ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE
VOLUME I I
Versão Online
2009
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA COLÉGIO ESTADUAL UNIDADE PÓLO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE MARINGÁ
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO UNIDADE DIDÁTICA
ARTE INDÍGENA:
ARTE INDÍGENA NO PARANÁ
IES – UEM/Universidade Estadual de Maringá
Capa: Imagem Xetá
MARINGÁ 2010
PDE
Orientadora:
PROGRAMA DE
Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino
EDUCACIONAL
DTP
DESENVOLVIMENTO Formação Continuada em Rede
APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO O presente Material Didático traz uma abordagem sobre a Arte Indígena no Brasil, focalizando alguns grupos indígenas e suas expressões artísticas. Apresento um pouco da arte desde a fase marajoara, os primeiros contatos com os europeus até expressões mais recentes. É necessário esta abordagem, pois há um pensamento equivocado sobre os índios, de que todos têm as mesmas referências com relação à cultura e a arte. Apesar de ser comum entre os indígenas algumas expressões artísticas e de ter certas semelhanças com relação à cultura, cada povo tem suas singularidades que difere e distingue cada etnia. Mais profundamente trato sobre os índios no Paraná, os Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. Suas histórias de contato com o não índio, os problemas sociais acarretados pela sociedade envolvente, os mitos, os costumes, a subsistência, a cultura material e a arte principalmente. Ficarão evidentes nas imagens e abordagens as mudanças culturais ocorridas através da história de contato e de sobrevivências dos povos indígenas no Paraná. No final de cada capítulo, constam sugestões de pesquisas e atividades. Bom trabalho!
Erotides M. da Silveira
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SUMÁRIO SUMÁRIO Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O que é o índio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Algumas definições: cultura material, arqueologia, cultura e arte. . . . . . . . . . . . . . . . . Arqueologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Contribuições da cultura indígena nos nossos costumes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Arte Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Povos Indígenas no Paraná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Arte Rupestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Povos agricultores e ceramistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Histórico de contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Kaingang. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Xokleng . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Guarani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Xetá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Site das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Site de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
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INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Para entender a Arte dos índios do Paraná é preciso que voltemos um pouco no tempo e na história destes povos que foram uns dos primeiros a colonizar o Paraná. É preciso conhecer alguns de seus costumes, os mitos, a organização social, o artesanato, e assim tentar compreender o significado da arte na vida destes povos indígenas. O QUE É O ÍNDIO O termo “índio” foi dado quando os europeus chegaram à costa Atlântica do Brasil pensando ser a Índia, por isso chamaram de índios os povos em que tiveram os primeiros contatos aqui no Brasil. O envolvimento dos índios com os não índios foi traumático em todos os sentidos. Os grupos caçadores coletores sofreram grande impacto com a perda de seus territórios de origem; com as doenças trazidas pelos europeus; com as transformações culturais ocorridas pelas fugas; pelo trabalho e escravidão; e, pelos comportamentos e costumes impostos pelos europeus. Ainda assim preservam algumas tradições culturais. Alguns grupos perderam totalmente a língua que falavam, pois estão em contato com a sociedade, há grupos que falam duas línguas, a materna e o português, em virtude da situação de sobrevivência e ainda os grupos que vivem isolados e que falam somente a sua língua materna, pois se recusam a manter contato com o não índio. Estes povos isolados ainda mantêm suas tradições porque são pouco conhecidos pela sociedade. Os índios vivem hoje em aldeias, territórios demarcados pelos governos, insuficientes para a sobrevivência do grupo. Sendo necessário à busca de outros
mecanismos para garantir o sustento, como criação de animais, as roças, alguns trabalhos como assalariados e a confecção e venda de artesanato nas cidades mais próximas das aldeias. Ainda hoje vemos o índio sendo aquele que corresponde a uma imagem tradicional e idealizada, pela falta de conhecimento sobre realidade do índio na sociedade. São vistos como gente que precisa ser civilizada! Chamados de selvagens, primitivos, atrasados, maneiras preconcebidas e preconceituosas. Porém o avanço das sociedades sobre as comunidades indígenas e suas terras não foram e não são consideradas selvagerias. Os índios, “mostraram sua capacidade secular de resistência e de reformulação, ajustamento, adaptação a situações sempre novas, causadas pelo fato de serem povos eternamente perseguidos, desrespeitados, espoliados” (SILVA, 1987, p.144), apesar de serem cidadãos brasileiros, conforme a Constituição Brasileira de 1988.
ALGUMAS DEFINIÇÕES: CULTURA MATERIAL Entende-se por cultura material todo tipo de vestígios, utensílios, artefatos, objetos, instrumentos, ferramentas que o
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
homem produziu e produz para auxiliar no seu cotidiano, nas necessidades, no trabalho, etc. Através da cultura material arqueólogos conseguem fazer o reconhecimento, pelas marcas e símbolos deixados no objeto, é possível identificar a sociedade a que pertence.
ARQUEOLOGIA É a ciência que estuda os vestígios dos povos antigos e busca construir as relações sociais culturais por meio da cultura material produzida, como: ossadas, cerâmica, trilhas abertas na mata, fogueiras, objetos, enfim tudo que era produzido e transformado cotidianamente.
CULTURA
EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
A cultura é elaborada pelas sociedades através da história, pelos padrões de comportamento, valores e crenças e envolve toda a prática humana de construir e de dar significação a coisas. A cultura está presente no meio
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social, nas atividades compartilhadas, na arte, na produção material, no trabalho. Pode ser definida como estilo de vida, as tradições, os rituais, as festas, tudo que envolve a organização social e a identificação de determinada sociedade. Os fatores ambientais também exercem influência sobre a cultura de um povo, como a maneira de se vestir e os hábitos alimentares, a religião e a forma de produção econômica.
ARTE A arte é uma criação humana. Compreende conhecimentos, um conjunto de procedimentos técnicos, as emoções, bem como valores estéticos próprios a uma época ou cultura. A Arte expressa e movimenta o desenvolvimento do homem que a cria e, com ela, estabelece alguma relação. Cria objetos e situações para satisfazer necessidades e que são meios de expressão e de registro de suas idéias, emoções e sentimentos. A Arte é uma das formas de revelar o ser social, ela representa a realização que vai além das necessidades imediatas.
Sonia Mari Shima Barroco Marta Chaves
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
CONTRIBUIÇÕES CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA DA CULTURA INDÍGENA O uso da erva-mate ou chimarrão, produtos medicinais e cosméticos, redes de dormir, as gamelas em cerâmica do litoral e grande parte de nomes dos maiores rios e cidades paranaenses vieram dos indígenas. No nome do nosso Estado, Paraná veio da língua Tupi-Guarani que significa rio como um mar.
Veja outras traduções da língua Tupi-Guarani: Curitiba Rio Iguaçu Rio Ivaí Rio Tibagi Piraquara Guaíra
= = = = = =
muitos pinhões ou pinheiros rio grande rio das frutas ou rio das flores rio do pouso esconderijo de peixes cachoeira
Da língua kaingang: Goioerê Candói Curitiba
= água limpa. = eu tenho a arma = corra, vamos depressa... Fonte: Vida Indígena no Paraná: memória, presença, horizontes. PROVOPAR, 2006.
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Desde os primeiros contatos dos índios com os não índios na história da colonização portuguesa e espanhola no Brasil, as influencias de ambos com relação à cultura foram inevitáveis. A idéia equivocada que os índios não eram civilizados e não tinham cultura ficou camuflada pela sociedade majoritária e há pouco reconhecimento desta contribuição pelo povo brasileiro, por falta de conhecimento. Temos alimentos básicos como a mandioca, o milho, as plantas medicinais, hábitos e costumes, enfeites e artesanato que usamos no nosso dia a dia, sem falar nos nomes e expressões indígenas que usamos no nosso vocabulário. No Paraná a grande quantidade de pinheiros araucária, palmeiras e árvores que fornecem frutas, como a pitanga, jabuticaba, guabiroba e araçá, foi originada pelo manejo ambiental dos índios e ainda existe grande diversidade de plantas medicinais. Muitas variedades de milho, feijão, abóbora, mandioca e amendoim já eram cultivados pelos povos nativos. Alimentos como a farinha de milho e mandioca, incluindo bolos e mingaus,e a pipoca (milho arrebentado em Tupi) fazem parte da alimentação atual dos paranaenses.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
O ÍNDIO E A NATUREZA A natureza é reverenciada nos rituais indígenas, desta forma, a relação dos índios com a natureza vai além da subsistência, ela é fonte de equilíbrio e
harmonia. Conhecem as plantas, os animais e os ciclos da natureza são respeitados, como o tempo certo de pescar, caçar, plantar e colher.
LEIA O DEPOIMENTO DE AILTON KRENAK AILTON KRENAK Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que cai. E que nossa cultura, os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistir num mundo preciso, prático, onde os homens organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu avô, meus primos, olham aquela montanha e vêem o humor da montanha e vêem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam com ela, cantam para o rio... Mas o cientista olha o rio e calcula quantos megawats ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem. Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo de nossos cantos. Mas um engenheiro florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem música, a montanha não tem humor e o rio não tem nome. É tudo coisa. (Citado por Nelson Tomazi. Tese de Doutorado: “Norte do Paraná: história e fantasmagoria”. UFPR, 1997)
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ATIVIDADES
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1) Faça uma pesquisa em casa com os pais e avós, amigos e vizinhos, sobre alguns costumes de origem indígena que conhecem, como: alimentação, remédios, nomes de pessoas e de cidades. 2) Produza folhetos com receitas de comidas, chás e palavras típicas de origem indígenas. Não se esqueça das ilustrações. 3) Para aprofundar um pouco mais, pesquise nomes de cidades paranaenses de origem indígena em site da internet: http://filologia.org.br/vcnl/anais%20v/civ8_10.htm
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ARTE ARTE INDÍGENA INDÍGENA EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE.
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Ritual Guarani Nhandewa, Posto Velho - Paraná, 2007. Fotografia acervo PIESP-LAEE/CCH-UEM Grupo Nhandewa
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ARTE INDÍGENA ARTE INDÍGENA COMO DISTINGUIR A ARTE NA SOCIEDADE INDÍGENA Em todas as tribos indígenas do Brasil existem manifestações de arte que tomam formas e sentidos diversos. É provável que nas sociedades indígenas sejam poucos os artefatos, os cânticos, as danças, que são elaboradas com o fim único de serem objetos de arte. Geralmente a arte está destinada antes de tudo aos rituais. Podemos distinguir na produção de objetos os aspectos técnicos, os rituais ou simbólicos e talvez seja possível distinguir o artístico. Na produção com relação ao aspecto técnico leva-se em conta o material utilizado, a maneira e o tempo de preparo; o aspecto ritual se caracteriza por ser simbólico, segue a
tradição, tem relação com o grupo, com quem produz, com outros seres, plantas animais ou entes sobrenaturais. O aspecto artístico mostra a preocupação em agradar, ultrapassa a técnica e atinge padrões de excelência e de expressão de valores simbólicos. Se levarmos em conta que a pintura corporal indica a metade do clã ou grupo que o indivíduo pertence na sociedade, ela constitui um rito, mesmo assim ela pode ser bem acabada e elaborada, o que a caracteriza como sendo artística. A dança, por exemplo, pode ser executada com maior ou menor habilidade e também pode ser julgado do ponto de vista artístico.
Fonte: MELATTI, Júlio Cezar. ìndios do Brasil. Brasília. Coordenada - Ed. de Brasilia, 1970.
ONDE ENCONTRAR A ARTE INDÍGENA inserida nos rituais, nas festas e nas atividades comuns do dia-a-dia. As populações indígenas no Brasil diferem entre si, apesar de terem certas semelhanças com relação à organização do modo de vida. Possuem características próprias nos costumes, na sociedade, nas habitações, na religiosidade, na língua e nas artes. Portanto, cada comunidade tem sua maneira de ver e perceber a arte dentro do seu contexto social.
VAMOS CONHECER A ARTE INDÍGENA?! A pintura corporal pode ter diversas interpretações como o de definir papéis e valores sociais, criar noção de pessoa e exprimir os padrões de identidade étnica, como adorno corporal em rituais e para transmitir ao
corpo a alegria das cores vivas e intensas. A pintura corporal aparece em vários grupos indígenas como vestimenta para o contato com os seres sobrenaturais em seus rituais cosmológicos.
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Podemos encontrar a arte indígena na pintura corporal, na cerâmica, nos artefatos, na arte plumária, nos trançados, na tecelagem, nos desenhos com estilos geométricos, nos cânticos e nas danças que estão presentes nas manifestações sociais. A arte indígena não é vista pelos índios como beleza estética, feito somente para apreciação. A arte faz parte da vida da comunidade e não está separada da realidade do grupo. Todos compartilham da arte, pois ela está
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Os materiais empregados na pintura corporal entre a maior parte dos povos indígenas são: o urucu (urucum) para o vermelho, o calcário e a tabatinga para o branco, o jenipapo para o azul marinho ou negro esverdeado que representam as florestas e o pó do carvão utilizado no corpo sobre uma camada de suco de pau-de-leite ou gorduras animais. Atualmente são usadas tintas industrializadas, pela escassez de matérias primas e pela diversidade das cores produzidas artificialmente.
Urucum. Foto: Erotides M. da Silveira 03/02/10
Pintura corporal dos Kadiwéu. Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935. http://img.socioambiental.org/.../arte_kadiweu_2.jpg
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De acordo com Lévi-Strauss, “as pinturas do rosto conferem, de início, ao indivíduo, sua dignidade de ser humano; elas operam a passagem da natureza à cultura, do animal 'estúpido' ao homem civilizado. Em seguida, diferentes quanto ao estilo e à composição segundo as castas, elas exprimem, numa sociedade complexa, a hierarquia dos 'status'. Elas possuem assim uma função sociológica”.
Foto: Vladimir Kozak-Museu Paranaense/s.d.
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SAIBA MAIS
Esta tatuagem facial faz parte do segundo ritual de iniciação dos Karajá (MT/ TO), que se dá quando a menina está por volta dos 11 anos.
Fonte: PROENÇA, Graça. História das Arte. Editora Ática, SP. 1990.
http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html
Os Kadiwéu (MS) são conhecidos por sua pintura corporal bem elaborada e que impressionou colonizadores e europeus em 1560. São desenhos minuciosos simétricos com linhas e pontos, traçados com tinta obtida com a mistura do suco do jenipapo com o pó de carvão aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.
ENTENDA UM POUCO MAIS SOBRE A PINTURA CORPORAL A pintura de corpo indígena utiliza como tintas o vermelho do urucu e o azul escuro quase negro do genipapo. O urucu é fixado no corpo com a ajuda de alguma substância gordurosa, tal como o suco de babaçu. As sementes do urucu são fervidas em água até que formem uma pasta, a qual é endurecida e guardada em forma de pães. O genipapo, quando aplicado ao corpo, é completamente transparente e sem cor, tal como água. Vai escurecendo aos poucos, de modo que, de um dia para outro, se torna quase negro. Dura muitos dias e a água não o dissolve. Somente o suor o ataca. Além do urucu e do genipapo, há o suco de pau-de-leite, que funciona como fixador. Após aplicado o carvão sobre o pau-deleite, o indivíduo pintado toma um banho de rio, para retirar aquele pó de carvão que ultrapassou
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as linhas do desenho, não tendo se fixado no suco. Para a obtenção da cor branca é utilizado o calcáreo. A pintura de corpo pode ser feita com a ajuda de mãos e dedos; os traços mais finos se fazem com pequenos estiletes de palha ou madeira. É comum a utilização de carimbos, tal como um côco babaçu cortado no meio, o que produz um círculo que inclui quatro círculos menores. Este tipo de carimbo é usado pelos Karajá e os Timbira. Estes últimos também talham carimbos no talo da palmeira buriti, obtendo diversos padrões. Fonte: Mellati, Julio César, 1938. Índios do Brasil. Brasília. Ed. Brasília, 1970.
Carimbos cerâmicos guarani. Usados para pintura corporal ou de tecidos, redução Jesuítica do Guairá, Século XVII, Vale do rio Ivaí. Acervo Museu Paranaense. http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=2 0&evento
OS GRAFISMOS Os grafismos são representados por desenhos abstratos e geométricos e aparecem na decoração da cerâmica, dos trançados, das máscaras e na pintura corporal. O grafismo dos povos indígenas ultrapassa a beleza, está relacionado com suas origens, com a organização social e cosmologia. Exprime a concepção que um grupo indígena tem sobre o indivíduo e suas relações com os outros índios, os rituais, sua ecologia e economia. É um código de comunicação complexo que exprime as concepções do grupo.
cesto Wayana-Apalay, com desenho representando o lagarto de duas cabeças http://www.iande.art.br/trancado/cesto/wayanaruto020901.htm
Objetos de índios do Xingu, em sentido horário: espátula de madeira usada para preparar alimentos, cerâmica para assar beiju, panela em forma de tartaruga. http://www.iande.art.br/boletim010.htm
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Os grafismos para o índio tem a função de diferenciar-se de outros seres da natureza e quando pinta seu próprio corpo, demarca seu lugar no mundo e na sociedade que pertence. Também servem como identifi-
cação étnica, pois cada etnia indígena tem suas singularidades culturais representando grafismos bem diferenciados. É possível reconhecer a qual etnia pertence o objeto a partir da decoração do mesmo.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Na comunidade Assurini do Xingu os grafismos representam diferentes sistemas de significação. Esses desenhos são estilizações de elementos da natureza ou
elementos simbólicos como Anhynga Kwasiat (ser mítico que deu origem aos homens) http://pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-xingu/print
A ARTE EM MADEIRA A arte em madeira está presente em várias tribos indígenas. Esculpem máscaras, aves, animais, bonecos e armas. Entre os índios do alto Xingu o trabalho em madeira repre-
senta os rostos das máscaras e banquinhos esculpidos em forma de animais; os índios Karajá fazem esculturas de forma humana, seguindo o mesmo estilo da cerâmica litxoko.
Boneca (litxoco) Feito por índios: Karajá
Bordunha (ko) Feito por índios: Kaiapó
Banco em forma de escorpião (Xepi) Feito por índios: Mehinaku (MT)
http://www.iande.art.br/loja/ artefigurativa/karajaboneca2333b.htm
http://www.iande.art.br/loja/armas/ kayapoborduna1100a.htm
http://www.iande.art.br/loja/bancos/mehinakubancoescorpiao1324.htm
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A ARTE PLUMÁRIA
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A arte plumária está associada à beleza do corpo, não são usados cotidianamente, mas apenas em ocasiões especiais como nos rituais. As plumas são coladas no corpo como ornamento e complemento da pintura corporal, o que é muito comum entre os índios Timbira em cerimônia de iniciação. Colam as penas menores tiradas dos pássaros, da penugem, que são fixados no corpo da pessoa sobre uma camada de resina de Almécega. Geralmente o tronco, os membros superiores até um pouco acima dos pulsos, os inferiores até pouco abaixo dos joelhos, são cobertos de penas.
Encontramos também artefatos confeccionados e decorados com penas, são flechas, máscaras, colares, pulseiras, cocares, diademas e braceletes. Alguns artefatos são construídos com plumas em grandes armações trançadas de palhas e varetas. Em peças pequenas, as penas são associadas aos tecidos, caracterizando-se pela flexibilidade, acabamento e procura de efeitos de cor. Há tribos que conhecem um processo de transformar a cor das penas dos pássaros, especialmente do papagaio. Tal processo (...) recebe o nome tapiragem. Arrancam as penas do pássaro vivo e esfregam em sua pele o
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sangue de certa rã ou a gordura de certos peixes. A plumagem torna a nascer, mas, ao
invés de verde, apresenta uma cor amareloalaranjada (MELATTI, 1970, p.151).
Crianças Xikrin preparadas para festa de nominação; fotos de Isabelle Vidal Giannini, do livro "Grafismo Indígena", de Lux Vidal www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg
SAIBA MAIS ARTE PLUMÁRIA
http://www.iande.art.br/boletim016.htm
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Plumária é um termo que designa artefatos confeccionados a partir de penas de aves e utilizadas sobretudo como adorno corporal pelos índios brasileiros. Os produtos da atividade plumária (...) foram os que mais impressionáram os europeus que aqui aportaram na época do Descobrimento. De fato, a arte plumária é uma das manifestações artísticas mais expressivas dos índios brasileiros (...) [Existem] trabalhos específicos sobre a arte plumária referentes aos índios Urubu-Kaapor, Bororo, Tukano, Kayapó, Wayana, Kayabi, Wai-Wai e do Alto Xingu, que abor(Fotos do catálogo: Exposição Arte Plumária do Brasil - 17ª Bienal de São Paulo) dam aspectos técnicos, estísticos e de significados sócio-cultural. Na confecção de artefatos plumários, a matéria-prima é basicamente a mesma para todos os grupos tribais brasileiros. Contudo, muitas tribos desenvolveram estilos próprios, caracterizados por atributos peculiares como forma, associação de materiais, combinações de cores, Arte Plumária dos índios Urubu-Kaapor, do alto à esquerda, em procedimento técnico, o que nos sentido horário: cocar Akangatar, colar-apito masculino Awa-Tukaniwar, labrete masculino Rembé-Pipó e permite identificar a sua protesteira Akang-Putir
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veniência com bastante precisão (...) No Brasil indígena verificam-se pelo menos dois grandes estilos plumários. O primeiro congrega penas longas associados a suporte rígidos que conferem um aspecto grandioso e monumental ao artefato. Neste grupo estão incluídos os Bororo, Karajá, Tapirapé, Kayapó, Tiriyó, Aparai e Wai-Wai, entre outros.O segundo caracteriza-se por diminutas penas dispostas com requinte em suportes flexíveis de aspecto primoroso e delicado. Seus legítimos representantes são os Munduruku, os Urubu-Kaapor e outros grupos Tupi. Ainda alguns grupos comporiam um terceiro estilo, como os Tukano, já que seus adornos são dotados de qualidades das duas grandes divisões. Os adornos plumários não servem apenas para enfeitar o corpo, e o elemento plumário aplicado a outras superfícies, como armas, instrumentos musicais, máscaras, não pode ser visto como atributo meramente decorativo. Eles podem ser considerados verdadeiros códigos, que transmitem, numa linguagem não verbal, mensagens sobre sexo, idade, filiação clânica, posição social, importância cerimonial, cargo político e grau de prestigio de seus portadores. Além de enfeites, portanto, são símbolos e, por isso, usados nos ritos e cerimônias, campo simbólico por excelência das culturas humanas. Entre os Kaxináwa, por exemplo, há uma ligação entre liderança política e excelência estética e entre os Bororo há uma íntima associação entre certos artefatos plumários e a morte: um tipo de diadema de cabeça e um tipo de instrumento musical de sopro são especialmente feitos para representar os mortos. Sonia Dorta e Lúcia van Velthem in Arte Plumária do Brasil, 1982.
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Dois estilos marcaram a historia da cerâmica no Brasil: a cerâmica Marajoara e a cerâmica de Santarém. A Marajoara e a Santarém foram fabricadas por povos indígenas que desapareceram antes da chegada dos europeus no Brasil. A ilha de Marajó foi habitada por vários povos a 1100 a.C. Os povos
considerados da fase Marajoara chegaram à ilha por volta do ano 400 da nossa era e a produção de cerâmica desses povos era tipicamente antropomorfa, sendo dividida em vasos de uso doméstico, vasos cerimoniais e funerários. Os vasos cerimoniais eram os mais decorados com uma pintura bicromática ou policromática
Foto: Wagner Souza e Silva (MAE/USP)
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CERÂMICA
Urna Funerária Marajoara http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/pibmirim/antes-de-cabral/Urna+funer__ria+ Marajoara.jpg.html
Vaso Cariátides Tapajônico Vasilhame decorado com motivos antropomorfos e zoomorfos. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Brasil. Exemplar de cerâmica produzida pelas sociedades complexas do Pará em Santarém. Este vaso Tapajó é denominado “Vaso de Cariátides http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vaso-santar%C3%A9m.JPG
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
de desenhos feitos com incisões na cerâmica e de desenhos em relevo. A cerâmica santarena apresenta uma decoração bastante complexa, pois além da pintura dos desenhos, as peças apresentam ornamentos em relevo com
figuras de seres humanos ou animais. O que chama mais atenção na cerâmica santarena é a presença das cariátides (figuras humanas) que apóiam a parte superior do vaso. Fonte: PROENÇA, Graça. Historia da Arte, 1990.
CERÂMICA HOJE A cerâmica é importante material arqueológico, pois trazem gravadas as marcas da cultura do povo a que pertence. Panelas de barro, tigelas, potes para armazenar água, urnas funerárias e bonecas, representam o acervo de objetos utilitários que os índios brasileiros constroem. Entre as sociedades indígenas a cerâmica é geralmente
confeccionada pelas mulheres. Para produzir e pintar as cerâmicas, atualmente algumas artesãs já utilizam tintas e instrumentos industrializados. Alguns povos indígenas não produzem mais a cerâmica por falta de matéria prima e pelo contato com o não índio. Hoje em algumas comunidades indígenas já passaram a utilizar as vasilhas de metal.
A cerâmica Kadiwéu são produzidas pelas mulheres, vasos de diversos formatos, pratos de diversos tamanhos e profundidades, animais, enfeites de paredes, etc. decorados com padrões que lhes são distintos representam a expressão de sua arte e identidade. Para a fabricação da cerâmica utiliza-se barro vermelho e preto misturado com terra de cerâmica triturada ou cinza, até alcançar a consistência ideal. A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais, que contêm o barro da consistência e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo envernizados com a resina do pau-santo. Coleção FFLCH/USP, 1987
A decoração das peças com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com carvão em pó é aplicada com uma fina lasca de madeira, taquara ou linha de caraguatá para demarcar o desenho. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kadiweu/266
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http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/kadiweu/kadiweu_6.jpg.html
CERÂMICA KADIWÉU-MS
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Bonecas Carajás (litxokó)
SAIBA MAIS A modelagem do barro se faz universalmente, entre os índios brasileiros, pela superposição de roletes de argila à mão livres. O tratamento interno e externo requer a ajuda de um implemento simples – pedaço de cuia, seixo rolado ou noz, para alisar as paredes. Com essa técnica elementar constroem potes, panelas, tigelas, urnas, com ou sem apêndices modeladas, de uma harmonia admirável. (...) O polimento da superfície ajuda a unir os roletes e dar um acabamento perfeito. A solidificação da argila exige que a peça seja submetida à cocção sob alta temperatura. Havendo um bom controle do fogo obtém-se um esfumaçado que produz um negro uniforme: ou uma oxidação que confere ao barro cor ocre de
várias tonalidades. (...) A cerâmica indígena mais conhecida atualmente no Brasil é a das oleiras Karajá, principalmente suas famosas “bonecas” ou Litxokó, antigamente simples brinquedo de criança. Modeladas em barro cru representam, principalmente, a figura humana Karajá com seus atributos culturais típicos: a tatuagem de um círculo de baixo dos olhos, os brincos de rosetas de plumas, labrete masculino e a tanga embira feminina. Berta Ribeiro. in Arte Indígena, Linguagem Visual, 1989.(p.387-389). Bonecas Carajás (litxokó) http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1365
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TRANÇADO
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A arte dos trançados é uma das categorias artesanais mais diversificadas entre os povos indígenas. Representada por uma infinidade de utensílios com finalidades domésticas, de transporte de alimentos, objetos de adorno e instrumentos musicais, são: cestos, balaios, bolsas, chapéus, peneiras, redes, máscaras, cocares, tangas, pulseiras e abanos. A elaboração dos trançados resulta de grande habilidade e técnicas de entrelaçamento e empregam-se grande variedade de matérias primas de origem vegetal, como folhas, palhas, palmas, cipós, talas e fibras. Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=11895
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
A cestaria indígena pode ser classificada em dois tipos: • Tipo espiral - um talo, uma palha ou um feixe de talos ou palhas vai sendo disposto em forma de espiral a partir de seu centro, de modo que cada volta mais externa é ligada, com a ajuda de outro talo ou palha de menor espessura, à volta mais interna. • Tipo teia - uma série de talos ou palhas, colocados paralelamente, servem de urdidura, enquanto uma outra série forma a trama.
http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
CESTO COM TAMPA Xavante (MT) Trançado em espiral
Estes dois tipos permitem uma série de variações. As variações tornam-se mais numerosas quando se lança mão da cor, entremeando palhas claras e palhas tingidas. Fonte: MELATTI, Julio Cezar, 1970, p.153-154.
http:// www.riobranco.org.br/.../Isa/arteindigena.html
A TECELAGEM
Rede feita com fibra vegetal: a “cama” de boa parte das tribos indígenas do Brasil.
Peça representa o espírito “Quapan”
AS MÁSCARAS
Máscara de madeira e fibras de buriti feitas por índios Mehinaku, Parque do Xingu-MT.
Para os índios, as máscaras têm um caráter duplo: ao mesmo tempo em que é um artefato produzido pelo homem comum, são a figura viva do ser sobrenatural que representam. Elas são feitas com troncos de árvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas geralmente em danças cerimoniais, como, por exemplo, na dança do Aruanã, entre os Karajá, quando representam heróis que mantêm a ordem do Mundo (PROENÇA, 1990, p.194).
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A tecelagem é usada para a confecção de tecidos para o vestuário, adornos e redes. Na confecção da tecelagem, ela pode ser dividida em trabalhos em malhas e tramas. Nos trabalhos em malha, é usado um único fio, feito com agulhas ou com as mãos como crochê e tricô. Nos trabalhos em trama se utiliza o tear, que mantém os fios denso e organizados.
http://www.iande.art.br/mascara/madeira/mehinakuquapan060512.htm
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
A MÚSICA, A DANÇA E OS INSTRUMENTOS MUSICAIS A música é considerada pelos índios parte fundamental de sua vida, está associada à dança e aos instrumentos musicais. A música vocal constitui provavelmente, a produção mais comum de música indígena. A música é uma faceta importante na vida social principalmente nos rituais, acreditam que com a música possam se comunicar com os seus antepassados e espíritos.
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Os instrumentos musicais são partes importantes da cultura material e portadores de múltiplos significados, como o Maracá que é usado em rituais xamanísticos e cerimônias. “O maracá entre os Timbira, é usado pelo cantador para marcar o ritmo, quando puxa o cântico junto a um grupo de mulheres. Essas mulheres se colocam em fila, ombro a ombro, pés unidos, e balançam os braços para frente e para trás, os cotovelos como vértices de um ângulo reto, e dobrando e retesando os joelhos. As mulheres, por conseguinte cantam
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e dançam os pés fixos no chão” (MELATTI, 1970, p.159). Existem grandes variedades de instrumentos musicais que inclui os de percussão e sopro e podem ser feitos com sementes, madeiras, fibras, pedras, objetos cerâmicos, ossos chifres e cascos de animais. Os instrumentos de sopro são as flautas, apitos e buzinas; os de percussão são os bastões, fragmentos de tábuas, os chocalhos (maracás), guizos, cabaças cheias de pedrinhas ou sementes. A dança é um ritual que envolve a arte de pintura corporal e de máscaras, normalmente marcados com passos fortes e ritmados. A dança pode ter vários significados e intenções para os indígenas como a dança da chuva, em homenagem aos ancestrais, para afastar os maus espíritos. Ela é também comemorativa ou uma diversão para o grupo.
http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites_2009/1c/Site_Marco/Isa/arteindigena.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/História_pré-colonial...
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
ATIVIDADES
1) Observe as imagens dos índios e faça uma comparação, aponte as mudanças e as causas das mesmas. Escreva e depois discuta com a turma.
“Família de um chefe Camacã se preparando para a festa”, por Jean-Baptiste Debret, 1820-1830.
HOJE
Foto: Roosewelt Pinheiro, 2007. Brasília. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Xavante07032007.jpg
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Um grupo de índios Xavante, impediu os funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) de entrar no prédio para trabalhar. Eles pedem a reabertura do posto da Funai em Xavantina, MT.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
2) Com as mudanças culturais ocorridas desde os primeiros contatos dos índios com os europeus, ainda há povos que preservam suas tradições. Para entender melhor, em grupo, pesquise sobre uma etnia indígena. Observem em sua pesquisa alguns fatores que contribuíram para a mudança de alguns costumes, como alimentação, vestimentas, rituais. É importante constar em sua pesquisa os seguintes tópicos: - História de contado - Mitologia e rituais - Música e dança - Arte e cultura material Apresentem o trabalho para a sala. Para facilitar a apresentação, produzam cartazes e tragam imagens para melhor compreensão da turma. 3) Pesquise grafismos indígenas, seja na pintura corporal, na cerâmica ou em outro objeto. - Copie alguns no seu caderno e marque de qual etnia pertence o grafismo. Observe nos grafismos o ritmo da cores, das linhas e das figuras geométricas repetidas. - Com base nos grafismos pesquisados, crie faixa-decorativa ou composição trabalhando o ritmo das cores e formas. Use materiais diversos para o acabamento: lápis 6B, caneta hidrocor, lápis de cor, etc.
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Site de pesquisa: - Funai – (Fundação Nacional do índio).http:// www.funai.gov.br - ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org - Youtube – http://www.youtube.com.br - Iandé – Casa das Culturas Indígenas. www.iande.art.br
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Sugestões de vídeos do Youtube: - Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu - Pintura corporal http://www.youtube.com/watch?v=JgmuTQIuGH4&feature=related - Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu – cerâmica http://www.youtube.com/watch?v=_RqPlomJF-4&feature=related - Pajerama http://www.youtube.com/watch?v=BFzv0UhHcS0&feature=related - Jorge Bem – Curumim Chama Cunhatã. http://www.youtube.com/watch?v=y1Hwf3KXKIc&feature=related
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
POVOS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ NO PARANÁ ARTE RUPESTRE NO PARANÁ rupestres no Paraná foram encontradas em abrigos, cavernas e arenitos dos Campos Gerais. As representações são divididas em três categorias, as figuras humanas, as figuras de animais e os sinais. As figuras de animais e seres humanos são associadas a representações geométricas, em tons vermelhos, marrons e pretos, raramente em amarelo. Em vários abrigos existem pinturas geométricas abstratas, os sinais, como pontos, círculos e linhas, que sobrepõem figuras de animais, geralmente em vermelho e marrom. Parte dessas pinturas e gravuras rupestres, no Paraná, com datação entre quatro mil e trezentos anos atrás, parecem estar relacionadas a grupos Jê. As representações rupestres refletem aspectos simbólicos e espelham a identidade cultural da sociedade que a produziu.
Pintura rupestre no Estado do Paraná Foto: acervo Museu paranaense
Pontas de flechas Foto: acervo Museu Paranaense Fonte: Arqueóloga Dra.Cláudia Inês Prellada. Museu Paranaense.
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Os primeiros povos paleoíndios, habitantes do Paraná eram povos nômades caçadores-coletores, sendo caracterizados pelos diferentes materiais lascados que produziam, como pontas e projéteis. Supõese que já estavam nos territórios paranaenses entre 12.000 a 15.000 anos atrás, vindos das terras altas do centro e oeste sul-americano: áreas andinas e amazônicas. Há dez mil anos, com o clima tornandose cada vez mais quente e úmido, outros grupos caçadores e coletores migram para o Paraná, ocupando em momentos diversos tanto o vale de grandes rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o Tibagi e o Paraná, como nos topos de montanhas, inclusive abrigos rochosos, e o litoral. As primeiras pinturas e gravuras
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=177&evento=10
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POVOS AGRICULTORES CERAMISTAS
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Os primeiros povos agricultores e ceramistas chegaram ao Paraná há 4.000 anos, vindos do planalto central brasileiro, ocupando as terras altas do sul brasileiro. Ao longo do tempo dispersaram-se por todo o território paranaense, sendo ancestrais de índios da família lingüística Jê. Os Jê meridionais, atualmente representados pelos Kaingang e Xokleng, teriam se separado e iniciado a migração em direção ao Sul, há cerca de 3.000 anos. Viviam em aldeias, com até 300 pessoas, e os territórios eram marcados através da gravação de símbolos clânicos em abrigos rochosos e em tronco de pinheiro de araucária. Cremavam seus mortos, faziam cemitérios em danceiros (lugares de reuniões sociais) ou abrigos rochosos, onde realizavam pinturas e gravuras. Os artefatos em pedra eram polidos e/ ou lascados. A cerâmica relacionada aos ancestrais de índios Jê no Paraná caracteriza-se pelo pequeno volume de espessura fina, com eventual engobo negro ou vermelho, e em alguns casos marcada com impressão de tecido ou malha, ou ao mesmo tempo carimbada e incisa, na face externa do vasilhame. A confecção dos vasilhames era feito por diferentes técnicas, como o modelado onde a argila era modelada com as mãos,
Vasilhame cerâmico da Tradição Arqueológica Itararé. Relacionada aos ancestrais de grupos do Tronco Lingüístico Jê, e encontrado em roncador –Pr. Acervo: Museu Paranaense.
como por exemplo, os cachimbos com fornilho redondo e haste cerâmica. Usavam também porongos, frutos ocos, como moldes internos de pequenas vasilhas. Esses frutos eram queimados com a argila aderida na superfície, desaparecendo com as altas temperaturas, mas deixando impressões no interior dos vasilhames. Na cerâmica arqueológica ItararéTaquara (Kaingang e Xokleng) usavam os métodos de manufatura pelo modelado, roletado e paleteado. Na técnica do roletado, usado tanto por grupos Tupi-Guarani como Jê, os vasos eram confeccionados através de roletes ou cordéis de argila, sucessivamente ligados e apoiados uns sobre os outros, secos a sombra, e depois havia a sucessão de polimento da superfície externa através de pequenos seixos arredondados, principalmente em silexito (rocha), folhas de palmito ou espátulas de madeira ou concha. No paleteado confeccionava-se o vasilhame inicialmente através de um cone feito de argila apoiado em um seixo arredondado de pedra, que era batido sucessivamente com uma paleta de madeira ou outro seixo, fazendo as peças de diferentes formas e tamanhos. O engobo é uma fina camada de pigmentos aplicados na vasilha, antes e depois da queima; pode modificar ou aumentar a impermeabilidade da peça. Os Itararé-Taquara usavam o engobo negro ou vermelho. O engobo negro consegue-se através do esfumaramento: na queima do vasilhame, quando se torna rubro devido a temperatura, é colocado sobre a palha de milho seca, e assim ocorre a reação da combustão, onde o carbono adere intensamente à superfície do vasilhame que fica com uma película negra assemelhada ao verniz. O engobo vermelho, geralmente é
CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA
inorgânico, como óxido de ferro moído diluído em água e aplicado sobre a superfície do vasilhame, antes ou depois da queima o que diminui a durabilidade da cor e da impermeabilidade. Os ancestrais dos índios Tupi e Guarani, provavelmente vindos da Amazônia, chegaram ao Paraná, há 2.000 anos atrás. Os Guarani, também agricultores, viviam em
aldeias e a cerâmica era decorada, com pinturas geométricas, vermelhas e pretas sobre engobo branco, ou incisões ou marcações com as unhas e a polpa dos dedos; eram comuns os cachimbos cerâmicos. As técnicas de manufatura da cerâmica incluem o roletado e o modelado.
Fonte: PARELLADA, Cláudia Inês. Estética Jê no Paraná: Tradição e Mudança no Acervo do Museu Paranaense. R.cient./FAP, Curitiba, v.3, p. 219-222, jan/dez. 2008.
HISTÓRICO DE CONTATO Foram devastados ricos territórios em florestas ervais e madeiras, principalmente de araucárias, territórios de campos de caças e de coleta de pinhão, fonte de alimento dos indígenas, para a ocupação e implantação de fazendas de criação nos campos de Guarapuava (Koran-bang-rê) e Palmas (Kreie-bang-rê). Em meados deste século, as terras roxas do norte no Paraná foram ocupadas com o plantio de café, e as terras do sudoeste e oeste transformadas em campos de agricultura pelos fazendeiros, expandindo seus domínios. No século XX, a guerra de conquista continuou em nome do progresso, pelas companhias de terras que lotearam e venderam os territórios indígenas com o aval institucional do Estado do Paraná. A ocupação das últimas matas nativas das áreas indígenas no vale do rio Tibagi, continuou no limiar do século XXI, com a construção de barragens para a geração de energia. Todos esses territórios, pertencentes às comunidades indígenas Kaingang, Xokleng, Xetá e Guarani, foram espaços submetidos à conquista e à ocupação. Os índios lutaram pela manutenção desses espaços e de seu modo de vida. Foram séculos de resistência e lutas contra a política de integração.
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No Estado do Paraná temos quatro grupos indígenas que lutaram e lutam pela sobrevivência de sua etnia e cultura, os Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. Pode-se dizer que chegaram ao Paraná à 2000 anos atrás, com exceção dos Xetá que ainda não existe informação a respeito. Os territórios localizados entre os rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí, hoje norte e noroeste do Paraná já eram ocupados pela população indígena. A história de contato desses povos com os europeus no Estado do Paraná, data do início do século XVI, com as primeiras expedições portuguesas e espanholas que cruzavam pelo interior do Paraná rumo ao Paraguai e ao Peru, em busca de metais, de escravos e terras indígenas. Continuou no século XVII com a implantação das Reduções Jesuísticas no Guairá e com as bandeiras Paulistas que invadiram a região capturando os índios. O século XVIII foi marcado com a descoberta de ouro e diamantes no rio Tibagi, e com expedições militares que construíram fortificações e transitavam pelo território rumo ao Mato Grosso. Já no século XIX, as comunidades indígenas sofreram um acelerado processo para se integrarem à sociedade envolvente.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
Travaram inúmeras batalhas contra os invasores de seus territórios, muitos índios foram mortos pelas armas de fogo dos brancos, mas, muitos conquistadores foram
atingidos por suas flechas. Apesar dos conflitos e extermínio as comunidades indígenas sobreviventes permaneceram indígenas.
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Fonte: MOTA, Lúcio Tadeu.
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Kaingang do PR (desenho de João Henrique Elliot 1809-1888)
VIVIAM LIVRES NAS REGIÕES DE CAMPOS E FLORESTAS DO SUL DO BRASIL
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KAINGANG KAINGANG
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
OS KAINGANG OS KAINGANG KAINGANG: HISTÓRIA DE CONTATO
Fonte: Kimiye Tommasino.
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Os Kaingang fazem parte do tronco pertencentes aos vários grupos indígenas – Macro-Jê, da família Jê e falam a língua Kaingang, Guarani, Xokleng, Xetá – Kaingang e ocupam áreas dos Estados da provocando as primeiras tentativas de região Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa ocupação não indígenas nas terras do interior Catarina e São Paulo. Também conhecidos das províncias do sul. como Jê do Sul. No início do século XIX, a estrada da A denominação kaingang só foi Mata foi o eixo inicial de ocupação dos introduzida no final do século XIX por territórios indígenas do Sul, intensificada com Telêmaco Borba. Inicialmente , os Kaingang e o comércio de rebanho muares e bovinos os Xokleng foram classificados como uma só trazidos do Rio Grande do Sul para Sorocaba e etnia com dialetos diferentes, sendo o Xokleng passando pelos Campos Gerais no Paraná, não denominado Aweikoma- Kaingang apenas em direção ao sul, mas também a oeste e No século XVI teve início a história de a norte. A expansão paulista é a ponta de lança contato dos Kaingang com os colonizadores para a conquista das terras indígenas do Paraná, europeus, quando alguns grupos viviam Santa Catarina e Rio Grande do Sul. próximos ao litoral atlântico. O caminho das tropas é que vai Nos séculos XVI e XVII grande parte consubstanciar uma frente de ocupação e dos índios foram reduzidos e alguns grupos exploração nacional nas terras indígenas, com ancestrais dos Kaingang foram reduzidos em a implantação de sesmarias a partir dos Conceição dos Gualachos, às margens do rio Campos Gerais no Paraná. Piquiri, e em Encarnación , às margens do Apesar de todas as guerras dos Kaingang Tibagi. Após terem fugido dos ataques dos para expulsar os brancos, os caciques foram bandeirantes paulistas, os jesuítas fundaram vencidos um a um e aceitaram fixar-se nos novas reduções na Província de Tape, entre aldeamentos definidos pelo governo, sob pena 1632 e 1636 (atual Rio Grande do Sul). de serem exterminados, como de fato alguns Muitas populações indígenas reduzidas foram. Simultaneamente ao aldeamento, os foram atingidas por diversas epidemias e territórios foram sendo ocupados pelas houve grande prejuízo demográfico. fazendas e a colonização nacional foi se Como foram poucos que aceitaram viver consolidando nas décadas seguintes. sob o comando dos jesuítas, os Kaingang, No final do século XIX, pode-se dizer viveram livres nas regiões de campos e que todos os grupos tinham sido florestas do sul do país até o século XIX, conquistados, a exceção dos Kaingang da quando foram conquistados. bacia do Tietê-SP e os grupos que viviam nos Na segunda metade do século XVIII, as territórios entre os rios Laranjinha e Cinzas primeiras tentativas de conquista e ocupação no Paraná que foram conquistados nas efetiva dos campos e florestas pertencentes aos primeiras décadas do século XX. Os de São Kaingang, iniciou-se na província do Paraná Paulo foram conquistados em 1912 e os dos (que incluía a maior parte do Estado de Santa Paraná em 1930. Catarina). Nesse período as expedições exploradoras localizaram vários territóriosFoto: acervo Museu do índio, década de 1950
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MITOLOGIA KAINGANG A origem dos Kaingang tem ligação com a Terra-mãe e constitui-se como o princípio da vida, da sociedade e da cultura. A relação se dá desde o nascimento até a morte, com seus umbigos enterrados na terra e a vida que se constitui pelo contato com a natureza. Rios e matas são espaços de
sobrevivência, de atividade econômica, de produção e reprodução da cultura. “Da Terra saíram e a Terra voltarão”. Na mitologia Kaingang os primeiros humanos saíram de um buraco na terra, são: Kamé e Kairu, metades que deram origem a sociedade e que produzem a divisão entre os homens e os seres da natureza.
Segundo Nimuendajú (1993), na mitologia Kaingang foram os dois irmãos Kairu e Kamé que criaram todas as coisas: fizeram todas as plantas e animais, e que povoaram a terra com seus descendentes, não há nada neste mundo fora da terra, dos céus, da água e do fogo, que não pertença ou ao clã de Kañeru ou ao de Kamé. Todos ainda manifestam a sua descendência ou pelo seu temperamento ou pelos traços físicos ou pela pinta. O que pertence ao clã Kañeru é malhado, o que pertence ao clã ao Kamé é riscado. O Kaingang reconhece estas pintas tanto no couro dos animais como nas penas dos passarinhos, como também na casca, nas folhas, ou na madeira das plantas. Das duas qualidades da onça pintada, o acanguçu é Kañerú, o fagnereté é Kamé. A piava é Kañerú, e por isso ela vai também adiante da piracema. O dourado é Kamé. O pinheiro é Kañerú, o cedro é Kamé, etc. Fonte: Kimiye Tommasino. Novas contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang. Londrina Eduel, 2004. Capítulo 5, p. 146-159.
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O relato do velho Xê exemplifica como os mitos e as crenças desse povo estão regidos profundamente por sua relação com a natureza e o mundo:
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“Os primeiros Kaingáng foram Filtón e o “iambrê” (cunhado) dele. Viveram muito, muito tempo antes da grande chuva que provocou a inundação de todo o mundo. Filtón era o chefe dos Kanherú e o outro o dos Kamé. Vieram do interior da terra. O chão tremeu e houve um estouro. Enxergaram a claridade e saíram de dentro da terra. A princípio eram dois grupos sómente, mas ao chegarem à superfície da terra fizeram a subdivisão em Votôro e Venhiky, por causa das festas que iam realizar”.
PEREIRA, Magali Cecili Surjus. Meninas e meninos Kaingang: O processo de socialização. Londrina. Ed. UEL, 1998. p.40
RITUAL E XAMANISMO O kiki, culto aos mortos, é o ritual que ainda é reconhecido como sistema cosmológico. Ainda hoje o respeito aos
mortos, as crenças e o apego às terras onde estão enterrados seus umbigos, são expressões compartilhadas entre os Kaingang e de grande valor para a vida religiosa do grupo.
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
O Kiki, ou o ritual do Kikikoi (comer kiki), consiste em reunir dois grupos formados por pessoas pertencentes a cada uma das metades clânicas, Kamé e Kairu. A realização do ritual do Kikikoi depende do pedido dos parentes de alguém que veio a falecer nos anos anteriores e deve ter mortos das duas metades. O Kikikoi pode ser definido como o esforço da sociedade em ratificar o poder do mundo dos vivos sobre os perigos associados com a proximidade dos mortos. É um ritual para afastar o morto de seus entes queridos, que correm perigo de serem levados pelo morto, pois não conseguem se libertar do mundo dos vivos pela falta que sentem da esposa ou esposo e dos filhos. Hoje o Kikikoi é realizado apenas pelos Kaingang da Terra Indígena Xapecó em Santa Catarina. Os jovens consideram o Kiki como sistema dos antigos e associam o Kiki a tradição indígena.
RITUAL DO KIKIKOI
KUIÃ O Kuiã (xamã) se ocupa das curas e tem capacidade de ver o que irá acontecer com aqueles que vivem no grupo. O poder do kuiã é adquirido através de seu guia animal (jangrê), que será seu companheiro e guia, e ensina ao kuiã o tratamento com remédios do mato. O guia animal pode ser o tigre que é considerado o mais forte dos guias. O aspirante a kuiã, deverá ir ao mato virgem, cortar folhas de palmeira e confeccionar recipientes com água para atrair o animal. O animal que beber a água preparada será seu companheiro e guia. Com seu guia ou companheiro animal, o kuiã ocupa posição importante na organização social e política das comunidades Kaingang.
SUBSISTÊNCIA Os territórios Kaingang compreendiam extensas áreas de campos e florestas do Sul, além das aldeias, onde acampavam em períodos de caça, pesca e coleta. O pinhão,
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Na realização do Kikikoi, as metades clânicas, Kamé e Kairu atuam separadamente. O processo ritual é marcado pela reunião dos rezadores em três fogos acesos em dias diferentes, no terreno do organizador, que é chamado de praça da dança ou praça dos fogos. O ritual deve ser realizado entre os meses de janeiro e junho, durante a época de milho verde. O primeiro fogo: são dois fogos, um para cada metade clânica. Antecede pelo corte do pinheiro (araucária) para fazer o cocho onde o “Kiki” (bebida feita de milho) é colocado. O segundo fogo: são quatro fogos, dois para cada metade clânica. Ocorre na noite seguinte que antecede o início da preparação do Konkei (cocho).
O terceiro fogo: São seis fogos acesos paralelamente ao konkéi, três para cada metade clânica. Acontece dois meses após a colocação da bebida no Konkéi. Durante a noite os rezadores com outros integrantes permanecem entoando cantos e rezas para os mortos da metade oposta. Nesta etapa as mulheres, as péin, realizam pinturas faciais cuja finalidade é a proteção dos participantes contra os espíritos dos mortos de sua metade. Ao amanhecer os grupos se deslocam para a praça de dança, onde os grupos se fundem ao redor dos fogos e o ritual é concluído com o consumo do kiki.
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fruto do pinheiro do Paraná (araucária Angustifólia), era fonte alimentação nos períodos de inverno. Usavam os pari, armadilhas de pescas, forma tradicional, que ainda é utilizada pelos Kaingang dos rios Ivaí e Tibagi. Hoje sobrevivem das roças administradas pela FUNAI, das vendas de artesanato, de aposentadorias e alguns empregos públicos existentes nas aldeias. Araucaria angustifolia (Araucária), o Pinheiro-do-Paraná http://http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19998
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
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O aspecto da organização social Kaingang é a divisão nas metades exôganicas Kamé e Kairu que se opõem e se complementam.
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KAINRU
KAMÉ
Gêmeo ancestral denominado Kainru, conforme o mito, saiu primeiro do chão; lua, um ex-sol; noite; corpo fino, peludo, pés pequenos; frágil, menos forte; feminino; ligeiro em movimentos e resoluções; menos persistentes; leste; baixo (parte de baixo); pintura corporal redonda, fechada; orvalho, umidade; mudança; agilidade; lugares altos; seres/objetos redondos/fechados; seres/objetos malhados/manchados, leves ou delgados; sete sangrias (Simplocus parviflora).
Gênero ancestral denominado Kamé; conforme o mito, saiu depois do chão; sol, símbolo de força e poder; dia; corpo grosso, pés grandes; mais forte; masculino; vagaroso em movimentos e resoluções; persistentes; temperamento feroz; oeste; alto (parte de cima); pintura corporal em faixas, linhas, “abertas”; dureza; permanência; lugares baixos; seres/objetos compridos/riscados mais pesados ou grossos; pinheiro (Araucária angustifólia). Fonte: Sergio Baptista da Silva http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf
Os casamentos devem ser realizados entre indivíduos das metades opostas. Kamé não pode casar com Kamé, ou vise e versa, pois são irmãos. Kamé só pode casar com Kairú. Os Kamé estão relacionados ao oeste e a pintura facial é feita de motivos compridos (rá teí) e os Kairu, ao leste, a pintura facial é feita de motivos redondos (rã rôr). A metade Kamé ou Kairu, a filiação, é definida patrilateralmente. Os filhos de
ambos os sexos pertencem à metade do pai, ou seja, se o pai é Kamé, os filhos de ambos os sexos são Kamé, se o pai é Kairu os filhos são Kairu. Na tradição Kaingang, o Sol é Kamé e a Lua é Kairú. A cosmologia dualista dos Kaingang, os mitos Kamé e Kairú não apenas produzem a divisão entre os homens, mas também na natureza vegetal e animal: o pinheiro é Kamé e o cedro é Kairu, o lagarto é Kamé e o
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macaco é Kairu, assim por diante, conforme Telêmaco Borba (1882). Os princípios sociocosmológicos dualistas tradicionais kaingang operam sobre uma estrutura social baseada na articulação de unidades sociais territorialmente localizadas, formadas por famílias entrelaçadas que dividem responsabilidades cerimoniais, sociais, educacionais, econômicas e políticas. A morfologia social kaingang segue princípios complementares e assimétricos com relação aos princípios dualistas. A unidade social mínima kaingang é o grupo familiar formado por uma família nuclear (pais e filhos). Estes grupos familiares fazem parte de unidades sociais maiores que podemos chamar de grupos domésticos, formados, idealmente, por um casal de
velhos, seus filhos e filhas solteiras, suas filhas casadas, seus genros e netos. Este grupo doméstico não ocupa, necessariamente, uma mesma habitação, mas um mesmo território. Ser Kaingang na atualidade, significa ser filho de pai kaingang. Nas terras indígenas kaingang há um número significativo de indivíduos classificados como mestiços (filhos de casamentos entre kaingang e branco), misturados (filhos de pais de duas etnias indígenas, como de Kaingang com Guarani ou Kaingang com Xokleng), indianos (brancos casados com mulheres kaingang que vivem incorporados como membros da comunidade da esposa), ou cruzados (estes, segundo os próprios Kaingang, são definidos como aqueles filhos de mãe índia e pai branco e que não falam a língua nativa). Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/288. Kimyie Tommasino.
ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG instrumento de taquara fina encabada em uma cabaça furada nas extremidades (õtõrêrê). A dança para os Kaingang está relacionada ao culto aos mortos, que se realiza anualmente na época em que o milho está verde e o pinhão amadurece. É acompanhada de cantos rituais e sons de chocalhos. Os dançadores se distribuem de acordo com a metade a que pertencem. Com relação aos grafismos, aparecem em uma grande variedade de suportes como trançados, tecidos, armas, utensílios de cabaça, cerâmica, troncos de pinheiro e nos corpos dos Kaingang. Os trançados revelam formas e grafismos relacionados à cosmologia dualista, evidenciando a organização simbólica dos mundos social, natural e sobrenatural em metades Kamé e Kairu.
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Os kaingang fabricavam armas de guerra e de caça, tecidos de fibras de urtiga brava, talas de caraguatá, cestos de taquara, enfeites e adornos e utensílios de cerâmica e porongos (cabaças). A cerâmica era utilizada basicamente para preparar os alimentos. As armas de guerra constituíam-se de arcos, flechas e lanças. As pontas das flechas eram de osso de macaco bugio e mico. Os arcos eram feitos de pau d'arco (Tabebuia Chrysantha). Tempos depois, as lanças passaram a ser de ferro que eram obtidos dos brancos. Atualmente os Kaingang fabricam arcos e flechas apenas como enfeites. Entre os instrumentos musicais estão segundo Borba (1908): buzina de chifre de boi ou taquara (oaquire), flauta de taquara (coque), Maracás (xii: xik-xi), apitos de taquara e outro
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PINTURA CORPORAL RELATO DE ÍNDIA KAINGANG DO APUCARANINHA Maria Va-Gánh que diz ter 120 anos de idade.
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“Fazia pintura do rosto (redondo) Com a tinta preta, no balaio Fazia redondo Fazia riscado Lembra de tudo Só do cipó-kó-mrur Já existia o balaio E fazia o desenho, a pintura. O pai, o bisavô eles aprenderam Sei faze chapéu, mais precisa de criciúma e é muito Longe pra busca. Mais até hoje sabe fazê.. Fazia panela, tigela, prato de barro porque naquele Tempo, não existia de outro. Mais pra faze panela, não é quarquê barro que serve. O nome do barro é go-õr Fazia tempo que não procura mais Faiz tempo... Hoje existe prato do branco Vou mandar o fio procurar (o barro) e vou faze Hoje faço peneira também Tem pintura do rosto (rõr)(...)”
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(inverno de 1996) Fonte: OLIVEIRA, Marlene de. Da taquara ao cesto: a arte gráfica Kaingáng. UEL, Londrina, 1996. (p.41).
A pintura corporal estava sempre presente no Kikikoi (culto dos mortos) e caracterizava o subgrupo ou clã ao qual o indivíduo pertencia. As pinturas corporais eram pretas, feitas com carvão misturado com mel e água ou com a seiva pegajosa de uma trepadeira. Algumas pinturas eram feitas através de um carimbo em madeira, inclusive
com os colmos de taquara para a metade votor. Geralmente a pintura era feita na face do indivíduo, mas, também eram realizadas em toda a superfície do corpo, e cobertas por penas e plumas. A pintura está sempre associada aos nomes ou marcas, ror e téj. Ror representa a metade Kairú (kanhru), baixo-redondo ou
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grosso-compacto. Téj representa a metade Kamé, alto-comprido ou fino e difuso. A pintura corporal característica dos Kanhru seriam manchas e a dos Kamé listras. Kanhru representado pela marca de
manchas ou pontos é frágil, feminino, ligeiro, simboliza a Lua, a noite, a agilidade e leveza. Kamé é marcado pelas linhas retas ou curvas, representando o sol, que é o símbolo da força e do poder, o dia, o masculino, o feroz.
Na arte indígena de hoje, já está incorporada o costume do não-índio, mas ainda existe a tradição da pintura corporal, do uso de adornos e cocares em festas, como no dia do índio; nas festas religiosas como Nossa Senhora Aparecida e outros santos e em eventos e apresentações fora da aldeia.
ARTESANATO Além dos cestos de taquara, os
kaingang confeccionam outros artefatos como: bolsas, peneiras, chapéus, colares, pulseiras, arco e flecha e chocalhos. Também utilizam na confecção de bolsas, a fibra de bananeira. No artesanato, o grafismo dos cestos, ou seja, o trançado é padronizado, mas o artista é livre para criar outros motivos, estão sempre inovando. A taquara é a matéria-prima utilizada na confecção da cestaria e é retirado das matas longe da aldeia. São cortadas em fitas com
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ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG – HOJE
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facas bem afiadas e depois tingidas com anilina (produto industrializado), antes da confecção dos cestos e dos outros artefatos. Os chocalhos são feitos de cabaça e
ornamentados com taquara e penas de galinha que também são tingidas com anilina, como também os arcos e flechas e cocares. Os colares são feitos de sementes.
A cestaria tornou-se ao longo do tempo atividade produtiva. Envolve principalmente as mulheres e crianças menores que acompanham desde a coleta da taquara no campo até o trabalho de trançar. O comércio de cestarias é feito, principalmente, na cidade onde montam acampamentos próximos a alguma água ou riacho. Andam pelas ruas da cidade vendendo ou trocando seus balaios por roupa ou comida. Trecho do livro: Meninas e meninos Kaingang: O processo de socialização. Londrina Ed. UEL, 1998. Magali Cecili Surjus Pereira.(P.90).
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TRANÇADO KAINGANG – CESTARIAS
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As cestarias Kaingang compõem a grande riqueza material Kaingáng, pois trazem grande variedades de motivos decorativos expressos nos seus trançados e que hoje representam a identidade cultural dos kaingáng. Os desenhos geométricos das cestarias tem relação com a organização social e representam suas metades clânicas. Cestos e peneiras em seus motivos geométricos, representam a pintura do rosto, as marcas das patrimetades Kairú e Kamé que pertence o artesão, como forma indiscutível de afirmação étnica e identidade do indivíduo na estrutura social. Algumas representações gráficas dos desenhos também tem relação com animais que pertencem as metades, a onça (mig) era estampada nos desenhos das cestarias dos antigos Kaingang. Atualmente encontramos alguns desenhos
indicando a cobra (pyn), chamada de “Ti-ráreroio”. Os desenhos dos trançados Kaingang mostram os padrões para a confecção de balaios, cestos e peneiras que devem ser seguidos, conforme a estética de cada um. São três tipos de cestos: Key – os mais altos do que amplos (paneiformes); Kre – mais largos do que altos (ganeiformes) e Peñera – amplas e achatadas. Hoje, com o processo de mudança por motivos de contato com a civilização majoritária e a necessidade de arrecadar fundos para a subsistência, muitas vezes as mulheres não seguem as regras de trançados estabelecidas pela tradição, usam diferentes motivos geométricos e com cores fortes, como roxo, rosa, verde, amarelo e o vermelho, pela necessidade de adequar a produção as exigências dos consumidores.
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CESTARIAS, ARTEFATOS E COLARES KAINGANG
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ADORNOS Antigamente, a natureza oferecia uma infinidade de matérias primas que os indígenas coletavam para confeccionar determinados adornos, que eram usados no dia a dia e durante as práticas festivas. Para cada tipo de material extraído da natureza, existe tempo e estação própria. Na confecção da pulseira utiliza-se os seguintes materiais: cipó guambé, taquara mansa, imbira, sementes, casca de guajuvira. No colar: usa-se sementes de várias espécies, ariticum, uva japão, coquinho, penas de animais silvestres e linha de imbira. O anel: é feito de coquinho, taquara mansa e cipó guambé. Palito de cabelo: usa-se uma madeirinha extraída especialmente da guajuvira e como enfeite é inserido penas e casca de cipó guambé. O cocar: a sua base é feita com o cipó guambé ou taquara mansa e para enfeita-lo é inserido penas coloridas. Brinco: é feito de sementes, pequenos pedaços de madeira, nó de pinho e tiras de cipó guambé. Braçadeira: usa-se cipó guambé, taquara mansa, penas e tinta de cipó. Atualmente, os Kaingáng utilizam materiais artificiais, como tinta, linhas e cola, devido à escassez da matéria prima.
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INSTRUMENTOS MUSICAIS
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Entre os instrumentos musicais usados pelos Kaingáng, temos os seguintes: a flauta, feita de gomo da taquara mansa e do porongo; o chocalho também é um instrumento feito de porongo contendo em seu interior algumas
sementes de milho e feijão; também temos o turú, que é feito da taquara e na ponta usa-se um porongo ou garrafa plástica. Esses instrumentos musicais antigamente eram usados durante as danças culturais chamadas Kiki koj, e hoje são usadas nos grupos de dança das escolas indígenas. Fonte: NÖTZOLD, Ana, Lúcia Vulfe (org). Cipó Guambé, Taquaruçú e Anilina: Conhecendo os Artesanatos Kaingáng. Caderno de Atividades. Gráfica Agnus. São José – SC, 2009.
MÚSICA Encontramos músicos Kaingang que tocam violão, acordeão, guitarra elétrica e grupos que tocam em bailes e igrejas que existem dentro das aldeias Kaingang. Segundo o professor indígena Alcindo Curimba Cordeiro, da aldeia do Ivaí em Manuel Ribas, Paraná, existe o Grupo de Música: OS INDIANOS, onde os músicos tocam gaita, violão guitarra, contra baixo e teclado. As músicas preferidas são as gauchescas, sertanejas entre outros ritmos. DANÇA Destaca-se o baile, pois reúne indivíduos de todas as idades. O baile é frequentemente realizado pela comunidade em dias festivos como festas juninas e julinas, dias santos, dia do índio ou quando um grupo está com vontade de dançar. Dançam todos na mesma direção formando um grande círculo ao redor do salão. Observa-se a formação dos pares assim que a música começa a ser tocada, esses pares se desfazem rapidamente, quando termina a música (PEREIRA,1998).
CONTO INDÍGENA KAINGANG Depois do dilúvio Povo kaigang (Mito Kaigang) Os velhos do povo Kaigang contam aos seus netos que, nos tempos criadores, a terra viveu um grande dilúvio. Choveu tanto, mas tanto, que ficou para fora apenas o pico da
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serra Crinjijimbê. Por isso todos os seres humanos daquela época tentaram alcançar o topo para sobreviver. Muitos tentaram, mas alguns não conseguiram e morreram afogados. Seus espíritos, conforme contam os antigos, foram para o centro da terra onde fizeram sua morada. As pessoas que sobreviveram eram tantas que o pico da serra não comportava todo mundo. Alguns, então, tiveram que viver nos galhos das árvores, enquanto outros viveram na terra. Passaram-se muitos dias e todos já estavam desanimados com a chuva que não parava, e a água que não baixava, algumas pessoas já passavam mal de fome, pois nada mais tinham para comer. Quando tudo parecia perdido, os homens ouviram bem ao longe um canto conhecido por eles: era o canto das saracuras que traziam, dentro de seus papos, terra para aterrar o dilúvio. Imediatamente todos passaram a gritar pedindo socorro às aves que, compadecidas, atenderam ao pedido dos humanos. Com a ajuda de outras aves, as saracuras fizeram um grande dique por onde atravessaram os homens. Infelizmente, como houve demora no atendimento, os homens que estavam sobre as árvores acabaram virando macacos e saíram pulando de galho em galho. Contam os antigos que, como as saracuras vinham de onde o sol nasce, as águas acabaram todas correndo para o poente, indo em direção ao grande rio Paraná. Com o passar dos dias as águas secaram e os sobreviventes se estabeleceram nas imediações do pico Crinjijimbê. Aí aconteceu um fato inusitado para todos: os que haviam morrido e ido morar no centro da serra, começaram a abrir caminho para fora e chegaram a sair por duas veredas. Os da metade Kaiurucré saíram num lugar plano e cristalino e por isso tinham os pés bem pequenos; os da metade Kamé saíram por outra vereda. Esta era pedregosa e cheia de espinhos. Por isso ficaram com pés grandes. Também saíram em lugar muito árido, sem água para beber. Mais uma vez, tiveram que pedir aos kaiurucré permissão para beber de sua água. Assim estes dois grupos foram convivendo até abandonarem a serra. (...)
A música e a dança apareceu entre eles quando um grupo de caçadores Kaiurucré chegou num bosque todo limpinho e percebeu que havia, ali, um pequeno roçado. Aproximaram-se para observar melhor e notaram duas varinhas com suas folhas carregando uma pequena cabaça. Acharam estranho e voltaram para a aldeia onde contaram tudo o que viram. O chefe da aldeia decidiu que voltaria ao local com toda aldeia para certificar-se daquilo. Lá chegando ouviram canções belíssimas. Foram decorando cada uma das canções. Depois pegaram a varinha e levaram para a aldeia onde fizeram cópias delas e distribuíram entre todos. O Chefe Kaiurucré, que havia presenciado a dança das varinhas, reproduziu a mesma dança chacoalhando-as. Todo mundo viu e gostou. Foi o início de uma grande festa. (...)
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As duas metades Kaigang continuaram seu caminho até chegarem num local onde decidiram unir suas forças através do casamento entre os seus jovens. Moços Kaiurucré casariam com moças Kamé, e moços Kamé casariam com moças Kaiurucré. Assim aconteceu. Mas foi tudo sem festa porque eles ainda não sabiam cantar ou dançar.
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Glossário Kaigang – Povo originário do sul do Brasil. È do tronco lingüístico Macro-Jê e da família lingüística Jê. Está hoje presente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sua população foi estimada em 20.000 pessoas (dados de 1994). Saracura – Galináceo que habita pântanos, lagoas e rios. Anuncia com o seu cantar, a aproximação das chuvas. Kaiurucré – Metade familiar entre os Kaigang. Os membros desta metade podem casar-se apenas com a sua metade oposta, os Kamé. Kamé – Outra metade familiar Kaigang. Os membros deste grupo só podem casar com os Kaiurucré. Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 43 – 50.
ETNO CONHECIMENTO
A ORIGEM DO MILHO
A
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ntigamente nossos antepassados se alimentavam de frutos e mel, quando estes faltavam eles passavam fome. Um velho de cabelos brancos de nome Gâr, ficou com pena deles; um dia disse a seus filhos, netos e noras, que pegassem um pedaço de pau e com ele fizessem uma roçada nos taquarais e queimassem. Feito isso disse aos filhos que os conduzissem ao meio do roçado. Quando lá chegaram sentou-se e pediu que trouxessem cipó grosso. Quando já haviam trazido bastante cipó o velho disse:
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– Agora vocês amarrem no meu pescoço e arrastem-me pela roça em diferentes direções. Quando eu estiver morto enterrem-me no centro dela e vão para a mata pelo espaço de três luas... ...Quando vocês voltarem, passado esse tempo acharão a roça de frutos que, plantados todos os anos, livrarão vocês da fome. (...)
Fonte: Ana Lúcia Vulfe Nötzold/Ninarosa Mozzato da Silva Manfroi Fonte: (organizadoras) Ouvir Memórias e Lendas. Contar Histórias: Mitos e Lendas Kaingáng. Ed. Pallotti, Santa Maria – RS, 2006.
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ATIVIDADES 1)
Em grupo faça uma pesquisa sobre os Kaingang. É importante seguir os seguintes tópicos na pesquisa: - História de contato - Mitologia e rituais - Subsistência - Arte e cultura material - Artesanato - Mudanças ocorridas na arte e cultura.
2)
Selecione imagens e confeccionem cartazes para facilitar a apresentação do trabalho e discuta com a classe sobre a importância do artesanato na vida dos Kaingang.
3)
Quais os significados da pintura corporal e dos grafismos encontrados nos trançados?
4)
Copie em seu caderno alguns grafimos encontrados nas cestarias Kaingang. Procure repetir os grafismos de maneira que criem ritmos. Use papel A4, utilize a folha inteira e faça acabamento com lápis de cor, caneta hidrocor, lápis 6B...
5)
Recorte tiras de papel cartão de várias cores e faça trançados a partir dos grafismos indígenas.
6)
A partir do conto indígena: Depois do Dilúvio, selecione ou faça uma síntese das partes mais significativas e depois ilustre cada uma delas, criando um livreto.
7)
A partir da lenda “A Origem do Milho”, crie uma história em quadrinhos. Desenhe os personagens, use recursos gráficos, balões e onomatopéias para melhor expressar as sensações e emoções. EROTIDES MONTINI DA SILVEIRA • ROSÂNGELA CÉLIA FAUSTINO
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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
XOKLENG XOKLENG SOBREVIVENTES DE UM PROCESSO BRUTAL DE COLONIZAÇÃO
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Mulher Xokleng fotografada por Silvio Coelho dos Santos, 1975. http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html
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OS XOKLENG OS XOKLENG XOKLENG: HISTÓRIA DE CONTATO colonização européia no Rio Grande do Sul, os Xokleng foram expulsos para Santa Catarina. O processo brutal de colonização, os assaltos e lutas aos colonos, as mortes epidemias de gripe, sarampo e febre amarela, quase que levou os Xokleng ao extermínio. No início do século XX o Serviço de Proteção ao índio (SPI), estrutura postos para atrair os índios, mas os contatos são sempre conflituosos, às vezes entre os funcionários outras entre os brancos. Nesta época deixaram de executar dois rituais importantes: a perfuração dos lábios inferiores dos rapazes para introdução do botoque (ritual de iniciação mais importante para os homens, chave para a sua socialização e construção de identidade); e o ritual de cremação. Apesar do extermínio de alguns subgrupos Xokleng no Estado de Santa Catarina, e do confinamento dos sobreviventes em área determinada, em 1914, o que garantiu a paz para os colonos e a consequente expansão e processo do vale do rio Itajaí, os Xokleng continuaram lutando para sobreviver mesmo após a extinção quase total dos recursos naturais de sua terra, agravada pela construção da Barragem Norte.
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Os índios Xokleng, pertencentes ao Tronco Macro-Jê, da Família Jê, Língua Xokleng, também denominados: Bugres, Botocudos, Aweikoma, Xokleng, Xokrén, Kaingang de Santa Catarina e AweikomaKaingang. Denominados assim, desde seus primeiros contatos com os funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) a partir de 1914. Essas denominações se devem á proximidade linguístico-cultural existente entre os Xokleng e os Kaingang. Hoje a população Xokleng habita em territórios no Estado de Santa Catarina e algumas famílias vivem no Paraná. No século XVIII, mais precisamente em 1728 deu-se a abertura da estrada das tropas ligando o Rio Grande do Sul a São Paulo, para melhorar o comércio da pecuária e da agricultura entre as duas regiões e abrir novas fronteiras, correspondendo a áreas de enormes planaltos, tradicionalmente ocupado pelos índios Kaingang e Xokleng. Em 1777 com surgimento de Lages, houve a redução dos planaltos de araucária, diminuindo a coleta e a caça, que eram as fontes de alimento dos Kaingang e dos Xokleng. Em meados do século XIX, com a
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SAIBA MAIS O território Xokleng se distribui por todo o sul do Brasil, de Curitiba, no Paraná, passando por toda a encosta de Santa Catarina, até a região de Viamão, no Rio Grande do Sul. Inicialmente, os Xokleng teriam ocupado o Planalto, mas com a chegada dos Kaingang, foram empurrados para a encosta, onde ficaram até o final do século XIX, quando foram praticamente exterminados pelos colonizadores. Este grupo utilizava a cremação como parte do ritual de sepultamento. Os artefatos que eles produziam eram de madeira, fibras vegetais, taquaras e pedra. É possível identificar cestos com tamanhos e funções diferenciados, cochos de madeira, pilão e mão de pilão em pedra e madeira, tembetás, lanças, arcos e flechas, adornos e manta tecida com fibra de urtiga brava. Durante a primavera e o verão, os Xokleng consumiam palmito, cará, diversas frutas (como goiaba, pitanga e jabuticaba), além de larvas de insetos. Aproveitavam a vegetação local e, pela quantidade de carne e a relativa densidade da região, caçavam anta, cervídeos, bugio, jacutinga, porco do mato e diversos tipos de aves. A caça era uma atividade masculina, realizada em pequenos grupos de até oito homens. No outono e no inverno, os Xokleng coletavam pinhão, os quais transportavam em grandes cestos cargueiros. Fonte: Daniela Costa Claudino e Deise Scunderlick Eloy de Farias. Arqueologia e preservação Sambaqui Morro do Peralta. Samec editora. Florianópolis, 2009.
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PRESENÇA XOKLENG NO PARANÁ
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É provável que os Kaingang e os Xokleng tenham chegado primeiro ao Paraná, pois em quase todo o Estado os sítios Guarani estão próximos ou sobre os sítios arqueológicos dos Kaingang e Xokleng. Com a chegada dos Guarani, e na medida em que estes iam conquistando os vales e rios, os Kaingang foram sendo empurrados para o centro-sul do Estado e/ou sendo confinados nos territórios interfluviais e os Xokleng foram sendo
impelidos para os contraforte da serra Geral, próximos do litoral. A partir do século XVII, quando as populações Guarani tiveram uma drástica redução, os Kaingang voltaram a se expandir por todo o centro do Paraná. (...) Os ascendentes dos Xokleng devem ter sido empurrados para fora do oeste paranaense na época da chegada das primeiras expansões Guarani, ao redor de 2.000 anos atrás (DIAS e GONÇALVES 1999, p.15-16-18).
COSMOLOGIA E MITOLOGIA
grandes. Encontrar os espíritos podia ser perigoso; ou bom, se oferecessem ajuda na caça. Acreditavam que os animais tem um espírito guia que os controla e protege, permitindo ou não aos homens matá-los.
Os Xokleng acreditavam em espíritos (ngaiun) e fantasmas (kupleng), que habitavam as árvores, montanhas, correntezas, ventos e todos os animais, pequenos ou
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
No mito Xokleng da criação do homem, vários personagens heróicos surgem de diferentes direções, reúnem-se para festejar e criam animais a partir de árvores e troncos. Inspiradas nas formas e desenhos presentes na pele destes animais, surgiram as diferentes "marcas", ou desenhos corporais dos grupos exogâmicos. Entre outros mitos ou "lendas" ainda lembrados, há o do dilúvio, que conta como uma chuva ininterrupta fez seus antepassados migrarem sucessivamente para o platô, para os cumes das montanhas e finalmente para o topo das árvores, onde se alimentavam de parasitas, folhas, larvas, insetos e frutas. Passado o dilúvio, os homens voltaram para as planícies e vales, mas muitos lá ficaram por terem se acostumado. Por isso, dizem, hoje existem os macacos, filhos dos homens que ficaram nas árvores.
OS RITUAIS DE HOJE Desde 1950, os Xokleng foram se convertendo à Assembléia de Deus, reformularam suas antigas crenças e práticas religiosas, à luz de uma nova realidade sócio-cultural. Os rituais de hoje se resumem praticamente aos cultos da Assembléia de Deus, que mobilizam grande parte da
comunidade, cantam hinos evangélicos na língua Xokleng. Hoje em dia, por serem crentes, os homens Xokleng usam cabelos curtos, calças e camisas, e as mulheres, cabelos longos, saias compridas e blusas. Os Xokleng só se encontram, além dos cultos, para a comemoração do Dia do Índio (19 de abril), quando cada aldeia faz sua festa com discursos, hino nacional, recitação de versos em Xokleng e português pelas crianças.
SUBSISTÊNCIA No passado remoto os Xokleng praticavam a agricultura e a caça, vivendo em vilas permanentes. Entretanto, antes do contato sistemático com os brancos, os Xokleng eram nômades, vivendo da caça e da coleta do pinhão (fruto da Araucaria angustifolia), não tinham acampamentos fixos. Dividiam e organizavam seu tempo em dois períodos, verão e inverno. Passavam o inverno no planalto, se alimentando do pinhão. No verão desciam para o vale e consumiam o palmito, cará e frutas como goiaba, pitanga e jabuticaba, além de mel, larvas de insetos e caça.
Os Xokleng construíam ranchos, em semi-círculos, voltado para uma praça central onde faziam seus rituais de iniciação, casamento, ritos funerários, confraternizavam, caçavam e planejavam ataques aos inimigos. Os desenhos corporais são um símbolo de identidade, os Xokleng os consideram "uh", isto é, bonitos, e se pintam em determinadas ocasiões por razões estéticas, sem tomarem em consideração a correspondência entre a pintura corporal e sua "marca".
Os homens como as mulheres Xokleng fabricavam panelas e talhas de barro cozido, apenas com riscos gravados por impressões digitais, de cor negra ou parda; usavam canoas de madeira de lei e jacás para transporte de mercadorias; faziam balaios pequenos, para guardar cinzas mortuárias; cestos revestidos de cera virgem para transporte de água; longas lanças de madeira, com aguçadas pontas de aço de dois gumes; cordas finas de samambaia, para cintos de
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CULTURA E ARTE DOS XOKLENG
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suspensão do pênis; colares de coco e miçangas; redes de pesca e tangas. Faziam grandes arcos de madeira de lei e flechas de vários tipos, botoques de pedra e de madeira, para o lábio inferior dos homens. Hoje a cultura material dos Xokleng é produzida para uso imediato. Tangas e colares se destinam somente às festas do Dia do Índio, sendo jogadas fora após o uso. Há
pequena produção de artefatos para o comércio. As mantas de urtiga que as mulheres teciam não são mais produzidas. Os únicos instrumentos musicais ainda confeccionados e utilizados são os chocalhos, usados para cantar canções rituais de conteúdo quase que totalmente desconhecido para os mesmos. Fonte: Flavio Braune Wiik Site: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/xokleng/print
Acervo Museu Paranaense (Foto:Vladimir Kozák). Fonte: Vida indígena no Paraná. Provopar.
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Índia Xokleng tece manta com fibras de urtiga brava, 1950.
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ATIVIDADES 1)
Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xokleng. É importante constar em sua pesquisa os seguintes tópicos: - História de contato - Mitologia e rituais - Subsistência - Arte e cultura Material
2)
Confeccione cartazes contemplando os tópicos da pesquisa e os utilize na apresentação.
3)
Use a imaginação e criatividade de faça dois desenhos figurativos. Um representando o “Dilúvio” na mitologia dos Xokleng e o outro representando os rituais nos dias de hoje.
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
GUARANI GUARANI
Cerâmica indígena Guarani, Museu Farroupilha, em Triunfo, Rio Grande do Sul. http://upload.wikimédia.org/wikipedia/commons/a/aa/triunfo-25.jpg
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Foto: Wilmar R. D'Angelis
OS MAIS CONHECIDOS EM TERMOS ARQUEOLÓGICOS, HISTÓRICOS, ANTROPOLÓGICOS E LINGUÍSTICOS.
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OS GUARANI OS GUARANI GUARANI: HISTÓRIA DE CONTATO que, haviam se formado nas bacias do Paranapanema, Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu. Entre 1628 e 1632, os jesuítas fundaram a missão do Itatin, depois de verem destruídas pelos bandeirantes as missões das Províncias do Guairá, Paraná e Tapes. A presença bandeirante provocou um rearranjo na ocupação espacial da época, forçando índios e padres a fugas para o Sul, em lugares longe dos paulistas. A expulsão dos Jesuítas pelos bandeirantes paulistas, foi importante para a população guarani porque mobilizou os índios reduzidos, o que teria refletido também naqueles que não haviam estado sob a orientação dos padres, provocando redimensionamento na realidade colonial. Em função de seus territórios atuais, os Guarani Kaiowa ou pai-tavyterã teriam seus ascendentes nos antigos povos guarani do Itatin, que na segunda metade do século XVII trasladam para o sul, cruzando o rio Apa (MS), passando a ocupar o atual sul do Mato Grosso do Sul até os dias de hoje. Os Guarani Ñandeva atuais seriam oriundos dos povos das Províncias do Paraná e Guairá e vieram a assentar-se, a partir do século XVII, no atual Mato Grosso do Sul. Nos séculos XVIII e XIX, os grupos Guarani que não se submeteram aos encomenderos espanhóis nem às missões jesuíticas, refugiam-se e vivem nos montes e nas matas subtropicais da região do Guairá paraguaio e dos Sete Povos (aldeamentos indígenas fundados pelos jesuítas no Rio Grande do Sul). Estes índios, os Guarani Mbya, são conhecidos como Caingua, Caaguá, Caaigua, Kaygua provém de Ka'aguygua ( que
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Os Guarani, grupo do Tronco Tupi, da Família Tupi-Guarani, língua Guarani, dividem-se em subgrupos Guarani-Ñandeva ou (Ava-Chiripa), Guarani-Kaiowa e GuaraniMbya. Entre os subgrupos existem diferenças nas formas lingüísticas, costumes, rituais, organização social e política. Com a chegada dos portugueses e espanhóis no século XVI e até o XVII a história dos Guarani foi marcada pelos Jesuítas que queriam catequizar os índios e pelos “encomenderos” - espanhóis e bandeirantes portugueses que pretendiam escraviza-los. Com os europeus, os territórios guarani tornaram-se palcos de disputas; para os espanhóis eram via de acesso entre Assunção e Europa; para os portugueses representava área de expansão ao interior da colônia e acesso a riquezas minerais. A única riqueza nessa região era à força de trabalho indígena. Em 1603, o governador do Paraguai solicita que os padres da Companhia de Jesus catequizem os índios e parte da população guarani foi reduzida forçosamente nos aldeamentos - “reduções” ou “missões”. Ação pensada pelos colonizadores, para facilitar o acesso à força de trabalho indígena pelos encomenderos de Assunção. Os padres jesuítas contrariaram esse modelo econômico, pois não permitiram que os seus catecúmenos fossem escravizados. Padres e índios “reduzidos” tentaram em vão resistir aos ataques dos bandeirantes que destruíram vilas paraguaias e atacaram duramente as “reduções guarani”. Reduções
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significa “habitantes das matas), denominações dadas pela atitude de esconder-se nas matas, distanciando-se dos brancos, evitando o contato e conservando sua autonomia e seus costumes antigos porque se estabeleceram num território que permaceneu inacessível durante muito tempo. A partir da última década do século XIX e até as duas primeiras do século XX, grande parte do território dos Guarani será alvo de mobilização exploratória, da erva mate, bloqueando a entrada de colonizadores por empresas detentoras do cultivo da erva. Na primeira década do século XX, devido a relações conflituosas entre índios e brancos, há esforços por parte do Estado em territorializar os índios, constrangendo-os a espaços limitados e em fronteiras fixas. A imposição de regras de acesso e posse territorial por parte do estado brasileiro, alheias às especificidades da territorialidade dos índios, teve conseqüências significativas na organização espacial guarani, em suas elaborações culturais e no gerenciamento das políticas de relacionamento interétnico. A colonização européia, atingiu profundamente a vida dos Guarani. Sofreram profundas transformações decorrentes de práticas políticas impostas, entre as quais se destacam a diminuição demográfica, a circunscrição territorial, o impacto sobre a religião e a religiosidade dos índios. A partir de 1920 e mais intensamente a partir dos anos de 1960, tem início uma colonização sistemática e efetiva dos territórios Guarani, desencadeando-se um processo de sistemática desapropriação de suas terras pelos colonos brancos. A existência Guarani é materializada com a derrubada de matas para a implantação de empresas agropecuária. Com todas essas investidas, os Guarani ainda hoje desenvolvem estratégias de sobrevivência e a permanente recriação de sua identidade.
LOCALIZAÇÃO Os territórios ocupados pelos Guarani estão situados no Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Argentina, Uruguai e Paraguai. No Brasil, as aldeias Kaiowa concentram-se na região sul do Mato Grosso do Sul e algumas famílias próximas às aldeias Mbya no litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os Nãndeva vivem em aldeias no Mato Grosso do Sul, no interior dos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul e no litoral dos estados de São Paulo e Santa Catarina. Os Mbya se encontram em aldeias situadas no interior e no litoral dos estados do sul – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul – e em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo em várias aldeias junto à Mata Atlântica.
TEKOHA Até a chegada do branco, os índios Guarani viviam com base no próprio costume, respeitava-se e fomentava as regras do “teko” (modo de ser guarani). Como decorrência da presença do colonizador, os Guarani passam fixar atenção nas regras do branco e a considerar espaços com superfícies definida, o que é expresso pela categoria tekoha. Os Guarani hoje em dia denominam os lugares que ocupam de tekoha. O tekoha é assim o lugar físico – terra, mato campo, águas, animais, plantas, remédios, etc. – onde se realiza o teko, o “modo de ser”, o estado de vida guarani. A relação entre os Guarani e a terra ganha significado, inscrito na tradição cosmológica e na historicidade. Enfatizandose a noção de tekoha enquanto espaço que garantiria as condições ideais para efetuar essa relação, os índios procuram reconquistar e reconstruir espaços territoriais étnica e
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religiosamente exclusivos a partir da relação umbilical que mantêm com a terra.
ORGANIZAÇÃO SOCIAL Os ava (homem Guarani) contemporâneos estão como sempre estiveram. Assentados em núcleos comunitários constituídos – idealmente – por 3-5 grupamentos macro familiares que conformam divisões autônomas por eles denominadas, hoje em dia, de tekoha. Há no Brasil perto de 90 áreas guarani oficialmente reconhecidas. Os Guarani têm como base de sua organização social, econômica e política, a família extensa, isto é, grupos macro familiares que detêm formas de organização da ocupação espacial dentro dos tekoha determinada por relações de afinidade e consangüinidade. É composta pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e constitui uma unidade de produção e consumo.
RITUAIS São assíduas e freqüentes as atividades religiosas guarani, com práticas de cânticos, rezas e danças que, dependendo da localidade, da situação ou das circunstâncias, são realizados cotidianamente, iniciando-se ao cair da noite e prolongando-se por várias horas. Os rituais são conduzidos pelos ñanduru que são líderes e orientadores religiosos; contemplam necessidades corriqueiras como colheita da roça, ausência ou excesso de chuva. ECONOMIA A agricultura é a principal atividade econômica guarani, mas apreciam a caça e a pesca. Cabe às mulheres a tarefa de pilar o milho e preparar a chicha, fazer a chipa, uma espécie de bolo de milho. Conhecimentos tradicionais dotam os Guarani de aguçada sapiência no trato dos espaços disponíveis para plantar. Combinam atividade de caça, pesca, coleta e agricultura de forma interligada e vinculada, para o descanso da terra. Fonte: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-Nandeva/print
A Terra sem Mal: YVY MARÃ EY e as Belas Palavras: AYVU PORÃ. Os Guarani dispõem-se a grandes deslocamentos em grupo com o objetivo de buscar Yvy Mara Ey, a mítica Terra Sem Mal. Deste a conquista européia tem-se registro destas migrações onde eles abandonam qualquer possível segurança de uma terra delimitada, deixando tudo para ir em busca da visão desta terra prometida por Nhanderu. Terra ideal, que produz por si mesma os
seus frutos em abundância, Yvy Marã Ey é também a terra da imortalidade, onde não chega a doença nem a morte. A cosmologia Guarani diz que no princípio do mundo houve a criação da primeira terra, onde os homens viviam na mesma condição dos deuses. Para que isto acontecesse, regras deveriam ser seguidas. As leis foram quebradas pelo incesto entre um sobrinho (Karai Jeupié) e sua tia. Houve então um grande dilúvio, na qual
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A TERRA SEM MAL E A COSMOLOGIA
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poucos se salvaram. O dilúvio vem como castigo, estabelecendo o fim da primeira terra e com ele a separação entre o humano e o divino. Deste dia em diante a grande água, o mar, faz separação entre a Terra sem Mal, terra divina da vida eterna, e a terra imperfeita dos que sobreviveram. A (...) Terra Sem Mal, morada dos ancestrais, é um local acessível aos vivos, com uma localização geográfica precisa: “para além
das montanhas”. Todo pensamento e prática religiosa dos Guarani está em torno da Terra Sem Mal. “o culto à Yvy Mara Ey, as orações noturnas e a língua sagrada.” A língua sagrada, as belas palavras (AYVU PORÃ), são as palavras verdadeiras que só os profetas, os xamãs, sabem proferir, é a linguagem comum a homens e deuses; palavras que o profeta diz aos deuses ou que os deuses dirigem a quem sabe ouvi-los. Fonte: SOUZA, Ana Maria Alves de Souza. Orientadora: Prof. Ms. Cleidi M. Albuquerque. BICHINHOS RA'NGÃ i. Uma distribuição ao estudo das esculturas zoomórficas Guarani Mbyá. Florianópolis, julho de 1999. UDESC. CEART.
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PRESENÇA DOS GUARANI NO PARANÁ
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(...) Os Guarani possuíam um padrão para ocupar novas áreas sem, no entanto, abandonarem as antigas. Os grupos locais se dividiam com o crescimento demográfico ou por problemas políticos, indo habitar áreas próximas, previamente preparadas através de manejo agroflorestal. Isto é, abriam várias clareiras para instalar a aldeia e as plantações, inserindo seus objetos e plantas nos novos territórios. Assim como trouxeram suas casas, vasilhas cerâmicas e outros objetos. Dessa maneira, iam ocupando as várzeas dos grandes rios e,
consecutivamente, com o passar do tempo, as áreas banhados por rios cada vez menores. Por exemplo, após dominar as terras próximas dos rios Ivaí e Pirapó, ocuparam trechos ao longo de alguns dos ribeirões que banham o divisor de águas onde está situada Maringá. Como havia uma série de entorno das aldeias, para ir às roças, às áreas de caça, pesca e coleta etc., bem como para ir até as aldeias vizinhas, é provável que a área de Maringá fosse local de passagem ou contato entre as aldeias do Ivaí e do Pirapó. Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.13-14.
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ARTE E CULTURA MATERIAL A cultura material era composta por centenas - talvez milhares - de objetos confeccionados para servirem a diversos fins, sendo a maioria feita com materiais perecíveis (ossos, madeiras, penas, palhas, fibras vegetais, conchas etc.) e, em minoria, de não-perecíveis (vasilhas cerâmicas, ferramentas de pedra, corantes minerais). As vasilhas (cerâmicas) eram confeccionadas para servirem como panelas de cozinha, frigideiras, pratos, copos e talhas para armazenar água ou preparar cauim (bebida fermentada alcoólica) e para outras funções. Os copos para beber o cauim e as
talhas para prepará-lo eram normalmente pintados com desenhos geométricos vermelhos e pretos sobre fundo branco. As vasilhas que iam ao fogo tinham as suas superfícies alisadas ou corrugadas. Secundariamente, as panelas e talhas poderiam servir como urna funerária. Dentre as ferramentas de pedra, podemos mencionar os machados de pedra polida, lascas usadas para rasgar, cortar, tornear, bem como ferramentas para polir, furar, amolar, macerar, moer, pilar e ralar. Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.15
CERÂMICA GUARANI
sabugo de milho seco, marcando a superfície de recipientes com uma série de estrias paralelas. Outra técnica decorativa plástica manipula a argila ainda fresca alisando-a até o polimento ou decorando-a com as unhas ou com pequenos artefatos ponteagudos.
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A Cerâmica Guarani é conhecida pela resistência à decomposição, encontrada em escavações e material rico para a arqueologia. É considerada a grande manifestação da arte Guarani e apresentam diversificada decoração plástica e pintura, sendo atividade exclusivamente feminina. A decoração da cerâmica depende da sua finalidade. Na cerâmica utilizada nas cerimônias e ritos são as pintadas com desenhos geométricos, em preto e vermelho sobre um fundo branco (engobo), ou em vermelho diretamente sobre a superfície dos recipientes. São curvas sinuosas, linhas paralelas, motivos geométricos que se repetem harmoniosamente. Nos recipientes cerâmicos para o cotidiano, a decoração era essencialmente plástica. Uma das técnicas utilizadas era o
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TIPOLOGIAS DE CERÂMICA GUARANI EXISTENTES NO LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA, ETNOLOGIA E ETNO-HISTÓRIA DA UEM.
Fragmento de vaso cerâmico produzido por técnica de roletes sobrepostos um ao outro.
Fragmento de cerâmica corrugada
Fragmento de cerâmica lisa
Fragmento de cerâmica ungulada. Após receber tratamento que deixa a cerâmica lisa, era decorada com incisões feitas a unha pela artesã.
Fotos: Aluízio A. Carsten
Fragmento de cerâmica escovado. Usa se sabugo de milho para escovar a cerâmica
Fragmento de cerâmica pintada (engobo branco) com desenho geométrico em vermelho.
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Fotos: Aluizio A. Carsten, Acervo do LAB-LAEE/CCH-UEM
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A MÚSICA Os cantos e as danças guarani são executados nos rituais xamanísticos. São caminhos através dos quais os humanos vão ao encontro dos ancestrais criadores e outros seres divinos. O canto e a dança são as linguagens com as quais os deuses se comunicam com os guarani. Nos rituais há uma sequência de canções, correspondentes a cada noite de ritual, havendo dois gêneros musicais, um ligado à invocação, e outro ao combate. Os objetivos do ritual são de
percorrer o caminho de encontro aos deuses, embelezar o corpo e protege-los das doenças. As canções mais lentas têm um caráter de invocação ou lamento (Nhandeva). Nimuendaju (1883-1945), antropólogo Alemão que veio para o Brasil estudar os índios, narrou um ritual apapocuva no qual se aguardava a morte de um moribundo, cantavam vários pajés acompanhados das mulheres. Em alguns momentos cantavam vários ao mesmo tempo, um perto do doente,
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e outros distante. “Assim que o pajé, sentado face ao doente, constata que a morte sobreveio, muda o canto da melodia yvyraija,
acelerada e com forte marcação rítmica, para o solene ñeengarai”, que soa solene e melodiosa. Fonte: MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Amúsica como “caminho” no repertório do xamanismo guarani. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 10, voluma 17(1):115-134 (2006). http://pt.wikipedia.org/wiki/musica_indígena-brasileira-
MBARAKA Mbaraka: instrumento musical feito de cabaça ou purunga, encabado com um pau e enfeitado com penas de galinha colorida. Os Nhandewa usam o maracá até hoje para a dança indígena. O mbaraka (maracá) além de ser usado nas danças é instrumento importante nos rituais xamanísticos. Foto: Wilmar R. D'Angelis Fonte: NIMBOPYRUÁ, Catarina Delfina dos Santos Kunhã...[et al.]. NHANDEWA-rupi nhande aywu ãgwa: para falarmos nossa língua: livro de leitura nhandewa – guarani. Brasília:MEC, SEF, 2002.
de ritmo; ganha além disso, uma significação extra, sobreposta à primeira: este instrumento musical, usado neste contexto ritual e por pessoas com saberes e habilidades especiais de comunicação com os deuses, passa a significar, simbolicamente, a visita, a chegada dos espíritos ao mundo dos vivos. Seu som sacraliza o momento e o lugar onde esta experiência é vivida. (SILVA, 1995, p.380-381)
MÚSICA GUARANI – HOJE A música Guarani hoje está representada por vários grupos pertencentes às aldeias indígenas do Paraná, que conservam a visão
do mundo de sua etnia e mantêm viva a sua cultura através dos cânticos e das danças, chegando a produzir alguns Cds.
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Um maracá,(...) é um instrumento musical que pode simbolizar o centro do universo e seu som, além de música, pode ser entendido, em uma dada sociedade indígena, como a representação simbólica das vozes das substâncias dos espíritos e divindades que chegam à aldeia em momentos especiais; as cerimônias em que os pajés (e só eles) tocam o maracá. O uso do instrumento significa, literalmente, um ato de produção de música,
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GRUPO TAPE VY'A Aldeia Ocoí São Miguel do Iguaçu/PR
LETRA: NHANDERUETE Nhanderuete nhandexy ete ambá'ire Nhanema`endu` a mavy jaje` oi opy` ire Nharoporandu nhaderete`i (bis) Jaguata ma vy tape miri re Nhavae água jaexa Aguã para rovai yvy ku`iju re Javy` a água (bis) Yvy ku`iju Yvy ku`iju
TRADUÇÃO Nosso Deus, nossa Mãe eterna Quando lembramos do nosso altar sagrado Vamos para nossa casa de reza Para fortalecer o nosso espírito (bis) Quando caminhamos pela estrada infinito Para chegar a outro lado do oceano E na terra sem mal seremos felizes (bis) Terra sem mal Terra sem mal Fonte: CD- Provopar MBORA'i MARAE'? GUARANI CÂNTICOS ETERNOS GUARANI
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ESCULTURAS ZOOMÓRFICAS GUARANI M’BYÁ
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As esculturas zoormóficas Guarani, também conhecidas como “BICHINHOS RA'NGÃi”, podem ser feitas em cedro ou curticeira (como é conhecida no Rio Grande do Sul) ou caxeta (como é denominada no Paraná). Madeira mole e branca. O formato da escultura é feito primeiro no facão, e depois com uma faquinha bem afiada para fazer pequenos detalhes. As formas esculpidas são representações de animais existentes na floresta (Mata Atlântica), alguns hoje ameaçados de extinção. São esculpidas formas de onça, jaguatirica, jacaré, tamanduá, tatu, macaco, cobra, tucano, entre outros bichos e pássaros.
Usam a técnica da pirogravura para decorar as esculturas. A pirogravura é considerada uma pintura permanente, feita com diferentes pontas de ferro: achatadas, estreitas e largas. Os elementos gráficos estampados nas esculturas são elaborados seguindo o ritmo e a simetria nos desenhos. Tais elementos visuais estabelecem o estilo do artista, da à identificação do bicho, e o reconhecimentos do grupo indígena a que pertence o trabalho artístico.
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Nome popular: Macaco
Nome Guarani: KA i
Nome popular: Cobra
Nome Guarani: MBOI
Nome popular: Tamanduá-mirim Nome Guarani: KAGUARÉ
Nome popular: Tucano
Nome popular: Jacaré
Nome Guarani: TUCAN
Nome popular: Coruja Nome Guarani: URUKURE'Á
Nome Guarani: PA i
Nome popular: Tatu Nome Guarani: TAMBEJU'Á Fotos: Acervo do CCH-UEM, Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino.
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Nome popular: Gato-do-mato-pequeno Nome Guarani: TCHIVI
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TRANÇADO Os trançados Guarani são representados por cestos de taquara decorados com tramas geométricas mais escuras em cipó imbé. Ainda são confeccionados, mas algumas mudanças aconteceram, agora são coloridos com anilina.
A confecção dos cestos Guarani é função exclusivamente das mulheres, deste a coleta da taquara na mata, o preparo da tiras, até o trabalho final na construção do cesto.
Livro: Varai Para◊i Régua, de Lídia krexu Rete Veríssimo
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Fotos: Kathie Dooley, 200l
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CONTO INDÍGENA GUARANI
O ROUBO DO FOGO Povo guarani ( mito Guarani )
E
m tempos antigos o povo Guarani não sabiam acender o fogo.(...) pois o fofo estava em poder dos urubus. O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro, os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito cuidado e zelo. (...).
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Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los. Um dia o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu nome era Nhanderequeí. Guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o fogo dos urubus. Reuniu todos os animais, aves e homens da floresta e contou o plano que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno curucu, que não fora convidado, compareceu dizendo que também ele tinha muito interesse no fogo. Todos já reunidos, Nhanderequeí expôs seu plano: - Todos vocês sabem que os urubus usam fogo para cozinhar. (...). Por isso vou me fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma, poderemos pegar o fogo para nós. (...). (...) Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro. Os urubus, lá do alto das árvores, observavam com desconfiança. (...). O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Sequer respirava direito para não criar desconfianças nos urubus que continuavam rodeando seu corpo. Foi no fim do terceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não era possível uma pessoa fingir-se de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando entre si: - Olhem, meus parentes urubus – dizia o chefe urubu – nenhum homem pode fingirse de morto assim. Já decidi: vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazer-mos a fogueira. (...). Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que Le passara pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das brasas dando um grande susto nos urubus que, atônitos, voaram todos. Nhanderequeí aproveitou-se da surpresa e gritou a todos os amigos que estavam escondidos para que atacassem os urubus e salvassem alguma daquelas brasas ardentes. (...) Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas haviam conseguido. Uns olhavam para outros na tentativa de saber quem havia salvado uma pedrinha sequer.(...). Acontece que, por trás de todos, saiu o pequeno cururu, dizendo: - Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei na minha boca. Espero que ainda esteja acesa.(...) Dê-me esta brasa imediatamente – disse Nhanderequeí, tomando a brasa em suas mãos e a assoprando levemente. (...) Pegou-o na mão e colocou um pouquinho de palha e o assoprou novamente. Com isso ele conseguiu um pequeno riozinho de fumaça. (...) Nhanderequeí soprou de novo. Ele o fazia com todo cuidado, aconteceu um cheiro de queimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem: - Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo. Isso não é bom para as aves. Fiquem vocês com este fogo. (...). Enquanto isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo acesso para sempre.
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Glossário Apopocúiva-Guarani – O grande povo guarani está localizado em oito estados brasileiros. Sua língua, subdividida em Nhandeva, M'Bia e Kaiowá, pertence ao tronco lingüístico Tupi. Sua população é a segunda maior do Brasil. Segundo dados oficiais, chega a 35.000 pessoas. Os Guarani estão presentes ainda em diversos países que fazem fronteira com o Brasil. Nhanderequeí – Herói civilizador entre os Guarani. Aquele que cria e ensina este povo a manipular seus bens culturais. Nesta história, ele é o herói que ajuda o povo a roubar o fogo e ensina a conservá-lo. Cururu – Nome genérico dos sapos, em Tupi. Fonte: Munduruku, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 13 – 19.
ATIVIDADES 1) Em grupo, pesquisem sobre os índios Guarani no Paraná, contemplando os seguintes tópicos: - História de Contato - Como chegaram ao Paraná - Mitologia - Arte e cultura material 2) Confeccionem cartazes enfocando a pesquisa, para facilitar a apresentação e discussão com a turma.
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3) A partir da letra e da audição da música NHANDERUETE, crie uma ilustração. Use lápis de cor e canetas coloridas para pintar.
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4) Vamos fazer esculturas com pedra de sabão? Que tal inspirar-se nos bichinhos RAN'CÃi. 5) Faça a leitura do conto indígena Guarani: “O roubo do fogo”, de Daniel Munduruku. Selecione tópicos mais importantes e produza um livreto com ilustrações criadas por você? 6) Vamos fazer teatro? Transforme o conto “O roubo do fogo” de Daniel Munduruku em texto teatral, com os personagens e suas falas, depois é só dramatizar. 7) Vamos confeccionar objetos usando argila, seguindo a técnica do roletado da cerâmica Guarani. Para o acabamento do objeto, observe os fragmentos cerâmicos, pode ser roletado, ungulado, pintada e decorada com linhas geométricas, lisa, escovada e corrugada.
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SIGAM OS PASSOS DA TÉCNICA DO ROLETADO:
8)
1º
Faça rolinho de argila na grossura do seu dedo.
2º
Com o rolinho de argila, faça um espiral para o fundo.
3º
A partir do fundo vá colocando camadas de rolinhos de argila até conseguir a altura que deseja para o objeto. Conforme for chegando à borda, diminua o comprimento do rolinho se quiser fechar um pouco a abertura do objeto.
4º
Usando o dedo indicador una os rolinhos por dentro da peça e deixe a superfície lisa.
5º
Por último, faça o acabamento da peça seguindo uma das técnicas apresentadas nos fragmentos de cerâmica Guarani.
Confeccione carimbos usando batatinha a partir dos motivos gráficos dos carimbos Guarani. Crie composições com as impressões dos carimbos usando tinta guache de várias cores e folha do tamanho A4. Repita as impressões, intercale os diferentes motivos, para obter ritmos de formas e cores.
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XETÁ XETÁ Memória dos índios Xetá: ARTE E CULTURA
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Homem usando tembetá de resina Foto: Vladimir Kozák
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=117&evento=9
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OS OS XETÁ XETÁ XETÁ: HISTÓRIA DE CONTATO fugas e frentes de colonização que avançavam sobre o seu território desde o final da década de 40 reduzindo-o drasticamente, fez contato com o administrador da fazenda Santa Rosa e seus familiares, que havia se instalado no local de caça e coleta do grupo desde 1952. Com a expansão da cafeicultura, a criação de gado e agricultura; a colonização e o contato com o homem branco; os surtos de gripe e sarampo, o povo Xetá foi quase extinto enquanto grupo étnico. Hoje são oito sobreviventes: três mulheres e cinco homens, vivendo dispersos nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Os descendentes dos Xetá casaram-se com Kaingang, Guarani e não-índios. De caçadores e coletores, vivem hoje na condição de assalariados, servidores públicos, empregados domésticos e bóias frias. De herdeiros de um território de ocupação tradicional, vivem como agregados em terras Kaingang, Guarani, ou como inquilinos no meio urbano-rural. A língua Xetá nunca chegou a ser grafada, escrita ou estudada em sua gramática: praticamente desapareceu junto com o seu povo. Fonte: DIAS e GONÇALVES (org), 1999, p. 19. ISA - SILVA, Carmem Lúcia, 1999.
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Os índios Xetá pertencente à família lingüística Tupi-Guarani, do tronco Tupi, língua Xetá. Em 1840 foram feitos os primeiros contatos com os índios Xetá por Joaquim Francisco Lopes e John H. Elliot, empregados do Barão de Antonina, nas imediações da foz do rio Corumbataí no Ivaí, onde estão hoje os municípios de São Pedro do Ivaí, Fênix e São Jorge do Ivaí. Contatos estes esporádicos. Em 1872, um pequeno grupo Xetá, foi capturado nas proximidades do Salto Ariranha no rio Ivaí, hoje Ivaiporã e Grandes Rios, pelo engenheiro inglês Thomas Bigg-Whiter. O Território tradicional dos Xetá é conhecido como Serra dos Dourados, ao longo da margem esquerda do rio Ivaí e seus afluentes, o rio Indoivaí, o córrego Duzentos e Quinze, o rio das Antas, o do Veado, o Tiradentes e o córrego Maravilha; espaços onde hoje estão localizados os municípios de Umuarama, Cruzeiro do Oeste, Icaraíma, Douradina e outros. Os Xetá foram à última etnia do Estado do Paraná a entrar em contato com a sociedade nacional, na década de 50, através do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), atual FUNAI. Em 1954, um grupo de seis pessoas do sexo masculino, cansadas das constantes
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SUBSISTÊNCIA Os Xetá eram nômades e tinham a base da subsistência a caça e a coleta (a pesca em menor escala). Não praticavam a agricultura, comiam frutos, tubérculos, insetos (alguns), mel e o mate “Kukuay”, bebida do dia-a-dia. Cultivavam somente o porungo
para servir de vasilhas e comiam as suas sementes, comiam também o coquinho (jerivá). Alimentavam-se ainda de algumas larvas das palmeiras e aves. Caçavam anta, gambá, coelho, paca, gato do mato e rato silvestre. As frutas apreciadas era a jabuticaba, jaracutiá, banana-de-mico, gavirova, etc.
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A LUTA DO POVO XETÁ PELA REORGANIZAÇÃO CULTURAL
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Em agosto de 1997, o Instituto Socioambiental (ISA) promoveu em Curitiba o “Encontro Xetá: sobreviventes do extermínio”, reunindo os Xetá que vivem dispersos, como inquilinos em diferentes aldeias, longe de seu território e impedidos de compartilhar os códigos de sua cultura, língua e organização sociocultural. Atualmente, só na Terra Indígena São Jerônimo, município de São Jerônimo da Serra-PR, são 35 famílias Xetá, com mais de cem pessoas. Eles iniciam processo judicial para recuperar parte do território de onde foram excluídos, e poder viver em paz em sua apoeng (casa grande). Além do território, reivindicam o direito a uma escola diferenciada e intercultural que lhes possibilite revitalizar sua língua, ameaçada de extinção e continuarem sendo Xetá.
Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM Oficina pedagógica – Produção de vocabulário ilustrado - realizada na Terra Indígena São Jerônimo, entre os dias 13 a 16/04/10.
Por iniciativa da SEED – Departamento da Diversidade e Coordenação da Educação Escolar Indígena, a UEM – Universidade Estadual de Maringá, em parceria com a UNB – Universidade de Brasília, UFMT – Universidade de Mato Grosso, Museu Paranaense, Povo Xetá e instituições parceiras, encaminhou projeto interinstitucional ao Ministério da Cultura e CAPES tendo recebido financiamento para reunir e publicar informações sobre os Xetá, bem como, material didático sobre língua e cultura deste povo. O projeto compreende a realização de
Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM Oficina pedagógica realizada no dia 04/05/10 no Museu Paranaense em Curitiba. Confecção dos bichinhos “Mows” em argila.
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
diversas oficinas pedagógicas. No Museu Paranaense em Curitiba os Xetá confeccionaram os mows, (animais que anteriormente eram feitos de cera de abelhas) utilizando a
técnica da modelagem em argila. Estas oficinas foram realizadas com a finalidade de revitalizar aspectos da tradição Xetá a partir da memória dos sobreviventes.
ARTE E CULTURA MATERIAL XETÁ A cultura material dos Xetá está relacionado com a vida na aldeia, são instrumentos, armadilhas, abrigos, objetos de uso domésticos e adornos inseridos no cotidiano e nos seus rituais. Os Xetá, povo que era caçadores e coletores atribuíam algumas atividades como a construção de habitações, armadilhas e alguns instrumentos aos homens e às mulheres ficavam as funções do preparo e a distribuição dos alimentos. A coleta, a tecelagem e a cestaria é tarefa de ambos os sexos. A arte do povo Xetá, como em outros grupos indígenas, estava presente no dia-adia da comunidade: nos rituais, na música, nas histórias narradas, no cuidado com a beleza e acabamento das peças criadas, nos enfeites usados para adornar o corpo e os instrumentos. Tudo isso revela a sensibilidade e a expressividade desse povo com relação à vida e a arte.
Foto: Vladimir Kozák
Colocação Transversal dos galhos no tapuy
C A S A P E Q U E N A ( Ta p u y - k ã , tapuy=casa, kã=pequeno): primeiro eram construídas em época de caçadas, depois por causa das fugas dos brancos.
Foto: Vladimir Kozák
Tapuy com cobertura do teto ao solo
ALDEIA GRANDE (Oka-Waualchu, oka=lugar, wauatchu= grande): onde os grupos familiares habitavam (famílias nucleares). CASA GRANDE (Tapuy-apoeng): residência ocupada pela família extensa, construída na aldeia grande. Lugar onde realizavam os rituais, inclusive o de iniciação masculina.
ARCO E FLECHA: confeccionavam os arcos com o cerne de ipê duro (araraúte) e polido com folhas de embaúba. As hastes das flechas eram confeccionadas com bambu e a ponta entalhada com madeira de alecrim, com vários tipos de pontas, como virote, servilha, unilateral e lanceolada. Tanto o arco quanto a flecha recebiam polimento com uma mistura de ipê, cinza e água, dando uma coloração
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COMO CULTURA MATERIAL PRODUZIAM:
ACAMPAMENTOS (Oka'-kã, oka= lugar, kã=pequena): acampamentos temporários, onde instalavam os tapuy-kã.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
ferrugem. A corda era confeccionada pelas mulheres com fibras de caraguatá.
Os colares eram confeccionados com sementes, varetas e pequenos dentes de animais e os brincos com plumas de pequenos pássaros. Eram usados por crianças e adultos. Foto: Vladimir Kozák
Adornos confeccionados com ossos de animais.
Foto: Vladimir Kozák
Homem (Eirakã) com arco e flecha adornada
PILÕES: confeccionados com grandes troncos de árvores, como a madeira de jerivá, para processar alimentos, cocos, frutas, carne. Outro pilão menor (aguakán) era utilizado para a moagem de folhas de erva-mate, para o preparo da bebida kukuay.
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MACHADO de pedra com cabo de madeira: utilizado nas atividades cotidianas, como quebrar coco e lascar ossos de animais.
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Foto: Vladimir Kozák Foto: Vladimir Kozák
Pilão Vertical.
Machado com cabo de madeira.
ARTEFATOS E ADORNOS: utilizavam ossos e dentes de animais. Alguns artefatos eram feitos de ossos da perna da onça entalhados e afiados com uma pedra de amolar, transformando-se em formão. Os objetos eram alisados e polidos, os de madeira eram coloridos com jatobá. A mandíbula de roedores para perfurar e escavar madeiras, couros etc.
Foto: Vladimir Kozák
Pilão horizontal
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
MAÇA: confeccionada com madeira de alecrim no formato de remo. Utilizada como arma e como meio de comunicação, pois quando batido contra o tronco de uma árvore produzia som claro que podia ser ouvido de longe, usado no ritual da chuva.
PENEIRAS: confeccionadas com a taquara.
Foto: Vladimir Kozák
Mulher tecendo peneira Foto: Vladimir Kozák
Inicio da confecção da maça com o machado
CESTOS E ESTEIRAS: confeccionados com folhas de palmeiras.
TEMBETÁ (botoque labial): feito com ossos, sílex, madeira e resina de jerivá. Importante na identificação do indivíduo, na iniciação masculina.
Foto: Vladimir Kozák
Cestos produzidos pelas mulheres Foto: Vladimir Kozák
Tembetás com labretes
Foto: Vladimir Kozák
Início do trançado da cestaria
ESPÁTULAS DE PALMEIRAS: usavam como recipientes. VASILHAS DE PORUNGO: usadas para transportar e guardar mel, água e servir bebida durante os rituais. Foto: Vladimir Kozák
Textura da tanga com o auxílio da agulha
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TECELAGEM: teciam suas tangas (hami'a) de fibra de caraguatá, confeccionadas em teares e usados pelos homens. O fio e o cordão de fibra tecida eram colocados na cintura dos meninos. Faixas de caraguatá eram usados pelas mulheres nas pernas e nos pulsos.
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
ARTE XETÁ A arte Xetá está presente no artesanato com as cestarias e esteiras, na tecelagem, na escultura de bichinhos de cera, na música, na pintura e nos adornos corporais.
ESCULTURAS
cantavam quando se queria chamar a chuva, em época de festa e períodos de frutas quando era realizado o ritual da beberagem. A bebida era consumida acompanhada pelos cantos, respeitando-se os horários para a exibição. No ritual de iniciação masculina, os homens no interior da casa entoavam o canto da jacutinga ao alvorecer; o canto do surucuá, quando já era dia; e o canto do urubu, que era cantado durante todo o dia. Os instrumentos musicais eram apenas usados para a produção de sons como apitar, alertar, assobiar: um caramujo, o tembetá, a flauta, a flauta de Pã, feita de três pedaços de bambu de diferentes comprimentos.
Esculpiam bichinhos (Mows), figuras negras zoomórfas de cera de abelhas
NARRATIVAS
PINTURA FACIAL E CORPORAL A pintura facial era feita por uma mulher (parente) com fruta do jatobá no ritual de iniciação masculina e a pintura corporal também em ocasiões de rituais.
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Foto: Vladimir Kozák
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MOWS, BICHINHOS DE CERA DE ABELHA.
representando a fauna local, eram: cobras, veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc. Algumas tinham característica antropomórfas (cabeça de animal e corpo humano). Eram produzidas pelos adultos para as crianças brincarem.
MÚSICA O que se sabe sobre a música Xeta é que eram cantos que normalmente representavam sons e movimentos dos animais. Os Xetá
As narrativas na sociedade Xetá estão relacionadas com a “arte de contar histórias”, de maneira expressiva através da entonação da voz, dos gestos, dos sons de barulhos emitidos pelo contador. E, com a participação da platéia que sugere temas e participa com perguntas sobre as histórias narradas. As narrativas eram feitas a partir de acontecimentos ou necessidades sobre determinado assunto, com temas variados: uma caminhada de algum grupo ou antepassado, as façanhas e confrontos, as grandes caçadas, o mundo dos animais, a gênese do mundo, etc. Temas importantes para a socialização entre os grupos, parentes e amigos.
A ARTE E O ATO DE NARRAR As narrativas acontecem somente à noite na aldeia. Existe o narrador principal e o narrador secundário, os dois se completam e ambos devem ter domínio da história e do seu
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contexto. Ao narrador principal cabia a responsabilidade dos relatos e do desenvolvimento dos temas. O narrador secundário acompanha o primeiro, dando a pauta a ser seguida, entra em cena de modo sutil no caso de pausa ou de esquecimento, assume a fala rapidamente e que em seguida é retomada pelo narrador principal, partindo do ponto em que foi interrompido.
O narrador principal faz uso de recursos da onomatopéia e da prosopopéia, reproduz movimentos do corpo combinados com a voz: sussurra, arfa imitando o animal e muda o tom da voz, enquanto o narrador secundário observa silencioso.
A narrativa Xetá com seus diferentes temas, constitui um lugar de memória por excelência da extinta sociedade. É como se esta se recusasse a desaparecer, impondo sua presença espectral aos seus sobreviventes (SILVA, 2003, P.52).
Foto: Carmen Lucia da Silva
Os narradores: Tuca, Kuein contando histórias
Posto Indígena Rio das Cobras/PR. Março 2003
MACACO ERA GENTE NO TEMPO DO SOL E DA LUA Narradores: Tuca e Tikuein
E
ntão o macaco, diz que vivia junto com os índios também, os bicho que iam virar tudo macaco né. Mas diz que eles eram morto de fome, mas diz que não tinha comida que chegasse. O bicho era arteiro mesmo
sabe.
Ai diz que um dia, o Sol e o Lua irmão dele andavam aqui na terra, daí o Sol
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HISTÓRIA DO POVO XETÁ
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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA
mandou eles, esses índios, buscar fruta para ele. Só que não era para ele comer nenhuma, (...). Ele voltou e estava comendo. O sol achou que ele estava demorando demais, o sol acalmou e foi lá. (...) Aí diz que ele, o Sol pegou e calcou a flecha [atirou a flecha] diz que ele errou a flechada. Só que o índio sumiu, (...). Desapareceu. Aí diz que em outro dia, passados três dias, aí viu aquela macacada, que virou tudo bicho, virou tudo bicho, virou tudo bicho. Por isso que nossa gente dizia que macaco era gente também. (Tikuein e Tuca, 20/06/200l).
Fonte: SILVA, Carmen Lucia. Em busca de uma sociedade perdida: O trabalho da memória Xetá. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2003. (p.127).
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ATIVIDADES
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1)
Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xetá. Siga o roteiro para realizar o trabalho: - História de contato - Mitologia e rituais - Subsistência - Arte e cultura material - Onde vivem os renascentes Xetá.
2)
A partir da pesquisa confeccione cartazes com imagens e apresente o trabalho para a sala.
3)
Pesquise sobre os animais que os Xetá modelavam com cera de abelha. Escolha um animal e faça uma modelagem usando argila.
4)
Com base na narrativa: “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua”, em grupo transforme a narrativa em diálogos e vamos dramatizar.
5)
Utilize os recursos dos Quadrinhos: recursos gráficos, balões e onomatopéias, e transforme a narrativa “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua” em história em quadrinhos.
Sites de pesquisa e imagens: ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org MUSEU PARANAENSE. http://www.museupr.pr.gov.br
EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE
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