Revista Panorama - edição 45

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Aventure-se no mundo

As editoras IBEP e Companhia Editora Nacional, com capital 100% brasileiro, formam um dos grupos editoriais mais respeitados do país. Nossa presença se estende por todo o território nacional, com expressivo número de publicações na área da educação. Milhares de estudantes e professores são beneficiados pela qualidade dos livros didáticos e serviços de apoio que oferecemos. Nosso catálogo abrange outros segmentos, como literatura infantil e juvenil, obras 2

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do conhecimento.

de referência, interesse geral, gastronomia, etc. Todos os lançamentos e ações reafirmam o nosso compromisso com a educação: tornar o brasileiro, seja criança, jovem ou adulto, um leitor. Novembro 2008

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Sumário 9

Capa: Foto:Werner Moser Arte: Wagner Luiz Santos

Entrevista O prefeito de São Paulo

Gilberto Kassab fala sobre as políticas públicas de incentivo à leitura implantadas na rede municipal de ensino em parceria com a Câmara Brasileira do Livro.

24 Boa Idéia A Fundação Dorina Nowill

27 Reportagem de capa As mudanças

do acordo ortográfico assinado entre os países de língua portuguesa moblizam editoras, escritores e a imprensa

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fabrica livros didáticos, paradidáticos, best-sellers e literários para alunos cegos de todo o País. Além do Braille, a fundação produz obras no formato Livro Digital Acessível.

32 Políticas Públicas Trinta e sete mi-

lhões de alunos de escolas públicas do país vão receber um kit de livros das mais diversas matérias para usar durante as aulas, em 2009.


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39 Comportamento leitor Quem não lê no Brasil? 77 milhões, segundo dados da pesquisa Retratos do Brasil, que a Panorama publica mensalmente, enfocando os diversos ângulos pesquisados no estudo

Rotas Literárias O cenário do Agreste de Alagoas e Pernambuco, base de inspiração para Graciliano Ramos, mudou apenas nas cidades, que cresceram e indicam reflexos de evolução

Como me apaixonei pelos livros A iniciação do cartunista Maurício de Souza no mundo da leitura se deu entre fadas e personagens de Walt Disney até ser “atropelado” pela obra de Monteiro Lobato.

7 Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL 13 Eventos Notícias de feiras pelo Brasil 18 Acontece O que é notícia no mercado de livros 20 Socialmente Responsável Imprensa Oficial 21 Ponto de Vista Valter Kuchenbecker 22 Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro 26 Outras Mídias O livro na TV, no Rádio e na Internet 34 Mercado & Tendências O impacto da crise econômica mundial no mercado editorial 36 Pelo Mundo Afora Aconteceu em Frankfurt 38 Todo Mundo Lê Gustavo Franco, Rafinha Bastos e Lars Grael 41 Radiografia Mona Dorf 42 Prêmios e Concursos Os premiados do Jabuti 44 Livros Sobre Livros Estímulo para o escritor não perder a inspiração 50 Cinema e Livros Alice no País das Maravilhas... de Hollywood 52 Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo 54 Empresa Amiga do Livro Suzano investe no poder da leitura 55 Vitrine O que há de novo nas prateleiras 56 Gente que Lê O jegue e os livros 58 Imagem Panorâmica Um momento de ler Novembro 2008

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Câmara Brasileira do Livro Presidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro, Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri, Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro Macera Rua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br

Agência de Notícias Brasil Que Lê Fundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.br Av. José Maria de Faria, 470 Tel (11) 8389-0041 CEP 05038 190 São Paulo SP www.brasilquele.com.br

Conselho Editorial Bernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Macera, Rosely Boschini e Valter Kuchenbecker Diretor Geral Galeno Amorim (galeno.amorim@observatoriodolivro.org.br) Editor-Chefe Matide Leone (editor@brasilquele.com.br) Diretor de Arte Wagner Luiz Santos (arte@brasilquele.com.br) Editor de Fotografia Fanca Cortez (fotografia@brasilquele.com.br) Colaboração Especial Tiago Santana, fotografias em Rotas Literárias Redação (redacao@brasilquele.com.br) Alexandre Malvestio, Talissa Berchieri e Ricardo Costa (especial) Raquel Caetano (especial) Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica (producao@brasilquele.com.br) Administração (administracao@brasilquele.com.br) Alexandre Dias Pré-Impressão e Impressão IBEP - Cia Editora Nacional

Circulação Circulação (circulacao@brasilquele.com.br) Murilo Casagrande Tiragem 20.000 exemplares Circulação Nacional Door To Door (www.d2d.com.br)

Publicidade Departamento Comercial (comercial@brasilquele.com.br) Murilo Casagrande Tel: (11) 8389 0041 e (11) 3069-1300 Anúncios (publicidade@brasilquele.com.br) Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados, que expressam a opinião de seus autores. Permitida, desde que citada a fonte, a reprodução total ou parcial dos textos, que são produzidos pela agência de notícias Brasil que Lê. www.panoramaeditorial.com.br

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Boa Leitura

Um voo sem circunflexo Nada de tão impactante. Trema, acentos e hífens. Mudanças que o mercado e a sociedade vão assimilar lentamente, pois terão quatro anos para adaptação. Mas não se trata, meramente, de igualar a grafia para que todos se entendam perfeitamente, pois não é um trema que estabelece distância entre os povos dos oito países de língua portuguesa. Há muito existe um histórico de frustrações no empenho de Portugal e Brasil para estabelecer regras comuns. Agora deu certo, e as idéias não serão menos criativas sem o acento agudo. O acordo ortográfico é mais do que isso, vai além de tirar o circunflexo do vôo. É uma questão de unificação. A decisão firmada entre o Brasil e os sete países de língua portuguesa se apresenta como um fator importante para facilitar a circulação de livros entre eles. E maior circulação de livros significa um suporte a mais para a diminuição do analfabetismo funcional, entre outros benefícios. Além disso, a idéia de formar um bloco lusófono é importante neste mundo globalizado, pois os países unidos poderão se fortalecer junto a organismos internacionais, como a ONU, por exemplo, e serem mais reconhecidos também pela produção de conhecimento. Quanto às mudanças necessárias a serem feitas pelo mercado editorial, que refletem em todos os setores, principalmente na educação, logo serão assimiladas, e as novas regras, facilmente incorporadas, como já aconteceu em outras alterações na língua portuguesa. Tudo é uma questão de tempo, de ver as mudanças com bons olhos, pois são uma oportunidade de reflexão, de lembrar que existem outros povos falando nosso idioma, e não apenas desenhos retorcidos no mapa-mundi indicando Portugal, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste. É melhor a gente se render às transformações com tranquilidade. Agora, sem trema. Boa Leitura

Rosely Boschini Presidente da CBL (diretoria@cbl.org.br) Novembro 2008

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Entrevista

Gilberto Kassab A prefeitura de São Paulo investe em programas de incentivo à leitura e promoção do livro para crianças e adolescentes do ensino fundamental, e tem a CBL como parceira

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Entrevista

O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab recebeu, no ano passado, o prêmio Amigo do Livro, da CBL, Câmara Brasileira do Livro, pela criação dos programas Minha Biblioteca e Ler e Escrever, em parceria com a CBL. O programa Ler e Escrever tem por objetivo melhorar a qualidade da educação, priorizando a aprendizagem da leitura e da escrita e consiste, ainda, na melhoria do material pedagógico utilizado pelos professores da rede. Seguindo o mesmo conceito, o programa Minha Biblioteca, já na segunda edição, distribuiu 560 mil livros aos alunos da rede pública municipal, de sete a dez anos. As crianças levam os livros para casa e podem compartilhar com a família. “Nunca o poder público havia distribuído obras literárias para seus alunos”, afirma Kassab, lembrando também o mérito do secretário da Educação Alexandre Schneider nos projetos, também contemplado com o prêmio da CBL. Por sua formação, Kassab não é um homem das letras. É engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP e economista, formado na FEA/USP. Mas, tocado pelas Memórias Póstumas de Braz Cubas, desenvolveu grande interesse pela leitura, e se mostra indignado com a percentagem de analfabetos no Brasil. Os dados alarmantes também de analfabetos funcionais talvez sejam um impulso a mais para cultivar programas capazes de minimizar o quadro. Na entrevista a seguir, o prefeito reeleito de São Paulo fala sobre as políticas públicas de estímulo à leitura e à valorização do livro, e dos planos na área de educação para a nova gestão, como intensificar a formação e o uso das salas de leitura nas escolas. Panorama: No ano passado, provas aplicadas nas escolas municipais apontaram que o desempenho dos alunos com relação à leitura não era dos mais animadores, segundo avaliação

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da própria Secretaria da Educação. Que medidas foram implantadas pela administração para melhorar este quadro? Como o senhor avalia a situação um ano depois? Gilberto Kassab: Na verdade, o resultado da prova realizada em São Paulo é mais otimista do que a pergunta sugere. Quando iniciamos a

“O aluno que não consegue compreender um texto não consegue aprender outras matérias. Pois bem: investiu-se pesadamente neste programa, inclusive colocando mais um professor na sala de aula para assistir os alunos e o resultado da última prova já demonstrou avanços” gestão, quatro anos atrás, o então prefeito José Serra constatou a urgência de investir nos conhecimentos de língua portuguesa, principalmente na leitura e compreensão de textos. Com esse objetivo específico, foi criado o programa Ler e Escrever. O aluno que não consegue compreender um texto não consegue aprender outras matérias. Pois bem: investiu-

se pesadamente neste programa, inclusive colocando mais um professor na sala de aula para assistir os alunos, e o resultado da última prova já demonstrou avanços. Em 2006, 70% dos alunos de 3º ano do ciclo I estavam alfabetizados. Em setembro de 2008, chegamos a 90%. Para os alunos do ciclo II, da quarta à oitava série, iniciamos o trabalho com a formação de professores, realizando programas voltados para melhorar o desempenho dos alunos, sobretudo a habilidade como leitores, e acompanhamos mais de perto, com supervisão e reforço, as 150 escolas com índices mais vulneráveis. Os orientadores das salas de leitura estão recebendo formação específica sobre como desenvolver o apreço ao conhecimento e à leitura e como potencializar o rico acervo de cada escola, hoje com uma média de 30 mil livros por unidade. E para envolvimento de toda a rede, não apenas dos orientadores das bibliotecas chamadas salas de leitura, produzimos material específico com sugestões para estimular a leitura e redação em todas as séries.. Estamos trabalhando com indicadores individuais de avaliação e acompanhamento para que toda equipe de supervisão possa acompanhar o trabalho nas escolas e fornecer dados que nos ajudem a criar boas intervenções para qualificar a aprendizagem dos alunos. Os resultados de todas essas medidas serão vistos na próxima Prova São Paulo, que será realizada nos dias 10 e 11 de dezembro, mas avaliações internas mostram que os alunos estão chegando ao Ciclo II mais bem preparados por conta das ações do Programa Ler e Escrever. Panorama: O senhor recebeu o prêmio Amigo do Livro em função de programas como Minha Biblioteca e Ler e Escrever. O que levou a Prefeitura a criar esses programas? Gilberto Kassab: Um dado alarmante foi o Indicador de Analfabetis-


mo Funcional, que mostrava índice de 75% de pessoas sem habilidade leitora. Panorama: Qual a abrangência deles e os resultados que se espera? Gilberto Kassab: O Programa Ler e Escrever começou em 2005 no 1.º e no 4.º anos do Ciclo I. Já foi expandido para o 2.º e o 3.º anos. O Minha Biblioteca está em sua segunda edição. Em 2008, o programa envolveu números grandiosos: 63 editoras, 202 títulos e mais de R$ 10 milhões investidos, chegando a 521 mil alunos. Nunca o poder público havia distribuído obras literárias para seus alunos, possibilitando que eles se apropriassem do livro e compartilhassem com suas famílias histórias dos mais diferentes autores. Em 2007, foram entregues mais de meio milhão de livros a alunos de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino. Neste ano, com a extensão do programa também para o Ciclo II, foram mais de um milhão de exemplares. Panorama: Segundo foi noticiado, algumas bibliotecas foram fechadas no seu primeiro governo. As causas que levaram a isso foram, em sua opinião, modificadas ou superadas? Gilberto Kassab: Nenhuma biblioteca foi fechada no ano passado, apesar do que saiu na imprensa a respeito. Ao contrário, duas bibliotecas, uma na Vila Mariana e outra na Lapa, foram transformadas em Espaços de Leitura, instalações que, além de biblioteca, oferecem um Centro de Memória do bairro, o que era uma demanda da própria comunidade. Além disso, com as bibliotecas dos novos CEUs, o número de bibliotecas públicas na cidade, na verdade, aumentou. Esta gestão também inaugurou oito pontos de leitura, três deles em bairros carentes como Cidade Tiradentes. Sem contar que, antes, só havia um ônibus-biblioteca em péssimo estado, e agora temos quatro, mais mo-

dernos, cobrindo 28 pontos de paradas semanais. Outra ação de valorização das bibliotecas foi a implantação do projeto Bibliotecas Temáticas. Atualmente, sete bibliotecas públicas contam com núcleos especializados em determinados temas, com acervos sobre, por exemplo, contos de fadas e cinema.

“A Bienal do Livro, na minha opinião, é um momento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer as iniciativas que estão sendo colocadas em prática no segmento. Neste ano, montamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Secretaria de Cultura, o que permitiu ao visitante conhecer nossos projetos” C

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Com essa medida, a Prefeitura atraiu um novo público para esses espaços. Panorama: Que políticas públicas na sua segunda gestão podem ser implantadas para ampliar o acesso do cidadão aos livros? Gilberto Kassab: Nesta segunda gestão, vamos ampliar o projeto de bi-

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Entrevista bliotecas temáticas, instalando esse serviço em outras unidades já existentes. Vamos também ampliar os pontos de leitura, que são mini-bibliotecas, com cerca de quatro mil livros, para outros pontos da cidade que necessitem de tais equipamentos públicos. Vamos repetir também a experiência da Feira de Troca de Livros, que aconteceu em 2007 e 2008 em diversos parques da cidade, e demonstrou que há uma grande demanda para este tipo de interação intermediada pela literatura na cidade. A Revista Época São Paulo recentemente elegeu a Biblioteca Sérgio Milliet, do Centro Cultural SP, como a melhor biblioteca de São Paulo. Um reconhecimento assim nos faz ver que estamos indo pelo caminho certo. Também temos a intenção de intensificar a formação e o uso das salas de leitura nas escolas. Hoje, temos 707 salas e espaços de leitura em Escolas Municipais de Educação In-

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Livro de cabeceira “Sempre li bastante, a ponto de, às vezes, ler dois ou três livros num mesmo mês. Não tenho números exatos, porque essas coisas variam com as atividades mais ou menos intensas que a gente tem ao longo de um ano. Mas depois que assumi o cargo de prefeito de São Paulo, o tempo para livros ficou mais curto, porque passei a ler diariamente muitos relatórios e obras técnicas sobre a administração. Atualmente, estou lendo “Deu no New York Times”, do jornalista Larry Rohter. Trata-se, na minha opinião, de um momento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer as iniciativas que estão sendo colocadas em prática no segmento. Neste ano, montamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Secretaria de Cultura, o que permitiu ao visitante conhecer nossos projetos.

fantil e Escolas Municipais de Ensino Fundamental. Também vamos investir mais nos professores do Ciclo II, para melhorar o desempenho dos alunos. Panorama: Qual é o papel de eventos como a Bienal do Livro nas políticas municipais de educação e cultura? Gilberto Kassab: A Bienal do Livro cumpre um papel de fundamental importância na cultura da cidade, ao reunir pessoas interessadas em literatura, alunos de escolas públicas e particulares, estudantes de nível médio e superior, em torno dos livros. Trata-se, na minha opinião, de um momento privilegiado para debater o tema da leitura e conhecer as iniciativas que estão sendo colocadas em prática no segmento. Neste ano, montamos na Bienal dois stands, um da Secretaria de Educação e outro da Secretaria de Cultura, o que permitiu ao visitante conhecer nossos projetos. P


Eventos

Fliporto, destino a ser descoberto pelas editoras POR: RICARDO COSTA, DO PUBLISHNEWS

Foto: Rafael Medeiros

Mar de Porto de Galinhas Porto de Galinhas, novembro de 2008. Cerca de 1.500 Km de São Paulo “seu” Cabral encontrou um Porto Seguro para suas naus, após longos dias de travessia do Atlântico – que segundo conta a história oficial do Brasil, nem se sabia que poderia atravessar. Alguns anos depois, esta praia tão linda que em novembro recebeu uma grande festa de livros e letras, tinha a triste missão de receber nossos irmãos africanos, que na vinham como escravos e eram explorados para o então chamado desenvolvimento da

terra brasilis. Mas há quatro anos Porto de Galinhas conta uma história muito diferente; uma história de muita festa, alegria, cultura, arte e conhecimento. Mais de cinco séculos depois de ser o destino triste de muitos africanos, a cidade realiza a IV Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas e reconhece, com alegria e gratidão, a participação do povo e da cultura africana na formação da cultura e, mais especificamente, da literatura brasileira. Bem disse o escritor angolano José

Eduardo Agualusa em entrevista ao PublishNews, Portal Literal e CBN Rio: “O que interessa ao mundo, do Brasil, em termos culturais, é o seu lado africano. Essa é a relação da África com o Brasil. E por outro lado, a literatura africana, falando por mim e pelos vários escritores africanos que conheço, como Ondjaki e Mia Couto, tem uma forte influência da literatura brasileira, em especial de Jorge Amado.” Este ano a Festa em Porto de Galinhas, que aconteceu entre os dias 6 e 9 de novembro, foi um encontro Novembro 2008

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Eventos da literatura brasileira com a africana – “Trilhas da Diáspora. Literatura em África e América Latina”. Vários autores africanos estiveram na festa e falaram de sua relação pessoal e de seus países com o Brasil. Uma relação de mão dupla, que começou com a história triste dos escravos mas passou para uma interação e uma influência mútua muito positiva e proveitosa para ambos os lados. Felizmente a história dá muitas voltas e nos ensina que por piores que estejam as coisas, elas podem ser transformadas em belas: “Antigo porto de escravos é hoje centro da literatura, que é a alma da liberdade. A luta pela liberdade não tem fronteiras”, afirmou Antônio Campos, curador oficial da Fliporto, na abertura da Festa. E como já foi dito diversas vezes: “A literatura é um exercício de liberdade”. Há oito anos seguidos Porto de Galinhas vem sendo escolhida como a

do hotel Armação, onde aconteceram os debates, Fliportinho, para público infanto-juvenil, o Espaço Praça das Piscinas Naturais, com uma tribuna livre para recitais de poesia e de diversas manifestações culturais populares, a Casa Bohemia Latino-América, o Circuito Gastronômico, a Casa Jornal do Brasil e a Feira de livros. Mas a agitação da Festa não ficou restrita aos quatro dias e nem à presença física de participantes e visitantes. A abertura, que contou com uma apresentação da aula espetáculo de Ariano Suassuna e do grupo Nau, foi transmitida ao vivo pela internet. Também as palestras foram ao ar pela rede mundial de computadores. Além disso, o 1º Concurso de Poesia pelo Celular recebeu mais de 300 inscrições do Brasil e do exterior. E fechando o evento, a publicação do Legado Fliporto, um livro que copila os debates e discussões realizadas ao longo dos quatro dias

criar uma ponte e ampliar a interação entre a produção literária brasileira com a de outros povos e continentes, que contribuíram para nossa formação cultural, com grande participação popular.” Nessa mistura cultural e racial maravilhosa, uma mulher de pele negra e olhos azuis, fortes, mas tristes, se destacava na multidão. Como escreveu o jornalista Antônio Gonçalves Filho, de O Estado de São Paulo, “Discreta, tentava circular sem ser notada, mas os jornalistas não lhe davam trégua. Afinal, trata-se da primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Paulina Chiziane, nascida há 53 anos em Manjacaze, na província de Gaza, criada no subúrbio de Maputo e com um livro publicado aqui, em 2004, pela Companhia das Letras, Niketche - Uma História de Poligamia.” O olhar de Paulina aprisionava qualquer um que conversasse com ela e pergunFotos: Rafael Medeiros

Abertura da Fliporto, José Eduardo Agualusa, escritor angolano, Ariano Suassuna e crianças em atividade na Fliportinho praia mais bela do Brasil. “Agora tem a oportunidade de mostrar um turismo que expõe a beleza cultural brasileira”, lembrou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em seu discurso de abertura do evento.

Intercâmbio Literário A Festa que conta com o apoio do governo do estado e da prefeitura, contou com 70 horas de mesas, debates, rodas e sarais literários, poesias e documentários. Em 2008 a Fliporto recebeu cerca de 17 mil pessoas – um crescimento de 20% em relação ao ano anterior – que visitaram os sete pólos de atividades: Centro de Convenções 14

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da Festa Literária. A edição referente ao ano passado está disponível para faculdades e bibliotecas gratuitamente. Para solicitar um exemplar do livro Legado da Fliporto 2007, basta ligar no telefone (81) 3267 5787ou mandar um e-mail para: curadoria@fliporto.net; ou ainda solicitar pelo correio, no endereço: Rua do Chacon, 335 – Casa Forte – Recife – PE – CEP 52061-400, aos cuidados de Antônio Campos. É a segunda vez consecutiva que o evento realiza rico intercâmbio literário entre o Brasil e outras culturas. E segundo Antônio Campos essa é a principal contribuição da Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas: “Tornar-se um evento que seja capaz de

tasse sobre sua história e sua terra. O que achou de participar da Fliporto? “Aprendi que se pode fazer festa com a literatura. Já estive em vários lugares onde se faz conferências, mas uma experiência de um lugar onde se fala de cultura de forma alegre e descontraída foi muito bom. Fiquei muito encantada com isso.” A Festa de 2008 acabou, mas a de 2009 já está andando. A curadoria geral da Fliporto já definiu o tema central da 5ª edição: Um encontro entre a literatura latino-americana e a Ibérica (Portugal e Espanha). Editores e autores também podem se preparar, a Fliporto cresce a cada ano e quem deixar pra última hora pode ficar de fora.


Fotos: Heitor Costa

Eventos

Cem mil livros são distribuídos durante o Flifloresta POR: RAQUEL CAETANO

Foto: Heitor Costa

Evento no Festival Literário Internacional da Floresta Grandes nomes da literatura internacional, nacional e regional fizeram parte do encerramento do Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta), no dia 22 de novembro, em Manaus. Entre eles: Pepetela, de Angola; Miguel Barnet, de Cuba; Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura, Luiz Ruffato, Márcio Souza, Thiago de Mello e Milton Hatoum, que comandaram as mesas temáticas finais. O evento, no entanto, contou com a participação de 83 escritores durante os seis dias de programação e distribuiu

gratuitamente livros para a população, num total de 100 mil exemplares, sendo 25 mil dos quatro títulos selecionados: A caligrafia de Deus, de Márcio Souza; Estatutos do homem, de Thiago de Mello; Sol de feira, de Luiz Bacellar; e Aventuras do Zezé, de Elson Farias. “Eu nunca havia recebido um livro no meio da rua. Aqui, neste evento, eu recebi quatro títulos diferentes”, diz contente o analista de sistema Oto Mendes, 46. Os presenteados ainda puderam ter o autógrafo dos autores que estavam presentes ao evento.

Além da distribuição dos livros, o público contou com outros atrativos. Na ornamentação, foram utilizados livros gigantes, com quatro metros de altura, espalhados no Parque dos Bilhares, onde aconteceu o encontro literário. Foi também promovido o 1.º encontro literário brasileiro de escritores indígenas, que debateram sobre a literatura de seus povos, permitindo que, por meio do discurso e dos livros por eles publicados, sua cultura seja difundida entre os brancos. Para o presidente do Conselho GesNovembro 2008

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Fotos: Heitor Costa

Eventos Eventos

Crianças em atividades no Flifloresta

Escritores indígenas debatem literatura tor do evento, Isaac Maciel, 48, o principal objetivo foi alcançado: “O nosso propósito era colocar o livro em evidência e, ao mesmo tempo, promover a leitura, chamando a atenção da sociedade para a importância que tem a literatura. Os livros chegaram às pessoas mais humildes. Essa ação assegurou o sucesso do Flifloresta, pois os livros chegaram ao povo”, afirma Isaac. Segundo o professor Tenório Telles, membro do Conselho Gestor, o Flifloresta mexeu com a cidade: “Colocando o livro em destaque, tenho certeza de que muitas pessoas terão suas vidas transformadas pela experiência, especialmente porque tiveram a oportunidade de participar dos debates, das ações de promoção de leitura e porque tiveram acesso aos livros. Afinal, ninguém passa impunemente pela leitura de um bom livro”. A coordenação do Flifloresta afirma que vai trabalhar para repetir nas demais edições o sucesso que marcou a primeira edição do Flifloresta neste P ano de 2008. 16

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Livros gigantes ornamentam o Parque dos Bilhares


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Acontece

Rápido e rasteiro

Multimeios em debate

Boas perspectivas

Em 2007, o escritor e publicitário Samir Mesquita começou a escrever microcontos durante uma oficina literária. Em uma única semana, já tinha feito 80 deles e logo veio a idéia de transformálos em um minilivro, guardado em caixas de fósforos e batizado de Dois Palitos. A obra, que começou a ser vendida pela internet e em livrarias com perfil mais alternativo de São Paulo, já está perto de atingir a marca de cinco mil exemplares. Em novembro, o autor participou da Feira do Livro da Fundação Tide Setubal, em São Miguel Paulista, na região metropolitana de São Paulo.

A Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, que mantém um curso de formação de profissionais para o mercado editorial, realizou, em outubro, a segunda edição do Simpósio de Produção Editorial em Multimeios. Este ano, o evento discutiu o tema Produção Editorial: do Impresso aos Multimeios. Além de exposições, palestras e mesas-redondas, que contaram com a participação de especialistas de todo o País, o evento ofereceu um espaço para divulgação e venda de produtos editoriais, principalmente de pequenas editoras, novos autores e grandes idéias.

Após duas semanas em viagem comercial à China, o grupo de trabalho organizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) voltou ao Brasil com boas perspectivas de negócios na bagagem. Seis editoras brasileiras – Callis, Unesp, Nobel, Cortez, Yendis e Canção Nova – participaram da missão ao País asiático e tiveram encontros com empresários locais, principalmente na Feira Internacional do Livro de Pequim. O grupo ainda passou pelas cidades de Heibei, Xangai e Hangzou.

Como é que se escreve?

600 bibliotecas comunitárias

Pára-choque ou parachoque? Microondas ou micro-ondas? Enjôo ou enjoo? Lingüiça ou linguiça? Tudo indica que as dúvidas quanto à unificação gramatical da Língua Portuguesa, cuja lei foi assinada pelo presidente Lula no final de setembro, estão despertando cada vez mais o interesse dos leitores no Brasil. E as editoras são um bom termômetro da importância desse assunto. Para se ter uma idéia, há dois meses seguidos que o livro O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de Maurício Silva, é o campeão de vendas da Contexto.

Terminaram no dia 10 de novembro as inscrições no edital aberto pelo Ministério da Cultura para apoiar a instalação de 600 bibliotecas comunitárias no País. Instituições ou pessoas físicas que já realizam projetos de leitura há pelo menos um ano, além dos municípios considerados prioritários pelos programas Território da Cidadania e Mais Cultura, terão preferência na seleção. O anúncio do edital pôs fim a uma espera de um ano desde que o MinC anunciou o programa Mais Cultura, que prevê, entre outras metas para a área, a criação de 4 mil pontos de leitura.

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Mapa da literatura brasileira O Itaú Cultural está realizando um mapeamento internacional da literatura brasileira. As primeiras conclusões do projeto, batizado de Conexões, mostram que a quantidade de traduções de literatura brasileira, principalmente de autores contemporâneos, vem aumentando no mundo. O trabalho, inédito, está ouvindo pesquisadores, tradutores e estudiosos de diversos países. O resultado completo será apresentado para a comunidade acadêmica norte-americana em agosto de 2009, em um congresso internacional em Chicago.

Encontro de agentes no ES

Prazeres paulistas

No início de novembro, o Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou um encontro de agentes de leitura do Programa Arca das Letras no Espírito Santo. Além de reunir agentes de diversos municípios do estado para a troca de experiências de incentivo à leitura, o evento analisou o papel das bibliotecas rurais para o desenvolvimento comunitário e educacional das comunidades atendidas pelo programa. Durante o encontro, mais cinco bibliotecas rurais foram entregues. As 132 unidades existentes no estado já atendem mais de 9,5 mil famílias em 36 municípios.

O programa São Paulo: Um Estado de Leitores, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, aproveitou as comemorações do Dia Estadual da Leitura, celebrado pela primeira vez este ano, no dia 12 de outubro, para lançar um novo projeto: o PraLer – Prazeres da Leitura. A iniciativa é voltada a ações de divulgação do livro e da leitura e pretende eliminar barreiras sociais e geográficas entre pólos de cultura e a população. Para isso, vai espalhar atividades literárias por todo o estado, fomentando o interesse pela leitura entre crianças e jovens.

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Socialmente Responsável

Livros para multiplicar idéias Imprensa Oficial, editora do governo paulista, mantém selo para lançar publicações em conjunto com ONGs de todo o Brasil

De acordo com a Associação Brasileira das Organizações não Governamentais (Abong), existem cerca de 276 mil ONGs no Brasil. Os dados são de 2004, quando foi divulgado o estudo mais recente sobre o tema no País. Espalhadas por todo o território brasileiro, muitas dessas organizações vêm desempenhando importantes ações que poderiam servir de exemplo para outras iniciativas. Entretanto, na maior parte das vezes, esses trabalhos acabam não sendo conhecidos em outros lugares além dos seus limites de atuação. Partindo dessa idéia, a Imprensa Oficial, editora do governo paulista ganhadora de inúmeros prêmios e ativa participante de feiras nacionais e internacionais, teve a idéia de criar, em 2004, um selo para publicar livros em conjunto com ONGs de todo o País. Foi naquele ano, durante a 18ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que ela lançou o Imprensa Social. O selo dá oportunidade para que organizações não-governamentais divulguem suas experiências, metodologia e resultados. Os trabalhos que apresentem vínculos políticos ou partidários são descartados. Segundo Hubert Alquéres, presidente da editora, o apoio à impressão e divulgação desses trabalhos têm o objetivo de demonstrar que é possível transformar a realidade brasileira com dedicação e criatividade. Ele explica que a intenção é divulgar bons exemplos que possam ser multiplicados. “São livros de interesse público, com os quais a gente não tem lucro”, diz. 20

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Fotos: Divulgação

Hubert Alquéres O presidente da Imprensa Oficial explica que uma parte da tiragem fica com a própria ONG, que se encarrega da distribuição, e a outra com a editora, que distribui as obras para públicos específicos. De acordo com Hubert, o selo tem a meta de lançar até 30 títulos por ano, mas só não o vem fazendo por não receber projetos suficientes para isso. “A gente tem procurado divulgar mais vezes a iniciativa com o objetivo de receber mais propostas”, diz. A obra mais recente, lançada durante a Bienal do Livro deste ano, é Psique e Negritude - Os Efeitos Psicossociais do Racismo, realizada em parceria com o Instituto AMMA Psique e Negritude, de São Paulo. Voltado para educadores, psicólogos, trabalhadores

da área de saúde e militantes do movimento negro, o livro apresentada todas as etapas dos efeitos psicossociais do racismo. E além de dar oportunidade para que ONGs divulguem suas experiências, metodologia e resultados, muitos títulos publicados pelo selo já foram, inclusive, premiados. Em 2005, para se ter uma idéia, um dos vencedores do prêmio Jabuti na categoria Educação foi A Violência Silenciosa do Incesto, publicado pelo Imprensa Social em parceria com a Clínica Psicanalítica da Violência. A obra propõe o rompimento do silêncio da violência sexual incestuosa. Hubert diz que a grande surpresa no projeto da Imprensa Oficial foi comprovar o envolvimento da população na busca de soluções para problemas por vezes carentes de políticas públicas. “Há muita gente deixando de apenas receber passivamente as ordenações e decisões do governo para se tornarem eles próprios agentes da P mudança”, explica. Psique e Negritude Os Efeitos Psicossociais do Racismo, o último lançamento da Imprenssa Oficial


Ponto de Vista

O livro universitário como diferencial Valter Kuchenbecker Publicações das editoras universitárias disputam as prateleiras das livrarias como um grande diferencial para o leitor e para os livreiros

Foto: Aldrin Bottega

O papel das editoras universitárias continua sendo um papel estratégico. Além de editar o que dificilmente outros editores publicariam, pois trata-se, na maioria das vezes, de assuntos restritos, são elas que abrem novos caminhos, apresentam outras soluções, promovem o desenvolvimento tecnológico e científico. Outro papel fundamental das editoras universitárias é a sua responsabilidade social. A universidade é responsável, além da educação, pela definição de políticas que gerem a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Através das editoras, que seguem linhas editorias definidas por conselhos qualificados, os livros oferecidos ao leitor buscam contemplar esses conceitos. Conscientes desta enorme responsabilidade os editores acadêmicos tem-se inserido cada vez mais no mercado editorial global buscando ocupar espaços para divulgação e comercialização de seus livros, especialmente através da ABEU – Associação Brasileira das Editoras Universitárias que tem sido a facilitadora e promotora de muitos eventos. Grandes avanços já foram sentidos nos últimos anos, mas tem muito chão pela frente. As editoras universitárias também exercem papel de destaque na definição de políticas públicas para o livro e

leitura em curso no país. Trata-se de promover a cultura como um todo, em que os livros acadêmicos atuam como instrumentos fundamentais para efetivação de valores, de conceitos e de práticas culturais e científicas. São eles os catalisadores do saber entre a universidade e a sociedade. Vivemos um momento bastante positivo no mercado editorial. Atribuo isso, em parte, ao entendimento das lideranças do livro de que precisamos trabalhar, cada vez mais, de forma integrada e unida. Os profissionais do livro das áreas criativas, produtivas e distributivas precisam formar um só bloco em seus pleitos e projetos. Quanto mais unida for a classe, mais força teremos para transformar a comunidade numa sociedade de leitores e colocar o livro nas principais pautas políticas deste país. Não temos tempo a perder. Temos que deixar de concorrer entre os pares. Nossos concorrentes são os que trabalham com outros produtos que não seja o livro e que levam o nosso público leitor para outros interesses. Portanto, colegas do mercado editorial (editores, livreiros, autores e distribuidores) sigamos de mãos dadas para promover o que mais queremos e no que mais acreditamos para alcançarmos o status de país de primeiro munP do, ou seja, o livro e a leitura.

Valter Kuchenbecker Presidente da ABEU Diretor da Editora da ULBRA valterk@ulbra.br Novembro 2008

Panorama

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Cadeia Produtiva

Porta a porta

Motivos para comemorar Um almoço de confraternização marcou as comemorações pelos 21 anos da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL). O evento foi realizado em novembro, no Hotel Feller Avenida Paulista, em São Paulo. A entidade aproveitou a festa para apresentar os dados da 1ª Pesquisa Sobre o Setor Porta a Porta. Os resultados deveriam ter sido divulgados em agosto, durante a Convenção Nacional dos Difusores de Livro, em São Paulo, mas a greve dos Correios impediu o envio dos questionários aos 200 associados e acabou atrasando o cronograma. A ABDL espera um aumento na receita do segmento, que em 2005 movimentou R$ 780 milhões – 15% das vendas diretas

do setor livreiro naquele ano, incluindo a internet. A atuação dos 30 mil profissionais do ramo tem sido mais intensa nas periferias das grandes cidades e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde a presença de bibliotecas e livrarias é menor. No almoço foram premiados os vencedores do concurso literário O Amigo do Meu Melhor Amigo, lançado pela ABDL durante a última Bienal do Livro de São Paulo, com temática do mercado porta a porta, em duas categorias: 8 a 11 anos e 12 a 14 anos. As vencedoras em cata categoria foram Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissori e Juliana Teixeira de Oliveira, respectivamente.

Infantis

Leituras natalinas

Não há data mais significativa que o Natal para partilhar leituras e propiciar o contato da criança e do jovem com livros de qualidade. Essa é, ao menos, a opinião da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que realizou, em novembro, a terceira edição do projeto Natal com Leituras na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Além de sessões de leitura, o evento conta com performances de ilustradores e exposições. Pais e professores não ficaram de fora da programação e puderam contar com palestras sobre leitura e literatura. Um espaço para vender livros para presentear no final de ano foi montado no lugar. Além de ser gratuito, o Natal com Leituras, que tem o apoio do Instituto C&A, dá um livro de presente para cada criança ou jovem participante.

Livrarias

ANL distribui livros para crianças

A Associação Nacional de Livrarias (ANL), em parceria com o Instituto Terra, Trabalho e Cidade (ITTC), arrecadou mais de 5 mil livros para crianças carentes. O trabalho foi desenvolvido com a pastoral carcerária do qual a ONG ITTC também é responsável. As obras foram distribuídas durante as festas em comemoração ao Dia da Criança, no dia 12 de outubro. O objetivo da ANL, com a ação, é contribuir com o incentivo à leitura entre os pequenos, levando até eles o acesso ao mundo dos livros. As obras foram entregues pelo ITTC às mães que se encontram no Presídio Feminino de Santana, na Penitenciária Feminina da Capital e no Centro de Atendimento Hospitalar da Mulher Presa, todos em São Paulo. Os livros foram entregues para as próprias mães presentearem seus filhos no Dia das Crianças. 22

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Editores Novo site do Snel no ar

Já está no ar o novo site do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). No ano em que comemora 66 anos de sua fundação, a entidade reformulou totalmente a sua página, adotando um visual mais moderno e um sistema de navegação mais rápido. Editores associados ao Snel têm acesso, por meio do site, a pesquisas, cadastramento de vagas de emprego e solicitações de fichas catalográficas, entre outros serviços. A decisão de modificar o antigo site partiu da nova diretoria, presidida por Sônia Machado Jardim. Agora, o Snel se concentra nos preparativos para a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que acontece em setembro do ano que vem.

Gráficas Denúncia leva a apreensão de livros na Bahia

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica em São Paulo (Abigraf São Paulo), Fabio Mortara, prevê um crescimento pelo menos 25% menor em 2009 que neste ano no setor. Se para 2008 a expectativa é crescer 2% graças, principalmente, ao bom desempenho da área de livros, jornais e revistas, a previsão de crescimento para 2009 está entre 1% e 1,5% por conta dos reflexos da crise financeira mundial. Apesar de algumas editoras estarem postergando lançamentos de livros, a Abigraf acredita que eles serão retomados e, aos poucos, o cenário deve mudar. As exportações da indústria gráfica também estão sob os impactos da crise.

Instituições Reconhecimento para professores

O Instituto Pró-Livro é um dos parceiros do Ministério da Educação (MEC) na 3ª edição do Prêmio Professores do Brasil. O objetivo da iniciativa é valorizar práticas pedagógicas inovadoras, desenvolvidas por professores de escolas públicas, que tenham contribuído para a melhoria da qualidade da educação. Serão premiados 40 professores de todas as etapas da Educação Básica – Infantil, Fundamental e Médio. Os vencedores receberão um prêmio de R$ 5 mil, diploma e troféu. A escola do professor agraciado também será contemplada com R$ 2 mil em equipamentos. A premiação acontecerá em dezembro.


Didáticos Denúncia leva a apreensão de livros na Bahia

Uma denúncia realizada no site da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) levou à apreensão de dois mil livros de Ensino Médio e Fundamental em três sebos e seis copiadoras de Salvador. A Polícia Civil da cidade realizou duas operações, uma em livrarias e outra em copiadoras. Dos dois mil livros apreendidos, 511 eram de uso exclusivo do professor e o restante eram cópias integrais de obras. De acordo com o advogado da Abrelivros, Dalizio Barros, o prejuízo financeiro e intelectual referente aos livros apreendidos é de R$ 20 milhões de acordo com os direitos autorais previstos no artigo 184 do Código Penal.

Universitário Mais espaço para editoras universitárias

O presidente da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu), Valter Kuchenbecker, esteve na Colômbia, em outubro, promovendo livros brasileiros na 14ª Feria Del Libro Pacifico, em Cali. Kuchenbecker aproveitou para participar de debates em torno de idéias para divulgar melhor a produção dos livros universitários produzidos na América Latina e no Caribe. O objetivo é articular um intercâmbio entre a Abeu e suas congêneres de outros países da região. Além da ampliação dos espaços das editoras universitárias nas próximas feiras de livro, a entidade debateu a criação de linhas editoriais para aumentar as traduções desses editores.

Regionais Ceará Debate sobre políticas do livro e leitura

Dirigentes da cadeia do livro no Nordeste aproveitaram a Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizada em novembro, em Fortaleza, para organizar um ciclo de debates sobre políticas públicas do livro e da leitura com um foco mais ajustado às questões da região. Quem fez as convocações para a 3ª Convenção de Editores e Livreiros do Nordeste, dentro da programação paralela da feira, foi o Ministério da Cultura, o Fórum dos Secretários Estaduais de Cultura do Nordeste, a Secretaria de Cultura do Ceará, a Câmara Cearense do Livro e o Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado. O Ceará tem liderado as discussões sobre a necessidade de maior regionalização dessas políticas.

Distrito Federal Chuva de Poesia vira livro

No dia 19 de junho, para abrir as atividades da 27ª Feira do Livro de Brasília, a Câmara do Livro do Distrito Federal (CLDF) promoveu a Chuva de Poesia, evento que lançou poesias penduradas em balões no céu da capital do País. Agora, a entidade reuniu os versos no livro Chuva de Poesia, lançado pela editora Thessaurus. A obra foi organizada pelo presidente da CLDF, Valter Silva, e traz textos de poetas de Brasília e de outros lugares do Brasil. A publicação, que tem tiragem limitada, é gratuita para os brasilienses que acharam as poesias e estão de posse do cartão lançado nos céus da capital em junho.

Rio Grande do Sul Ciclísmo literário

Em sua 54ª edição, a Feira do Livro de Porto Alegre virou também um lugar de esporte. Isso porque, entre as inúmeras atrações e novidades do evento, a Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) organizou, em parceria com a Associação Ciclística da Zona Sul (ACZS), o 1° Passeio Ciclístico da feira. Apesar deste ser o primeiro passeio organizado com a ACZS, já houve, há alguns anos, um outro do qual participaram vários escritores. Na ocasião, cada inscrito entregou um livro para ser doado a uma biblioteca comunitária. Este ano, a iniciativa foi repetida e os livros doados a escolas públicas da cidade. Cerca de 80 pessoas participaram do evento.

Minas Gerais Literatura na capital mineira

Durante sete dias de novembro, o Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, famoso por receber grandes espetáculos de artistas nacionais e internacionais, abriu espaço para o mundo dos livros. É que o lugar sediou a 9ª edição do Encontro das Literaturas, promovido pelo Clube de Editoras Mineiras em parceria com a Fundação Municipal de Cultura. Este ano, o evento abordou literatura popular, lendas e literatura de cordel. O encontro contou com feira de livros, palestras, bate-papos, exposições, oficinas e apresentações artísticas. As atividades do encontro, gratuitas, promovem reflexões sobre as obras de diversos autores.

Maranhão Feira capacita educadores

No ano em que se celebra o centenário da Academia Maranhense de Letras, a 2ª edição da Feira do Livro de São Luís, realizada em outubro com o apoio da Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão (Alem), decidiu ampliar a Casa do Professor, espaço dedicado à capacitação de educadores nas áreas do livro e da leitura. Com palestras, mesas redondas, relatos de experiências, rodas de leitura e oficinas, entre outros, o espaço abriu 3,1 mil vagas divididas em 71 atividades. O número é maior que o do ano passado, quando foram realizadas 37 atividades de capacitação, com a participação de 1.255 educadores.


Foto: Karlis Smits

Boa Idéia

Dorina lendo

UMA LUZ PARA A LEITURA Com a produção de obras em Braille e formatos digitais, a Fundação Dorina Nowill leva o mundo da leitura a deficientes visuais de todo o Brasil Desde que foi publicada pela primeira vez, em 2005, a história da adoção de um cão labrador por um jovem casal nos Estados Unidos conquistou milhares de fãs em todo o mundo. Mas foi no ano passado, em São Paulo, que a saga narrada pelo americano John Grogan em Marley & Eu conquistou uma leitora especial. “Curti bastante”, sorri Rita de Cássia Martins de Araújo, de 27 anos. Ela foi uma das responsáveis pelo trabalho que tornou o best-seller acessível a quem não pode enxergar. Há mais de dois anos, Rita, que é

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deficiente visual, passa os dias lendo, com a ponta dos dedos, livros que serão distribuídos gratuitamente para mais de 1,7 mil bibliotecas, escolas e organizações de todo o Brasil. Seu trabalho é revisar as obras produzidas em Braille, na Fundação Dorina Nowill para Cegos. “É muito gratificante saber que outras pessoas vão poder ler esses livros que passam pela minha mão”, conta. Antes de serem impressos, os livros são submetidos a duas revisões, realizadas por profissionais cegos, acompanhados por voluntários com visão nor-

mal. Rita chega a revisar, em um único dia, cerca de 200 páginas. Ao todo, dez pessoas fazem o mesmo trabalho na instituição criada há 62 anos pela paulistana Dorina de Gouvêa Nowill e um grupo de amigas. Ali são fabricados, todos os dias, os livros didáticos, paradidáticos, bestsellers e literários para alunos cegos de todo o País. Além do Braille, a fundação produz obras em áudio e livros acadêmicos e de referência, no formato Livro Digital Acessível (Lida), que consiste em uma ferramenta de leitura di-


Fotos: Karlis Smits

Conferência impressão

gital em CD-ROM. O sistema permite à pessoa cega ou com visão subnormal acesso a obras destinadas ao estudo e à pesquisa. Esse sistema de leitura também já está sendo desenvolvido pela instituição no formato Daisy, uma evolução do Lida compatível com os protocolos internacionais de acessibilidade. O novo formato possibilita que um ou mais arquivos de áudio, gravados em voz humana ou sintetizada, sejam reproduzidos por meio de um aplicativo específico de leitura instalado no computador ou por equipamentos especiais importados, semelhantes a aparelhos de som com CD. De acordo com o gerente editorial da Fundação, Roberto Gallo, a Dorina Nowill é a imprensa Braille com a maior produção da América Latina e uma das maiores do mundo em termos de capacidade produtiva. No final de outubro, cerca de 15 especialistas de outros países participaram de um en-

contro latino-americano de livros digitais acessíveis, sediado pela fundação. O objetivo é formar um consórcio com os países da região para a produção de livros digitais no formato Daisy. “É um passo enorme que a fundação está dando na questão do livro digital acessível”, afirma o gerente editorial. Roberto Gallo também chama a atenção para o aumento no número de livros adaptados. Em 2005, 127 títulos foram produzidos na Dorina Nowill. Este ano, serão 1065 nos formatos Braille, áudio e digital. “Em três anos, aumentamos oito vezes nossa produção”, diz. A fundação ainda conta com uma biblioteca circulante com mais de 900 títulos disponíveis nos formatos MP3 e digital. Coisa de quem realmente acredita no livro e na leitura como caminho para a inclusão social e trabalha, diariamente, para ampliar essa oportunidade a milhares de deficientes visuais de P todo o Brasil.

Leitura adulto Novembro 2008

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Foto: Fanca Cortez

Outras Capa Mídias

Programa de livros

Desde 2003, o universo literário tem destaque na programação da SescTV. Com 88 edições gravadas, o programa O Mundo da Literatura está entre os mais assistidos e comentados da emissora educativa, que tem como objetivo formar um acervo audiovisual de cultura. Porém, o diretor-executivo do canal, Valter Vicente Sales Filho, diz que a emissora está trabalhando na criação de um programa sobre a língua portuguesa, cujo principal foco será a criação literária, que deverá substituir O Mundo da Literatura. Enquanto isso não acontece, o público ainda pode conferir as reapresentações da atração às segundas, quartas e sextas, às 13h, e também aos sábados, às 14h00 e às14h30.

O Livro na Internet

Bookcrossing tropical A mensagem na etiqueta já avisa que o livro encontrado não é um presente. Para prosseguir com a brincadeira, o leitor assume o compromisso de passá-lo adiante após a leitura, deixando-o em um local público onde possa ser encontrado por um novo leitor. Assim, inspirado no projeto americano Bookcrossing - que estimula as pessoas a abandonarem livros em lugares públicos -, o Livro Livre, lançado durante a Flip deste ano, vem conquistando cada vez mais seguidores no Brasil. Iniciativa de Pedro Markun, idealizador do site de opiniões Jornal de Debates, o projeto parte do mesmo princípio que o original: lugar de livro é nas mãos de quem vai saber aproveitálo. Para participar, basta se cadastrar no site livrolivre.art.br.

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Foto: Isabel D’Elia

O livro na TV

revista O livro em

uem Leitura para q

educa

s especiais ensais, ediçõe m s õe aç ic bl u o Paulo, Entre p gmento, de Sã Se a or it ed a erentes núe anuários, ididos em dif iv d s lo tu tí isa é certa: publica 17 mas, uma co te os nt ta re tão do livro cleos. Ent ucação, a ques ed é o nt su as s pautas. quando o a garantida na nç se re p m te ção, criae da leitura vistas, a Educa re as su e d e is da área Mais célebr da a profissiona na io ec ir d e a deixa de da em 1997 o Básico, nunc in ns E e d al lo é dado educacion o bom exemp tr u O a. m te e recorre, abordar o Portuguesa, qu a gu ín L a st es escritores pela revi ras de grand ob às , re p m quase se brasileiros.


Acordo ortográfico: O impacto da mudança Por Matilde Leone Agência Brasil Que Lê

Editoras, escritores, sistemas de ensino e de comunicação se mobilizam para implantar as novas regras estabelecidas por lei

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Capa

Fotos: Divulgação

A jornalista Vera Vieira vai começar a redação de sua tese de doutorado nos primeiros meses de 2009 sobre o impacto das tecnologias de informação e comunicação nos processos de educação não formal com mulheres. Um trabalho de fôlego, que desenvolve na ECA/ USP, de São Paulo, com o rigor gramatical exigido em todos os trabalhos acadêmicos. Vera não tem dúvidas: vai escrever conforme rezam as regras do novo acordo ortográfico, embora os brasileiros tenham prazo até 2012 para se adaptarem. “Gosto muito da língua portuguesa, e sempre fiz questão de conhecer todas as regras da ortografia e da gramática”. Excluir acentos, tremas e outros itens pode parecer sem sentido, à primeira vista. Mas, os objetivos das alterações vão além de mudar a ortografia de 0,5% da língua portuguesa. Mesmo com tão poucas alterações, a mão de obra é grande e a discussão entre os acadêmicos não se encerra com a portaria assinada pelo presidente Lula. “As mudanças são significativas, sim, mais pelo que elas representam de intenção (uma resposta ao mundo globalizado) do que pela alteração concreta”, avalia a professora Maria Helena Moura Neves, doutora em letras Clássicas e docente da Unesp Araraquara. Para ela, algumas mudanças são simplificadoras. “O documento não vem com a clareza e a completude suficien-

A jornalista Vera Vieira tes para que possamos dizer que já sabemos como todas as palavras vão ser escritas”, diz. No entanto, vê como necessária a unificação da língua dos oito países ditos lusófonos. “Dado o fato de que há, no momento, duas ortografias ‘oficiais’ portuguesas: uma no Brasil e outra em Portugal (esta, seguida pelos demais países), isto é uma aberração. Há um histórico de frustrações no empenho dos dois países para um regramento comum da forma de grafar as palavras”. O escritor Godofredo de Oliveira Neto presidente do Conselho Diretor do IILP – Instituto Internacional de Língua Portuguesa - e professor de literatura brasileira na Universidade Fe-

deral do Rio de Janeiro, acaba de lançar o romance Marcelino, pela editora Antiga, escrito ainda pelas normas antigas ( sem trocadilho), e na próxima edição, ele terá de adaptar o livro às novas regras. O Instituto, com sede em Cabo Verde, é um órgão da comunidade dos países de língua portuguesa, criado com a idéia de incentivar e potencializar as relações entre os oito países com base na língua oficial. Para Godofredo, num mundo globalizado, a idéia de formar um bloco lusófono é importante, pois com a unificação, ele se fortalece junto a órgãos internacionais como a ONU. “Não se trata de um capricho, mas de ganhar status e poder, e até pleitear, ser uma língua oficial da ONU”, acredita. Além disso, o escritor atenta para o fato de que a produção de conhecimento científico dos países também sai fortalecida por meio da língua. Outra questão citada por ele é da unificação da língua poder facilitar a circulação de livros nos países lusófonos, e isso poderá ser visto como um suporte fundamental para a diminuição do analfabetismo funcional. Quanto às mudanças, diz que existem paixões pelo trema, mas lembra que Portugal aboliu o sinal há décadas. “A gente se acostuma, a língua mexe com o emocional das pessoas”, diz.

Na escola Especialistas na língua de Camões são unânimes em afirmar que não haverá problemas de adaptação para as escolas. “Quanto ao trabalho do professor, nada há de muito radical nas mudanças. Está havendo muito barulho quanto a algumas alterações na acentuação, mas estas são bastante restritas e são facilmente assimiláveis”, diz Maria Helena. Douglas Tufano, de Jundiaí, professor e autor de livros didáticos e paradidáticos na área de Português e Literatura, concorda que as mudanças irão afetar um número muito pequeno de palavras. “Além disso, como a O escritor Godofredo de Oliveira Neto

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Foto: Divulgação

Reforma só elimina acentos, não deve provocar dificuldades para a grande maioria das pessoas”, afirma. Diz que, como escritor, a adaptação será fácil e rápida, mas como professor, vai sentir falta do trema e do acento nas palavras com “éia”, como idéia, platéia etc. “Esses sinais ajudam o aluno a aprender sozinho a pronúncia das palavras. Agora, ele vai ter de aprender ouvindo outras pessoas. No caso do trema, devem surgir dúvidas quando se trata de palavras pouco usuais, como exequível, quinquênio, etc”, pondera. Por quê? “Nessas palavras o U é pronunciado ou não? A simples presença ou não do trema já dava a resposta. O mesmo vai acontecer com o fim do acento no grupo éia. O acento indicava a pronúncia aberta. A ausência do acento indicava a pronúncia fechada. O acento orientava o leitor a aprender sozinho a pronúncia correta dessas palavras. Ele acha estranho a eliminação do

História do acordo José Pereira da Silva, 63 anos, filólogo e professor de Filologia e Língua Portuguesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, conta que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa tem uma história relativamente longa, desde que a Academia Brasileira de Letras tentou a Reforma Ortográfica em 1907 e a reforma efetivada em Portugal em 1911.“Na verdade, a reforma de 1907 nunca foi efetivada nem mesmo pela própria ABL”, diz. “Também não houve acordo em 1911 por Portugal ignorar a existência da língua portuguesa no Brasil. Isso causou certo constrangimento aos brasileiros, mas motivou a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras a buscar um acordo para unificação ortográfica; o que resultou no acordo celebrado em 1931”, diz. Esse acordo de 1931, segundo José Pereira, não teve qualquer valor. “As academias continuaram a buscar uma unidade ortográfica e, em

sa e omissa em alguns pontos, deixando margem a interpretações conflitantes. “O jeito é esperar a publicação do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), que é de responsabilidade da Academia Brasileira de Letras. Esse vocabulário mostrará a grafia correta de todas as palavras”, espera. Para ele, o VOLP foi prometido para o começo de 2009, quando já deveria estar pronto, para evitar confusões e discussões inúteis. Mas, pelo prazo, acredita que o acordo entre em vigor sem a publicação do Vocabulário Oficial. Luciana Pinsky, editora da Contexto

Revisores e tabelas

acento em pára (verbo parar) e não em pôr. “Trata-se de casos idênticos - pára (verbo) / para (preposição) e pôr (verbo)/ por (preposição). De resto, não vê dificuldade, mas identifica um problema na redação do acordo, que classifica como confu-

Na dianteira, a Editora Contexto lançou este ano o livro Para entender o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, escrito pelo professor Maurício Silva, especialista em ortografia, professor de Literatura Brasileira e coordenador da pós-graduação na Universidade Nove de Julho, em

1943, foram aprovadas as “Instruções para a elaboração do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, que é o que regulou a nossa ortografia até hoje. Em 1945, houve o segundo acordo ortográfico, assinado pelos portugueses e pelos brasileiros. Mas foi tamanha a insatisfação entre os brasileiros que o governo resolveu não implantar o acordo. Em 1971, foi publicada uma lei que fazia pequenas simplificações na acentuação gráfica para unificar a ortografia brasileira com a portuguesa. Em 1973, também sem o caráter de “acordo”, os portugueses fizeram pequenos reajustes, igualando a acentuação gráfica também com o mesmo objetivo de unificar a ortografia da língua. Os debates continuaram e, em 1986, houve um terceiro acordo ortográfico, muito mais intenso que o atual, mas, devido a fortes manifestações contrárias, principalmente em Portugal, não foi implantado. Outras negociações levaram a um novo acordo em 1990, mais tolerante. Quando aprovado, o acordo foi programado para ser implementado a

partir de 1994, mas foram estabelecidos alguns entraves burocráticos que acabaram dificultando essa implantação, visto que não foram cumpridos pelos países signatários. Só em 1995 o Congresso Nacional Brasileiro aprovou esse acordo”, diz. Com a modificação que estabelecia a data de entrada em vigor, foi incluído também o novo país que se tornara independente, Timor Leste, e foi estabelecido que entraria em vigor no primeiro dia do mês seguinte àquele em que pelo menos três dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa concluíssem o processo burocrático para sua aprovação, o que ocorreu em dezembro de 2006. Portanto, a partir do primeiro dia de 2007 o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa está em vigor”. No dia 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras, o Presidente Lula assinou o decreto que promulga o Acordo, estabelecendo o seu cronograma de implementação, que irá de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2011. Novembro 2008

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Capa Foto: Pith Raiduck

São Paulo; tem doutorado e pós-doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo, é pesquisador do Instituto de Pesquisas Lingüísticas Sedes Sapientiae para Estudos de Português (PUC-SP) e autor de diversos livros e artigos acadêmicos. “O português do Brasil, com suas variantes regionais, é bem mais vocálico do que o de Portugal, mais consonantal. Nós achamos que eles “engolem” letras. Eles acham que nós falamos “descansadinho”. Mas, se não chegarmos a um consenso sobre a forma de falar, seria possível ao menos um acordo sobre como escrever?”, questiona lembrando que esse é o objetivo do novo Acordo. Para se adaptar às novas regras, a Contexto começou a se preparar desde que o acordo foi constituído. “Nossa revisora estudou profundamente todas as mudanças e criou uma tabela para ser usada por ela, pela produção em geral e pelos demais colaboradores na área de texto. Os autores também passaram a receber a tabela junto com o manual modificado. Os funcionários da área de produção que li-

Decretos e datas de implantação No Brasil, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, com as modificações posteriores, foi transformado em Decreto Nº 6583, assinado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva e por Celso Luiz Nunes Amorim, em 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras. O Decreto foi publicado no Diário Oficial da União, Brasília, em 30 de setembro de 2008, Ano CXLV Nº 189, Seção 1, pág. 1-9. ISSN 1677-7042. No Anexo I, pág. 2 a 6, consta o Acordo Ortográfico de 1990. No Anexo II, pág. 6 a 9, consta uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em que aparecem as justificativas e as modificações. Em seguida, vem o Decreto II, Nº 6.584, de 29 de setembro de 2008 que promul30

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A imprensa e os dicionários

dam com texto também estudaram a tabela”, afirma Luciana Pinsky, editora da Contexto. Segundo Luciana, todos os livros que iniciaram a produção no fim de 2008 já estão adaptados ao novo acordo. Tudo isso envolve custos, mas a editora pensa na alteração também como uma boa oportunidade editorial. “Fomos a primeira editora a lançar um livro explicando cada mudança e como isso altera o cotidiano de quem lida com a escrita”, afirma.

É lendo que se aprende a escrever melhor. Esse conceito é repetido pelos professores do ensino fundamental à universidade. E grande parte da leitura é feita em jornais e revistas. Por isso, a imprensa não deve esperar até 2012 para abandonar o trema e alguns acentos. O jornalista e editor-assistente de treinamento da Folha de São Paulo Fábio Monteiro Chiossi, 34 anos, explica como o jornal está se preparando para as mudanças. “A Folha distribuiu para todos os seus jornalistas o livro “Escrevendo pela Nova Ortografia”, publicado pelo Instituto Antônio Houaiss e pela Publifolha. Todos os jornalistas da empresa estão fazendo um minicurso de duas horas sobre o que muda com o novo acordo ortográfico”. De acordo com Monteiro, a Folha vai aplicar as novas regras a partir de 1º de janeiro de 2009. Para ele, o acordo não causa problemas aos jornalistas, “mas as novas regras só serão aplicadas automaticamente com o tempo, pois é preciso praticar para que o novo conhecimento fique bem sedimentado”.

ga o protocolo modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Praia, em 17 de julho de 1998. Depois, o Decreto 6.585 de 29 de setembro de 2008, que dispõe sobre a execução do segundo protocolo modificativo ao Acordo O. LP, assinado em São Tomé, em 25 de julho de 2004. O protocolo foi decidido na V Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em 26 e 27 de julho de 2004. O Decreto 6.586 de 29 de setembro de 2008 dispõe sobre a implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. De acordo com os decretos acima, as novas regras do Acordo Ortográfico começam a vigorar a partir de 01 de janeiro de 2009. Até 2012, a ortografia antiga será permitida em concursos públicos, vestibulares e provas escolares, livros e na imprensa, em geral. A partir de janeiro de 2013, serão corretas apenas as novas grafias das palavras. Até o final de 2009, o FNDE (Fundo Nacio-

nal de Desenvolvimento da Educação) – MEC irá substituir os dicionários nas escolas públicas (cerca de 10 milhões de livros – cerca de 90 milhões de reais). A partir de 2010, os alunos do Ensino Fundamental básico (de 1ª à 5ª séries) passarão a ter os livros didáticos com a nova ortografia. A partir de 2010, todos os livros didáticos adquiridos pelo governo deverão ter na nova ortografia. No Brasil, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990 (Decreto Nº 6583 – onde constam as novas bases), com as modificações posteriores, foi transformado em Decreto de Nº 6.586, de 29 de setembro de 2008, o qual dispões sobre a implementação do AOLP. O Acordo Ortográfico deverá ser implementado por todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste.

Emerson Santos, diretor da Editora Positivo


Fotos: Divulgação

Ana Estela de Sousa Pinto, editora de treinamento do jornal, diz que vai ter um pouco mais de trabalho até decorar as novas regras. “Como em toda mudança, mas isso passa logo e não afeta o principal da nossa profissão, que é apurar direito e escrever um bom texto”, afirma. Diferente de países como Inglaterra e França que atualizam as edições de seus dicionários anualmente, o mercado lexicográfico no Brasil é mais lento para acrescentar novas palavras. O “Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa” publicou sua última edição em 2006, enquanto a última reedição impressa do “Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete” aconteceu em 1987. Emerson Santos, diretor da Positivo, afirma que a editora adaptou o mini Aurélio no segundo semestre de 2008, e que todas as novas edições lançadas a partir de agosto de 2008 já estão de acordo com a reforma. O trabalho, segundo Emerson, envolveu 20 profissionais em todo o processo. Diz que, do ponto de vista editorial, o impacto da reforma ortográfica já se iniciou, pois, com a obrigatoriedade, as editoras tiveram em torno de três meses para ajustar todas as suas publicações inscritas no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). “Além disso, temos a adaptação da nova ortografia nas turmas de alunos que acabaram de aprender a ortografia nas regras anteriores. É muito difícil dimensionar o impacto, mas certamente o trabalho está sendo intenso para incorporá-lo em todas as esferas que envolvem a educação”, afirma.

Eduardo Campos, gente geral da Microsoft siderável e complexo apesar de mexer com apenas 0,5% do léxico. Alterar dicionários é rápido. Demorados são os testes”, afirma. O gerente geral da Microsoft, diz que existem terminologistas e tradutores nos Estados Unidos trabalhando nas ferramentas de correção ortográfica. “Queremos garantir que tudo esteja adequado, corrigido e ajustado e que a atualização seja disponibilizada bem antes de 2012”, diz Eduardo. “Essa atualização poderá vir dentro de um service pack, pacote de atualizações, que acontece de tempos em tempos nos produtos, ou, eventualmente, pode até haver uma atualização específica para o Office do Brasil”, afirmou Campos.

Críticas Discussões sobre a eficácia das mudanças não vão mudar o que já está es-

O Acordo e a informática Aposentada há décadas a máquina de escrever, não deve haver um profissional da escrita que não utilize o computador, e um dos impactos do acordo ortográfico será sentido na informática. Como os programas e ferramentas de apoio como vão ficar? Segundo Eduardo Campos, gerente geral da Microsoft, a empresa está fazendo uma revisão do office 2007 e as futuras versões sairão dentro das novas regras. “Vai ser gratuito para todos os usuários do office 2007”, diz. “Demanda trabalho con-

O professor Luís Carlos Cagliari

tabelecido, mas ainda restam algumas críticas ao acordo, como as do professor Luís Carlos Cagliari, da Unesp de Araraquara. Ele afirma que as reformas ortográficas têm sido feitas sem o conhecimento científico do que vem a ser a ortografia. Para ele, unificar a ortografia é um equívoco porque, apesar de seguir regras de uso, tiradas de uma tradição, a ortografia, como a linguagem, em geral, sofre transformações no tempo e no espaço. Ele não acredita em mudanças rápidas. Afirma que, com relação às pessoas cultas, a reforma começa logo, por força social, mas quanto à escola é sempre um problema grande para os professores e menor para os alunos. “Eles estão ainda aprendendo e podem aprender qualquer coisa, não precisam modificar nada que sabiam antes, dependendo do grau de escolaridade”. O filólogo José Pereira da Silva, da Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro, acha que ninguém, em lugar algum, está preparado para mudanças no ensino, pois sempre são um aumento de trabalho para os professores, e é algo demorado que acarretará um grande trabalho de reestruturação mental dos próprios docentes, incicialmente, e um pequeno, mas também dificultoso trabalho para os estudantes que já começaram a aprender no formato antigo. “Os bons professores estarão preparados antes de terem de repassar a seus alunos as informações novas”, diz. Mas, considera que as regras que alteram a ortografia da língua portuguesa cabem todas em uma ou duas páginas de qualquer livro. “Um professor que não conseguir fixar regras simples (que podem ser ensinadas até a um aluno de ensino fundamental) em algumas horas, é melhor que deixe o magistério ou volte a ensinar no século passado”, avalia. Quanto ao povo, Cagliari é mais pessimista ainda: “Muitos continuarão escrevendo fora de qualquer padrão tradicional ou imposto por lei”. Como tudo que é novo provoca polêmicas, com o acordo não é diferente e ainda vai causar muitas discussões, mas o certo é que todos se mobilizam P para cumprir a lei. Novembro 2008

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Políticas Públicas

Tribos de leitores MEC distribui livros elaborados por educadores indígenas nos cursos de formação de professores; obras valorizam as culturas e ajudam a preservar as línguas Os antepassados do povo ticuna, maior nação indígena do Brasil, usavam uma planta chamada wotcha para limpar os dentes. Para a função de fio dental, lançavam mão do fio de tucum, produzido a partir das folhas da palmeira de Tucumã. A história é contada no Livro de Saúde Bucal, criado por professores ticunas, habitantes das aldeias do Alto Solimões, no Amazonas, para ensinar os alunos como e por que cuidar dos dentes. A obra, que também aborda a importância dos alimentos e da mastigação para a boa saúde, integra uma série de 42 livros que

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Ministério da Educação produziu para distribuir este ano. Os livros foram elaborados nos cursos de formação de professores indígenas, pelos próprios educadores, para usarem posteriormente em sala de aula. Além das matérias tradicionais, as obras tratam de temas como línguas, ritos, lendas e a literatura indígena, além de focar as questões ambientais. A tiragem dos livros varia entre mil e dez mil exemplares, segundo as matrículas registradas pelo censo escolar. A primeira remessa, com 17 títulos, foi entregue entre junho e julho em escolas públicas de aldeias do Mato Grosso,

Amazonas, Amapá, Pernambuco e Maranhão. O restante, cuja entrega estava prevista para acontecer até o final do ano, continua em fase de produção, de acordo com a coordenadora da Comissão Nacional de Apoio à Produção de Material Didático Indígena (Capema), Márcia Blanck. Ela diz que as obras serão distribuídas até o primeiro semestre de 2009. Para a escolha dos livros, foram enviados à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do MEC, em 2006, 64 projetos. A Capema, que funciona dentro da Secad, foi responsável por selecionar 42 deles.


Reprodução/ Arte: Pequeno catálogo literário de obras de autores indígenas

Composta por 16 membros, pema veio estruturar essa demanda”, a Capema, criada em 2005, reúne explica o escritor Daniel Munduruku, representantes da Fundação Nacional autor de mais 30 livros que já vendedo Índio (Funai), da Comissão Nacioram cerca de um milhão de exemplares, nal de Educação Escolar Indígena e em sua maioria com temáticas voltadas de organizações indígenas. De acordo para índios. com a sua coordenadora, os livros disEm línguas maternas, português tribuídos pelo MEC valorizam a cultuou bilíngüe, as obras distribuídas agora, a identidade e as línguas indígenas, ra pelo MEC abordam diferentes terespeitando, sobretudo, as diferenças mas como mitologia, lendas, histórias, entre os cerca de 200 povos espalhameio ambiente, literatura, matemátidos por todo o território brasileiro. “O ca, atividade econômica, modelos de Brasil tem 174 mil estudantes indígenas construção de casa e calendários, entre e esses livros são distribuídos desde o outros. Para Munduruku, que em 2006 Ensino Fundamental até as Licenciaturas. São povos diferentes que falam cerca de 180 línguas e dialetos”, explica Blanck. A decisão de usar as línguas maternas como fontes de cultura e vínculos com a história e a trajetória dos antepassados é resultado de uma série de transformações que vem ocorrendo já há alguns anos dentro das políticas de educação praticadas pelo MEC junto aos povos indígenas. Isso porque, até os anos 80, a educação O escritor Daniel Munduruku nas aldeias acontecia em escolas similares às rurais, que funfoi o responsável por entregar o Macionavam como uma extensão do monifesto do Povo do Livro ao presidendelo existente nas cidades. Não existia te Luiz Inácio Lula da Silva, as obras um material específico para os índios e distribuídas pelo governo respeitam não era exigido curso superior dos seus a diversidade da população de índios professores. brasileiros. “Cada povo tem uma históA partir dos anos 90, no entanto, ria e uma dinâmica social diferenciada. uma série de modificações foi impleCabe ao governo possibilitar que cada mentada para tentar modificar essa regrupo reforce a sua própria identidade alidade. Depois da substituição do moancestral”, explica. nitor indígena por um professor apto à Muitos conhecimentos que estão nos alfabetizar e educar esses povos, crioulivros foram recolhidos em trabalhos de se a necessidade de um material que pesquisas feitos por professores junto a atendesse às suas necessidades. “A Cacaciques, pajés e anciãos das aldeias. As

pesquisas resgatam desde o vocabulário até cantigas, lendas e histórias. Desde o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, a responsabilidade pela reprodução dos livros para as escolas indígenas passou a ser das secretarias estaduais de educação, apesar deles continuarem sendo selecionados e custeados pelo MEC. Dos 24 estados que têm população indígena, 18 tiveram recursos aprovados nos Planos de Ações Articuladas (PAR) para a reprodução de livros. O repasse do ministério Foto: Fanca Cortez para essa finalidade, em 2008, é de R$ 6,3 milhões. O coordenador da Educação Escolar Indígena da Secad, Gersem dos Santos Luciano Baniwa, acredita que as obras em língua materna ajudam os povos a recuperar a autoestima. “Elas valorizam as culturas e ajudam a dar visibilidade à diversidade do País”, explica. Sobre a preservação das línguas, ele diz que isso pode acontecer de muitas formas e cita o exemplo do seu povo, o baniua, que habita terras em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Ele conta que para conquistar os baniua no começo do século 20, missões evangélicas e protestantes aprenderam a língua e traduziram a bíblia e os cantos. “Hoje, a língua baniua é uma das mais documentadas em livros e dicionários. Junto com as línguas tucano e neehngatu, o baniua é língua co-oficial do município de São Gabriel da Cachoeira desde 2006”, P afirma Gersem.

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Mercado & Tendências

Com um pé atrás O abalo na economia mundial ainda não causou grandes problemas no mercado editorial, mas os livreiros estão apreensivos e cautelosos

A crise que os Estados Unidos atravessam começou com inúmeras dívidas não pagas no mercado imobiliário e desenrolou em uma queda no mercado de ações, no câmbio e, conseqüentemente, no crédito, o que passou a ser uma das maiores preocupações de economistas e empresários. Os efeitos podem ser sentidos em todo o mundo, pois o problema afeta todos os setores do mercado, inclusive o editorial. “A restrição de crédito tem realmente causado impacto nos negócios. Observamos nosso custo financeiro subir na casa de 20% além de verificarmos o enxugamento das linhas de crédito. Se até recentemente tínhamos livre trânsito no mercado bancário, com opção de escolher a instituição financeira, hoje já sentimos a falta de crédito”, afirma

Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro. A editora já foi informada por dois dos maiores bancos do país que não estão liberando crédito e não possuem linha para oferecer. Cristina diz que os demais bancos vivem um dia de cada vez, evitam negociar taxa de juros e não se comprometem em concessões de crédito por prazo superior a seis meses. “Em julho, negociamos a importação de um equipamento de R$2,5 milhões, que está previsto para embarcar em dezembro para o Brasil. Certamente a crise também impactará nesta operação, seja pela elevação do euro, seja pela elevação da Libor – London Interbank Offered Rate - (taxa de juros da Europa), seja pela redução do prazo de financiamento”, diz, apreensiva. Foto: Divulgação

A gerente financeira teme que a que a restrição de crédito possa ir além. “Temos clientes, pessoas jurídicas, de porte pequeno e médio, que normalmente utilizam - ou utilizavam - linhas de desconto de títulos e capital de giro para movimentar o dia-a-dia de suas empresas. Com o aumento das taxas e a escassez na oferta dessas linhas, tememos que esses clientes reduzam seu volume de compras, ou ainda, se tornem inadimplentes”.

Crise de confiança Alexandre Martins Fontes, 48 anos, diretor executivo da editora WMF Martins Fontes, São Paulo, acompanha com apreensão a atual crise financeira mundial “Ainda não é possível fazer uma leitura precisa de suas conseqüências para o ramo editorial. Nossas vendas nos meses de outubro e novembro encontram-se nos níveis previstos para esse período” Para a Martins Fontes, a restrição ao crédito afeta o trabalho de exportação. Alexandre afirma que, ao longo dos últimos anos, a empresa não teve dificuldades em receber antecipação das vendas feitas ao exterior, mas na última operação da editora, os bancos com os quais trabalha habitualmente têm tido dificuldade em aprovar a li-

Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes: a restrição de crédito tem causado impacto nos negócios 34

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Fotos: Divulgação

Alexandre Martins Fontes, diretor executivo da editora WMF Martins Fontes: apreensivo com a crise mundial, mas diz as vendas apresentaram-se dentro do previsto nha de crédito para essa modalidade. “Infelizmente, o mercado dos livros no Brasil ainda é muito pequeno e atinge essencialmente uma classe sócio-econômica restrita. Os poucos que compram livros no Brasil continuam comprando mesmo em momentos de crise. Estamos torcendo para que o impacto seja o menor possível para autores, editores e livreiros”, diz. O economista Reinaldo Cafeo, membro do Conselho Regional de Economia, analisa o momento que o Brasil atravessa. “Na prática, já observamos uma crise de confiança. O governo brasileiro e sua equipe econômica não transmitiram aos agentes econômicos a real dimensão da crise internacional, taxando simplesmente como uma “marolinha” o que na prática não se confirmou. Lembra que duas importantes variáveis que conduziam o consumo das famílias - renda e consumo – e que categorias importantes conseguiram, ao longo de 2008, reposição salarial acima da inflação. “Na outra ponta, o mercado estava líquido, com financiamen-

tos a perder de vista e, portanto, tirava proveito do aquecimento de demanda”. Com a crise e o pessimismo dos agentes econômicos, ocorreu uma reversão do cenário”, afirma. E isso fez com que algumas pessoas, mesmo ainda não sendo afetadas diretamente pela crise, passassem a ter um comportamento mais cauteloso, adiando o consumo de bens que não essenciais. “Outras pessoas já sentiram isso diretamente, notadamente em setores que dependem do crédito e do comércio exterior”, diz. Em relação ao mercado editorial, Cafeo acredita que essa precaução do brasileiro em com os gastos, poderá causar queda nas vendas. “No setor específico do livro, dado o hábito dos brasileiros de não incorporarem a leitura como rotina, o indicativo é que esse segmento poderá encolher. Como o valor médio do livro não se assemelha a de um eletroeletrônico, por exemplo, o setor

será menos afetado pelo crédito, mas mais afetado pela cautela do consumidor”, avalia. O economista prevê que 2009 será um ano de desaceleração, que atingirá todos os setores, inclusive o mercado editorial. “Mas avalio que será desaceleração e não recessão (crescimento negativo do PIB). Portanto, será o momento das promoções, da criatividade, das parcerias entre empresários e funcionários e, fundamentalmente, de estratégias para operar em nível de atividade menor, mas sem perder o horizonte de que mais cedo ou mais tarde a crise passará e quem fez a lição de casa nesse momento, estará mais fortalecido”. Posição divergente tem o professor doutor em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Fábio Sá Earp. Ele não acredita que a crise mundial afete o mercado editorial no Brasil no que se refere ao crédito. “Pelo lado do crédito não irá afetar, pois não existe e nem existirá falta de crédito no Brasil. As editoras praticamente não utilizam crédito em função da alta taxa de juros”. Para ele, poderá ocorrer uma queda nas exportações devido à recessão internacional, com isso diminuindo a renda da população e com isso a comP pra de livros.

Reinaldo Cafeo, economista do Conselho Regional de Economia, faz uma analise do período que o Brasil atravessa Novembro 2008

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Foto: Arquivo CBL

Pelo mundo afora

Alemanha

Frankfurt e o futuro do livro Maior acontecimento do mercado editorial no mundo, a Feira do Livro de Frankfurt realizou, em outubro, sua 60ª edição. O evento, promovido pela Associação Alemã de Editores e Livreiros com foco na comercialização de direitos autorais, foi marcado, este ano, por discussões em torno do futuro do livro. Em suas prateleiras, quase um terço dos produtos expostos eram digitais. Durante os cinco dias de feira, os organizadores do evento realizaram uma pesquisa com mais de mil representantes do mercado editorial de todos os continentes. O resultado? Para 40% deles, em dez anos as vendas de conteúdo digital serão maiores que as de livros impressos. Na avaliação de expositores, os dispositivos eletrônicos, tais como os leitores de e-book, estão ganhando cada vez mais espaço, mas não deverão substituir por completo os livros em papel. Muitos deles acreditam que esses aparelhos poderão ser para os livros digitais o que o iPod representou para o MP3. Na pesquisa, os editores apontaram como principais desafios para a indústria o controle dos direitos auto36

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rais (28%), o controle do compartilhamento dos arquivos (22%) e a criação de um formato unificado, como o mp3 para a música (21%). Antes mesmo da feira ser aberta, já durante a entrevista coletiva de inauguração do evento, o escritor Paulo Coelho, que foi homenageado em Frankfurt pela marca de 100 milhões de livros vendidos, contou suas experiências na web e falou sobre a revolução digital que atraca no mercado editorial. O brasileiro elogiou as possibilidades que a internet abre à literatura e pediu que as editoras não vejam os novos meios como uma ameaça, se mostrando convencido de que o livro impresso durará pelo menos mais mil anos. Além da homenagem recebida por Coelho, a feira de Frankfurt ainda teve um outro significado especial para o Brasil. Este ano, o País compareceu ao evento representado por 43 editoras. Dessas, 20 participam do convênio Brazil Rights, firmado entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Os primeiros frutos do acordo podem ser medidos pelo grau de satisfação das empresas

com a qualidade dos serviços e, sobretudo, pela geração de negócios que o convênio possibilitou. Uma pesquisa realizada pela CBL com editores brasileiros em Frankfurt revelou que 93,8% das empresas reunidas no estande do Brasil cumpriram seus objetivos. Mais de 92% avaliaram como ótimo e bom o estande brasileiro. Dos entrevistados, 64,3% avaliaram os negócios fechados como ótimo e bom e 28,6% consideraram regular. Sobre negócios prospectados, 87,5% consideraram ótimo e bom e 12,5% como regular. Foram expostos, no estande brasileiro, mais de 1,8 mil títulos e 6,4 mil exemplares. Embora os livros tenham chegado apenas no segundo dia de abertura do evento devido a um problema na alfândega de Madri, os expositores disseram não ter havido prejuízo nas articulações para a venda de direitos. Realizada desde 1949, a Feira do Livro de Frankfurt atrai mais de 7 mil expositores de 100 países a cada ano. Nesta edição, em que foram lançados mais de 122 mil novos títulos, o País homenageado foi a Turquia. O escolhido para 2009 é a China.


Moçambique

Escolas rurais recebem doação do Brasil

Bolívia Livros no vale

Além de integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e já ter sido colônia de Portugal, Moçambique acaba de ganhar outro ponto em comum com o Brasil: o programa Arca das Letras de bibliotecas rurais. Graças a uma parceria com a embaixada brasileira em Moçambique, o Ministério do Desenvolvimento Agrário doou sete acervos do Arca das Letras para Escolas Familiares Rurais (EFR) moçambicanas. Também foi doada uma biblioteca rural completa para o Centro de Estudos Brasileiros em Maputo, capital do País. A iniciativa pretende contribuir para a formação das bibliotecas das EFR moçambicanas e ampliar o acesso a informações relativas ao desenvolvimento rural sustentável e à literatura brasileira. As EFRs de Moçambique estão atuando na formação de 412 jovens como agentes rurais com habilitação em assuntos relativos à agropecuária. Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, cada biblioteca é formada, inicialmente, por cerca de 200 livros. Além de títulos especializados em educação no campo, agroecologia e outros temas agrícolas, a remessa contém cartilhas sobre drogas, títulos de autores portugueses e também brasileiros, como Manuel Bandeira, Jorge

Amado e Monteiro Lobato, entre outros. A doação também contém livros de pesquisa escolar, sobre saúde, meio ambiente e exemplares sobre arte e cultura brasileiras. Ainda foi enviado um roteiro que orienta a organização da biblioteca. Esta não é a primeira vez que o programa chega em outros países como forma de cooperação solidária. Em 2005, três bibliotecas foram instaladas em Díli, capital do Timor-Leste, e uma em Cuba, na Biblioteca Pública Ruben Martinez Villena, em Havana. Desde que foi criado, em 2003, o Arca das Letras já implantou quase 5,7 mil bibliotecas rurais em mais de 1,7 mil municípios brasileiros. Até agora, mais de 1,2 milhão de livros foram distribuídos, beneficiando mais de 625 mil famílias do campo. A administração das bibliotecas é feita por mais de 11 mil agentes de leitura, que contribuem para melhorar os índices educacionais de suas comunidades, além de apoiar o trabalho e valorizar a cultura no meio rural. Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, cada biblioteca é formada, inicialmente, por cerca de 200 livros. As comunidades escolhem os assuntos que formam os acervos, o local onde a biblioteca é instalada e indicam os moradores que serão capacitados como agentes de leitura.

Localizada no oeste da Bolívia, em uma depressão da cordilheira oriental, Cochabamba é a terceira maior cidade do País. Em outubro, durante dez dias, o lugar sediou a segunda edição de sua feira internacional de livros. Sob o slogan Déjate Llevar, o evento convocou a população da cidade para uma verdadeira maratona de leitura. Mais jovem que as outras feiras internacionais de livro bolivianas – os eventos de La Paz e Santa Cruz de la Sierra reúnem quase 80 mil pessoas -, a feira de Cochabamba foi composta, este anos, por 35 expositores nos salões do Club Social. Já na abertura do evento, o viceministro da Cultura da Bolívia, Pablo Groux, falou sobre a importância de Cochabamba se comprometer com iniciativas de promoção da leitura. “É importante que este ponto de encontro entre pessoas que se dedicam a escrever e a vender livros se torne cada vez mais acessível aos leitores”, analisou Groux. Cerca de 50 autores marcaram presença em bates-papo com o público. De acordo com as editoras participantes, os livros mais vendidos foram para o público infantil. Para Marcelo Paz Soldán, presidente da Câmara Cochabambina do Livro, a maior realização da feira foi colocar a população da cidade e de toda a região em contato com os escritores e com o universo literário latino-americano.

como objetivo expandir e diversificar as relações comerciais e de investimentos entre os dois países. O documento prevê apoio ao desenvolvimento do comércio e dos investimentos, além do estabelecimento de empreendimentos conjuntos. Na área cultural, Brasil e Jordânia se comprometeram a trocar informações e cooperação no ensino da cultura geral dos dois países. Isso deve acontecer, de acordo com o documento, no setor de livros e outras publicações. Também está previsto o intercâmbio de profissionais

entre bibliotecas e nos campos da radiodifusão, do cinema e da televisão. A comitiva real também passou por São Paulo, onde a rainha Rania foi conhecer a Associação Cidade-Escola Aprendiz, no bairro da Vila Madalena. Em um bate-papo que aconteceu na Praça Aprendiz das Letras, a rainha da Jordânia falou sobre a importância dos projetos de educação e leitura desenvolvidos pela associação. “Aqui há um reconhecimento da educação como direito humano básico”, disse.

Jordânia

Compromisso real A questão do livro e da leitura não ficou de fora da primeira visita de um chefe de estado jordaniano ao Brasil. Isso porque em outubro, durante encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o rei Abdullah II Ibn Al-Hussein, o tema foi lembrado nos acordos bilaterais firmados entre os dois países. Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, Lula e o rei Abdullah II assinaram compromissos em diversas áreas. Os atos incluem um acordo de cooperação econômica e comercial, que tem

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Foto: Fanca Cortez

Todo mundo lê Os Irmãos Karamazov (Fiódor Dostoievski) “Li ainda garoto. Foi quando descobri que o escritor (Dostoievski, como outros) podia escrever tudo o que lhe passava na cabeça. Nunca me recuperei desta fascinação”

Gustavo Franco (economista)

ação Foto: Divulg

O livro da minha vida

Dica de leitura

Foto: M

atheus Dias

Rafinha Bastos (jornalista e apresentador do CQC)

Stupid White Men: Uma Nação de Idiotas (Michael Moore) “Eu li há mais ou menos três anos e vi ali uma nova maneira de fazer investigação, de fazer jornalismo. Assumi este lado mais investigativo desde então, o que tem me ajudado em meu trabalho”

O que eu estou lendo

Foto: Divu

lgação

Lars Grael (velejador)

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Rota Boreal: Expedição ao Círculo Polar Ártico (Beto Pandiani e Felipe Whitaker) “O que o Betão fez e a maneira como encara a sua filosofia de vida, de vela e aventura, é sempre algo muito interessante de acompanhar. Além do mais, o livro traz belas imagens da saga toda e é muito bonito de se ver”


Comportamento Leitor

Janela fechada para o mundo O Brasil soma 77 milhões de não-leitores e a maioria está concentrada no norte e nordeste do país, diz a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil ano, que os 4,8 mil Em Manaus, capital estudantes brasileido Amazonas, a pequeros avaliados, pouco na Fernanda Maia dos compreendem o que Anjos interrompeu os estão lendo. Esse fator estudos diversas vezes deixou o Brasil em úlpara ajudar na renda timo lugar no ranking familiar. Aos 12 anos, dos 32 países, além engravidou e deixou de mostrar que o proos livros para assumir blema está na falta de uma família. Hoje, aos habilidades que deve34 anos, com dois firiam ser formadas no lhos, trabalha como processo educacional. doméstica e integra os Para superar estas dinúmeros gerados pela ficuldades seria nepesquisa Retratos da cessário que o poder Leitura no Brasil, encopúblico investisse na mendada pelo Instituto formação e aperfeiçoaPró-Livro ao Ibope, em Fernanda: “Estudar é pra rico” mento dos professores 2007. A pesquisa revede Língua Portuguesa lou um contingente de 77 milhões de e mediadores de leitura para alcançar não-leitores. Nossa personagem enconresultados junto aos alunos. tra-se entre os 27 milhões que cursaram A compreensão dos textos está até a 4ª série do Ensino Fundamental, e diretamente relacionada ao nível de que não lêem. informação, conhecimento e vocabuVoltar a estudar é uma realidade lário do leitor. distante para Fernanda. Ela acredita Membro da Academia Amazonense que essa oportunidade não seja dide Letras e editor, Tenório Telles, 45 anos reito de todos. “Estudar é coisa para diz que a compreensão de um texto é rerico”, enfatiza. sultado de uma tessitura de elementos. Na casa da patroa, folheia o jornal “Não basta ter o domínio do código de todos os dias, porém, as únicas notícias comunicação. É fundamental que despertam seu interesse são os reter uma prática continuada sumos das novelas de contato criativo com tex“As notícias são muito complicatos, fator indispensável para das de entender. Não gosto nem de a afirmação de uma vivência ler revista, imagine um livro. Não enleitora, que ajuda na apritendo nada. Nem sei onde tem bibliomoração do pensamento, do teca aqui”, afirma. olhar e do sentir do sujeito”. Fatores como baixa renda, escolaDiz ainda que, associada a rização e questões sociais são elemenessa experiência, somam-se tos que resultam no grande número as vivências sociais, afetivas de brasileiros sem interesse na leitura, e artísticas. Esse conjunto de que, nem sempre, estão fora da escola. conhecimentos existenciais O Programa Internacional de Avaliacontribuem para o amadureção de Alunos, o PISA, revelou, neste cimento humano, que serve Fotos: Divulgação

Tenório Telles: “ Não basta ter o domínio do código de comunicação”

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Comportamento Leitor Fotos: Divulgação

de fundamento para a compreensão do mundo e das realidades transfiguradas nos livros. “Esse complexo de relações forja a competência leitora - que na verdade é um processo em constante avanço. A leitura é também um devir intelectual, existencial e criativo”. Avalia. Apesar de existirem inúmeros fatores que podem exercer o poder de atração na leitura, como incentivo dos pais, da escola e de amigos, é necessário, antes de tudo, ter domínio na decodificação do texto para que a leitura torne-se uma atividade prazerosa e não um sacrifício. Diogo Lopes, 27 anos, cursando faculdade de Administração em Porto Velho, capital de Rondônia, não encontra prazer nos livros. “Dependendo do texto, ler pode tornar-se um pesadelo. Não gosto de livros”. Ele busca as informações que precisa na Internet. A falta de estímulo para leitura, segundo o estudante, vem da escola. “Não gosto de ler desde criança. No colégio, os professores mandavam ler livros para prova, mas sem se preocupar em saber se o livro interessava aos alunos. Não ajudavam na compreensão

Augusto, com seus alunos: “ Quem não lê, não compreende o mundo em que vive”

dos textos, que já eram difíceis para a maioria. Simplesmente empurravam os livros sem dar opções de escolha. Isso foi me deixando cada vez mais sem vontade de ler”. O despreparo de seus professores no Ensino Fundamental contribuiu para que Diogo, mesmo lendo algo de seu interesse, fique sonolento e impaciente, efeitos provocados pela falta de ferramentas para compreensão dos textos. A prova aplicada pelo PISA mostra que não só 40

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Diogo enfrenta estas dificuldades. Dos 4,8 mil alunos avaliados, 16% lêem muito devagar, 7% não compreendem o que lêem, 11% não têm paciência para ler e 7% sofrem com a falta de concentração. Livro como presente Para Taciana Pereira de 29 anos, de Manaus, Amazonas, assistente social recém-formada, o maior índice de não-leitores registrado pela pesquisa em sua região, deve-se à falta de incentivo à leitura, além de recursos que proporcionem acesso aos livros. “Na minha cidade existem várias bibliotecas, mas quando preciso usá-las estão fechadas ou quando encontro uma em funcionamento, o acervo é pequeno e precário. Para quem já tem dificuldade em apreciar um bom livro, isso gera um enorme desinteresse. Gosto de ler porque tive estímulo desde criança. Comecei a ter contato com os livros porque minha mãe quando ia trabalhar, me deixava na casa de minha avó. Lá, meu tio que era professor, dava a tarefa de ler três matérias de revistas que ele escolhia e escrever uma redação para ele corrigir”, lembra. Ela diz que a família sempre teve o hábito da leitura e as crianças eram sempre presenteadas com livros. “Aos quatro anos, aprendi a ler e nunca mais parei, mas infelizmente essa não é a realidade da maioria aqui”. A história de Taciana é o inverso do que acontece com o restante do país, onde o hábito da leitura não é rotina na família. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil detectou que entre os não-leitores 85% nunca foram presenteados com livros na infância e 63% nunca viram os pais lendo. Em Salvador, região nordeste do Brasil, 2° lugar no ranking de não-leitores, o educador Augusto Castro de Azerêdo, formado em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, e pós-graduado em Metodologia do Ensino e Pesquisa pela mesma universidade, acredita que a família contribui para estimular o hábito da leitura, porém a realidade sócio-econômica de muitos impede que esse exercício seja praticado em casa. Mas, o agravante está na educação. Durante as aulas, o professor propõe pesquisas escolares manuscritas e utiliza questões discursivas nas avaliações para exercitar a opinião dos alunos, mas os resultados nem sempre são positivos. “Tenho alunos na 8ª série com

Taciana: Aprendeu a ler aos 4 anos de idade

graves dificuldades, pois o processo

de alfabetização foi deficiente, e aliado a este problema, eles apresentam falta quase absoluta da leitura”. Ele acredita que a negligência governamental em todas as esferas contribui para que não só o nordeste, mas todo país tenha um grande número de não-leitores “Deveria existir investimentos como informatização das bibliotecas, mais acervos literários, redução dos impostos na produção gráfica e mais patrocínios em eventos literários. No âmbito escolar, o aumento das verbas poderia ser investido na compra de novos equipamentos visando a qualidade de ensino”. Professor há mais de 10 anos, Augusto diz que o investimento na qualificação dos profissionais da Educação é praticamente inexistente, e esse fato gera muitas vezes profissionais despreparados e, como conseqüência, o número da evasão escolar torna-se freqüente já que não encontram prazer, estímulo e não conseguem aprender. Os que permanecem, tornam-se desprovidos de uma iniciativa para realizar conexão de idéias, contextualizar os diversos autores e criar o pensamento próprio. “Podemos ousar levantar diversas hipóteses em relação ao número de não leitores no país, mas a verdade é que o Brasil só vai mudar esse quadro quando houver uma revolução educacional. Quem não estuda, não lê e não compreende o mundo P em que vive”.


Radiografia

Foto: Divulgação

Os livros na vida da jornalista

Mona Dorf

5 a 10 anos

Les Misérables (Victor Hugo) “Foi pra mim a grande introdução no prazer de ler boa literatura. As histórias de pecado e redenção de Jean Valjean e de Cosette, e depois de Gavroche durante a Comuna de Paris, me comoveram muito porque eram histórias pessoais de gente comum e do quotidiano da vida na França. Ao mesmo tempo, me ensinaram a história da Revolução Francesa e seus desdobramentos”.

11 a 14 anos

O Sofrimento do Jovem Werther (J. W. Goethe) “Entrando na adolescência, a identificação com as sensações de estranhamento e depressão do personagem foi imediata!”.

15 aos 20

Madame Bovary (Gustave Flaubert) “A prosa e o estilo irônico e sarcástico de Flaubert me fascinaram. Não acreditava como alguém pudesse escrever tão bem! Li e reli várias vezes o romance que traduz tão bem, a ambição de Emma e sua busca ingênua pela felicidade no casamento, e depois com seus amantes”.

20 aos 30 anos

Germinal (Emile Zola) “Estava numa fase mais politizada, e apreciei muito o jeito como Zola vai mostrando num crescendo a conscientização dos mineiros de como eram explorados e das terríveis condições de trabalho a que eram submetidos, sua revolta e luta que redundaram em conquistas sociais para todos os trabalhadores”. Grande Sertões (Guimarães Rosa) “Depois de passar anos na escola mergulhada na literatura francesa, lendo apenas os livros obrigatórios da aula de português senti necessidade de absorver um pouco de brasilidade”.

30 aos 40 anos

A família Moskat (Bashevis Singer) “A obra conversa com minha identidade judaica. Para mim, além de ser um dos melhores romances de Singer, foi muito impressionante saber através dele, que a cidade de Varsóvia na Polônia tinha 4, 5 teatros judaicos, diversos clubes, uma vida cultural judaica tão rica e intensa como nenhum outro país jamais teve e que tudo isso desapareceu, depois que a maior comunidade judaica da Europa foi exterminada pelo nazismo”.

Hoje

O Idiota (Fiódor M. Dostoievski) “Um autor eterno, clássico. Pretendo ler Os Irmãos Karamazov, que acaba de ser traduzido também pelo Paulo Bezerra. Havia lido Crime e Castigo em francês e estou curiosa para voltar a lê-lo mais velha e em português, a tradução direta do russo está muito bem feita.” Novembro 2008

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Foto: Divulgação

Prêmios & Concursos

A celebração do livro Mais tradicional prêmio literário do País, Jabuti é entregue em noite de festa e surpresas

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Pela segunda vez, a Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, a mais moderna sala de concertos da capital paulista, trocou os acordes da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo por uma sinfonia de prosas, versos e leitura, no dia 31 de outubro, na festa da 50ª edição do prêmio Jabuti, o mais tradicional do Brasil, que contempla livros publicados em 2007. Foram premiados os 60 vencedores em 20 categorias, revelados em setembro na sede da Câmara Brasileira do Livro (CBL), promotora do prêmio. Na cerimônia, também foram anunciados os vencedores como melhor livro do ano nas categorias Ficção e Não-ficção. O Menino que Vendia Palavras (Objetiva), do jornalista Ignácio de Loyola

Brandão, foi o vencedor como livro de ficção do ano. Na trama, o protagonista é um menino com muito orgulho do pai, que conhece as palavras como ninguém. A obra havia sido premiada com o segundo lugar na categoria infantil. Surpreso, Loyola iniciou seu discurso de agradecimento dizendo que “tinha certeza que (o prêmio) era do Cristóvão Tezza”. Autor de O Filho Eterno (Record), o escritor catarinense, cuja obra foi premiada como melhor romance do ano, era tido como favorito para o prêmio. “Eu levei um susto”, disse Loyola, que, além do troféu, receberá R$ 30 mil. Ele dedicou a conquista a suas antigas professoras de Araraquara (SP), cidade natal do escritor, com quem ainda mantém contato. “Tenho a felicidade de


24 mil m² de área total 5 mil m² de área coberta Mais de 60 estantes

conviver com as duas professoras que me ensinaram a ler e escrever no primário”, lembrou. Já o prêmio de livro do ano de nãoficção foi para 1808, de Laurentino Gomes (Planeta). O jornalista, cuja obra já havia sido premiada como melhor livro de reportagem, dedicou o prêmio aos professores e pesquisadores que possibilitaram sua pesquisa para escrever o livro. “Sempre se disse que o brasileiro lia livro de auto-ajuda e literatura barata e, de repente, ele está lendo um livro de história do Brasil”, afirmou o autor, cuja obra narra a chegada da família real portuguesa ao País. Pela primeira vez em 50 anos, a cerimônia de entrega do Jabuti, que reuniu cerca de 1,2 mil pessoas na Sala São Paulo, foi transmitida ao vivo pela internet. O apresentador Cunha Junior, da TV Cultura, foi o mestre de cerimônias do evento, que ainda contou com o ator Antonio Calloni declamando trechos de obras vencedoras de outros anos. Nesta edição, concorreram 2.141 obras. Os dez finalistas por categoria foram selecionados no mês de agosto e, em setembro, foram escolhidos os três vencedores em cada uma das 20 categorias. O primeiro lugar de cada uma delas recebeu R$ 3 mil e os autores dos melhores livros do ano de Ficção e de Não-Ficção, anunciados na festa de premiação, recebem R$ 30 mil cada um. A premiação total foi de R$ 120 mil. O Jabuti é um dos prêmios mais cobiçados pelos profissionais do livro no País e contempla diversas esferas envolvidas na produção de um livro. Em seu discurso, a presidente da CBL, Rosely Boschini, elogiou os parceiros da entidade na difusão do livro e da leitura pelo País, além de mencionar o orgulho em ter o livro como ofício. “Livro é motivo e fator de progresso e desenvolvimento”, disse.

Prêmio FNLIJ Abertas inscrições para os livros infanto-juvenis A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), instituição que promove e recomenda livros que considera de alta qualidade para crianças e jovens, abriu as inscrições para a 35ª seleção anual FNLIJ. As obras podem ser encaminhadas até 31 de dezembro e podem participar qualquer escritor ou editora que tenham títulos publicados em língua portuguesa.

Mais de 100 atrações Mais de 50 mil pessoas Este sucesso só foi possível graças ao empenho de todos que se dedicaram: expositores, artistas, palestrantes, organizadores, parceiros e ao maravilhoso público que visitou e aplaudiu a 1ª Feira Nacional do Livro de Jaguariúna. À todos o nosso muito obrigado!

http://www.fnlij.org.br/

5º Prêmio Barco a Vapor SM anuncia nova edição para originais

Aguardamos vocês em 2009 na 2ª Feira Nacional do Livro de Jaguariúna

As inscrições para o maior prêmio existente no País para originais de literatura infantil e juvenil estão abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As obras devem ser inéditas e se encaixar em uma das quatro séries da coleção Barco a Vapor, das Edições SM: leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10 e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos). www.edicoessm.com.br

www.feiradolivrodejaguariuna.com.br Telefone: (19) 3867.0028 Novembro 2008

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Livros sobre Livros

Por onde começar?

Livro de Stephen Koch estimula o ofício do escritor POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS

Este não é um manual de escrita de ficção. Antes de mais nada, o autor procura estimular ao máximo o escritor a escrever. Simples assim: escreva. Escreva já. Não perca a inspiração, depois virão as revisões. De maneira prática e estimulante, Koch empurra o escritor para a “pena” em qualquer momento. Logo de início ele avisa que escrever, exceto no jornalismo, é um ofício solitário, a mais solitária das artes. A necessidade de amar a solidão é condição fundamental para a existência do escritor. O propósito do livro parte de um princípio básico interessante: Ninguém imaginaria um pianista, um pintor, um compositor e outros tantos artistas aprendendo tudo sozinho, como por magia. Por que seria diferente com o escritor? Um grande número de pessoas inteligentes, infelizmente (como diz o autor em sua introdução), acredita sem nenhuma dúvida que “escrever não se aprende na escola”. Por quê? Stephen Koch procura provar o oposto com sua obra. Na verdade, Koch se propõe a passar aos leitores dicas, princípios e conselhos adquiridos em sua experiência de vinte e um anos – entre 1977 e 1998 – como catedrático do programa de pós-graduação em redação criativa da Columbia University trabalhando com jovens aspirantes a escritor que tentavam aprender a misteriosa arte da ficção. O livro é o resultado do esforço de reunir e integrar aquilo que parece ser um consenso entre os escritores a respeito das bases de seu ofício. Stephen Koch coloca no papel suas idéias mas não se limita a elas. Apresenta também muitas outras opiniões e idéias de vários escritores consagrados na arte da ficção. Ele acredita que a maioria dos escritores adora falar sobre escrever. Então, 44

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recorre a entrevistas, cartas, conversas, biografias e manifestos onde estes profissionais da escrita discorreram com detalhes a respeito de como escrevem. Além disso, Koch vai direto à fonte: os próprios romances e ficções escritos por reconhecidos autores, como por exemplo trechos da obra de Shakespeare. Koch escreve: “Se prestar bastante atenção você aprenderá a ouvir os grandes romancistas do século XIX refletindo quase sem cessar sobre o ato de escrever, sobre como escrever.” Segundo ele, não são poucas as passagens da tradição profética da Bíblia que podem ser lidas como uma meditação sobre o discurso inspirado, sobre o que ele é como se realiza. Embora Stephen Koch seja uma referência no tema, em nenhum momento se propõe a ser a resposta definitiva para todas as questões com que o escritor se depara no ato da produção literária. Ele apresenta os princípios, dá conselhos e, acima de tudo, incentiva ao máximo o processo de escrita do seu leitor. Koch procurou apresentar um consenso livre, intuitivo, a respeito dos elementos básicos do ofício. Naturalmente, o consenso acaba por incorporar a discordância – e às vezes a máscara. Mas como ele mesmo declara, “no tocante à maioria das grandes questões, parece haver entre os escritores mais concordância do que até eu mesmo esperava encontrar quando comecei.” Definitivamente este é um guia para escritores, não para leitores. E a regra máxima é que “não há regras”. Stephen encerra seu livro com alguns comentários de várias obras clássicas sobre o “ofício da literatura”, mas não se trata de uma lista de leituras recomendadas. Ao escolher os exemplos para co-

mentar, o autor desconsiderou qualquer distinção entre gosto elevado, médio ou inferior, pois acredita que essa classificação não seja cabível na área da leitura. Ele mistura sem a menor cerimônia Elmore Leonard com Henry James e J. K. Rowling com Proust, acreditando que o gosto de qualquer leitor livre abrangerá obras de todos os “níveis”. Oficina de escritores é para ser lido de uma só vez, de capa a capa, mas depois merece voltas referenciais. É inspirador para quem ainda não começou a escrever e didático para quem já está escrevendo. Merece um bom lugar na esP tante do escritor.

Título: Oficina de Escritores - Um manual para a arte da ficção Autor: Stephen Koch Editora: WMF Martins Fontes Páginas: 315 páginas ISBN: 8578270088 Preço: 39,90 Lançamento: Edição - 2008


Rotas Literรกrias

No Agreste de Alagoas e Pernambuco

A presenรงa de Graciliano

Foto: Tiago Santana

POR LUIZ CARLOS RAMOS

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Rotas Literárias Setenta anos após o lançamento da obra-prima Vidas Secas, o cenário do Agreste de Alagoas e Pernambuco, base de inspiração para Graciliano Ramos, mudou apenas nas cidades, que cresceram e indicam reflexos de evolução. O sertão continua igual: as marcas da seca e da falta de perspectivas para o homem do campo tornam atuais as cenas narradas por Graciliano, como as da abertura do livro, publicado pela primeira vez em 1938. Graciliano nasceu na alagoana Quebrangulo e foi um dedicado prefeito de Palmeira dos Índios, cidade que hoje se or-

ros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Quem não se lembra dessa família e da cachorra Baleia? E, claro, também do papagaio, que logo no primeiro capítulo é sacrificado para atenuar a fome da família de retirantes. O vaqueiro precisava chegar – não se sabe onde,

de publicação dessas obras em novas e bem-cuidadas edições, vale a pena viajar até o sertão nordestino por meio das páginas de Panorama. O guia turístico-literário desse passeio é o jornalista e escritor Audálio Dantas (ver box), tão alagoano quanto Graciliano e que mora em São Paulo desde a década de 1950. Por meio desta entrevista, ele mostra o que viu e o que aconselha ver no Agreste. Acostumado a jamais ficar restrito aos fatos, mas sim a partir também em busca de explicações por meio do ser humano, Audálio viajou várias vezes para Alagoas e Pernambuco para reconstituir os caFoto: Tiago Santana

Interior de Alagoas, imagens do livro Chão de Graciliano de Audálio Dantas

gulha disso. Se o progresso chegou por lá, em alguns rincões de caatinga ainda existe desolação semelhante à retratada pelo escritor na primeira página de Vidas Secas, um Nordeste diferente do que se vê nas praias de Maceió, Aracaju, Salvador, Recife, Natal, João Pessoa, Fortaleza: Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente, andavam pouco, mas, como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazei46

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diz a história, desfilando uma série de ilusões e desilusões. Algum professor de português contribuiu para despertar uma fome saudável, a fome de livros, em crianças e jovens, indicando a leitura de Vidas Secas nas escolas, nas últimas décadas. A arte e a personalidade de Graciliano, autor também de Caetés, São Bernardo, Infância, Insônia, Memórias do Cárcere e outras belas obras, influíram na vida de adultos e colocaram esse escritor na lista dos cinco mais importantes da literatura brasileira no século 20. Na época em que Vidas Secas faz 70 anos e a Editora Record, fecha contrato com os herdeiros de Graciliano para renovar por mais dez anos os direitos

minhos do jovem Graciliano de um século atrás. O resultado foi seu livro O Chão de Graciliano – com fotos do cearense Tiago Santana, companheiro de peregrinação –, lançado há dois anos. Como está, agora, aquele cenário? Audálio Dantas explica: “Nas cidades, tudo mudou. Existem carros, lá chega a televisão. As roupas das moças lembram as das artistas da novela das oito. A gente procura o vaqueiro, para tentar identificar o Fabiano de Vidas Secas no meio do sertão, mas é difícil encontrar. Esse vaqueiro migrou para outros ambientes e para outro modo de vida. Está às voltas com outros afazeres... Mas as condições precárias de sobrevivência ainda são parecidas com


as dos personagens do livro.” Uma tentativa de resgate das primeiras décadas de Graciliano exige uma visita a Quebrangulo, terra natal de autor, assim como a Viçosa e Palmeira dos Índios, em Alagoas, e a Buíque, em Pernambuco, cidades que marcaram a vida e a inspiração do escritor de Vidas Secas até o envolvimento na política em tempos da ditadura Vargas, responsável por um ano de cadeia e pelo inesquecível livro Memórias do Cárcere. Quebrangulo, de pouco mais de 12 mil habitantes, a 120 quilômetros de Maceió, é conhecida como Cidade da Cultura, por valorizar suas tradições popula-

povoado, que chegou a ter o nome de Vitória, acabou sendo conhecido como Quebrangulo. A cidade é limpa e saudável, espalhando-se com casas e igrejas que formam um conjunto arquitetônico estilo barroco, do Brasil Colonial. Seu principal ponto turístico é a casa onde nasceu o filho mais ilustre, Graciliano Ramos, em 27 de outubro de 1892. “Com apenas 3 anos de idade, Graciliano já começou a viajar pelo Nordeste. Com o pai, a mãe e duas irmãs, ele seguiu, em carro de boi e em lombo de burro, de Quebrangulo para o vizinho Estado de Pernambuco, onde a família

Graciliano, mais tarde temas do livro Infância. Na língua tupi, Buíque significa Lugar de Cobras. Outra cidade na vida de Graciliano foi Viçosa, em Alagoas, onde a família passou a morar em 1904. A cidade está ligada a fatos dos séculos 17 e 18. Após a chegada dos portugueses e dos holandeses, os índios da região foram praticamente dizimados. Os poucos sobreviventes migraram para áreas mais distantes. Com o passar do tempo, as fugas de negros escravos tornaram-se cada vez mais constantes e estes, vindo de várias localidades, buscaram

Fotos: Tiago Santana

Interior de Alagoas e Pernambuco, imagens do livro Chão de Graciliano de Audálio Dantas

res; principalmente os folguedos que se mantêm vivos até hoje, como o Bumbameu-Boi e o maracatu Nêga da Costa. O povoado primitivo surgiu há quase 300 anos, anteriormente habitado pelos índios xucurus, que passaram a conviver com os índios cariris – estes, vindos de Pernambuco, de onde saíram por causa da seca de 1740. A região também teve influência de quilombos. Eles viviam de nozes de palmeiras e, principalmente, da caça de caititus, os porcos-do-mato, que, em manadas, pastavam no local onde hoje é a cidade. O chefe desse quilombo, excelente caçador, ganhou o apelido de Quebrangulo, que, na gíria dos negros, significava matador de porcos. Então, o

se estabeleceu em Buíque”, conta Audálio Dantas. No mapa, é pequena a distância entre as cidades, hoje unida por 80 quilômetros de rodovias, passando por Garanhuns. Mas, no fim do século 19, superar aqueles caminhos dominados pela seca era um enorme desafio. “Foi ali que o menino Graciliano começou a descobrir o mundo. A viagem durou muitos dias adentro, no sentido das nascentes do Rio Ipanema, que desce de Pernambuco e depois corre por terras de Alagoas até se encontrar com o São Francisco. Entre as asperezas da terra e as mãos pesadas do pai e da mãe, ele chegou a uma nova casa.”, relata Audálio. Essas e outras asperezas dos pais provocaram traumas num amargurado

abrigo nas florestas e serras de difícil acesso – uma delas, a Serra Dois Irmãos. A guerra contra o quilombo dos Palmares terminou em 14 de maio de 1697, com a morte de Zumbi dos Palmares. Então, o bandeirante Domingos Jorge Velho recebeu do governo colonial o território de Atalaia e adjacências, compreendendo a região do atual município de Viçosa. A epopéia de Zumbi inspirou a criação do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, feriado em centenas de municípios do País, entre os quais São Paulo. Audálio Dantas lamenta que na Viçosa de hoje quase não existam vestígios da vida de Graciliano: “A Novembro 2008

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Foto: Tiago Santana

Rotas Literárias

Vaqueiro em Buique, cenário do agreste de Pernambuco, base de inspiração para Graciliano

cidade se esqueceu de que foi ali, entre sobradões imponentes, ainda de pé, que o grande escritor iniciou sua formação.” Já com 12 anos, Graciliano e outros garotos se reuniam na casa do agente de correios Mário Venâncio para conversar sobre teatro e poesia. “Graciliano passou a ter um grande interesse pela literatura. Começou a ler tudo o que passava por suas mãos, de jornais velhos a folhinhas e almanaques. Tornouse redator do improvisado jornal Echo Viçosense, liderado por Venâncio. Da calçada, o menino admirava a biblioteca do tabelião Jerônimo Barreto.” Por alguns meses, Graciliano estudou em Maceió e logo voltou a Viçosa. Em 1906, um trauma: o suicídio de Venâncio. E o Echo deixa de circular. A solução do garoto foi colaborar em jornais e revistas de Maceió e do Rio. Ele mudou-se para Palmeira dos Índios, viajou de navio em 1914 para conhecer o Rio e, na volta, em 1925, casou com Maria Augusta, com quem teve quatro filhos. Ela morreu apenas cinco anos após o casamento. Palmeira dos Índios, hoje com 68 mil habitantes, é uma das maiores cidades de Alagoas. Lá, Graciliano assumiu o cargo de prefeito em 1928. Audálio explica: “Em seus relatórios para o governador da época, ele começava a mostrar a verve de grande escritor.” Já naquele tempo, a política tinha complicações: aquilo não era com ele, tão acostumado a seguir a ética. Acabou renunciando à prefeitura em 1932 e andou por Maceió, onde casou de novo, então com Heloísa Medeiros, companheira até o fim da vida. De volta a Palmeira dos Índios, lançou seu primeiro livro, Caetés, em 1933, e preparou capítulos do romance São Bernardo, lançado em 1934. “A cidade conserva a Casa Museu Graci48

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liano Ramos, que reúne objetos e documentos do escritor, além de edições originais e traduções. Aquilo tudo é muito interessante. Vale a pena conhecer”, conta o biógrafo Audálio. Acusado de envolvimento no levante comunista de 1935, Graciliano foi preso em Maceió, depois transferido para Recife e, em seguida, para o Rio, onde passou um ano em três diferentes presídios, até ser libertado. Dessa época, surgiu o livro Memórias do Cárcere, que seria transformado em filme em 1983.

Vidas Secas, de 1938, traduzido para vários idiomas, chegou às telas antes, em 1963, dez anos após a morte do escritor. Graciliano Ramos, fumante compulsivo, morreu de câncer em 20 de março de 1953, aos 60 anos. Deixou obras que continuam atuais: pelo belo texto, pela reflexão sobre as relações humanas, pelos ideais e não-ideais da política e pelas marcas do sofrimento do homem do sertão nordestino. “Vidas Secas e os demais livros de Graciliano são de hoje”, diz Audálio Dantas.

Um alagoano, por um alagoano Audálio Dantas nasceu na pequena cidade de Tanque d’Arca, em Alagoas, a apenas 30 quilômetros de Quebrangulo, terra de Graciliano Ramos. Ele explica por que – além da paixão pelo jornalismo – teve tanto entusiasmo para ir atrás da origem do grande escritor alagoano: “Minha ligação com Graciliano vem de muito tempo atrás e se tornou mais forte ainda. Na caminhada para desvendar Graciliano, acabei descobrindo até coisas a meu respeito. Descobri, por exemplo, que a raiz de minha família, por parte de minha mãe, é a mesma dele! Meu avô Napoleão Ferreira Ferro era primo de Pedro Ferreira Ferro, avô de Graciliano. Descobri isso lendo cartas publicadas após a morte de Graciliano. Cartas para parentes e para Heloísa, sua última esposa. Nelas Graciliano falava de pessoas que minha mãe e eu chegamos a conhecer.” Audálio Dantas, é vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e representante dessa entidade em São Paulo. Foi presi-

dente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo de 1975 a 1978. Sua atuação nos episódios em torno do assassinato do jornalista Vladimir Herzog por forças de repressão, em 1975, é apontada como uma das peças-chave para a resistência do País ao avanço da ditadura. Audálio tem quase 60 anos de carreira no jornalismo, tendo trabalhado nas revistas O Cruzeiro, Quatro Rodas e Realidade. Em 1958, como repórter do jornal Folha da Manhã, atual Folha de S. Paulo, descobriu na favelada Carolina Maria de Jesus, no bairro paulistano do Canindé, uma personagem de impacto: nasceu ali o livro Quarto de Despejo. Carolina havia feito um diário sobre sua comunidade. Com a ajuda de Audálio, o relato foi transformado num livro contundente e de sucesso. O drama das moradias precárias, já naquele tempo, 50 anos atrás. Além de ter escrito O Chão de Graciliano, Audálio lançou vários outros livros e prepara novas obras. Ele é também diretor-executivo da revista Negócios da Comunicação, em São Paulo. P


Como me apaixonei pelos livros

O menino que devorava livros Maurício de Sousa Ele é um dos mais famosos cartunistas do Brasil e já vendeu mais de um bilhão de gibis no mundo todo. Mas também é um dos escritores brasileiros mais admirados pelos leitores, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. No levantamento, ficou entre os dez mais, à frente de nomes como Mário Quintana, Castro Alves e Luis Fernando Veríssimo. Maurício de Sousa, mais conhecido como o criador da Turma da Mônica, nascido em Santa Isabel e criado em Mogi das Cruzes, perto de São Paulo, é um leitor compulsivo. E também tem outra compulsão: guardar tudo o que lê para, se for o caso e der tempo, ler de novo. Ele conta, aqui, como começou sua história de amor com os livros: “Eu lia muito quando criança. Primeiro, gibis. Depois, livros. Era o tipo de leitor que as pessoas chamam de compulsivo. Queria ler sempre. Se pegava um livro interessante, não parava de ler até chegar à última página. Os gibis, comecei a ler antes mesmo de entrar na escola. Primeiro minha mãe lia pra mim. Depois, por falta de tempo, preferiu me ensinar a ler, aos pouquinhos, letra por letra, sílaba por sílaba, palavra por palavra. Assim, em pouco mais de três meses, já podia soletrar as palavras escritas nos balões das histórias em quadrinhos. E, assim, fui “devorando” história após história, conhecendo os mais variados personagens e me deliciando com as descobertas que fazia naquela janela aberta para o mundo. Afinal, não havia televisão e o cinema não era para toda hora, pelo menos em minha idade, quase 6 anos. E eu morava em Mogi das Cruzes. Mas a curiosidade era maior do que a minha cidade, do que o meu país, do que o meu mundo. Queria mais e mais, pelas páginas dos gibis. Depois de alguns poucos anos, as histórias em quadrinhos já não me bastavam. Acabavam logo. Eu lia rápido demais. E não era toda hora que havia gibis novos. Então, me caiu nas mãos um primeiro livrinho de

Foto/Arte: Divulgação

história, bem infantil. Era a história de uma fadinha, com poucas cores, livro mal impresso e curto, texto simples. Li num pulo. Mas foi insuficiente. Queria mais. Foi quando meu pai comprou uma edição colorida, em papel encorpado, textos curtos e grandes ilustrações, de uma história do Mickey, O Matador de Gigantes, baseado num desenho animado de Walt Disney. Muito bem impresso. Adorei! Lia e relia. Via e revia as lindas ilustrações. E queria mais. Até que fui “atropelado” pela obra de Monteiro Lobato... e entrei no Paraíso. Era outro mundo, outro universo, outro estilo, outra coisa. Li tudo da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo e, depois, passei para os livros que ensinavam matemática, gramática, falavam de petróleo, tudo do Lobato... Até chegar à portentosa série dos 12 trabalhos de Hércules. Ufa! Já sabia Lobato de cor e estava na hora de passar para outros autores. A curiosidade me impelia. A compulsão me empurrava. Comecei a devorar os livros de aventuras, tipo Jack London, com quem fiz belas e inesquecíveis viagens. Igualmente com Julio Verne. Seguindo depois para romances

históricos, biografias, ficção científica, policiais, além de obras de Machado de Assis, Eça de Queirós... e o que viesse mais. Houve tempo, lá pelos meus 13 ou 14 anos, em que eu lia um livro por dia. Era o melhor “cliente” da biblioteca da escola, do ginásio, do município. Agradeço aos céus por isso, pois as leituras e tudo o que aprendi lendo – informações, estilos – me ajudaram em todos os momentos futuros da minha vida. Primeiro quando eu buscava os primeiros empregos e preenchia as primeiras fichas, o meu português me punha nos primeiros lugares das filas de pretendentes a uma colocação. Foi assim nos primeiros escritórios em São Paulo e, depois no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), onde fui repórter. Lá, também comecei a desenhar escrever quadrinhos, como as histórias do Bidu. Foi quando precisei me comunicar oralmente. Ler e falar se completam. Assim, posso afirmar que, entre outros fatores, a leitura foi o fator mágico que me permitiu a comunicação fácil em qualquer circunstância. A chave, a porta e a entrada estão nos livros.” P Novembro 2008

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Cinema & Livros

no país das maravilhas Desde 1903, diretores tentam adaptar para o cinema a obra infantil de Lewis Carrol, mas o que surpreende e desperta a curiosidade dos adultos é o mais recente roteiro hollywoodiano, que começou a ser filmado em setembro, e tem estréia prevista para 2010

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O diretor Tim Burton, responsável por filmes como Edwards Mãos de Tesoura, de 1990, e Sweeney Todd, de 2007, está engajado em uma nova super-produção. Dessa vez, a escolha de Burton foi adaptar para o cinema a complexa obra literária Alice No País das Maravilhas, do escritor Charles Lutwidge Dodson, mais conhecido pelo pseudônimo Lewis Carrol. Carrol nasceu na Inglaterra, em 1832. Foi matemático, professor da Universidade de Oxford, lógico, fotógrafo e romancista. “Alice no País das Maravilhas” foi sua primeira obra literária, concluída em 1865. O livro, considerado um clássico nonsense, teve a primeira versão leiloada por um milhão de dólares, em 1998, em Nova Iorque, em homenagem aos cem anos da morte do autor. Além disso, o sucesso não se resume à literatura, já que Alice já foi transportada para as telas várias vezes. A primeira versão cinematográfica é de 1903, e alguns trechos podem ser conferidos no site Youtube. Mesmo com tantas adaptações baseadas na obra de Carrol, a mais famosa é a animação da Wall Disney, de 1951. Apesar de ser destinada ao público infantil, há controvérsias sobre o verdadeiro público alvo de Alice. Segundo a psicanalista e

doutora em comunicação Dinara Guimarães, embora Alice No País das Maravilhas tenha sido escrito para crianças, surpreende os adultos com a representação do mundo feito de surpresas e inversões. “Sem dúvida, elas não são histórias apenas para crianças. A história de uma menina que muda de tamanho a cada página trata da instabilidade do sujeito humano. ‘Nunca tenho certeza do que vai acontecer, de um minuto para outro. Entretanto, eu voltaria ao meu tamanho de sempre’, afirma a psicanalista citando um trecho do livro. Por trazer uma trama com tão pouca lógica aos olhos do público mirim, o filme não fez sucesso na época e tornou-se o maior fracasso da Disney até A Bela Adormecida, em 1959, conforme relatam os sites de cinema. Apesar disso, o mundo fantástico e incoerente de Alice fascina os mais peculiares adultos, como o músico Marilyn Mason. O astro do rock tentou fazer uma nova adaptação através da visão dele sobre a obra de Carrol, mas o projeto não saiu do papel, e quem ficou com os direitos foi mesmo Burton. Em entrevista ao jornal americano Los Angeles Times, o diretor de A Noiva Cadáver declara que a

obra de Carrol é um projeto curioso. “A história é obviamente um clássico, com imagens icônicas, idéias e pensamentos. Mas de todas as versões para o cinema eu nunca vi uma que tenha realmente me impactado. São apenas uma série de acontecimentos malucos. Todo personagem é estranho e ela (Alice) meio que vaga como observadora por esses encontros", afirma. O diretor vai usar no longa a mesma tecnologia 3D vista em A Lenda de Beowulf, de Robert Zemeckis. No elenco, é claro, Johnny Depp, interpretando o chapeleiro maluco e marcando seu sétimo trabalho com o diretor, e a australiana Mia Wasikowska, na pele da graciosa Alice. As filmagens tiveram início em setembro, com roteiro de Linda Woolverton, a mesma de A Bela e a Fera e O Rei Leão. A estréia do longa está prevista para 2010, tempo suficiente para todos lerem a obra de Carrol e esperar a adaptação de Burton no cinema, já que um diretor com extensa lista de filmes excêntricos, e que tem em mãos uma obra como Alice, faz com que até os intelectuais aumentem suas apostas. “Espero que Burton traga a versão da Alice que estilhaça o bom senso P dos adultos, afirma Dinara.

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No Brasil

Feira do Livro de Curitiba 4 a 16 de novembro Praça General Osório Curitiba (PR) (47) 3422-1133 feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará 13 a 21 de novembro Centro de Convenções de Fortaleza Fortaleza (CE) contato@rpsfeiras.com.br ou www.rpsfeiras.com.br IV Fórum de Editoração 22 de Novembro Museu de Arte de São Paulo, MASP, das 8h30 às 17h30 forumdeeditoracao@gmail.com Festival Literário Internacional da Floresta 17 a 22 de Novembro Manaus (Am) http://www.flifloresta.com.br/

Calendário

No Mundo

Feira Internacional do Livro de Santiago 31 de outubro a 16 de novembro Santiago, Chile www.camaradellibro.cl/filsa/ Feira do Livro de Istambul 01 a 11 de novembro Istambul, Turquia www.tuyap.com.tr/en Miami Book Fair 9 a 16 de novembro Miami, Estados Unidos http://www.miamibookfair.com/ Feira do Livro de Oslo 21 a 23 de novembro Lillestrom-Oslo, Noruega messe.no/en/ntf/Projects/Bok/Besokende Feira Internacional do Livro de Guadalajara 29 de novembro a 7 de dezembro Guadalajara, México www.fil.com.mx 28ª Feira do Livro Ricardo Palma 30 de novembro a 12 de dezembro Lima, Peru www.cpl.org.pe Congresso Internacional sobre Promoção da Leitura 22 e 23 de janeiro Lisboa, Portugal Bologna Children´s Book Fair 23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália. http://www.bookfair.bolognafiere.it/index.asp?m=52&l=2&ma=3

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Artur dos Santos e Samuel Carvalho. Biblioteca “Ler é Preciso” distrito de Itabatã, Mucuri/BA.

Foto: Ricardo Telles

empresa amiga do livro

De olho no amanhã Da criação de bibliotecas à proposição de leis, o Instituto Ecofuturo, criado pela Suzano, investe no poder transformador da leitura Em 1999, às vésperas de completar 75 anos no setor de papel e celulose, o grupo Suzano decidiu criar uma organização não governamental para desenvolver, em parceria com outras instituições, projetos na área de educação ambiental. Para isso, a empresa lançou o Instituto Ecofuturo. A idéia era tratar o acesso ao conhecimento como ação transformadora e implementar projetos baseados em modelos replicáveis. Desde o início, quando pensou em realizar trabalhos na área de educação, a questão da leitura sempre apareceu em grande dimensão nos projetos da ONG. Tanto que o tema se transformou em uma das vertentes do Ecofuturo e ganhou um programa cujo objetivo é formar uma sociedade leitora: o Ler é Preciso. De acordo com a diretora de Educação e Cultura do instituto, Christine Fontelles, só até o ano passado o Ecofuturo investiu mais de R$ 4 milhões nessas iniciativas de fomento ao livro e à leitura. Com diversas ações como a criação de bibliotecas comunitárias, concursos de redação e capacitação 54

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de multiplicadores da leitura, a ONG ainda foi a autora da iniciativa que oficializou, a partir deste ano, o dia 12 de outubro como Dia da Leitura no estado de São Paulo. A proposta pela instituição da data, que teve o apoio do deputado José Augusto (PSDB), foi encaminhada à Secretaria de Cultura do Estado em 2006. A idéia propunha a sensibilização de pais e educadores para a importância de oferecer leitura às crianças já nos primeiros anos, além de alertar para a urgência em se criar e renovar bibliotecas públicas e comunitárias. Agora, a mesma lei já tramita no Senado Federal por iniciativa do senador Cristovam Buarque (PDT). No Dia da Leitura, o instituto convidou pessoas de todas as regiões do País para ler para as crianças. A iniciativa, batizada como Brincar de Ler, buscou incentivar nos pequenos o hábito da leitura. “Um hábito cultural como a leitura se desenvolve por convívio e por contato, nasce da experimentação”, argumenta Fontelles. Para conseguir difundir a idéia, o Ecofutu-

ro compôs uma rede de ações integradas com a mídia, escolas, bibliotecas públicas e comunitárias, agentes e organizações que já realizavam ações de promoção de leitura. Já o projeto que abre bibliotecas comunitárias pelo País afora inaugurou, em setembro, a 75ª unidade, em Estrela do Sul, no Triângulo Mineiro, onde, até o ano 2000, a maioria da população freqüentava a escola por aproximadamente cinco anos. Naquele ano, a taxa de analfabetismo na cidade era de 17,2%. Segundo a diretora de educação do instituto, até o final do ano haverá 80 unidades em sete estados do País. Hoje, essas bibliotecas, abertas em sua maioria em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), atendem a cerca de 70 mil usuários por mês. A cada nova unidade aberta no País, o Ecofuturo realiza cursos de auxiliar de biblioteca e promotores de leitura. “É necessário disponibilizar livros de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento da leitura, tão importante para a emancipação pessoal e da socieP dade”, diz Fontelles.


Vitrine A Promessa da Política

Improvisando Soluções

Gatão de Meia-Idade

Arendt resgata Sócrates e Platão até Marx, até o famigerado século XX, num percurso desde os ideais mais altos da história da humanidade até às realizações rastejantes de nossos pseudo-representantes.

O autor apresenta pequenas biografias das estrelas jazzísticas, recheadas de curiosos e impressionantes exemplos de como as soluções podem ser encontradas. Nesta obra, você descobrirá o que Louis Armstrong, Billie Holiday, Hermeto Pascoal, Sonny Rollins, João Gilberto, entre outros, têm a ensinar sobre superação.

Depois de mais de 10 anos, 5 mil tiras, um casamento, uma filha pré- adolescente, várias namoradas, algumas brochadas, tantas risadas, outras tantas ressacas, algumas tristezas e muitas alegrias, eis a coletânea das histórias do Gatão de Meia-Idade publicadas na imprensa.

Hannah Arendt. Trad., Pedro Jorgensen Junior Editora Difel, 288 pg,. R$ 39,00

Roberto Muggiati Editora Best Seller, 304 pg., R$ 24,90

Paleontologia – répteis e dinossauros do Triássico Gaúcho

Juventudes SP – Panoramas e iniciativas com foco na juventude de São Paulo

A obra consiste em uma iniciativa única, que vem preencher uma importante lacuna. E, o que é mais importante - é resultado do trabalho de profissionais que aqui vivem e trabalham.

O livro mostra o que tem sido feito pelos jovens e, conseqüentemente, o que eles têm feito em suas cidades. Este título chega para inspirar novas ações e provocar uma reflexão sobre o que já existe.

Walter Lisboa, Ronaldo Barboni e Joni Marcos. Editora Ulbra, 112 pg., R$ 48,00

Cenpec Editora Peirópolis, 128 pg., R$ 25,00

Miguel Paiva Cia Editora Nacional, 127 pág., R$ 62,00

Dicionário Escolas da Língua Portuguesa – Academia Brasileira de Letras A Cia Editora Nacional lança o primeiro dicionário com a assinatura da Academia Brasileira de Letras, instituição responsável pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa. São mais de 33.000 verbetes, complementos e um estudo sobre o verbo em português, com remissão para os verbetes e um suplemento explicativo do Acordo Ortográfico. Organização: Evanildo C. Bechara Cia Editora Nacional, 1.312 pág., R$ 32,90

A Cruz de Cinza

João Saldanha

Na primavera de 1536, uma noite de tormenta traz dois náufragos à praia que banha os pés da perdida abadia de Santa Maria de Oia. romance narra o caminho de Baltasar e Jean, marionetes involuntárias dos poderosos, através de uma Europa arrasada por guerras religiosas.

O livro reconstitui os 73 anos de vida de Saldanha, o mais consagrado comentarista esportivo do país, sua personalidade e carreira. O jornalismo, as aventuras, a paixão pelo Botafogo, as brigas, os debates, as frases antológicas e seu amor pela vida e pelo povo brasileiro estão nas páginas deste livro.

Fran Zabaleta e Luis Astorga Editora Record, 616 pg., R$ 59,00

André Iki Siqueira Cia Editora Nacional, 552 pág, R$ 69, 00

Novíssima Gramática da Língua Portuguesa A obra é um excelente instrumento, principalmente para estudantes do Ensino Médio e, ainda, para aqueles que precisam esclarecer dúvidas a respeito da língua portuguesa. Em versão nãoconsumível, fornece inúmeros exercícios de fixação de conteúdos gramaticais e também provas dos principais concursos e exames vestibulares, em todos os capítulos. Domingos Paschoal Cegalla Cia Editora Nacional, 696 pág., R$ 79,90

Filhos do Céu

Radical Chic

Filhos do céu trata de um diálogo aberto entre a ciência e a filosofia. O livro é constituído de cinco partes. “A revelação do vazio”, “Abordagens do invisível”, e “O universo como história”. As duas últimas partes deste “banquete” – como Cassé define o livro – são “A flecha do tempo” e “Rumo ao antropo-cosmo”.

Ela é sexy, alegre, crítica, despachada, tem um pouco de cada mulher. A coleção Radical Chic é composta por três livros: Sexo à deriva, Corpo de Delito e Mulheres que pensam. As obras trazem as tirinhas desta grande síntese da alma feminina.

Michel Cassé e Edgar Morin Editora Bertrand, 128 pg., R$ 24,00

Miguel Paiva Cia Editora Nacional, 111 pág., R$ 62,00

Causos do Dr. Osmar

Nos seus quase quarenta anos dedicados ao futebol e à medicina esportiva, Osmar de Oliveira colecionou histórias hilariantes, com o atrativo extra de serem todas verídicas e protagonizadas, muitas vezes, por figuras cultuadas pelos “doentes da bola”. Reuniu aqui as melhores, e você, leitor, mesmo que não seja um aficionado dos esportes, certamente irá morrer de rir ao lê-las.

Osmar de Oliveira Cia Editora Nacional, 112 pág., R$23,90 Novembro 2008

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Gente que lê Galeno Amorim www.blogdogaleno.com.br

O jegue e os livros Foto: Divulgação

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Nem adianta perguntar por Manoel Ribeiro Filho por lá. Dificilmente algum morador de Auzilândia conseguirá responder – muito embora ele seja nascido e criado no povoado e, de uns tempos para cá, tenha se tornado o mais famoso entre os 4 mil moradores do lugar. Mas não há no vilarejo inteiro, em pleno corredor de Carajás, no interior do Maranhão, quem não conheça o Barraca. O apelido é auto-explicativo - e foi conquistado, digamos, a duras penas, e por mérito próprio. Barraca vivia se metendo em encrencas. Estava envolvido com drogas e fugia como um diabo da cruz dos sermões e conselhos dos pais e dos professores. A verdade é que não se esperava mais lá muita coisa para o futuro do moleque indisciplinado e de notas baixas. Mas não é que um dia a vida do Barraca mudou?! De cabeça pra baixo. Ou de pernas para o alto! E tudo por causa de um jegue, esse animal quase sagrado na vida do sertão. O milagre foi o seguinte: certo dia uma professora escalou o menino para ser o condutor de um dos animais que saem carregados de livros no lombo para convidar a população a ler mais. Trata-se de um projeto – que, mais tarde, receberia diversos prêmios – criado pela prefeitura de Alto Alegre do Pindaré para percorrer ruas e praças de vilarejos com nomes como Mineirinho, Três Bocas, Timbira do Bogeá ou Nova Olinda atrás de gente interessada em livros. O festivo arrastão, com o jumento à frente, sai com toda pompa à cata dos leitores. Os livros são espalhados no chão, em cima de um lençol, para quem quiser pegar. Como muitos ali são analfabetos, sempre há uma alma caridosa pronta para ler em voz alta. Foi justamente aí que a vida do Barraca começou a se transformar. — É muito legal ler para os ou-

tros – logo descobriria o motorista da biblio-jegue. — Passei a ser reconhecido pelos meninos nas ruas e até a ser chamado de tio... Pronto. Virou um contador de histórias, essa figura mítica que vai, aos poucos, se multiplicando pelo Brasil – sabidamente um país de forte tradição oral. O menino – justo ele, que nunca fora afeito ao quadro-negro e aos cadernos – gostou tanto da história que resolveu virar professor de jovens e adultos. Quer iniciar mais gente como ele próprio no mundo mágico das palavras. *** O jegue carregado com um jacá colorido cheio de livros no lombo sai uma ou duas vezes por mês por pequenos lugares onde inexiste o acesso aos livros. Supre, assim, a falta de bibliotecas em certas localidades. A mecânica é simples: os livros são os da escola e os condutores são os próprios alunos, que, geralmente, tem tempo de sobra para tal. E público é o que não falta: como livro é coisa rara por lá, muitos que já eram alfabetizados acabaram por desaprender a arte de ler e escrever por pura falta de prática. Uma professora percebeu e deu a idéia, que logo pegou. Nesses dias, a vida nos povoados vira um rebuliço só. Desde então, a reprovação e a evasão escolar caíram e o rendimento e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) subiram. Alguns futuros leitores são fisgados na hora. Como aconteceu com o lavrador Nilo Mendes, de 72 anos: — Meu sonho era saber ler e escrever para subir na vida e ser alguém na sociedade – diz, emocionado. Além de tudo, o projeto é baratíssimo: os jegues são emprestados pelos moradores e o combustível... – bem, este é extraordinariamente abundante P por aquelas terras de meu Deus.


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Biblioteca Altino Arantes, Ribeir찾o Preto, SP Foto: Henrique Ravasi

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