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prefácio
primeiramente, quero agradecer a preta em flor e ao meu amigo dequete pela oportunidade de divagar um pouco sobre este fenômeno chamado graffiti e os encontros proporcionados por ele.
Ton Lima
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E, por que não, divagar também sobre a importância da arte de escrever com luz (“graphein”: escrever, gravar e “foto”: luz). Em minha humilde opinião, estes são os ingredientes que fizeram com que o graffiti fosse acessível a pessoas de diversos universos culturais, desde os espaços consolidados e tradicionais de arte, até os espaços marginais. Sim, nascemos escrevendo pictoricamente e ideograficamente nossa percepção de universo social, político e cultural, ora marginalmente e de forma absolutamente livre, porém não desintegrada do seu entorno urbano e humano, ora utilizando as mesmas técnicas de uso do material e estética consagradas na rua. Dessa forma, dando um rosto mais humano para campanhas publicitárias ou espaços de decoração. Enche os olhos um projeto como este, onde temos a oportunidade de refletir sobre o fenômeno “encontro” de graffiti, através do protagonismo e do engajamento desta lente tão
sensacionalmente atenta de Preta em Flor. Reconheço que em meu humilde vocabulário, poucas vezes encontrei uma palavra que sintetizasse de forma tão verdadeira seu objeto de significado. De forma tão acessível a todos, pessoas de diversos lugares, de formações tão distintas, de estéticas tão pessoais, transformam centenas de metros de parede em arte. Talvez, somente estando lá para entender a alquimia que acontece entre nós: escritores, o muro, o morador e todas as pessoas envolvidas de alguma forma na produção. De repente, muitas vezes em um fim de semana consegue-se mudar o sentido do conceito de concreto, do físico, da construção de alvenaria em um espaço de reflexão, de ludicidade e de contemplação. Sou absolutamente suspeito para falar sobre isto, não só por ser muito apaixonado por esta manifestação, que é o sobrenome de todos nós. Ao nos encontramos, irmãos e irmãs, fazemos parte de uma grande família chamada graffiti: uma família que é mundial. Seguramente, a história da arte no futuro, quando a distância nos permitir entender melhor este fenômeno humano de comunicação das sutilezas da alma, irá dar o devido valor a esses artistas e transeuntes que ressignificam o sentido das
graffiti: uma família que é mundial.
formas, das cores, das causas e dos efeitos da sociedade. Sociedade essa, que amadurece de forma contínua e lenta em direção à construção objetiva de um mundo com paredes de sonhos e ideais. Meu otimismo não me permite pensar no graffiti como arma do mal, mas como uma arte que abre uma janela no cotidiano para todos poderem sonhar com um mundo melhor. Portanto, nem a efemeridade (parte absolutamente integrante do processo de existência e desaparecimento dos graffitis na rua), consegue extinguir o que a fotografia proporcionou a esta linguagem, desde as obras “Spraycan Art” e “Subway Art” de Henry Chalfant, Martha Cooper e James Prigoff. Obras de registro fotográfico que deram a muitos de nós, desde a década de noventa do século passado, os primeiros impulsos de coragem para ocupar os espaços urbanos com nossas cores e causas. Espero que todos tenham a oportunidade de ver no trabalho desta grande amiga, excepcional artista e fotógrafa, as nossas almas registradas. E que, através - ou por elas - sintam a alegria que nós sentimos de estarmos em encontros como esse. E quem sabe, a partir de tamanha sinceridade, possam compreender que o que nos une é algo muito mais sutil que a tinta e a parede: é o grande amor e a alegria que temos por vencermos a cada manifestação e a cada encontro a eterna guerra entre o cinza das almas - ainda não libertas - e as cores de todas as nossas esperanças.
Sejam bem-vindos (através dos registros desta grande e transparente alma, Preta em Flor), ao jardim em que todos nós do graffiti - ora com espinhos, ora com flores extraordinárias - tentamos ressignificar o mundo.
Obrigado Preta, por nos fazer visíveis!
TON LIMA
escritor de graffiti das antigas e mais um nesta incrível multidão.