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curadoria

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prefácio

prefácio

um diálogo constante entre escritores urbanos e a cidade, através das paredes e muros que interligam esses agentes e seus observadores. o graffiti por meio dos tags, pixos, throw-up’s e personas povoa o cenário urbano das grandes metrópoles mexendo com o imaginário dos seus habitantes.

Dequete

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Relação tranquila?

Por vezes não, pois em sua essência essa cultura traz a marca da subversão, da ocupação de espaços não autorizados, da ruptura com os ideais clássicos do que é tido por muitos como “belo”. E nesse contexto, o que seria a Arte? Como definir? Como dizer quem faz ou não? Quem faria a crítica? E fazendo, o faz a partir de quais referências, vivências e valores? A bem da verdade, o graffiti não está preocupado com opiniões ou mesmo autorizações, ele é o que precisa ser: a ‘preza’, a presença, um grito estético, de quem luta pelo direito de existir. Essa é a marca do escritor de graffiti, sua assinatura urbana. Um representante gráfico/signo através do qual ele se faz presente e participante da cidade. Cidade esta, que o excluí pela ausência de políticas públicas, que

o invisibiliza, o deixa a margem, nas periferias. Não à toa, é na periferia/gueto/quebrada o lugar onde os graffitis nascem e gritam. É de lá que vem o Hip Hop, do qual o graffiti é elemento fundamental. Por essas e outras as metrópoles são repletas dessa expressão. A necessidade de gritar sobre sua existência é proporcional ao tamanho do descaso com a população pobre, preta e periférica. Trazendo isso para a realidade do interior, percebe-se que à medida que Uberlândia vem crescendo, também crescem as necessidades. E aqui, assim como na capital, o graffiti se faz presente. A Uberlândia de hoje não é mais como a de ontem. O bege tem saído de cena e as cores e formas, os traços e rabiscos, letras e personas, murais e mutirões vêm mudando a paisagem urbana local e da região do Triângulo. Caminho sem volta, pois tanto os artistas, quanto os apreciadores dessa arte, não querem mais as ruas apáticas e sem vida. Querem tinta na parede, querem mais cor e vida para a região. De forma independente graffiteiros e graffiteiras lançam-se no dia a dia da cidade ressignificando a estética da mesma. É gratificante ver a evolução, ou melhor, a revolução que esses jovens vêm causando no cenário urbano. Isso fica ainda mais notório quando eles se reúnem para realizar os encontros de graffiti, seja em um muro de esquina numa avenida, seja no muro de uma escola que ocupa um quarteirão. É mutirão! É coletivo! É a descentralização da arte visual que não está mais dentro das quatro paredes de uma galeria, ao contrário, está na Rua e transformando essa na própria galeria e a céu aberto - acessível. Está ao alcance de todos, reforçando a cultura da solidariedade entre Escritores e público presente. Nos encontros, o muro transforma-se em algo mais,

graffiti não está preocupado com opiniões ou mesmo autorizações, ele é o que precisa ser!

vira tela. Tela essa, pintada a muitas mãos. O muro é como uma lousa para uma grande aula, é a escola, é o saber, é a cultura, na Rua. Vale muito a pena se inteirar a respeito do universo graffiti e a melhor forma é ter contato com seus autores, com quem vive e respira essa cultura. É significativo ouvir o que os poetas do concreto têm a dizer, colar nos eventos, acompanhar as redes sociais e registrar os ‘trampos’ que encontrar em suas andanças pela urbe. É imprescindível somar forças e construir junto com esses agentes um ambiente de articulação, informação, diálogo e propagação de toda a diversidade e riqueza dessa arte. Daí a importância deste material que se propõe a registrar e eternizar ações dos artistas urbanos em Uberlândia. Bem aventurada a cidade que valoriza, apoia e respeita seus artistas. Viva a arte independente!

TIAGO DEQUETE escritor de graffiti, artista visual e educador social.

@dequete

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