DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS G QUARTA-FEIRA, 19 DE JULHO DE 2017
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Em Destaque BARCOS. Apesar
do alto poder aquisitivo dos clientes deste setor, o cenário de incertezas impacta a decisão de compra principalmente no segmento de entrada, prejudicando a cadeia produtiva FOTOS: DIVULGAÇÃO
Crise atinge cadeia náutica de lazer e retomada é incerta
A italiana Azimut aposta em barcos acima de 60 pés e nas exportações para continuar crescendo no Brasil
INDÚSTRIA Juliana Estigarríbia São Paulo julianae@dci.com.br
O mercado náutico de lazer enfrenta crise mesmo com o alto poder aquisitivo de seus clientes. Após uma retração de aproximadamente 50% nos últimos três anos, empresas da cadeia não conseguem estimar uma retomada do setor. O CEO da italiana Azimut Yachts, Davide Breviglieri, afirma que o número de concorrentes neste mercado diminuiu nos últimos anos, principalmente nas categorias de entrada. “Quando a crise impacta os segmentos de barcos menores, os potenciais compradores de hoje deixarão de subir de categoria no futuro”, comenta. O executivo estima que a queda em barcos de até 40 pés (cerca de 12 metros) supera 70% no País. “A confiança é o fator que leva à compra de barcos. E fica difícil prever quando o mercado vai se recuperar com a instabilidade atual”, analisa. Para o gerente de vendas de motores marítimos da Volvo Penta América do Sul, Luiz Castro, tanto estaleiros quanto fornecedores vêm sofrendo com a queda do mercado. “O impacto foi reduzido no segmento de embarcações maiores, mas mesmo neste nicho o processo de compra é moroso, com muita personalização.” O executivo relata que no primeiro semestre do ano o mercado náutico se manteve estável em relação ao mesmo período de 2016 e a tendência para 2017 é de estabilidade. “Este é um momento de incertezas, o que faz com que o cliente aguarde para investir”, pondera.
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As vendas de barcos recuaram 50% nos últimos três anos no Brasil
O segmento mais prejudicado foi o de embarcações de entrada
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos (Acobar), Eduardo Colunna, o setor emprega 150 mil pessoas (direta e indiretamente). “O Brasil desenvolveu um parque industrial muito eficiente. Não deixamos nada a desejar para marcas importadas de renome”, garante. No entanto, diante da crise dos últimos anos, o dirigente afirma que a cadeia precisou se reinventar. “Algumas empresas realmente fecharam as portas e houve movimentos de fusões.” Especialmente nas categorias de entrada e intermediárias, Colunna acredita que se criou uma demanda reprimida. “Como o cenário é de incertezas, o cliente que pretendia entrar no mundo náutico acaba adiando a compra”, esclarece o dirigente. Para ele, é difícil estimar o retorno do mercado brasileiro. “Este não é um setor alheio à crise. Neste ano, não devemos ter crescimento. Se tivermos vendas estáveis, já consideramos um bom resultado”, acrescenta.
Apostas para crescer O CEO da Azimut revela que a empresa antecipou os lançamentos de embarcações maiores para continuar crescendo. Nos três últimos períodos náuticos (encerrados em setembro), a companhia cresceu a uma média anual de 15%. “Aumentamos o portfólio de três para oito modelos”, conta Breviglieri. Segundo ele, na faixa acima de 60 pés (cerca de 18 metros) a sensibilidade ao cenário é menor. “É aí que firmamos ainda mais o nosso compromisso”, destaca. O executivo revela que o range de preços da marca no Brasil vai de R$ 2,6 milhões até R$ 44 milhões. “Temos uma proposta única no País na faixa acima de
60 pés, considerando tecnologia, segurança e qualidade dos materiais. Nosso produto está em um patamar internacional”, assegura Breviglieri. Ele acrescenta que o cliente da marca geralmente conhece a empresa de viagens internacionais, reforçando o valor da Azimut. “Há uma demanda reprimida de clientes que antes compravam apenas barcos importados”, pondera. O executivo revela ainda que a companhia desenvolveu junto à matriz um projeto de barco de 40 pés que será destinado somente à exportação. “Tivemos que nos adequar aos padrões internacionais para emplacar este modelo. Acabamos de realizar uma venda para Emirados Árabes”, informa Breviglieri. “O projeto de exportação deve estar a todo vapor no ano que vem. Na contramão da crise, estamos contratando”, pontua. A Volvo Penta também aposta no lançamento de um motor mais potente – usado em embarcações maiores – para fugir da crise. “Acreditamos na estratégia para nos posicionarmos como a empresa com a maior gama de produtos do segmento”, salienta Castro. Ele complementa que a manutenção do quadro de funcionários da divisão, mesmo com a crise econômica, é a prova de que a matriz acredita no potencial do Brasil. “Não conseguimos prever a retomada, mas temos certeza que o setor náutico vai se recuperar.” O presidente da Acobar avalia que o potencial brasileiro se encontra não só na extensa costa litorânea, mas também nos 45 mil quilômetros de águas no interior do Brasil. “O mercado pode crescer não só no mar, mas também devido às baías abrigadas de água doce”, pontua.