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a última palavra em dicionário. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, lançamento da Companhia Editora Nacional, é o único elaborado pela Academia Brasileira de Letras, instituição responsável no Brasil pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa.
De acordo com as novas regras da ortografia da Língua Portuguesa.
Ele apresenta para os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, com clareza e precisão, todas as novas normas do Acordo Ortográfico. Traz ainda um suplemento explicativo sobre esse Acordo, não deixando margem a controvérsias. Uma ferramenta da maior confiabilidade, tanto para professores como para alunos. Não tenha dúvidas. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa é o pai dos dicionários. • 33 mil verbetes • Com a nova ortografia da Língua Portuguesa • Suplemento explicativo sobre o Acordo • As novas regras para o uso do hífen • Regionalismos e neologismos • E muito mais
Uma história a ser viço do futuro
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Sumário 9
Capa: Foto: Ali Farid Arte: Wagner Luiz Santos
Entrevista O deputado Marcelo Al-
meida fala das ações da Frente Parlamentar Mista de Leitura para uma política pública nacional em favor do livro e da leitura 24
Boa Ideia Projeto Ler é 10 - Viva Favela leva leitura e conhecimento a crianças de comunidades carentes do Rio de Janeiro 26 Reportagem de capa As feiras de li-
vros já fazem parte do calendário cultural de cidades de todo o porte. Só no Rio Grande do Sul são organizadas cerca de 200 por ano
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32 Políticas Públicas Arca das Letras, programa de implantação de bibliotecas rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, já ultrapassa as fronteiras do Brasil
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Rotas Literárias Bairros de Salvador e outras cidades da Bahia têm presença marcante nas obras de Jorge Amado
Como me apaixonei pelos livros O sociólogo Pedro Demo lê por paixão e por exigência profissional, também gosta de ficção e diz que ler é como respirar
Comportamento leitor Norte e Nor-
deste são as regiões com mais cidades sem bibliotecas, aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
8 Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL 14 Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro 16 Ponto de Vista Luís Antonio Torelli 18 Acontece O que é notícia no mercado de livros 20 Socialmente Responsável Leitura itinerante no Vale do Paranapanema 22 Outras Mídias Radio, Intenet e Tv 35 Pelo Mundo Afora Japão, Alemanha e Estados Unidos 36 Mercado & Tendências Comércio porta a porta nunca este melhor 38 Todo Mundo Lê Washigton Olivetto, Bob Wolfson e Erika Palomino 41 Radiografia Caco Barcelos 42 Eventos Notícias de feiras pelo Brasil 43 Prêmios e Concursos No Brasil e na Europa 44 Livros Sobre Livros Rimas da Vida e da Morte 50 Cinema e Livros Jane Austin e os finais sem lágrimas 52 Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo 54 Empresa Amiga do Livro Correios de Campo Grande têm sala de leitura 55 Vitrine O que há de novo nas prateleiras 56 Gente que Lê Uma vida lá fora 58 Imagem Panorâmica Um momento de ler Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Palavra do Leitor “A revista é, sem dúvida, a ferramenta “A revista Panorama Editorial é fonte de mais importante para o mercado editorial. consulta em minhas pesquisas literárias. Trazendo excelentes matérias e entrevistas, Sou mestranda em literatura da UnB e meu a Panorama Editorial é, atualmente, uma projeto objetiva construir o mapa cultural da indispensável referência para o nosso segleitura da literatura no DF. Dessa forma, a mento. Panorama Editorial tem contribuído de forParabéns a toda equipe ! “ ma positiva em meu trabalho. Antônio Cândido é o teórico principal de meu projeto. Luís Antonio Torelli Solicito, inclusive, a possibilidade de receber Presidente da ABDL - Associação exemplar da revista em minha residência. Brasileira de Difusão do Livro Integro o grupo de pesquisa LER da Universidade de Brasília, o UnBm coordenado pela professora Hilda Lontra. Trabalhamos com Recebemos e agradecemos a edição 45 da leitura. Panorama Editorial. Estamos muito inteNo que puder colaborar, estou a disposiressados em receber os exemplares posção”. teriores para o enriquecimento do acervo da nossa biblioteca.
Paulo Oliveira, Biblioteca Central da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA)
Abraços literários Edna Freitas
Recebemos e agradecemos o recebimento da edição 45 da revista Panorama. Estamos muito interessados em continuar a receber a publicação.
Caros editores, ”Quero parabenizá-los pelo trabalho realizado na revista Panorama Editorial, que está melhor do que nunca. O novo visual a deixou muito mais moderna e dinâmica! O mercado editorial está muito bem pautado e eu, como leitora, mais satisfeita com as informações trazidas e com as inovações sempre de bom gosto. Parabéns!”
Lilian Aquino Revisora da Editora Contexto
“Panorama é uma revista estratégica no cenário nacional. Com matérias inteligentes e atuais, abre espaço e provoca o debate sobre temas que ainda necessitam de atenção no nosso país: o livro e a leitura”.
Patrícia Leão Damaceno Revisora e jornalista Editora da ULBRA
Maria Gorete de Jesus Coltinho Bibliotecaria, Biblioteca Central da Unimontes - Montes Claros (MG)
Câmara Brasileira do Livro Presidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro, Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri, Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro Macera Rua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br
Agência de Notícias Brasil Que Lê Fundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.br Av. José Maria de Faria, 470 Tel (11) 8389-0041 CEP 05038 190 São Paulo SP www.brasilquele.com.br
Conselho Editorial Bernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Macera, Rosely Boschini e Valter Kuchenbecker Diretor Geral Galeno Amorim (galeno.amorim@observatoriodolivro.org.br) Editor-Chefe Matide Leone (editor@brasilquele.com.br;matildeleone@brasilquele.com.br) Diretor de Arte Wagner Luiz Santos (arte@brasilquele.com.br) Editor de Fotografia Fanca Cortez (fotografia@brasilquele.com.br) Redação (redacao@brasilquele.com.br) Alexandre Malvestio, Talissa Berchieri, Ricardo Costa (especial) e Luís Antonio Torelli( especial) Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica (producao@brasilquele.com.br) Administração (administracao@brasilquele.com.br) Alexandre Dias Pré-Impressão e Impressão IBEP - Cia Editora Nacional
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Boa Leitura
O país avança nos caminho da leitura O que é uma feira? Desde os tempos medievais, ou bem antes, 500 A.C., as feiras fazem parte da cultura dos povos, como locais públicos de comércio ou recreação. Mas, acima de tudo, é um lugar de sociabilidade e de trocas. As feiras de livros não são diferentes e trazem um componente a mais: cultura, conhecimento, descobertas, relacionamento e incentivo à leitura. Um espaço democrático, onde autores e público se encontram. E essa troca de experiências, que permite o Brasil avançar pelos caminhos da leitura, é uma das grandes metas da CBL, que apoia e orienta organizadores das feiras e outros eventos de livros pelo país. De um década para cá, o número de feiras cresce diariamente também nas cidades pequenas, incentivadas pelo agito e pelos balanços das “barracas literárias” das capitais e dos grandes centros. Bom exemplo é o que acontece no Rio Grande do Sul, como mostra a reportagem de capa, inspiradas na grande feira de Porto Alegre. Sônia Maria Zanchetta, integrante da Comissão Executiva da Câmara Riograndense do Livro, diz que chegou a listar 200 feiras municipais no estado, além de outros eventos ligados à promoção da leitura. No estado de São Paulo, a cultura das feiras também se consolida e o grande impulso, sem dúvida, é o apoio da CBL, onde todos ganham: público, autores, expositores e editoras. Em todo o Brasil, as feiras já fazem parte do calendário cultural das cidades. Mas a busca de novos leitores e de uma política pública de difusão do livro e de incentivo à leitura se dá também no Congresso Nacional com a Frente Parlamentar Mista de Leitura, presidida pelo deputado Marcelo Almeida, como mostra a entrevista principal desta edição. E outro projeto, que vale ressaltar, é o Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já instalou quase seis mil bibliotecas rurais, levando a possibilidade da leitura ao homem do campo. São exemplos como esses que trazem uma luz para a difícil questão da falta de leitores e para o analfabetismo. Questões que estão permanentemente na pauta da CBL. Boa leitura. Rosely Boschini Presidente da CBL (diretoria@cbl.org.br) 8
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Entrevista Foto: Fanca Cortez
Marcelo Almeida Engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Marcelo Beltrão de Almeida, 40 anos, possui, também, formação em Administração de Empresas e Empreendedorismo Cívico, além de especialização em eGov. Foi vereador de Curitiba por dois mandatos, ocupou a diretoria geral do Departamento de Trânsito e a Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná. Em 2007, assumiu o mandato de Deputado Federal pelo PMDB do mesmo estado. Apaixonado pelos livros, formou um pequeno grupo de leitu-
ra há quatro anos em Curitiba, com 12 pessoas - Conversa entre Amigos - que hoje envolve cerca de 600 leitores. A intenção é levar o projeto para escolas públicas da capital paranaense. Tanta paixão pela leitura levou o deputado a presidir a Frente Parlamentar Mista da Leitura, com o objetivo de criar o Fundo Pró-Leitura, que vai financiar as ações previstas no PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura), que não saíram do papel. A Frente Parlamentar iniciou em novembro a coleta de assinaturas de
deputados federais e senadores em apoio à proposta de criação do Fundo Pró-Leitura e de recriação do Instituto Nacional do Livro (INL). A decisão foi tomada durante os debates do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil, realizado no final de 2008. O abaixo assinado foi encabeçado pelos deputados Marcelo Almeida (PMDB-PR), presidente da Frente, e Geraldo Magela (PT-DF), autor de um requerimento que sugere ao Executivo a recriação do INL, extinto no início do governo Collor. Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Entrevista O manifesto ratifica o compromisso da indústria nacional de livros de destinar 1% do faturamento anual do setor para a formação e manutenção do Fundo Pró-Leitura, conforme acordado há quatro anos, quando o governo Lula desonerou o setor do pagamento de PIS/Pasep e Cofins. O setor, representado no seminário pela Câmara Brasileira do Livro, Instituto Pró-Livro, Associação Brasileira de Editores de Livros e Sindicato Nacional dos Editores de Livros, apoiou a declaração. Segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o Fundo pode ser criado até por decreto presidencial, mas se o Governo encaminhar uma proposta ao Congresso, contará com o apoio de senadores e deputados. Na entrevista a seguir, o deputa-
“Cada parlamentar vai garimpar em seu Estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer dificuldade em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição” do fala sobre o assunto e sobre os caminhos da leitura no Brasil. Panorama: Como surgiu a ideia da criação do Clube da Leitura Conversa entre Amigos? Marcelo Almeida: O programa nasceu da iniciativa do cidadão Marcelo Almeida e não do político. Na realidade, o programa nasceu a partir da leitura do livro “Felicidade”, do Eduardo Gianetti. Fiquei com uma inveja do bem daquele grupo de amigos que se reunia para debater assuntos sobre os quais todos já tinham lido alguma coisa, sem precisar de um copo de bebida para tornar aquele momento único, com a troca de conhecimento entre eles. Quis participar de algo assim e criei o Conversa Entre Amigos.
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Como, na época, eu trabalhava no Detran do Paraná, como diretor geral, iniciei o programa reunindo colegas de trabalho. Inicialmente, tínhamos 30 leitores e cerca de 12 pessoas que participavam dos encontros que o programa promove para debater o livro da vez. Hoje, são mais de 600 leitores cadastrados e mais de 200 pessoas que participam dos nossos encontros de conversa. Esse é um programa que existirá para sempre, independente de eu estar ou não deputado federal. Panorama: Por que uma bancada no Congresso para defender a leitura, um tema que, historicamente, não tem despertado uma ação política mais forte no parlamento brasileiro? Em que consiste, exatamente, a atuação da Comissão Mista Parlamentar de Leitura? Marcelo Almeida: A Frente Parlamentar Mista da Leitura é conseqüência da minha paixão pela leitura, uma extensão do programa Conversa Entre Amigos e uma das marcas do meu mandato. A leitura nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é, hoje, o grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais. Mas o Plano Nacional do Livro e da Leitura, dos Ministérios da Cultura e da Educação, por exemplo, passava quase que em branco na pauta do Congresso Nacional. A necessidade de se ter uma estrutura administrativa para cuidar da política do livro no País não era debatida pelos parlamentares. A disseminação das boas práticas de incentivo à leitura nunca mereceu um apoio sistemático e integral do Congresso. A Frente nasceu para mudar isso tudo. Os deputados e senadores que aderiram à Frente Parlamentar Mista da Leitura querem apoiar ações concretas de incentivo à leitura, sejam elas de iniciativa do poder público ou da iniciati-
va privada. Agora, o livro e a leitura têm um espaço permanente de promoção na pauta política nacional. Panorama: O senhor espera um envolvimento mais efetivo de deputados e senadores com o tema ou só um apoio político e votos favoráveis por ocasião de votações de projetos importantes para a área do livro e leitura? Marcelo Almeida: Com certeza! Não só o envolvimento nos seminários, reuniões e audiências públicas que a Frente já começou a promover, mas também de forma individual, nos seus estados. Cada parlamentar da Frente passa a ser um promotor da leitura em sua região, participando e organizando grupos de contos, concursos de redação, leitura compartilhada e bibliotecas itinerantes. Cada parlamentar vai garimpar em seu estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer dificuldade em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição. São temas de domínio público e de interesse geral e irrestrito. Por isso, os temas importantes e relevantes para o incentivo à leitura no Brasil terão o apoio dos deputados e senadores que integram a Frente. Panorama: Como o senhor imagina que deva ser o diálogo entre a Frente e as entidades que representam o negócio do livro no Brasil? Marcelo Almeida: O diálogo deve ser mais permanente em Brasília, tanto no Congresso, como nos Ministérios da Cultura e da Educação. Além disso, vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades do setor para debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da leitura. Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o Congresso e representantes do Governo, além dos próprios leitores, que têm de ter espaço no trabalho da Frente. Nossa intenção é manter sempre os canais de comunicação para aumentar a sinergia e reunir forças.
Panorama: Quais os resultados práticos desse trabalho até aqui e o que se espera em termos de conquistas substanciais para o livro e a leitura em 2009? Marcelo Almeida: Nos primeiros meses de atuação da Frente já tivemos alguns bons resultados práticos. Primeiramente, conquistamos a confiança do Congresso e do setor de que essa não é mais uma Frente pra fazer número ou para ser usada eleitoralmente. Esse é o primeiro resultado positivo. Outro resultado importante foi a repercussão do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil, que realizamos na Câmara dos Deputados, com a participação de mais de 300 pessoas, incluindo o ministro da
“A Leitura nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é hoje o grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais” Cultura, Juca Ferreira. O seminário colocou na pauta nacional a necessidade de recriação de uma estrutura administrativa para cuidar da política do livro e da leitura no Brasil e da criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura, dentro do Fundo Nacional da Cultura, para o financiamento das ações de incentivo à leitura no país. Também recebemos o sinal verde do Ministério do Planejamento, na pessoa do ministro Paulo Bernardo, para dar prosseguimento ao processo de criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura. Este foi o primeiro passo para vencer as barreiras existentes dentro do próprio Executivo em relação ao assunto. A Frente está trabalhando de forma afinada com o Ministério da Cultura no andamento desse processo.
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Entrevista
“Vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades do setor para debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da leitura. Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o Congresso e representantes do Governo” Essa Frente será o porto seguro de todos os que amam o mundo da leitura. Panorama: Por que o atraso na criação do Fundo Pró-Leitura? Quais as dificuldades para que isso aconteça, já que todas as partes envolvidas apóiam sua criação? Marcelo Almeida: Trata-se de um problema conceitual. A equipe do Ministério da Fazenda não quer estimular a criação de fundos. De fato, a criação aleatória de fundos pode enfraquecer a política macroeconômica. Além disso, já temos o Fundo Nacional da Cultura para financiar as políticas de cultura, incluindo a do livro e da leitura. Então, a resistência pode ser superada a partir do diálogo. Quanto tempo isso vai levar? Não sabemos. Mas estamos empenhados nesse processo. A alternativa de criação de um Fundo Setorial dentro do Fundo Nacional da Cultura tem maior aceitação da equipe econômica. Vamos resolver esses pontos e criar o Fundo em 2009. Panorama: O senhor acredita que existam setores dispostos a travar a criação do Fundo? Marcelo Almeida: A resistência é apenas de ordem técnica e conceitual. Não vejo uma oposição direta ao recolhimento de 1% do faturamento anual do setor editorial para a formação de um fundo que vai financiar as ações de incentivo ao livro e à leitura no Brasil. Na minha avaliação, o cenário é positivo. Panorama: Como a Frente pretende fazer para que as discussões travadas em seminários e debates como o realizado no Dia Nacional do Livro (29 de outubro) deem resultados mais efetivos? Marcelo Almeida:Os eventos que a
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Frente vai promover terão por objetivo debater assuntos relacionados ao setor. Algumas discussões poderão ser apenas teóricas. Outras, demandarão ações mais práticas e concretas, como aconteceu no I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil. A partir do seminário, estabelecemos uma agenda de interlocução com o Governo Federal para a criação do fundo setorial pró-leitura. Panorama: Como o Congresso pode ajudar efetivamente na recriação de instituto ou secretária nacional do livro e leitura, cujo compromisso público já foi anunciado pelo Ministério da Cultura? Marcelo Almeida: Isso já está sendo mostrado na prática. Além de articular a ação de todos os players, o Congresso terá que aprovar o projeto de recriação dessa estrutura administrativa. Panorama: Que projetos referentes ao livro e à leitura que tramitam atualmente no Congresso mereceriam um empurrão da Frente para virarem leis? Marcelo Almeida: Queremos trabalhar por demanda. Hoje, nossa força tarefa é para a criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura e para a recriação de uma estrutura administrativa que vai cuidar da política do
Livro de cabeceira “Leio, no mínimo, quatro livros por mês. Mas normalmente eu supero a meta mensal. Acho que leio cerca de 60 livros por ano. Sou eclético Leio biografias, ficção e romances. Só tenho dificuldades em ler auto-ajuda. Meu livro de cabeceira: “Pequeno tratado das grandes virtudes”, de André Comte-Sponville. Mais que um hábito, a leitura é uma necessidade para mim. Isso me ajuda em todas as áreas da minha vida. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, leio os pareceres dos projetos de lei com rapidez e isso me ajuda a tomar posição e definir voto”.
livro e da leitura no País. Depois, analisaremos as demais necessidades. Panorama: Por que a sociedade precisa de uma bancada do livro nos parlamentos? Como os atores sociais, entidades e todos aqueles interessados no tema devem contribuir nessa discussão? Marcelo Almeida: A participação deve ser cidadã. Todos os eventos organizados pela Frente Parlamentar da Leitura são abertos ao público. Todos os interessados no incentivo à leitura devem participar. Por meio do site da Frente (www.frentedaleitura.com.br), pessoas de todo o Brasil podem encaminhar exemplos de boas práticas de incentivo à leitura, além de apresentar propostas de ações. Pelo site, qualquer cidadão pode acompanhar a nossa agenda e estabelecer um canal de comunicação direta. Basta ter interesse pelo assunto e disposição para sair da zona de conforto, que muitas vezes nos impede de participar de forma mais efetiva.
Panorama: Em sua opinião, que medidas a sociedade pode adotar para aumentar o número de leitores e incentivar o gosto pela leitura no país? Marcelo Almeida: A primeira medida é ler mais. Se cada cidadão adotar como meta de vida pessoal ler mais, seremos um País mais leitor. E podemos começar lendo jornais e revistas. Se todos trocarem uma hora por dia em frente ao computador ou à TV por um livro, já teremos um grande avanço. Para estimular isso, quero deixar com todos alguns pensamentos e frases para reflexão. “O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler” – Mark Twain. “Meus filhos terão computadores, sim. Mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a própria história”- Bill Gates. “De três coisas precisa o homem para ser feliz: bênção divina, livros e P amigos”- Henri Lacordaire.
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Fotos: Heitor Costa
Cadeia Produtiva
Livrarias
Setor livreiro cresce 10,46% A Associação Nacional de Livrarias realizou um levantamento inédito junto às suas associadas, que representam 67% do setor entre pequenas, médias e grandes livrarias. O objetivo foi apresentar uma amostragem do desenvolvimento do setor livreiro no Brasil A primeira questão abordou a expectativa de crescimento que tinham os livreiros no início de 2008, em comparação com 2007. O resultado médio foi de 12,12%. Em seguida, um novo levantamento, realizado nas duas últimas semanas de novembro de 2008, questionou se a meta seria atingida. O resultado foi um crescimento observado de 10,46%, incluindo o mês de dezembro. De acordo com o presidente
da ANL, Vitor Tavares, o estudo teve como objetivo conhecer melhor os números do segmento livreiro, tendo como base as associadas da entidade. Com os dados em mãos, a ANL será capaz de dirigir suas ações para o aperfeiçoamento do setor. O presidente da entidade acredita que as diversas campanhas e políticas de difusão do livro no País, muitas delas por iniciativas governamentais, tem fundamental importância no crescimento do setor livreiro. Para 2009, a expectativa dos entrevistados é de um crescimento médio de 11,89%, em relação a 2008. Já a ANL acredita que esse número será inferior em função dos impactos da crise mundial, que ainda não havia sido detectada na época do estudo.
Editores
Snel prepara Bienal do Rio
Principal acontecimento do mercado editorial brasileiro, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro faz parte do calendário de grandes eventos da cidade há mais de 20 anos. Em sua última edição, realizada em 2007, foram vendidos 2,5 milhões de livros. Este ano, em sua 14ª edição, ela será realizada novamente no Riocentro, entre os dias de 10 e 20 de setembro. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, responsável pelo evento, serão mais de 900 expositores. A expectativa de público supera o número de 600 mil visitantes. O objetivo do Snel é realizar, mais uma vez, uma grande festa, repleta de novidades, que possibilite o encontro entre leitores e aqueles que são os grandes protagonistas da bienal: os autores, escritores, poetas e pensadores.
Didáticos
Maior apreensão de livros do país
Se depender do resultado da primeira grande apreensão do 2009, vão sobrar motivos para a campanha Comércio do Livro do Professor: Apague essa Ideia comemorar este ano. É que três sebos do Recife tornaram-se, em janeiro, palco da maior apreensão de livros do professor do país. Mais de cinco mil exemplares novos e usados foram levados por 12 policiais da Delegacia de Prevenção e Repressão à Pirataria. Criada há três anos pela Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), a campanha tenta combater o comércio ilegal das obras didáticas. As ações acontecem nas principais capitais. A venda dos livros do professor por atravessadores gera um prejuízo anual para as editoras do país estimado em R$ 40 milhões. 14
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Gráficas Setor ainda não sente crise
A Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) vai conseguir saber, em fevereiro, se houve ou não retração no consumo de cadernos e produtos editoriais, especificamente livros, devido à crise financeira internacional. Segundo o presidente da entidade, Alfried Plöger, os pagamentos desses serviços gráficos pelas papelarias, livrarias e distribuidores são realizados em fevereiro e março, após o início das vendas diretas, no período de volta às aulas (janeiro a março). Assim, explica, a cadeia depende do comportamento do consumidor final para saber se houve retração nas vendas de produtos escolares.
Associações Instituto Pró Livro participa de estudo
O Instituto Pró Livro está promovendo, ao lado de outras entidades do setor do livro e leitura, a pesquisa O Livro no Orçamento Familiar (LOF). O estudo vai atender uma antiga demanda do segmento livreiro e editorial: conhecer, de fato, o seu consumidor. A partir dos dados já coletados sobre a despesa familiar, os dados efetivos dos gastos com material de leitura (livros e de outros como jornais, revistas, fotocópias etc.) permitirão traçar o perfil do mercado consumidor, por nível de renda, escolaridade, local de compra e outras variáveis importantes. A pesquisa será finalizada neste primeiro trimestre.
Editores Uma semana também para a literatura
A União Brasileira de Escritores está comemorando a instituição do Dia Nacional da Leitura e da Semana Nacional da Leitura e da Literatura pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas as comemorações acontecem por um motivo em especial: a inclusão do segundo L na semana festiva. O presidente da Ube, Levi Bucalem Ferrrari, conta que desde a criação da antiga Câmara Setorial do Livro e da Leitura (CSLL) que a entidade tem insistido no acréscimo de Literatura, que foi incorporado, ficando CSLLL. A Ube acredita que esse pode ter sido um dos motes para o acréscimo da palavra literatura no nome da semana.A premiação acontecerá em dezembro.
Eventos
Letras Posse da nova diretoria da ABL
Em sessão solene no Salão Nobre do Petit Trianon, em sua sede no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Letras empossou a sua nova diretoria. O escritor e jornalista Cícero Sandroni foi reeleito, por unanimidade, para um segundo mandato como presidente da entidade. Logo depois de sua eleição, Sandroni anunciou que 2009 será o Ano Euclides da Cunha na ABL, em homenagem ao centenário de morte do autor de Os sertões, que morreu em 15 de agosto de 1909. O presidente também afirmou que a entidade pretende expandir as atividades literárias em 2009 por meio dos recursos tecnológicos, como a internet.
Papel Lançado boletim do setor
A Bracelpa publicou a primeira edição do boletim Conjuntura Bracelpa, nova publicação da Associação Brasileira de Celulose e Papel, que trará mensalmente os dados mais recentes sobre o desempenho do setor de celulose e papel do Brasil. O objetivo é oferecer insumos para acompanhamento do mercado de celulose e papel, facilitando a cobertura de temas do setor. Em sua primeira edição, o boletim trouxe uma radiografia do setor, informando os volumes de produção, vendas domésticas, exportações e importações de celulose e dos diversos tipos de papéis. O informativo ainda reúne dados sobre a balança comercial do setor.
Regionais Bahia Câmara do Livro tem nova diretoria
Eleita por unanimidade, a nova diretoria da Câmara Bahiana do Livro tomou posse em Salvador. Presidida por Carlos Vilarinho, a equipe está empenhada em vários projetos, com destaque para uma parceria com a Seg Livros Representações. O objetivo é dar mais visibilidade ao autor baiano, divulgando e comercializados livros dos escritores associados em todo o estado. Fundada há 50 anos, a CBaL congrega escritores, livreiros, distribuidores, gráficas, editoras e profissionais ligados à literatura. A entidade tem por finalidade fomentar o hábito da leitura e promover a cadeia do livro no estado.
Amazonas Flifloresta promove debate sobre indígenas
A Câmara Amazonense do Livro e Leitura foi uma das realizadoras do Simpósio Cultura e Natureza na Amazônia, que integrou a programação do primeiro Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta). Com 400 inscritos, entre estudantes, professores, pesquisadores, escritores e outros intelectuais, o evento aconteceu no município de Presidente Figueiredo (AM), na Cachoeira da Onça, onde foi lida a Carta da Floresta. O documento, redigido pelos palestrantes e demais convidados do evento, expressa sentimentos, preocupações e compromissos em relação ao presente a ao futuro da Amazônia e das suas populações.
Rio Grande do Sul Mais de 400 mil livros
Segundo dados divulgados pela Câmara Rio-Grandense do Livro, foram vendidos, em toda a 54ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, no ano passado, 424.046 livros, 8% menos que em 2007. Durante os 17 dias do evento, que é o maior do setor realizado a céu aberto no continente americano, 829 obras foram lançadas. Desta vez, o tradicional cortejo de encerramento da feira foi diferente dos anos anteriores. Em vez das rosas vivas, coloridas e perfumadas, o público recebeu um marcador de páginas que convida para a 55ª edição da feira, que acontece este ano e já tem data marcada para começar: 30 de outubro.
Ceará Voz para o Nordeste
Um ciclo de debates sobre livro e leitura esquentou a 8ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Dividida em cinco mesas, a programação foi focada especialmente na organização política do setor na região Nordeste. A opinião do Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindilivros) é de que o autor local não entra nas listas de livros escolares e, por isso, toda a cadeia produtiva do livro é prejudicada. A presidente da entidade, Mileide Flores, acredita que as bibliotecas das regiões Norte e Nordeste não têm voz na escolha dos acervos. “É uma cultura homogeneizante”, diz.
Rio de Janeiro Salão escolhe livros para escolas estaduais
A Associação dos Representantes de Editoras do Estado do Rio de Janeiro apoiou, mais uma vez, a realização do Salão do Livro das Escolas Estaduais. No evento, que aconteceu no Centro de Convenções Sulamérica, no centro do Rio de Janeiro, durante três dias, representantes das 1.600 escolas dos 92 municípios fluminenses puderam escolher novos livros para as bibliotecas escolares. 160 editoras ocuparam 126 estandes no evento, que recebeu cerca de cinco mil pessoas por dia. As obram selecionados são adotados como material de apoio, uma vez que o material didático é fornecido pelo Governo Federal para todo o País. Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Ponto de Vista
Ranking dos maiores revela pujança do porta a porta Mercado porta a porta surpreende e comemora o terceiro lugar entre os maiores canais de venda de livros no Brasil Foto: Divulgação
Sem dúvida, a divulgação dos dados da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em acordo com a CBL – Câmara Brasileira do Livro e o SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros, revelou ao grande público uma faceta surpreendente do mercado livreiro. A venda porta a porta de livros, que para muitas pessoas que vivem nas grandes metrópoles evoca lembranças do passado, mostrou que está presente sim e gozando de muita saúde em nosso país. Sua participação, que em 2006 tinha sido de 5,43% em número de exemplares vendidos, saltou para 9,61% em 2007, ostentando uma variação de 91,37% em comparação ao mesmo período do ano passado. Ao dobrar sua participação, ele se tornou o terceiro maior canal de comercialização de livros do país. O primeiro continua sen16
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do as livrarias (47,69%), o segundo, as distribuidoras (21,58%) e os canais restantes respondem por 21,12% do total. Embora o número de leitores no Brasil continue acanhado quando comparado ao dos países desenvolvidos, o desempenho do porta a porta surpreende e, ao mesmo tempo, confirma a estratégia de compensar este cenário desfavorável com a busca pelo consumidor e pelo novo leitor. A criatividade é a principal ferramenta empregada por mais de 30.000 vendedores espalhados por todo o país para convencer consumidores, principalmente das classes C e D, a comprar livros, valendo-se de um atendimento diferenciado e personalizado capaz de tornar o livro um objeto de desejo. É uma vitória para o porta a porta manter-se tão bem e por tantos anos em um ambiente tão desfavorável e ainda conseguir expandir seus negócios. E quanto ao futuro? Não podemos ignorar os efeitos das turbulências atuais do mercado financeiro e as ondas de impacto que estão por vir, mas a expectativa para este ano ainda é de crescimento. Uma vantagem preciosa desse setor sobre a concorrência é que, além de estar capitalizado, ele financia seu negócio com recursos próprios. Dispondo de um exército de vendedores que diariamente vai ao encontro do cliente onde quer que ele esteja, ele é pró-ativo e não depende como os outros segmentos da visita oportuna do cliente em seus estabelecimentos físicos e/ou virtuais. Esta constatação reforça ainda mais as ações que estamos desenvolvendo para o futuro. Através da ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, entidade que representa o setor porta a porta, apresentamos ao Ministério do Trabalho e Emprego um projeto para recrutar e qualificar inicialmente 2.000 vendedores de livros em todo o país. Batizado de PLANSEQ – Agente de Leitura (Plano Setorial de Qualificação), este
é um convênio entre a ABDL e o FAT (Fundo de Assistência ao Trabalhador) que será financiado com os recursos orçamentários do exercício de 2009 e tem por objetivo oferecer às empresas associadas profissionais capacitados, atualizados, com visão estratégica e empreendedora que lhes possibilitem ampliar suas atuações no mercado. Além disso, visando abrir uma nova opção de crédito aos nossos clientes e minimizar a inadimplência, apresentamos neste ano um projeto para disponibilizar um cartão de crédito com forte apelo cultural que lhes será oferecido pelo vendedor. Este cartão, que já recebeu aprovação da bandeira VISA, é mais uma novidade entre tantas que estamos prospectando. O aumento do número de vendedores, a melhor qualificação destes profissionais, produtos diferenciados e de qualidade, controle da inadimplência em níveis aceitáveis e a manutenção do padrão de renda das classes C e D vão promover o crescimento desse segmento como um todo, inclusive pela adesão de novas empresas. O gestor moderno deve perceber este momento favorável e tentar acompanhar o mais rápido possível as mudanças nesse mercado tão promissor, pois à medida que o consumidor moderno se torna mais informado, ele tende a exigir formas de comercialização mais flexíveis, preços mais alinhados à sua realidade e a melhoria da qualidade dos produtos. A vista destas realidades, independentemente dos efeitos da crise externa, continuamos muito otimistas e esperamos que as vendas no porta a porta sigam o ritmo observado nos úlP timos anos. Luis Antonio Torelli, presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) mailto:torelli@trilhaeducacional. com.br
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Acontece
Fundo compra parte da Cultura
Ibema vai investir no mercado editorial
Continua debate sobre direito autoral
Após três anos de negociação, a Livraria Cultura anunciou a venda de parte de suas ações à gestora de recursos Neo Investimentos. O controle acionário da empresa continua nas mãos do empresário Pedro Herz, que assumirá a presidência do recém-criado Conselho de Administração da Cultura. O objetivo é acelerar a expansão da rede, que tem oito lojas em cinco cidades e prepara-se para inaugurar mais uma em Brasília. Herz diz que há espaço para pelo menos mais 30 grandes lojas nas principais cidades do País.
Terceira maior fabricante de papelcartão do Brasil, a Ibema, do Paraná, quer aumentar sua participação no segmento editorial e livreiro em 2009. Em 2008, quando o faturamento da empresa foi de R$ 210 milhões, 11% de sua produção foi destinada a produtos para o mercado Editorial e Promocional, que engloba livros. Este ano, a empresa, que possui duas unidades no Sul do País, quer aumentar a participação para 15%, ao menos. A ideia é apresentar a Ibema como uma nova alternativa para as editoras.
Iniciado em dezembro de 2007, o Fórum Nacional de Direito Autoral, promovido pelo Ministério da Cultura, contou com encontros em 2008 e continuará em 2009. A proposta do MinC para modificar a atual legislação dos direitos autorais no Brasil tem mobilizado editores, escritores e outros profissionais do livro em um amplo debate. A mudança na lei ainda será submetida a uma consulta pública neste primeiro semestre, antes de seguir para o Congresso. Está prevista uma nova discussão para março, em Salvador.
Santillana investe mais em apostilas
ABL lança nova edição de dicionário
Dona da editora de livros didáticos Moderna, a editora espanhola Santillana investirá R$ 8 milhões, entre 2009 e 2010, em seu sistema de ensino no Brasil, que engloba apostilas para alunos e serviços pedagógicos para escolas. Entre 2007 e 2008, o investimento do grupo foi de R$ 2 milhões. O setor de sistemas de ensino movimenta anualmente cerca de R$ 600 milhões, representando aproximadamente 30% do faturamento das publicações educacionais. A Santillana ainda detém as editoras Objetiva e Salamandra.
A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou, pela Companhia Editora Nacional, a 2ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, executada pelo seu Setor de Lexicologia e Lexicografia. Com 56 correções, a nova edição, com 1.312 páginas e 33 mil verbetes, tem tiragem de 20 mil exemplares. A ABL também atualizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), que será lançado em março pela Editora Global. Além de se enquadrar nas regras do acordo ortográfico, ele incorporará mais de 10 mil novos verbetes.
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Literatura para 1,5 milhão de alunos O Ministério da Educação vai publicar os dez textos vencedores do 2º Concurso Literatura para Todos e distribuí-los a 1,5 milhão de estudantes. Entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, presídios e núcleos de educação de jovens e adultos de instituições de educação superior vão receber as obras. O prêmio é promovido pelo MEC para estimular a produção literária destinada a jovens e adultos em processo de alfabetização.
Um robô para digitalizar livros
Maysa nas livrarias
Para digitalizar as obras doadas por José Mindlin à biblioteca Brasiliana USP, cujo prédio é construído na Cidade Universitária, a Universidade de São Paulo (USP) acaba de adquirir um scanner robotizado. Segundo o professor István Jancsó, coordenador do projeto, esse é o primeiro equipamento do gênero no País, adquirido por R$ 1,5 milhão. O dinheiro foi conseguido com verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mindlin oficializou a doação de 30 mil volumes de sua biblioteca em 2006.
Na esteira do sucesso da minissérie Maysa: Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, exibida pela Globo em janeiro, duas biografias sobre a cantora acabam de ser relançadas. Maysa (edição independente), de José Roberto Santos Neves, e Meu Mundo Caiu: A Bossa e a Fossa de Maysa, de Eduardo Logullo (Novo Século Editora), estão de volta às livrarias. Maysa: Só Numa Multidão de Amores, de Lira Neto (Editora Globo), que serviu como base de consulta para o programa, foi parar direto na lista dos mais vendidos.
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Socialmente Responsável
Conhecimento itinerante Projeto Ecoteca proporciona cultura às comunidades da beira do rio Paranapanema “Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias”. Sãopalavras de Mário Vargas Llosa, um dos maiores escritores de língua espanhola e reconhecido mundialmente, como romancista, jornalista, ensaista e político. E foi seguindo o mesmo conceito que a Duke Energy, empresa multinacional de comercialização, geração, distribuição e transmissão de eletricidade e transporte de gás, juntamente com a BEÏ Comunicação, implantou um projeto de responsabilidade social que leva leitura a vários municípios localizados ao longo do rio Paranapanema – SP, região onde a empres atua A gerente Ana Amélia Conti
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Foto: Arquivo/Duke Energy
A Ecoteca é um projeto criado para promover a leitura entre a população. Inspirada pela meta de “pensar globalmente e agir localmente”, a Ecoteca conta com o apoio das diversas Secretarias Municipais da Educação e Prefeituras locais para realizar oficinas, cursos e eventos de valorização da leitura, nos municípios do vale. O mundo mágico dos livros é levado à população por meio de uma van, que percorre as cidades, instala-se em espaços públicos e oferece uma biblioteca de títulos variados como ficção e paradidáticos, destinados a adultos e crianças. Ao mesmo tempo, promove rodas de leitura animadas por contadores de histórias que desenvolvem a arte da narrativa e da leitura compartilhada, capaz de despertar o interesse e o prazer de ler nos participantes. Outro objetivo do projeto é a formação de contadores de história locais, por meio de oficinas desenvolvidas para capacitar educadores e outros interessados a estimularem a leitura, não só junto à rede pública de ensino, mas também na comunidade onde estão inseridos. “Há oito anos desenvolvemos este trabalho. Já são mais de 15 mil pessoas atendidas. Para nós, é um orgulho poder contribuir com a educação de crianças das várias comunidades onde estamos presentes. É como se ampliássemos o nosso trabalho e a nossa família.”, afirma com entusiasmo a gerente geral de Relações Institucionais da Duke Energy Ana Amélia Conti. Nesses 8 anos de projeto, a Ecoteca já visitou 77 municípios, percorrendo
Fotos: Arqu
aproximadamente 45 mil Km ao longo do Paranapanema, onde entregou cerca de 1.800 livros para bibliotecas e escolas. Além da participação maciça das mais de 2.500 pessoas que participaram das oficinas entre educadores e membros da comunidade. Para a Duke Energy o estímulo à leitura é de fundamental importância porque permite o desenvolvimento das ideias e da fantasia existentes dentro de cada ser humano. O argumento da empresa é que o exercício da leitura nos faz entender melhor os mecanismos que regem o mundo e que organizam o modo de vida das pessoas. A leitura deve se tornar um hábito na vida da população, não apenas para distrair ou soltar a imaginação. E mais: na sociedade globalizada, a leitura tem papel fundamental na vida atuante do individuo e para pertencer de fato à sociedade é necessário saiber ler seus códigos, suas leis, sua regras, suas histórias. “Vamos avaliar a continuidade das ações e o início de outras que possam contribuir para o enriquecimento da educação e da cultura de nossas cidaP des”, garante Ana Amélia.
ivo/Duke En
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Monitora monta teatro de fantoches durante Ecoteca em Pirapozinho, São Paulo
Monitora conta histórias para crianças durante Ecoteca em Ribeirão Claro, Paraná Segundo dados de 2008 o projeto atingiu 10 municípios da região do Paranapanema, entre os estados de São Paulo e Paraná. Bernardino de Campos – SP Carlópolis – PR Cerqueira César – SP Itaí – SP Jardim Olinda – PR Paranapoema – PR Pirapozinho – SP Ribeirão Claro – PR Sandovalina – SP Santana do Itararé – PR Crianças lendo em praça de Sandovalina na tenda da Ecoteca Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Outras Capa Mídias
Arte: Rogério Lance
Em 2008, o programa cultural Metrópolis completou 20 anos no ar. Lembrado por ser o único programa diário dedicado exclusivamente as diversas áreas da cultura e artes em geral, o Metrópolis sempre tem um espaço reservado também para o mundo dos livros, trazendo resenhas, dicas e informações sobre lançamentos e eventos ligados ao meio do livro e leitura. O programa é apresentado por Cunha Jr, Domingas Person e Paulo Vinícius e vai ao ar todos os dias às 21h30 na Tv Cultura.
Foto: Isabel D’Elia
O livro no rádio
O site Verdes Trigos, no ar desde 1998, é um espaço conhecido e respeitado pelo público interessado por literatura. O principal objetivo do portal é apresentar ao leitor curioso os principais lançamentos do mundo editorial por meio de resenhas, textos, comentários, assim como a produção literária brasileira. “O novo leitor não tem o hábito de frequentar livrarias ou bibliotecas. Ele se informa pelo Google. Portanto, fornecemos aos nossos visitantes os links para acessar o pensamento contemporâneo, a construção deste pensamento pós-moderno e digital, de forma crítica e ampla”, afirma o criador do site, Henrique Chagas.
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na TV O livro
andado pela eituras, com L & ta s ra et L o, já comple O programa dio Eldorad rá o a n m rf es o m D , ona dora jornalista M a apresenta o d m n u u e eg S M . A o ar minutos na dois anos n mitado de 10 li ue alcang o p se n m te co s m com u Leitura & s rra et L o M, o muito reto minuto na F s. ”Tenho tid re re o b it so le a ro s v o at m o li çar os candid izer que lera o d e a m ar p em v evem as no, as pesso ta tal ou escr is ev m tr lé A en . a rf n o D os lo”, afirma o qual falam ome e o títu n o a boa ferrao m d u in ja ed se site p rádio o e u q a it d acre “Hoje em dia disso, Dorf pela leitura. o st o pag o d o usã rádio é com menta de dif o trânsito, o n o p m te o it u perdemos m s sa es n nheiro . O horas”, diz eiL & s Letra ar turas vai ao à a d n u g se de 45 h sexta, às 11 Pao te n dura onorama Eld Tamrado. el bém é possív enconferir as na trevistas te íntegra no si se w w w .l e tr a . m le it u ra s. c o br.
lgação Fotos: Divu
O Livro na Internet
Todo mundo lê
Erika Palomino (jornalista)
Dica de leitura Washington Olivetto (publicitário)
O que eu estou lendo Bob Wolfenson (fotógrafo)
ação Fotos: Divulg
O livro da minha vida
Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa) “Leio e releio constantemente, integralmente e em trechos. É uma aula de Brasil, de identidade brasileira e, principalmente, de literatura, linguagem, ritmo e pontuação. Minha maior escola de escrita e técnica literária. Terminei meu primeiro livro com ‘no nada’, frase que abre o livro. Coincidência: eu nasci no dia e ano em que João Guimarães Rosa morreu!” Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial (Denilson Monteiro) “Uma biografia literalmente da pesada, escrita por um jovem e talentoso jornalista. Imperial foi uma figuraça que influiu na carreira de nomes como Roberto Carlos, Tim Maia e Elis Regina. Um livraço. Divertido e dramático. Não deixem de ler.” D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter (Isabel Lustosa) “Eu adoro história do Brasil e ler esse livro é bom porque a gente se acostuma a só aprender sobre o tema quando está estudando, depois não vê nada mais a respeito. Nunca aprendi tanto sobre história quanto com essa leitura.”
Boa Ideia
O incentivo que faltava Projeto idealizado por jovem de favela carioca vem disseminando o gosto pela leitura entre comunidades carentes do Rio de Janeiro
Fotos: Divu
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Transformar a vida das pessoas de sua comunidade através do lúdico mundo da leitura. Esse foi o principal objetivo de um jovem, nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, filho de uma dona de casa e um pedreiro. Desde 2003, Otávio César Santiago de Souza Junior, com muita determinação, vem mudando a realidade de comunidades carentes com o Projeto Ler é 10 – leia favela. “Queremos, acima de tudo, democratizar a leitura e dar acesso a livros às crianças de comunidades de baixa renda”, esclarece. Cansado de ver as crianças de sua comunidade ociosas e sem contato com o livro, o jovem decidiu criar um projeto de incentivo a leitura. Com os poucos exemplares de seu acervo pessoal e com idéias obtidas em cursos de promoção de leitura, escrita e participação em seminários e feiras de livros, o projeto 24
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começava a caminhar. “Quando criança, descobri o prazer pela leitura por acaso, depois que encontrei um livro no lixo e não desejo que crianças de comunidades de baixa renda descubram a leitura como eu descobri”, explica. Para Otávio, ver o projeto, que teve inicio em 2003, em andamento, é a realização de um sonho. O sonho de ver as crianças do bairro onde cresceu e outras comunidades lendo e apreciando literatura. Em menos de dois anos e meio o número de crianças atendidas passou de 2500 para 5000. Atualmente o projeto já atende as comunidades de Vila Cruzeiro, Grota, Fazendinha, Caracol, além de apoiar ONGs, associações de moradores que já atuam na comunidade, com atividades lúdicas e educativas para a promoção da leitura. E através de muito trabalho e dedicação Otávio conseguiu realizar
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Fotos: Divu
Otávio César Santiago um sonho antigo de inaugurar o primeiro espaço de leitura na comunidade, no Parque Proletário da Penha, a 200 metros da Vila Cruzeiro. Dentro do projeto, as comunidades têm acesso a atividades como o “Lanchinho literário”, “Cinema literário” onde são apresentados filmes adaptados de livros literários, “Maratona de leitura”, “Pombo-Correio literário” e as oficinas de produção de livretos. Apesar dos históricos de violência dos subúrbios cariocas, Otávio afirma que o projeto foi muito brm aceito. “As pessoas enxergam as comunidades cariocas como antros violentos, mas não sofremos retaliação alguma por parte do crime organizado. Eles não impedem o nosso trabalho, pois nossa meta é a inserção da cultura e educação. A receptividade sempre foi muito boa”, garante.
Segundo Otávio o que falta para aumentar o interesse pela leitura é o incentivo. “Falta investimento de políticas públicas e privadas para a democratização e acesso ao livro. Há várias questões que afastam o brasileiro do livro, como o alto preço, a falta de hábito, o avanço de novas tecnologias. Mas tenho esperanças que esse quadro seja revertido em um curto espaço de tempo”, afirma. O projeto venceu no ano passado o Premio Faz Diferença e, oficialmente, conta com o apoio da Afeigraf e Instituto Kinder do Brasil. Recebe doações de livros de escritores, ilustradores e pesquisadores de literatura infanto juvenil. Aos 24 anos Otávio César já é autor de duas obras infanto-juvenis, publicadas de maneira independente, além de autor, contador de histórias e proP dutor executivo teatral. Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Arte: Rogério Lance
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As feiras ganham o país e o país ganha com as feiras De março a novembro, o mercado editorial movimenta milhões de reais e de livros nas feiras e bienais, que já fazem parte do calendário cultural das metrópolis às pequenas cidades de norte a sul do país 26
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Fotos: Divulgação
Fascinada pela leitura, a curitibana Aline Cristina de Souza sonhava um dia conhecer uma Bienal ou uma grande feira de livros. Aos 19 anos, concretizou o sonho. Durante a viagem a Porto Alegre, lembrava-se das reportagens em que o mundo da leitura se desvendava em cada linha que descrevia o evento. Ao chegar à 54ª Feira do Livro, deparou-se com obras de escritores que não conhecia, folheou, comprou lançamentos e apreciou livros de seu escritor preferido, José Saramago. Aline voltou para casa com oito livros na bagagem e uma sensação de que faltou algo no evento. “Fui com a impressão de ser um evento cultural mais voltado para contagiar o gosto pela leitura, com palestras, exposições, enfim, um lado mais estudioso. Embora tenha adquirido vários livros por preços excelentes, senti falta de um enfoque a mais do que é o mundo da literatura”, opina. As impressões de quem visita as feiras são inúmeras: fascínio, encanto, críticas, descoberta. Em Porto Alegre, cenário da jovem leitora, a Feira é uma das maiores a céu aberto do mundo e a mais antiga no Brasil. Em 1955, o jornalista e diretor do extinto Diário de Notícias, Say Marques, viajou ao Rio de Janeiro para visitar a
Cinelândia, bairro carioca, onde existia o comércio de livros em 40 barracas ao ar livre. Ao voltar para Porto Alegre, adaptou o que tinha visto e criou uma feira com o objetivo de aumentar as vendas dos livros. Com 20% de desconto, foram comercializados em 14 dias, 35.813 exemplares. Com o tempo e experiência, o evento foi sendo lapidado e hoje, a capital gaúcha em sua 54ª edição, contou com 167 expositores livreiros e a venda 600 mil livros. Patrono dessa edição, Charles Kiefer, 50 anos, autor de clássicos da literatura infanto-juvenil como Caminhando na Chuva, O Pêndulo do relógio, Um outro olhar, Antologia Pessoal, Você Viu Meu Pai por aí?, que recebeu por três vezes o prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro, acredita que a Feira de Porto Alegre cumpre, sim, seu papel de difundir e estimular a leitura, contrariando as impressões da jovem estudante Aline. “A Feira do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o estado brasileiro de maior consumo per capita do Brasil: 5,6 livros por habitante/ano”, afirma. Para o escritor, o evento representa um espaço de prazer e conhecimento: “Uma festa da cultura. Um momento ímpar, nesta que é a maior feira aberta em torno do livro da América Latina. O evento, em minha opinião, é divulgação, venda, troca de idéias, tudo isso e muito mais, já que em Porto Alegre são realizadas mais de 1.500 atividades culturais como Simpósios, Seminários, Encontros, Maratonas de Lite-
Charles Kiefer, escritor e patrono da 54ª Bienal de Porto Alegre – “A Bienal do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o Estado brasileiro de maior consumo per capita de livros do Brasil.
A curitibana Aline Cristina de Souza visitou a 54ª Bienal de Porto Alegre e voltou com 8 livros na bagagem Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Foto: Elias Oliveira
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Picada do Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma população de apenas 5000 habitantes, a 8ª Feira do Livro vendeu 15 mil exemplares
Foto: Divulgação
Kika Carrera, a carioca freqüenta a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro desde a infância
ratura, Oficinas etc.” O presidente da ANL – Associação Nacional de Livraria, Vitor Tavares, afirma que as feiras de livros sempre são um bom momento para o mercado livreiro, principalmente para a região onde ela se realiza, especialmente se ela for bem planejada tanto por parte dos organizadores como dos expositores. A realização de eventos paralelos com a presença de autores, livreiros, editores e bibliotecários e, ainda, uma boa divulgação na mídia com o envolvimento de toda a comunidade são fundamentais para este sucesso. “É importante destacar que mesmo que as vendas durante o evento não sejam a esperada, números apontam que num período pós-feira — que pode variar entre 30 e 60 dias — o segmento de livros apresenta, naquela região onde ela aconteceu, um crescimento em suas vendas. Indiscutivelmente, isso deixa bem claro que um dos principais objetivos de uma feira de livros é o de difundir e democratizar o acesso ao livro e, principalmente, formar novos e fieis leitores”, afirma Tavares.
Democratizar a leitura Num movimento sem precedentes na história nacional, nesta década as feiras se proliferam com incrível rapidez também nas médias e em pequenas cidades do interior, como é o caso da cidade de Picada Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma popula-
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ção de apenas cinco mil habitantes, a 8ª Feira do Livro, em 2008, vendeu 15 mil exemplares segundo os organizadores. ( veja box sobre as feiras do Rio Grande do Sul) Em todas as feiras de livros, o discurso é o mesmo: O objetivo de cada uma, ou de todas, é consolidar-se como o maior evento literário da região, estado ou país, popularizar o livro e democratizar a leitura. Na região sudeste, a média de livros lidos por ano é de 4.9. Uma das cidades que compõem esta região, Rio de Janeiro, realiza uma das maiores bienais, a Bienal Internacional, que recebeu na sua 18ª edição em 2007, mais de 540 mil pessoas. Entre elas, Kika Carrera, 25 anos, atriz, esteve não só na última Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro, que acontece em anos ímpares, como também nas edições anteriores. “Vou à Bienal desde criança, com a escola, agora vou sozinha. Prefiro. Assim, vou embora só quando termino de visitar os stands que me interessam”. Na última edição, Kika comprou mais de 10 livros, que somou no faturamento do evento, em torno de R$ 43 milhões, mais que o dobro dos R$ 20 milhões investidos no evento, segundo a organização. O que mais chamou a atenção da leitora foi o romance de Fadia Faqir. “Meu Nome é Salma é é um livro fantástico. Outro que adorei foi Comer, Rezar e Amar, da autora americana Elizabeth Gilbert. Comprei diversos livros
Tradição européia Para o publicitário Miguel Zimmermann Martins, 24 anos, ler é uma forma de aprender por si mesmo, dependendo apenas da vontade de quem quer instruir-se. “Ler é brincar com a imaginação, aprender a interpretar as palavras de um autor e trazer esse conteúdo para o seu dia a dia. Isso faz com que tarefas de interpretação do cotidiano fiquem mais simples, devido à prática que se adquire com a leitura”. A 20ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, visitada por aproximadamente 728 mil pessoas, incluindo alunos das redes públicas e privadas e visitantes, deixou em Miguel a impressão de que o tempo do evento é relativamente curto. “A Bienal me mostrou de forma acessível tudo o que está
acontecendo no mercado literário, mas fica complicado acompanhar todos os lançamentos pelo curto espaço de tempo”, lamenta. A média de livros lidos pelo publicitário é de um a dois por mês sobre assuntos específicos de caráter técnico, como fotografia, linguagem e comunicação e biografias. “Apesar de parecer fútil, como publicitário, fiquei impressionado com a trajetória de vida do Roberto Justus em Construindo uma vida- Trajetória profissional, negócios e O Aprendiz . Quem o vê hoje, na posição que ocupa, não faz idéia do caminho que ele teve de percorrer. Outro livro que gostei bastante foi O Vendedor de Sonhos, do Augusto Cury. A Bienal de São Paulo mostrou que, por mais que eu aprenda, busque e conheça determinados assuntos, sempre vai haver mais algo a aprender. O conhecimento não tem limites. É preciso estar preparado para nunca deixar de aprender”, diz Miguel. A Bienal de São Paulo teve um início tímido até chegar ao sucesso de hoje. A então 1ª Feira Popular do Livro realizada em São Paulo, capital, aconteceu pela primeira vez em 1951 na Praça da República com o objetivo de introduzir no Brasil a tradição das feiras de livros européias. Em 1956, foi realizada no Viaduto do Chá, mudança motivada pelo número de pessoas que por ali passavam, e em 1961, promoveu-se a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, em parceria com o Museu de Arte de São Paulo. Esses eventos serviram como projeto para que, em 1970, a CBL trouxesse com exclusividade a 1ª Bienal do Livro Internacional. Abdala Jamil Abdala, 61 anos, presidente da Francal Feiras, empresa organizadora de eventos, afirma que a Bienal do Livro de São Paulo é o maior evento cultural da América Latina. “Ao reunir as principais editoras do País - e estrangeiras - num único espaço e promover uma série de atividades culturais paralelas, aproxima pessoas e livros e, com isto, dá uma importante
Abdala Jamil Abdala – “A 20ª Bienal de São Paulo foi realizada com grande sucesso” Foto: Divulgação
sobre assuntos que me interessam: teatro, poesia, romance e, claro, não poderia faltar de auto-ajuda”. Ela conta que pôde ter acesso à quase todo material das editoras, e o preço dos livros era bem acessível. “Pra mim, o evento é uma ótima oportunidade de interação entre nós leitores e as editoras”. Embora satisfeita, faz uma crítica em relação à localidade do evento.“A Bienal fica distante do centro da cidade. Além de ser longe, o estacionamento é um absurdo! Os R$ 10,00 que desembolso poderiam ser gastos em livros”. A I Bienal do Livro do Rio de Janeiro aconteceu em 1983 nos salões do Copacabana Palace numa área de um mil m². Porém com a necessidade de ampliar este espaço, em 1987, o evento mudou-se para o Riocentro, e aumentou área para 15 mil m² pelo fato de ser um dos acontecimentos editoriais mais importantes do país. Mas a distância não é empecilho para uma leitora assídua como Kika, que descreve o prazer de ler: “É poder compor a própria história dentro do que me é emprestado, quebrar barreiras, não ter idade, preconceito, nem religião”.
Capa
Foto: Divulgação
Vitor Tavares: “As feiras são um bom momento para o mercado livreiro”
contribuição para o desenvolvimento da cultura nacional”. Por ser um evento de grande contribuição ao incentivo à leitura, conta com o apoio da Prefeitura da Cidade de São Paulo, do Ministério da Cultura e também de patrocinadores que colaboraram na realização dos eventos paralelos: Volkswagen, Ipiranga, HSBC, Submarino e Visa, entre outras empresas.
Incentivo à leitura
Foto: Gustavo Sá
Se as feiras e bienais de livros realmente conseguem mudar o comportamento do leitor ou criar novos adeptos, ainda não existem estatísticas para medir esse resultado. Mas o número de livros vendidos em cada uma sugere que sim, o que não se aplica à população de baixa renda. Mas as administrações públicas tentam se aproximar das camadas sociais mais simples por meio do cheque livro ou vale livro, liberando verbas para as secretarias de educação comprarem livros didáticos e paradidáticos e, assim, enriquecer as bibliotecas escolares com mais títulos, o que possibilita maior acesso dos alunos à leitura. É o caso de muitas cidades, como Caxias do Sul, que, em 2007, na 23ª edição da feira, recebeu 210 mil visitantes e comercializou 52 mil obras, 15% a mais que no ano anterior. Em parce-
ria com o poder público, a feira criou o projeto Passaporte da Leitura, que beneficiou 30 escolas públicas com 30 livros cada uma. Em Tocantins, o governo do estado também se encarrega de enviar recursos para que o livro chegue aonde o povo está. Cada professor de rede pública recebe R$150,00 para compras pessoais de livros na feira e, este ano, o presente foi estendido aos vigias, serventes e merendeiras das escolas: cada um recebeu R$ 40,00. “O objetivo é que todos leiam mais”, diz a secretária de Educação e Cultura de Tocantins, Maria Auxiliadora Seabra Rezende, convicta de que o salão de livros cumpre seu papel de difundir a leitura, além de ser economicamente viável; “O mercado editorial responde bem ao comprar espaço e aumentar o número de expositores a cada ano”. Já João Scortecci, do Grupo Editorial Scortecci, tem outra visão: “Não gosto de ver aquele bando de crianças correndo pelos corredores. É o lado ruim de uma bienal. Nós precisamos repensar tudo. Repensar significa apoiar e olhar o futuro”, avalia. Quanto a ser um bom negócio para o livreiro, ele diz: “Sou livreiro de pequeno porte. Algumas redes participam, outras não. Cada um justifica do jeito que lhe parece melhor. Dinheiro, garanto que não dá. O leitor não compra livro porque é vantajoso. Compra porque gosta e quer ler. Um desconto e uma promoção são “ameixas” na empada. Sair com a sacola cheia é o máximo. Gostaria que todas as pessoas deste Brasil pudessem comprar muitos livros. Pena que apenas uma pequena parte pode fazê-lo. Para quem não pode, deveriam existir mais bibliotecas”, critica De acordo com o Ministério da Cultura, quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca, porém, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, revelou que apenas dos 66% dos entrevistados conhecem esta informação e apenas 10% freqüentam
Maria Auxiliadora Seabra, secretária de Educação e Cultura de Tocantins: “O mercado editorial responde bem ao comprar espaço e aumentar o número de expositores a cada ano”. 30
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o espaço. (veja matéria Comportamento Leitor). Em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, existe uma biblioteca central e quatro ramais, localizados em bairros da cidade, “Além de uma biblioteca móvel que percorre 15 bairros da cidade. Temos também, grandes livrarias como a Saraiva e a Nobel, além de outras menores de proprietários riopretenses. Não falta estímulo para leitura na cidade, a prefeitura mesmo investiu na bienal deste ano cerca de R$ 600 mil”, diz o coordenador geral da 2ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto e assessor de gabinete na Secretaria de Cultura da cidade, Deodoro Moreira. Ele alega que o principal objetivo do setor é despertar o gosto pela leitura tanto em crianças como em adultos. “A prefeitura por meio da Secretaria Municipal da Educação investiu R$ 140 mil na distribuição de cheques-livros.
A Secretaria de Educação repassou cerca de R$2 mil para cada uma das escolas municipais. Os livros adquiridos foram para o acervo das bibliotecas das escolas”, diz. Discutir qual a feira mais importante, mais relevante, parece algo sem sentido. Pela programação que contém, pelo empenho dos organizadores, cada feira cumpre o mesmo papel, não importa o tamanho do evento. É proporcional. Só no Brasil, existem mais de vinte grandes eventos literários entre feiras e bienais, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, SNEL, mas parece que tanto incentivo à leitura ainda é pouco para um país com um índice de 70 milhões de não-leitores. Mas, é uma questão de tempo e de determinação para mudar esses quadro. Se as feiras estão ganhando o país, a expectativa é de que o Brasil e os brasileiros também ganhem com as feiras. P
Bienal de Porto Alegre incentiva cidades do interior do RS ainda programas em Caxias do Sul e São Leopoldo, uma zona de imigrantes italianos, cujo organizador das feiras, Jari Rocha, levou a experiência de oito anos na Secretaria de Educação e Cultura de Morro Reuter, cidade a 60 km ao norte de Porto Alegre, com 5.500 habitantes e com um dos menores índices de analfabetismo do páis. A pequena cidade gaúcha, colonizada por alemães, ostenta em frente à prefeitura o Obelisco de Livros, criação do artista Gustavo Nakle, erguido para registrar o trabalho do município em relação à leitura, a paixão de seus moradores pelos livros. O monumento de 11 metros de altura é representado por uma pilha de 72 livros. A feira do livro de Morro Reuter já está na 14ª edição. Mas, não somente as feiras contribuem para o crescente número de leitores no estado. Sônia cita como um fenômeno, a iniciativa da Santa Casa de Porto Alegre, onde circulam 33 mil pessoas por dia, com a criação de uma biblioteca e a realização de uma feira de livros por ano.
Sônia Maria Zanchetti: As feiras têm apoio e orientação da Câmara Riograndense
Foto: Divulgação
O número de feiras no Rio Grande do Sul cresce a cada ano. Segundo a coordenadora da área infanto-juvenil e membro da comissão executiva da Câmara Riograndense do Livro, Sônia Maria Zanchetti, mais 200 cidades do estado realizam feiras de livros todos os anos. “ Surgiram em função da Feira de Porto Alegre e todas elas têm o apoio da Câmara Riograndense”, afirma. Para ela, a comunicação entre os organizadores e as secretarias de cultura e de educação dos municípios é muito importante para a troca de idéias e orientação sobre que autores convidar, que eventos paralelos programar. E isso acontece constantemente. Todos os anos, a Câmara envia editais a 496 municípios pedindo as datas dos eventos e, a cada ano, aumenta o número de adesão às feiras. Algumas cidades têm outros bons meios de incentivo aos livros além da feira. Em Bento Gonçalves, a prefeitura realiza um programa de leitura para alunos das escolas municipais, estaduais e particulares. Sônia cita
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Foto: Ubirajara Machado
Políticas Públicas
Navegando pela leitura
Programa Arca das Letras leva o mundo dos livros para a população rural e já ultrapassa as fronteiras do país Assim como na passagem Bíblica, quando Noé construiu uma Arca para salvar a população da época de um dilúvio que durou 40 dias e 40 noites, um projeto desenvolvido pela Secretaria de Reordenamento Agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário vem trazendo esperança de dias melhores para famílias das zonas rurais do país, no que se refere ao acesso ao conhecimento. O Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras foi criado em 2003 para incentivar a leitura e facilitar o acesso aos livros em assentamentos, comunidades de agricultura familiar e de remanescentes de quilombos. Cada biblioteca possui cerca de 200 títulos obtidos por doação, entre literatura infantil, literatura para jovens e adultos, livros didáticos, de pesquisa e 32
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técnicos -cidadania, saúde, agricultura- incluindo assuntos de interesse das populações rurais e suas necessidades. Segundo a coordenadora nacional do programa, Cleide Cristina Soares, os resultados positivos podem ser conferidos em relação ao desenvolvimento comunitário, já que parte do acervo é destinada a livros relacionados à realidade rural, como publicações sobre agricultura. “O que podemos destacar também é a diminuição da evasão escolar depois da chegada dos livros às comunidades”, destaca. Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural, é a própria comunidade que escolhe os assuntos que formam os acervos, o local onde a biblioteca irá funcionar, e indica os moradores que serão capacitados como Agentes de Leitura, voluntários que
são responsáveis pela organização do programa e pelo incentivo à leitura na comunidade. E de acordo com a coordenadora, os bons resultados obtidos desde a implantação em 2003, se dá pelo envolvimento da comunidade no projeto. “Eles participam ativamente do planejamento das bibliotecas, dão sugestões e isso proporciona uma aproximação maior dela com os livros”, afirma. Por meio de um trabalho bem artesanal, a biblioteca é organizada em um móvel de madeira fabricado em marcenarias de penitenciárias por trabalhadores sentenciados, que recebem bolsas de trabalho e redução de suas penas. São confeccionadas também na Fundação Pão dos Pobres no Rio Grande do Sul, no Centro de Profissionalização Integrado do Piauí - Secretaria de Estado da Educação e em alguns municípios
por iniciativa das Prefeituras. Em todo o Brasil, o Arca das Letras, já implantou mais de 5.800 bibliotecas rurais em mais de 1,7 mil municípios brasileiros. Até o momento, mais de 1,2 milhões de livros foram distribuídos, beneficiando cerca de 700 mil famílias do campo. O trabalho de atendimento oferecido nas bibliotecas é feito por 12 mil agentes de leitura, que contribuem para melhorar os índices educacionais de suas comunidades, além de apoiar o trabalho e valorizar a cultura no meio rural. O programa já ultrapassou fronteiras implantando três Bibliotecas Arca das Letras em Díli noTimor Leste e na capital cubana, Havana, como cooperação solidária. Para Cleide, apresentar o mundo da leitura para as crianças e fazer com que ela se interesse não é a tarefa difícil. “Nosso maior desafio é incentivar a leitura entre os jovens e adultos. Por isso, apresentamos primeiro publicações que tenham a ver com a realidade daquelas pessoas, e assim, estamos conseguindo atingir nossas metas e a leitura acaba se tornando um hábito na vida dessas pessoas”, conclui. Depois de implantadas na comunidade, as bibliotecas são visitadas pela equipe do programa na intenção de acompanhar o seu desenvolvimento junto à comunidade. “Pelas nossas contas nós entregamos cerca de três bibliotecas por dia, desde 2003. Depois de implantado o programa, voltamos a comunidade para acompanhar o trabalho e os resultados dele. Cada encontro dura em média dois dias, quando discutimos os avanços e as sugestões de toda comunidade participante. No meio rural, o livro chega e é lido”, garante Cleide. A Arca da Letras conta com o apoio do Projeto Banco do Brasil/Fome Zero, Banco do Nordeste, MME Luz para todos e por meio dos Centros Culturais Banco do Brasil (DF/ SP/RJ), Missão Criança, Eletrosul e Furnas. Em Petrolina/PE, Mossoró/RN e Fortaleza/CE conta com o apoio do Ministério da Justiça/DEPEN. Além
da parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação do Ministério da Educação (FNDE/MEC); Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça; Ministério da Cultura e outros órgãos públicos federais, estaduais e municipais. Também participam os movimentos sociais e sindicais, editoras, artistas e a população urbana - que contribui com a doação de livros. Toda sociedade de mãos dadas para levar mais cultura e conhecimento às comunidades necessitadas.
pesquisas e receber ajuda nos deveres de casa”, ressalta. A atitude altruísta do jovem Agente, que disponibiliza parte do seu tempo às necessidades de sua comunidade tem proporcionado a ele melhor convívio social. “Além de ajudar pessoas aqui eu consegui aumentar meu círculo de amizades e isso é muito gratificante”, confirma. Outra apaixonada pela Arca das Letras é a professora Simone Regina Del Belo Rodrigues, Agente da comunidade Aparecida do Bonito em Santa Rita D’oeste, São Paulo. Antes do programa, ela já realizava um trabalho Os capitães da Arca voltado para a leitura, mas com a chegada da Arca as coisas mudaram. “O O sucesso do programa não seria programa Arca das Letras chegou aqui possível sem a preciosa ajuda dos Agenem maio de 2008, e veio somar com o tes de Leitura, que voluntariamente dão trabalho que eu já realizava na minha o apoio necessário as comunidades becomunidade, deu uma injeção de ânineficiadas pela Arca. São aproximadamo”, garante. mente 12 mil em todo Brasil, e o jovem Para ela a importância do projeto de 24 anos, Welton Pinote Rozetta é um vem diretamente ao encontro das nedeles. Atuante no programa desde 2007 cessidades da comunidade rural. “Essa na comunidade de São João da Barra é uma população carente de informaSeca em Colatina - Espírito Santo, ele ção, que necessita de conhecimento garante que ajudar a comunidade onde para poder gerar renda no local onde vive é fundamental. “A maior imporresidem”. tância do projeto para mim é auxiliar Mas Simone sabe que o trabalho a comunidade na qual eu resido, atennem sempre é fácil e aceito prontamendendo principalmente o estudante, que te. Por isso, ela trabalha constantevem para cá depois da aula para fazer mente para tornar o programa Foto: Regina Santos cada vez mais atrativo. “Eu sempre digo que não basta ler livros;a gente tem que montar estratégias, essa é a parte mais difícil para que a população se interesse pela leitura. Diante dessas necessidades eu desenvolvo várias atividades para que a biblioteca seja visitada. Hoje, minha comunidade usa a biblioteca folheando livros e, para mim, isso é importante porque mesmo que ela chegue e só “passe” a mão nos livros já é um contato que elas não tinham”, explica. Interessada em agregar ainda mais valor ao seu trabalho, Simone fez um curso de especialização em projetos e através disso vai levar Arca das Letras para fora da sua comunidade. “Eu apresentei o projeto numa escola no município vizinho e a diretora se interessou muito,
Foto: Silvia Souza
Políticas Públicas
Feira da Agricultura Familiar - RJ
comunidades estão adquirindo mais conhecimento, os estudantes tem facilidade em fazer trabalhos e pesquisas. As crianças, os jovens e os adultos se distraem, se divertem e aprendem com os livros”, conta. Valdinéia diz, ainda, que a Arca não mudou só a vida da Comunidade Gravatá. “Foi através do projeto que participei e ganhei um computador no primeiro concurso em homenagem a Machado de Assis realizado pelo Ministério da Cultura. Foi a realização de um sonho, pois nunca tive condições de comprar e com este prêmio, conquistado graças a meu trabalho com o pro-
grama, vou poder ajudar muito mais a minha comunidade”, justifica. Apesar dos problemas que enfrenta, numa das regiões mais necessitadas do país, Valdinéia tenta passar para a comunidade a importância da leitura. “Hoje, minha maior dificuldade é atingir o publico adulto, pois eles estão sempre ocupados, trabalhando. Muitos deles não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever quando jovens. Mas, devagar, eu vou incentivando e tenho certeza que um dia todos vão descobrir o quanto é bom se apaiP xonar por um livro”, afirma.
Foto: Divulgação
agora é só correr atrás e botá-lo para funcionar”, diz. Emocionada com o resultado obtido até agora, a Agente se diz apaixonada pelo que faz. “Às vezes eu me emociono quando vejo as crianças vindo de tão longe, debaixo do sol para participar do programa. Para mim, esse é o melhor projeto que eu já vi em termos de incluir a população rural nos projetos sociais, é muito gratificante. Por isso que eu sempre digo que a gente tem que ler para alcançar o conhecimento”, completa. Valdinéia Soares Moreira também disponibiliza parte do seu tempo para auxiliar a Comunidade Gravatá, na Chapada do Norte -Vale do Jequitinhonha. Lá, ela desenvolve o programa numa comunidade quilombola. “Eu considero este projeto importantíssimo, pois me trouxe uma grande oportunidade de adquirir experiência e muito mais conhecimento a respeito da nossa origem, ainda mais por ser de uma comunidade quilombola”, explica. Atuante na Arca das Letras desde 2006, Valdinéia afirma que muitas mudanças aconteceram na comunidade depois do programa. “O pessoal das
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Pelo mundo afora
EUA
Obama ajuda a vender livros Em janeiro, quando Barack Hussein Obama tomou posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, o País passou a ter o presidente mais pop de sua história. Porém, já desde muito antes dele se mudar para a Casa Branca que tudo o que ele lê, ouve, joga ou vê têm despertado o interesse dos americanos. Não é novidade, assim, que os livros preferidos do presidente estejam provocando uma verdadeira corrida até as prateleiras das livrarias. Acostumado a ler obras de pensado-
res como Maquiavel e Thomas Hobbes, além dos clássicos da literatura jurídica, o livro favorito de Obama, segundo o jornal britânico The Daily Telegraph, é Moby Dick, do escritor americano Herman Melville, publicado pela primeira vez em 1851. Desde que a sua predileção pela obra foi divulgada, a procura tem sido tanta que o clássico voltou às livrarias dos EUA em uma nova edição. O efeito tem sido sentido também no Brasil. A editora Cosac Naify, que lançou uma nova tradução da versão
integral de Moby Dick em abril do ano passado, não está dando conta dos pedidos de reposição das livrarias. Isso apesar das quase 700 páginas do livro. Além de garantir ter lido todos os volumes da série Harry Potter, de J.K. Rowling, quando ainda estava em campanha o novo presidente também divulgou uma lista de livros preferidos com títulos de James Baldwin, Doris Lessing e Toni Morrison. Não deu outra: os clássicos voltaram a ser procurados nas livrarias americanas.
Japão
Literatura para celular se espalha Não é de hoje que os japoneses e sua fissura por tecnologia decidiram usar o telefone móvel, tão popular como dispositivo de entretenimento e comunicação no País, como ferramenta de leitura. Nos últimos anos, enquanto a indústria do livro discute para encontrar um formato apropriado para distribuir, em mídia eletrônica, o tradicional conteúdo impresso, lá os romances de celular se consagraram como uma tendência. No início, a mania fez sucesso principalmente entre adolescentes e jovens.
Isso porque ela se caracterizava por uma narrativa ágil, com influência direta dos mangás - as histórias em quadrinhos japonesas – e marcadas por frases curtas, próprias para o formato de leitura na tela do celular. Mas, pouco a pouco, as editoras ampliaram o leque de ofertas e passaram a oferecer títulos variados no formato. Diante disso, nada mais natural que a ideia ser exportada e ganhar novos adeptos. No ano passado, a moda se estendeu a outros países, onde os celu-
lares estão sendo cada vez mais usados para transmitir dados, incluindo vídeo, fotos digitais e música. Agora, a novidade vem da editora americana Ravenous Romance, de e-books e audiobooks. Ela decidiu se inspirar na mania criada no Japão para comercializar um outro gênero literário pelo celular: o erótico. Para quem concorda que nada valida mais uma tecnologia emergente do que o envolvimento da indústria pornográfica com ela, foi a gota d´água.
Alemanha
Bibliotecas ao ar livre na Alemanha incentivam a leitura no país De acordo com uma pesquisa recente realizada pela Fundação Lesen, de Mainz, na Alemanha, enquanto em 2000 um terço da população adulta e adolescente ainda lia entre 12 e 50 livros por ano, em 2008 apenas um quarto cumpre o mesmo volume de leitura. Outros 25% da população nem encostam o dedo num livro, uma proporção que se manteve constante nos últimos anos. Para incentivar a leitura no país, algumas alternativas estão surgindo, como as bibliotecas ao ar livre, com o
intuito também de popularizar a leitura entre os alemães. Quem passa pela Alameda Poppelsdorfer Allee, uma das ruas mais charmosas e luxuosas da cidade de Bonn, onde foi implantado o projeto, pode aproveitar para ler um livro, ao ar livre. As bibliotecas ficam sem controle, recepcionista ou cadeados. É um armário de madeira com portas de vidro, onde quem quiser pode pegar livros emprestados. Tudo na base da confiança. Escolheu, pegou emprestado, leu, devolveu. Se a pessoa gostar muito do
livro pode levar para casa, com a condição de colocar outro no lugar. A iniciativa dos armários com livros é resultado de uma competição para promover a vida cívica e cultural na cidade, realizada pela Fundação Cidadãos de Bonn (Bürgerstiftung Bonn), em 2002. Mais de 130 propostas foram apresentadas, entre elas este projeto do então estudante de design de interior Trixi Royek. Desde o início de seu funcionamento, os armários ganharam espaço no coração dos cidadãos de Bonn. Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Mercado & Tendências
Os mascates das letras O mercado de livros porta a porta continua faturando (e muito! – só em 2007 foi quase R$ 1 bilhão) e permitindo o acesso de milhares de brasileiros à leitura POR ALEXANDRE MALVESTIO DA AGÊNCIA BRASIL QUE LÊ
Foto: Divulgação
O vendedor de livros Ivan Gama entrega certificado do concurso de redação para Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni, junto a seus pais
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A estudante Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni conheceu o vendedor Ivan Netzker Gama no ano passado, quando ele bateu na porta de sua casa, em Campinas, interior de São Paulo. Depois de ouvir o homem dizer que vendia livros, a menina, de dez anos, insistiu para que a mãe o deixasse entrar. Naquele dia, Kelly falou a ele sobre a sua paixão pela leitura. Lembrou
dos livros que já havia lido, dos que tinha vontade de ler, da sua dificuldade em encontrar obras em braille e também dos altos custos cobrados por livros nesse formato. Deficiente visual, Kelly fez Gama prometer que, quando voltasse, traria uma bíblia em braille para lhe vender. Mas a menina não precisou pagar pelo livro. Alguns meses depois, em São Paulo, ela recebeu o Gênesis e os
Salmos da Bíblia no formato braille e o Novo Testamento em MP3 das mãos do mesmo vendedor. Dali em diante, a cada três meses, ela receberia, em casa, um novo livro até completar os 38 volumes das escrituras sagradas. O presente, oferecido pela Sociedade Bíblica do Brasil, foi entregue no evento em comemoração aos 21 anos da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), entidade que congrega o setor porta a porta que vende e divulga livros em domicílio. A exemplo de Kelly, autora da redação que conta a história da visita inesperada, e uma das vencedoras do concurso “O amigo do meu melhor amigo”, organizado pela entidade, a maior parte dos brasileiros não imagina que ainda exista uma legião de caixeiros-viajantes vendendo livros de porta em porta pelo Brasil adentro. Nas pequenas cidades, principalmente nas regiões mais carentes do País, onde não existem livrarias ou bibliotecas, esse tipo de venda tem papel ainda mais relevante no acesso das pessoas aos livros. De acordo com a Pesquisa do Setor Porta a Porta, divulgada em novembro do ano passado, em 2007, o setor faturou, por meio dos associados da entidade, R$ 650 milhões. Com base em informação de que, do setor porta a porta, 70% são associados da ABDL, a entidade estimou, partindo da premissa de que os não-associados têm perfil similar aos associados, um faturamento global de R$ 930 milhões no ano passado. O setor vendeu, no período, cerca de 65 milhões de livros. Estima-se que o porta a porta tenha mobilizado, em 2007, quase trêsmil pessoas, exceto no ramo de vendas. É que um mesmo vendedor de livros pode ter mais de um fornecedor, inclusive de diferentes ramos. Portanto, de acordo com a ABDL, não faz sentido somar as quantidades de vendedores por conta da superposição. Separa-
damente, o levantamento mostrou que os editores do segmento contam com 1.292 vendedores empregados, os atacadistas com 2.738 e os crediaristas com 5.476. Ivan Netzker Gama, responsável por visitar a garota Kelly, é um desses vendedores. Morador de Mauá, na região metropolitana de São Paulo, ele inicia sua jornada na venda de livros porta a porta todos os dias às oito da manhã, quando se reúne com outros vendedores na sede da Espaço Editorial. O trabalho só vai terminar cerca de 12 horas mais tarde, quando ele já terá visitado cerca de 20 casas. Gama começou a trabalhar no ramo há 22 anos, por indicação da mulher, que viu o anúncio de uma vaga no jornal. No primeiro dia, não gostou do trabalho. Chegou a pedir para deixar o cargo, mas por insistência do gerente, foi ficando. Anos depois, a editora fechou as portas e ele chegou a se aventurar em um negócio próprio, no mesmo ramo, antes de entrar para a Espaço Editorial, onde trabalha há nove anos. “Eu não gostava de livros e ainda não gosto muito de ler, mas aos poucos foi despertando o interesse. A gente precisa ler para poder mostrar para os clientes que conhece o produto”, explica o vendedor, que estudou até o Ensino Médio. Com vendedores trabalhando para diferentes fornecedores, há diversas formas de atuação no segmento porta a porta. Muitos profissionais trabalham por conta própria e organizam suas agendas de visitas. Na empresa onde Gama trabalha, há diversas equipes atuando juntas. Para cada uma delas, um supervisor fica responsável por acompanhar cada grupo de vendedores, que visita casas em diferentes cidades da Grande São Paulo e até no interior do estado. Apesar dos tempos de violência e insegurança, Gama diz que é sempre
muito bem recebido por onde passa oferecendo livros. “O que mais marca nesse trabalho são as amizades que nós fazemos. Eu sempre tento uma aproximação com o cliente em vez de só bater na casa dele. Tem gente que me convida para almoçar e até liga depois convidado para festas e casamentos”, conta. De acordo com o presidente da ABDL, Luís Antonio Torelli, o segmento do livro porta a porta é fundamental para o fomento à leitura no Brasil. “Nada foi descoberto que substitua esses homens e mulheres que atravessam o País divulgando o hábito de ler”, afirma. O presidente diz que os resultados da Pesquisa do Setor Porta a Porta já permitem à entidade traçar planos estratégicos para o setor quanto à sua eficiência e lucratividade. De acordo com Torelli, a ABDL está desenvolvendo, juntamente com o Ministério do Trabalho e Emprego, um programa para formar vendedores de livros porta a porta. Além de preparar novos profissionais para a atividade, o programa vai capacitar vendedores que já atuam no setor. Em outubro do ano passado, a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2007, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), mostrou que a participação do segmento porta a porta no total de livros vendidos pelas editoras foi de 9,6% em 2007. O número representa uma evolução de 91,3% em relação ao ano anterior. Em tempos de internet, a pesquisa mostrou que quase 20 milhões de exemplares foram vendidos pelas editoras a vendedores porta a porta, o que faz dele o terceiro canal de vendas mais importante para as editoras, ficando atrás apenas das livrarias e dos P próprios distribuidores. Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Foto: Fanca Cortez
Comportamento Leitor
Biblioteca em São Paulo
Sem acesso aos livros O número de cidades sem bibliotecas no Brasil revela a falta de interesse do poder público com a questão do livro e da leitura no país. Os estados do Norte Nordeste são os mais precários O Piauí aparece em primeiro lugar no ranking da lista de municípios sem bibliotecas, de acordo com números do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. “Mas, para falar a verdade, essa notícia não me surpreende, porque tenho que lidar diariamente com isso. Percebo que a leitura em casa também é deficiente. No geral, o hábito de ler é algo raro, independente da região”, diz o professor de geografia e webdesigner Igor Soares, de 26 anos. Só no estado do Piauí, 79 municípios estão sem bibliotecas. “É importante dar a oportunidade do cidadão ter acesso a este equipamento público, mas é importante que exista também 38
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um trabalho de estímulo à leitura. Construir uma biblioteca e encher a mesma de livros não é suficiente”, completa Igor. Dados levantados pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas mostram que ainda existem 361 municípios sem bibliotecas. As regiões mais críticas estão no Nordeste e Norte, onde também é registrado o menor índice de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Em segundo lugar no ranking aparece a Bahia, com 67 cidades do Estado sem bibliotecas públicas. “É vergonhoso um Estado que tem 417 cidades e 15 milhões de habitantes estar numa situa-
ção dessas” diz o estudante de jornalismo, Ítalo Oliveira de Jesus. que costuma freqüentar a biblioteca da faculdade onde estuda. “A UFBA tem uma biblioteca grande e completa. Quase não uso outras e desconheço quantas públicas existem em Salvador”. Ele diz que vai à biblioteca da faculdade pelo menos uma vez por semana à procura de livros de economia ou de literatura por interesse próprio e quando precisa para trabalhos. Já Lucelmo Oliveira, 20 anos, não teve a sorte de nascer na capital. Em Araci, interior da Bahia, desde pequeno sonhava em ser pianista. Começou a estudar música como autodidata até perceber que sozinho não conseguiria chegar aonde pretendia. “Encontrei muitas dificuldade no início, quando ainda não estudava como acadêmico. Por várias vezes procurei livros que pudessem me dar os primeiros passos, onde eu pudesse pesquisar, aprender, mas não os encontrei. Isso fez com que, cada vez mais, eu me deslocasse para cidades vizinhas com um porte estrutural maior, já que em Araci não existia e não existe até hoje uma biblioteca pública”. Lucelmo mudou-se para Salvador para continuar os estudos e hoje cursa o terceiro ano de música na Faculdade Católica, onde encontra livros e todo material que precisa. “Apesar da cidade dispor de um Centro Cultural, hoje com uma pequena melhoria no quadro de livros, na época em que eu estudava, não existia nenhum espaço para estudar. Deveria haver em nossa cidade, uma biblioteca estruturada, que pudesse proporcionar aos habitantes de Araci uma gama maior de conteúdos necessários para a formação não só de estudantes, mas de indivíduos de uma sociedade”, pondera. Muitas histórias parecidas com a de Lucelmo certamente existem na Paraíba que aparece na lista com 48 municípios desprovidos de uma biblioteca pública, assim como o estado do Rio Grande do Norte, que hoje possui 28 cidades sem o espaço. Mesmo com toda tradição de ser
o estado com maior índice de leitores, o Rio Grande do Sul aparece como o único da região que deixa de atender a todos os municípios. Faltam bibliotecas em 13 cidades. Na região sudeste do Brasil, Rio de Janeiro e Espírito Santo estão bem equipados. Em Minas Gerais, restam quatro cidades para zerar o déficit, enquanto em São Paulo aparece a surpresa. Segundo a Fundação Biblioteca Nacional, 15 municípios do estado estão sem bibliotecas. O Amazonas lidera na região norte, a falta de bibliotecas, são 24 cidades. Em seguida aparece Goiás, região centro-oeste, com 25 municípios sem elas. No município de Santo Antônio do Iça, Amazonas, a locutora Adry Gomes, de 30 anos, preocupa-se com o fato de a pequena cidade não ter acesso à leitura. “Deveria existir mais preocupação com a educação de nossas crianças, alunos e todos que precisam de um ambiente de leitura”, diz. Leitora assídua, quando quer ler, procura um livro na estante de casa.“Falta interesse dos políticos da cidade em trazer uma biblioteca pra cá”, diz. Segundo Adry, os estudantes da cidade têm como opção a internet para realizar pesquisas escolares. “Facilita muito, já que não podem ter o prazer de ter um acervo bibliotecário aqui, mas nem todos têm acesso.” De acordo Com Ilce Carvalho, coordenadora geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, o SNBP da Fundação Biblioteca Nacional, usou vários critérios para chegar aos 361 municípios sem bibliotecas públicas: “Consulta na Base de Dados do SNBP, consulta ao site do IBGE, consulta no MinC para averiguação se o município em algum momento já recebeu verba do Ministério, informações recebidas das Coordenadorias dos Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas, etc”, diz. Ela afirma que o valor anual investido em bibliotecas públicas varia de ano para ano, em decorrência da alta de preços no mercado. “Em 2007, o valor unitário do kit de implantação ficou por R$61.600,00”.
Fotos: Divulgação
O professor Igor Soares Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Comportamento Leitor Nas 361 cidades onde não existem bibliotecas públicas, o SNBP está tomando providências. “Foi remetido ofício, e-mail, fax, para as prefeituras, comunicando que aquele determinado município não possui biblioteca pública. Desta forma, solicitamos o envio do formulário preenchido do Programa Livro Aberto com a documentação exigida a fim de que o município seja contemplado”. Para Ilce, a existência de bibliotecas públicas nos municípios é de grande
Foto: Fundação Santillana
Mônica Messenberg Guimarães diretora da Fundação Santillana
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A biblioteca está associada com estudos e escola, mostra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil ao questionar aos entrevistados com qual freqüência a visitam. Afirmam que não estão na escola, por isso não fazem uso deste espaço. Em 2005 o Ministério da Cultura revelou que quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca apesar de apenas 66% dos entrevistados da pesquisa conhecer essa informação. O músico carioca César Lago de 32 anos, não costuma visitar bibliotecas “não sei ao certo, quantas bibliotecas públicas existem na cidade. Pra dizer a verdade, nem me lembro quando foi a última vez que fui a uma. Costumo pegar livros emprestados com amigos, além de ter um imenso acervo em casa. Deveria existir campanhas para população freqüentar e ter conhecimento deste espaço disponível no Rio de Janeiro, porque ler, é uma excelente forma aprender”, diz César que prefere a leitura de revistas especializadas em música. Dados da pesquisa mostram que 40% dos 94 milhões dos entrevistados vão à biblioteca em busca de livros, 12% de revistas, 6% jornais, 3% para consultar a Internet e os 58% não costumam ir a biblioteca. Seria necessário criar, premiar e apoiar projetos voltados para pessoas que não tem tempo de ler e também para aqueles que se queixam da dificuldade de acesso às bibliotecas. A Fundação Nacional do Livro In-
importância, já que este espaço irá disponibilizar a informação para todos os cidadãos da comunidade, sem distinção de raça, idade e nível econômico e social. “A Biblioteca Pública é o alicerce que dá apoio ao desenvolvimento cultural e educacional do cidadão brasileiro, pois o livro é o elemento de inclusão social”. Apesar de encontrar-se na lista da Fundação Biblioteca Nacional, alguns estados alegam ter zerado seu déficit de bibliotecas.
fantil e Juvenil e o Prêmio Vivaleitura premiam projetos dessa natureza. Diretora da Fundação Santillana, Mônica Messenberg Guimarães, fala sobre a importância de projetos como Rodas de Leitura, de Serra Pelada, no Pará, “são um exemplo de como o livro pode chegar em áreas desprovidas de bens culturais. Nesse caso, a biblioteca tem um acervo de três mil exemplares e está em uma região onde a livraria mais próxima está há quatro horas de distância”. Outro exemplo citado por Mônica, é do Ônibus-Biblioteca da cidade de São Paulo, “leva um acervo importante para zonas da cidade que não têm acesso a bibliotecas”. Segundo ela, o Prêmio Vivaleitura pode contribuir ao incentivar e mostrar iniciativas que levam o livro e o prazer de ler à comunidades ou grupos de pessoas que não tenham acesso regular a bibliotecas ou livrarias. “Muitos dos mais de 7 mil projetos registrados são ações que estimulam a formação de leitores em áreas com essas características. Nosso esforço é em fomentar a multiplicação dessas experiências para minimizar esse problema. O Prêmio Vivaleitura já está em sua terceira edição, caminhando agora para o seu quarto ano. Nesse período, temos observado que muitas das iniciativas servem de inspiração para outras ações pelo país. A carência de bibliotecas públicas é de fato um problema que precisa ser enfrentado. Até lá, cabe à sociedade P buscar alternativas”, diz.
Radiografia
Foto: Ibraim Leão
Os livros na vida do jornalista
Caco Barcellos 15 aos 20 anos
Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche) Foi um livro importante para mim
C
M
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CM
MY
CY
CMY
20 aos 30 anos
K
Aos olhos da multidão (Gay Talese) Foi quando eu comecei no jornalismo e este foi um mestre do News Jornalism.
30 aos 40 anos
México rebelde - John Reed Eu escrevi sobre a América Central e o autor era um escritor que me inspirava bastante, estava influenciado por escritores que cobriam esse tema.
40 aos 50 anos
O Negociador (Frederick Forsyth) É um exemplo de ficcionista que usa métodos de pesquisa de não ficção, e usa a pesquisa da realidade com grande precisão e eficácia para fazer romance. A realidade é muito mais interessante que a ficção.
Hoje
Cem dias em Bagdá (Asne Seierstad) É uma autora corajosa que optou por cobrir a guerra por uma ótica do mais fraco.
Fotos: Divulgação
Eventos
Leitores para ler o mundo
Fundação Caloustre Gulbenkian reúne, em Portugal, especialistas de vários países para discutir teorias e práticas de leitura O primeiro Congresso Internacional de Promoção da Leitura foi realizado nos dias 22 e 23 de Janeiro de 2009, em Lisboa, na seda da Fundação, pela iniciativa dos responsáveis pelo projeto Gulbenkian Casa da Leitura, com o tema Formar leitores para Ler o mundo. O objetivo foi o de seguir as áreas que estruturam o portal Casa da Leitura, ou seja, a literatura infanto-juvenil, as questões teóricas da leitura e as boas práticas e estratégias de promoção da leitura. O fio condutor dos temas abordados foram as políticas, estratégias, metodologias e instrumentos para a formação de novos públicos leitores. O evento desenvolveu-se em três painéis principais, com a presença de investigadores e especialistas de Portugal, França, EUA, Suécia, Canadá, Reino Unido (País de Gales) e Brasil. Realizado com tradução simultânea, o Congresso foi aberto pelo especialista em Literatura para a Infância, Peter Hunk, professor Catedrático na Universidade de Cardiff (Reino Unido), com o painel Literatura para a Infância e Formação de Leitores. Teresa Colomer, da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha), fez a apresentação principal no painel Estratégias de Leitura e Compreensão Leitora e o Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, dirigiu o painel Projectos de Promoção de Leitura. O Congresso foi encerrado com 42
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um debate moderado pelo conhecido jornalista português António José Teixeira, sobre a leitura como experiência de vida – três reflexões protagonizadas por José Barata-Moura (Universidade Clássica de Lisboa), Fernando Savater (Universidade Complutense de Madrid) e Eduardo Marçal Grilo (Fundação Calouste Gulbenkian). Os participantes tiveram oportunidade de debater, em salas separadas, e durante 90 minutos os temas de cada um dos painéis com os congressistas de cada uma das mesas. Para falar sobre formação de públicos, estratégias de leitura e projetos para a promoção da leitura foram convidados, por exemplo, o escritor espanhol Fernando Savater e o brasileiro Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura. Ele apresentou a conferência Retratos da Leitura no Brasil:
Como Construir um País de Leitores. Dolores López-Casero, do Centro Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Espanha, e António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, também marcaram presença no Congresso de Lisboa “Foi a primeira grande conferência em Portugal sobre a promoção da leitura e trouxe os melhores especialistas para falar sobre o tema com uma linguagem que fugiu ao jargão acadêmico”, disse António Prole, responsável pela Casa da Leitura, à agência Lusa. “As pessoas sentiram que levaram para casa um algo mais, que se abriram perspectivas, que levaram interrogações, que lhe foram dadas novas formas de olhar velhos problemas. Uma pequena editora, mas de grande qualidade no seu site titulava Obrigado Casa da Leitura “, relata Prole. Mais informações no site: www. P gulbenkian.pt
Prêmios & Concursos
Uma foto para um verso Fundação espanhola promove concurso internacional de fotografia para jovens de 14 a 20 anos
Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura.
A segunda edição do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura oferece uma premiação total de R$ 212 mil, distribuída em quatro categorias: Conjunto da Obra, Jovem Escritor Mineiro, Poesia e Ficção. As inscrições podem ser feitas no Suplemento Literário, localizado na Superintendência de Museus da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.
A Fundação Blas de Otero, sediada em Bilbao, na Espanha, promove o concurso de fotografía Imágenes para unos versos com o obetivo de difundir a obra do poeta Blas de Otero entre os jovens e vincurlar sua poesia com à realidade cotidiana. Podem participar jovens entre 14 e 20 anos, de qualquer nacionalidade, e as fotografias devem fazer referência a algum dos versos da obra poética do autor, disponível no site da fundação, assim como o regulamento e o formulário de inscrição do concurso. As inscrições vão até à meia noite do dia 06 de março de 2009. As fotos podem ser enviadas pelo correio ou por e-mail
Concurso Banco Real Talentos da Maturidade Já estão abertas as inscrições para o Concurso Banco Real Talentos da Maturidade. O concurso chega a sua 10ª edição, consolidando-se como uma das mais importantes iniciativas privadas do país que busca a valorização das pessoas com mais de 60 anos. Nesta década de história, o concurso vem revelado e reconhecendo uma infinidade de potenciais artísticos.
Mais informações: (31) 3213.1072
Mais informações: www.bancoreal.com.br
5º Prêmio Barco a Vapor
Prêmio Cruz e Sousa de Literatura
As inscrições para o maior prêmio existente no País para originais de literatura infantil e juvenil estão abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As obras devem ser inéditas e se encaixar em uma das quatro séries da coleção Barco a Vapor, das Edições SM: leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10 e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos). Mais informações: www.edicoessm.com.br
em formato JPEG. Cada participante poderá concorrer com até três fotos. O prêmio para cada modalidade ( de 14 a 17 e de 18 a 20 anos) será uma câmera digital de 10 megapixels Blas Otero nasceu em Bilbao, em 1916 e morreu em Madri, em 1979. Sua obra, que parte da angústia metafícia para desembocar no social e no testemonial é uma das mais importantes da lírica pós guerra lírica e um exemplo do chamado “exílio interior”, que caracterizou boa parte da resistência espanhola contra o franquismo. Quem quiser participar encontra todas as informações e regulamento no site www.fundacionblasdeotero.org
O Prêmio Cruz e Sousa 2008-2009 destina-se a romances inéditos, escritos por brasileiros em língua portuguesa, residentes no País ou no Exterior, em duas categorias de premiação – Categoria Nacional e Categoria Catarinense. As inscrições poderão ser realizadas do dia 21 de outubro de 2008 até o dia 5 de março de 2009. Mais informações: cruzesousa@fcc.sc.gov.br
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Livros sobre Livros
Teia de histórias Seria o ficcionista um eterno sonhador? Ou um “inventador” de histórias em tempo integral? O israelense Amós Oz pode falar disso com extrema autoridade, depois de tantas letras escritas em sua bem-sucedida carreira de romancista POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS
Com Rimas da vida e da morte (Cia. das Letras, 120 pp., R$ 31, trad. Paulo Geiger) Oz trilha por uma teia narrativa que viaja entre a história da criatividade de um romancista, a história que ele está criando em sua mente e a história da vida desse autor. É, como você está vendo, tudo se mistura. Mas de uma forma muito interessante, a narrativa varia da terceira para a primeira pessoa com suavidade e fluidez, proporcionando uma leitura ágil e inteligente. Com discrição e astúcia, Amós Oz parece nos dizer que por trás de cada indivíduo anônimo existe um manancial de dramas e comédias possíveis. O livro narra a história de um romancista medianamente famoso que se prepara para dar uma palestra e participar de um debate sobre sua obra num centro cultural de bairro, em Tel Aviv. Enquanto faz hora num café – remoendo as mesmas e eternas perguntas que são repetidas a todo autor em uma entrevista ou palestra –, passa a imaginar uma história para cada indivíduo que vê a sua volta. A atraente garçonete que o serve, por exemplo, vira ex-namorada do goleiro reserva do time de futebol Bnei Iehudá. Dois 44
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homens que conversam numa mesa próxima se convertem, na sua fantasia, em mafiosos discutindo a situação de um terceiro homem, um ricaço que agora definha na UTI de um hospital. A compulsão ficcional do escritor prossegue durante e após a palestra, resultando numa teia de histórias imaginárias que começam a se embaralhar com a trajetória do protagonista, a ponto de não sabermos, por exemplo, se ele foi ou não para a cama com a moça solitária que leu para o público trechos de suas obras no evento do centro cultural. O próprio título, Rimas da vida e da morte, é tirado do livro fictício de um autor também inventado, o poeta Tsefania Beit-Halachmi, cujos versos o protagonista e outros personagens vivem citando. As perguntas que também pressionam a mente do autor enquanto toma o seu café e imagina sua história revelam, de certa maneira, a mente de um escritor diante da expectativa de uma entrevista ou uma palestra; e parece desvendar além disso a mente imaginativa de um romancista. Certamente vários escritores se identificaP rão com ele.
Título: Rimas Da Vida E Da Morte Isbn: 9788535913156 Idioma: Português. Encadernação: Brochura | Formato: 14 X 21 | 120 Págs. Ano Edição: 2008 Autor: Amos Oz Tradutor: Paulo Geiger
Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado
Rotas Literárias
A Bahia de Jorge Amado Em meio às plantações amareladas de cacau da Fazenda Auricídia em Ferradas, interior da Bahia, nascia Jorge Amado. Naquele dia, 10 de agosto de 1912, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado carregavam nos braços aquele que viria a ser um dos maiores romancistas brasileiros
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Rotas Literárias Jorge Amado de Ilhéus, Sergipe, Rio de Janeiro, Manaus, América, Europa. Jorge Amado do mundo. Mas antes de tudo, Jorge Amado da Bahia. É em Salvador, que “Lívia olha o mar morto de águas de chumbo. Mar sem ondas, pesado, mar de óleo. Onde estão os navios, os marinheiros e os náufragos? Mar morto de soluços, quedê as mulheres que não vêm chorar os maridos perdidos? Onde estão as crianças que morreram na noite do temporal? Onde está a vela do saveiro que o mar engoliu? E o corpo de Guma que boiava com longos cabelos morenos na água que era azul? Na água plúmbea e pesada do mar morto de óleo corre como uma assom-
bração a luz de uma vela à procura de um afogado. É o mar que morreu, é o mar que está morto, que virou óleo, ficou parado, sem uma onda. Mar morto que não reflete as estrelas nas sua águas pesadas. Se a Lua vier, se a Lua vier com sua luz amarela, correrá por cima do mar morto e procurará como aquela vela o corpo de Guma, o de longos cabelos morenos, o que marchou pela estrada do mar para o caminho das Terras do Sem Fim, das costas da Arocá.” Jorge Amado escreveu Mar Morto, olhando para o mar de Gamboa de Cima, Salvador. Contou a triste história de uma criança criada no cais da Bahia, Guma, que apaixonou-se pela meiga
continua o mesmo, claro que com algumas modificações que a modernização trouxe e refletiu não só na cidade como também nos moradores. O velho malandro, as prostitutas e homossexuais que habitavam as ladeiras, hoje trazem um contexto diferente. A Bahia revolucionária de Jorge Amado não existe mais, porém o sincretismo de religiões ainda vive e respira em cada esquina onde ecoam os tambores do candomblé misturados aos gritos de súplicas das igrejas evangélicas e o silêncio dos católicos ajoelhados nas mais de 300 igrejas espalhadas pela cidade. Este cenário religioso da Bahia serviu para retratar a luta de Antonio Balduíno pela integração do negro na sociedade brasileira. Jubiabá, é o priFotos: Divu
lgação
O Pelourinho em Salvador; capa do livro: A Cidade da Bahia no romance de Jorge Amado; Cidade Baixa Lívia. Nesta obra, a ação se desenrola principalmente na Cidade Baixa, na estreita faixa de terra entre o mar e a montanha, entre as vielas apertadas do comércio e os grandes espaços abertos do oceano Atlântico, onde vive Inaê, a mãe d’Água, senhora do mar, da vida e
“Começou a subir a ladeira de São Bento vagarosamente. Tomou por São Pedro, atravessou o Largo da Piedade, subiu o Rosário, agora estava nas Mercês”. (Capitães da Areia)
da morte de marinheiros e navegantes. Foi também na Bahia, nas ladeiras do Pelourinho que Dona Flor se entregou aos encantos do malandro Vadinho. A biografia de Jorge Amado mostra a inquietude que trazia na alma pelas inúmeras viagens que fez. Ainda menino, fugiu do colégio e viajou por dois meses até chegar em Itaporanga, Sergipe, na casa do avô. Essa seria apenas o inicio de uma série de viagens que ele faria. Porém, ter morado no Pelourinho, centro histórico do Salvador, Bahia, marcou definitivamente suas obras. Mais de oitenta anos se passaram, e o cenário que inspirou Jorge Amado,
meiro romance do autor que traz elementos do candomblé, religião afrobrasileira que cultua os orixás, através da figura do pai de santo Jubiabá, guia espiritual de Antonio Balduíno. “Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as
“Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”. (Jubiabá)
suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”. Segundo Myriam de Castro Lima Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, a partir de Jubiabá, terceiro romance da fase urbana, publicado em 1935, começa a adensar-se a relação de Jorge Amado com a cidade do Salvador, ou cidade da Bahia, como ele preferia chamá-la. “Alargando os limites do território onde se movem os personagens, o cenário vai aos poucos se definindo, ganhando contornos, fazendo-se mais e mais presente na narrativa”, analisa. Para Myrian, é difícil dizer qual obra de Jorge Amado é mais importante, principalmente para um autor que es-
o encanto e o sabor de suas narrativas”, descreve. De acordo com Myrian Fraga, o primeiro romance publicado por Jorge Amado, em 1931, O País do Carnaval põe em relevo o Largo do Pelourinho e seu entorno. “O Tabuão, a Baixa dos Sa-
pateiros e o Terreiro de Jesus, cercado de igrejas centenárias. Publicado em 1934, Suor repete o mesmo ambiente, num cenário limitado ao centro da cidade”, diz. Ela ainda conta que um ano após a publicação de Mar Morto veio a público o livro Capitães da Areia, romance que Foto: Zélia
Ilustrações:
Gattai/Funda
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Foto: Divulgação
Ilustrações do livro Tieta do Agreste, pastora de cabras; Elevador Lacerda e Jorge Amado com o Afoxé Filhos de Gandhi no Pelourinho creveu não apenas romances, mas também biografias e memórias. “Tratando apenas dos romances relacionados com a cidade do Salvador, vamos encontrar: O país do carnaval, Suor, Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia, Os Pastores da Noite, Dona Flor e seus Dois Maridos, Tenda dos milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa”, enumera. “O mais característico na obra de Jorge Amado é sua fidelidade às fontes populares, onde vai buscar inspiração, a partir da observação e do conhecimento, para construir uma saga de grande realismo, embora envolta sempre num manto de fantasia, que faz
teve um início de vida atribulado, com a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça publica de Salvador por autoridades da ditadura do Estado Novo, o que não impediu que logo se tornasse um grande sucesso. “Desde então, até hoje, as edições se sucedem atingindo a cifra espantosa de 98 edições e 16 traduções, sendo este o livro de Jorge Amado com maior número de exemplares vendidos”, diz. Depois desse livro, são publicados, sucessivamente, mais seis romances cuja ação se desenvolve na área urbana de Salvador: A Morte e a morte de Quincas Berro d’Água, que segundo
a diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, na verdade, não é considerado um romance, mas uma novela; Os Pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa. Para Myriam, dessas obras, a mais importante talvez seja Tenda dos Milagres, embora Dona Flor seja a de maior sucesso, já que foi adaptada para cinema, teatro e televisão. “Em Tenda dos Milagres, Jorge Amado retoma os temas anteriormente abordados em Jubiabá, traçando um painel mais aprofundado das relações inter-raciais na
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Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado
Rotas Literárias
Jorge Amado
Foto: Divulgação
sociedade baiana. Talvez tenha sido também o romance preferido de Amado que confessou várias vezes que reconhecia no protagonista, Pedro Arcanjo, seu alter ego”, revela. Já em Tereza Batista Cansada de Guerra, romance de mais de trezentas páginas, quase inteiramente dedicado à narrativa dos infortúnios da protagonista, a cidade do Salvador só será resgatada já quase no final do romance quando, depois de percorrer meio mundo, Tereza Batista reencontra o grande amor de sua vida, Januário Gereba, na
beira do cais da Baía de Todos os Santos. O Sumiço da Santa é o último dos romances urbanos escritos por Jorge Amado. “São referidos temas gratos ao autor como: miscigenação, preconceito racial, sincretismo religioso; a memória do povo, suas histórias, suas criações, a tristeza e as alegrias do cotidiano de uma comunidade”, diz Myriam. A diretora da Fundação define o homem Jorge Amado como uma pessoa sempre generosa, no mais amplo sentido, fiel às suas crenças e amizades, que não tinha medo de proclamar
“Pedro Bala enquanto sobe a ladeira da Montanha, vai pensando que não existe nada melhor no mundo que andar assim, ao azar, nas ruas da Bahia. Algumas destas ruas são asfaltadas, mas a grande, a imensa maioria é calçada de pedras negras. Moças se debruçam nas janelas dos casarões antigos e ninguém pode saber se é uma costureira que romanticamente espera casar com noivo rico ou se é prostituta que o mira de um balcão velhíssimo, enfeitado apenas de flores. Entram mulheres de negros véus nas igrejas. O sol bate nas pedras ou no asfalto do calçamento, ilumina os telhados das casas. Na sacada de um sobradão, flores medram em pobres latas. São de diversas cores e o sol lhes dá seu diário alimento de luz.” (Capitães de Areia) Myriam Fraga - Diretora da Fundacao casa de Jorge Amado
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os seus afetos, mesmo que com isso pudesse contrariar opiniões e julgamentos. Incondicionalmente dedicado à literatura, aos amigos e à família, teve em sua mulher Zélia Gattai, com quem viveu uma intensa e duradoura história de amor, uma companheira constante e uma interlocutora permanente. “Poucos escritores brasileiros tiveram uma vida tão plena de realizações, participando ativamente dos acontecimentos mundiais, que redesenharam o mapa da história no século P vinte”. afirma.
Como me apaixonei pelos livros
Pedro Demo
Por que gosto de ler “Ler é como respirar”, dia o PhD em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha, e pós-doutor pela University of California at Los Angeles (UCLA), Pedro Demo. Autor de vários livros, atualmente, é professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Sociologia. Suas áreas de atuação sistemáticas sãopolítica social e metodologia científica, o que faz com que ele se dedique mais à leitura de obras técnicas, para produção cinetífica. Mas, isso não quer dizer que ele não se interesse por outros gêneros. “Também gosto desta leitura (leio ficção frequentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à leitura exigida para atualizar-me em meu campo de trabalho”, afirma, no relato sobre sua relação com os livros. “Lembro três razões mais decisivas para gostar de ler. A primeira é meu tempo de seminário com os Franciscanos, onde sempre havia biblioteca com incentivos imensos para ler, inclusive gincanas ou coisa parecida. Em Agudos, o seminário tinha mais de 300 alunos, em três alas, cada uma com biblioteca própria. A segunda foi o tempo de teologia em Petrópolis (três anos), onde já comecei a publicar alguns artigos e fazia resenha de livros. Iniciava-se aí o prenúncio do interesse por textos científicos e que demandam farta leitura (estudo). A terceira foi meu doutorado na Alemanha (1967-1971), onde aprendi a aprender, por conta do sistema de estudo universitário alemão: quase sem aula, a aprendizagem baseava-se na produção de textos próprios fundamentados na leitura mais ampla e profunda possível. Tais textos eram apresentados em público, discutidos e avaliados pelos professores. Entendi, então, que aprender é pesquisar e elaborar, e leitura passaria a fazer parte decisiva de minha vida acadêmica. Trata-se aqui de um tipo
específico de leitura: leitura para produção científica, diferente de outra literatura alimentada pela curiosidade/interesse literário. Também gosto desta leitura (leio ficção freqüentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à leitura exigida para atualizar-me em meu campo de trabalho. Já não é o caso de leitura opcional, mesmo frequente, mas de leitura pratica-
ral, quando se fala de paixão por livros, entende-se o gosto por literatura como conceito vinculado a autores que produzem livros literários. Esta paixão deveria ser despertada e cultivada na escola, desde que esta incluísse leitura como fundamento da aprendizagem. Para nós, o fundamento da aprendizagem ainda é aula, quase sempre aquela aula instrucionista, copiada de alguma apostila e repassada para o aluno. O aluno não perFoto/Arte: Divulgação cebe a necessidade de ler, porque vê que o professor também não lê. Para dar conta da prova, não recorremos à leitura, mas às anotações sumárias das aulas, até porque, como regra, só isso “cai” na prova. Então, para que ler? A leitura tomou hoje outros rumos, em particular na tela. As pessoas leem mais, ainda que isto não implique melhor qualidade da leitura. Em certo sentido, os internautas leem muito, porque o manejo da internet se faz através de textos, ao lado de imagens. Tudo, afinal, é “texto”, também um jogo eletrônico. Esta praxe acentua a leitura útil, aquela necessária para dar conta do que se quer resolver. O exemplo exacerbado deste tipo de leitura é a prática de procurar na internet precisamente aquilo que se exige na prova, nada mais e, se possível, de modo plagiado. Aquela leitura maiúscula, alimentada por autores reconhecidos, capaz de implicar reflexão, fantasia, inspiração, parece que vai ficando para alguns poucos. Ler para alimentar mente obrigatória, uma vez que na Alemao espírito soa como estranho ou pouco pernha compreendi claramente que professor tinente. No entanto, não é assim que os jonão se faz por título ou aula, mas por auvens não leem. Leem muito, desde que seja de toria. Torna-se professor na universidade seu interesse ou caia no campo de suas moalemã quem, para além da titulação, se tortivações. Não podemos mais imaginar que na autor renomado, o que exige publicação as motivações de gerações mais velhas sejam e leitura realmente intensa e atualizada. as únicas que cabem. Talvez tenhamos que Professor não escapa de ter sua biblioteca aprender a envolver nossas tradições mais própria, além de exibir uma lista notável antigas de leitura em ambientes virtuais que de livros publicados. Ler é como respirar. possam atrair os jovens. Talvez pudessem Existem muitas espécies de paixão por apreciar também sonetos de Camões, desde livros. Minha paixão é de sentido mais técP que reestruturados digitalmente...” nico, porque produzo livros técnicos. Em geDezembro 2008/ Janeiro 2009
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Cinema & Livros
A escritora dos finais felizes
Linguagem objetiva e temas aparentemente banais fizeram com que Austen se tornasse sucesso em Hollywood POR TALISSA BERCHIERI DA AGÊNCIA BRASIL QUE LÊ
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O mercado de adaptações literárias para as telonas sempre foi visto como aposta quase certa em Hollywood. Porém, mais que apostas, alguns escritores são garantia de sucesso aos olhos dos produtores cinematográficos. É o caso da inglesa Jane Austen, que já teve seus livros adaptados para o cinema diversas vezes. Recentemente, chegou às prateleiras das locadoras o longa “Amor e Inocência” (2007), estrelado por James McAvoy e Anne Hathaway. Dessa vez, o filme não é baseado nas obras da escritora inglesa, e sim na própria vida de Austen. Em “Amor e Inocência” é possível acompanhar um pouco da trajetória pessoal da considerada pelos críticos literários a segunda mais importante autora da Inglaterra depois de Shakespeare. Nascida em 16 de dezembro de 1775, Austen possui seis livros publicados, sendo eles: Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Abadia de Northanger (1818), Persuasão (1818). As obras de Austen sempre tiveram grande receptividade no cinema, sendo que a grande maioria teve sucesso de crítica e público,
como é o caso de “Orgulho e Preconceito” e “Razão e Sensibilidade”. Segundo Ademir Pascale, escritor e crítico de cinema, estes dois longas são fiéis aos livros. “Os diretores souberam adaptar com perfeição os dois longa-metragens, dando vida às obras devido à excelente escolha dos atores, assim como um roteiro bem trabalhado, fiel figurino, magnífica fotografia e uma boa trilha sonora. Engraçado que ao ler as obras da autora, antes de assistir aos filmes, já imaginava as mesmas cenas e sons apresentados. Um excelente escritor nos faz imaginar; viajar.” Outro longa que também traz as obras de Austen como tema é “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007). Nesse filme, todas as obras da escritora são discutidas por um grupo de pessoas que leem os livros e refletem sobre suas próprias vidas após cada leitura. Segundo Pascale, a reflexão que os textos de Austen provoca não fica só na ficção. “A sensibilidade de Jane é inconfundível. Suas obras são impregnadas de impressões morais”, afirma o escritor. Talvez pela linguagem simples e por sempre abordar temas atuais como o amor e o casamento,
os livros tornaram Austen popular e imortal. “As obras de Jane nos trazem alegria e melancolia; na realidade, mais alegria do que melancolia, pois os finais são felizes. Toda boa obra mexe com nossos sentimentos mais íntimos, o que não falta nas desta autora. Acredito que este seja um dos principais motivos das adaptações de suas obras, além do valor pedagógico inestimável, pois aprendemos muito sobre aquela época tão conturbada do “dote”, além do preconceito, amor e costumes”, reflete Pascale. Se na ficção a escritora sempre buscou finais felizes, na vida real as coisas não saíram muito bem. Austen não teve seu próprio final feliz, faleceu prematuramente aos 42 anos e solitária. Para quem nunca leu um livro de Jane Austen ou assistiu a alguma adaptação da escritora no cinema, não há dificuldade em achar os filmes em locadoras e lojas especializadas na venda de DVDs. “Recomendo os filmes ‘O Clube da Leitura de Jane Austen’ e ‘Amor e Inocência’. Este último, considerado pela produtora Miramax, e por mim, a maior história de amor de Jane Austen, a dela própria, avalia P Pascale.
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No Brasil
Bienal do Livro da Bahia 17 a 26 de abril de 2009,Centro de Convenções da Bahia, Salvador, Bahia. 3° Salão do Livro Sul Mineiro 06 a 09 de Maio, Clube Literário Recreativo, Pouso Alegre, Minas Gerais. caroline@visualaudio.com.br Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas 17 e 26 de abril de 2009, Poços de Caldas, Minas Gerais. www.feiradolivropocosdecaldas.com.br 5º Salão do Livro de Tocantins 08 a 17 de maio de 2009, Praça dos Girassóis, Palmas, Tocantins. Festival da Mantiqueira: Diálogos com a Literatura 29 e 31 de maio de 2009, São Francisco Xavier - Serra da Mantiqueira, São Paulo. www.cultura.sp.gov.br/StaticFiles/Mantiqueira/index.html Bienal do Livro de Sergipe 29 de maio a 7 de junho de 2009, Centro de Convenções de Sergipe, Sergipe. 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto 18 a 28 de junho de 2009, Ribeirão Preto, São Paulo. www.feiradolivroribeirao.com.br III Bienal do Livro de Santa Catarina 29 de junho de 2009 CentroSerra Convention Center, Santa Catarina. www.bienaldolivrosc.com.br VII Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP 1º a 5 de julho de 2009, Paraty, Rio de Janeiro. www.flip.org.br
Calendário
No Mundo
Congresso Internacional sobre Promoção da Leitura 22 e 23 de janeiro Lisboa, Portugal. Salão do Livro de Paris 13 a 18 de março, Paris, França. www.salondulivreparis.com Bologna Children´s Book Fair 23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália. http://www.bookfair.bolognafiere.it/ Feira do Livro de Londres 20 a 22 de abril de 2009, Earls Court, Reino Unido. www.londonbookfair.co.uk Feira do Livro de Lima – Peru 23 de julho, Centro de Convenciones Jockey Plaza, Lima, Peru. http://www.filperu.com Cancelada a Book Expo Canada Segundo informações veiculadas pela PublishersLunch Deluxe, a Reed Exhibitions anunciou no domingo, 1º de fevereiro, o cancelamento imediato da Book Expo Canada no próximo mês de junho. Greg Topalian, executive da Reed, afirmou “ficou claro que um evento tradicional como esse não é o melhor para a dinâmica da indústria editorial no Canadá.” “Nosso foco no mercado editorial passou a ser o nosso evento de Nova Iorque [BEA], onde procuraremos atender as necessidades dos nossos clientes de toda a América do Norte num único evento.” BEC vai devolver o pouco que já foi pago por alguns clientes do evento, mas Topalian ressaltou que “não há muito o que devolver... “ O interessante é que o cancelamento da tradicional feira escancarou as portas para ideas de um novo evento, adequado às necessidades dos clientes canadenses. http://www.publishersmarketplace.com/login.php/lunch/archives/005015.php
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empresa amiga do livro
Carteiro escolhe livro na sala de leitura
Livros para os mensageiros Projeto dos Correios de Campo Grande oferece cultura a funcionários e seus familiares O Centro Operacional dos Correios em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul criou, em 2004, o projeto Sala de Leitura com o objetivo de estimular a leitura entre os funcionários dos Correios e seus dependentes. Na Sala são disponibilizados livros, revistas, jornais, materiais audiovisuais e computadores para acesso à internet. Sua localização é estratégica, num grande local de trabalho, por onde passam diariamente cerca de 400 trabalhadores. Com o sucesso da Sala em Campo Grande, a diretoria regional dos Correios implantou outra no município de Dourados. Para seus organizadores e beneficiados, o trabalho é considerado um sucesso, pois atendem aos trabalhadores interessados na leitura, seja por meio da educação formal, leitura recreativa ou interesse cultural. Além dos materiais disponíveis, a Sala organiza periodicamente as Oficinas de Leitura para crianças e adultos, com atividades culturais, gincanas e apresentações artísticas, sempre com participação de funcionários da ECT e seus dependentes. 54
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De acordo com Ana Catarina Cortez, coordenadora do projeto, hoje a Sala conta com 1.200 usuários cadastrados, com acesso a cerca de cinco mil livros que fazem parte do acervo, além de revistas e jornais, e já foram realizados 15 mil empréstimos. Segundo ela, os funcionários dos Correios do interior e até de outros estados também tomam livros emprestados pela internet. O projeto inclui outros trabalhos dirigidos à comunidade, como as Gincanas Culturais, que arrecadaram até agora 3.800 kg de alimentos e mil exemplares de livros, que foram doados, inclusive em presídios. Outras ações para arrecadação e distribuição de brinquedos e campanhas de incentivo à doação de sangue também fazem parte da iniciativa. Estima-se que em cinco anos, aproximadamente 13 mil pessoas tenham sido atendidas. Uma das frequentadoras assíduas da Sala de Leitura dos Correios é Neusa Aparecida de Figueiredo Oliveira, que garante ter passado por muitos lugares através dos livros. “Já viajei muito a bordo deste “avião” que é o livro. A cada li-
vro que leio, descubro um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas, eu atuo na história, me permito ser ou estar a cada página virada ou enigma descoberto. Com a leitura podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. A leitura é fundamental para a aprendizagem do ser humano”, afirma. Para o diretor regional dos Correios, João Rocha, a Sala de Leitura foi um projeto que deu certo, atendeu uma necessidade e vem cumprindo seu papel, pois a educação contínua é hoje uma necessidade até profissional e a leitura contribui muito. “Estamos contentes que o projeto tenha atendido às expectativas, e isso levou a sua expansão para Dourados. Vamos continuar investindo no estímulo à leitura entre os funcionários dos Correios e seus dependentes”, afirma. E como não poderia ser diferente, os cinco anos do projeto, completados no último dia 28 de janeiro, foi comemorado com um Sarau Cultural repleto de apresentações musicais, performanP ce teatral e declamações poéticas.
Vitrine Dicionário Escolar da Língua Portuguesa Esse dicionário apresenta grande número de acepções por verbetes, novas acepções para palavras já consagradas, palavras recentemente incorporadas ao léxico, separação silábica, parônimos, antônimos, gírias do dia a dia e estrangeirismos com indicação de pronúncia. Com nova ortografia! Domingos Paschoal Cegalla Cia Editora Nacional, 960 pág., R$21,90
Antonio Carlos Jobim
A Viagem do Elefante
Tom Jobim foi muito mais do que um dos maiores nomes da música popular de todos os tempos. Nesta biografia completa de Antonio Carlos Jobim, seu amigo e jornalista Sérgio Cabral nos aproxima amorosamente do universo do “maestro soberano”.
O livro é uma idéia que Saramago elaborava desde que, numa viagem a Salzburgo, na Áustria, entrou por acaso num restaurante chamado ‘O Elefante’. A narrativa se baseia na viagem de um elefante chamado Salomão, que no século XVI cruzou metade da Europa, de Lisboa a Viena, por extravagâncias de um rei e um arquiduque.
Sérgio Cabral Cia Editora Nacional, 536 pág., R$48,00
Jose Saramago Companhia das Letras, 264 pág., R$ 42,00
Palmeiras – o Alviverde Imponente
Ecoeconomia – uma nova abordagem
Segunda Chance
O livro é rico em informações históricas e ilustrações, com mais de 100 imagens, do início do século XX até hoje, algumas delas raras, que revelam os primórdios do clube e, de certa forma, ajudam a contar a história da cidade de São Paulo.
O autor, economista chefe do ABN Amro Bank, mostra que destruir a natureza, além de gerar catástrofes graves,pode ser um péssimo negócio a curto prazo para toda a humanidade. As recentes tragédias mundo afora demonstram o acerto de sua análise. Registra ainda como o mito do eterno crescimento compromete o futuro do planeta.
Fiona Monaghan, excêntrica executiva da alta costura, se apaixona por John Anderson, um publicitário charmoso e conservador. Duas pessoas perfeitas uma para a outra, mas de dois mundos drasticamente diferentes.
Orlando Duarte Cia Editora Nacional, 280 pág., R$36,00
Danielle Steel Editora Record., 240 pág., R$ 29,00
Hugo Penteado Cia Editora Nacional, 224 pág., R$40,90
Corinthians – o time da fiel Organizado cronologicamente, o livro narra a trajetória do clube até os dias de hoje, revelando os craques que vestiram a sua camisa, os jogos memoráveis, os campeonatos conquistados, a paixão da torcida. Inclui encarte com as emoções da Série B! Fran Zabaleta e Luis Astorga Editora Record, 616 pg., R$ 59,00
Arte do Retrato em Marcel Proust O livro é o resultado das dezenas de leituras e releituras que o autor empreendeu sobre a obra de Proust, pinçando os fragmentos que compõem as descrições físicas ou temporais - as vestimentas, os gestos, os olhares – dos personagens que povoam o universo da busca do tempo perdido. Desde o mundo provinciano e rural de Combray, às paisagens normandas de Balbec até às mais altas esferas da aristocracia e da vida mundana parisiense. Alberto Xavier Editora Gryphus, 201 páginas., R$ 45,00.
Nara Leão
Amigo pessoal de Nara Leão e reconhecido especialista em história da música popular brasileira, o jornalista e escritor Sérgio Cabral compõe um relato detalhado e vibrante da vida da cantora, voz que não apenas esteve na linha de frente dos principais momentos da moderna música brasileira mas também se engajou como poucas na política de seu tempo. Sérgio Cabral Cia Editora Nacional, 254 pág., R$36,00
Gomorra
Gomorra – um híbrido entre Camorra e a cidade bíblica destruída pelo fogo dos céus – virou filme dirigido por Matteo Garrone. Consagrou-se com o Grand Prix em Cannes e vai representar a Itália no Oscar. O livro e o filme receberam a alcunha da crítica mundial de ressurgimento da arte italiana, nas letras e nas telas. Roberto Saviano Bertrand Brasil, 350 pág., R$ 39,00
Conversas com Woody Allen O
biógrafo de Woody Allen, Eric Lax, reuniu 36 anos de conversas com o cineasta para publicar esse livro. Aqui, Allen fala sobre a elaboração de roteiros, formação de elenco, filmagem e, claro, direção. Além de saciar a curiosidade dos fãs de Allen, que faz comentários por vezes hilariantes, o livro é de leitura obrigatória para os cinéfilos. Eric Lax e Woody Allen. Trad. José Rubens Siqueira Editora Cosac Naify, 512 pág., R$ 65,00
HOMEM QUE ROUBOU PORTUGAL. Em 1924, Artur Virgilio Alves Reis, um comerciante português falido, trama sozinho o maior golpe financeiro de todos os tempos. Em dois anos, se tornaria o homem mais rico e poderoso de seu país. O que parecia um plano com pouca eficácia de um homem com muita imaginação, acabou causando problemas macroeconômicos.
MURRAY TEIGH BLOOM. Trad. SERGIO LOPES Editora JORGE ZAHAR, 336 pág., R$ 49,00 Dezembro 2008/ Janeiro 2009
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Gente que lê Galeno Amorim www.blogdogaleno.com.br
A pequena Raíssa tem três anos. Nunca saiu dali. As janelas estão fechadas com grossas grades de ferro chumbadas naquelas paredes incomuns. A porta que dá para o galpão do andar de baixo permanece o tempo todo trancada e tampouco dá esperanças. A luz é escassa. Como as brincadeiras e a liberdade de movimentos. Mas há um punhado de outras crianças como ela, e alguns bebês, que choram no meio da noite. A menina jamais esteve lá fora. Não viu pessoas andando nas ruas. Não conhece praças ou parques. O zoológico com seus bichos ou o rio imenso que banha a cidade não soam familiares. Nunca brincou de correr bestamente, até a língua ficar de fora e o coração saltar pela boca, como faz a maioria das crianças. É que no caminho dela e dos demais, há uma pedra, aparentemente intransponível e a obstar a passagem para o lado de lá. Raissa, no entanto, já esteve em muitos lugares. Conheceu reis, príncipes, dragões, bruxas e fadas boas. Foi a castelos, visitou reinos encantados e se perdeu muitas vezes no meio de florestas. Também descobriu que no mundo tem gente boa e gente má. O que mais gosta mesmo é ouvir falar de outras crianças – de carne e osso, 56
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Arte: Rogério Lance
Uma vida lá fora assim como ela e as amiguinhas! – que correm, livres, pra todo lado. O que ela mais sonha é com o dia de sol em que, já do outro, ainda que não faça muito idéia do que isso signifique de verdade, possa conhecer e viver isso tudo. Raissa, claro, é um nome inventado de uma pequena personagem pra lá de real – ela vive com a mãe numa cela do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Ela nasceu e cresceu ali. Foi ali que deu os primeiros passinhos e aprendeu a falar. A história dela é parecida com as histórias de outras três dezenas de crianças, filhas das detentas que, em sua maioria, engravidaram lá mesmo, durante as visitas íntimas dos parceiros com quem continuaram a manter uma relação conjugal estável. O vínculo mais forte dessas crianças com a vida lá fora se dá pelos livros. Enquanto ouvem as histórias narradas pelas mães, elas ficam a imaginar como deve ser aquele outro mundo tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Vivem lá seu mundinho de faz-de-conta enquanto sonham uma liberdade que, em muitos casos, vai remetê-las para bem longe das mães – que estão presas por roubo, furto, estelionato ou envolvimento com drogas, quase sempre por influência de seus homens.
Os livros chegam lá dentro pelas mãos benditas de estudantes de Letras e de Pedagogia da UniRitter, centro universitário que criou e mantém o Projeto Liberdade pela Escrita. Duas horas por semana, esses jovens lêem crônicas, poemas e notícias de jornal. Ensinam às mulheres a arte da contação de histórias e as estimulam a botar no papel, na forma de prosa ou verso, suas angústias, inquietudes e sonhos. Uma delas, Fátima, escreveu: “Eu não sou presa/Estou presa/ Sou um poeta enclausurado...”. E a amiga Liz emendou: “Aqui/Não estamos presas/Mas, livres para falar/E expressar nossos sentimentos.” Outra delas, Juliana, aproveitou para colocar a correspondência com Deus em dia, enquanto Kelly faz uma profissão de fé e promete mudar de vida quando sair. Uma outra colega de cela descreve a insônia e as tristezas que a perseguem no meio da madrugada fria enquanto as companheiras de infortúnio se deixam levar pelo sono. Sejam elas filhas ou mães, meninas ou mulheres já calejadas pela vida, umas e outras vão buscar nas palavras e nos livros a sua razão de viver. Isso não é pouco. P
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Praia Grande, Ubatuba - SP Foto: Fanca Cortez
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