internacional do Livro este mês, nasceu de um colégio jesuíta, 453 anos atrás, e cresceu com a ambição de aprender. E os livros têm tudo a ver com isso. Hoje, a região metropolitana de São Paulo tem quase 20 milhões de habitantes e surge entre as cinco maiores do mundo. É algo que vai muito além de uma cidade agitada, inflada, de trânsito travado: é a terra natal ou adotiva de José de Anchieta, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Monteiro Lobato, Patrícia Galvão, Antonio de Alcântara Machado, Haroldo de Campos, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles, José

Mindlin, Inácio de Loyola Brandão, Fernando Morais, Laurentino Gomes, terra de grandes e modernas livrarias, de românticos sebos, do Museu da Língua Portuguesa, de bibliotecas e de pequenos recantos da saudade encravados entre enormes edifícios. Livros também atraem turistas. Muitos turistas. Pesquisa da empresa São Paulo Turismo, a SP Turis, órgão da prefeitura paulistana, e do São Paulo Convention & Visitors Bureau indica que, em 2006, a maior cidade da América do Sul recebeu milhares de turistas, empresários e executivos interessados basicamente na Bienal Internacional do Livro daquele ano. E a projeção desses dois órgãos

é de que os hotéis de São Paulo tenham expressivos índices de ocupação neste agosto, mês da 20ª Bienal Internacional do Livro. A cada ano, São Paulo recebe perto de 10 milhões de visitantes, conta o presidente da SP Turis, Caio Luiz de Carvalho: “Grande parte dos turistas tem a ver com as feiras e congressos realizados no Anhembi e em outros centros de eventos.” Por trás do turismo de negócios, da vida gastronômica e de uma vida cultural que atrai, anualmente, esses milhões de turistas que vêm de várias partes do mundo, existe uma São Paulo dos livros, da literatura e dos leitores. Os paulistanos e os visitantes podem Agosto 2008 Panorama 39


Rotas Literárias

e devem conhecer um pouco mais da vida dessa metrópole e de sua intensa ligação com os livros, a começar pelo Pátio do Colégio, onde surgiu, em 1554, a São Paulo de Piratininga. Do pequeno colégio improvisado pelos jesuítas para catequizar os índios, nada restou. Mas hoje há uma igreja reconstruída, em que se conservam relíquias do fundador José de Anchieta, autor dos famosos poemas à Virgem Maria escritos na areia. A apenas uma quadra desse lugar histórico, a Praça da Sé é dominada pela imponência da sua Catedral, num quadrilátero freqüentado por pessoas de todas as origens e de todas as classes sociais. Um dos prédios da praça é ocupado pela Livraria da Unesp. E foi lá que funcionou, nos anos 1920, a gráfica e a editora de Monteiro Lobato. Mas nada restou do Edifício Pirapitinguy, onde Lobato teve escritório, na Rua Boa Vista: demolido, deu lugar à sede de um banco. Nessa área, conhecida como Centro Velho, alguns dos antigos prédios foram recuperados. Vários deles são usados como filiais de grandes livrarias, que, mesmo tendo lojas em

tudante de Direito no Largo São Francisco, eu era uma mocinha igual a essas atrizes da novela. Eu sonhava no dia em que o Brasil tivesse mais creches e mais escolas... Pensava que, no dia em que isso acontecesse, haveria menos hospitais e menos cadeias. Infelizmente, não foi bem assim.” Ao se atravessar o Vale do Anhangabaú pelo Viaduto do Chá, percebe-se que a paisagem é completada pelo Teatro Municipal, de quase um século, local de músicas e peças, usado também pelas históricas manifestações artísticas da Semana de Arte Moderna de 1922, que mexeria profundamente também com as artes das escritas. As estações de metrô Liberdade, Sé, São Bento, Luiz, Anhangabaú e República facilitam o acesso ao centro. E várias estações da rede apresentam, além das mostras de fotografias, modernas máquinas de vender livros. Foi-se o tempo da Cinelândia, dos anos 1950 e 1960, quando inúmeros cinemas e restaurantes faziam a vida boêmia das avenidas São João e Ipiranga e seus poetas. Mas restou a Galeria Olido, um dos antigos cinemas, que a

modernos shopping centers, não desprezam a região central, mesmo porque é lá que existem instituições como o Tribunal de Justiça e a Faculdade de Direito da USP, cujos edifícios ajudam a compor um cenário de mitos. Por essa escola do Largo São Francisco, passaram, por exemplo, Ruy Barbosa, Castro Alves, Álvares de Azevedo, José de Alencar, Miguel Reale, os presidentes Prudente de Morais e Jânio Quadros, os governadores Américo Brasiliense e Franco Montoro, a escritora paulistana Lygia Fagundes Telles. Aos 85 anos, Lygia, que em 1954 publicou o livro Ciranda de Pedra, está feliz com a adaptação de sua obra como novela das seis da TV Globo. A história se passa numa São Paulo de 60 anos atrás, que é reconstituída pela arte e pela tecnologia da televisão. A autora explica: “Para esse livro, me inspirei numa casa que estava sendo demolida num bairro elegante da cidade.” Ela comenta: “Meu livro é uma forma de acreditar no ser humano, que busca seu lugar ao sol. Quando eu era es-

Prefeitura transformou em centro cultural, com biblioteca, cinema e acesso gratuito à internet. “O centro de São Paulo mudou muito nestas décadas”, analisa o médico Renato Mendonça, que mora em Bauru e costuma viajar 350 quilômetros para freqüentar eventos como a Bienal na capital do Estado: “Assim como aconteceu em várias outras metrópoles do mundo, o centro paulistano passou por uma fase de decadência. Mas está reagindo e passou a ter muitos locais culturais. Antigas instalações de bancos, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, viraram locais de exposições.” Ele freqüenta as grandes livrarias, onde permanece horas e horas à procura de lançamentos, e também recorre aos sebos da Avenida da Liberdade e da Rua José Bonifácio, em busca de obras esgotadas: “Virei à Bienal do Livro, sim. A de 2006 foi ótima.” Quem opta por ler livros de graça acaba se frustrando ao chegar à portaria da Biblio-

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Fotos: Fanca Co

Biblioteca Mário de Andrade e a Casa das Rosas (à direita)

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teca Municipal Mário de Andrade, a principal da cidade, na Praça Dom José Gaspar: o prédio está fechado para reforma. À entrada, um cartaz da Prefeitura informa que as obras servirão para melhorar o edifício e que outras bibliotecas estão à disposição do público, entre as quais a do Centro Cultural São Paulo, no bairro do Paraíso. A atriz e produtora Graça Berman, que integrou o elenco da peça Nos Campos de Piratininga, em cartaz no Teatro Maria Della Costa nos primeiros meses deste ano, é paulistana, apaixonada por livros, e aponta seu lugar preferido: “É a Biblioteca Mário de Andrade. Lá, busco há muito tempo os livros e os jornais que me ajudam a compor personagens. Passo bastante tempo naquele salão e espero que a reforma termine logo. Na peça, ela faz o papel do Palmeiras, ao lado de atrizes que representam o Corinthians e o São Paulo. Trata-se de uma história da cidade desde 1894, época em que Charles Miller trouxe o futebol para o Brasil. Paralelamente à história dos três grandes clubes, são mostrados fatos da vida paulistana, do Brasil e do mundo. E

teratura, a Casa das Rosas, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Um jardim de roseiras justifica o nome do casarão cinzento. Dentro da casa, há exposições e espetáculos, além de uma livraria que oferece obras editadas pela Imprensa Oficial. O poder público permitiu a construção de um prédio de escritórios, porém somente na extremidade final do terreno, já na Alameda Santos, como contrapartida para a manutenção do casarão. O nome do poeta Haroldo de Campos foi dado ao espaço cultural na gestão de Claudia Costin como secretária da Cultura do Estado de São Paulo. Claudia, uma leitora voraz que já foi ministra e dirigente da Fundação Victor Civita e hoje dá aulas como professora-visitante na Universidade de Quebec, no Canadá, diz que a cidade oferece uma autêntica rota de turismo literário. “É ótimo ver, em São Paulo, o quanto uma criança corre à prateleira em busca de um livro”, diz. O pai de Claudia, Maurice Costin, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, vai diariamente ao prédio da Fiesp, na Avenida Paulista. A sede, em forFotos: Fanca Co

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autores como Mário de Andrade e Oswald de Andrade são homenageados. A Avenida Paulista, imponente símbolo do poder financeiro de São Paulo, conta com ótimos e diversificados locais culturais, como os centros do Itaú Cultural, do Sesi, da Federação do Comércio, e um dos principais museus de artes plásticas da América Latina, o imponente o Museu de Arte de São Paulo (Masp). Um dos locais mais agradáveis da Paulista, no entanto, fica logo no primeiro quarteirão, perto da Praça Osvaldo Cruz: a Casa das Rosas. Trata-se de um dos poucos casarões remanescentes dos tempos áureos da avenida, quando os bondes passavam pelo espigão e a cidade não tinha mais de 500 mil habitantes. Graças a uma parceria entre governo e iniciativa privada, aquele casarão, projetado por Ramos de Azevedo e usado, por décadas, pela família de Ernesto Dias de Castro, foi salvo da demolição e transformado no hoje Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Li-

ma de pirâmide, é um dos ícones do poder econômico paulista, que, no entanto, abriga também, além de um teatro e um recinto de exposições de fotos e quadros, uma biblioteca. Nascido na Romênia e tendo viajado pelo mundo, Costin comenta: “São Paulo tem um trânsito complicado, mas é uma cidade com intensa vida cultural. E os livros têm muito a ver com isso.” A esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação tem uma passagem subterrânea para pedestres, unindo a calçada do Cine Belas Artes e o prédio abandonado em que existiu, por 56 anos, o famoso Bar Riviera, freqüentado por Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho, os cartunistas Angeli, Chico Caruso e Paulo Caruso, ativistas de esquerda e escritores. Das discussões sobre política ocorridas no bar, fechado em 2006, restaram inúmeros livros de autores socialistas, que hoje são vendidos no sebo que funciona naquela passagem subterrânea. É nas ruas de São Paulo que escritores

Museu da Lingua e a homenagem a Machado

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Rotas Literárias como Lourenço Diaféria e Inácio de Loyola Brandão se inspiram para criar personagens de livros e crônicas. Eles se caracterizam como verdadeiros andarilhos. Loyola, que é de Araraquara, mora em Pinheiros. Sua carreira já foi mostrada em fotos em estações do metrô. “Ando muito pelas ruas e já fui vítima de ladrão à saída do banco, mas hoje estou atento”, conta. Diaféria, paulistano, reside no Sumaré e gosta de retratar bairros populares, como o Brás: “Aquilo lá mudou bastante, não é mais o bairro dos italianos e dos espanhóis, mas restou algo de bom. Sinto saudade de tantas coisas nesta São Paulo de hoje, que, apesar de tudo, conserva alguns cantinhos românticos de outros tempos.” São Paulo conta com dezenas de shopping centers – do pioneiro do Brasil, o Iguatemi, inaugurado em 1966, ao mais novo, o Cidade Jardim. É lá que estão algumas das maiores livrarias do país. Outra meca do turismo dos livros encontra-se na área que vai da Avenida Paulista a Rua Oscar Freire. Leitores

sobre Clarice Lispector atraiu turistas durante bons meses. O diretor da Biblioteca de Santiago do Chile, Gonzalo Ovarzún, foi um que, em visita ao Brasil, não quis saber de voltar ao seu país sem antes conhecer o Museu da Língua e dar um mergulho no melhor da literatura brasileira. Já a paulistana Isabel Fernandes recorda: “Cheguei a pegar muito trem aqui, quando era menina.” Ao entrar no museu com a neta Rafaela, de 8 anos, exla explica: “Hoje, a gente tem muitas coisas para ver.” A São Paulo dos Livros está por toda parte, seja na região central ou nos bairros, e na forma de bate-papos com escritores, saraus, exposições ligadas à literatura ou lançamentos de livros. Aos sábados, por exemplo, tem uma atração imperdível em Pinheiros: a feirinha da Praça Benedito Calixto. Junto às barracas de antiguidades, CDs, discos de vinil, roupas e... livros. Muitos livros: novos e antigos. A cada duas semanas, é lá que ocorre o projeto AuFotos: Fanca Co

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de várias partes do Brasil que estão na cidade não deixam por nada deste mundo de aproveitar a oportunidade e dar uma esticada até uma delas, seja a Cultura do Conjunto Nacional ou a Livraria da Vila, na Vila Mariana. A região da Luz passou por incrível transformação. Ali estavam duas antigas estações de trens: a da Luz e a Júlio Prestes. O tempo das ferrovias foi embora, deixando saudades. Os prédios foram reformados nos últimos anos e se tornaram dois dos centros culturais mais visitados da cidade: a bela Sala São Paulo, que abriga a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, com os vitrais da Estação Júlio Prestes, e o Museu da Língua Portuguesa, na centenária Estação da Luz, de estilo britânico. Esse museu é uma das maiores e mais recentes conquistas da cidade, pois, de modo acessível, apresenta-se toda a história da língua portuguesa, assim como exemplos das diferentes pronúncias e sotaques. Um dos andares é ocupado, nesta época, por uma mostra de Machado de Assis, em comemoração ao centenário de sua morte. A exposição 42 Panorama

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tor na Praça, quando um escritor, famoso ou ainda anônimo, vai conversar com os leitores. No bairro de Santa Terezinha, na Zona Norte, por exemplo a Cidade do Livro, um espaço temático cenográfico, recebe caravanas com milhares de pequenos leitores do Estado em todos o meses de ano. Chegam atrás de histórias, personagens e da magia contida nos livros. São Paulo se transforma o tempo todo. Por isso mesmo, vale a pena ter paciência com seu trânsito, com o barulho de alguns lugares e com a necessidade de ficar atento aos limites da segurança. Aquela que em agosto se torna capital mundial do livro é uma metrópole com vida e com problemas, sempre aberta para quem tenta a sorte na profissão e para quem apenas a visita em busca de tesouros expostos ou escondidos. E, como diz o artista plástico Gustavo Rosa, ele também um apaixonado por livros, “São Paulo é uma exposição que não termina nunca.” E isto vale, literalmente, para turistas dispostos a percorrer a rota literária que perpassa a grande cidade. P

Sebos na Praça João Mendes e na Avenida Paulista


Prêmios & Concursos

Prêmio Jabuti

Mais de 2 mil se inscreveram Em sua 50ª edição, o mais tradicional prêmio da literatura brasileira terá 2.141 concorrentes em 20 categorias. O total de inscritos para a edição 2008 ultrapassou os 2.052 que participaram no ano passado. No dia 28 de agosto, será realizada a primeira sessão pública para seleção das obras mais votadas pela comissão julgadora. A segunda sessão ocorre no dia 23 de setembro, quando serão conhecidos os vencedores das 20 categorias. Os grandes vencedores do Livro do Ano de Ficção e de Não-Ficção só serão conhecidos na cerimônia de premiação, no dia 31 de outubro, em São Paulo. O Jabuti vai distribuir R$ 120 mil em prêmios.

www.premiojabuti.org.br

Prêmio Vivaleitura

Finalistas saem em setembro

R$ 90 mil para projetos de leitura

Maior premiação no País para projetos de fomento à leitura, o Prêmio Vivaleitura anuncia em 12 de novembro os ganhadores da terceira edição, que vai selecionar os melhores casos entre escolas, bibliotecas, organizações não governamentais, empresas, fundações, universidades e voluntários. Os vencedores vão dividir R$ R$ 90 mil. A iniciativa é do Ministério da Cultura, Ministério da Educação e Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), com cooperação da Fundação Santillana. www.premiovivaleitura.org.br

Prêmio São Paulo

O maior prêmio em dinheiro do País

Prêmio Sesc

Terminou no dia 1º de agosto o prazo para o Prêmio São Paulo de Literatura, promovido pelo governo paulista e como um generoso reconhecimento em dinheiro para as melhores obras. A Secretaria de Estado da Cultura vai pagar R$ 200 mil para o melhor livro de ficção do ano e a mesma quantia o melhor livro estreante, também de ficção. A primeira edição levará em conta livros de autores brasileiros publicados em 2007. O resultado será divulgado no dia 23 de novembro. www.premiojabuti.org.br

Sesc vai publicar obras inéditas

Prêmio Itamaraty

Em 2008, uma homenagem a Machado

Monografias têm Graciliano como tema

Depois de Machado de Assis, em 2006, e Lima Barreto, em 2007, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil escolheu Graciliano Ramos como tema do seu concurso internacional de monografias. As inscrições vão até 30 de agosto. Serão distribuídos US$ 53 mil aos cinco melhores ensaios. www.mre.gov.br

Acesse o site:

www.amigosdolivro.com.br amigosdolivro@amigosdolivro.com.br

Prêmio Portugal Telecom

Um dos prêmios mais cobiçados dos últimos anos na literatura brasileira, o Prêmio Portugal Telecom anuncia no dia 2 de setembro seus dez finalistas. Esta é a sexta edição do prêmio, que contemplará três obras publicadas em 2007 e escritas, originalmente, em língua portuguesa. Os primeiros colocados receberão, respectivamente, R$ 100 mil, R$ 35 mil e R$ 15 mil. Na primeira fase, foram classificados 51 dos cerca de 400 livros inscritos. www.premioportugaltelecom.com.br

Amigos do Livro é o Portal do Livro no Brasil. Tem por objetivo reunir informações disponíveis na internet relacionadas ao mundo do livro.

O prêmio do Serviço Social do Comércio (Sesc) vai contemplar textos inéditos em conto e romance. As inscrições vão até o dia 15 de agosto. O vencedor de cada categoria terá sua obra publicada e distribuída pela editora Record. www.sesc.com.br Prêmio Afrânio Coutinho

A Academia Brasileira de Letras (ABL) e a Petrobras elegeram Machado de Assis: O crítico Literário como tema para a segunda edição do prêmio. As inscrições vão até 29 de setembro e os três melhores trabalhos receberão, respectivamente, R$ 10 mil, R$ 6 mil e R$ 3 mil. brg.divulgacao@academia.org.br.

Concursos & Prêmios Literários O Portal Concursos e Prêmios Literários é um espaço livre e grátis. Objetiva divulgar e informar sobre concursos e prêmios literários em língua portuguesa. Acesse o site:

www.concursosliterarios.com.br

PID

Portal da Impressão Digital O objetivo é divulgar e promover essa nova tecnologia, hoje uma realidade mundial. printondemand@printondemand.com.br

printondemand.com.br Agosto 2008 Panorama 43


empresa amiga do livro

Uma rede de leitura A C&A, uma das maiores cadeias de varejo de moda do mundo, investe cerca de R$ 7 milhões por ano no programa Prazer em Ler, cuja finalidade é promover a leitura no Brasil Foto: Divulgação

Desde que foi criado, há 17 tivar a busca de conhecimento anos, o Instituto C&A já destiatravés do livro, mas a parceria nou US$ 55 milhões a 1.300 com o Prazer em Ler potenciaprojetos sociais com foco na lizou nossa proposta”, explica educação em todas as regiões Sandra Lima, diretora educado Brasil. Em 2005, depois de cional da unidade. Atualmente, constatar que, em grande parte quase mil crianças e jovens do dessas iniciativas, a promoção projeto estão diretamente ligada leitura acontecia apenas dos à iniciativa, cuja biblioteca como decorrência de outras conta com 2.500 obras. Além ações, a organização decidiu Diretor-presidente do insti- disso, as ações de incentivo à que era hora de planejar um leitura desenvolvidas pelo lututo C&A, Paulo Castro programa específico de fogar beneficiam 770 famílias. mento à leitura. No ano seguinte, nasceria o Somadas ao Circo Escola de Guarulhos, Prazer em Ler. os projetos apoiados pelo Prazer em Ler esO projeto surgiu da combinação de três palhados por mais de 50 cidades de todas fatores considerados fundamentais para a as regiões do Brasil envolvem indiretamente difusão do hábito da leitura: qualificação de mil educadores no processo de formação espaços, investimento em acervo e prepara- de leitores. O público atingido soma 21 mil ção de mediadores. “Nós víamos bons programas em execução no país, mas entendíamos que faltava uma conjugação maior entres esses três elementos”, explica Paulo Castro, diretor-presidente do instituto. Atualmente, no último ano de seu primeiro ciclo de investimentos, o Prazer em Ler apóia 82 iniciativas. O Circo Escola Cidade Seródio, mantido pelo Instituto Criança Cidadã em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, é um exemplo das ações beneficiadas. A parceria entre as duas organizações começou há sete anos, quando uma aluna do projeto de orientação profissional do Circo Escola foi contratada para trabalhar numa loja da C&A em Guarulhos. Passado algum tempo, a jovem apresentou sua entidade ao instituto mantido pela cadeia de lojas, que aprovou o trabalho desenvolvido lá e passou a apoiar suas ações educativas. O surgimento do Prazer em Ler, anos depois, rendeu ao projeto de Guarulhos uma sala de leitura e uma ação completa de incentivo ao hábito de ler. Além de investir na constituição de um espaço chamado Picadeiro da Leitura e no acervo, o Instituto C&A é também responsável pela contratação de um mediador de leitura e de uma bibliotecária para o lugar. “Já havia aqui uma ação muito tímida para incen44 Panorama

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crianças, 15 mil jovens e adolescentes, 16,5 mil pais e mães e 150 mil pessoas das comunidades beneficiadas. Quando foi criado, em 2006, o Prazer em Ler teve suas ações estabelecidas com base em um ciclo de investimentos com duração de três anos. Ao chegar ao último ano do primeiro ciclo, os idealizadores do projeto estão avaliando o processo antes de anunciar a nova fase, que deve ter início no primeiro semestre de 2009. O Instituto C&A quer manter o mesmo volume de investimentos, que hoje é de cerca de R$ 7 milhões anuais. “A grande conquista do Prazer em Ler é ter organizações que se espalham pelo Brasil se mobilizando para a questão da promoção da leitura, que é a principal via de acesso para o cidadão a todas as áreas do P conhecimento”, diz ele. Foto: Divulgação

Circo Escola Cidade Seródio: uma das 82 iniciativas apoiadas pelo Prazer em Ler no País


Foto: Divulgação

Outras Mídias O Livro na TV

O livro é pop

Em 5 de julho de 2005, às vésperas da abertura oficial da Festa Literária Internacional de Paraty, ia ao ar pela primeira vez o programa Entrelinhas, na TV Cultura de São Paulo. Enquanto a cidade fluminense se preparava para transformar seus caminhos de pedra irregular em um verdadeiro ponto de encontro para aproximar leitores, livros e escritores – e mostrar, enfim, que leitura não é algo complicado e distante do nosso dia-a-dia –, o Entrelinhas iniciava uma jornada em paralelo para tentar cumprir um objetivo semelhante. Só que na tela da televisão. A idéia nasceu dentro de outra atração

Ivan: livros na TV aberta

da emissora, o Metrópolis, onde já existia um espaço dedicado à literatura. Lá, o jornalista Ivan Marques, editor-chefe do programa na época, concebeu a idéia do Entrelinhas. Três anos depois e mais de 120 edições exibidas, essa atração da TV Cultura, retransmitida por quase todas as emissoras públicas e educativas do País, é o único programa sobre literatura na televisão aberta brasileira. Com 30 minutos de duração, o Entrelinhas exibe entrevistas, reportagens sobre o mundo literário, matérias sobre clássicos brasileiros e universais, enquetes e outras seções. Seu formato foge totalmente do padrão sisudo que muitas vezes impera nesse tipo de programação. Ivan explica: “Antes de ser

um programa sobre literat ura, é um programa de televisão. Então, ele precisa ter uma linguagem leve e uma edição atraente e contemporânea, que despertem no público o interesse pelo que está sendo mostrado.” Na TV Cultura de São Paulo, que atinge todo o Estado, Entrelinhas é apresentado aos domingos às 21h30, e em reprise às terças-feiras, às 20h30.

t a Interne O Livro n

O Livro no Rádio

Para ouvir sempre

Foto: Divulgação

Não é de hoje que internautas e blogueiros têm aproveitado a interatividade da rede mundial de computadores para falar sobre livros e leitura. Também está longe de ser surpreendente alguém usar o rádio como um canal de notícias. Afinal, ele é o mais antigo e tradicional veículo de comunicação oral do País: foi introduzido nos idos de 1922. O que parecia improvável, no entanto, é que uma única iniciativa pudesse unir essas duas ferramentas, rádio e internet, para falar sobre um único assunto: o mundo do livro. Foi assim, inspirado pela interatividade da internet e ciente da necessidade de explorar mais o rádio para divulgar a literatura, que o jornalista Afonso Borges criou o Mondolivro, uma espécie de blog sonoro em que assuntos sobre o universo literário são notícia. A história toda começou no site do projeto Sempre Um Papo (www.sempreumpapo.com.br), criado por Afonso 22 anos atrás. A iniciativa, que nasceu em Belo Horizonte e já invadiu outras 23 cidades brasileiras, promove encontros de grandes nomes da literatura com o público. O Mondolivro foi parar na rádio mineira Guarani FM. Em programas diários, o jornalista sugere livros, fala sobre eventos no Brasil e no mundo, dá notícias sobre autores e conta histórias e curiosidades sobre o tema. O Mondolivro vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 9h10 e às 18h30, e não apenas os moradores de Belo Horizonte podem ouvir: todas as edições ficam disponíveis na internet por meio do endereço www. guarani.com.br/plus/mondolivro.

leitura

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Afonso: o mundo do livro no rádio e na internet Agosto 2008 Panorama 45


Pelo mundo afora

Inglaterra Uma metrópole dos livros Pense em cidades como Nova York, Londres, Paris, Tóquio e Xangai, conhecidas como cinco dos maiores centros culturais do mundo. Qual delas você imagina que oferece o maior número de bibliotecas públicas? Se disse Londres, acertou. E não é só na hora de oferecer livros que os londrinos ganham o jogo. A capital britânica pode não ter o status icônico que tem Los Angeles em matéria de cinema ou de Paris no setor da moda, mas entre as mais badaladas metrópoles do mundo ela sai na frente em quantidade de atrações culturais para os mais diferentes públicos.

Isso é o que diz o London: a Cultural Audit, relatório elaborado pela Agência para o Desenvolvimento de Londres após uma auditoria, na qual se compara, além do número de bibliotecas públicas disponíveis nas principais cidades, a quantidade de museus, galerias, teatros e salas de shows, entre outras atrações. Segundo o documento, Londres, com 7,5 milhões de habitantes, tem nada menos que 395 bibliotecas públicas. Para se ter uma idéia, Nova York, com 8,2 milhões de habitantes, tem 255. Quando o número comparado é o de livrarias, a capital britânica fica em segundo

EUA

Literatura à prestação Foi depois de se darem conta de que gastavam horas, todos os dias, lendo emails, mas nunca arranjavam tempo para terminar um livro, que um grupo de profissionais do mercado editorial e de tecnologia decidiu se unir, nos Estados Unidos, para fazer com que as obras viessem até eles. E o que é mais fácil: por e-mail. O negócio fez tanto sucesso que, em pouco mais de um ano depois de ser criada, a novata editora digital DailyLit fez seu acervo saltar de 370 para quase 1000 obras. E tudo isso por causa de uma idéia criativa. E muito simples. Basta escolher um título no site da editora (www.dailylit.com) e ela passa a enviar, diariamente, trechos da obra escolhida para serem lidos no seu e-mail. São pequenos fragmentos calculados para que a leitura de cada um não demore mais do que cinco minutos. Mas, se por acaso o usuário quiser ler mais, basta requisitar o trecho seguinte que ele é enviado na mesma hora. Muitos dos títulos oferecidos pela Dai46 Panorama

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lyLit estão em domínio público e o serviço não custa nada. Mas se o leitor desejar um dos títulos colocados à venda, (o catálogo inclui de best-sellers a livros premiados), a editora também opera pelo sistema Payper-read. Assim, os primeiros trechos são enviados gratuitamente e o cliente só paga se quiser continuar a leitura. Em junho, a editora aproveitou um novo sucesso da internet e criou grupos de leitura gratuitos por meio do Twitter, uma rede social conhecida como microblog. A DailyLit está usando o sistema para distribuir o conteúdo de alguns livros por meio de mensagens ainda mais curtas. Com isso, o leitor pode escolher se quer acompanhar a história em uma página na internet, em mensagens enviadas para comunicadores instantâneos como o MSN ou até pelo celular. Inicialmente, a editora disponibilizou gratuitamente três títulos pelo sistema. O clássico Orgulho e Preconceito (em inglês), da escritora inglesa Jane Austen, é um deles.

lugar, com 927. A quantidade é superada apenas por Paris, com 1.076 livrarias, mas está muito à frente de Nova York, que possui 498. O que chama a atenção no documento, no entanto, é que, apesar de superar as outras cidades avaliadas em diversos quesitos no que se refere à atrações culturais, quando o número avaliado é o de livros emprestados, Tóquio dispara na frente. Na capital japonesa, as bibliotecas emprestam ao ano mais que o dobro de livros que as londrinas – são 84 milhões contra 38 milhões.

Argentina Longe das bibliotecas Reclamações quanto à queda no número de leitores que freqüentam bibliotecas públicas são uma realidade em diversos países, inclusive no Brasil. Na Argentina, pesquisas e declarações de lideranças do setor só vieram confirmar essa constatação. “Todas as bibliotecas enfrentam uma diminuição de público”, diz María del Carmen Bianchi, presidente da Comisión Nacional Protectora de Bibliotecas Populares (Conabip). Ela conta que, entre 2001 e 2006, as consultas de livros em bibliotecas diminuíram 36% e os empréstimos caíram 16%. A queda nos índices foi confirmada por uma pesquisa sobre hábitos de leitura realizada pela Fundación El Libro e pela Universidad de San Andrés. De acordo com o estudo, encomendado pela Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, apenas 6% dos leitores argentinos lêem livros de bibliotecas. O Conabip estima que existam cerca de 150 bibliotecas públicas na capital argentina e perto de 2 mil em todo o país.


Calendário

No Brasil

Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu

27ª Feira do Livro de Brasília

feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br

www.camaradolivrodf.org.br

5 a 10 de agosto Praça da Paz Foz do Iguaçu (PR) Realização: Fundação Cultural/Instituto Feira do Livro

3ª Feira do Livro Cultural de Taquara

6 a 9 de agosto Praça Central Taquara (RS) Realização: Prefeitura de Taquara

www.taquara.zipstudio.com.br

29 de agosto a 7 de setembro Pátio Brasil Shopping Brasília (DF) Realização: Câmara do Livro do Distrito Federal

XII Feira Pan-Amazônica do Livro

19 a 28 de setembro Hangar – Centro de Eventos da Amazônia Belém (PA)

3º Salão do Livro de Ipatinga

7º Congresso Ibero-Americano de Editores

11 a 13 de agosto Memorial da América Latina e Hotel Holiday Inn do Parque Anhembi São Paulo (SP) Realização: Grupo Ibero-Americano de Editores (GIE)

(11) 3069-1300 congresso@cbl.org.br

18ª Convenção Nacional de Livrarias

11 a 13 de agosto Hotel Holiday Inn São Paulo (SP) Realização: Associação Nacional de Livrarias (ANL)

(11) 3337-5419 adriana@anl.org.br

15ª Convenção Nacional dos Difusores de Livro

12 e 13 de agosto Hotel Holiday Inn São Paulo (SP) Realização: Associação Brasileira de Difusores do Livro (ABDL)

(11) 3337-7933 www.abdl.com.br

II Fórum do Plano Nacional do Livro e Leitura I Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias

14 a 17 de agosto Memorial da América Latina São Paulo (SP) Realização: Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo

www.bibviva.com.br

20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

14 a 24 de agosto Parque de Exposições do Parque Anhembi São Paulo (SP) Realização: Câmara Brasileira do Livro e Francal Feiras

www.bienaldolivrosp.com.br

Simpósio Internacional Caminhos Cruzados: Machado de Assis pela Crítica Mundial

31 de setembro a 5 de outubro Centro Cultural Usiminas Ipatinga (MG) Realização: Nascentes Comunicação/Paralelo 3

(31) 3261-7517/3261-3389

www.salaodolivro.com.br

Feira do Livro da Baixada Santista Salão de Educação/Conecta Inteligência (Congresso de Ensino-Aprendizagem) 8 a 12 de outubro Mendes Convention Center Realização: Grupo Promofair Santos (SP)

(13) 3261-3131 www.fenalba.com.br 2º Salão do Livro de São Luís

9 a 19 de outubro Realização: RPS Feiras São Luís (MA)

(11) 3333-7878 contato@rpsfeiras.com.br ou www.rpsfeiras.com.br 54ª Feira do Livro de Porto Alegre

31 de outubro a 16 de novembro Praça da Alfândega Porto Alegre (RS) Realização: Câmara Rio-Grandense do Livro

(51) 3225-5096 www.feiradolivro-poa.com.br Feira do Livro de Curitiba

4 a 16 de novembro Praça General Osório Curitiba (PR) Realização: Instituto da Educação e do Livro

(47) 3422-1133 feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará

13 a 21 de novembro Centro de Convenções de Fortaleza Fortaleza (CE) Realização: RPS Feiras (11) 3333-7878

contato@rpsfeiras.com.br ou www.rpsfeiras.com.br

25 a 29 de agosto Museu de Arte de São Paulo (Masp) São Paulo (SP) Realização: Fundação Editora Unesp

(11) 3871-2339 simposio@machadodeassis.unesp.br

Calendário

No Mundo

Feira do Livro de Hong Kong

23 a 29 de julho Hong Kong Convention & Exhibition Centre Hong Kong, China

www.hkbookfair.com

13ª Feira Internacional do Livro de Lima

24 de julho a 3 de agosto Centro de Convenciones - Jockey Club Lima, Peru Realização: Instituto Cultural de León

www.filperu.com

Feira Internacional do Livro de Göteborg 25 a 28 de Setembro Gotemburgo, Suécia

www.bok-bibliotek.se

14ª Feira do Livro do Pacífico – Encontro de Culturas e Regiões

3 a 13 de outubro Cali, Colômbia Universidad del Valle y la Fundación Cámara del Libro Del Suroccidente Colombiano

ferialibropacifico@univalle.edu.co

26ª Liber – Feira Internacional do Livro

V Feira Internacional do Livro da Guatemala

25 de julho a 3 de agosto Parque de La Industria Cidade da Guatemala, Guatemala Realização: Gremial de Editores de Guatemala

8 a 10 de outubro Pavilhão 1 – Recinto de Gran Via, Barcelona, Espanha Realização: Federación de Gremios de Editores de España

www.salonliber.com

presidencia.editores.guatemala@fygeditores.com

Feira do Livro de Frankfurt 2008

Festival Internacional do Livro de Edinburgo

www.frankfurt-book-fair.com

9 a 25 de agosto

Edinburgo, Escócia, Reino Unido

Feira Internacional do Livro de El Salvador

29 de agosto a 7 de setembro San Salvador, El Salvador

15 a 19 de Outubro Frankfurt, Alemanha

Feira do Livro de Istambul

01 a 11 de novembro Istambul, Turquia

www.tuyap.com.tr/en

15ª Feira Internacional do Livro de Beijing

Feira do Livro de Oslo

www.bibf.net

messe.no/en/ntf/Projects/Bok/Besokende

1 a 4 de setembro Tianjin International Exhibition Center Pequim, China

Feira Internacional do Livro de Moscou 3 a 8 de Setembro Moscou, Rússia

21 a 23 de novembro Lillestrom-Oslo, Noruega

Feira Internacional do Livro de Guadalajara

29 de novembro a 7 de dezembro Guadalajara, México

www.fil.com.mx

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Todo mundo lê

O que eu estou lendo Cleo Pires Atriz

Dica de leitura Bruno Chateaubriand Empresário

O livro da minha vida Zuenir Ventura Escritor

O Mago, Fernando Morais (Planeta) “É a biografia do Paulo Coelho escrita pelo Fernando Morais, recém-lançada. Muito bem escrita. Eu amo Paulo Coelho. Que história de vida, superação, quantas caídas na real, quantas mudanças, quantas emoções... Eu recomendo, é bem bom.”

Basílica de São Pedro, R. A. Scotti (Nova Fronteira) “Esse livro, com relatos históricos de artistas como Michelangelo e Rafael durante a construção da basílica, é fantástico! Fala de toda a cobiça, inveja e vaidade de papas, artistas e arquitetos ao longo dos muitos anos da obra.”

Os Lusíadas, Luiz Vaz de Camões (várias editoras) “Marcou minha vida na faculdade de Letras. A professora Cleonice Bellardi me ensinou a ler Camões.”


Radiografia

Os livros na vida do senador Cristovam Buarque

Foto: Divulgação

5 a 10 anos

História do Brasil para Crianças (Monteiro Lobato) “O livro de Monteiro Lobato abriu meu gosto pelo estudo da história, desde muito cedo.”

11 a 14 anos

Senhor Deus dos Desgraçados! (Gondin da Fonseca) “Hoje, lembro desse livro como um panfleto, nacionalista e reformista, progressista, mas foi fundamental para me dar a indignação com a realidade brasileira.”

15 aos 20

Dialética do Desenvolvimento e Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (Celso Furtado) “Abriu meus olhos para pensar logicamente o assunto da evolução social em um país periférico, como o Brasil.”

20 aos 30 anos

Limites do Crescimento (Donella Meadows, Jorgen Randers e Dennis Meadows) “Foi a primeira leitura que me trouxe a consciência de que o processo civilizatório da revolução industrial não tem futuro.”

30 aos 40 anos

Romances de realismo fantástico latino-americano e Pequeno é Bonito (E. F. Schumacher) “Foi o período em que mergulhei no realismo fantástico da América Latina, descobrindo que, por trás da lógica, há uma magia muito mais forte do que a realidade que vemos.”

40 aos 50 anos

História do Pensamento Econômico (J. A. Schumpeter) “A leitura cuidadosa desse monumental livro me fez combinar a teoria econômica com a filosofia.”

50 aos 60 anos

O Banqueiro do Povo (Mohamed Yunes) “Mostrou para mim como na prática é possível levar adiante um desenvolvimento pela base da pirâmide e não pelo topo como fazemos no Brasil.”

Hoje

Todos nos Equivocamos (Carlos Sabino) “É uma autobiografia de minha geração, nasceu no mesmo ano que eu nasci, seguiu um roteiro muito parecido, tanto na formação quanto na militância, e chega a nossa idade com o sentimento do quanto nos equivocamos em nossas utopias e lutas por elas.”

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Cinema & Livros

m e ê v s o h l o s o O que Por: Alexandre Malvestio

José Saramago, único escritor da língua portuguesa a receber o prêmio Nobel de Literatura, se emociona ao assistir a adaptação de seu livro Ensaio sobre a Cegueira para o cinema

Editora lançou três novas versões de capas para o livro inspiradas no longa

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Em um vídeo com cerca de um minuto e meio, disponível na internet, o senhor de fala baixa e olhar emocionado declara seu contentamento: “Estou tão feliz por ter visto esse filme como estava quando acabei de escrever o livro.” A cena se passa no mais emblemático cinema de Lisboa, o São Jorge, inaugurado na década de 50. Esse senhor, cujos cabelos rareiam e a voz ameaça não sair, é José Saramago, único escritor da língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de literatura. As imagens foram gravadas no exato momento em que os créditos finais de Ensaio sobre a Cegueira começavam a surgir na tela grande, em maio. O brasileiro Fernando Meirelles, diretor desse filme longa-metragem, viajou para Portugal especialmente para mostrá-lo ao autor do livro que o inspirou. Três dias antes, Blindness (nome que o filme recebe no exterior) abriu oficialmente a 61ª edição do mais charmoso e tradicional festival de cinema do mundo, em Cannes.


Foto: Cleo Velleda

O escritor José Saramago em seu escritório

Foi lá, às margens do Mediterrâneo, que a obra dividiu as críticas do mundo inteiro. James Christopher, do jornal britânico The Times, disse que foi uma abertura deprimente. Horas antes da exibição, no entanto, o próprio Meirelles brincou dizendo que o filme, chamado de denso e sombrio por especialistas, não era a melhor maneira de começar um festival. A história narra uma cidade não identificada (São Paulo foi uma das locações) diante de um colapso urbano. A crise tem início com uma misteriosa epidemia de cegueira repentina. Na trama, personagens sem nomes levam a civilização ao completo desmoronamento depois de ingressarem em um mundo de excesso de luz – a tal cegueira branca descrita por Saramago. Consagrado internacionalmente por trabalhos como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, ambos adaptados de bestsellers e indicados ao Oscar – pelo primeiro, recebeu uma indicação ao prêmio de direção –, Meirelles é apontado como

Meireles: “Saramago disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho”

um diretor que consegue ao mesmo tempo respeitar a essência do livro original e transformar a adaptação em uma obra pessoal. “Saramago disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho” e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente”, escreveu o diretor em um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo na semana seguinte à sessão em Portugal. Meirelles já havia tentado comprar os direitos do romance dez anos atrás, quando se preparava para rodar seu primeiro longa, mas o pedido foi negado pelo escritor português. O filme, co-produção entre Brasil, Japão e Canadá em inglês, vai chegar aos cinemas brasileiros em setembro. Alice Braga, Julianne Moore e Gael Garcia Bernal estão no elenco. De acordo com a Companhia das Letras, que edita o livro no Brasil, já foram vendidos mais de 200 mil exemplares da obra no país. A editora lançou três novas versões de capas insP piradas na obra do cinema.

Fotos: Divulgação

Em Cannes, o filme foi chamado de denso e sombrio

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Livros sobre Livros

Uma nova voz Por: Ricardo Costa

Ensaio de Carlos Fuentes analisa porque, ao contrário do que se temia, a globalização e a cultura de massa não conseguiram acabar com o gênero romance Em Geografia do Romance, Carlos Fuentes defende a tese de que, com a globalização, a literatura ganhou nova voz ao se dissolver a fronteira artificial que existia entre realismo e fantasia. Além disso, também foi inaugurada uma nova geografia do romance, pois os romancistas foram situados para além de suas nacionalidades, na terra comum da imaginação e da palavra. Esta teoria de Fuentes vai contra aqueles que pensaram, ou ainda pensam, que a globalização e a cultura de massa matariam o romance. Um dos exemplos estudados pelo autor é a literatura de língua inglesa, cujo vigor foi devolvido pelos escritores provenientes das ex-colônias britânicas, como o nigeriano Chinua Achebe, o sul-africano J. M. Coetzee, o indiano Salman Rushdie e os canadenses Margaret Atwood e Michael Ontdaatje. Eles universalizaram a língua inglesa como uma experiência humana independente de fronteiras, imaginativa, diversificada, sem a qual sua literatura teria empobrecido. “A geografia do romance nos diz que nossa humanidade não vive na gelada abstração do separado, mas no latejo cálido de uma variedade infernal que nos diz: Não somos ainda. Estamos sendo”, escreve Fuentes. A teoria de Fuentes é embasada em uma análise profunda das obras de 11 autores de diferentes nacionalidades – Jorge Luis Borges (Argentina), Juan Goytisolo (Espanha), Augusto Roa Bastos (Paraguai), Sergio Ramírez (Nicarágua), Héctor Aguilar Camín (México), Milan Kundera (República Tcheca), György Konrád (Hungria), Julian Barnes (Inglaterra), Artur Lundkvist (Suécia), Italo Calvino (Itália) e Salman Rushdie (Índia) –, começando por Borges, segundo ele, por ser o escritor que transformou o tempo e o espaço

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em protagonistas de suas histórias, ensinando-nos a compreender a realidade relativista desses dois conceitos. O espaço e o tempo são linguagem, e o significado dos livros não está atrás de nós, mas no futuro, no porvir. O leitor é o autor de Dom Quixote, por exemplo, porque ele cria o seu livro. O leitor conhece o futuro; Cervantes, não. À luz de seus mestres contemporâneos, Fuentes explica que, mesmo em um mundo onde a informação nos chega sem que se precise buscá-la, o livro acrescenta algo à realidade que antes não estava ali e, ao fazê-lo, forma a realidade, mas uma realidade que, muitas vezes, não é imediatamente perceptível ou material. Para Carlos Fuentes, o romance, mesmo o mais realista deles, não mostra nem demonstra o mundo, mas acrescenta algo ao mundo. Pode refletir o espírito de seu tempo, mas não é idêntico a ele. Se a História esgotasse o sentido dos romances, eles se tornariam ilegíveis com o passar do tempo, interessariam apenas aos historiadores. Sobre o autor Nascido em 1928, o mexicano Carlos Fuentes é hoje um dos mais importantes escritores latino-americanos. Entre seus livros de maior destaque estão A morte de Artemiro Cruz, Cristóvão Nonato, Gringo velho, Os anos com Laura Díaz, A cadeira da águia, Contra Bush e Inquieta companhia, todos publicados no Brasil pela Rocco. Fuentes recebeu o Prêmio Nacional de Literatura, Prêmio Miguel de Cervantes, Prêmio Príncipe de Astúrias e a Medalha Picasso, da Unesco, entre outros. De 1975 a 1977, foi embaixador do México na França. O autor já lecionou em Harvard, Cambridge, Princeton e em outras P universidades norte-americanas.

Título: Geografia do Romance Autor: Carlos Fuentes Editora: Rocco Tradução: Carlos Nougué Páginas: 192 ISBN: 978-85-325-2107-1 Código: 9788532521071 Preço: R$ 29,00 Lançamento: abril/2007


Como me apaixonei pelos livros

Fausto Silva, o Faustão da TV Globo, o comunicador mais bem-pago do país, é um entusiasmado amador como garoto-propaganda dos livros. Em seu programa, assistido a cada domingo por mais de 30 milhões de pessoas, Fausto mostra capas de livros recém lançados e, com freqüência, elogia os autores. Esse tipo de publicidade, num horário que atinge telespectadores de todas as idades e de todas as classes sociais, nada custa à cadeia produtiva do livro. E tem enorme utilidade. Um merchan-

Lobato cruzou

o ã t s u a F o in n e aminho do m

oc

dising de apenas 30 segundos de Faustão na Globo não sai por menos de R$ 400 mil. Mas os livros têm espaço gratuito no Domingão do Faustão. Assim, esta seção estréia com Fausto Silva como uma homenagem a alguém que, mesmo sem ter escrito livros, dá uma bela contribuição para a difusão deles. Comecei a me interessar pelos livros quando garoto, numa época em que minha família morava em Araras, Porto Ferreira e, depois, Campinas, no interior de São Paulo. No início, essa paixão pela literatura foi influência de meus pais, que me deram de presente alguns livros de Monteiro Lobato. Cresci lendo as aventuras de Narizinho, Emília, Visconde, que ganharam vida na televisão. Monteiro Lobato era um gênio e, já nas décadas de 30 e 40, insistia que um dia o Brasil seria um grande produtor de petróleo. Pouca gente acreditava, mas hoje a gente vê que ele tinha razão. Na escola, em Campinas,

Foto: Francisco Souza Freitas

tive professores que me mostraram a importância de excelentes autores. O brasileiro Machado de Assis, por exemplo, tinha estilo jornalístico e continua atual. Nunca pensei em ser escritor, mas, algum tempo depois de ter começado a trabalhar em rádio, também fui repórter esportivo no jornal “O Estado de S. Paulo”, onde fiz grandes amigos, dos quais relembro o Tuca Pereira de Queiroz com muita saudade. Jogava futebol e

aprendia com eles. Na luta para tentar escrever corretamente em minhas coberturas diárias do Corinthians, passei a valorizar ainda mais os autores de belos livros, entre os quais as biografias. No rádio, tive Blota Júnior como o primeiro incentivador. Mas também aprendi com Fernando Vieira de Melo, Reali Júnior e tantos outros. Na televisão, comecei com “Perdidos na Noite”, uma incrível aventura, e estou há 19 anos na Globo, com o “Domingão”. A TV brasileira contribui para a difusão de grandes escritores, por meio de novelas, assim como faz o teatro. Por isso, como integrante de uma grande rede de TV, considero importante abrir espaço para a literatura. Música e literatura. João Carlos Martins, o grande músico, é um exemplo de vida. Ele lançou livro e foi ao meu programa número 1.000. Livros conduzem à imaginação, garantem cultura. Ajudam a formar cidadania, a consolidar a democracia. O Brasil vai evoluir mais se as pessoas lerem mais, principalmente livros de qualidade. Assim como recebi a lição de meus pais, quero agora incentivar meus filhos Lara, João Guilherme e Rodrigo a ler. Estamos na época da TV e da internet, mas os livros não devem P perder a função de autênticos mestres.

Livros da coleção Monteiro Lobato Agosto 2008 Panorama 53


Nesta festa literária eles

Clarice Fotobiografia Nádia Battella Gotlib Os momentos mais marcantes do percurso de vida e obra de Clarice Lispector, numa narrativa criada a partir de imagens acompanhadas de legendas, pautada na busca de exprimir o inexprimível da natureza humana, em linguagem criativa.

Resmungos – Ferreira Gullar Melhor Livro do Ano na categoria Ficção e 1º lugar no 49º Prêmio Jabuti | 2007 categoria Contos e Crônicas O livro foi organizado em quatro blocos, nos quais a reedição das crônicas ganhou nova leitura por estarem situadas em configurações pensadas pelo próprio autor e editor: Idéias, Evocações, Temas Sociais e Política.


Teresa - Revista da literatura brasileira Machado de Assis Esta é uma das melhores coletâneas de estudos sobre a obra de Machado de Assis, publicada pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), em co-edição com a Editora 34 e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Machado de Assis - Um gênio brasileiro Daniel Piza Machado foi um dos autores que mais colocaram sua cabeça a prêmio em jornais, críticas teatrais e peças. Nesse livro, a impressão é que Piza copiou a chave e habitou na casa de Machado enquanto ele vivia.

Machado de Assis - Curso literário em sete conferências na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo / Alfredo Pujol (1865-1930) Esse livro representa um dos primeiros estudos sobre a vida e a obra de Machado de Assis, contando um pouco da vida do escritor brasileiro, sua origem humilde e a maneira simples e recatada que vivia.

É fácil comprar seu livro: www.imprensaoficial.com.br/livraria

RINO

não poderiam faltar.


Vitrine Heróis e vilões - Por dentro da mente dos maiores guerreiros da história

A trágica impunidade política no Brasil

Glossário de moda Easy way

A obra analisa do coronelismo ao aparelhamento estatal, da corrupção sistêmica aos protecionismos, todos os malefícios do Estado brasileiro, com uma perspectiva história e sociológica.

O livro traz uma seleção de 5.391 palavras e expressões essenciais da área da moda. Direcionado para profissionais e estudantes que buscam atuar desde a criação à confecção e ao marketing do setor.

Daniel Rodrigues Aurélio Brasport, 132 pg., R$ 34

Enaura T. Krieck de Biaggi e Emeri de Biaggi Stavale Disal, 224 pg., R$ 26,50

A cabeça do italiano

Jóia - História e design

O colunista do “Corriere della Sera” reúne observações sobre seus compatriotas com base em uma viagem de dez dias que fez de Milão à Toscana, da Sicília à Sardenha, mostrando algumas características muito peculiares deste povo.

Aponta a evolução e as características em momentos distintos da história das jóias. A autora busca relacionar estes objetos aos costumes, à geografia e à topologia locais, analisando as inspirações e diferentes materiais empregados.

Potências, limites e seduções do poder

Beppe Severgnini. Trad. Sérgio Mauro Record, 272 pg., R$ 39

Eliana Gola Senac São Paulo, 215 pg., R$ 80

Focaliza seis poderosos líderes dos últimos tempos: Espártaco; Átil; Ricardo Coração de Leão; Cortez; Tokugawa Ieyasu e Napoleão, buscando responder que motivos, forças e fraquezas pessoais os levaram a atingir o que ninguém mais ousava.

Frank McLynn. Trad. Adriana Marcolini e Constantino K. Korovaeff Larousse, 406 pg., R$ 49,90

O autor analisa as armadilhas, as sinuosidades, as misérias e a potência do poder, tratando das diversas dimensões deste tema, já espalhado por todo o mundo, desde políticos, passando por servidores públicos, policiais, professores e empresários. Marco Aurélio Nogueira UNESP, 140 pg., R$ 15

A ciência de Leonardo da Vinci - Um mergulho profundo na mente do grande gênio da renascença Revela o exame das mais de seis mil páginas e 100 mil desenhos que restaram dos cadernos de anotações de Leonardo da Vinci, apresentando uma visão do método científico e das realizações do mestre do Renascimento.

Rio Grande em debate Conservadorismo e mudança

Diálogos criativos Temas que vão do avanço tecnológico à sociedade de consumo, da educação à filosofia, da teologia à política são debatidos pelos autores, com pontos de vista ora coincidentes, ora conflitantes, mas muitas vezes complementares.

Lançado pelo Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem traz onze textos que permitem que as idéias discutidas pelos conferencistas do projeto possam dialogar com as de pensadores e instigar a reflexão em direção aos próximos desafios modernos.

Domenico De Massi e Frei Betto Sextante, 144 pg., R$ 19,90

Organizado por Nelson Boeira Sulina, 123 pg., R$ 20

Fritjof Capra. Trad. Bruno Costa Cultrix, 368 pg., R$ 45

Os Lusíadas Traz a obra-prima de Camões acompanhada de uma apresentação que contextualiza o surgimento do texto e a vida do autor. Ainda apresenta notas que esclarecem vocabulário, referências a personagens e fatos históricos. Luís Vaz de Camões. Organização Jane Tutikian L&PM Pocket, 328 pg., R$ 15

56 Panorama

Agosto 2008

As melhores crônicas de Rubem Alves

A pesca do salmão no Iêmen

Reúne 30 textos com as crônicas mais marcantes do autor onde aborda temas como música, culinária, esportes, cultura japonesa, família, amigos, histórias das mil e uma noites e o amor, Gabriel García Márquez, entre outros.

O

cientista Alfred Jones recebe um documento que o deixa espantado. Um xeique iemenita desejava introduzir a cultura do salmão no pequeno país da Península Arábica. O projeto parece impossível, porém revela-se de alto valor político para os governantes britânicos.

Rubem Alves Papirus, 144 pg., R$ 26,90

Paul Torday. Trad. Flávia Rössler Record, 368 pg., R$ 39


Vitrine Dançando no escuro

Compreender Kant

A autora leva os filhos e a irmã à cidade de Ocean Grove para investigar uma história sobre “garotas que inventam mentiras”. É então que consegue uma entrevista com uma jovem, que conta ter sido seqüestrada e mantida em cativeiro, mas não convencera as autoridades.

O livro resume e leva a reflexão para a compreensão da obra do filósofo, destacando, campo por campo, sua importância histórica precisa e por que sua obra continua a influenciar, muito tempo depois de sua morte, o campo do pensamento.

Diane Mayfield. Trad. Carolina Caires Coelho Bertrand, 308 pg., R$ 39

Olivier Dekens Loyola, 216 pg., R$ 31

Emprego de A a Z

Os 100 melhores sonetos clássicos da língua portuguesa

Só para mulheres - conselhos, receitas e segredos

Seleção com 100 sonetos clássicos da língua portuguesa, um breve panorama dessa produção, abrangendo os principais poetas do Barroco até o início do século XX. Além de ser um material de iniciação à leitura do soneto, a antologia devolve a crença na força do idioma.

Recupera as colunas femininas assinadas por Clarice Lispector sob os pseudônimos de Tereza Quadros, Helen Palmer e Ilka Soares. Os textos convidam para uma viagem no tempo em que se desenha, na forma de um variado almanaque, o rosto da mulher brasileira dos anos 50 e 60.

Organização Miguel Sanches Neto Leitura, 128 pg. R$ 24

Organização Aparecida Maria Nunes Rocco, 160 pg., R$ 44

Com inspiração na série de televisão para o Fantástico, o autor traz dicas para as diversas situações da vida profissional, desde conseguir o primeiro emprego, até criar coragem e pedir de maneira firme e direta aumento para o chefe. Max Gehringer Globo, 328 pg., R$ 29,90

40 dias para mudar o mundo O livro trata do poder pessoal para mudanças, reunindo 40 mensagens para serem lidas diariamente e, no final de cada capítulo, são apresentadas sugestões práticas para ajudar a colocar em prática a ação sugerida naquele dia.

Ao sul de lugar nenhum Histórias da vida subterrânea

Renascimento do platonismo e do pitagorismo Estudo da história do pensamento filosófico no intervalo de tempo entre o fim da era pagã e os primeiros anos do século III, considerado pelo autor um período ainda pouco estudado com profundidade. Giovanni Reale Loyola, 423 pg. R$ 51

O maravilhoso livro das meninas

Sob o signo da solidão, do isolamento, da alienação e da marginalização, o livro traz reflexões sobre personagens que desistiram da sociedade e talvez até de si mesmos. Bukowski mostra que, sim, também essas pessoas têm esperanças, anseios e até mesmo sonhos.

O livro traz dicas para customizar roupas, projetos de artesanato, truques de culinária básica, jogos e brincadeiras, lições de maquiagem, regras de etiqueta. Pretende ser um convite para a garotada contemporânea pisar no freio do amadurecimento precoce e do consumismo.

Charles Bukowski. Trad. Pedro Gonzaga L&PM, 224 pg., R$ 38

Rosemary Davidson e Sarah Vine Globo, 304 pg., R$ 49,90

No tribunal de meu pai Crônicas autobiográficas

Sobre a tagarelice e outros textos

Ao sul da Africa

A obra recria o ambiente em que o autor cresceu, rico em histórias e personagens. O resultado é um testemunho de uma tradição judaica que ruiria com a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

O autor faz uma análise do que é a tagarelice e seus perigos para concluir que a melhor virtude é o elogio do silêncio. Ainda mostra uma espécie de a arte de bem conversar onde a palavra encontra o valor do sentido e a beleza da dúvida.

David Jeremiah Thomas Nelson Brasil, 320 pg., R$ 29,90

Isaac Bashevis Singer. Trad. Alexandre Hubner Companhia das Letras, 360 pg., R$ 49

Plutarco Landy, 112 pg., R$ 30

A riqueza cultural e natural africana e a luta de povos para manter suas tradições são abordadas no livro, que fala da história, geografia e costumes de etnias como os ndebeles, os xonas e dos boxímanes. Laurence Quentin. Trad. Rosa Freire d’Aguiar Companhia das Letrinhas, 144 pg., R$ 38

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Perfil

O direito humano à literatura

Foto: Cris Bierrenbach/Folha Imagem

Antonio Candido, 90 anos Um dos maiores intelectuais do Brasil completou 90 anos no dia 24 de julho. Embora ele afirme “nonagenário, não posso dizer coisas novas”, acompanhar a linha de pensamento deste professor de tantas e tantas gerações é sempre um exercício enriquecedor e esclarecedor Por: Elizabeth Lorenzotti

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Perfil Escolhido para receber o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano de 2007 e o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação de 2003, Antonio Candido de Mello e Souza foi considerado “uma das inteligências mais completas e influentes da cultura brasileira contemporânea” e “autor de várias obras de análise, interpretação e avaliação crítica do principal acervo literário do Brasil e da herança européia”. Mas para além de sua grande obra, Candido é um homem simples e generoso, bem humorado e humano. “Um mineiro nascido no Rio”, ele mesmo se define. Foi criado em Cássia e em Poços de Caldas. Seu pai, o médico Aristides de Mello e Souza, foi o primeiro diretor das Termas Antonio Carlos, em Poços. Ele nasceu e cresceu em casas cheias de livros. O pai e a mãe tinham bibliotecas separadas, não só de medicina, mas de literatura, história, filosofia. Em 1989, Candido e seus irmãos Roberto e Miguel doaram 3.528 livros à Biblioteca Central da Unicamp, mediante o pedido de que a coleção ganhasse o nome do pai. A maioria dos livros pertencia ao professor. Quando ele era criança, seu pai costumava ler e explicar, todas as noites depois do jantar, certos textos em português ou francês que julgava oportunos. Entre 13 e 14 anos, Candido ouviu o pai ler muito de Os Sertões, na primeira edição que possuía. Antonio Candido destaca dois períodos como pontos importantes de sua formação: a

estada em Paris – para onde o pai foi se aperfeiçoar, entre 1928 e 1929 – e a ida para Poços de Caldas, em 1930. “Então, Poços contava com uma livraria excelente, com livros franceses e ingleses, além dos nacionais.” Ele tornou-se freguês assíduo. Conta o professor: “Foi ela a única, em toda a minha vida, onde vi à venda o raríssimo Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade, cuja tiragem foi mínima e quase não circulou”. Com acontecia muito naquela época, Candido não freqüentou escola regular no primário. Foram apenas três meses. A mãe o ensinou em casa: a ler, a escrever, aritmética, geografia, história, um pouco de francês. Em Poços, fez o quinto ano primário, chamado “curso de admissão” ao ginásio. Além de sua mãe e de uma professora na França, outra pessoa que muito ensinou o jovem Candido foi dona Teresina Carini Rocchi, de quem escreveu a biografia no livro Teresina e etc. (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980). A velha militante anarquista era amiga da mãe de Candido. “Ela me iniciou no mundo da cultura italiana além de contribuir para o meu interesse pelo socialismo. Cantávamos juntos canções e trechos de ópera, ela me fez ler muitos autores italianos cujos livros me dava e em geral falava italiano comigo”. O pai queria que ele fosse médico, mas, segundo ele mesmo, “graças a Deus”, foi reprovado nos exames para a Faculdade de Medicina. Em 1939, entrou no vestibular para as

faculdades de Direito e Filosofia. Não terminou o curso de Direito, porque foi nomeado professor-assistente de Filosofia e casou-se com sua companheira da vida inteira, Gilda de Mello e Souza, falecida em 2005. Ela fazia parte do grupo de colegas, também amigos da vida inteira, desde os bancos da faculdade, com os quais fundou a revista Clima, na época da 2.ª Guerra Mundial. Clima era uma revista de cultura, feita por jovens universitários, praticamente a mesma equipe que depois fundou e colaborou com o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo e tornou-se conhecida como a primeira geração de críticos saídos da Universidade de São Paulo (USP). Ele conta: “Nós temos consciência de nos termos formado uns aos outros. Antônio Branco Lefèvre, estudante de Medicina e depois jovem médico naquela altura, que se tornou um dos maiores neuropediatras do Brasil, foi crítico de Música da revista; Lourival Gomes Machado era professor de Política e, ao mesmo tempo, crítico de Artes Plásticas, tendo reorganizado a Faculdade de Arquitetura como diretor; Décio de Almeida Prado, ensinava filosofia no Colégio Universitário e era crítico de Teatro; Rui Coelho, que tinha um saber universal, era especialista em Personalidade e Cultura, professor de Sociologia, praticante do teste de Rorscharch, mas escreveu um livrinho sobre Marcel Proust e foi crítico de cinema. A nossa turma era assim.” Um dos seus mais belos e importantes tex-

O prazer de ler O que Antonio Candido recomendaria para despertar o gosto pela leitura em um adolescente de hoje, não muito interessado pelas letras? Ele responde: “No meu tempo eu saberia indicar, hoje eles gostam de Harry Potter, que nem sei o que é, e tenho medo de parecer bobo.” Mas não parecerá bobo jamais quem recomenda clássicos universais para os jovens. Na época da 2ª Guerra Mundial, Candido foi professor de um colégio alemão que se desnazificava. “Eu conquistei os alunos com As Minas do Rei Salomão, do inglês Henry Rider Haggard, traduzido por Eça de Queiroz (Livros Horizonte, Lisboa, 2000). Eles resistiam à leitura e adoraram. Tudo depende da forma como se apresenta o livro”, afirma. Como lembra a ex-aluna Telê Ancona Lopez, Candido ensinava a importância fundamental do texto, valorizando a imaginação crítica, a cultura. “Quando se estuda a literatura brasileira, se vê ao mesmo tempo as correlações com as artes, a música. A literatura não se isola”. Esta é uma grande forma

de despertar nas pessoas o prazer de ler. Livros de aventuras despertam o prazer da leitura, diz o professor que, quando moço, adorava a coleção Terra, Mar e Ar, com Kipling, Mark Twain, as aventuras de Tarzan, de Tom Sawyer, A Volta ao mundo em 80 dias, e tantas outras. Ele indica todos os livros de Alexandre Dumas, de Os três mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo a Vinte anos depois. E lembra-se do método que o pai usava para aproximar os filhos da leitura: “Um belo dia, quando eu tinha mais ou menos 9 anos, meu irmão do meio, 7, e o caçula, 6, ele nos deu os dois volumes alentados do Larousse universal, dizendo: “Brinquem com isto”. E nós começamos a brincar, a ver as pranchas coloridas com mapas, uniformes, mamíferos, répteis, borboletas, peixes etc. Depois de passar um ano colorindo perucas de personagens históricos, pondo bigodes em imperadores romanos, cavanhaque em Luís XIV e coisas assim, tínhamos adquirido bastante familiaridade com muitos verbetes e aprendido um pouco de francês, reforça-

do pelas lições de minha mãe com o método Berlitz”. Antonio Candido não é pessimista em relação à moderna cultura do audiovisual. Acentua que na nossa maior fonte cultural, a civilização grega, as obras eram feitas para serem ditas ou cantadas; o registro escrito vinha depois. Talvez a imagem e a oralidade possam imperar nesta terceira revolução industrial, mas ele não consegue imaginar. Entretanto, afirma que uma coisa é certa: “Não é possível haver sociedade humana sem arte e sem literatura, pois o homem tem necessidade quotidiana, imperiosa e inadiável de satisfazer a fantasia, desde as formas mais modestas, como a anedota e os grafitos, até as mais altas, como o poema organizado e a estátua. Mas em nosso tempo de crise das normas, a mistura de tudo parece ter gerado a dissolução dos parâmetros, de modo que numa exposição de arte, por exemplo, ficamos sem saber se um trator em cima de um monte de jornais pode ser avaliado como se avalia um quadro de Picasso ou uma estátua de Moore.”


Foto: Julia Moraes/Folha Imagem

tos chama-se O direito à literatura, em Vários Escritos (São Paulo, Duas Cidades, 1995). Ele coloca a literatura entre os direitos fundamentais dos cidadãos. O professor fala, no texto, sobre o poder universal dos grandes clássicos, “que ultrapassam a barreira da estratificação social e de certo modo podem redimir as distâncias impostas pela desigualdade econômica, pois têm a capacidade de interessar a todos e devem ser levados ao maior número”. “Lembro de ter conhecido na minha infância, em Poços de Caldas, o velho sapateiro italiano Crispino Caponi, que sabia o Inferno completo e recitava qualquer canto que se pedisse, sem parar de bater as suas solas.” Para Candido, a literatura “humaniza em sentido profundo, porque faz viver”. E o que entende ele por humanização? “O processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.” O Brasil pode se considerar feliz por contar com Antonio Candido.

O professor Antonio Candido na biblioteca de sua casa, em São Paulo Agosto 2008 Panorama 61


Perfil

“Sou essencialmente um professor” “Se me perguntassem o que sou essencialmente, eu diria, grifando, que sou professor. Ensinei Sociologia, ensinei Literatura, mas antes de ser professor disso ou daquilo, não sei se me faço entender, sou visceralmente professor, grifado. Tenho gosto e vocação para transmitir aos outros o que sei, e, como costumava dizer Antônio de Almeida Júnior, o professor não é obrigado a criar saber, mas sim a transmiti-lo. Esta foi a tarefa que sempre me atribuí. (.) Repito: o que gosto mesmo é de dar aula. Se possível, sem ser interrompido”. (Antonio Candido em entrevista concedida em junho de 1993 a Gilberto Velho e Yonne Leite, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Antonio Candido formou várias gerações de estudantes de Letras em 36 anos de docência em Teoria Literária e Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Quando alguém viaja pelo País, por exemplo, participando de algum evento nesta área, sempre encontra alunos formados por ele na graduação, no mestrado, no doutorado, ou em cursos de especialização. Alguns, por exemplo, são de São Paulo, como Roberto Schwarz, Telê Ancona Lopes, Vera Chalmers, Marisa Lajolo, Davi Arrigucci Jr. e Walnice Nogueira Galvão. Marisa Lajolo, atualmente na Universidade Mackenzie e professora colaboradora da Unicamp, foi aluna de Candido na graduação, nos anos 1960, quando a disciplina Teoria Literária recém havia ingressado no currículo de Letras. Depois, ele a orientou na pós-graduação, mestrado e doutorado, já nos anos 1970. Para Marisa, Antonio Cândido é um grande professor: “Mestre, no sentido maior do termo. A mim – além dos conteúdos – ensinou, sobretudo, respeito pelos alunos e interesse sincero por suas questões. Ele jamais humilhou nenhum aluno apesar de sua infinita sabedoria. Dava aulas de forma simples, comentava os trabalhos de cada um assinalando o que de me-

62 Panorama

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lhor tínhamos. E – como faz até hoje – temperava tudo isso com um humor fino e inteligente”. “É meu professor por toda a vida, sinalizou rumos no meu trabalho com a literatura”, afirma outra ex-aluna, Telê Ancona Lopez, igualmente graduada, mestrada e doutorada na USP com Antonio Candido como orientador. “Um professor que principalmente mostra, em cada passo dele, a valorização da ética, a importância do intelectual-cidadão, interessado nos rumos do país, preocupado com o seu desempenho enquanto professor, enquanto critico”. O tema de pesquisa de Telê, professora titular da USP, é Mário de Andrade, de cujo arquivo é curadora no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). E, claro, esse tema veio das aulas de Candido. “Eu fazia um curso de especialização em Teoria Literária com o professor, e ele começou a nos dar o poema Louvação da Tarde, contando que existia uma marginália fantástica de Mário de Andrade na Bilioteca. Levantei a mão e disse: ‘Quero fazer nas férias de julho!’ Imagine, estou fazendo até hoje...” O papel do intelectual-cidadão também é destacado por Vera Chalmers, professora convidada da Unicamp: “Antonio Candido é um mestre no sentido pleno da palavra, um formador de pessoas a quem ensina a buscar a verdade, ainda que difícil.” Candido formou não só grandes intelectuais e professores. Como sempre acontece, muitos de seus ex-alunos de Letras seguiram outras profissões, mas levaram seus ensinamentos pela vida afora. Como a assessora de moda Sonia Montana, sua aluna de graduação na década de 1970: “O professor me ensinou coisas que usei na educação de meus três filhos.” P

Elizabeth Lorenzotti, autora desta reportagem, é jornalista e escritora, autora de “Suplemento Literário – Que falta ele faz!” Imprensa Oficial, 2007

Foto: Bel Pedrosa/Folha Imagem

O crítico literário em São Paulo em 1993


Fabio Arruda

T R O CA T R OCA

DE CÓDIGOS SARAIVA

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DreamWorks

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Gente que lê Galeno Amorim www.blogdogaleno.com.br

Lima e os livros Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem

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Nascido menino pobre no Desemboque, no interior de Minas, Ariclenes sonhava com a cidade grande. Queria trabalhar no rádio e conhecer as cantoras famosas, que eram os grandes ícones da vida nacional. Só que Ari vivia num lugarejo longe de tudo e de todos, num mundo completamente oposto àquele que imaginava para si. Mas não conseguia vislumbrar a chave que mudaria a sua vida. E enquanto a sorte grande não chegava, ajudava o pai na lida do gado e vendia fotografias da mãe, uma atriz de circo. Até que certo dia subiu num caminhão rumo a São Paulo decidido a botar o pé na estrada, como tantos ali já tinham feito. Haveria de ter um lugar ao sol para ele. Aos 16 anos, Ari apeou em Ribeirão Preto, na metade do caminho. Ficaria uns tempos por lá até que chegasse a hora de ir de vez para a Capital. Foi viver em pensão e arrumou emprego de carregador numa loja de materiais de construção. Os novos ricos que aos poucos assumiam o lugar dos barões do café impunham um novo surto de progresso. Erguiam casas e faziam surgir uma nova cidade, com suas primeiras fábricas e um agronegócio latente. E, sendo assim, toma mais mercadoria nas costas do garoto. Por isso, foi uma verdadeira benção aquele santo dia em que os livros despencaram na vida dele. Tudo começou com a idéia fixa de fugir um pouco do sol extenuante que parecia tornar ainda mais pesada a carga que trazia no ombro. De repente, empacou diante do belo casarão da praça XV, botou no chão a privada que levava nos braços e espiou para se certificar que ninguém olhava. Precisava descan-

sar e tomar fôlego antes de seguir adiante. De costas para o Theatro Pedro II, a majestosa casa de ópera do país dos coronéis, tomou a decisão mais sábia da sua vida: entrou! Lá dentro, porém, levou um susto: o velho solar dos Junqueira agora era uma biblioteca. No meio daquela gente estranha – poetas e alunos do Ginásio do Estado, ele pensou – achou que devia ao menos disfarçar e fazer de conta que estava lendo. Afinal, não seria tão pior do que o que esperava por ele lá fora... Dito e feito. Tomou o primeiro livro à mão e leu o título, em letras garrafais: Grandes Esperanças, de Charles Dieckens. Folheou algumas páginas e teve vontade de espiar melhor. Gostou do que viu. Leu mais umas. Quando deu por si, havia lido muitas delas. Já não conseguia parar. Daquele dia em diante, os livros nunca mais saíram da sua vida. Era, afinal, a chave que tanto procurara. No primeiro teste para locutor, tropeçou no sotaque caipira. Mas não desanimou. Logo arrumou emprego de office-boy na Rádio Difusora de São Paulo e, em seguida, seria promovido para operador de som e sonoplasta. Os livros eram a sua companhia constante. Um dia surgiu a chance de fazer ponta numa radionovela e ele a agarrou. Meio século depois, e ainda um leitor voraz, Lima Duarte (afinal, Ariclenes Venâncio, seu nome de batismo, não era lá, como ele próprio dizia, nome de artista que se prezasse) não tem nenhuma dúvida. Do alto da glória justamente conquistada, o ator diz que os livros foram a sua tábua de salvação. — Eu era só um analfa... – diverte-se ele, enquanto procura na estante um novo livro para ler. P


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Já nas livrarias.

Nova Coleção Vinicius de Moraes. Edições históricas.


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Foto: Adriana Amaral 66 Panorama

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Os grandes nomes da Bienal estarão no nosso estande. Temos o orgulho de editar alguns dos maiores autores do mundo. Costumamos dizer que nosso nome é feito pelos nomes de nossos autores. E temos mais orgulho ainda de nossos leitores. Eles são a razão de existirem livros e editoras. Você é convidado especial no nosso estande na Bienal. Seja você autor ou consumidor, será recebido como alguém que nos faz existir e prosperar.

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